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RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

CASO 1
Alínea a):

. O momento decisivo para a prática do acto é o momento em que o agente actuou ( art. 2º/1 e 3º
Código Penal) – determinação do tempus delitti. Como o facto na altura não era punido, mesmo que o
aborto posteriormente venha a ocorrer já quando é punido, A não pode ser punido.
. Estamos perante o princípio da proibição da retroactividade mais favorável.
. Constitucionalmente este princípio está consagrado no art. 29º/1 e 3 da CRP.
. Devemos ainda aplicar o art. 1º/1 do C. Penal
. O corolário desta hipótese é nulla pena sine lege previa.
Alínea b):

. Estamos na presença do princípio da aplicação da lei mais favorável (in mellius) – art. 2º/2 C. Penal
e 29º/2 CRP.

Alínea c):

. A não tem que cumprir a pena, pois a norma é retroactiva, mesmo que a sentença já tenha transitado
em julgado – art. 2º/2, parte final Código Penal, e art. 29º/4, 2ª parte CRP.
. Estamos perante o princípio da imposição da retroactividade mais favorável (in mellius).

Alínea d):

. Art. 2º/4 CP – como se trata de uma medida atenuadora da pena e não discriminalizadora da pena,
vai-se manter a pena que ele já tinha, mesmo que a sentença já tenha transitado em julgado.
. Art. 29º/4, 2ª parte – o Tribunal Constitucional no Acórdão 677/98 considerou inconstitucional a
parte final do art. 2º/4 CP, pois o art. 29º/4 da CRP não estabelece esta ressalva do caso julgado.

Alínea e):

. É um problema de lei penal intermédia – art. 2º/4, 1ª parte CP e art. 29º/4 CRP.
. A lei penal intermédia é a lei que entra em vigor após a prática de um facto e cujo momento de
cessação de vigência ocorre antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
. A vai ser julgado segundo a L2, pelo princípio da imposição da retroactividade mais favorável- neste
caso a lei penal mais favorável era a L2.
. A lei penal intermédia mais favorável tem a característica de ser retroactiva e ultractiva (produz os
seus efeitos depois de ter cessado a sua vigência). É ultractiva pois proíbe a aplicação da
retroactividade menos favorável.

L1 Facto L2 L3(=L1) julgamento

Pena até Janeiro Fevereiro Março Abril


3 anos Art. 3º ( pena até
(Momento 2anos)
da prática
do facto)
Alínea f):

L1 Facto L2

Pena até Pena até 4 anos


3 anos + atenuação

. Temos duas distinções: distinção do Prof. Taipa de Carvalho


1) Ponderação concreta / ponderação abstracta;
2) Ponderação unitária / ponderação diferenciada.

1) a ponderação concreta é feita no caso concreto, a passo que a ponderação abstracta é feita
sem qualquer caso concreto, só tem em atenção a lei penal.
2) A ponderação unitária é aferir o regime mais favorável numa só lei penal, ao contrário da
ponderação diferenciada em que se retira das várias leis penais os elementos mais
favoráveis da duas e conjuga-se ambos.

. Neste caso temos uma atenuação especial (art. 73º/1, al. a) CP ) – vai-se reduzir 1/3 , ou seja vai-se
reduzir 1 ano e 4 meses aos 4 anos o que dá 2 anos e 8 meses, logo teremos que aplicar a L2 pois no
caso concreto é a mais favorável (ponderação concreta e unitária).
. Art. 2º/4 CP e 29º/4 CRP – está em causa o princípio da imposição da lei penal mais favorável.
. Se estivessemos perante uma ponderação diferenciada, teríamos que retirar a atenuação especial da
L1 e o limite de 3 anos da L2 – aplicando isto ao art. 73º/1, al.a) – ficaríamos com uma pena de 2
anos.
. Se não houvesse atenuação especial aplicava-se a L1, pois o regime desta lei é mais favorável (são 3
anos em vez de 4 anos).

Alínea g):

. Estamos perante um problema de leis temporárias – art. 2º/3 do CP – mesmo que o facto tenha
ocorrido durante a vigência de uma lei temporária, mas só venha a ser julgado após a cessação da sua
vigência aplica-se o regime da lei temporária.
. Assim A seria julgado de acordo com a lei crida pela AR.
. Mas será que esta solução não entra em confronto com o princípio da imposição da retroactividade
mais favorável consagrado no art. 29º/4 da CRP ? – o Prof. Figueiredo Dias diz que é possível
harmonizar as duas coisas. Esta solução será legítima desde que o fundamento da lei temporária seja
uma alteração factica no conjunto da sociedade e não uma alteração valorativa ( ex.: uma catástrofe) .

