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Movimento ISSN: 0104-754x stigger@adufrgs.ufrgs.br Escola de Educagao Fisica Brasil ‘Schwabe Minell, Daniela; Barcelos Soriano, Jeane; Evelise Favaro, Paula (© profissional de Educagao Fisica e a intervencao em equipes multiprofissionais. Movimento, vol. 15, num. 4, octubre-diciembre, 2009, pp. 35-62 Escola de Educagao Fisica Rio Grande do Sul, Brasil Disponivel em: htphwww-redalyorglariculo.087id=115312590003 como ctar est argo Bayo Bs Ndmero completo Sistema de Informagao Cientifica Rode de Revistas Ciontficas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal ;cadémico sem fins lucrativos desenvolvido no ambito da iniciativa Acesso Aberto Mais artigos Home da revista no Redalye Projet 0 profissional de Educago Fisica e a intervengao em equipes multiprofissionais, Daniela Schwabe Mine" Jeane Barcelos Soriano” Paula Evelise Févaro eeu: Tiers camo cbatvos()vecarqualaperpact= ‘tds equipo mulipeesonal sobre a conbulaoespecea do profsional de Edveaio Fila, (0) Weiter como os prossc- olde Ecagio Fic eautovalam ura &reakzagso de um ‘abalho mutipofssional,« (c)aveguar a comproensto dos ‘membros da eaipe sobre aspacos neces para sbsisiar Sia erento. 0 estado f9 compost por oo profsionss fim categoras eiebelsas a po. No contadts invested 3s Intrapoes profssionals se aprocentaram confit © Concoreniss havendo @subordnaraa area dornants (mod {ina hrarquzaplo das profssoes socundaias no sor ca aide, Palavraschav: Esucapdo Fic, Pessoal de sade, Respor- salads legal. Conta ‘Ierroougao Asrelagdes de trabalho, desde meados da década de 70, {ido implicagées de processos de mudangas irreversiveis, em diversos setores advindos da varias ransformayes econdmicas cunhadas desde nto, Entre tai setores, inserimos os grupos profissionais que ndo ppassariam incélumes & acumulagao flexivel de capital, is mudangas ‘nos melas de produsdo, aos processos de fusio entre as organizagies «, principalmente, ao desenvolvimento da tecnologia da informago, Tais esran so Parana oo Pte-Graet Assocado UE-UEM - Gps do Eso sabre 3 iarengio ao Prosssonal de Eaueoaa Fea (GEIPER}CETE. Unvoricace Larne tonna Pt rs Ena saninneligond cmt ~rtesco bot do Conta gn Cavenga ne Expera VEL arene do Poti de Cavey Fisica” CLIP. Univer Levan PR, asl Emel. sonenoeecortaleon at "lsransn to Prop de Poe Crear Arora UELUEM— Gre de trong de Molasora de caucyse Pisce (GEER) CEFE —Unves [Colt nverscaeCadlcn atra Lanta PR, bol ral peswerotyehoe ton ot 36 atiger Originate Daniela Schwabe Mineti, etal aspectos afetaram direta e/ou indiretamente: (a) as relagSes de trabae Iho estabelecidas entre os profissionais de uma determinada rea e 0s demaisprofissionais; (b) as relagdes entre os profissionais eos ususrios dos servigos prestados; (c) as elagdes entre as instituigdes prestadoras de tas servigos, Por sua vez, esses processos apresentam-se de forma ‘complexa e variada, os quais dizem respeito as novas demandas da sociedade, ocasionando uma remodelagdo no modo de intervir e onde intervir de cada grupo profissional, ransformando os papéis profissio- nais e, consequentemente, os relacionamentosinterprofissionais. Diantedesse cendrio, oma-se mais diffi para os grupos profissio- nis conservarem um quad claro e preciso de quem slo seus usustios «clientes na resoluedo dos problemas (SCHEIN; KOMMERS, 1972). [Nao obstante sso, as imbricagGes entre conhecimentos ages profissio- nais so inevitaveis no cotidiano profissional (SORIANO, 2003), ou, seja, na tentativa de resolver uma situagdo emergente, os profissionais se apropriam de uma cigneia ou técnica sobrevindas de outras éreas para emitir um parecer acerca desse problema, Além disso, temos «claro que existem subdivistesefragmentages do conhecimento dentro ‘deumamesma profissio, advindas do desenvolvimento, aciimulo e espe- cificidades das disciplinas (SCHEIN; KOMMERS, 1972) académicas ‘eque, muitas vezes, tis diseipinas compsem a estutura curicular dos ‘cursos de formagdo inicial de virios grupos profissionais, esse caso, ainda temos que considerar que para analisarmos a ‘especializagdo de