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INTERACOES MEDICAMENTOSAS: FUNDAMENTOS PARA A PRATICA CLINICA DA ENFERMAGEM DRUGS INTERACTIONS: FUNDAMENTAL ASPECTS FOR CLINICAL PRACTICE NURSING Silvia Regina Secoli* SECOLI, SR. Interagdes medicamentosas: fundamentos para a pratica clinica da enfermagem. Rev Esc Enf USP, v.35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001 RESUMO © fenémeno das interagdes medicamentosas constitui na atualidade um dos temas mais importantes da farmacologia, para a pratica clinica dos profissionais da satide, O uso concomitante de varios medicamentos, enquanto estratégia terapéutica, e 0 crescente niimero destes agentes no mercado sdo alguns dos fatores que contribuem para ampliar os efeitos benéficos da terapia, mas que também possibilitam a interferéncia miitua de acées farmacolégicas podendo resultar em alteragées dos efeitos desejados. Este artigo, de revisdo, tem por objetivos rever os prinetpios farmacot6gicos relacionados aos mecanismos das interagdes medicamentosas; deserever as classes dos medicamentos interativos, os grupos de pacientes expostos ao risco e sugerir medidas praticas para a equipe de enfermagem, no intuito de prevenir a ocorréncia de reagses adversas decorrentes de interacées fortuitas. PALAVRAS-CHAVE: Interacdes de medicamentos. Administracao de medicamentos. Enfermagem. ABSTRACT Nowadays drugs interactions constitute one the most important subjects of pharmacological for clinical practive of health professionals. The concomitant use of many drugs as therapeutic strategy and the growing number of agents available contribute to enlarge the benefical effects of therapy. Besides, these factors can also permit the mutual interference of pharmacological actions that result in alteractions of therapeutics effects. The aim of this article is to review the principles pharmacological related to the mechanisms of drugs interactions, to describe the types of interactive drugs; the groups of risk patients and to suggest specific nursing interventions aiming the prevention of occurrence of adverse reactions from accidental interactions. KEYWORDS: Drugs interactions. Administration of medications, Nursing. INTRODUCAO de varios € novos medicamentos ndo garante maior beneficio ao paciente, pois junto cam as vantagens das advento de novos medicamentos combinado a pratica clinica da polifarmacia tem ampliado a capacidade dos profissionais em atender as demandas dos pacientes nos processos_mérbidos, seja no Ambito hospitalar ou domiciliario, No mercado nacional existem atualmente cerca de 1.500 farmacos com aproximadamente 5.000 nomes comerciais, apresentados sob cerca de 20.000 formas farmacéuticas ¢ cmbalagens diferentes*. Neste universe, ao contrario do que se pensa, a utilizagio possibilidades terapéuticas surge 0 risco dos efeitos indesejados e das interagées medicamentosas. A prescrigdo simultanea de varios medicamentos € a subseqitente administragao ¢ uma pratica comumente utilizada em esquemas terapéuticos classicos, com a finalidade de melhorar a eficacia dos medicamentos, reduzir a toxicidade, ou tratar doencas co-existentes 16,17,27,29 Tal estratégia denominada \ Enfermeira. Prof Assistente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirargica da Escola de Enfermagem da * Universidade de Sao Paulo. Mestre em Farmacologia. E-mail secolisi@usp.br Rev.ise.Brf. USP, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001 28 polifarmacia merece atencdo especial, pois medicamentos so substancias quimicas que podem interagir entre si, com nutrientes ou agentes quimicos ambientais ¢ desencadear respostas indesejadas ou jatrogénicas 1738.20.0.2029 Neste contexto 6 fundamental a reflexdo dos enfermeiros