You are on page 1of 26
72_Willam A. Corsaro st ponte pesca nse ssi as Seedy ceseteasepe as mms Merete came re eer ey een erp pe eer moe eer parece pe Lcd © obter consentimento informado dos pais e, em Parte Iatlos cases, dis prépriascrangas, mas também deve esarpreparados para ee ler eerie em andamento. Aqueles que realizam pesquisas com ras; o : ‘i infa i ili ! ers vse ne comarca pede conte Criangas, infancia e familias no para discuseio com criangas, pais, comissdes de eciene contexto histérico e cultural com outtos pesquisadores. ruitos anos, em meu primeiro estudo emogréfico na pré-escola, H= ‘menina de 4 anos me perguntou: “Bill, vot se lembra dos ‘bons velhos tempos?” Isso aconteceu Nos primeiros anos de minha pesquisa com criangas pequenas, ¢ et ainda estava recém me acostumando com as coisas que as criangas falam e perguntam. Hoje em dia, as eriangas ainda fazem perguntas surpreendentes, mas eu me surpreendo menos ¢ sei {que nem sempre terei uma boa resposta para dar, Naquela época, eu achava ‘que tinha, e ficava chocado. Uma crianca de 4 anos esté me perguntando pelos bons velhos tempos. Bons velhos tempos de quem? Eu era muito mais: velho do que ela. Mas no cio velho, De onde ela tirou essa pergunta? De seus pais? De um comercial de televisio? Serd que seus avés falam dos bons velhos tempos? Ser que ela espera uma resposta? Tudo isso passava por minha cabeca enquanto ela estava la, sorrindo e me olhando, Ent&o eu meio que murmurei “Bem, vamos ver, os bons velhos tem- pos. Voc’ quer dizer quando eu era erianca?” “Ab, os bons velhos tempos”, ela disse. E entio se virou € foi embo- 1a, Era como se qualquer resposta que eu desse fosse suficiente, Eu néo precisava considerar a resposta tao seriamente. ‘No tocante ao estudo da crianga e da infincia, poucos psicdlogos € A socidlogos tém considerado seriamente perguntas sobre os bons velhos tempos. Nem os psiedlogos nem os socidlogos tém situaclo seus trabalhos no contexto sécio-histérico. A situacio melhora um pouco, ainda que nao: muito, quando se trata de estudos transculturais sobre as criangas € a in- ici 74 Wiliam A. Corsaro fancia. Hid excegées, mas, para a maioria dos psicdlogos e sociélogos, ¢ foco tem sido 0 desenvolvimento infantil individual nas sociedades oct. dentais a partir de cerca da metade do século XX. Uma nova sociologia da crianga tem que corrigir essa tendéncia, Precisamos situar nossa nogio teética de reproduao interpretativa nos contextos cultural e histérico. E € isso que fard esta segio. O Capitulo 4 explora o trabalho revoluciondrio de Aris acerca da historia d: A andlise inovadora e sutil de Ariés e suas audaciosas interpretacé ca de uma variedade de materiais histéricos geraram intenso interesse na hist6ria das concepgdes da infancia, bem como um tanto de critica, Vere. ‘mos tanto os trabalhos relacionados quanto as ctfticas. Consideraremos também varios exemplos da nova histéria da inflincia, que captam as pers. peetivas de criangas pequenas e jovens dos tempos medievais até o inicio do século XX. Embora essa revisio seja seletiva e nao abarque muitos es tudos histéricos recentes importantes sobre a infancia e as criangas, con. Segue por a reproducao interpretativa em um contexto hist6rico. © Capitulo § aborda a crianga em familia a partir de uma perspec- tiva global. Nele veremos como as eriancas e a inflincia sto afetadas por ‘muclancas sociais recentes na familia, e também ponderaremos a respeito. da crescente diversidade das familias tanto em sociedades industrializa. das quanto em sociedades em desenvolvimento. Embora muitos dos tra, balhos a respeito da familia néo considerem seriamente as contribuicées 6 atividades das criancas, focaremos em pesquisas que investigaram dive. famente as experiéncias de jovens em famflias ocidentais no ocidentais em sociedades em desenvolvimento. Também analisaremo: dancas sociais nas sociedades ocidentais e em desenvolvimento afetam a infancia, Focaremos nas experiéncias gerais das criangas enquanto grupo Social no intuito de descobrir como suas inféncias tém sido afetadas pelas Principais mudangas econémicas e sociais que tém ocorrido nas familias, ncia, es acer- '$ como as mu- 4 Visdes historicas da infancia e das