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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN 4. 0 rapto Aleides, desesperado com a urgéneia na obtengdo de uma avultada quantia em dinheiro destinada & cirurgia necessdria a salvar a vida da sua filha Beatriz, decide raptar Carlos, pr tal, no dia 26 de Dezembro de 2014, pelas 14 horas, quando Carlos sidente do Conselho de Administrag4o de uma conhecida instituigao de crédito. Para ‘a de um restaurante, Alcides interceptou-o ¢ conduziu-o, sob ameaga de uma pistola, até junto da sua viatura, Ai, entraram para o banco de tras, tendo Dalila, mulher de Alcides e mae de Beatriz, arrancado, prontamente, até uma casa isolada, onde Carlos foi aprisionado. Na manha seguinte, € feito 0 pedido de resgate: € 300.000 contra a entrega, so e salvo, de Carlos. Apés alguma hesitago, os administradores do Banco, assessorados pela policia, acabaram por aceder ao pedido e, em 3 de Janeiro de 2015, deixaram o dinheiro no local acordado, No dia 5 de Janeiro, Alcides, que vigiara Carlos todo este tempo, libertou-o. Sabendo que: i) Dalila foi etimplice no crime de rapto de Aleides © que a sua actuagio se circunscreveu 4 condugao da viatura de Alcides no dia 26 de Dezembro; E supondo que: i) Em 30 de Dezembro de 2014, entrou em vigor uma Lei, que aditou ao Cédigo Penal o artigo 161.°A, que pune o rapto qualificado que perdure por mais de sete dias com uma pena de prisdo de 6 a 16 anos; ii) Em31 de Dezembro de 2014, entrou em vigor uma Lei, que modificou a punigao do rapto qualificado previsto na alinea a) do numero 2 do artigo 161.° do Cédigo Penal para uma pena de prisdo de $ a 15 anos; iii) Em 1 de Janeiro de 2015, foi publicada uma Lei, que modificou a punigdo do rapto qualificado previsto na alinea a) do nimero 2 do artigo 161.° do Cédigo Penal para uma pena de pristio de 6 a 15 anos; 126 iv) vi) vii) viii) FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN Em 7 de Janeiro de 2015, entrou em vigor um Decreto-Lei no autorizado, que modificou a punigio do rapto qualificado previsto na alinea a) do nimero 2 do artigo 161.° do Cédigo Penal para uma pena de prisdo de 3 a 12 anos; No Sudio, o rapto pode ser punido com pena de morte; Em 8 de Janeiro de 2015, 0 Estado espanhol requisitou a extradigdo de Alcides © Estado sudangs a extradigao de Dalila, comprometendo-se 0 seu embaixador em Lisboa, com a sua palavra de honra, em como a pena de morte estaria, neste caso, fora de cogitagio; m 9 de Janeiro de 2015, Alcides renunciou a nacionalidade portuguesa, solicitando, de imediato, o registo da sua declaragao, 0 que viria a ocorrer dois, dias depois; ¢ Em 13 de Junho de 2015, um tribunal de Lisboa condenard Alcides e Dalila “na pena méxima prevista na lei” (sic) pelo rapto contra Carlos, “atendendo & ignominia que representou a deslocacdo fisica imposta @ vitima e a inerente privacio da sua liberdade, inaceitével num Estado de Direito, como decorre, desde logo, do artigo 27.° da CRP” (sic). Responda, fundamentadamente, is questdes que se seguem: 1) Determine a competéncia espacial da lei penal portuguesa, relativamente ao crime de rapto, quanto a Aleides ¢ a Dalila. => ALcIDES > Determinagao do local da pritica do facto: artigo 7° /1 do CP — eritério misto ou plurilateral de acgdo e resultado: local onde o agente actuou + local da produgao do resultado tipico; = O crime de rapto (p.e.p. no artigo 161.° do CP), enquadra-se no ambito das infracedes duradouras, sendo que o respectivo resultado ocorre em simulténeo a execugio do facto; 127 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN = Assim, a execu 05.01.2015; io do crime de rapto ovorre entre 26.12.2014 & = Consequentemente, haverd que coneluir que o lugar da pratica do facto & éspanha; = Exclui-se, por isso, a aplicagdo do artigo 4.