a respeito da execugéo da prescricao médica que é, invariavelmente, cumprida em hordrios pré-estabelecidos em quase todos os lugares, de acordo com MENGARDO e OGUISSO '5 "como um sistema de distribuigao funcional de tarefas’ para a equipe de enfermagem, ndo considerando as caracteristicas dos medicamentos ¢ principalmente as possibilidades de interacdes medicamentosas, ‘A rotina da medicagao ocupa, desta forma, posigao estratégica na precipitacao de interagées. Ironicamente, a maioria da literatura relativa ao assunto € direcionada aos médicos e farmacéuticos, cujo foco principal de discussao é o medicamento, pouco ou raramente discorrendo sobre 0 processo da administragao do medicamento e a importancia da cequipe de enfermagem. Este artigo revé os principios farmacolégicos relacionados aos mecanismos das _interagées medicamentosas; descreve as classes dos medicamentos interativos, os pacientes de risco sugere medidas praticas para a administracdo de medicamentos. A autora acredita que conhecendo estes elementos, os enfermeiros possam examinar seu trabalho cotidiano e interferir na rotina da medicacao, no intuito de prevenir a ocorréncia de reagdes adversas decorrentes de interagdes medicamentosas fortuitas. INTERACOES MEDICAMENTOSAS 1 DEFINIGAO Interagdes medicamentosas so tipos especiais de respostas farmacolégicas, em que os efeitos de wm ou mais medicamentos sao alterados pela administragéo simulténea ou anterior de outros, ou através da administraao concorrente com alimentos As respostas decorrentes da interagao podem acarretar potencializacao do feito terapeutico, reducao da eficdcia, aparecimento de reagdes adversas com distintos graus de gravidade ou ainda, ndo causar nenhuma modificacdo no efeito desejado do medicamento!”25, Portanto, a interagéo entre medicaments pode ser util (benéfica), causar respostas desfavordveis nao previstas no regime terapéutico {adversa), ou apresentar pequeno significado clinico. ‘As interagdes benéficas so abordagens terapéuticas fundamentais em diversas patologias. No tratamento da hipertensdo arterial severa a combinacéo de medicamentos com mecanismos de ago diferentes promove a reducdo mais eficiente da pressdo sanguineal!!® ; na quimioterapia antineoplasica a 29 associacdéo de antagonistas serotoninérgicos € dopaminérgicos esta recomendada para minimizar o quadro de ndusea € vomito % na sedacdo a associacao de hipnticos, analgésicose bloqueadores neuromusculares é necessaria para manutencao do estado anestésico completo” Em contrapartida as interagdes adversas podem acentuar os efeitos indesejados dos medicamentos, ‘acarretar ineficacia terapéutica e colocar em risco a vida, do paciente 275172. A associagao de aminoglicosideos e Dloqueadores neuromusculares pode desencadear paralisia respiratéria 2; a co-administracao de alcool ¢ barbituricos pode conduzir o paciente ao estado de coma "7, Estas interagdes que ocorrem, normalmente, de modo ocasional ou fortuito tendem a aumentar 0 ‘tempo de hospitalizacao, elevar 0 custo do tratamento € causar maior morbidade ao individuo. A interaco medicamentosa é, desta forma, uma das varidveis que afeta o resultado terapéutico quanto maior o numero de medicamentos que 0 paciente recebe, maior a possibilidade de ocorréncia. A freqiéncia das’ interagdes clinicamente importantes (benéficas ou adversas) é desconhecida. Estima-se que para usuarios de 2 & 3 medicamentos 0 percentual seja de 3 a 5% 2}, nos que utilizam de 10 a 20 agentes eleve- se para 20% 7,16 Na pratica a questo das __interagdes medicamentosas € complexa, pois além das inimeras possibilidades teéricas de interferéncia entre os medicamentos, fatores relacionados ao individu (idade, constituigao genética, estado