Alínea h):

. A norma inconstitucional de conteúdo mais favorável ao arguido não deve ser aplicada.
. Fundamentação do artigo do Prof. Rui Pereira:
1) Está em causa o princípio da constitucionalidade (art. 3º/3 CRP – “demais actos do
Estado” – inclui os actos jurisdicionais) e o princípio da lei penal mais favorável.
Prof. Jorge Miranda diz que se deve aplicar a lei penal mais favorável ao arguido ainda
que esta seja inconstitucional.
2) Deve prevalecer a constitucionalidade , pois a Constituição é o fundamento dos outros
princípios, nomeadamente o da legalidade (art. 29º/4)
3) Art. 16º/1, 2ª parte e art. 17º/1 CP – só se aplica nos casos onde existe despenalização;
para os casos onde existe alteração da pena aplica-se o art. 72º e 73º.

. A será julgado segundo a primeira lei ( as normas do Código Penal). Admitindo que ele desconhecia a
inconstitucionalidade e conhecia a existência da lei mais favorável está em erro (erro provocado pelo
legislador ) – a conduta é axiológicamente relevante, logo temos que aplicar o art. 17º/1 Aplicamos o
nº1 e não o nº2 porque o erro não lhe é censurável, pois ele não tinha que saber que a norma era
inconstitucional – a culpa está excluída.
Alínea i):

. Art. 3º - o facto foi praticado no momento da conduta, e nesse altura a lei remetia para o referendo.
. Estamos perante o princípio da proibição da retroactividade desfavorável – art. 2º/1 CP e art. 29º/3
CRP.
. A não pode ser punido.

Alínea j:

. A não pode ser julgado segundo esta lei pois ela ainda não entrou em vigor (nunca pode ser
retroactiva).
I

José, engenheiro civil é acusado pelo MP de ter praticado o crime previsto no art. 277.º CP,
com os seguintes fundamentos:
a) No dia x a ponte ruiu sem que o arguido tivesse feito algo para o evitar.
b) Violação de uma regra técnica que ditava para aqueles casos o reforço do pilar, a qual era
reconhecida na maioria dos manuais da especialidade.
c) O tribunal entendeu que essa regra não vigora, mas também não deu provimento à
alegação do arguido de que a norma pelo qual vinha acusado era inconstitucional.

 Estamos aqui perante um problema conhecido como «norma penal em branco».


Com efeito estas são na acepção do prof. Cavaleiro Ferreira, aquela em que falta
inicialmente o preceito primário; comunica-se a sanção para um infracção cujos
elementos constitutivos só parcial, e não totalmente, estão definidos no preceito primário.
Assim, estaremos na presença de uma regra que cinde entre a norma de comportamento,
com origem, em regra, noutras leis e até em outros ordenamentos que não o penal, e a
norma que contém a ameaça penal.
 Contudo, esta simples cisão, como bem denota o Prof. Figueiredo Dias, não
acarreta necessariamente inconstitucionalidade, «pois nada obriga à conexão, na mesma
lei ou no mesmo preceito legal, da conduta proibida com a pena que lhe corresponde».
Ora, o que se exige da lei formal é que nesta radique a norma penal sancionatória, e já não
o acto de fundamentação constitutiva da punibilidade.
Como afirma a Prof. Maria Palma, exige que a norma remetida apenas execute o
conteúdo da norma remissiva, não criando um critério autónomo, salvando-se assim, o
núcleo essencial desta norma (desvalor da acção proibida, desvalor do resultado lesivo e o
bem jurídico que se protege).

II

Carlos partiu a montra de uma mercearia entra na mesma e subtraiu diversos produtos de
charcutaria.
O MP acusa-o de fruto qualificado (art. 204.º, al. e)).
O tribunal entendeu não aplicar a disposição legal porque o art. 202.º, al. d) fala em
arrombamento apenas para habitações, entendendo que uma mercearia não o é.
Contudo condenou-o ao abrigo do art. 204.º, al. f).

 Estamos neste caso no campo da interpretação e da proibição de analogia. Com efeito, trata-se
de verificar se dentro da hermenêutica interpretativa, que não extravase os elementos literal e
teleológico da norma, conseguimos encaixar a definição casa a um estabelecimento comercial.
Com efeito, nada parece impedi-lo, no sentido de que casa não será somente propriedade
horizontal ou rústica, mas também uma casa de comércio, jogo ou afim.
 Proíbe-se pois, e apenas, o uso de argumentos de semelhança entre casos regulados na lei e
casos não regulados na lei substancialmente diferente.