criangas ascot evi inf i ii: nd gen at Cena osm netlemcas, euci o epea A d inti eens ofan orn tee atenolol, tates a Gu dig oetaga do au, mesa do ovem aut. Na setedade redial alova ea atengd. Philippe Arids, Centuries of Childhood” (1962, p. 128) sa cago, a argumentagio cna do rela histo de Philippe Aus sobre a amir concep de ini, cason saeco do uns, assim como os scidlogos, durante mito tempo ne- vinehaasa ae Cianas, A sbardegem de Arts & histra da info fo omplexa e poderosa. Uslizando um sentido contingente de tempo, ele ou mudangas nas ideas sobre a organizasio da familia, as crass © a5 Felagdes geracionais desde a Idade Média até o século XVI Entora Ars ea tenha afrmado que essa sequénca tena sido inevitéel, sel ° desencadcouima tora processual desmame ¢ 0 nascimento de dentes, geravam interesse ¢ Preocupagio, e Git 0s ais revelavam ansiedade e sofrimento com a doenca out morte de Fee coe (1983, p. 268). Reconhecendo alguns relatos de punigdes {isicas em seus materia, Pollock, ainda assim, concluiu que os didrine as noticias de jomais sobre abuso sugerem que a crueldade com criancas, io era comum e que “uma grande parte da populagio a maioria des pais, Provavielmente ~ no ‘espancava’ seus filhos” (p. 268). Por ultimo, Pollock descobriu que a relacio entre pais e filhos no era formal e unilaceral ae congas eram préximas de seus pais e eram influenciadas por eles, assim Como os pais eram influenciados por suas criancas também. A partir dessas i | / : | I | i ~ exagero. Por exemplo, ao responder a ales das, Pollock finaliza seu lvro com 0 es: “em vex de tentarexplicar 9 supostas is ils, os historiadores fariam melhor uidedo parental apresenta-se como uma ente A mudanca” (p. 272) Infelizmence, : dela. Como um critico argumenta, 0 Ti deixa a tarefa da reconstrugao para Fe de outras informacées relaciona: | seguinte desafio aos historiador [-mudangas nas relagdes entre Pa ‘em ponderar sobre por que © varidvelparicularmente resistent® [Pollock nunea desenvolvew ess dei. | "derruba os padrées da literatyre, ma tea fo ees cpa para. ea de comida oe Sala ‘0s aspectos qualitativos do cuidado, dade pret amor a siinizagi to essen para. ae asorna Na consstente andlise de seu material, ela in a, mas eaaae nue completamente, a nogio de que o cuidado e a soa ina a oes nd requistos para sobrevivenca clara, quesemresert carrie cons po ret do aie cletvas dos eds Cs ‘Sancs.E inconsisténcia nas evidéncias. : Fs eo Hinds prietstment sles pein cas aromas podem, seletivament, tet omiido informagies cue teres esc md impressdo, e€ possvel que algum material t sido Pde ge, Agus pesquisadores criticaram Pollock por um. no beoreinrbpeatnyee -gacio de Pollock de que “os Jhor por seus fillhos num contexto a i ra-atacout * ral” (1983, p. 64), Horn (citado: be Hendricks eae Sats : 0 te disciplinados... eo cosa an ei eens seontecend no contest de su sopra dor saber que ra sua ra" (1994, p. 46). lock foi muito bem recebido, por st # i ssi trabalho de Pollock ee ee Seuahada técnica. A andlise densa dos Cael ahs Foon foco dos sentimentos dos adultos que oad ne Hemmer «propa 0 ree pas os exsist cae : ta strut rividac tentaram reco) juentes sobre a infancia, que t a praticas culturais das proprias criancas. sempre tentaram fazer seu mel Sees aunenae jova historia da infénci Tete “ como a nova sociologia da inféncia qu Bes coletivas das os nos Captus 12, oalizedietamente a5 aches ISS Seine com ey ult com seus pats Ao fener so psa 2 abordr im proble ‘nos regis ri rngamente ignorado nos ‘um problema longam ‘Anova historia da infancia, .82_wiliam A. Corsaro nos relatos de Ariés, deMause e Pollock, discutidos anteriomente, 0 foco Permanece sobre as concepgdes cos adultos sobre a infancia, seus sentimentos em relagéo as criangas e seus métodos de criagio. Deixa-se de fora a consideracao das “criangas e adolescentes como atores influentes nas sociedades passadas” (West ¢ Petrick, 1992, p. 1). E disso que se trata aynova hse dif (er Fass, 2008; Lee Schmit, 1977; Wes Apresento, a seguir, consideragdes a respeito de ento, 5 arte do traba dos novos historiadores da inffncia. i ae Growing Up in Medieval London de Barbara Hanawalt __ Com base em dados obtidos em registros de tribunais, istas