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CAPÍTULO I ........................................................................................................................... 15
1. Introdução ........................................................................................................................... 15
1.1. Motivação .......................................................................................................................... 16
1.2. Objectivos .......................................................................................................................... 16
1.3. Relevância do estudo .......................................................................................................... 17
1.4. Problema da investigação ...................................................................................................17
1.5. Hipóteses............................................................................................................................ 17
1.6. Dados da língua Citshwa .................................................................................................... 18
1.7. Organização do estudo .......................................................................................................18
CAPÍTULO II: Revisão de literatura ..................................................................................... 20
2. Quadro teórico..................................................................................................................... 20
2.1. Morfologia e Fonologia Lexical.......................................................................................... 20
2.2. Teoria de traços distintivos de Chomsky e Halle (1968) ..................................................... 23
3. Quadro conceitual ............................................................................................................... 25
3.1. Fonologia ........................................................................................................................... 25
3.2. Sílaba ................................................................................................................................. 30
3.3. Tom ................................................................................................................................... 33
3.4. Morfologia ......................................................................................................................... 36
3.4.1. Tempo ............................................................................................................................. 39
3.4.2. Aspecto ........................................................................................................................... 42
3.4.3. Divergências e semelhanças entre tempo e aspecto .......................................................... 45
3.4.4. Modo ............................................................................................................................... 48
3.4.5. Negação .......................................................................................................................... 49
3.4.6. Estrutura do verbo em bantu ............................................................................................ 50
3.4.7. Conclusão ........................................................................................................................ 53
CAPÍTULO III: Revisão bibliográfica ................................................................................... 54
3.1. Uma abordagem sobre Morfologia e Fonologia Lexical ...................................................... 54
3.2. As categorias tempo, aspecto, modo e polaridade em bantu ................................................ 59
3.3. Prévios estudos sobre a gramática do Citshwa .................................................................... 63
3.4. Conclusão .......................................................................................................................... 65
CAPÍTULO IV: Metodologia .................................................................................................66
4.1. Recolha de dados................................................................................................................ 66
4.1.1. Pesquisa documental ....................................................................................................... 66
4.1.2. Questionário .................................................................................................................... 66
4.1.3. Entrevista semi-estruturada.............................................................................................. 67
4.1.4. Delimitação da amostra e local de estudo ......................................................................... 68
4.2. Método de abordagem ........................................................................................................ 68
4.3. Métodos de análise ............................................................................................................. 68
4.4. Conclusão .......................................................................................................................... 69
CAPÍTULO V: Fonologia do Citshwa ................................................................................... 70
5.1. Vogais ................................................................................................................................ 70
5.2. Processos fonológicos envolvendo vogais do Citshwa ........................................................ 73
5.2.1. Semivocalização .............................................................................................................. 73
5.2.2. Elisão .............................................................................................................................. 75
5.2.3. Coalescência.................................................................................................................... 77
5.2.4. Vogal harmónica ............................................................................................................. 77
5.3. Consoantes ......................................................................................................................... 80
5.4. Processos fonológicos envolvendo consoantes do Citshwa ................................................. 83
5.4.1. Assimilação ..................................................................................................................... 84
5.4.2. Velarização/labialização ..................................................................................................85
5.4.3. Nasalização ..................................................................................................................... 85
5.4.4. Aspiração ........................................................................................................................ 86
5.4.5. Africatização ................................................................................................................... 87
5.5. Semivogais ......................................................................................................................... 88
5.6. Tom verbal em Citshwa ...................................................................................................... 89
5.7.1. Função lexical do tom em Citshwa .................................................................................. 89
5.7.1. Função gramatical do tom em Citshwa ............................................................................ 90
5.8. Sílaba ................................................................................................................................. 93
5.9. Conclusão .......................................................................................................................... 96
CAPÍTULO VI: tempo, aspecto e modo verbal em Citshwa ................................................. 97
6. 1. Tempo verbal em Citshwa ................................................................................................. 97
6.1.1 Tempo passado ................................................................................................................. 97
6.1.1.1. Passado na forma afirmativa ......................................................................................... 97
6.1.1.2 Passado na forma negativa ............................................................................................ 99
6.1.2. Tempo presente ............................................................................................................. 101
6.1.2.1. Presente pontual na forma afirmativa .......................................................................... 102
6.1.2.1. Presente pontual na forma negativa ............................................................................. 103
6.1.3.1. Presente habitual na forma afirmativa ......................................................................... 104
6.1.3.2. Presente habitual na forma negativa ............................................................................ 104
6.1.4. Tempo futuro................................................................................................................. 105
6.1.4.1. Futuro na forma afirmativa ......................................................................................... 105
6.1.4.12. Futuro na forma negativa .......................................................................................... 106
6. 2. Aspecto verbal em Citshwa ............................................................................................. 110
6.2.1. Aspecto perfectivo ......................................................................................................... 110
6.2.1.1. Aspecto perfectivo na forma afirmativa ...................................................................... 110
6.2.2. Aspecto imperfectivo ..................................................................................................... 111
6.2.2.1. Aspecto imperfectivo habitual .................................................................................... 111
6.2.2.2. Aspecto imperfectivo pontual ..................................................................................... 113
6.2.2.3. Aspecto imperfectivo progressivo ............................................................................... 114
6.3. Modo verbal em Citshwa .................................................................................................. 116
6.3.1. Modo imperativo ........................................................................................................... 116
6.3.2. Modo conjuntivo ........................................................................................................... 117
6.4. Conclusão ........................................................................................................................ 119
CAPÍTULO VII: Conclusão ................................................................................................. 120
8. Referências bibliográficas ................................................................................................. 123
vii
Símbolos
ı«««««««««««««««««6ílaba
2……………………………………………..Morfema Zero
ĺ«««««««««««««««««5HDOL]D-se
//……………………………………………. Fonema
[ ]…………………………………………… Fone
/……………………………………………...Contexto fonológico
P……………………………………………..Mora
(««««««««««««««««މ7RPDOWR
(`)………………………………………….....Tom baixo
cf…………………………………………… Confira
[:]…………………………………………….Alongamento
Abreviaturas
A Aspecto
Adj Adjectivo
Alt Traço Alto
Ant Traço Anterior
Arred Traço Arredondado
Adv Advérbio
Afir Afirmativo
Bx Traço Baixo
C Consoante
Cons Traço Consonântico
Cont Traço Contínuo
Conj. Conjunção
Cor Traço Coronal
Cd Coda
viii
ix
pp Pessoa do plural
ps Pessoa do singular
R Rima
Rel Relativo
Rec Traço Recuado
Sil Traço Silábico
Son Traço Sonorante
SPE Sound Patter of English
T Tempo
TAMP Tempo, aspecto, modo e polaridade
Tens Traço Tenso
TV Tema verbal
V Vogal
VV Sequência de duas vogais
VF Voga final
Voz Traço Vozeado
[
Lista de figuras
[L
Dedicatória
[LL
Agradecimentos
Quero expressar aqui meu profundo agradecimento a todos os que não só tornaram
possível a elaboração deste trabalho, mas também, sob o ponto de vista moral, expressaram o
seu valor durante a formação.
Em primeiro lugar, ao Prof. Doutor David Langa, meu supervisor, pelo encorajamento,
compreensão e encaminhamento durante o processo de elaboração do trabalho.
Em segundo lugar, à minha Mãe, Raquelina Manhique, aos meus irmãos, Flugêncio,
Ercília e Nilza da Rosa, pela motivação, paciência, companhia e compreensão.
O meu obrigado!
[LLL
Resumo
[LY
15
CAPÍTULO I
1. Introdução
A presente dissertação para obtenção do grau de Mestre em Linguística Bantu pretende
identificar, descrever e analisa os constituintes tempo, aspecto, modo e polaridade (TAMP) no
verbo em Citshwa, a partir da proposta de Meeussen (1967), segundo a qual, nas línguas
bantu1, (LB) se afixam, ao verbo, todos os morfemas flexionais e derivacionais.
Esta língua é codificada S.51 por Guthrie (1967-71). À luz do quadro teórico de
Morfologia e Fonologia Lexical de Kiparsky (1982, 1985), que refere que a análise dos
fenómenos morfológicos é condicionada fonologicamente, uma vez que a entrada de cada
processo de formação de palavra é submetida às regras fonológicas; bem como de Fonologia
Generativa (FG) de Chomsky & Halle (1968), paralelamente à proposta que estes autores
trazem, a de traços distintivos como unidades mínimas que capturam melhor as propriedades
fonético-fonológicas dos fonemas; especificamente, o estudo pretende identificar os
constituintes tempo, aspecto, modo e polaridade no verbo em Citshwa; analisar os constituintes
tempo, aspecto, modo e polaridade a partir da proposta de Kiparsky (1982) e descrever a sua
distribuição na estrutura do verbo.
O problema que se levanta para esta pesquisa centra-se na necessidade de, a partir da
proposta de Meeussen (1967), analisar-se a distribuição dos constituintes tempo, aspecto, modo
e polaridade no verbo em Citshwa, bem como a forma como eles são expressos. Como
respostas preliminares, são avançadas as seguintes hipóteses: os constituintes tempo, aspecto,
modo e polaridade afixam-se ao verbo e distribuem-se tendo em conta as posições que eles
ocupam na estrutura interna do verbo; no verbo, os constituintes tempo, aspecto, modo e
polaridade são expressos por morfemas segmentais e suprassegmentais.
1
Grupo de línguas que são faladas na África subsaariana. Trata-se de línguas pertencentes à família Níger-
Kordofaniano, sub-família Níger-Congo, segundo a classificação genealógica de Greenberg (1955).
16
1.1. Motivação
O presente estudo é motivado pelas seguintes razões: a primeira reside no facto de se ter
constatado que o Citshwa é uma língua franca, e menos descrita e sistematizada
cientificamente; a segunda, tratando-se de um estudo que se integra na linguística bantu como
área académica de especialização, tem que ver com a necessidade de descrição, sistematização
e documentação deste património linguístico, pois o autor deste estudo reside em Inhambane,
província onde esta língua é maioritariamente falada pela população (vd. Censo, 2007); a
terceira razão centra-se na necessidade de fornecimento de dados para o enriquecimento de
pesquisas sobre as línguas moçambicanas (de grupo bantu), facto que irá ajudar na preservação
destas línguas e dos seus sistemas.
1.2. Objectivos
O estudo fundamenta-se nos seguintes objectivos:
17
1.5. Hipóteses
Em resposta às questões colocadas anteriormente, são avançadas as seguintes hipóteses:
18
3
Cf. Ngunga & Bavo (2011: 15).
4
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_tswa. Acesso em 12 de Maio de 2015.
19
20
Neste modelo5, há dois tipos distintos de regras fonológicas: um tipo que se aplica ao
léxico, que corresponde às chamadas regras lexicais; outro tipo, cuja aplicação se dá na saída
da Sintaxe, fora do léxico, e que corresponde às chamadas regras pós-lexicais. Entretanto, na
FG não há distinção entre as variações fonológicas condicionadas pela morfologia e as
variações fonológicas condicionados pelos factores fonéticos. O componente fonológico é
separado do morfológico. Pelo contrário, na fonologia lexical, o léxico é considerado como
estrutura composta de alguns níveis ordenados, que são os domínios de algumas regras
fonológicas, de modo que o componente fonológico existe não só depois da sintaxe, mas
também no léxico, (Lee, 1992. p. 118).
Tal como referem Katamba & Stonham (2006: 89), há uma relação simbiótica entre as
regras que operam na estrutura morfológica e fonológica das palavras. Lembre-se que estas
5
Na perspectiva de Vannest (1999: 325), o modelo misto de Kiparsky (1982), “Morfologia e Fonologia Lexical”,
reside não só na divisão dos afixos (lexicais e derivacionais) em diferentes níveis da sua inserção na base
(radical/raiz), como também na interacção entre os processos fonológicos (incluindo os supra-segmentais).
21
regras actuam no léxico e são organizadas em três níveis hierárquicos. O nível 1 actua nos
domínios da flexão e derivação, ambas irregulares; o nível 2 opera ao nível da derivação
regular e composição e, finalmente o nível 3 centra-se com a flexão regular.
Entretanto, depois desta breve revisão bibliográfica, pode-se perceber que os processos
morfológicos se organizam em níveis, e, em cada nível, aplica-se um conjunto de regras e/ou
processos fonológicos. Observe-se que tais regras são denominadas cíclicas e só se aplicam no
componente lexical em ambientes derivados.
Uma vez apresentado o modelo em que circunscreve o presente estudo, a seguir, com
base nos dados do Citshwa, apresenta-se a sua aplicação.
Nível 2. ° Fonologia
V V V V V V
_ _ _ _ _ _
P P P P P P
_ _ _ _ _ _
C V V CV CV V C V
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
m u -a -na mw - a - n a
Como se pode ver, no primeiro nível (1), morfológico, ocorre a afixação do prefixo
nominal mu-, da classe 1 ao tema nominal –ana, resultando na formação da palavra /mu-ana/.
Contudo, já no segundo (2) nível, fonológico, ocorre uma regra fonológica – semivocalização,
devido ao encontro vocálico de dois segmentos, ambos [+sil], isto é, [u] e [a], que criam um
hiato –VV-, uma sequência de sons não admissível em bantu. Assim, a vogal [+alt, + rec], [u]
do prefixo nominal perde o traço [+sil], resultando numa semivogal velar [w].
22
Assim, com este exemplo, pode-se depreender que a relação entre a morfologia e a
fonologia ocorre ao nível lexical, à medida que ambas áreas interagem entre si com vista à
formação da palavra mwànà.
6
A fonologia auto-segmental é um modelo de análise proposto por Goldismith (1976). Primeiramente, foi adoptado
para o estudo do tom nalgumas línguas tonais. Este modelo desenvolve uma hipótese segundo a qual as
representações fonológicas consistem de vários níveis paralelos independentes chamados tiers. Estes tiers da
representação fonológica são organizados e independentes, mas não são isolados uns dos outros; pelo contrário, eles
associam-se numa estrutura hierárquica complexa e são passíveis de interacção, (cf. Gonçalves, 2009, p. 211/214).