° do CP, afastando-se por esta via o critério da territorialidade; = Importa, de seguida, considerar o disposto no artigo 5.°/1 do CP: = Exclusdo das alineas a) e b)— 0 crime de rapto nao esté previsto no elenco constante da alinea a); 0 crime nao foi praticado contra um portugués; = Alinea c) —critério da universalidade: (i) erime previs (0 no elenco: (ii) agente ser encontrado em Portugal; e (iii) extradig&io/entrega no possa ser concedida; * Os dois primeiros requisitos encontram-se satisfeitos, pelo que haverd que verificar da possibilidade de entregar Aleides = Aplicagdo da Lei n.° 65/2003 de 23 de Agosto (LMDE): 0 pais de emissdo é Espanha, Estado-Membro da Unido Europeia; = Artigo 1° LMDE - principio do reconhecimento miituo e Decisdo Quadro n° 2002/S84/JAI, do Conselho de 13 de Junho; = Arligo 3./1, a prevaléneia dos tratados, convengdes © acordos internacionais, = Artigo 2.7/1 da LMDE: a emissio do mandado de detengo europeu s6 serd admissivel se os factos em causa forem puniveis com uma pena ndo inferior a 12 meses, ou, quando a finalidade se reconduzir ao cumprimento de pena, a sangdo aplicada tenha duragtio nfo inferior a 4 meses. = Parece vidvel admitir que o crime de rapto seria punivel com uma pena de prisdo superior a 12 meses. = Artigo 2.°2 da LMDE: entrega seré possivel sem controlo da dupla incriminagdo nos casos de rapto (alinea q) = a entrega de Alcides nao estaria dependente do controlo da dupla incriminagdo, se o crime de rapto 128 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN fosse punido em Espanha com uma pena de prisio de durago maxima no inferior trés anos. ™ Alcides sera entregue para efeitos de promogdo da acgao penal, pela pratica de um crime de rapto. = Alcides tem nacionalidade portuguesa: artigo 33.‘/1 ¢ 3 da CRP, a extradigdo de cidadaos nacionais é excepcional. = Alcides renunciou 4 nacionalidade portuguesa em 9 de Janeiro de 2015, tendo essa remincia produzido efeitos a 11 de Janeiro. = Artigo 32.°/6 da LCJMP (aplicdvel por falta de previséo idéntica na LDME) — qualidade de nacional é aferida no momento em que seja tomada a decisto sobre a extra = Se o pedido de entrega for avaliado em data posterior a 11 de Janeiro de 2015, Alcides ja nfo serd considerado um cidaddo nacional, ¢ as restrigdes impostas em caso de entrega de cidaddos nacionais no se Ihe aplicario; = Caso a decisio sobre a entrega seja tomada antes de 11 de Janeiro, Alcides conserva ainda a qualidade de nacional; = Em qualquer cenério: artigo 11.° da LMDE - causas de recusa de execugio do mandado de detengo europeu (s6 nestas hipéte: s f inviabilizada a entrega de Alcides, pelo que ndo haverd que atentar a qualquer outro normativo); = Nao estamos perante nenhum dos cenarios descritos nesta norma, 0 que significa que Alcides poderd ser entregue a Espanha; = Artigo 13.°/1b) da LMDE - quando a pessoa procurada para efeitos de procedimento criminal for nacional ou residente do Estado Membro de execugiio, a decistio de entrega pode ficar sujeita 4 condigdo de que a pessoa procurada, apés ter sido ouvida, seja devolvida ao Estado Membro de execugo para nele cumprir a pena a que tenha sido condenada no Estado Membro de emissao; = Portugal poderia entregar Alcides © solicitar que este viesse, ulteriormente, cumprir pena em territ6rio nacional, 129 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN ™ Conclusdo: Aleides pode ser entregue, o que significa que o terceiro requisito elencado na alinea c) do mimero 1 do artigo 5.° do CP nfo se encontrava observado. = Consequentemente, a lei portuguesa nao seria, nestes termos, aplicavel v Relativamente & aplicagdo da alinea c) do niimero 1 do artigo 5.