dos investigadores da mortalidade infantil, fontes lterérias ¢ livtos de aconse~ Ihamento, Barbara Hanawale coletou informagées sobre a vida das crianeas ¢ jovens londrinos nos séculos XIV e X\ Hanawalt embasa sia discussao sobre direites, tracamento e atividades cotidianas ds criancas em cuidadosa explo. ragio de evidéncies. Ela também dramatiza esses fatos com um estilo aude cioso de narrative. Ao final de cada capitulo de seu limo Growing Up in Medieval London (1993), constr6thistrias de eriangas reais que sintetizam os prineipais pontos do capitulo. Seguem alguns de seus principais temas 0 tratamento das criangas ¢ sua qualidade de vida. Hanawalt reco- nhece que vida na Londres dos séeulos XIV e XV era diicionrs oc aren, sas e adolescemtes. A taxa de mortalidade de bebas e eriangas pequenas era alta, ¢ havia 0 perigo de doencas e acidentes. Destaca, contudo, que ‘orincar, mais do que o trabalho sério, constituia, ainda, grande parte da vida das criangas” (1993, p. 66). Também ela discorda da nogio de que ea prética comm negligenciar ou abusar das criangas pequenas, de que existia uma frieza comum a respeito da morte de eriangas, ou de due nao havia uma concepgao de infancia posterior ao bebé. Ela destaca, em prt meiro lugar, que nenhum registro juridico registra abandono ott infanticidio generalizado e que os registros do tribunal eclesidstco londrino revelam poueo mais de um caso de infanticidio por ano (p. 44). Em segundo, re. conhece ser mais seguro presumir que as criangas passassem boa parte de seu primeiro ano de vide contidas por eueiros nos bergos, mas aponta que dado o ambiente frio e timido, envolvé-las com panos prevenia o frio ¢ a impedia de se arrastarem pela sujeira de Londres assim como que salssem Para perigosas ruas. fm terceiro, ela produz numerosos exemplos para 2 2 ; i 2 jfustrar que criangas pequenas eram vistas claramente como sendo dife- rentes dos adultos ¢ exigiam tratamento diferenciado. Em um caso de ‘tribunal, por exemplo, uma mae reclamou que um homem havia, injus tamente, transformado sua filha de 7 anos em uma serva, com um contrato de sete anos. O tribunal concordou ¢ devolveu a crianga para sua mae Spor um ato de caridade pela pouca idade da crianga” (p. 66). Hanawalt aponta para um segundo caso, no qual vizinhos resgataram uma erianca espancada por adultos. Um garoto carregava agua perto de uma Loja {quando foi interpelado por um cozinheiro e um atendente. Os vizinhos intervieram, mas 0 cozinheiro e o atendente disseram que podiam hater ‘no garoto se quisessem. Fo iniciada uma briga, na qual os vizinhos defen- diam o garoto (a quem no conheciam) e batiam nos dois adultos. Mais, tarde, 05 brigoes os processaram, mas percleram 0 caso, Os vizinhos € 0 tribunal entenderam que o cozinheiro ¢ o atendente mereceram a surra que receberam por maltratar o garoto (p. 67). Enfim, Hanawalt apresenta um grande mimero de dados sobre leis ¢ processos relativos a0 cuidado de 6rfaos. As leis e 05 tribunais monitoravam, ‘as fortunas dos drffis, cuidavam de seus bens e os protegiam de qualquer ‘abuso ou maus-tratos por parte dos pais adotivos, Na verdade, ela argumenta ‘que “as leis de Londres garantiam aos érfos medievais protegao maior do que a que nossos tribunais oferecem as criangas de hoje” (p. 89). As brincadeiras das criangas pequenas e jovens: Hanawalt sustenta que ‘osadultos londrinos sabiam que as criangas deveriam brincar eefetivamente bbrincavam. As eriancas “brincavam de bola e de pege-pega, de corrida, de jogos de mira ¢ imitavam ceriménias de adultos, como as recepgoes reais, reunides e casamentos” (1993, p. 78). Infelizmente, a base de parte de sua argumentacéo a respeito das brincadeiras infantis vem de relatos de lesbes e mortes provenientes dos tribunais e de seus investigadores. Ela relata que um jovem garoto morreu ao escalar uma janela para recuperar a bola com a qual brincava que havia cafdo em uma canaleta. Em outro caso, um garoto de 7 anos estava brincando com outros dois meninos sobre pedacos de ‘madeira, quando um pedaco caiu sobre ele e quebrou sua perna direita. Recorrendo ishistérias que construia, Hanawaltapresenta um movimentado terceiro caso. Na criagio, Hanawalt dramatiza a historia