fisio-patoldgico, tipo de alimentagao) ¢ a administracao do medicamento (dose, via, intervalo ¢ seqiténcia da administracdo) influenciam na resposta do ‘iment 713161723 2 MECANISMOS DAS INTERACOES MEDICAMENTOSAS Os medicamentos podem interagir durante 0 preparo; no momento da absorgao, distribuicao, metabolizacdo, eliminagéo ou na ligagao ao receptor farmacolégico. Desta forma, os mecanismos envolvidos no processo interativo’ sao classificados de acordo com o tipo predominante de fase farmacolégica em que ocorrem, farmacéutica, farmacocinética e farmacodinamica 16171820262.29 2.1 Interagao Farmacéutica (ou Incompatibilidade) Sao interagées do tipo fisico-quimicas que ocorrem quando dois ou mais medicamentos sao administrados na mesma solucdo ou misturados no mesmo recipiente e 0 produto obtido é capaz de inviabilizar a terapéutica clinica. Portanto, acontecem fora do organismo, durante 0 preparo ¢ administracao dos medicamentos|parenterais {incompatibilidade entre os agentes misturados ou com o veiculo adicionado) e freqiientemente resultam em precipitagéo ou turvagéo da solugdo; mudanca de coloragao do medicamento ou inativacao do principio ativo 79.17.2627 Rev.Bse.Bnf. USP, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001, Habitos tradicionais da enfermagem como administrago de varios medicamentos nos mesmos horarios; associacdo de substancias na mesma solugdo ou recipiente; adaplacdo de dispositivos com multiplas vias (extensées em Y, "tomeirinhas') para infusao de varios agentes em catéteres (periférico ou central) de via nica; exposi¢2o da solucdo de nitroprussiato a Iuminosidade sd0 alguns dos fatores que contribuem para a corréncia de _incompatibilidades'.""2 Atualmente sabe-se que medicamentos como a nitroglicerina, a amiodarona, a nimodipina podem aderit a parede do envase (frasco) de cloridrato de polivinila (PVC) e reduzir a biodisponibilidade do principio ativo 8, 24. Assim, neste tipo particular de interacdo a equipe de enfermagem possui com certeza um papel importante no sentido de prevenir essas situagdes e evitar ou minimizar as ocorréncias indesejaveis durante o procedimento. No cotidiano os medicamentos que requerem infuséo continua s4o 0s mais suscetiveis as interacées farmacéuticas, especialmente na vigéncia da administragdo concomitante com outros agentes em cateteres venosos de via tnica *132* 0 quadro 1 apresenta como exemplo da interagéo farmacéutica alguns medicamentos de infusao venosa, [incompativel Medicamento de com linfusdo Continua Dobutamina / [Bicarbonato de Sédio Dobutamina [Diazepan / Furosemida Dopamina mpicilina / (Heparina ‘minoglicosideos / IDiazepan [Fenitoina / Furosemida ‘Sulfato de Morfina [Verapamil [Anfotericina B/ mpicilina, Quadro 1- Interacao farmacéutica entre medica- mentos de infustio venosa 2.2 Interagao Farmacocinética As interapées deste tipo interferem no perfil farmacocinético do medicamento, podendo afetar 0 padrao de absorcéo, distribuicdo, metabolizacdo ou. excregao. Sao interacées dificeis de prever, porque ocorrem com medicamentos de principios ativos nao relacionados. Modificam a magnitude e duracdo do feito, mas a resposta final do medicamento é preservada?#.19.15:7.18202529, 2.2.1 InteragSes que modificam a absoreio Absoredo € 0 processo de transferéncia do medicamento do local de administrago para a corrente sanguinea. Fatores como o fluxo sangiiineo do trato gastrointestinal (TGI), pH, motilidade, dieta e presenca de outras substéncias € 0 tipo de formulagao farmacéutica interferem nesse evento?