III

Inicio do LN1 Aborto LN2 Julgamento


Sequestro

LN1: penaliza o sequestro, como qualificado, se for para impedir depoimento


LN2 penaliza o sequestro como qualificado, se ocorrer aborto

Não aplicamos a LN2 pois todos os pressupostos da LN2 não estão reunidos para se aplicar ( art. 2.º,
n.º1 CP). Não aplicamos a LN1 porque o legislador entendeu que o sequestro para impedir depoimento
já não é punível (art. 2.º, n.º2 CP).
RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS
APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

CASO 1

Alínea a):

. De acordo com o art. 7º/1 do CP temos dois critérios para aferir o local da prática do facto ( locus
delitti ):
1) Lugar em que o agente actuou;
2) Lugar em que o resultado típico se tiver produzido.
. Este artigo contém um critério da ubiquidade.
. Assim a conduta de A foi praticada em Espanha, mas o resultado (morte de B) verificou-se em
Portugal. O facto considera-se praticado em Portugal.
. Depois de aferirmos o local da prática do facto vamos ver se a lei portuguesa é ou não espacialmente
aplicável – art. 4º/al. a) – “ a lei penal portuguesa é aplicável aos factos praticados em território
português…”. Neste artigo está presente o princípio da territorialidade.
. A lei portuguesa é espacialmente competente.

Alínea b):

. Começamos por aferir o local da prática do facto (locus delitti) – art. 7º/1 – “lugar em que o agente
actuou” foi na Austrália e “ lugar em que o resultado típico se tiver produzido” foi também na
Austrália. Assim, o facto considera-se praticado na Austrália.
. Nenhum dos dois critérios considera que o facto foi praticado em Portugal, logo afastamos o princípio
da territorialidade presente no art. 4º ( a lei penal portuguesa não é aplicável).
. Mas pode ainda existir competência da lei penal portuguesa pelo art. 5º. Neste caso a “lei penal
portuguesa é ainda aplicável” – al. a): “aos factos cometidos fora do território nacional, quando
constituírem crimes previstos nos arts. … 327º ” (trata-se de um atentado contra a vida do Presidente
da República).
. O art. 5º/1, al. a) que consagra o princípio da defesa dos interesses nacionais atribui competência à lei
penal portuguesa.
. O Prof. Taipa de Carvalho diz que alíneas do art. 5º são aplicadas sequencialmente e
subsidiariamente .

Alínea c:

A) . Começamos por determinar o local da prática do facto (locus delitti) plasmado no art. 7º/1 – temos
então dois critérios: “lugar em que o agente actuou” e “local onde o resultado típico se produziu”.
. Ambos os critérios consideram que o facto foi praticado na Indonésia, e não em Portugal.

B) . Não tendo sido o facto praticado em Portugal não podemos aplicar o art. 4º/1, al. a) – princípio da
territorialidade (a lei penal portuguesa não é aplicável).

C) . Como o facto foi praticado fora do território nacional a lei penal portuguesa ainda pode ser
aplicável pelo art. 5º. Não aplicamos as alíneas a) e b), porque o crime não se encontra previsto
em nenhum dos artigos enunciados nas alíneas.
. Art. 5º/1, al. c), 1º parte – “ por portugueses contra portugueses” - contém o princípio da
nacionalidade activa. Este artigo tem três pressupostos de aplicação previstos nos seus epítetos,
pressupostos esses que são cumulativos:
I) agente encontrara-se em Portugal;
II) factos serem puníveis no local onde o facto foi praticado;
III) constituir crime que admita extradição e esta não possa ser concedida.

I) O indivíduo encontra-se em Portugal como diz o caso prático


II) O caso nada nos diz, mas vamos pressupor que como se trata de um homicídio também
será punível na Indonésia.
III) . O epíteto contém duas partes:
1) . 1ª parte do epíteto: para vermos se o crime admite ou não extradição temos que
recorrer ao art. 33º/3 CRP conjugando-o com a Lei 144/99 de 31 de Agosto.
. De acordo com o art. 7º/1, al. a) e b) da Lei 144/99 não pode haver extradição
quando o “processo respeitar a facto que constituir”; “infracção de natureza
política”; e “crime militar”.
. Assim temos dois casos que não admitem extradição:
● infracção de natureza política;
● crimes militares.
. Tirando estes casos a extradição é sempre admitida. No caso concreto o crime
admitia extradição, pois não se enquadra em nenhum dos casos do art. 7º/1, als. a)
e b) da Lei 144/99 .

2) . 2ª parte do epíteto: temos que verificar se a extradição não pode ser concedida.
. Para vermos isso temos que recorrer ao art. 32º/1, al. b) da Lei 144/99 conjugado
com o nº 2 do mesmo artigo – “ a extradição é excluída quando a pessoa reclamada
tiver nacionalidade portuguesa”, salvo os casos do nº 2.
. No caso concreto a extradição não podia ser concedida

SOLUÇÃO: Visto que estão verificados todos os pressupostos do art. 5º/1, al. c) poderíamos aplicar o
artigo chegando à conclusão que a lei portuguesa é espacialmente aplicável.