7
Mora como unidade de peso fonológico. Unidade de som usada em fonologia que determina o peso silábico em
algumas línguas. Uma sílaba com uma mora é chamada monomoraica, e uma com duas moras é chamada de
bimoraica. Há também raros casos de sílabas trimoraicas (com três moras).
23
Chomsky e Halle (1968) distinguem explicitamente duas funções dos traços distintivos.
Uma função, que é idêntica à função dos traços de Jakobson, é captar os contrastes fonológicos
das línguas. Outra função, que não faz parte das preocupações de Jakobson, é que os traços
distintivos devem descrever o conteúdo fonético tanto dos segmentos derivados através de
regras fonológicas, como segmentos subjacente, (Ngunga, 2014, p. 61).
Os traços distintivos funcionam de modo binário, com valor [+] que indica a sua
presença, e o valor [-] que indica a sua ausência, e são entendidos como propriedades que os
falantes reconhecem intuitivamente e entendidos como identificadoras dos elementos do seu
sistema fonológico. A classificação de Chomsky e Halle tem pontos comuns com a
classificação tradicional e, de acordo com ela, alguns traços correspondem ao modo de
articulação e outros ao ponto de articulação, (Mateus et al., 2005. p. 186).
Baseados nos trabalhos de Jakobson, Fant & Halle (1952) e Kakobson & Halle (1956),
Chomsky & Halle (1968) introduzem algumas modificações concernentes aos traços
distintivos. Eles conservam os traços: consonontal [±cons], tenso [± tens], vozeado [± voz],
contínuo [± cont], nasal [± nas] e estridente [± estr], e adicionam novos traços como silábico [±
sil], sonorante [± son], alto [± alt], posterior [± post], baixo [± bax], anterior [± ant], coronal [±
cor], arredondado [± arred], (Fernandes, s/d. p. 1/6).
24
as correctas representações fonéticas. No entanto, em SPE, não existe lugar para a interacção
entre a fonologia a morfologia e, além disso, há muitas deficiências, tais como a complexidade,
a abstracção, a arbitrariedade, etc. Na óptica de Goldsmith & Laks (op. cit: 8), as
representações fonológicas usadas neste modelo não incluem outras estruturas além das dos
segmentos; de forma particular, não se inclui a estrutura da sílaba. Com base nos dados da
língua em estudo, apresenta-se a aplicação da teoria de traços distintivos:
Em (i), mwànà resulta da aglutinação do prefixo nominal mu- ao tema nominal -ana. O
processo fonológico que explica a ocorrência de [w] na estrutura fonética é representado pela
regra que se segue:
/ u / o [w] [a]
25
3. Quadro conceitual
3.1. Fonologia
A Fonologia é uma área da linguística que investiga os mecanismos pelos quais os sons
são usados sistematicamente em diferentes línguas, visando formar palavras e sua forma de
expressão, (Katamba, 1989. p. 60). Por seu turno, Ngunga & Simbine (2012: 43) definem
fonologia como sendo o estudo dos sons da fala, preocupando-se sobretudo com o seu papel na
transmissão de mensagens entre os membros de uma comunidade linguística. Refere ainda
Ngunga (2004: 65) que a fonologia estuda a função dos sons tanto segmentais como
suprassegmentais. Já para Veloso (s/d: 123)9, a fonologia é um ramo da linguística que estuda
os sistemas sonoros das línguas.
Com base nesses autores, pode-se entender que a fonologia estuda o sistema dos sons das
línguas, sua funcionalidade, factores da sua estrutura, bem como a função do próprio sistema
linguístico. Os sons nas línguas são organizados de forma sistemática, em contrastes, podendo
ser analisados e descritos sob o ponto de vista de fonema e de traços distintivos. A fonologia,
tendo o fonema como unidade mínima de análise, responde a questões como, p. e., como é que
o falante reconhece os sons que funcionam na sua língua? Como as propriedades fonéticas são
utilizadas pelos falantes na transmissão das mensagens? (cf. Mateus et al. 2005).
Na óptica de Katamba (op. cit. p. 42/3), para a análise fonológica, são propostas algumas
classes. A maior classe inclui traços que distinguem sons:
ii) Silábicos [±silábico]: trata-se de sons que funcionam como núcleo da sílaba. Estes
distinguem-se dos não silábicos, aqueles que ocorrem à margem da sílaba.
iii) sonorantes [± soante]: são sons produzidos com um vozeamento espontâneo (uma
vez que na produção das vogais, líquidas, glides e nasais, o ar passa de maneira
9
Veloso, João. (s/d). A fonética e a fonologia na nova terminologia linguística para os ensinos básico e secundário.
Porto: Universidade de Porto.
26
iv) distribuído ([±distribuído]): estes sons são produzidos com uma constrição
relativamente longa a nível da linha central do tracto vocal. Nos sons
distribuídos, o comprimento da constrição é consideravelmente mais reduzido.
São distribuídas as consoantes bilabiais, dentais e são não-distribuídas, as
consoantes lábio-dentais, as apicais e as retroflexas.
No tocante aos traços inerentes ao corpo de língua, (cf. Katamba, op. cit; Ngunga, 2014
e Fernandes, s/d), destacam-se os seguintes:
10
(cf. Katamba, op. cit. p. 44, Ngunga, 2014, Fernandes, s/d).
27
i) alto ([±alto]): são sons produzidos pelo levantamento do corpo da língua acima do
nível ocupado pela posição neutra. São sons altos as vogais (ex: [i, y, I, Á, u,], as
glides [w, j]), as consoantes alveopalatais (ex: [ì, ò]), palatais (ex: [c, Î]),
palatizadas, velares (ex: [k, g]), velarizadas. São sons não-altos todos os restantes:
as vogais (ex: [e, o, o, (], as consoantes labiais, dentais, alveolares, uvulares e
faringais.
iii) recuado ([±recuado]): na produção destes sons, o corpo da língua retrai-se para a
parte posterior do tracto, o que não acontece na produção de sons não-recuados.
São sons recuados as vogais (ex: [o, o, u, I, Á]), as consoantes velares, uvulares,
Já nos traços da raiz da língua, a língua pode ajustar-se às exigências do som a ser
produzido avançado ou retraindo-se, daí resultando sons executados com raiz da língua
avançada ou retraída, (Ngunga, 2014).
i) raiz da língua avançada ([±RLA]): na produção destes sons, a raiz da língua estica-
se para frente, ocasionando a expansão da caixa de ressonância da faringe e provavelmente
empurrando o corpo da língua para cima. Em muitas línguas da África Ocidental, as vogais [ê,
E, O] são produzidas com a raiz da língua em posição neutra.
28
ii) tenso ([±tenso]): a produção destes sons (ex: do inglês: [i, u]) exige um grande
esforço muscular que se mantém durante um tempo relativamente longo, o que não acontece na
produção de sons não-tensos, ou relaxados.
Quanto aos traços laringais, segundo Ngunga (2014), salientam-se apenas dois:
i) expansão glotal ([±exp gl]): quando as cordas vocais são completamente abertas,
aumentando, assim, o fluxo do ar que deve passar pela glote, o que inibe o vozeamento. Desta
maneira, são produzidos os sons aspirados (ex: [p+, t+, c+, k+]).
Referem, ainda, Katamba (op. cit. p. 45/9), Ngunga (2014)11, que o traço do modo de
articulação distingue:
i) contínuo ([±contínuo]): são contínuos todos sons em cuja produção não existe
oclusão. É o caso das vogais, semivogais. Também é parcial na produção de (ex: [F, B, f, v, X,
Â, h, H]). Ao contrário do que acontece com os sons contínuos, os sons não-contínuos são
produzidos com um bloqueamento total do fluxo do ar (ex: [p, b, t, d, m, n]).
ii) lateral ([±lateral]): na produção de sons laterais, a parte média da língua abaixa-
se de um dos dois lados, permitindo a saída do ar pelos bordos laterais da língua.
iii) nasal ([±nasal]): durante a produção destes sons, ocorre o abaixamento da úvula,
permitindo a saída do ar pelas fossas nasais.
iv) estridente ([±estidente]): este traço distingue sons que são produzidos com maior
intensidade de ruído.
11
Por fim, Ngunga (2014) apresenta o traço labial, aquele que descreve todos sons em cuja produção estão
envolvidos os lábios.
29
v) distensão ([±distensão]): os sons com distensão retardada são produzidos com uma
oclusão total nalguma região da cavidade bucal seguida de uma ligeira libertação gradual do
fluxo de ar tal como acontece na produção de africados (ex: [pf, bv, ts, dz]).
Feita a descrição dos traços distintivos, ainda que tenham sido agrupados em respectivas
classes de acordo com os posicionamentos dos autores aqui apresentados, todos eles (traços)
justificam-se pertinentes ao presente estudo, à medida que serão usados durante a descrição das
vogais, consoantes, bem como das semivogais, no âmbito do estudo da fonologia do Citshwa
(vd. capítulo V).
30
3.2. Sílaba
A sílaba (V) constitui uma entidade de análise fonológica que tem sido estudada por
vários linguistas (cf. Goldsmith, s/d; Katamba, 1989; Ngunga, 2000; Okoudowa, 2005;
Gonçalves, 2009; Langa, 2012; entre outros). Katamba (op. cit: 153) destaca o facto de a sílaba
ser uma unidade da representação fonológica, visto que não pode ser identificada como uma
unidade semântica ou gramatical.
Para Wiesemann et al. (1983) apud Ngunga (2004: 82), a sílaba é uma unidade de som
situada ao nível imediatamente superior ao do fonema. Diz-se que ela é um suprassegmento
porque se situa acima do segmento, na medida em que ela pode abranger mais do que um
segmento.
i) V
Em i) é apresentado o modelo de Kindell (1981) apud Ngunga (op. cit: 83), segundo o
qual, numa sílaba pode-se identificar núcleo (Nc) e margem ou margens (consoante ou
conjunto de consoantes, simples ou modificadas, que ocorrem antes ou depois de núcleo). A
31
consoante que precede o núcleo chama-se margem pré-nuclear (M) e a que segue o núcleo
chama-se margem pós-nuclear (m).
ii. ) V
A R
Nc Cd
Como se pode observar em ii), neste modelo, na óptica de Mateus & Andrade (2000)
apud Ngunga (ibid), a sílaba possui uma estrutura hierarquizada que compreende um ataque
(A) e uma rima (R) em que, por sua vez, se identifica um núcleo e uma coda (Cd).
iii) V
(O ) R
Este modelo proposto por Katamba (op. cit), na sua versão mais actualizada à descrição
do português, também é designado por modelo de ‘ataque e rima’ (cf. Mateus et al., 2005:
246/7). Aqui, a unidade silábica não domina directamente as unidades segmentais: estas
unidades segmentais agrupam-se em constituintes de planos intermédios, que são dominados
pelo nó máximo, i. e., o nó sílaba:
32
Sílaba
Ataque Rima
Núcleo Coda
33
3.3. Tom
O tom é um elemento imprescindível no âmbito da revolução auto-segmental na
fonologia generativa. Os falantes em todas as línguas fazem variar o tom de voz quando
articulam os segmentos fonéticos. O tom depende da rapidez com que as cordas vocais vibram
por segundo, ou seja, quanto maior for a vibração, mais alto será o tom.
Muitos autores são da opinião de que o tom é uma proeminência relativa resultante de um
nível da altura de voz durante a emissão de uma sílaba e/ou palavra. Ele corresponde à
frequência das vibrações das cordas vocais por segundo. É importante sublinhar que muitas
línguas faladas no mundo são tonais, e o modo como o tom é usado linguisticamente varia de
língua para língua, (cf. Ngunga, 2004, 2014).
Muitas LB apresentam um sistema tonal complexo na sua estrutura fonológica. Com isto,
se pretende mostrar que há uma considerável variação do tom12 nas diversas LB, incluindo os
seus dialectos. São poucas línguas (Swahili, Tumbuka, Pogolo, entre outras) que não são
tonais, em contrapartida, muitas LB fazem o contraste entre o tom alto e o tom baixo. Ainda
em África, destacam-se algumas línguas que distinguem (4) níveis de assimetria do tom
(Kamba, Chaga), (cf. Kisseberth & Odden, 2003).
Por um lado, o tom pode desempenhar a função lexical, quando distingue palavras que
tenham mesmos segmentos uma vez dispostas na mesma ordem, i. e., ele desempenha uma
função distintiva ao nível do léxico. A altura do tom é percebida pelo contraste. Ele pode
assinalar a posse, transição verbal e transição do tempo. O tom pode ser pontual (alto, médio e
baixo) e melódico (alto-baixo e baixo-alto). Por outro lado, o tom desempenha a função
gramatical, quando não distingue o significado das palavras, e apenas estabelece certos
aspectos gramaticais (posse/tempo verbal/aspecto verbal/negação/afirmação, etc.), (Ngunga,
op. cit. p. 90/2).
Childs (op. cit: 81/3) refere que o tom é usado, lexical e gramaticalmente em muitas LB
faladas em África. Além destas duas funções, o tom pode marcar distinções semânticas e
12
A discussão do tom em bantu relaciona-se com a do acento. Muitas línguas têm uma proeminência automática na
penúltima sílaba, realizada como vogal longa, (cf. Kisseberth & Odden, 2003).
34
pragmáticas (referência). Hyman & Kisseberth (1998:vii) apud Childs (op. cit: 87), ao se
debruçarem sobre várias questões que justificam a harmonização de sistemas tão complexos de
tom em bantu, apontam o facto de este grupo de línguas dispor de uma rica morfologia verbal;
mobilidade de expansão e/ou contrastes entre tons altos (މHEDL[RVCHDVXVFHSWLELOLGDGHGH
tons altos na estrutura da palavra, resultando em interacções significantes entre tonalidade e
estrutura sintáctica.