®172* Medicamentos com agées anticolinérgicas como a atropina e seus derivados, os antidepressivos Rev.Bse-Bnf. USP, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001 triciclicos, os analgésicos opidides que inibem a motilidade do TGI tendem a reduzir a absorcdo dos agentes co-administrados. O retardo da absorcao de medicamentos pode representar uma situagao clinica indesejével, especialmente na vigéncia de sintomas agudos como por exemplo, a dor. Por outro lado, os Taxativos, os antagonistas dopaminérgicos como a metoclopramida, a domperidona ¢ 0 haloperidol tendem a aumentar a absorcao de outros medicamentos, porque aceleram o transito do TG1 A administracdo de antidcidos com outros medicamentos é bastante controversa. Estes agentes alteram o pH gastrico e podem aumentar ou diminuir a absorcéo dependendo do tipo do antiacido (aluminio - Al, magnésio - Mg, calcio - Ca ou hidréxido) © do medicamento associado 74141524 OQ quadro 2 exemplifica algumas associages entre antidcidos e medicaments co-administrados e as respectivos efeitos. intidcido IMedicamento feito Antiacidos em Acido nalidixicoy __absorg. eral \enolol/ fio [Ampicilina/ iprofloxacina/ [cetoconazol/ Fenitoina, l/ INorfloxacina/ fretraciclinas |Fidroxido: ATou |cimetidina / jabsore |Hidroxido: ATou |Clorpromazinal __jabsorg Ime Digoxin fio laf Isoniazid [Antiacides nao & [Anfetaminal jabsore pase Cloroquin [ao ic Al / [Dicumarol/ IL-Dopa/ Teofilina Quadro 2 - Efeitos na absorcao dos medicamentos co- administrados com antidcidos. 2.2.2 Interagées que modificam a distribuicio Distribuigdo € 0 evento de deslocamento do medicamento da circulagdo sistémica para os tecidos. sta fase depende do Volume de distribuicao aparente (V2) © da fracao de ligacdo dos medicamentos as proteinas plasmaticas. Medicamentos que possuem grande afinidade pelas proteinas plasmaticas quando associados com outros, podem. agir como deslocadores € aumentar a concentracéo sérica fivre) do segundo, acarretando manifestagées clinicas nem sempre benéficas. Por exemplo, a aspirina e a fenilbutazona 30 quando administradas de modo concomitante com o warfarin, elevam a concentracao sérica do anticoagulante e o potencial hemorragico 129517182 2.2.3 Interagdes que modificam a metabolizagio No processo de metabolizacdo os medicamentos $80 transformados pelas enzimas microssomais hepaticas em fracdes menores, hidrossoliveis. As interagdes que ocorrem nesta fase so precipitadas por medicamentos com capacidade de inibirem ou induzirem o sistema enzimatico. A inibigdo enzimatica de sistemas como, por exemplo, do citocromo P450, das colinesterases ¢ monoaminoxidases (MAO), acarreta lentificagdo da diotransformagéio do proprio medicamento e de outros que tenham sido administrados simultaneamente. A conseqiiéncia desse atraso ¢ um maior tempo de acéo farmacolégica do (s) agente(s), situacdo as vezes indesejada, especialmente em doentes com distiirbio hepatico ou renal 5,9,10,13,29 . O quadro 3 aponta efeitos farmacolégicos (possiveis) de interacdes adversas entre inibidores enzimaticos e alguns medicamentos sani7 nibidor (Medicamento [Bjelto lenzimatico lopurinol __Dicumarol IRisco de (Citostaticos/ _toxicidade dos 2 ‘Teofilin agente: metidina Propranolol IRisco de (Morfina IRisco de Ipradicardia inibidor da [Antidepressivos _[Hiperpirexia, mono tricielicos aquicardia, lHiperpirexia, convulsdes graves} le morte |viaparenteral) Quadro 3 - Hieitos das interacdes entre inibidores enzimaticos e medicamentos. A classe dos indutores enzimaticos ¢ representada por aproximadamente 200 substancias, incluindo inseticidas halogenados e clorados, alcatrées da fumaca do cigarro, medicamentos, ‘todos com capacidade de aumentarem a metabolizacao de outros agentes ¢ reduzirem os niveis plasmaticos. Os indutores mais utilizados na terapéutica s40 os barbitiricos (fenobarbital), os _corticosterdides (cortisona, prednisona), a carbamazepina, a