. Para completar o caso poderíamos ainda referir mais dois pontos:


D) . Quando o caso diz que A foge imediatamente para Portugal podemos concluir que ele não
foi julgado na Indonésia, pois de acordo com o art. 29º/5 da CRP “ninguém pode ser julgado
pelo mesmo crime mais do que uma vez”. Este elemento torna-se importante devido à
aplicação do art. 6º/1 CP – “ a aplicação da lei portuguesa a factos praticados fora do
território nacional só tem lugar quando o agente não tiver sido julgado no país da prática do
facto” – A fugiu imediatamente não tendo sido julgado no país da prática do facto.
. Neste caso este artigo só vem confirmar a aplicação da lei penal portuguesa.

E) . Caso a lei penal da Indonésia fosse mais favorável ao arguido ele seria julgado de acordo
com essa lei – art. 6º/2 CP.

Alínea d):

. A) . Começamos por determinar o local da prática do facto (locus delitti) plasmado no art. 7º/1 –
temos então dois critérios: “lugar em que o agente actuou” e “local onde o resultado típico se
produziu”.
. Ambos os critérios consideram que o facto foi praticado na Indonésia, e não em Portugal.

B) . Não tendo sido o facto praticado em Portugal não podemos aplicar o art. 4º/1, al. a) – princípio da
territorialidade (a lei penal portuguesa não é aplicável).

C) . Como o facto foi praticado fora do território nacional a lei penal portuguesa ainda pode ser
aplicável pelo art. 5º. Não aplicamos as alíneas a) e b), porque o crime não se encontra previsto
em nenhum dos artigos enunciados nas alíneas.
. Art. 5º/1, al. c), 1º parte – “ por portugueses contra portugueses” - contém o princípio da
nacionalidade activa. Este artigo tem três pressupostos de aplicação previstos nos seus epítetos,
pressupostos esses que são cumulativos:
I) agente encontrara-se em Portugal;
II) factos serem puníveis no local onde o facto foi praticado;
III) constituir crime que admita extradição e esta não possa ser concedida.

I) O indivíduo encontra-se em Portugal como diz o caso prático


II) O caso nada nos diz, mas vamos pressupor que como se trata de um homicídio também
será punível na Indonésia.
III) . O epíteto contém duas partes:
1) . 1ª parte do epíteto: para vermos se o crime admite ou não extradição temos que
recorrer ao art. 33º/3 CRP conjugando-o com a Lei 144/99 de 31 de Agosto.
. De acordo com o art. 7º/1, al. a) e b) da Lei 144/99 não pode haver extradição
quando o “processo respeitar a facto que constituir”; “infracção de natureza
política”; e “crime militar”.
. Assim temos dois casos que não admitem extradição:
● Infracção de natureza política;
● Crimes militares.
. Tirando estes casos a extradição é sempre admitida. No caso concreto o crime
admitia extradição, pois não se enquadra em nenhum dos casos do art. 7º/1, als. a)
e b) da Lei 144/99 .

2) . 2ª parte do epíteto: temos que verificar se a extradição não pode ser concedida.
. Para vermos isso temos que recorrer ao art. 32º/1, al. b) da Lei 144/99 conjugado
com o nº 2 do mesmo artigo – “ a extradição é excluída quando a pessoa reclamada
tiver nacionalidade portuguesa”, salvo os casos do nº 2.
. No caso concreto a extradição não podia ser concedida

. Visto que estão verificados todos os pressupostos do art. 5º/1, al. c), poderíamos concluir que a lei
portuguesa seria espacialmente aplicável e que A podia ser julgado em Portugal. Mas temos neste caso
uma restrição à aplicação da lei portuguesa (art. 6º/1) – A não pode ser julgado em Portugal pois já foi
julgado em Jacarta.
. Assim a lei penal portuguesa não é espacialmente competente.

Alínea e):

. A resolução é totalmente igual à alínea d), com excepção do fundamento do art. 6º/1. Aplica-se
também o art. 6º/1 mas para concluir que de acordo com a parte final do artigo A se “subtraiu
parcialmente ao cumprimento da pena”.
. Concluímos que a lei portuguesa é espacialmente competente pois A praticou o facto fora do território
português e subtraiu-se ao cumprimento da pena.
. Mas será que esta solução não viola o art. 29º/5 CRP?- o Prof. acha que formalmente existe uma
violação, mas que materialmente poderíamos dizer que o art. 29º/5 CRP abarca os casos de dupla
punição e não de duplo julgamento. Poderíamos ter dois julgamentos desde que não tivéssemos duas
penas para o mesmo crime. A dupla punição é de qualquer modo evitada pelo art. 82º CP – a pena já
cumprida no estrangeiro é descontada à pena aplicada em Portugal.
. De acordo com o art. 6º/2 CP a lei indonésia não podia ser aplicada pois é menos favorável ao
arguido, pois consagra mais anos de prisão.