de Richard Le ‘Mazon, de 8 anos. Richard estava no caminho de volta da escola para casa, para sua refeiggo de meio dia, quando encontrou seus amigos e parou para participar de sua brincadeira favorita e audaciosa — boiar, segurando-se com apenas uma das méos numa barra que se projetava ao lado da London 84_Wiliam A. Corsaro Bridge. Richard sentia-se corajoso quando chegow a sua ve quando cle pulou para alcancar o ferro, sentiu sua mao escapar. Conforme eta levado pelo tio, rezou para que So Nicolau o salvasse, prometendo que obedeceria sempre aos seus pais. Sua sacola com livros o puxou para baixo, 0 Tamisa acolheu outra vitima” (p. 82). : A participagao das criangas nas celebrages piblicas e no folclore. Além, dos jogos que as criancas organizavam entre si, o ambiente urbano de ‘muitas cidades, incluindo Londres, programava alguns destilese cetiménias «ive envotviam eriangas e que certamente as divertiam. Algumas celebragées ram reservadas para criangas. A mais notivel era a dos meninos-bispos ue coincidia com o dia de Sao Nicolau. Fsse santo era o favorito dos jovens estudantes em razio dle uma lenda sobre dois jovens meninos a camino de estudar em Atenas, Urn dos pais dos garotos 0 instruiu a parar e visites ¢ Bispo Nicolau na cidade de Mira. Quando chegaram a Mira, decidiram pas. sar @ noite em uma hospedaria e visitar 0 bispo no outro dia. O estalajadei. ro, percebendo que os meninos eram ricos, os matou e cortou em pedacos ‘80 pequenos quanto os de um picadinho de porco. O Bispo Nicolau tove uma visio do assassinato e correu até a hospedatia, Ele repreendeu o esta. lajadeiro e pediu 0 perdio divino. O desejo de Nicolau foi atendido e ce edagos dos meninos eiergiram da banheira com saimoura onde estavamn ¢ foram reunides. © bispo entio mandou os garotos para Atenas, em m a grande alegria (Hanawalt, 1993, p. 79). : Na celebragéo do menino-bispo, relata Hanawalt, os bispos eran ais desmembrados do que os meninos. O melhor aluno de cada escols era cleito para imitar o bispo e o restante dos garotos formava seu clere Eles tomavam a igreja, nos servicos e serm@es, expulsando o verdadeiro bispo. Conforme destaca Hanawalt: “Era um daqueles eventos de inverseo de papéis. Os garotes, cuja vida parecia apenas disciplina, sentiam o gosto do poder de disciplinar” (1993, p. 79). Os garotos andavam com esti, em capas cerimoniais, com anéis e cruzes, e sett clero parava nas casas de aréquia para receber oferendas, refeigdes gratuitas e presentes. Nao ¢ surpreendente que Richard Le Mazon, antes de se afogar, estivesse ansioso pelo evento e aspirasse ser menino-bispo. “Ngo RT Ne de Mi, men cli ccelebragdes. Sdo Nicolau era considerado patrono das criangas, ee z no jogo, “tras = Sociologia da inféncia_ 8S ‘Aimportéincia do estudo de Hanawat. 0 trabalho histérico de Hanawalt sobre as ctiancas na Londres medieval é importante para a nova sociologia dia infancia por diversos motivos. Primeiro, ela desafia os trabalhos ante- sores, que afirmam que as criangas eram tratadas rigidamente no periodo medieval e que eram forcadas a entrar na sociedade adulta ainda muito jovens, com poucas oportunidades para desfrutarem a infancia. Segundo, gs descrigées detalhadas de Hanawalt, sobre as brincadeiras, jogos e en- - yolvimento das criancas em rituais ¢ celebragdes piiblicas, demonstram ‘que as criangas criavam e participavam de culturas de pares jé no século IV E especialmente interessante, a esse respeito, a fascinacao das eriancas ‘com Sio Nicolau e sua dbvia diversio com a celebracéo dos meninos bispos. Em atividades como essa, as criangas obtinham o controle sobre as, autoridades adultas e celebravam sua autonomia de forma piiblica. Como yeremos no Capitulo 5 até 0 8, 0 desafio das eriangas em relacio & auto- ridade adulta também é uma caracteristica essencial das culturas de pares infantis nas sociedades contempordneas. Acima de tudo, esses aspectos do estudo de Hanawalt demonstram o valor de levar as criangas a sério, ‘como agentes ativos de suas culturas. ‘Criangas escravas no periodo anterior @ Guerra Civil norte-americana Recentemente, diversas relatos tentaram reconstruir as vidas das, criangas escravas nos Estados Unis, incluindo um artigo de Lester