Tendo estudado o tom verbal em Citshwa, Ugembe (2011) mostra que esta língua
apresenta dois contrastes tonais: o tom alto e o tom baixo. Analisados os verbos de diferentes
raízes nos três tempos verbais básicos, este autor concluiu que a ocorrência do tom alto no
verbo é predizível: para verbos com raízes de estrutura do tipo -C- e do tipo -V-, no presente, a
ocorrência do tom alto na última sílaba é motivada pela estrutura da raiz verbal. Em outros
tempos verbais, passado e futuro, a ocorrência do tom alto em verbos de raízes de estrutura do
tipo -C- e -V- é motivada pela marca de sujeito.
Para verbos com raízes de estrutura mais longa -CVC- e -CVCVC-, em todos os tempos
verbais, a ocorrência do tom alto é motivada pela marca de sujeito. Este tom propaga-se a
partir da sílaba a que está associado para outras sílabas do verbo. Ugembe constatou que
13
A posição do tom gramatical pode também depender do tom lexical do radical nalgumas línguas (Shona).
35
quando a unidade portadora do tom alto ocorre entre duas sílabas de tom baixo, o tom alto fica
bloqueado e, por conseguinte, assimila os traços do tom baixo.
36
3.4. Morfologia
Nas áreas de estudo da linguagem, a morfologia aparece como uma área polémica. Para
muitos especialistas, ela é tida como a principal componente da gramática, porém, para uns
não14.
No âmbito dos estudos linguísticos, confere Villalva (2008: 17) que a morfologia se
dedica ao conhecimento de um tipo específico de formas, que são as palavras. Mas dizer que a
morfologia se ocupa do conhecimento da forma das palavras é, simultaneamente, dizer pouco e
dizer demais: há aspectos da forma das palavras, como a sua realização fonética, que
competem, não à morfologia, mas sim à fonologia. Também não se pode afirmar que a
morfologia se ocupa apenas da forma das palavras, dado que trata também das relações que se
estabelecem entre a forma, função e o significado das palavras.
A definição de Villalva parece ser exaustiva, não obstante, ao se referir ao significado das
palavras, naturalmente que é um tópico de extrema importância discutido no domínio da
semântica. De lembrar que a semântica é uma área que se ocupa das relações que as palavras,
frases, enunciados linguísticos estabelecem entre si, bem como das relações de significado que
essas expressões estabelecem com o mundo.
Numa outra abordagem, Haspelmath & Simis (2010: 2/4) sustentam que a morfologia é:
(i) o estudo da ‘co-variação’ na forma e nos significados que ocorrem sistematicamente nas
palavras ou nos grupos de palavras. Ela consiste na identificação das partes de palavras, ou,
tecnicamente, dos constituintes internos das palavras; (ii) o estudo da combinação dos
morfemas que produzem palavras, (veja-se também Katamba & Stonham, 2006).
Após esta breve revisão, pode-se entender que a morfologia é uma disciplina que tem a
palavra como objecto de estudo, estudando, desse modo, a sua estrutura interna, organização
dos seus constituintes e o modo como essa estrutura reflecte a relação com outras palavras
14
Veja-se: Sandalo, Maria. (2003). “Morfologia”. In: Mussalim, Fernanda & Bentes Anna. (orgs.). Introdução à
Linguística: domínios e fronteiras. 3ª Edição. Vol. I. São Paulo: Cortez.
37
dentro de um sistema; ou seja, é uma disciplina linguística que tem morfema, unidade mínima
de análise morfológica como objecto, estudando a sua estrutura interna.
Ainda no âmbito da morfologia, linguistas estruturalistas dos anos 40/50 concluíram que
as palavras são constituídas por unidades mínimas significativas, mais pequenas – os
morfemas15. Quanto (i) à natureza do significado16, eles podem ser lexicais/classe aberta (têm
uma significação externa, pois, referem-se aos factos do mundo extralinguístico. Exemplos:
(símbolos, céu, terra, animal, substantivos, adjectivos, verbos, etc.); gramaticais/classes
fechadas (têm uma significação interna ao nível da língua, assinalam certas relações
gramaticais. É o caso das preposições, conjunções, pronomes, etc. (ii) à ocorrência – presos
[prefixos, sufixos, infixos]; aqueles que se afixam a outros morfemas ou a palavras para a sua
ocorrência. Estes podem ser derivacionais uma vez que são responsáveis pela formação de
novas palavras; e – livres, aqueles que detêm de autonomia morfossintáctica; (iii) ao domínio
de inserção – aditivos e substitutos. (veja-se: Ngunga, 2004; Azuaga, op. cit. p. 232/3).
38
Depois desta breve discussão em torno do conceito – morfologia, a seguir são discutidas
as (4) categorias verbais, a saber: tempo, aspecto, modo e polaridade, justamente por se tratar
destas que constituem o objecto do estudo. Porém, antes de se proceder à sua definição, tal
como sublinha Dahl (1985: 23), usualmente, o tempo, o aspecto e o modo são definidos sob o
ponto de vista semântico como categorias relacionadas com o tempo, uma abordagem que, às
vezes, é problemática e contrastiva nalgumas línguas.
39
3.4.1. Tempo
Na asserção de Mateus et al. (2003: 130), normalmente, considera-se que os tempos
gramaticais se referem ao tempo entendido como ordenação linear orientada do passado em
direcção ao futuro. Esta concepção tem como consequência considerar que os tempos
gramaticais se articulam em três domínios, o passado, o presente e o futuro, permitindo-nos
falar de uma relação de anterioridade, simultaneidade ou posterioridade do tempo
relativamente a um momento escolhido como o de referência e que normalmente é o da
enunciação17.
Comrie (1976: 2/4) refere que o tempo relaciona o momento da ocorrência de uma
situação com o momento do discurso. De acordo com Vários (2010: 171), o tempo é uma
categoria verbal que localiza situações, eventos ou estados num determinado ponto de
ordenação linear, orientando do passado para o futuro. Os tempos verbais orientam-se em três
domínios: passado, presente e futuro, tendo como referência três pontos de localização
temporal: ponto de articulação; ponto de evento e ponto de referência.
Coan (2006: 1464) citando Enç (1996: 345) e Comrie (1990) referem o facto de o tempo
verbal ser uma das várias estratégias desenvolvidas para codificar tempo. Geralmente, não
expressa o fluxo do tempo, mas, simplesmente uma sequência de eventos. Além disso, as
sequências temporais representadas pelos tempos verbais podem não espelhar as relações de
tempo real, embora frequentemente o façam.
O tempo (cf. Dahl, 1985. p. 103; Mateus, et al., op. cit. p. 131) é uma categoria deíctica
relacionada com os posicionamentos temporais inerentes a cada momento da fala. À
semelhança de outros autores, Reichenbach (1947) apud Arin (2003: 3), um dos autores que
desencadeou estudos envolvendo o tempo e o aspecto através de critérios semânticos, divide o
tempo em três categorias, a saber: tempo da fala (tempo em que se desenrola a acção, ou seja,
tempo que coincide com o momento da fala ou da enunciação); tempo do evento (diz respeito
ao tempo de acontecimento descrito, isto é, tempo em que se descreve a enunciação) e tempo
17
Se o presente se pode considerar como coincidente com o momento em que se fala, o passado e o futuro são
domínios que referem situações que são apenas conceptuais, embora divergindo entre si epistémica e
ontologicamente, (Mateus et. al., op. cit.).
40
de referência (tempo que serve como ponto intermédio a partir do qual se pode situar o evento
ou estado descrito).
Já na gramática tradicional, em conformidade com Cunha & Cintra (2010: 379), o tempo
é a variação que indica o momento em que se dá o facto expresso pelo verbo. Tal como outros
autores o fazem, os três tempos naturais são o presente, o pretérito (ou passado) e o futuro, que
designam, respectivamente, um facto ocorrido no momento em que se fala, antes do momento
em que se fala e após o momento em que se fala.
Ngunga (2004) define tempo como um fenómeno que reflecte a cultura de um povo e
pode ser considerado como uma categoria filosófica. Este autor, além dos três tempos básicos
(passado, presente e futuro) que reflectem o senso comum, mostra que nalgumas línguas, o
passado e o futuro podem ser repartidos numa relação simétrica. Observem-se os esquemas que
se seguem:
Com base nos dados recolhidos nalgumas LB, Ngunga (op. cit.) chega à conclusão de que
tanto o passado como o futuro podem ser tripartidos em: remoto, médio e recente; próximo,
médio e distante, respectivamente; onde o presente, basicamente, é aspectual. Acrescenta ainda
que nas LB, a marca de tempo como tal não tem posição fixa na estrutura verbal. Em cada
língua ou cada grupo pequeno de línguas, o seu lugar pode variar em função do tempo
específico, havendo casos em que ela é descontínua.
41
42
3.4.2. Aspecto
Soares (1997: 162), a partir da perspectiva histórica, apresenta várias teorias semânticas
relativas ao tempo e ao aspecto. Trata-se de Aristóteles (1048); Reichenbach (1947); Ryle
(1949); Kenny (1963); Vandler (1967); Comrie (1976) e Dowty (1979), chagando à conclusão
de que estes autores apresentam uma preocupação com a classificação verbal de categorias
lexicais. Ao classificarem os lexemas não considerando o aspecto envolvido nas ocorrências
temporais se mostrou insuficiente ao ser aplicado em outras línguas, gerando o paradoxo do
imperfectivo. Assim, a gramática tradicional introduz a noção de aspecto verbal de maneira
inadequada, tratando de maneira homogénea e flexão, o modo e o tempo.
Numa reflexão sobre o aspecto verbal em Português, Diesel (s/d: 2) sustenta que esta
categoria verbal não é muito conhecida. Professores e professoras, estudantes dos cursos de
Letras e até académicos/as de pós-graduação em Linguística não raro jamais ouviram falar em
aspecto verbal. De facto, o assunto não é abordado na maioria das obras que envolvem estudos
linguísticos e/ou gramaticais. Comrie (1981: 1) apud Diesel (op. cit: 2) afirma que o termo
aspecto é menos familiar para estudantes de Linguística que outros termos de categorias
verbais, tais como tempo e modo.
Coan et al. (2006: 1466/7), numa abordagem sobre os pressupostos teóricos referentes às
categorias verbais: tempo, aspecto, modalidade e referência, referem que o aspecto não é
marcado exclusivamente por um elemento gramatical, mas por diferentes categorias (aspecto
inerente ao verbo, aspecto codificado pela morfologia verbal, aspecto codificado pelos
modificadores adverbiais) que interagem entre si. Estes autores classificam os valores
aspectuais denotados pelos verbos, assumindo a proposta aspectual de Castilho (1994), (2003),
que subespecifica o perfectivo em resultativo e pontual, e o imperfectivo em inceptivo, cursivo
e culminativo.
43
Vários (op. cit: 179) definem aspecto como categoria que permite descrever e identificar
o sentido de uma situação, a partir da informação lexical e gramatical. Diferentemente de
outros autores até aqui apresentados, a novidade destes reside na tipologia por eles adoptada,
que distingue o aspecto gramatical do lexical. Por um lado, aspecto lexical apresenta-se através
do significado intrínseco que a palavra ou conjuntos de palavras veiculam; este permite
estabelecer a distinção entre situações estativa ou estados, eventos durativos dos não durativos.
Por outro lado, o aspecto gramatical verifica-se no domínio da predicação, podendo o valor
aspectual variar em função do valor temporal e das combinações com verbos auxiliares
(iterativo, genérico, habitual, não culminado e culminado).
44
Habitual Contínuo
Não Progressivo
progressivo
Tal como ilustra o esquema, Comrie divide o aspecto em duas categorias principais,
nomeadamente, perfectivo e imperfectivo. Por sua vez, o imperfectivo subdivide-se em
habitual e contínuo. Por fim, o contínuo pode ser não progressivo ou progressivo.
Assim, o conjunto dos constituintes do sintagma verbal pode marcar uma ou várias
propriedades internas do processo (sua duração, sua frequência, seu grau de realização, etc.). É
essa expressão de uma propriedade interna ou não relacional do processo, expressa pelos
45
18
Bronckart (1999) apud Diesel (op. cit: 5), assim como Travaglia (op. cit), apontam o aspecto verbal como um dos
elementos responsáveis pela coesão verbal, ou seja, como um mecanismo de textualização.
46
Dahl (1985: 25) realça que desde a gramática tradicional, o tempo e o aspecto são
considerados como categorias morfológicas. A diferença reside no facto de o tempo constituir
uma categoria tipicamente deíctica relacionada com o tempo no determinado momento da fala,
enquanto o aspecto é uma categoria não deíctica.
Tempo Aspecto
O tempo é uma categoria relacional ou O aspecto, pelo contrário, diz respeito
indexal: localiza o momento de à perspectivação temporal do interior
ocorrência da situação em relação ao de uma dada eventualidade,
momento da enunciação ou qualquer concentrando-se unicamente no
outro ponto tomado como tempo intervalo de tempo em questão.
referencial ou de ancoragem
O tempo tem um carácter deíctico: O aspecto é, por sua vez, uma
assenta no presente enunciativo como categoria autónoma em termos
marco de referência em relação ao qual referenciais
podem ser determinados um antes e um
depois
O tempo aborda as situações ou estados O aspecto perspectiva as situações a
de coisas de um modo essencialmente partir do seu ‘interior’, analisando-as
exterior, encarando-as como um todo subatomicamente
‘atómico’
47
unânimes em afirmar que tanto o aspecto como o tempo são categorias verbais relacionadas
com o tempo.