Alínea f):

. Art. 7º/1 – crime foi praticado em Urano – logo não foi praticado em território português (art. 4º) –
não podemos aplicar o princípio da territorialidade.
. Mesmo assim a lei penal portuguesa pode ser competente, pelo art. 5º.
. Não aplicamos as alíneas a) e b) do art. 5º, pois os crimes não se encontram previstos nos artigos
mencionados.
. Aplicamos o art. 5º/1, al. c) – principio da nacionalidade passiva – “ crime praticado por estrangeiros
contra portugueses…”. Começamos por verificar se os pressupostos estão preenchidos:
I) A reside em Portugal ;
II) o pressuposto está preenchido. Apesar do facto não ser punível em Urano, lá
também não existe poder punitivo – “salvo quando nesse lugar não se exercer poder
punitivo”.
O Prof. Figueiredo acha que quando está em causa a salvaguarda do inciso II não
vamos discutir o inciso III, pois como não existe poder punitivo também não pode
haver extradição.
. Assim a lei penal portuguesa é espacialmente competente.
. Eventualmente poderá discutir-se o art. 6º, mas também não fará muito sentido visto que não existe
poder punitivo.
Alínea g):

. Art. 7º/1 – crime foi praticado em Urano – logo não foi praticado em território português (art. 4º) –
não podemos aplicar o princípio da territorialidade.
. Mesmo assim a lei penal portuguesa pode ser competente, pelo art. 5º.
. Não aplicamos as alíneas a) e b) do art. 5º, pois os crimes não se encontram previstos nos artigos
mencionados.
. Também não aplicamos a al. c) pois o crime foi praticado por um estrangeiro contra um estrangeiro.
. Na alínea d) está em causa o princípio da extensão da nacionalidade – o crime tem que ser praticado
por português contra um português e neste casos foi praticado por um estrangeiro contra um
estrangeiro.
. Na alínea e) está em causa o princípio da administração supletiva da justiça penal – este princípio foi
introduzido com a revisão de 1998 para evitar que o indivíduo não fosse punido sempre que não
houvesse lugar à extradição. Esta alínea tem cinco requisitos:
1) “por estrangeiro” – A ( subentende-se que o crime tem que ser praticado por estrangeiro
contra estrangeiro);
2) “encontrados em Portugal”- A reside em Portugal;
3) “ tenha sido requerida” – o caso nada diz, mas vamos pressupor que sim;
4) “ crime que admite extradição” – como o crime não é de natureza política ou militar ( art.
7º/1, al. a da Lei 144/99) admite extradição;
5) “extradição não pode ser concedida” – porque estamos perante uma pena de morte (art.
33º/6 CRP conjugado com o art. 6º/1, al. e) da Lei 144/99 ).

. Todos os requisitos estão preenchidos, logo aplicamos o art. 5º/1, al. e) que atribui competência
espacial aos tribunais portugueses, mas só no caso da Indonésia formular o pedido de extradição. Caso
não o fizesse os tribunais portugueses não serão competentes.
. Art. 6º/1 – não vem afastar a competência dos tribunais portugueses, porque ele não foi julgado na
Indonésia.
. Art. 6º/2 – a lei penal indonésia também não é mais favorável, pois existe pena de morte.

CASO 2

. De acordo com o art. 7º/1, o lugar da prática do facto ( locus delicti ) é a Indonésia, pois é o lugar
onde o agente actuou e em princípio onde o resultado típico se irá produzir.
. A lei penal portuguesa não é espacialmente competente pelo art. 4º/1, al. a) – princípio da
territorialidade – pois o facto foi praticado na Indonésia.
. Vamos depois averiguar se a competência da lei portuguesa se estende pelo art. 5º. Não podemos
aplicar a alínea a) – princípio da defesa dos interesses nacionais - pois o crime de lenocínio não se
encontra previsto em nenhum dos artigos aí elencados. Aplicamos a alínea b) – princípio da
universalidade - pois o crime de lenocínio está previsto no art. 176º, que se encontra elencado na
alínea b).
. Mas para aplicarmos esta alínea é necessário que estejam verificados mais dois pressupostos: o
primeiro é que o indivíduo se encontre em Portugal, o que é o caso visto que a hipótese o refere
expressamente; o segundo pressuposto, é que a extradição não possa ser concedida.
. Temos que recorrer-nos da Lei 144/99, no seu art. 32º/1, al. b), para constatarmos que a extradição
não podia ser concedida, pois estamos perante uma pessoa que tem nacionalidade portuguesa.
. Estando todos os requisitos preenchidos, concluímos que a lei penal portuguesa é espacialmente
competente pelo art. 5º/ al. b).
. Por último vamos verificar se nenhum dos números do art. 6º retira competência aos tribunais
portugueses. O nº1 não o faz, pois ele não foi julgado na Indonésia. O nº2, também não retira
competência aos tribunais portugueses, porque para a lei do pais da prática do facto ser mais favorável,
tem que existir lei que puna, e neste caso o lenocínio não é punido na Indonésia.
CASO 3