uma dada profissdo em sua intervengao profissional, ‘devemos fazé-la em relago a uma outra especializagdo, de modo que uma especializago s6 pode se confirmar se houver algum tipo de relagdo com outra (FREIDSON, 2001). Em outras palavras, podemos dizer que, a partir do momento que se reconhecem as tarefas espec ficas realizadas por um grupo profissional, se reconhece também surgimento de outra especialidade para denotara diferenga entre as ‘duas, edistingui-las a partir de habilidades e conhecimentos distintos Nao seria diferente na Educagio Fisica, pois as crescentes cespecializagées, ainda que no universo académico com a variedade de subdisciplinas existentes, ¢ com a formagio de associagSes, reali- ‘zagies de eventos e conferéneias distintos e especiticos de eada seg- Mesimende, Pro Alar, ¥ 15, n: 0, p. 35-42, outbridezembro de 2008 © pwofissional de Educagdo Fisica ¢ # intervengio, 37 ‘mento de atuagio, scabam implicando uma dificuldade do campo cm lidar com importantes questdes sociais (RIKLI, 2006) ede inter- vengio, Ou seja, [Je conbesimento produzido na Educagto Fisica Mende is nacssidade dis icine (Antonia, Fisiologia, Psicologia, por exemple) e suas respec- tivas subdisciplinas (Biomecinica, Fisiologia do Fxerciio, Aprendizagem Motor, por exemple) (VERENGUER, 2004, 126, tomando o investimento ea investigagdo acerca da intervengio, cada vez mais escassos, nfo contribuindo, necessariamente, para instrumen- talizaros profissionais com relagdo és quest&es aplicadas ou dificulda- des pedagdgicas (BRESSAN, 1979). Tendo em vista que muitos dos problemas com os quais a saciedade se deffonta so tio complexos que nnenhuma profissfo,isoladamente, pode tera pretensio de resolvé-los cfetivamente, Schein e Kommers (1972) afirmam que a base das erticas feitas 1s grupos profissionais esté no fato de que, nesse contexto, eles &m falhado tanto em tentar desenvolver ligagbes com outros grupos pro- fissionais, como também, detectam-se falhas no processo de prepa- ragiio em habilidades de trabalho colaborativo com outros profissionais. Entretanto, um fato que se tem consolidado é que profissionais de diferentes reas tém se unido para intervir satisfatoriamente num ddeterminado problema com o intuito de solucioné-lo e, assim, tentar preencher as lacuna existentes nesse processo, Essa unig de profissio- nals, que denominaremos de equipes muitiprofissionais ou trabalho em cequipe, consiste no intercmbio entre duas ou mais especialidades na tentativa de superar a fragmentagdo do conhecimento, implicando uma toca de saberes entre especialistas de diferentes grupos profssionais, sussdo de um assunto, na resolugdo de um problema, com vistas a melhor superagdo da realidade (CAMACHO, 2002), A caractcrstica do trabalho em equipe beneficia o preenchimento de lacunas existentes nos diversos aspectos da vida humana: social, fisico, psicolégico, psiquico, entre outros (FREIDSON, 1998). Porianto, «quando pensamas em trabalho em equipe nos vem 4 mente um modelo de atuagao ideal, no qual ointercdmbio entre os saberes profissionais Merman, Porto Aler, v.15, n: 04, p. 35-62, outubrldecombro de 2008, 38 Aatiger Originate Daniela Schwabe Mine, etal para solucionar um determinado caso, acontece de forma produtiva € definida. Entretanto, na pritica esse quadro ndo ¢ linear como parece set, pois no inieio a intervengio profissional, envolvendo especialistas de diversas éreas, € frequentemente isolada e coneorrente, demons- tando uma dificaldade na interagdo entre diferentes competéncias téenicas (SILVA, 2002) (0 setor da satide representa um campo de intervengo com atuagdo de mais de uma dezena de categorias profissionais (BOS! 1996), entre elas: medicina,fsioteapia, nurigdo, psicologia, Fducaga0 Fisica, fonoaudiologia etc. Nao obstante, dentro de um mesmo Setar poderd existir uma profissdo com uma base de conhecimento mais, ‘consolidada ~ autonomia técnica —c com maior status social, ¢ que, ‘consequentemente, coordenaré ¢ controlarii as ages (BOST, 1996; FREIDSON, 1998). Estabelece-se, portanto, uma hierarquizagao de ‘poder, com implicagSes para o controle da