48
3.4.4. Modo
Semelhantemente ao tempo e ao aspecto, o modo é uma das categorias verbais que tem
sido estudada principalmente na linguística bantu. Note-se que as línguas dispõem de
categorias gramaticais que expressam a localização de uma determinada situação num contexto
espácio-temporal, tais categorias são designadas por modo.
Na gramática tradicional, para Cunha & Cintra (op. cit: 378), os modos são as diferentes
formas que o verbo toma para indicar a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando,
etc.) da pessoa que fala em relação ao facto que enuncia. Na língua portuguesa, p. e., há três
modos, a saber: o indicativo, o conjuntivo e o imperativo. Além destes três modos, existem
outras formas nominais do verbo, como é o caso do infinitivo, gerúndio e particípio.
Outra definição que se aproxima à anterior encara os modos verbais como constituintes
que expressam gramaticalmente as atitudes e opiniões dos falantes, tais como: constatação,
certeza, dúvida, suposição, permissão, obrigação, etc. Os modos são classificados em duas
formas: forma verbal finita, incluindo o indicativo, o conjuntivo, o condicional e o imperativo)
e forma verbal não finita, que inclui o infinitivo, gerúndio e particípio, (Vários, op. cit. p. 168).
49
3.4.5. Negação
Como confere Langa (op. cit: 44), nas LB, normalmente, se usa mais de um morfema
para marcar a negação em enunciados. Geralmente, a escolha do morfema, de entre vários
factores, é determinada pela sintaxe, semântica e pragmática. Os diferentes morfemas de
negação19 ocupam várias posições sintácticas também diferentes, dependendo do escopo da
negação, i. e., o constituinte directamente afectado pelo morfema de negação.
Petter (op. cit: 268) refere que os estudos comparatistas tradicionais realizados sobre as
LB observaram que o verbo influencia na posição do morfema negativo, que aparece em
posição pré-inicial, no indicativo, e em posição pós-inicial, nos outros modos. A forma verbal
negativa traz ela mesma a negação; ela é flexional, ao contrário das línguas europeias que
recorrem à adjunção de um morfema negativo. A maioria das LB utiliza uma forma verbal
negativa, caracterizada pela presença de um morfema negativo.
Crystal (1993: 231)20 define negação como sendo um processo ou uma construção em
análises gramaticais e semânticas que, tipicamente, expressa um significado de contradição. Na
asserção de Chumbow & Tamanji (1994) 21, em muitas LB, o morfema da negação é periférico
e coexiste claramente com outras categorias funcionais, incluindo, p. e., tempo, aspecto e
modo. Porém, este morfema pode variar tendo em conta cada tipo de construção temporal,
sendo possível identificar um ou mais morfemas que exprimem a negação.
19
De entre vários autores que descreveram a negação em bantu, destacam-se: C. Meinhof (1906-1948); Werner
(1919), Guthrie (1967-1971), Meeussen (1967), Muzenga (1978), Pedro (1993), Ngunga (2000), Petter (2004),
Okoudowa (2010); Langa (2012), entre outros.
20
Cf. Crystal (1993: 231) apud Tanda, Vincent & Neba, Ayu’nwi n. (2005). “Negation in Mokpe and two related
coastal bantu languages of Cameroon”. In: African Study Monographs. pp. 201-219.
21
Cf. Chumbow & Tamanji (1994) apud Tanda & Neba (op. cit: 201/2).
50
Segundo a tradição bantuísta iniciada por Meeussen (1959) apud Okoudowa (op. cit: 45),
nas LB, o verbo tem a seguinte estrutura:
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Pré- Inicial Pós- Marca Infixo Radical Sufixo Final Pós-final
incial inicial
Fazendo-se uma observação atenta a esta tabela, Meeussen (1959) apresenta um total de
(9) posições pelo que se distribuem os constituintes internos do verbo em bantu. A partir desta
estrutura, Nurse (2008) apud Okoudowa (op. cit) distingue as seguintes posições:
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Pré- Inicial Pós- Formativo Limitativo 6.1 6.2 6.3 Pré- Final Pós-
incial inicial Infixo Radical Sufixo final ou final
Extensão Vogal
final
Nota-se, claramente, uma diferença entre ambas as estruturas. Na posição (4), Meeussen
usa a terminologia (marca) comparativamente a Nurse que usa formativo; a posição (5) na
primeira tabela é ocupada pelo infixo, enquanto na segunda é pelo limitativo. A posição (6) na
proposta de Meeussen é reservada ao radical, contrariamente a de Nurse que se subdivide em
três categorias, infixo, radical e sufixo (extensões verbais); por fim, a posição (7) na primeira
51
tabela é ocupada pelo sufixo, facto que não se sucede na segunda, pois a mesma posição é
reservada ao constituinte pré-final. De forma resumida, Meeussen propõe (9) lugares, diferente
de Nurse que acrescenta mais (2), totalizando (11) lugares que compõem o verbo em bantu.
Numa outra perspectiva, segundo Salting (s/d: 4), as LB são aglutinantes e cada morfema
é integrado no seu respectivo nível, ocupado uma posição específica na estrutura da palavra. Este
autor propõe uma sequência simples de (8) posições ocupadas pelos morfemas flexionais e
derivacionais tal como ilustra a tabela a seguir.
Na tabela 5, Salting propõe (8) posições, algumas obrigatórias, outras opcionais, para a
estrutura do verbo em bantu.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Pré- Inicia Pós- Formati Pós- Infixo Radical Sufixo Pré- Fina Pós-
inicia l inicia vo formativo object Extensã fina l fina
l l o o l l
MN Prefix MN MT MA Marca Raiz Extensão MA MT
Prefix o do verbal verbal -
o verbal objecto
relativ
o
52
Tabela 5. Posições dos morfemas derivacionais e flexionais no bantu, segundo Mutaka & Tamanji (2000:
173) apud Langa (op. cit: 46)
Por sua vez, Langa (op. cit), a partir desta proposta, com vista ao estudo do verbo 22 em
Xichangana, apresenta mais uma posição, a do pré-formativo, que se pode visualizar na
seguinte tabela:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Pré- Inicia Pós- Pré- Formati Pós- Pré- Radical Pós- Pré- Final Pós-
inicia l inicia For vo format radical radic Final fina
l l mat ivo al l
ivo
NEG/ INF/ ANT/ PRE PRES/F FACT/ MO Raiz EV NEG VF/P PA
ANT MS NEG/ S/N UT HAB/C /REL FV/S RT
POT/I EG/ ONT/E UBJ/
MED/ CO XCL/I HAB
REL NT MED/ /NE
REL G/IM
P
Tabela 6. Estrutura do verbo do Xichangana segundo Langa (op. cit)
Nesta tabela, Langa (op. cit) mostra que a estrutura do verbo em Xichangana apresenta
(12) posições face à criação da posição do pré-formativo, antes da do formativo e pós-
formativo. Assim, o Xichangana passa a ter mais uma posição em relação à estrutura das LB
apresentada por Mutaka e Tamanji (2000) e mais duas posições relativamente à apresentada
por Meeussen (1967).
Por último, Childs (2003: 104) apresenta uma estrutura básica do verbo em bantu. Veja-
se a tabela seguinte:
22
Nesta estrutura, na posição pré-inicial ocorrem as marcas de negação e passado anterior; na posição inicial ocorre
a marca de sujeito; na posição pós-inicial ocorrem os morfemas de passado anterior, relativo, imediato, negação,
modo potencial e aspecto contínuo; a posição pré-formativo é reservada ao aspecto contínuo e modo potencial; na
posição formativo ocorrem as marcas de tempo presente e futuro; na posição pós-formativo ocorrem as marcas de
aspecto factual, habitual, contínuo, exclusivo e do relativo; na posição pré-radical ocorre a marca de objecto; na
posição radical ocorre apenas a raiz verbal; na posição pós-radical ocorre a extensão verbal; na posição pré-final
ocorrem as marcas de negação e do relativo; na posição final ocorre a vogal final, marca do aspecto perfectivo,
aspecto habitual, modo imperativo, subjuntivo e marca de negação; por fim, na posição pós-final ocorre a marca de
participantes, (cf. Langa, op. cit. p. 263/4).
53
1 2 3 4 5 6 7
NEG SM T M A OB RAD EXT 1 VF
EXT 2
EXT 3
Para este autor, o primeiro elemento nesta estrutura é a marca de sujeito (SM), que pode
ser somente precedida por um morfema que exprime a negação (NEG). Seguem-se as marcas
de tempo (T), modo (M) e aspecto (A), respectivamente. De seguida, é afixada a marca de
objecto (OB), que ocupa uma posição antes da do radical (RAD). Após o radical, as posições
disponíveis são ocupadas pelas extensões verbais (EXTs). Por fim, ocorre a vogal final que irá
determinar o tipo de modo a ser seleccionado pelo verbo.
Portanto, de entre as várias propostas que incidem sobre a estrutura do verbo em bantu, a
de Mutaka & Tamanji (2000), contendo as (11) posições, Nurse (2008), também com (11)
posições, assim como a de Langa (2012) com um total de (12) posições parecem ser as mais
aplicáveis ao estudo do verbo em Citshwa. Note-se que estes autores são claros na distribuição
dos morfemas, tanto derivacionais como flexionais. Todavia, para uma melhor abordagem com
vista à descrição do verbo em Citshwa, o estudo das categorias tempo, aspecto, modo e
polaridade vai obedecer às asserções de Mutaka & Tamanji (2000), Nurse (2008) e Langa
(2012), e, em contextos onde estas estruturas não se apliquem, recorrer-se-á a outras propostas.
3.4.7. Conclusão
54
Nos exemplos, a derivação e a composição são associadas ao um mesmo padrão que, não
obstante, não se verifica em outras construções, visto que estas últimas, uma vez concatenadas,
são condicionadas por vários factores fonológicos.
23
Os negritos são da responsabilidade do autor deste estudo.
55
Jensen (op. cit.) que alguns afixos24 são sensíveis à estrutura morfológica das palavras a que se
ligam, onde a estrutura fonológica por si mesma é condicionada por certas regras.
Ainda no quadro da Morfologia e Fonologia Lexical, Lee (1995), (1997), (2013) discute e
reanalisa a formação de diminutivos no Português Brasileiro (PBra) e suas propriedades
fonológicas, morfológicas e sintácticas. Este autor conclui que a formação de diminutivos
ocorre no nível lexical. P. e., o diminutivo –inho apresenta propriedade de um sufixo e o
radical sofre a desacentuação após a afixação, enquanto o diminutivo –zinho pode deslocar o
acento da base e apresenta propriedade de um composto fonológico. Confirme-se nos dados
abaixo:
Nível 1:
Nível 2:
24
É o caso do sufixo –al ligado a certos verbos fazendo com que haja mudança da categoria verbal para categoria de
nome em Inglês. Ainda nesta língua, não só o sufixo adjectival –ful como em artful normalmente se liga aos nomes
acentuados, como também se liga ao penúltimo nome acentuado. Por exemplo: fanciful, pitiful, beaultiful, etc.
56
Ferreira & Tenani (2009), à luz da Fonologia Lexical, descrevem os processos que
condicionam a redução do gerúndio no dialecto de São José do Rio Preto, tal como ilustram os
exemplos:
[falar]
[fal[a[ndo]]] sufixação
[fal[ã[ndo]]] nasalização
[fal[ã[nno]]] assimilação
[fal[ã[no]]] redução do “n”
[falãnu] representação fonética
57
Estas autoras centram as suas análises no nível pós-lexical, e mostram que em [falãnu], a
consoante [d] assimila os traços da consoante nasal [n] e esta, além de cumprir o papel de
nasalizar a vogal precedente, também ocupa aposição de consoante inicial da sílaba final. Os
processos que levam à forma reduzida.
Numa outra discussão sobre a interface entre fonologia e morfologia com base no
português falado no Brasil, Dias (2011), a partir da palavra tardiamente, exemplificou a
interface entre estas áreas, mostrando que o léxico se define com o apagamento dos colchetes,
ao final de cada nível, veja-se:
1. Nível da raiz
[tard +e]
[tar.dE] silabificação
[tár.dE acentuação
[tár.dE] contexto para alçamento
Dentro do componente lexical, esta autora mostra que se tem o nível da raiz, em que se
aplica a silabificação e acentuação, e o nível da palavra, nos dados abaixo:
2. Nível da palavra
[tardE+io]
[tardEio] apagamento de colchete: adjunção
[tardio] apagamento da vogal temática
[tar.dio] silabificação
[tar’.di.o] acentuação
[tar.’di.w] harmonia: ditongação
[tar.’diw] ressilabificação
[tar.’dݤLZ@ palatização
58
Através destes dados, Langa (op. cit: 214) sistematiza os constrangimentos fonológicos
envolvendo a concatenação do morfema descontínuo de negação em formas afirmativas do
passado anterior complexo. À base, do tipo –CVC-, foi aplicada a (morf1), onde se flexiona no
passado anterior complexo (a- -(il)è), a forma básica na primeira pessoa do singular (-hi-). Em
(morf2), aplica-se o morfema de negação à (ng)- -ang) na primeira morfologia. Aqui, a (fonol1)
consiste na elisão da vogal da marca de negação. A (fonol2) consiste na inserção da forma –
nga- na posição pós-inicial. Por fim, a última linha mostra a palavra formada depois de se ter
desencadeado todos os processos morfofonológicos.
Booij (s/d: 1), ao relacionar a fonologia lexical com a morfologia, em alemão, por
exemplo, as obstruentes (oclusivas e fricativas) são sempre não-vozeadas no final de cada
sílaba. Observe-se os dados:
59
como [t], uma vez que ocupa o lugar de coda no nível pré-sintáctico, pois antes da palavra foi
combinada com o pronome clítico -er [ԥU@ (VWHV GDGRV PRVWUDP TXH R Qão-vozeamento da
oclusiva é contrastivo e faz parte do sistema fonológico do alemão e actua ao nível pós-lexical.