. De acordo com o art. 7º/1, o lugar da prática do facto ( locus delicti ) é a Indonésia, pois é o lugar
onde o agente actuou e em princípio onde o resultado típico se irá produzir.
. A lei penal portuguesa não é espacialmente competente pelo art. 4º/1, al. a) – princípio da
territorialidade – pois o facto foi praticado na Indonésia.
. Vamos depois averiguar se a competência da lei portuguesa se estende pelo art. 5º. Não podemos
aplicar a alínea a) – princípio da defesa dos interesses nacionais - pois o crime de lenocínio não se
encontra previsto em nenhum dos artigos aí elencados.
. Também não aplicamos a alínea b) – princípio da universalidade - pois o crime não se encontra
elencado nos artigos aí referidos.
. Quanto à alínea c) – princípio da nacionalidade ( a nacionalidade passiva não interessa pois não foi
praticado por um estrangeiro contra um português, o que interessa é a nacionalidade activa, pois o
crime foi praticado por um português ) – vamos verificar os pressupostos:
1. Agente encontrado em Portugal – está verificado, pois eles regressaram a Portugal.
2. Punidos pela legislação do lugar em que tiverem sido praticados – não está verificado,
pois a bigamia não é punível na Indonésia.

. Como os critérios são cumulativos e um deles não está verificado, não podemos aplicar a alínea c).
. Relativamente à alínea d) – princípio da extensão da nacionalidade – vamos verificar os requisitos:
1) Contra portugueses, por portugueses – está verificado, pois A e B são portugueses.
2) Vivam habitualmente em Portugal ao tempo da prática do facto – quem tem que viver em
Portugal é o agente e não a vítima. O pressuposto está verificado, pois B vivia em
Portugal ao tempo da prática do facto.
3) Aqui forem encontrados – também está verificado, pois eles regressaram a Portugal.

. Visto que todos os pressupostos estão verificados, a lei penal portuguesa é espacialmente competente
pelo art. 5º/1, al. d).
. Por último vamos verificar se nenhum dos números do art. 6º retira competência aos tribunais
portugueses. O nº1 não o faz, pois ele não foi julgado na Indonésia. O nº2, também não retira
competência aos tribunais portugueses, porque para a lei do pais da prática do facto ser mais favorável,
tem que existir lei que puna, e neste caso a bigamia não é punida na Indonésia.
CASO PRÁTICO

António, francês, fugindo armado para Portugal alveja, em território espanhol, às


23:55h do dia 17, um guarda fronteiriço português, que tentava impedi-lo, o qual vem a falecer
horas depois.
Passada a fronteira para Portugal, vendo que a guarda fronteiriça espanhola quase o
alcança, António dispara de novo às 0:05h do dia 18 e mata dois guardas fronteiriços espanhóis.
Sendo certo que no dia 18 entra em vigor uma lei que pune mais gravemente estes casos
de homicídio como deve o tribunal português apreciar a responsabilidade jurídico penal de
António.

RESOLUÇÃO:

1) Quanto ao primeiro homicídio:

a) Aplicação da lei penal no espaço:


De acordo com o art. 7º/1 CP, o local da prática do facto (locus delicti) é o local onde o
agente actuou ou o local onde o resultado típico se produziu – critério da ubiquidade. O
local onde o agente actuou foi em Espanha e o local onde o resultado típico se produziu foi
em Portugal.
Como basta que um dos critérios esteja preenchido para que os tribunais portugueses sejam
espacialmente competentes, neste caso eles são espacialmente competentes pelo art. 4º/1,
al. a) – princípio da territorialidade – pois o facto foi praticado em território português.
Não faz sentido aplicar o art. 6º, pois este artigo está pensado para os casos em que se
aplica o art. 5º, ou seja, os casos em que os tribunais portugueses são espacialmente
competentes por um critério extra – territorial.
Não existem crimes continuados no caso de crimes eminentemente pessoais.

b) Aplicação da lei penal no tempo:


De acordo com o art. 3º (tempus delicti) – o facto considera-se praticado no momento em
que o agente actuou, ou seja na vigência da lei de dia 17.
Posteriormente entra em vigor uma lei que pune mais gravemente os casos de homicídio (a
lei do dia 18).
Estamos perante um problema de sucessão de leis penais.
O agente terá que ser julgado pela lei de dia 17 devido ao princípio da proibição da
retroactividade menos favorável ao arguido (art. 29º/4, 1ª parte CRP e art. 2º/1 CP).