° do CP - que consagra o critério da universalidade — podera considerar-se que este preceito pretende tutelar apenas bens juridicos supranacionais, lesivos dos valores essenciais da comunidade internacional; > Para quem sustente tal entendimento, esta disposigao ndo sera aplicavel a qualquer comportamento que se subsuma a um dos tipos de ilicito ai referidos; impée-se, para além disso, que a concreta conduta tenha lesado esses bens juridicos internacionais; > Nesse caso, a atitude de Alcides ndo se reconduziria A previsio da alinea ©) do niimero 1 do artigo 5.° do CP, pelo que haveria que indagar da aplicabilidade da alinea e) do mesmo preceito; v Efectivamente, Alcides & um cidadao portugués, 0 que obriga a ponderago da vertente activa do prineipio da nacionalidade, tal como consagrado na referida disposig v Para que a lei portuguesa seja aplicdvel ao abrigo desta disposigdo, exige~ se o cumprimento de trés requisitos: (i) em primeiro lugar, o agente deve ser encontrado em Portugal — o que ja vimos acontecer; (if) em segundo lugar, a infracgdo tem que ser punivel pela legislagio do lugar da pratica do facto — 0 que também ocorre, considerando 0 pedido de entrega apresentado por Espanha; e (iii) em terceiro lugar, que a extradicaio ndo possa ser concedida — ora, como vimos supra, na situagdo descrita nao cexistia qualquer impedimento a entrega de Alcides, desde logo pelo facto de ter renunciado a nacionalidade portugues: > Equivale isto a afirmar que os pressupostos na alinea e) do niimero 1 do artigo 5.° do CP nao se encontram satisfeitos, pelo que também, por esta via se negard a competéncia da lei portuguesa. 130 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN => DALLA > Determinagaio do local da pratica do facto: artigo 7.° /1 do CP — critério misto ou plurilateral de acgdo € resultado: local onde 0 agente actuou + local da produgdo do resultado tipico; O crime de rapto (p.e-p. no artigo 161.° do CP), enquadra-se no Ambito das infracgdes duradouras, sendo que o respectivo resultado ocorre em simulténeo a execugdo do facto; No entanto, Dalila actuou como ciimplice material de Alcides (artigo 27° do CP), ¢ limitou-se a condugdo do veiculo usado para transportar Carlos; Desta forma, a conduta de Dalila materializou-se numa infracgdo instantanea, tendo-se desenrolado integralmente em Espana; Exclui-se, por isso, a aplicagdo do artigo 4.° do CP, afastando-se por esta via 0 critério da territorialidade; Importa, de seguida, considerar 0 disposto no artigo 5.°/1 do CP: clusdo das alineas a) e b)— 0 crime de rapto nao esta previsto no elenco constante da alinea a); 0 crime ndo foi praticado nem por um portugues nem contra um portugués; Alinea c) —critério da universalidade: (i) crime previsto no elenco; (ii) agente ser encontrado em Portugal; ¢ (iif) extradigdo/entrega nao possa ser concedida; Em termos idénticos aos referidos para Alcides, diremos que as duas primeiras condigdes se encontram satisfeitas, pelo que uma vez. mais haverd que dedicar esp | atengdo A questo da extradigao; Neste contexto, cumpre aludir ao disposto no artigo 33."/6 da CRP, que veda a extradigdo por crimes a que corresponda, segundo 0 direito do Estado requisitante, pena de morte; Com este preceito coaduna-se o artigo 6.%e) da LCIMP, que prevé os requisitos gerais negativos da cooperagao internacional; De acordo com os dados da hipétese, o Sudo pune o crime de rapto com a pena de morte; 131 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN = Assim, estard em prinefpio excluida a hipétese de extraditar Dalila para © Sudo; = Porém, o artigo 6.2 a) da LCIMP admite a extradigdo nestes casos, desde que o Estado requisitante, “por acto irrevogdivel e vinculativo para os seus tribunais ou outras entidades competentes para a execugao da pena, [tenha] previamente comutado a pena de morte”; = Segundo