25
Sobre os universais linguísticos absolutos, veja-se Fromkin & Rodman (1993: 17/8). Por exemplo: i) todas as
línguas humanas utilizam um sistema finito de sons discretos (ou gestos) que se combinam, formando elementos com
significados ou palavras que, por seu lado, constituem um sistema infinito de frases possíveis; ii) Todas as
gramáticas apresentam regras semelhantes para a formação de palavras e frases; etc.
26
Proto-Bantu é uma língua ancestral (comum) de que derivam as actuais LB faladas no mundo. Embora haja
diversas teorias que explicam a sua dispersão (fragmentação), presume-se que tenha originado na África
Ocidental/Central, uma zona que actualmente abrange Camarões, aproximadamente há 3000 – 4000 anos.
60
1 2 3 4 6 7 8 10 11
Pré- Inicial Pós- Formativo Infixo Radical Extensão Final Pós-
incial inicial final
Relativo Suj/Indice Marca Marca de Índice Raiz Sufixos VF Objecto,
de Suj de tempo de verbal derivacionais índice
negação objecto do
objecto
e marca
de
negação
Quanto à análise das categorias tempo, aspecto, modo e polaridade, essa língua
evidenciou três tempos: um presente que não tem marcas e que se confunde com o presente
pontual, o progressivo e o futuro; dois futuros, um mais próximo sem marcas que se confunde
com o presente pontual e o progressivo; outro mais distante; três passados, um recente, um
distante e um remoto. Contrariamente ao aspecto, os morfemas do tempo são sempre
antepostos ao radical do verbo. O estudo do aspecto permitiu identificar dois, perfectivo e
imperfectivo. De igual modo, destacam-se três modos nesta língua, a saber, imperativo,
condicional e indicativo. Por fim, em relação à polaridade, os morfemas que indicam a negação
nesta língua são descontínuos, (Okoudowa, 2010. p. 9/10).
61
Num estudo sobre o tipo de estrutura do verbo em bantu (analítica ou sintética), Nurse
(2007: 254) conclui que é provável que o PB tenha tido uma estrutura analítica. No entanto,
durante os séculos seguintes, a cliticisação do pré-tema em vários componentes na estrutura da
palavra fez com que muitas LB optassem pela estrutura sintética. Face a esta situação, este
autor não afirma categoricamente que o PB era completamente sintético, ou se estruturas
completamente sintéticas só desenvolveram depois.
Petter (2004: 273) estudou a polaridade em duas línguas do grupo bantu, quimbundo e
quicongo e demonstrou que a negação apresenta traços comuns e aspectos divergentes. Em
ambas línguas, a negação participa da flexão do verbo, com morfemas específicos que têm uma
posição fixa antes do verbo, mais precisamente, antes do índice do sujeito. Diferem quanto ao
número de morfemas: o quimbundo possui um morfema e o quicongo utiliza dois morfemas,
colocados antes e depois do verbo.
Tanda & Neba (2005: 218), tendo investigado a estrutura de construções negativas em
Mokpe, uma LB falada na Costa (Camarões), observaram que o uso dos morfemas de negação
é predicado pelo tempo e aspecto verbais. Os morfemas de negação não variam de forma livre.
Uma interessante observação reside no facto de tais morfemas de negação mudarem nos
tempos presente e futuro.
Ainda no estudo da polaridade, Ngunga (2004) mostra que as frases são classificadas
quanto à polaridade e, como o núcleo da frase é um verbo, as marcas de polaridade são,
geralmente, acopladas à forma verbal. Com base nalgumas LB, este autor conclui que os
morfemas que exprimem a negação variam de língua para língua. Por exemplo, em Chuwabo,
o prefixo que marca a negação é kha-, independentemente do tempo verbal; em Xichangana 27,
as marcas de negação são descontínuas e realizam-se de acordo com os tempos verbais; em
Sena, a marca de negação é o prefixo ha-, que ocorre sempre na posição inicial da estrutura da
forma verbal em todos os tempos; em Ndau, a marca de negação é um morfema descontínuo a-
27
No tempo passado, é a-…-nga, onde a- ocorre na posição inicial da estrutura da forma verbal e –nga ocorre na
posição final desta estrutura; no presente, é a-…-i, onde a- ocorre na posição inicial da estrutura e –i na posição
final; no futuro, é a-…-nga-…, cujas partes são separadas pela marca de sujeito. O a- ocorre na posição inicial da
estrutura da forma verbal e –nga ocorre imediatamente a seguir a marca de sujeito.
62
Por seu turno, Dunham (s/d: 29/30) descreveu as categorias tempo, aspecto, modo e
polaridade no Langi, uma LB falada na Tanzânia e verificou que o sistema verbal desta língua
é semelhante ao da maioria das LB. Contudo, Langi parece ter adoptado um novo sistema
dentro do paradigma verbal, favorecendo oposições aspectuais em relação às temporais, quer
dizer, as distinções temporais são expressas através das construções verbais, ao passo que as
aspectuais e as modais são expressas directamente na forma verbal.
Reflectindo sobre o foco e a função da morfologia verbal nalgumas LB, Nurse (2006)
sustenta que, em bantu, o foco é indicado por uma estreita combinação dos seguintes
elementos: ordem de palavras, movimentos, clíticos, partículas, tom, reduplicação do verbo e
construções de objecto. Esta estrutura provavelmente se relacione com a do PB. Em relação à
ordem, no domínio da morfologia flexional, o foco pode ocorrer na posição pós-verbal. Note-
se ainda que o tom desempenha um papel crucial na demarcação do foco.
63
constituiu uma área fascinante de estudo no quadro da linguística descritiva por causa das
posições variadas que os morfemas que exprimem a polaridade ocupam nas diferentes LB
Com enfoque à fonologia suprassegmental, no seu estudo, Ugembe (2011: 44) refere que
o Citshwa é uma língua tonal e apresenta dois contrastes: o tom alto e o tom baixo. Trata-se de
uma análise que visava compreender os factores que motivam a ocorrência do tom alto no
verbo. Assim, nesta língua, como em qualquer outra língua tonal, o tom funciona como um
fonema ou segmento.
28
Esta autora concluiu que nesta língua as estratégias de concordância eram complexas, complexidade que não se
deve à existência de um vasto reportório de estratégias, mas a factores intrínsecos à língua (cf. Uetela, 2009 apud
Chivambo, 2013, p. 19).
64
O tom é contrastivo, uma vez que palavras que a nível segmental são idênticas, podem
ser distinguidas através do tom. No estudo do verbo, demonstrou-se que o tom pode ter função
lexical e gramatical, e pode distinguir pessoas gramaticais, tempos/aspectos verbais, polaridade
verbal e verbos, (Ugembe, ibid).
Cumbane (2008: 29), ao descrever as construções de duplo objecto (DO), com enfoque
para os falantes do português como L2, refere que em Citshwa ocorrem construções
encabeçadas por um verbo ditransitivo que envolvem dois argumentos duplo objecto. Nas
construções passivas do Citshwa, o verbo retém a capacidade de atribuir caso estrutural a
ambos os objectos, sendo que o morfema passivo pode absorver um dos Casos. Assim, o
morfema passivo absorve o caso que seria atribuído ao DO deslocado para a posição de sujeito
passivo, desse modo, esse DO não recebe nenhum caso na posição pós-verbal e é forçado a
mover-se para a posição de sujeito para adquirir caso nominativo. O segundo DO, caso seja
[+humano/ animado], é marcado pelo caso dativo pelo verbo passivo como se estivesse numa
construção activa em que o verbo atribui caso dativo. Se este DO for [-animado], então, é
marcado pelo caso acusativo.
Por um lado, numa análise dos processos de causativização na língua Citshwa por meio
da causativização lexical, morfológica e analítica, Camargos et al. (2014) verificaram que nas
causativas lexicais, o predicado não causativo e sua contraparte causativa não apresentam uma
correspondência fonológica regular, mas sim, idiossincrática; nas causativas morfológicas, a
língua disponibiliza a extensão verbal -is, que se pode juntar a verbos inacusativos, inergativos
e transitivos; por fim, nas causativas analíticas, a língua utiliza um verbo causativo pleno, a
saber: kumaha ‘fazer’, o qual selecciona como complemento uma predicação que corresponde
ao evento causado.
Por outro lado, estes autores pretendiam verificar se o Citshwa apresentava mecanismos
que pudessem distinguir a causação directa da causação indirecta, tendo notado que a causativa
morfológica produtiva é invariante e o seu sufixo causativo sempre é a extensão -is. Além do
65
mais, essa causativa produtiva está directamente associada à causação indirecta: quando as
acções do causador não apresentam um impacto directo e imediato sobre o causado. Por sua
vez, a causativização lexical não produtiva pode ser identificada de duas maneiras, a saber: (i)
em termos morfológicos, ela é frequentemente distinta das causativas produtivas e (ii) está
associada à causação directa, (Camargos et al., op. cit).
Como se viu, dos estudos que aqui foram apresentados, nenhum deles se centra nos
aspectos morfofonológicos do Citshwa. Embora Ugembe (2011) tenha desenvolvido um estudo
no domínio da fonologia suprassegmental, esta língua carece ainda de ser estudada e
sistematizada cientificamente e, dada a necessidade de se fornecer estudos científicos
envolvendo a língua em questão, surge a presente pesquisa que descreve a fonologia e
morfologia do verbo, com enfoque às categorias tempo, aspecto, modo e polaridade.
3.4. Conclusão
Este capítulo pretendia fazer a revisão bibliográfica. Primeiro, trouxe uma abordagem
sobre Morfologia e Fonologia Lexical com enfoque a algumas línguas, de entre elas, Inglês,
Português e Xichangana; na segunda secção fez-se alusão às categorias tempo, aspecto, modo e
polaridade, particularmente em bantu; por fim, a terceira secção olhou para prévios estudos que
incidiram sobre a gramática do Citshwa.
66
Neste capítulo é apresentada a metodologia adoptada tanto para a colecta de dados como
para a sua análise e interpretação. Quanto ao tipo, corroborando com os critérios de Vergara
(2010: 41) e Santaella (2006: 146/7), é um estudo exploratório, visto que, à luz da Morfologia e
Fonologia lexical, pretende descrever e analisar as categorias tempo, aspecto, modo e
polaridade no verbo em Citshwa. Para o efeito, o estudo compreendeu duas etapas:
4.1.2. Questionário
Foi adoptado o inquérito através da elaboração de um questionário 31. Em conformidade
com Dornyei & Taguchi (2010), existem duas abordagens quanto à elaboração do questionário:
29
Pesquisa de campo é uma investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenómeno ou que
dispõe de elementos para explicá-lo, (cf. Vergara, op. cit. p. 42).
30
A pesquisa documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses
de interesse. São considerados documentos quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de
informação sobre o comportamento humano, (cf. Philips, 1974. p. 187; Caulley, 1981 apud Ludke & André, 1988. p.
34).
31
Refira-se que esta técnica é mais privilegiada em ciências sociais e humanas, sobretudo em estudos qualitativos.
Referem Dornyei & Taguchi (2010: xiii); Carvalho (2009: 155) que a popularidade do questionário se relaciona com
o facto de ser uma técnica atractiva e extremamente versátil, a única capaz de fornecer informações mais detalhadas
sobre um determinado fenómeno em estudo. Segundo Brown (2001: 6) apud Dornyei & Taguchi (op. cit: 3/4),
questionário é um instrumento que apresenta uma série de questões, de tal forma que os informantes, por escrito,
possam reagir a cada questão.
67
Veja-se apêndice A.
33
Veja-se Apêndice B.
34
A entrevista consiste no diálogo com o objectivo de colher, de determinada fonte, de determinada pessoa ou
informante, dados relevantes para a pesquisa. As entrevistas geram compreensões ricas das biografias, experiências,
opiniões, valores, aspirações atitudes e sentimentos, (May, op. cit. p. 145; (Ruiz, op. cit. p. 50). A entrevista permite
a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente, com qualquer tipo de informante e sobre os
mais variados tópicos, (Ludke & André, op. cit. p. 34).
68
35
Uma amostra corresponde a uma porção ou subconjunto de um grupo maior denominado por população;
população é o conjunto de elementos que possuem características que serão objecto de estudo; população ou
universo é o conjunto de elementos abrangidos por uma mesma definição, (May, 2004, p. 114; Vergara, op. cit. p.
46; Carvalho, 2009. p. 137). As amostras podem ser probabilísticas assim como não probabilísticas, (May, 2004, p.
114); (Vergara, op. cit. p. 46); (Carvalho, 2009. p. 137). Todavia, neste estudo, somente as amostras probabilísticas
(aleatórias) foram consideradas.
36
Embora alguns autores não distingam de forma clara o método qualitativo do quantitativo, corroborando com
Richardson (2008), a abordagem qualitativa socorre-se de procedimentos metodológicos, tais como entrevistas,
questionários, observação, etc. devido à propriedade com que estas técnicas penetram na complexidade de um
problema.
37
O alfabeto fonético internacional é um sistema de notação fonética baseado no alfabeto latino, criado pela
Associação Fonética Internacional como uma forma de representação padronizada dos sons da fala.
38
Sociedade internacional de linguística, cujo objectivo é estudar, desenvolver e documentar línguas menos
conhecidas.
69
4.4. Conclusão
Este capítulo tinha como objectivo descrever as técnicas e métodos usados durante a
recolha e análise de dados. Igualmente, fez-se a delimitação do método de abordagem em
função dos objectivos preconizados, assim como da amostra e variáveis, que serviram de base
à recolha de dados. Assim, durante a recolha de dados, foi, essencilamente, aplicado, não só o
questionário, bem como a entrevista semi-estruturada, à população-alvo, previamente
seleccionada.