2) Quanto ao segundo e terceiro homicídio:

a) Aplicação da lei penal no espaço:


De acordo com o art. 7º/1 CP, o local da prática do facto (locus delicti) é o local onde o
agente actuou ou o local onde o resultado típico se produziu – critério da ubiquidade. O
local onde o agente actuou foi em Portugal e o local onde o resultado típico se produziu foi
em Espanha.
Como basta que um dos critérios esteja preenchido para que os tribunais portugueses sejam
espacialmente competentes, neste caso eles são espacialmente competentes pelo art. 4º/1,
al. a) – princípio da territorialidade – pois o facto foi praticado em território português.

b) Aplicação da lei penal no tempo:


De acordo com o art. 3º (tempus delicti) – o facto considera-se praticado no momento em
que o agente actuou, ou seja na vigência da lei de dia 18.
Assim aplica-se a lei do dia 18, mesmo que a lei anterior seja mais favorável ao arguido,
pois a facto foi praticado na vigência da lei do dia 18.
Só iríamos considerar uma lei mais favorável para este caso, se posteriormente viesse a
entrar em vigor uma nova lei.
Casos práticos 1

. Em primeiro lugar cabe determinar o lugar da prática do facto. Com efeito, temos para isso que
recorrer ao art. 4.º e 7.º C.P. Verificamos que o facto não pode ser reputado a Portugal (o agente actuou
e o resultado aconteceu em Espanha).
. Trata-se assim de facto praticado fora do território português, cabendo ver se podemos aplicar o art.
5.º.
. Neste caso não faria sentido aplicarmos o art. 5.º, n.º1, al. c) C.P., pois o facto não é punido em
Espanha (aborto voluntário). Contudo, e seguindo a posição da Prof. Maria Palma, podemos aplicar o
art. 5.º, n.º1, al. d) («o facto do aborto consentido proibido ter como objecto da acção o feto e o bem
jurídico vida intra-uterina, são ainda interesses da comunidade que são afectados. A vida intra-uterina
de «futuro cidadão português» … justifica-se por um interesse objectivo da comunidade. Trata-se de
interpretação sistemática, referindo-se o crime a toda a sociedade, isto é, a todos os portugueses»).

. Também aqui o facto não foi praticado em território nacional. Com efeito, temos para isso que
recorrer ao art. 4.º e 7.º C.P. Verificamos que o facto não pode ser reputado a Portugal (o agente
actuou e o resultado aconteceu em Inglaterra).
. Temos de ver se podemos aplicar o art. 5.º CP. Desde logo revela a identificação da nacionalidade
com que Cathy praticou o facto, sendo que devemos considera-la inglesa para esses efeitos.
. Em seguida vamos ao art. 5.º, às suas diversas alíneas de modo a ver se a lei portuguesa será
aplicável. As als. a), b), c) e d) não são aplicáveis. Temos depois a al. e), a qual se encontra preenchida
nos seus pressupostos. Por conseguinte, e quanto à ultima parte desta al., a extradição pode ser
concedida, desde que estejam preenchidos os requisitos do n.º2, do art. 32.º da Lei 144/99 e 33 da
CRP, tendo em conta que ela será considerada nacional para efeitos da extradição (art. 32.º, n.º6 da
Lei 144/99).

. O lugar da prática do facto não é em território nacional. Com efeito temos de recorrer ao art. 5.º CP.
. As als. a) e b) não se aplicam. A al. c) levanta dúvidas quanto à sua possível aplicação: acto cometido
por nacional (personalidade activa), encontrado em Portugal; Facto punível pela legislação do lugar em
que tiver ocorrido; constitui crime que admite extradição; contudo esta pode ser concedida (art. 32.º,
n.º, da LEI 144/99 e 33.º CRP). Ora, o importante, é o sentido a dar à expressão do segundo parágrafo
do art. 5.º, al. c) CP: «… nesse lugar não se exercer profissão». Dado que à data da prática do crime o
facto era punível devemos afastar esta previsão. Contudo, a solução material, é-nos dada pelo art. 6.º,
n.º2 CP, na medida em que a lei mais favorável, alemã, absolverá Diana do crime, pelo que nos
interrogamos se fará sentido sequer, haver procedimento criminal contra Diana.