produsio, do tipo de treina- ‘mento, da selegiio de tarefas e os termos do jargio técnico, E impor- tante frisar que, quanto menor a desigualdade existente e quanto maior flexiblidade nas atuagSes em conjunto, maior serdainteragdo centre a equipe (BOSI, 1996) essa forma, as equipes multiprofissionais em saiide expressam diferengase desigualdades entre profissbes contiguas e,cotidianamente, profissionais que atuam nesse setor tendem a reiterar as relagdes assimeiticas de subordinagdo, nas situagées e processos de tomada de decisdes (PEDUZZI, 2001; FREIDSON, 1998), diante de um grupo ‘dominant. Logo, aintervenedo profissional em equipes multiprofissio= nais aponts para a necessidade de compreensio de alguns aspectos ‘como conhecimento especializado e competente,necessidade de admi- nistrago de contlitos, devido a culturas profissionaisdistintas— cada profissio apresenta a solugdo para um problema de um prisma dife- rente, comunicagio como dimensio intrinseca ao trabalho linguagem, ‘objtivos, propostas comuns~eaflexbilidade nas atuagBes (PEDUZZ1I, 2001; SCHEIN; KOMMERS, 1972). Freidson (1998) traga trés denominadores essenciais ¢ comuns ‘20s grupos profissionais para subsidiar uma intervengabo, sobretudo ‘num trabalho em equipe (hierarquizaglo), onde as fronteiras de conhe- ) autonomia; ¢ c) credencialismo, Segundo esse autor, a expertise representa 0 conhecimento com cariter esotérico, ou seja,“acessivel ‘para poucos". A autonomia representa ojulgamento que o profissional possui frente as suas préprias agdes © decisdes, ou seja, quando submete a sua pritica profissional ao seu proprio julgamento, E 0 credencialismo representa o érgdo que regulamenia e legaliza uma profissdo protegendo a expertise. Portanto, considcrando a complexidade que nortcia as equipes ‘multiprofissionais, cujacaracteristica essencial 6a interveng0 com- posta por varios tipos de conhecimentos especializados na tentativa de solucionar um determinado caso, chegamos ao seguinte problema: qual perspectiva uma equipe multiprofissional em satide possui em relagdo ao profissional de Educagio Fisica? Como diretriz para rea- lizagao do estudo, tivemos os seguintes objetivos: a) verificar qual @ perspectiva de uma determinada equipe multiprofissional sobre a contribuigdo especifica do profissional de Educagao Fisica; b) identi- ficar como os profissionais de Educagao Fisica se autoavaliam junto i realizagdo um trabalho multiprofissional; ec) averiguar a compreensdo ddos membros da equipe sobre aspectos necessérios pata subsidiar sua intervened, ais como: conhecimento especializado (expertise), autonomia profissional (independéncia nas agGes) ¢ credencialismo (mecanismo de regulagao). 2 ENcAMNHAMENTO METODOLEGICO Ao buscar ampliar 0 entendimento acerca do campo de conheci- mento e intervengio da Educago Fisica, tomna-se imprescindivel Jangar mao de diferentes tipos de pesquisa. Nesse caso, a op¢o foi pela realizagao do estudo na abordagem qualitativa de pesquisa, pelo {ato de se possbilitara compreensfo da singularidad ca contextualidade dos fatose eventos. Coadunamas com Denzin e Lincoln (2005) para argumentarmos sobre nossa escolha, no sentido em que pretendemos ddar uma énfase na qualidade de entidades, processos e significados aserem elucidados, de forma que se medidos ou analisados experi- ‘mentalmente, poderiamos incorrer no erro de nos afastarmos daquile {que realmente estaria acontecendo em campo, inclusive da avaliaglo Merman, Porto Aler, v.15, n: 04, p. 35-62, outubroldezembro de 2008, 40° Atigor Onignaie Daniela Schwabe Minell ea {da presenga do pesquisaclor, bem como seus vieses, deixando assim, do analisar e reportar as caracteristicas da realidade socialmente cconstruida, Ao buscarmos comprcender 0 cenéro de funcionamento de uma quipe multprofissional, em como, o processo de inserg0 do profi sional de Educagdo Fisica, procuramos orientago nas indicagdes de André (1995) e Denzin e Lincoln 2005) para a condugio do trabalho temicampo. sel da equie se deu intencionalmente,consierando aqueles que fossem essenciais, segundo o ponto de vista do invest- gador (HAMMERSLEY; ATKISON, 1996; TRIVINOS, 1987) (0 grupo estudado foi constituido por profissionais atuantes no, setor da saide, inseridos em uma clinica multiprofissional, em uma cidade no norte do Parand, A condigo determinante para escolha «dessa cliniea foi a presenga do profissional de Educagio Fisica como ‘um das intograntes da equipe multiprofisiona. A clinica caracterizava- se pela elaboragavimplementago de programas de condicionamento fisico para diferentes populagdes: obesos, hipertensos, diabsticos, portadores de deficiéncias, reabilitagdo de pés-operatérios, entre ou- ‘ros. Além disso, a clinica contava, na ocasido da pesquisa, com vinte e um profissionais, entre eles: médicos, fsioterapeutas, psicopedagogos, pedagogos, profisionais de Educago Fisica, psicélogos,nutrcionistas «e fonoaudidlogos, Accitaram participar do estudo oito profissionais, sendo: dois médicos, dois fisioterapeutas, dois profissionais de Edu- ccagdo Fisica, um nutricionistae um psicdlogo que intervinham junto a ‘esses grupos. Cabe destacar que os profissionais que participaram do «sstudo foram devidamente informados sobre os abjctivos da pesquisa Para efeito de confirmagao de suas participagdes cles receberam © assinaram um termo de consentimento esclarecide, cujo formato 60 adotado pelo Comité de Ftica em Pesquisa, da Universidade Esta- ‘dual de Londrina, A fim de preservara identidade dos participantes da pesquisa, 0s suijeitos foram indicados no texto pela letras iniciais da denominago ‘de cada grupo profissional, Dessa forma, ivemos: “EF” para os dois profissionais da Educagio Fisica; "M” para os dois profissionais da ‘medicina; “F” para os dois profissionais da fisioterapia; “P” para 0 profissional da psicologia; e“N" para o profissional da nutrigko, Mesimende, Pro Alar, ¥ 15, n: 0, p. 35-42, outbridezembro de 2008 © pwofissional de Educagdo Fisica ¢ # intervengio, 41 As informagies foram obtidas por meio da aplicagio de uma entrevista semiestruturada conduzida por um roteiro elaborado previa- mente, seguindo uma ordem pré-estabelecida, permitindo ao entre- vistador acrescentar perguntas de esclarecimento quando necessirio (LAVILLE; DIONNE, 1999), 0 roteiro de perguntas utlizado origi- rnou-se aparir da proposta de um grande tema vinculado ao referencial te6rico-metodolégice pesquisado. O tema estabelecide a priori fol: Trabalho multiprofissional na sade. Paraa coleta de dados (entrevista) foi utlizado um minigravador da marca Panasonic e fitas micro cassetes. Depois de realizadas © sgravadas, as entrevistas foram transcrita integralmente, sem alteragd0 de seu contetido, © tratamento dos dados seguiu as caracteristicas da anilise de conteido, Esta “aparece como um conjunto de téenicas de analises das comunicagbes que uiliza procedimentos sistemiticos ¢ objetivos de descrigdo do contetido das mensagens” (BARDIN, 2004, 1p. 33). Uiilizousse esse tipo de andlise por permitir extrair de um texto ou transcrigdo, os significados e as representagSes que se fazem ppresentes ou ausentes na fala do entrevistado. Essa técnica de analise dos dados ¢ caracterizada pela criago dd tomas e categorias, sendo ambos estratégias de mapear os dados para facilitar sua correlago e compreensdo. No caso desse estudo, as categorias, para correlagdo futura com o grande tema “Trabalho ‘multiprofissional na saiide”, foram designadas a priori. Optamos pela escotha das eategorias antes da coleta dos dados para delimitar © caminho aser investigado, sem perder de foco 0s abjetivos propostos. (0 surgimento das categorias se deu a partir da compreensio de ts . Aoeseo ens 10 mai 2008, MASSA, M.Caractoizasao acadBrica eprofsional da Educasde Fisica, Revieta Mackonao de Educapao Fisica, S80 Paulo, v. 1. n 1, 23-38, 2002 MISOCZKL.. C0 igfamisnorenmatvo # anise de oganzagoes de sade, RAE- fletroniea, vn 1, 2005, Deponvel em: porn aceo bpatrasltini ‘inta00 pat. Acasso om: 10 now. 2008, PEDUZZ, M. Equipe mutiprofsional de sae: concete @tplogs. Revista de Sade Pali, Sto Paul, «35.1, 108-109, 200% REIS, M,C. Aldanidade acadimico-

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