fenitoina, a rifampicina, entre outros. Algumas associacées com indutores podem gerar sérios problemas, por exemplo, 0 risco. de gravidez em mulheres que recebem simultaneamente a fenitoina ¢ contraceptivo oralt9.10:13.5,1720 A inducdo @ um processo lento (7-10 dias), dai a importancia dos reajustes de dosagens na vigencia da administragao cronica dos agentes, para garantir a eficdcia terapautica, 2.2.4 Interagdes que modificam a excregéo ‘A maioria dos medicamentos é eliminada quase que totalmente pelos rins. Desta forma, a taxa de excregao de varios agentes pode ser modificada através de interacdes a0 longo do néfron. As alteragées do pH urinario interferem no grau de ionizacdo de bases e Acidos fracos afetando as respostas farmacologicas, por exemple, 0 bicarbonato de sédio é utilizado’ para aumentar a excrecdo de acidos fracos em casos de intoxicacdo por barbitiricos A competicao de medicamentos no tabulo proximal pela secrecao tubular é outro mecanismo utilizado, como estratégia, farmacolgica, para’ prolongar 0 tempo de acao dos medicamentos, isto acontece com a probenecida e a penicilina, quando a primeira inibe a secregdo da segunda e eleva’o tempo de agao do antibistico «720 2.3 Interagdo Farmacodinamica ‘A interagdo farmacodinamica causa modificagao do efeito bioquimico ou fisiolégico do medicamento. Geralmente ocorre no local de acao dos medicamentos (receptores farmacolégicos) ou através de mecanismos ioguimicos especifices, sendo capaz de causar efeitos semelhantes (sinergismo) ou opostos (antagarang 9" 2.3.1 Sinergismo Sinergismo € um tipo de resposta farmacolégica obtida a partir da associagdo de dois ou mais medicamentos, caja resultante € maior do que simples soma dos efeitos isolados de cada um deles. O sinergismo pode ocorrer com medicamentos que possuem os mesmos mecanismos de aco (aditivo}; que agem por diferentes modos (somacao) ou com aqueles, que atuam em diferentes receptores farmacol6gicos (potencializacéo). Das associagées sinérgicas podem surgir efeitos terapéuticos ou téxicos "6.72% Estes liltimos s40 freqentes nas combinagées de medicamentos com toxicidade nos mesmos orgéos, por exemplo, aminoglicosideo e vancomicina (nefroto- xicidade) ou corticosteréides ¢ antiinfla-matérios nao- esteroidais (ulceragao gastrica) 7172" O quadro 4 apresenta excmplos de sincrgismo ¢ os respectivos efeitos, nas associacées classicas (analgésicos ¢ adjuvantes) utilizadas no tratamento antialgico, com 0 objetivo de maximizar a eficécia terapéutica 2.3.2 Antagonismo No antagonismo a resposta farmacolégica de um. medicamento ¢ suprimida ou reduzida na presenga de outro, muitas vezes pela campeticéo destes pelo mesmo sitio receptor. Sdo tipos de interagdes que podem gerar respostas benélicas, por exemplo, no caso da utilizagdo do Rev Bse.Bnf. USP, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001 naloxone (antagonista opiside) nos quadros de depressao respiratéria causados pela morfina, ou acarretar ineficdcia do tratamento, por exemplo, no caso da associagao indevida entre o propranolol (bloqueador de receptores b) ¢ do salbutamol (agonistas de receptores b) 161720 Associaca [Mecanismo de Efeito ° acao Aditive | a- Acido Acetil fre b - Bloqueio Salicilico enzimatico x ia ciclooxigenase b- Diclofenaco (COX) s6dico ‘Somatério | & Meperidina [e- Bloqueio de x eceptores, be pidides Cetoproffp- Bloqueio eno fenzimatico da ciclooxigenase (COX) Potencializaga] _c- Codeina _- Bloqueio de ° d- Imipramina* feceptores pidides fi- Ativacao do sistemal lescendente lserotoninérgico, inibicdo fia legradaco de fencefalinas e oqueio de ecaptacdo das lencefalinas Quadro 4 - Associacdo de medicamentos com aces analgésicas, os tipos de efeitos sinérgicos © os respectivos