70
5.1. Vogais
As vogais são sons que não sofrem obstrução da corrente do ar durante a sua produção no
tracto vocal. Tipicamente vozeadas, as vogais não apresentam um ponto fixo de articulação. A
qualidade das vogais depende do espaço livre existente na boca e na faringe, da posição dos
lábios, do grau de abertura da boca regulado pelo maxilar inferior, da posição da língua em
relação à posição neutra, e da tensão dos músculos, (cf. Katamba, 1989; Ngunga 2014). Os
exemplos que se seguem mostram a distribuição das vogais na língua de estudo:
71
tòlò ‘ontem’
nqólò ‘carroça’
cìkólà ‘escola’
Em (1) foram apresentadas as (5) vogais do Citshwa. Tal como refere Hyman (2003), a
distribuição das vogais ocorre dentro das específicas características morfológicas e nos
domínios dos traços prosódicos. Algumas LB que contêm cinco vogais, como é o caso do
Citshwa, têm uma restrita distribuição por posições dentro do radical ou da palavra.
Além destas vogais, nesta língua, são frequentes vogais longas, ainda que este
alongamento não seja distintivo, apenas desempenhando uma função demarcativa nalgumas
palavras, como se mostra em (2):
Em (2) foram descritas algumas vogais longas do Citshwa. Quanto à vogal /a/, esta é
alongada antes da consoante nasalizada [b]. Em (i, ii), podendo, também, ser longa no final da
sílaba em (iii). Tal situação acontece com a vogal /u/ em (iv), esta vogal é longa antes da
consoante bilabial [m] da última sílaba.
72
Este trapézio mostra as (5) vogais fonémicas do Citshwa, que podem ser distribuídas da
seguinte maneira: em relação: (i) ao recuo da língua: (2) recuadas [i] e [e], (1) central [a] e (2)
avançadas [u] e [o]; (ii) à altura do dorso da língua: (2) altas [i] e [u], (2) médias [e] e [o], (1)
baixa [a]; (iii) à abertura da cavidade bucal: (2) fechadas [i] e [u], (2) semi-fechadas e (1)
aberta [a]; (iv) ao arredondamento dos lábios: (3) não arredondadas [i], [e] e [a] e (2)
arredondadas [u] e [o].
No quadro da FG, (cf. Katamba, op. cit. 54), na tabela (11) são descritos os principais
traços distintivos das vogais anteriormente apresentadas:
Vogal i e a o u
Alta + - - - +
Baixa - - + - -
Recuada - - - + +
Arredondada - - - + +
Tensa + - - - +
Tabela 11: Distribuição das (5) vogais do Citshwa tendo em conta os traços distintivos
73
5.2.1. Semivocalização
Semivocalização é um processo em que um segmento vocálico se torna [-sil]. Confirme-
se nos dados abaixo:
(3) Semivocalização
Os dados em (3) mostram que nesta língua a semivocalização envolve a semivogal [w].
Em (i), a vogal [+alt, +rec] do prefixo nominal transforma-se na semivogal velar [w] em face
do seu encontro com a vogal [+bax] do tema nominal. Formalmente, esta explicação pode ser
representada pela seguinte regra:
39
Quando juntamos duas ou mais vogais em uma palavra, temos um encontro vocálico. Os encontros vocálicos são
divididos em três tipos: ditongo, tritongo e hiato. Hiato é quando duas vogais estão juntas na mesma palavra, mas
em sílabas diferentes, (Disponível em: http://www.infoescola.com/portugues/hiato/. Acesso em 25 de Março de
2015).
74
Em (i), a transformação de /u/ em [w] pode ser demonstrada pelo seguinte processo:
Outros dados mostram o encontro de /u/ da base nominal com a vogal [+alt, -rec] do
sufixo locativo –ínì, com uma estrutura do tipo –VCV- (cf. ii, iii, v, vii, viii). De igual modo,
/u/ transforma-se em [w] quando antecede [i]. Este fenómeno é similar e estende-se aos demais
dados, em que se verifica o encontro de /o/ e [i] em (iv) e /a/ e [i] em (vi).
Em (ii, iii, iv, v, vii, viii), a regra fonológica que explica as alterações observadas ao nível
fonético é a seguinte:
75
A transformação de /u/ em [w] tal como ficou apresentada na regra anterior, pode ser
demonstrada pelo seguinte processo:
V V V V V V V V
_ _ _ _ _ _ _ _
P P P P P P P P
_ _ _ _ _ _ _ _
CV C V V C V CV CV V CV
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
t i k uini t i kwen i
5.2.2. Elisão
A sequência de duas vogais -VV- pode resultar na elisão de uma delas. Este fenómeno
pode ser confirmado nos exemplos em (4):
76
Em (4), observe-se a afixação do morfema locativo -ínì. A vogal [+alt, -rec] é apagada
quando se encontra com a vogal [-alt, -bx, -rec] da base nominal em (i) e com a vogal [+alt, -
rec] em (ii, iii). Deste modo, percebe-se que o encontro da vogal da base nominal com a do
sufixo locativo resulta no apagamento desta última. A regra que formaliza esta explicação é a
seguinte:
+ alt -alt
- rec 2 - -bx
- arred -arred
+tens -tens
V V V V V V V V V V
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
P P P P P P P P P P
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _
CV C V CV V CV CV CV CV V CV
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
ma -v e - l e - i - ni m a – v e - l e - [ 2] - n i
Como se vê, no nível morfológico, ocorre a sufixação do morfema locativo –ínì à base
nominal màvélé, ‘nos seios’. Como resultado, na estrutura profunda, se se prestar atenção ao
esquema, a nova palavra formada passa a ter (5) sílabas. Já no nível fonético, como ficou
demonstrado na regra anterior, a vogal /i/ sofre uma elisão. Com a elisão desta vogal, a palavra
màvèlénì ‘nos seios’ passa a ter (4) sílabas na estrutura de superfície.
77
5.2.3. Coalescência
5. Coalescência em Citshwa
40
Ver Chivambo (2013).
78
derivação, sobretudo em extensões verbais, sendo comum e, no geral, afecta vogais dos sufixos
derivacionais como, p. e., as extensões causativa, aplicativa, reversiva/separativa, entre outras
combinações, (Schroeder, 2010. p. 12; Childs, op. cit. p. 68).
Bakovic (2002:1) apud Kadenge (2010: 244) define harmonia vocálica como um
processo em que as vogais adjacentes a sílabas no determinado domínio da palavra concordam
com outras em termos de traços ou características que as identificam. Para Childs (op. cit: 67),
a vogal harmónica consiste na partilha de uma característica, tipicamente em vogais não
contíguas, separadas por um segmento do tipo -C-.
6. Harmonia vocálica
Raiz + Ext. Aplic. + VF
Nos dados acima, a extensão aplicativa -él-41 do tipo -VC- associa-se a vários radicais
que contêm vogais, tanto primárias como secundárias. Observe-se que a vogal da extensão
mantém seus traços fonológicos quando é antecedida por uma vogal secundária /o/ (em i), e,
também, como tal, quando é precedida por vogais primárias /a/ e /u/ em (ii, iii).
Esta situação mostra que, em Citshwa, o carácter primário e/ou secundário da vogal da
extensão não depende exclusivamente da vogal do radical, tal como acontece, p. e., em línguas
41
A extensão aplicativa ou dativa/benefáctica -il-, também designada por ‘preposicional’ ou ‘directiva’, indica que
o estado ou a acção descrita é realizada em benefício de alguém. Deriva de verbos transitivos e o objecto é
geralmente um beneficiário, um instrumento, bem como um advérbio de lugar ou de tempo, (cf. Schadeberg, op. cit;
Langa, op. cit.).
79
como, Nambya42, Ciyaawo43 (vd. Kadenge, 2010; Ngunga, 2000, 2004, respectivamente). A
distribuição desta extensão realiza-se morfologicamente e não é, necessariamente,
condicionada fonologicamente.
Em (iv, v, vi), à raiz verbal, é afixada a extensão causativa44 -ís-, também com uma
estrutura do tipo -VC-. Em Citshwa, a ocorrência desta extensão é condicionada sob o ponto de
vista morfológico e não fonológico, visto que a sua ocorrência não depende das propriedades
fonológicas da vogal do radical. Com isto, pode-se concluir que as vogais de ambas as
extensões verbais não alternam com outras vogais.
Descrita a fonologia do Citshwa envolvendo as (5) vogais orais, a secção que se segue
será reservada à apresentação das consoantes e sua descrição no quadro dos traços distintivos,
sua distribuição, assim como à discussão de processos fonológicos.
42
Em Nambya, a extensão aplicativa -íl- realiza-se como íl- quando é imediatamente precedida por vogais como [i],
[a], [u] e como -él- quando é precedida por vogais como [o] e [e]. Esta língua é caracterizada por uma bidireccional
vogal harmónica que exibe ambas as harmonias: regressiva, quando envolve alternância prefixal e progressiva,
quando envolve alternância sufixal, (cf. Kadenge, op. cit.).
43
Nesta língua, a harmonia vocálica é produtiva e é notável sobretudo nos processos de afixação de sufixos verbais,
(cf. Ngunga, 2004, p. 74).
44
Esta extensão é usada seja em sequências simples como -CV-, seja em sequências compostas como, p. e., -CVC-.
No geral, a extensão causativa é afixada a radicais que contêm verbos intransitivos. Note-se, contudo, que nalgumas
línguas, esta extensão expressa significados semânticos específicos, (cf. Schadeberg, op. cit; Langa, op. cit.).
80
5.3. Consoantes
Consoantes são sons cuja produção envolve uma obstrução nas cavidades bucal e nasal
durante a passagem da corrente do ar. Esta fonte de ar pode ser a boca, as fossas nasais, a
faringe, a glote e os pulmões. Estes sons caracterizam-se pelo facto de: i) terem o ponto fixo de
articulação; ii) ocorrerem sempre à margem da sílaba; iii) terem menos duração do que as
vogais; iv) soarem sempre como uma espécie de vogal, (cf. Katamba, op. cit; Ngunga, 2004,
2014).
A tabela (12) mostra a distribuição das consoantes do Citshwa a partir do seu ponto e
modo de articulação:
Na tabela, onde os símbolos estão aos pares, o primeiro à esquerda representa o segmento
não vozeado. A seguir, com base em exemplos, são apresentadas as consoantes do Citshwa:
81
82
Nos dados, fez-se a combinação dos grafemas do Citshwa com os respectivos símbolos
fonéticos. Há casos em que é possível observar a co-articulação, isto é, sons cuja produção
envolve dois articuladores, como é o caso dos sons africados (vd. ponto 5.4.5).
Descritas as consoantes do Citshwa, a partir dos traços distintivos, estas podem ser
classificadas tendo em conta as seguintes classes naturais: obstruentes, distribuentes,
sonorantes, contínuas, nasais, laterais, labiais, anteriores, coronais, altas, baixas e recuadas. Por
seu turno, Katamba (op. cit: 54/5) divide-as em dois principais grupos: i) sonorantes,
consoantes que são produzidas com um vozeamento espontâneo, p. e, líquidas,
glides/semivogais e nasais, e ii) obstruentes, aquelas que apresentam a cavidade bucal numa
posição em que se inibe o vozeamento espontâneo, p. e., oclusivas, fricativas e africadas.
45
Trata-se de sons cuja produção não envolve o ar pulmonar, podendo, este, ser faringal expirado ou ainda bucal,
para o caso dos cliques.
83
Lab + - - - - - - - + - - -
Ant. + + + - + + + + - + + +
Cor. - + + - + + + + - - + +
Alt. - - + + - + + + - - -
Rec. - - - + - - - - + - - -
espontâneo durante a sua produção, facto que justifica a sua classificação como sonorantes do
Citshwa no presente estudo.
+voz b d Ê Î g v z Û = ¥ bz bv d=
-voz p t c k f s 6 ç h ps pf t6
cont. - - - - - - + + + + + + - - -
estrid. - - - - - - + + + + - - + + +
distrib. - - - - - - - + - + - - - - -
ant. + + + + - - + + - - - - + + -
lab. + - + - - - + - - - - - + + -
cor. - + - + + - - + + + - - - - +
alt. - - - - + + - - + + + - - - +
bx. - - - - - - - - - - - - - - -
rec. - - - - - + - - - - - - - - -
84
5.4.1. Assimilação
A assimilação consiste na partilha de traços, fazendo com que dois segmentos (vizinhos)
se tornem semelhantes no que concerne a uma determinada propriedade fonológica. Nos dados
que se seguem, observe-se os alomorfes da nasal fonémica, representada por /N/:
9. Nasal homorgâmica
Fazendo-se uma observação atenta aos dados acima, note-se que ocorrem alterações do
morfema que marca o singular dos nomes da classe 9 46, que pode ser representado pela nasal
/N/ (sem o ponto de articulação). Na estrutura fonética, em todos os dados, esta nasal assimila
46
Guthrie (1956) classifica os nomes em função dos seus significados e dos prefixos de concordância. Esta
classificação resulta precisamente de atribuição de prefixos aos nomes de acordo com os padrões de sua
concordância e dos significados entre as diversas LB faladas em África.
Assim, os nomes são, sistematicamente, organizados em classes. Nestes exemplos, a nasal /N/, da classe 9, singular
da classe 10, descreve nomes de animais e algumas partes do corpo humano.
85
A regra que explica estas alterações pode ser formulada da seguinte maneira:
/N / N /- C
D lugar D lugar
Além deste processo fonológico, algumas consoantes do Citshwa sofrem modificações
e/ou alterações, de entre elas, há que assinalar a nasalização, a aspiração, a africatização e a
velarização.
5.4.2. Velarização/labialização
A produção das consoantes, tanto nasais como orais, pode ser feita com um ligeiro
arredondamento dos lábios e/ou uma ligeira constrição velar. Este fenómeno chama-se
labialização (se as consoantes em causa forem não-labiais) ou velarização (se as consoantes em
causa forem labiais, (Ngunga, 2004; Ngunga & Simbine, op. cit., p. 54). Vejam-se os dados
que se seguem:
10. Labialização/velarização
Por um lado, em (i), a nasal [+bil, -rec] assimila o traço [+velar] do som seguinte [w]. Na
ortografia, tal como se pode ver, este fenómeno é representado pelo grafema w. Por outro lado,
86
a labialização afecta as nasais [n] e [1] em (ii, iv), a oclusiva [k] em (iii e vi) e a fricativa [z]
em (v).