o enunciado disponibilizado, essa garantia consistiria na palavra do Embaixador do Sudio, que teria assegurado a no aplicago da pena de morte a este caso; = No entanto, este compromisso assumido pelo diplomata nao impée, obviamente, a comutagao irrevogavel da pena, revelando-se insuficiente luz do nimero 3 do mesmo preceito; = Em sintese, Dalila no poderia ser extraditada para 0 Sudo, o que significa que estavam verificados os requisitos de aplicagdo do artigo 52/lc) do CP; = Em coeréncia, Dalila seria julgada em Portugal, de acordo com este preceito, Aqui chegados, importa novamente mencionar os limites potencialmente impostos, a aplicagio da mencionada alinea c) do ntimero 1 do artigo 5.° do CP; = Tal como explicitado, poder entender-se que o principio da universalidade — e a tutela por este concedida — restringe a sua relevancia aos casos em que se verifica uma violagao de bens juridicos de dimensdes transnacionais; = Para os partidérios desta tese, a afirmagdo do preenchimento da alinea ¢) do nimero 1 do artigo 5.° do CP depende da conexio do ilicito tipico com uma pluralidade de ordenamentos juridicos, atendendo a conotagao intemacional do comportamento; = Tanto quanto nos parece, o crime de Alcides ¢ Dalila nao ascende a essa escala, pelo que se compreenderia o afastamento desta disposi 132 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN = Nesse et io, impunha-se ajuizar da aplicabilidade do artigo 5.°/1 f) do CP, ja que as alineas d) e e) se encontram, obviamente, excluidas; = Efectivamente, Dalila ¢ estrangeira, tendo sido encontrada em Portugal; para além disso, importa verificar se a sua extradigio foi requerida c se existe algum obsticulo a satisfagdo deste pedido; = Conforme explanado anteriormente, a extradigo de Dalila foi, de facto, requerida pelo Estado sudanés, ndo podendo ser concedida pela circunstincia de o crime em causa ser, no Sudo, punido com pena de morte, e de no terem sido concedidas garantias suficientes de comutagao da pena; = Desta maneira, haveré que coneluir pelo preenchimento dos requisitos constantes do artigo 5.°/1e) do CP, e afirmar a aplicagdo da lei portuguesa ao caso de Dalila, 2) Determine a lei aplicivel, relativamente ao crime de rapto, quanto a Aleides e Dalila. 2612.14 30.12.14 31.12.14 O1OLIS 05.01.15 07.01.15 L1-1615/2a) 12 - 1612-4 L3-1612/2a) Publicagdo L4’ LS: DL nio aut. 2p - 3 a 15 CP->Tdias = CP-Sa lS 161.%2a)cP 161."2a) CP anos 16 anos anos 6a 15 anos 3.a 12 anos => ALciwes. —> Regra n.’1: aplicagao da lei em vigor no momento da pritica do facto {artigos 29.°/1 ¢ 2.°/1 do CP): 1) Determinagao da lei vigente no momento da pritica do facto ou tempus delicti (*MPF” ou “TD”): > Artigo 3.° do CP: critério unilateral da conduta = momento em que o agente actuou — ou deveria ter actuado — independentemente do resultado; 133, FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA v ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN Imposigdes de seguranca e culpa: o agente tem que ter a possibilidade de se motivar pela norma e de se conformar com as consequéncias da sua conduta; A hipétese em anilise refere-se 4 pratica de um crime duradouro ou permanente, 0 rapto (p.e-p. no artigo 161.° do CP); estes crimes caracterizam-se pelo facto de a respectiva consumagao se prolongar no tempo, ao contrério do que se verifica nos crimes instantaneos; Por essa raziio, desde que Alcides rapta Carlos até ao momento em que 0 liberta, consuma a pratica do crime de rapto; consequentemente, 0 MPF estende-se desde 26.12.14 até 05.01.15; Durante este periodo estiveram em vigor a L1,aL2eaL3 (aL4 so entrou em vigor no dia 06.01.15, atendendo ao prazo geral de vacatio legis previsto no artigo 2.