mecanismos de acdo. 3 GRUPOS DE RISCO Na pratica todos os individuos submetidos a terapia farmacolégica com dois ou mais medicamentos esto expostos aos efeitos das interacées adversas, mas determinados grupos so certamente mais suscetiveis, por exemplo, os idosos, os portadores de doencas crénicas, 0s usuarios de’ dispositivos para infusdo de medicamentos intravenosos ou de sonda enteral. Nos idosos a degeneracdo dos sistemas organicos, 0 excesso de medicamentos prescritos, © tempo de tratamento, a pratica da automedicacao c os inumeros disturbios de 6rgaos ou sistemas, responsaveis pela farmacocinética dos medicamentos so alguns dos itens que ampliam a possibilidade de interagées adversas 1220.22 Os portadores de doengas crénicas como cardiopatias, hepatopatias, _nefropatias; com afeccées que acometem o sistema imunolégico tais como cancer, sindrome da imunodeficiéncia adquirida, Tapus, artrite reumatéide ou que sdo submetidos a terapia com agentes imunossupressores (corticosterdides, quimioterapicos _antineoplasicos, modificadores de respostas biolégicas, entre outros) Rev.fise.Enf. USP, v. 35, n. 1, p. 28-34, mar. 200 io expostos a protocolos de tratamento com miiltiplos medicamentos e por tempo prolongado, fatores importantes, que quando combinados podem precipitar reacdes indesejaveis e agravar o quadro fisiopatolégico ja instalado. Os usuarios de cateteres venosos centrais € os de sonda para dieta enteral sdo freqientemente portadores de disturbios do sistema digestério capazes de afetar o movimento e aproveitamento das moléculas dos medicamentos no organismo. Nos pacientes de unidades de terapia intensiva a infusdo continua de medicamentos vasoativos € a administragao intermitente de outros (antibioticos, analgésicos, ansiolitices, antieméticos) so comuns ¢ necessarias, em contrapartida, so situagses potenciais para ocorréncia de interacdes adversas, especialmente quando cuidados em relacdo & compatibilidade entre os medicamentos e os intervalos de administracdo entre eles nao sdo considerados 4,25,18. ‘A macerago de comprimidos ou drageas, como forma de administrago dos medicamentos pela’ sonda enteral pode facilitar a associacao de agentes ndo compativeis entre si, causando reagées indesejadas. Além disto, os nutrientes da dieta podem interferir na acao dos medicamentos e acarretar danos no paciente, por exemplo, crise hipertensiva observada na_administragdo concorrente de derivados do leite e procarbazina ’. 4 CLASSES DE MEDICAMENTOS POTEN- CIALMENTE INTERATIVOS Na pratica as decisées terapéuticas raramente enxergam as interagdes_medicamentosas, particu larmente as fortuitas, como um fator iatrogénico ou. responsavel pela ineficdcia. Na verdade esta preocupagdo tende a ser, no dia-a-dia, mais um agente complicador do que ‘facilitader, desta forma, a literatura mostra que é possivel predizer quais so as classes ou medicamentos potencialmente interativos®,*, para auxiliar médicos na dificil tarefa de prescrever e€ a enfermagem na execugdo da polifarmacia proposta. Os medicamentos precipitadores, como proprio nome diz, sdo capazes de arremessar outros agentes para fora do local de ago original e assim afetar 0 efeito farmacolégico desejado, Compreendem este grupo os indutores e inibidores enzimaticos (quadro 5); 0s que so altamente ligados as proteinas plasmaticas, por exemplo, a aspirina, a fenilbutazona e as sulfonamidas e os que alteram a fungao renal, por exemplo, a furosemida e a probenecida 17 Os medicamentos alvo, também denominados objeto, sdo aqueles que possuem curva dose-resposta com inclinaeao abrupta, cuja alteracdo na dose (mesmo que pequena) causa grande modificacao no efeito. 