5.4.3. Nasalização
Segundo Katamba (op. cit: 93), nasalização é um processo em que um som oral adquire
traços (nasais) do outro (som) que estão contextualmente próximos.
Em (i e ii), a oclusiva oral [b] é nasalizada quando ocorre depois da nasal [+bil]. Ainda
nos dados, em (iii, iv, vi) ocorre a pré-nasalização das consoantes [d], [k] e [s]. Portanto, a
nasalização, sendo proeminentemente audível, além das consoantes, pode, também, afectar
algumas vogais orais como é o caso da vogal [+bx] em (v). Com base nestes exemplos, pode-se
aferir que as oclusivas, assim como as fricativas podem ser nasalizadas: [mb]; [d]; [k]; [g];
[s], uma vez precedidas por [m] ou [n], tal como ilustra a regra que se segue:
/C/ [C] / - [N – C]
5.4.4. Aspiração
Este processo acontece quando, na produção de uma consoante oclusiva ou africada, o
volume do ar proveniente dos pulmões continua a libertar-se continuamente após a explosão
inicial, (Ngunga & Simbine, op. cit. p. 60). Vejam-se os dados abaixo:
87
i) khónà +ónà]
[k+ ‘canto da parede’
ii) khùmbà [k+ùmbà] ‘porco’
iii) phàphàtánè [p+àp+àtánì] ‘borboleta’
iv) nkhátá [k+átá] ‘sangue’
v) wùthápà [wùt+ápà] ‘verde’
vi) nhòvù [n+òvò] ‘nariz’
5.4.5. Africatização
Este fenómeno ocorre e afecta algumas consoantes oclusivas do Citshwa, com maior
frequência as duas oclusivas alveolares [t] e [d], que são sempre combinadas com as duas
fricativas [s] e [z], respectivamente, tal como ilustram os dados abaixo:
88
Tendo sido feito o estudo das consoantes do Citshwa, a seguir serão apresentadas e
descritas as duas semivogais desta língua.
5.5. Semivogais
Semivogais são sons vocálicos não silábicos. Quanto à articulação, estes sons têm traços
de vogais e consoantes. Quanto à distribuição, ocorrem à margem da sílaba. As semivogais
estão associadas a configurações próximas das vogais fechadas e, ao nível fonético, nem
sempre é possível estabelecer uma fronteira clara entre vogais fechadas e as semivogais
correspondentes, (cf. Ngunga, 2014, p. 18; Andrade & Viana, 1996. p. 145/6).
89
De lembrar que não constitui objectivo desta pesquisa estudar o tom. Não obstante, em
Citshwa, o tom funciona como um fonema ou segmento (vd. Ugembe, op. cit), daí que, na
estrutura verbal, alguns morfemas gramaticais podem ser assinalados por meio do tom,
distinguindo pessoas gramaticais, tempos, aspecto, polaridade, etc. Este facto justifica a sua
discussão na presente pesquisa e, para efeitos de estudo, nas palavras, o tom alto é assinalado
pelo diacrítico [@މHRWRPEDL[RpPDUFDGRSHORGLDFUtWLFR>C@
Em (i, ii), o radical apresenta uma estrutura do tipo -CCVCVC - por causa da
modificação (africatização) da oclusiva alveolar não vozeada [t]. Ainda em (i), verifica-se uma
maior proeminência na articulação da penúltima sílaba, contrariamente à articulação do
exemplo descrito em (ii). Com isto, se pretende demonstrar que em (i) a penúltima sílaba é
90
articulada com um tom alto, ao passo que em (ii) a mesma sílaba é articulada com um tom
baixo, distinguindo, desse modo, o significado de ambas as palavras.
Já em (iii, iv), a raiz verbal apresenta uma simples estrutura da sílaba do tipo -C- (radical
primitivo). À semelhança do que se viu no exemplo anterior, nestes dados, a vogal da última
sílaba apresenta uma proeminência relativa maior em (iii) do que em (iv). Ainda que ambas as
palavras apresentem os mesmos segmentos dispostos na mesma ordem, este traço prosódico
faz com que se distinga claramente o significado de kùgá, ‘ideofone47/cortar com catana’ de
kùgà, ‘verbo/comer’.
Pode-se ver nos exemplos (v, vi, vii, viii, ix, x) que todos os nomes apresentam uma
estrutura da sílaba do tipo -CVCV- e -CVCVCV- nos dados (xi, xii). Nestes pares de palavras,
os segmentos são iguais, embora haja diferenças semânticas, isto é, é o tom que determina a
diferenciação do significado em cada par. A título de exemplo, em (v), músì, ‘pau de pilar
milho’ distingue-se de mùsì, ‘fumo’; em (vii), kèlé, ‘cova’ contrasta o significado com kélè,
‘sapo’, em (viii).
47
Ideofones são definidos como (i) marcas de palavras que descrevem ou representam o sensório de imagens; (ii)
são marcadas, pois se distinguem completamente de outras palavras face à sua estrutura fonológica, tom e
acentuação; (iii) são palavras convencionadas para significados específicos; (iv) são representações especiais que
reflectem a arbitrariedade do signo linguístico, (cf. Dingemanse, 2012).
91
Prestando-se atenção aos dados, verifica-se que a marcação do tom nas palavras não
distingue o seu significado. Contudo, esta variação na proeminência somente serve para
distinguir algumas relações gramaticais. Por exemplo, em i), [k+álè], ‘antigamente’ (1),
assinala o advérbio de tempo. Em [k+álé:], apesar de a última vogar ser longa, o que não
acontece em i), o tom também assinala o advérbio de tempo, mas, semanticamente, expressa a
ideia de um passado muito distante.
Para a descrição do tom verbal em Citshwa, recorreu-se ao Ugembe (op. cit), de onde
foram extraídos os dados que se seguem. Porém, a representação fonética e a sua discussão são
da responsabilidade do autor deste estudo:
O tom distingue a 3ª. pessoa do futuro simples (modo indicativo) em (v) da 3ª. pessoa do
modo condicional em (vi); em (vii, viii), o tom assinala a polaridade, distinguindo a frase
imperativa (afirmativa) (vii) do presente pontual (negativa) (viii); por fim, o tom distingue o
passado simples (1) em (ix) do passado simples (2) em (x), ou seja, equivalentes ao pretérito
perfeito e pretérito mais que perfeito, respectivamente, em língua portuguesa.
Como se vê, o tom não só se manifesta nos nomes, como também na estrutura do verbo,
podendo ser alto ou baixo, e é contrastivo tanto a nível lexical como gramatical. Com base nos
exemplos descritos, de modo que se evite eventuais ambiguidades, pelo facto de o tom marcar
a distinção semântica de duas palavras no léxico, e também assinalar certas relações
gramaticais, seria fundamental que fosse assinalado na ortografia padronizada do Citshwa.
92
93
5.8. Sílaba
Como mostram os dados, a sílaba é uma unidade prosódica que em Citshwa apresenta um
sistema aberto em que o núcleo é sempre uma vogal e a margem ou ataque é uma consoante. A
estrutura da sílaba das palavras apresentadas em (17) é a mesma, sendo do tipo – CV – e pode
ser ilustrada no seguinte esquema:
V V
A R A R
C V
[9] [a]
94
Apesar de serem sílabas complexas se se prestar atenção à sua estrutura, no que tange à
sua combinação, todas elas são abertas e breves. Veja-se a seguinte ilustração:
48
Rima é um constituinte não terminal, que domina os constituintes terminais (núcleo e coda). A rima pode
apresentar um formato não ramificado, com presença apenas do núcleo, ou pode ramificar em núcleo e coda, (cf.
Mateus et al., op. cit. p. 255).
49
O constituinte ataque pode dominar uma consoante, duas consoantes, ou pode ainda não estar segmentalmente
preenchido. Estas três possibilidades estruturais determinam a ocorrência de três tipos de ataque: ataque ramificado,
no caso de dominar duas posições de esqueleto correspondentes a duas consoantes, e ataque não ramificado, no caso
de dominar uma posição de esqueleto associada a uma consoante simples ou a nenhuma, (cf. Mateus et al., op. cit. p.
248).
95
V
A R
A1 A2
C C V
50
O núcleo pode ser uma vogal, uma sequência de vogais, ou ainda uma semivogal.
96
5.9. Conclusão
Este capítulo esteve reservado ao estudo da fonologia segmental e suprassegmental do
Citshwa. Na primeira parte, a análise centrou-se na descrição das vogais, das consoantes e das
semi-vogais. No que concerne às vogais, mostrou-se que estes sons ocorrem dentro das
específicas características morfológicas e são, fonologicamente, condicionados por vários
factores. Além das (5) vogais descritas tendo em conta os traços distintivos, em Citshwa,
correm algumas vogais longas, muito embora se trate de uma duração não distintiva. Ainda na
fonologia segmental, foram descritas as consoantes, semivogais e alguns processos fonológicos
que as consoantes sofrem em determinados contextos. Dentro da fonologia suprassegmental, o
estudo do tom mostrou que esta língua faz o contraste entre o tom alto e tom baixo,
distinguindo os significados das palavras. Por fim, uma análise à sílaba permitiu que se
concluísse que esta língua apresenta uma estrutura básica do tipo -CV-.
97
a) yèná àtshìkélè .
3ps MS-chegar-PS
‘ele chegou’
51
Trata-se de: i) Pretérito perfeito: uma acção é terminada no momento da enunciação, ou seja, uma acção é
completamente concluída; (ii) pretérito imperfeito: indica uma acção que, de modo contínuo, aconteceu no passado;
(iii) o pretérito mais-que-perfeito: indica uma acção passada que é anterior a uma outra acção também já passada,
relativamente ao momento de enunciação.
52
tìngúwò é o nome que pertence à classe 10, -ti-, e o seu singular da classe 9 é a nasal –n-.
98
e) hìná hìlìwonílè.
1pp MS-MO-ver-PS
‘nós o vimos’
99
Em (1) foi descrito o passado (PS). Em Citshwa, com base nos dados acima, este tempo é
expresso pelo morfema –ílè-, com uma estrutura do tipo –VCV-. Porém, em (1b), na estrutura
do verbo, o passado é assinalado pelo morfema –é-, do tipo –V-. Estes morfemas ocorrem na
posição final (11). Estes dados mostram ainda que o Citshwa não dispõe de morfemas
específicos que assianalam o passado remoto (evento muito distante), médio (evento não muito
distante) e recente (evento que aconteceu recentemente), tempos comuns em bantu, todavia,
eles são expressos sintacticamente, ocorrendo como advérbios. Esta língua exibe apenas o
morfema –ílè- que, no verbo, expressa o passado simples
100
Tal como os exemplos ilustram, em Citshwa, não ocorre um morfema específico que
exprime a negação. No tempo passado simples, os morfemas que expressam a negação em
Citshwa são à- … -àngí-, que ocorrem, de forma simultânea, na posição pré-inicial (1) e pré-
final (10), respectivamente.
101
102
em casos excepcionais como situações de relato directo, por exemplo, de um jogo, ou quando
se utilizam performativos, (cf. Mateus et al., op. cit. 144; Oliveira & Lopes, 1995).
Todavia, em (3) (b, c), a afixação deste morfema no verbo cria constrangimentos
fonológicos com a marca de sujeito (-hì-), da segunda pessoa do plural. Veja-se a regra abaixo:
103
O encontro de –ì- da marca do sujeito com –ó-, marca do presente pontual, tal como a
regra mostra, a vogal [+alt, -rec] da marca do sujeito é apagada quando antecede a vogal [-alt, -
bx, +rec], morfema que expressa o afirmativo do presente pontual.
e) móvhà àwùnyimí.
nome Neg-MS-parar-Neg
Uma observação atenta a estes dados mostra que o presente pontual na forma negativa é
assinalado pelos morfemas à-…-í-, distribuídos pelas posições pré-inicial e final (VF),
respectivamente. O primeiro morfema, com uma estrutura do tipo –V-, apresenta um tom
baixo, contrariamente ao segundo, do tipo –V-, que possui um tom alto.
104
Em (5) foram descritas algumas frases no modo indicativo que expressam o afirmativo do
presente habitual (PresH). Comparativamente ao passado pontual, em Citshwa, em todas as
formas verbais, o morfema que exprime o presente habitual é -à-, com um tom baixo, que
ocorre na posição do pós-formativo 1 (5).
105
106
Em Citshwa, o futuro simples (FutS) é expresso pelo morfema –tà-, com uma simples
estrutura do tipo –CV-, cuja vogal contém um tom baixo. Este morfema ocorre na posição do
formativo (4).
107
Em (8) foram apresentadas algumas frases cujas formas verbais se encontram na forma
negativa do futuro simples. A forma negativa deste tempo é marcada pelos morfemas à-…-
ngà-, que ocupam as posições pré-inicial (1) e pós-inicial (3), respectivamente.
Tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Pré- Inicia Pós- For Pós Pós- Pré- Radical Pós- Pré- Final
inici l inicial For for rad rad Final
al 1 2
Neg MS Neg Fut Pres Asp MO Raiz Ext. Neg VF
Rel Asp Pro V
Hab/P g
ont
PS - -hì- - - - - -lì- -hlàzw- - - -ílè- (-è-)
Afir
PS Neg à- - hì - - - - - -lì- - hlàzw- - -àngí- -
108
Tabela 15: Distribuição dos morfemas nos tempos passado simples, passado composto, presente habitual e
pontual, e futuro simples, nas formas afirmativa e negativa em Citshwa
53
O nome seleccionado à exemplificação é da classe 5.