°/2 da Lei 74/98 de 11 de Novembro, pelo que deve ser considerada uma lei posterior a0 MPF); No que se refere 4 LI e 4 L3, nfo restam diividas de que lei posterior revoga lei anterior, j4 que ambas as disposigdes se ocupam da mesma matéria, sendo clara e inequivoca a alteraco de valoragao do legislador quanto & moldura penal a aplicar a este crime; Por esse motivo, entende-se que a L3 revogoua L1, representando o juizo mais actual do legislador quanto ao merecimento penal da conduta deserita no tipo; AL2, por seu tumo, representa a criagdo de um novo tipo de ilicito - 0 rapto qualificado — pelo que a respectiva aplicagdo dependerd da verificagdo dos seus pressupostos no periodo de vigéncia da lei; Neste caso, a circunstineia qualificante refere-se 4 duragdo do rapto, quando superior a sete dias; De acordo com o descrito na hipstese, a L2 entrou em vigor no dia 30.12.14. o que significa que até dia 05.01.15 nao decorreram mais de sete dias; Assim, a aplicagéo da L2 redundaria numa violagéo do principio da irretroactividade da lei penal desfavoraivel e dos respectivos fundamentos 134 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN (seguranga e culpa artigos 29.°4, 1. parte da CRP e 2°/1 a contrario do cP); = Em suma, a lei vigente no MPF é a L3, que pune este rapto com uma pena entre cinco e 15 anos de pri i menos favoraivel ao —> Regra n.°2: proibigio de aplicagio retroactiva de agente (artigos 29.°/4, 1.* parte, da CRP; artigo 2.°/1 a contrario do CP); —> Regra n.°3: imposigio de aplicagio retroactiva de lei mais favoravel ao agente (artigos 29.°/4, 2." parte, da CRP; artigos 2.°/2 ¢ 4 do CP). 2) Averiguacao da existéncia de leis posteriores a lei vigente no MPF: > Existem duas leis posteriores & lei vigente no MPF: a L4, que fixou a moldura penal do crime de rapto previsto na alinea a) do nimero 2 do artigo 161.° do CP entre seis e 15 anos; e a LS, que modificou a punigdo deste crime, para uma pena de prisio entre trés e 12 anos; 2.1, Determinagdo da natureza coneretamente mais ou menos favordvel a0 agente, das leis posteriores & lei vigente no MPF: > A L4 assume um contetido menos favordvel para o agente, visto que agrava a moldura penal do crime de rapto qualificado, fixando o respectivo limite minimo em seis anos (ao contrario da L3, que previa cinco anos); > Neste caso, os principios da seguranga juridica e da culpa impdem a proibigdo de aplicagao retroactiva de lei menos favordvel ao agente (artigos 29.4, 1 parte, da CRP; artigo 2.°/1 a contrario do CP); > Desse modo, a L4 nao sera aplicdvel; > Quanto a LS, trata-se de uma lei posterior ao MPF de natureza mais favorivel ao arguido, estabelecendo a moldura penal do crime de rapto previsto no artigo 161.°/2a) do CP entre trés e 12 anos; > Deste modo, segundo o disposto nos artigos 29.°/4, 2. parte, da CRP 2/4 do CP, haveria que aplicar retroactivamente a lei mais favordvel ao agente, por razdes de igualdade ¢ necessidade da pena (artigo 18.°/2 da CRP); FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA v v v v v ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN Contudo, atendendo a descrigdo da hipétese, a LS parece padecer do vicio de inconstitucionalidade organica, por violagio da reserva relativa de competéncia legislativa da AR em matéria penal (artigo 165.