Alston. (21992), entitulado “Children as Chaitel”, e outro de David Wiggins (1985), “The Play of Slave Children in the Plantation Communities of Old South, 1820-1860". Esses autores basearam-se em narrativas, testemunhos, 2uto- biografias e dirios. A maior parte dos dados vem do Federal Writer's Pro- ject de 1936-1938, que compilou uma colecao de narrativas de escravos. Conforme Wiggins, de qualquer forma, existem alguns problemas inerentes as narrativas do FWP. Como dois tercos dos ex-escravos entrevistados ti- ‘ham 80 anos ou mais, hé uma preocupacéo ébvia com as falhas de me- méria, Um segundo problema est relacionado com “a questo de a lon- gevidade ser ou nfo 0 resultado de um bom tratamento, raro em compa- racdo com 0 tratamento tipico aos esctavos” (1985, p. 174). E possivel também que, ao recuperar as memsrias de infancia (provavelmente a me- Ihor das épocas para os escravos), possa haver uma tendéncia a descrevé- -Iade modo mais favordvel (especialmente quando comparadas as memé- rias da vida adulta). Possivelmente preconceituosos, os métodos e proce- dimentos dos entrevistadores, predominaniemente sulistas brancos, tam- 96 waiamA corso bem podem ter influencindo. Wiggins argumenta, contudo, que as nar. rativas representam as vores dos préprios escravos mais do que as espe- culagdes dos comentadores. O que se segue ¢ uma visio da natureza da infaincia na escravidio. baseada nesses registros hist6ricos. The Nature of Childhood in Slavery. Coma destaca Alston, 2 canes rassam em cominidades esas, o diferentes das comuni dades fans desis scenes gunn das Comuniades se os bropecis branes. Sue enarénas de infin ta melded sla Suber esata aftoamestan que napoca da Glew Cl, saceare ses eaybes mai vel e pov par pa else avin sel ests, esa ters, em famine commas esas (982 ae) ‘Um senso de comunidade foi fundamental tanto pata os escravos adultos quanto para suas eriancas. Wiggins aponta que os membros dos bairros escravos viam a si mesmos “como um grupo familiar” com uma “necessidade comum de permanecer unido sem importar-se sob quais circunstncias” (1985, p. 174). As maes escravas trabalhavam nos campos até pouco tempo antes de seus bebés nascerem. Elas recebiam um “periodo de descanso”, de Poucos dias a algumas semanas, para ficarem com seus recém-nascidos antes de retornarem ao trabalho regular, do nascer ao pr do sol. Depois, desse periodo, o cuidado com os bebés era atribuido as mulheres escravas idosas, sendo que as mées retornavam dos campos por um breve periodo didrio, apenas, para cuidar de seus filhos. Quando as criangas ultra- assavam a fase de bebé (por volta dos 2.anos), ficavam sob os cuidados dos irmaos e de outras ctiangas da comunidade eserava. Esse tipo de criagao comunal das criancas tinha continuidade pelo costume de re- crutar criangas de 8 a 12 anos para supervisionarem as criangas mais novas (Alston, 1992, p. 211). Wiggins relata padrées similares de criagao comunal de criancas os relaciona com requisitos de trabalho para criangas escravas. Delas, nio se esperava que trebalhassem 0 dia todo nos campos antes dos 13 anos. Alston argumenta que esse retardamento acontecia por razées econdmicas e ndo humanitarias. Fle indica que “a realidade (econémica) era a de que muitos proprietatios de escravos acreditavam que um ‘amadurecimento mais entoduranteainfancia garantiauma produtividade méxima mais tarde, que trabalhar durante a inféncia enfraquecia a satide ; : / Sociologia da infincia_ 87 fisica na fase adulta, e que uma adaptacao lenta reduzia.o trauma de ir para 0s campos e encarar os chicotes” (Alston, 1992, p. 360; veja também Genovese, 1974, p. 504-505). Durante esse periodo de transicao, das criangas escravas se esperava que realizassem tarefas, como carregar ‘gua, pegar lenha, cuidar de jardins,limpé:-los e alimentar 0 gado. Cuidar das criangas mais novas era visto como parte das obrigagdes laborais. Um aspecto especialmente interessante desse padrio de eriagio comunal de criancas, primeiramente por irmaos mais velhos e por outras criangas da comunidade escrava, é sua similaridade impressionante com as praticis de criacdo de criancas em muitas regides da Africa contempordnea (ver Harkness e Super, 1992)

You might also like