54
Os morfemas derivacionais não constituem objecto deste estudo.
109
morfema –àngí-, ocorrendo, apenas, no passado simples e composto. A posição (11), final, é
constituída pela vogal final, podendo ser os dois alomorfes do passado simples e composto, -
ílè- (-è-).
110
111
Para Nurse (2003: 98) apud Okoudowa (2010: 120), a forma habitual é um imperfectivo,
no sentido em que a acção está em curso. Para Comrie (1976), o habitual é uma das
ramificações do imperfectivo.
55
Outros mecanismos nesta categoria são o recurso à conjugação perifrástica ‘está a falar’ ou ao gerúndio
‘cantando’. Salientam-se outras categorias aspectuais, como é o caso do icoativo/terminativo. Estes dois valores
aspectuais estabelecem os limites do processo; o aspecto icoativo anuncia o início desse processo, ao passo que o
terminativo anuncia o seu termo, o fim.
112
Com base nos exemplos acima, pode-se concluir que, em Citshwa, o aspecto habitual, na
forma afirmativa, é marcado pelo morfema –wá-, do tipo –CV-, cuja vogal contém um tom alto
e ocorre na posição do pós-formativo 2 (6). Ainda nos exemplos, ocorrem diversos advérbios
de tempo associados a verbos que descrevem eventos que, concretamente, não estão
delimitados no tempo, expressando a ideia de “acções habituais”. Independentemente da
situação temporal, em todos os casos, o morfema que exprime o aspecto habitual é –wá-.
113
O aspecto pontual relaciona-se com o presente pontual e descreve acções e/ou eventos
que ocorrem no momento da enunciação e, que, ainda, perduram no tempo.
114
O aspecto progressivo (Prog) representa uma acção em curso, que está acontecendo faz
apenas alguns segundos, com relação ao momento da fala, (Nurse, 2003, p. 98) apud
(Okoudowa, 2010, p. 118). Para Comrie (op. cit: 33), o aspecto progressivo descreve acções
que estão em progresso.
b) mùfánà ìwáhàkìnà.
nome (cl.1) MS-Hab-Prog-dançar
‘o menino estava dançando’
c) hìná hìwáhàgòndzà
1pp MS-Hab-Prog-estudar
‘nós estávamos estudando’
115
A tabela (16) sistematiza a sua distribuição dos valores aspectuais na língua de estudo:
Aspect 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
o Pré- Inici Pós- For Pós- Pós Pré- Radical Pós- Pré- Final
inici al inicial For For rad rad Final
al 1 2
Neg MS Neg Pres Pres Asp MO Raiz Ext. Neg VF
Rel Fut Asp Pro V
Hab/Po g
nt
Perf - -hì- - - - - - -gòndz- - - -ílè-
Hab - -hì- - - -wá- - - -gòndz- - - -à-
Pont - -hì- - - -wó- - - -gòndz- - - -à-
Prog - -hì- - - -wá- -hà- - -gòndz- - - -à-
Tabela 16: Distribuição dos morfemas aspectuais, nas categorias: perfectivo, imperfectivo habitual, pontual
e progressivo em Citshwa.
Considerando-se a 2pp e a base verbal –gòndz- ‘estudar’, transitivo, tal como a tabela
ilustra, os morfemas aspectuais distribuem-se pelas diversas posições na estrutura do verbo. O
aspecto perfectivo, coincidindo com o passado simples, ocupa a posição final (11); enquanto o
aspecto imperfectivo habitual é assinalado pelo morfema –wá-, ocorrendo na posição do pós-
formativo 1 (5), o imperfectivo pontual é marcado pelo morfema -wó- e, também, ocupa a
mesma posição. Por fim, o aspecto imperfectivo progressivo ocupa a posição do pós-formativo
2 (6) e é assinalado pelo morfema –hà-.
116
Tal como se fez menção na metodologia (vd. cap. IV), dos critérios aqui apresentados,
além do modo indicativo (cf. 6.1 e 6.2), o presente estudo descreve apenas as duas formas
finitas (modo imperativo e conjuntivo).
a) hlàzwá tìngúwò!
lavar-VF nome
‘lave a roupa’! (você)
b) hlàzwá tìngúwò!
lavar-VF nome
‘lava a roupa’! (tu)
c) àhìhlàzwénì tìngúwò!
MIMP-MS-lavar-MIMP nome
‘vamos lavar a roupa’! (cf. lavemos a roupa!)
d) hlàzwánì tìngúwò!
lavar-MIMP nome
117
Uma observação atenta aos dados mostra que em 1a) e 1b), todas as formas verbais têm a
mesma estrutura segmental, incluindo a vogal final que coincide com a do infinitivo, -á- (com
tom alto). Portanto, nesta língua, pode-se afirmar que não existem morfemas específicos que
distinguem a (3ps) e a (2ps) no modo imperativo (MIMP). Em contrapartida, a (2pp) do
imperativo é assinalado pelos morfemas à- e -énì, que, na estrutura verbal, ocupam as posições
pré-inicial (1) e final (11), respectivamente. Por último, a (3pp) do imperativo é marcada pelo
sufixo –ánì, com uma estrutura do tipo -VCV-, que, também, ocorre na posição final.
a) àhlàzwé tìngúwò.
MCONJ-MS-lavar-MCONJ nome
‘que ele lave a roupa’.
b) àwùhlàzwé tìngúwò.
MCONJ-MS-lavar-MCONJ nome
‘que tu laves a roupa’.
d) àvàhlàzwé tìngúwò.
MCONJ-MS-lavar-MCONJ nome
‘que lavem a roupa’.
118
e) àtìhlàzwìwé tìngúwò
MCONJ-MO-lavar-MCONJ nome
‘que se lave a roupa’.
Modo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Pré- Inici Pós- For Pós- Pós Pré- Radical Pós- Pré- Final
inici al inicial For For rad rad Final
al 1 2
Imper à- - - - - - - - - - - énì
ativo -(ánì)
Conju à- - - - - - - - - - -é
ntivo
Tabela 17: Distribuição dos morfemas modais, nas categorias: imperativo e conjuntivo, na forma
afirmativa.
119
6.4. Conclusão
Este capítulo pretendia descrever as categorias tempo, aspecto e modo (TAM) em
Citshwa, nas formas afirmativa e negativa. Depois da análise e descrição do tempo, pode-se
concluir que esta categoria é expressa sobretudo pela flexão verbal. O tempo é expresso por
morfemas específicos, distribuídos pelo passado, presente e futuro, e encontram-se aglutinados
ao verbo. Relativamente ao aspecto, este capítulo descreveu as (4) categorias aspectuais:
perfectivo, imperfectivo habitual, imperfectivo pontual, imperfectivo progressivo, tendo-se
concluído que esta língua dispõe de morfemas específicos que assinalam o aspecto e
distribuem-se na estrutura do verbo.
Por fim, além do modo indicativo (cf. tempo e aspecto), este capítulo descreveu os modos
imperativo e conjuntivo. Quanto ao primeiro modo, ainda que ocorram nas mesmas posições, o
estudou mostrou que os morfemas que expressam o imperativo variam em função do número e
pessoa. Em relação ao conjuntivo, mostrou-se que em todas formas verbais, este modo é
assinalado pelos mesmos morfemas, que se distribuem na estrutura do verbo.
120
No que diz respeito às consoantes, em Citshwa, a partir dos traços distintivos, foram
descritos os dois principais grupos, a saber: sonorantes e obstruentes. Estes sons sofrem alguns
processos fonológicos e modificações, desde a aspiração, labialização, velarização, nasalização
até à africatização. No âmbito da fonologia suprassegmental, por um lado, o estudo do tom
121
mostrou que esta língua faz o contraste entre o tom alto e tom baixo, distinguindo os
significados de palavras. O tom não só se manifesta nos nomes, como também na estrutura do
verbo, e é contrastivo tanto a nível lexical como gramatical. Por outro lado, a análise da sílaba
permitiu que se concluísse que esta língua apresenta uma estrutura básica do tipo -CV-.
Entretanto, de forma resumida, pode-se concluir que em todos os tempos, a posição pré-
incial (1) é preenchida pela marca da primeira negação –à-. A marca de sujeito ocupa a posição
inicial (2). A posição pós-inicial (3) é ocupada pela segunda marca de negação do passado
composto, -ngà-, que, também, é um dos morfemas dos que expressam a negação do futuro
simples. A posição do formativo (4) é ocupada pelo morfema –tà-, que expressa o futuro
simples na forma afirmativa. A posição (5), do pós-formativo 1 é preenchida pelo morfema –ó-
, que expressa a forma afirmativa do presente pontual e pelo morfema –à-, que assinala a
forma afirmativa do presente habitual. A posição (7), a do pré-radical, corresponde à marca de
objecto. A posição (8) é reservada ao radical. Na posição (10), pré-final, ocorre a terceira
negação, representada pelo morfema –àngí-, ocorrendo, apenas, no passado simples e
composto. A posição (11), final, é constituída pela vogal final, podendo ser os dois alomorfes
do passado simples e composto, -ílè- (-è-).
122
Constituíram objecto deste estudo os morfemas que expressam o modo em Citshwa. Tais
morfemas ocupam as mesmas posições com as do tempo e aspecto. Além do indicativo,
descrito durante o estudo do tempo e aspecto, verificou-se que os morfemas que expressam o
modo imperativo variam em função do número e pessoa. Nesta língua, pode-se afirmar que não
existem morfemas específicos que distinguem a (3ps) e a (2ps) no modo imperativo. Em
contrapartida, a (2pp) do imperativo é assinalado pelos morfemas à- e -énì, que ocupam as
posições pré-inicial (1) e final (11), respectivamente. Por último, a (3pp) do imperativo é
marcada pelo sufixo –ánì, que, também, ocorre na posição final. Em relação ao conjuntivo, em
todas formas verbais, é assinalado pelos mesmos morfemas, que se distribuem na estrutura do
verbo, nomeadamente, à-…–é, que ocorrem nas posições pré-inicial (1) e final (11),
respectivamente.
123
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127
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mestrado não publicada];
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Edição. São Paulo: Atlas;
Villalva, Alina. (2008). Morfologia do Português. Lisboa: Universidade Aberta.
129
Apêndices
130
APÊNDICE A
Delegação de Nampula
Faculdade de Ciências de Linguagem, Comunicação e Artes
Mestrado em Linguística Bantu
131
132
133
134
APÊNDICE B
Delegação de Nampula
Faculdade de Ciências de Linguagem, Comunicação e Artes
Mestrado em Linguística Bantu
Português Citshwa
135
136
(No ano passado) nós estudávamos muito lèmbé gìgàhùndzà hìná hìwágòndzà ngóvù
(habitualmente)
Nós estávamos estudando hìná hìwáhàgòndzà
Nós estudávamos muito (habitualmente) hìná hìwágòndzà ngóvù
Nós estudávamos muito (pontualmente) hìná hìwógòndzà ngóvù
Nós vimos um filme hìná hìwònílè bhúkà-bhúkà
Nos víamos um filme hìná hìwàwònà bhúkà-bhúkà
Nós vemos um filme hìná hàwònà bhúkà-bhúkà
Nós o vimos (filme) hìná hìlìwònílè
Nós estamos a ver um filme hìná hòwònà bhúkà-bhúkà
Quando tu chegaste nós tínhamos visto um nkámá ùngàtchìkélà àhìwònílè bhúkà-bhúkà
filme
Quando tu chegaste nós não tínhamos visto um nkámá ùngàtchìkélà àhìngàwònàngí bhúkà-
filme bhúkà
Ele construía uma barraca (casa) yèná ìwáyàkà yíndlù
(habitualmente)
Ele construía uma barraca (casa) yèná ìwóyàkà yíndlù
(pontualmente)
Ele faz uma barraca (casa) yèná wàmàhà yíndlù
Ele não faz uma barraca (casa) yèná àngàmàhí yíndlù
Ele está a fazer uma barraca (casa) yèná wómàhá yíndlù
Ele não está a fazer uma barraca (casa) yèná àngàmàhí yíndlù
Ele estava construindo uma barraca (casa) yèná ìwáhàyàkà yíndlù
137
(Pretérito mais-que-perfeito)
Eu lavara a roupa: mìná ndzìwàhlàzwílè tìngúwò
Tu lavaras a roupa: wèná wùwàhlàzwílè tìngúwò
Ele/ela lavara a roupa: yèná àwàhlàzwílè tìngúwò
Nós laváramos a roupa: hìná hìwàhlàzwílè tìngúwò
Eles/elas lavaram a roupa: vòná vàwàhlàzwílè tìngúwò
Futuro
Eu lavarei a roupa: mìná ndzìtàhlàzwà tìngùwò
Eu não lavarei a roupa: mìná àndzìngàtàhlàzwà tìngùwò
Tu lavarás a roupa: wèná wùtàhlàzwà tìngúwò
Tu não lavarás a roupa: wèná àwùngàtàhlàzwà tìngúwò
Ele/ela lavará a roupa: yèná àtàhlàzwà tìngúwò
Ele/ela não lavará a roupa: yèná àngàtàhlàzwà tìngúwò
Nós lavaremos a roupa: hìná hìtàhlàzwà tìngúwò
Eles/elas lavarão a roupa: vòná vàtàhlàzwà tìngúwò
Eles/elas não lavarão a roupa: àvàngàtàhlàzwà tìngúwò
138
Alguns locativos
Na escola: cìkòlwénì
Na machamba: nsìmwínì
No corpo: mìrínì
Na terra: tìkwénì
No serviço: ntìrwénì
Na mangueira: màngénì
Na morte: kùfénì
Na boca: nòmwénì
Na pasta: cìkwàménì
No mato: kwàtínì
No choro: kùrìlénì
Nos seios: màvèlénì
No lume: ndzìlwénì
Na porta: lìvatínì
Na cama: mùbèdwínì
Na almofada: cimaseni