°/le) da CRP); Estamos, por isso, perante uma lei inconstitucional de contetido mais favordvel ao arguido, posterior ao MPF, sem que tenha existido caso julgad ‘A. este propésito, importa assinalar os diferentes entendimentos veiculados pela doutrina, relativamente a possibilidade de aplicar retroactivamente uma lei inconstitucional que se revela mais favordvel ao arguido; Por um lado, considera-se que a protecgao do arguido — prevista pelo artigo 29.4 da CRP — prevalece sobre a proibigiio de os tribunais aplicarem leis inconstitucionais (artigo 204° da CRP), uma vez que o primeiro preceito se localiza em sede de direitos, liberdades e garantias, e © segundo alude a fiscalizagdo da constitucionalidade; Consequentemente, defende-se a aplicagio retroactiva de lei inconstitucional, posterior ao MPF, de contetido concretamente mais favordvel ao arguido, nos termos referidos supra; Alberto seria punido ao abrigo da LS, incorendo numa pena de pri entre trés ¢ 12 anos: Segundo a perspectiva defendida por RUI PEREIRA, o principio da culpa apenas impde que as expectativas do arguido sejam tuteladas nos casos em que a norma inconstitucional corresponde a lei do MPF; efectivamente, apenas nessas situagdes poderia 0 arguido ter-se motivado pela norma que ulteriormente veio a ser considerada inconstitucional; Para além disso, o artigo 204° da CRP prevalece metodologicamente sobre o artigo 29.°/4 da CRP, que pressupée a constitucionalidade das leis em cat 136 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN > Em resultado, aplicarse-a a lei do MPF, ie., a L3, que pune o crime de rapto previsto no artigo 161.%2a) do CP com uma pena entre cinco ¢ 15 anos. — Regra n.’1: aplicagio da lei em vigor no momento da pratica do facto {artigos 29."/1 da CRP ¢ 2.°/1 do CP): Determinagdo da lei vigente no momento da pritica do facto ou fempus delicti (*MPF” ou “TD"): > Artigo 3° do CP: eri io unilateral da conduta = momento em que o agente actuou— ou deveria ter actuado — independentemente do resultado; v Imposigdes de seguranca e culpa: o agente tem que ter a possibilidade de se motivar pela norma e de se conformar com as consequéncias da sua conduta; = A actuagio de Dalila limita-se a condugdo do automével utilizado para transportar a vitima, no dia 26.12.2014; assim, serd relevante — para efeitos de determinagao do fempus delicti — 0 momento da prestago do auxilio, independentemente do momento em que o autor principal actue; * No cenétio descrito, a lei em vigor no momento da prestagdo do auxilio era a L1, que estipulava uma pena entre trés ¢ 15 anos para o crime em questo: > Regra n.°2: proibigio de aplicagao retroactiva de lei menos favoriivel a0 agente (artigos 29."/4, 1.* parte, da CRP; artigo 2.°/1 a contrario do CP); > Regra n.°3: imposigio de aplicagao retroactiva de lei mais favordvel a0 agente (artigos 29.°/4, 2." parte, da CRP; artigos 2.°/2 e 4 do CP). 2) Averiguacio da existéncia de leis posteriores a lei vigente no MPF: > Existem quatro leis posteriores a lei vigente no MPF: a L2 — que determinou a criagdo de um crime auténomo de rapto qualificado; a L3, que agravou o limite minimo da pena prevista para este crime; a L4, que 137 FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA ANO LECTIVO 2019/2020 DirEITO PENALI- TAN fixou a moldura penal do crime de rapto previsto na alinea a) do nimero 2 do artigo 161.° do CP entre seis e 15 anos; e a LS, que modificou a punigdo deste crime, para uma pena de prisio entre tres e 12 anos; 2.1. Determinagdo da natureza concretamente mais ou menos favoravel ao agente, das leis posteriores a lei vigente no MPF: » As leis L2, L3 e a L4 assumem um contetido menos favoravel para 0 agente, visto que, por um lado, a L2 cria uma norma incriminadora nova €, por outro, agravam a moldura penal do crime de rapto qualificado, fixando o respectivo limite minimo em cinco e seis anos (ao contririo da LA, que previa trés anos); > Neste caso, os principios da seguranga juridica e da culpa impdem a proibigdo de aplicagao retroactiva de lei menos favordvel ao agente (artigos 29.4, 1." parte, da CRP; artigo 2.°/1 a contrario do CP); > Desse modo, a L2, a L3 ¢ a LA ni serdo aplicaveis; Quanto & LS, valem as explicagdes supra expendidas a propésito da situagdo de Aleides 138,

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