32 Nestes casos a interagdo freqientemente resulta na diminui¢do da eficécia terapéutica do medicamento objeto. Entretanto, para aqueles medicamentos dotados de estreito indice terapéutico, as interacdes produzem ampliago da toxicidade. Séo exemplos destes medicamentos os antibiéticos aminoglicosideos, os antiarritmicos, os anticoagulantes, 0s _anticon- vulsivantes, 08 anti-hipertensivos, 0s glicosideos cardiacos, ‘0s hipoglicemiantes, os quimioterapicos antineoplisicos e alguns imunossupressores, por exemplo a zidovudina (AZT) ®! Inibidores indutores latiopurinot [carbamazepina inticolinesterasicos __|Clordiazepéxido imetidina [renitoina Sloranfenicol [Fenobarbital Corticosterdides lcriseofulvina Ipissulfiran lRitampicina fFolbutamida jetronidazol Quadro 5- Exemplos de inibidores e indutores enzimaticos. 5 MEDIDAS PRATICAS PARA A EQUIPE DE ENFERMAGEM No exercicio didrio da enfermagem, apesar da existéncia de rotinas institucionalizadas em relacéo as medicacées, pode-se e deve-se interferir na forma como a assisténcia € realizada para que além de prevenir as interagées medicamentosas adversas _ possa-se assegurar uma pratica contextualizada na ciéncia. Existem situagdes atividades relacionadas & equipe de enfermagem que precisam ser repensadas talvez renovadas. O planejamento dos horérios de administragdio dos medicamentos na prescrigéo médica € 0s intervalos entre os medicamentes sido exemplos dessas situagées. A soguir so listadas medidas de ordem pratica com a finalidade de contribuir na prevencdo de reagées adversas decorrentes de interacées, A.- Nas infuses parenterais ‘evitar colocar nos mesmos horérios de administracao varios medicamentos intravenosos; ++ evitar misturar medicamentos na mesma sohugao ou no mesmo recipiente; * evitar administrar nos mesmos hordrios medicamentos que possuem os mesmos efeitos téxicos (Bx: Aminoglicosideos e Anfotericina B); 33 usar vias de infusdo difrentes na vigéncia de associagao de medicamentos de compatibilidade desconhecida ou duvidosa; ‘+ usar sempre que possivel a administracdoem "bolus"; ‘+ observer alteragéesvisiveis quando da reconstituigdo € diluicdo de medicamentos {turvagio, ‘precipitagdo, mudanga de coloracao); ‘© var os dispositives de infuséo com salugdes neutras, se houver necessidade de administracdo de varios medicamentos na mesma via de acesso vascular, + claborar um guia de incompatibilidades medicamentosas com os agentes mais utilizados no servico e manter em local de facil acesso; sconsultar 0 farmacéutico sempre que houver davidas em relacdo os efeitos indesejados ou compatibilidade dos medicamentos; B - Na administracdo de medicamentos via enteral ‘+ evitar colocar nos mesmos horérios de administracdo varios medicamentos via enteral; ‘© evilar a administracio simultinea de varios comprimidos (via oral ou sonda enteral}; ‘© obedecer 0 intervalo de apraximadamente 2 horas na administragao de outros medicamentos; antidcidos —e ‘+ utilizar sempre o mesmo veiculo (lite, suco de srutas, agua) na administracdo de medicamentos que sofrem alteragio de biodisponibilidade (Ex: ciclosporina solucao}; + cvilar associar grupos de ‘modicamentosalvo’ ‘precipitadores" nos mesmos horarios de administracao, 6 CONSIDERACAO FINAL & importante lembrar que as fontes de informacées sobre 0 assunto podem ser acessadas através de compéndios disponiveis em bibliotecas especializadas, programas de computador, como os j& existentes no mercado nacional, ou por meio de farmacéuticos clinicos, Entretanto, cabe ressaltar que também os servigos como hospitais, clinicas, empresas de atendimento domiciliario devem ter compromisso de colocarem A disposicaio dos profissionais um sistema de informacées que permita uma pratica segura. 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