. Desde logo cabe determinar onde o facto foi praticado. Temos para nós que a solução correcta é a da
prática do facto ter sido em Espanha mas, por os efeitos da burla se situarem em Portugal
(empobrecimento de Efigénio), a lei portuguesa ser aplicável (arts. 4.º, al. a) e 7.º, n.º1 CP que
consagra uma teoria mista em que se atende ao lugar da conduta e do resultado).
. Contudo, e dado o respeito necessário que o princípio «ne bis idem» implica (art. 6.º, n.º1 CP e 29.º,
n.º5 CRP), Dorita não poderia ser julgado em Portugal.
Caso da Natasha

. Temos de determinar o tempus delicti (art. 2.º, n.º1 e 3.º CP). O que releva é o momento da prática do
facto e não o resultado. Assim, Natasha actuou entre 15 e 25 de Janeiro. Com efeito, o momento da
prática do facto será o do dia em que Martina toma o comprimido que lhe é fatal, por exemplo, o 5
comprimido, dia 20 de Janeiro.
. Ora temos pois de seguir a doutrina do Prof. Figueiredo Dias e Taipa de Carvalho: «a aplicação da lei
nova (mais grave), só pode suceder quando a totalidade dos pressupostos da lei nova se tenham
verificado na vigência desta».
. Assim, e tendo em conta que neste caso só houve um crime (instantâneo) de homicídio, Natasha será
julgada pela lei antiga, ou seja por homicídio e não por homicídio qualificado.
. Pensemos, agora no caso de o comprimido fatal ter sido ingerido dia 23. Neste caso e dado que a
totalidade dos pressupostos da lei nova se encontram preenchidos, Natasha é julgado pela lei nova.

Façamos a distinção entre:

3. Crime instantâneo: a acção ou resultado esgota-se num só momento.


4. Crime permanente ou duradouro: a situação de execução prolonga-se no tempo
por vontade do executante (por exemplo, sequestro).
5. Crime Continuado: Situação de pluralidade de comportamentos (por exemplo,
um dia passo no armazém e roubo uma garrafa, no outro dia roubo outra, etc).
Contudo, implica-se que haja algo que lhe incite o comportamento ilícito, e por
isso a culpa seja diminuída (não há crime continuado que proteja bem jurídico
eminentemente pessoal).
Caso 1

A questão em apreço prende-se com o identificar da existência ou não existência de uma


acção/omissão. Para o Prof. Figueiredo Dias temos como conceito valorativo de acção a criação ou
aumento do risco para um determinado bem jurídico, e como omissão atenuação ou extinção de um
comportamento que diminui o perigo para o bem em causa.

a) Trata-se de uma situação de interrupção do processo causal que conduziria ao salvar do bem jurídico
em causa. Trata-se por isso de uma omissão.
b) Neste caso o processo de salvamento já estaria na disponibilidade da esfera jurídica do irmão de A.
Portanto, temos uma acção.
c) aqui temos uma acção.

Caso 2

Trata-se de uma omissão livre na causa. O agente coloca-se numa situação de não actuação de
forma propositada.

Caso 3

Acção de Bernardo.

Caso 4

Estamos aqui no caso de uma omissão impura (art. 10.º), estando deste modo, em causa um
dever de garante (deveres de protecção e assistência e deveres de vigilância de uma fonte de perigo).

a) A Prof. Fernanda Palma entende só haver dever de garante onde tenha havido uma auto
vinculação especifica do agente. Ora neste caso, trata-se de um estranho que ao passear no
jardim, não se vinculou, por essa simples acção ao salvamento de pessoas que estejam a
morrer dentro do lago.
b) Neste caso existe claramente dever de garante, por via dos deveres de assistência e auxilio, a
que estão vinculados pais e filhos (art. 1874.º).
c) Aqui é mais discutível que houvesse dever de garante. Como dissemos acima, este baseia na
proximidade de relações familiares, ora um primo afastado dificilmente apresenta este tipo de
relações.
d) Neste caso existe dever de garante. O guarda vincula-se através de um contrato à protecção de
bens jurídicos dos transeuntes do parque. Ora, o fundamento é a materialidade subjacente ao
dever assumido pelo guarda, dever que impende sobre este de forma pessoal
e) Aqui a situação é diferente. A vinculação é para com a limpeza do parque e não segurança,
pelo que tende a não haver dever de garante.
f) A mesma situação de d).
g) Trata-se de um caso de ingerência, ou seja, criação de um perigo por um agente em relação a
outro, pelo que havendo, perigo relevante, não permitido, e violação de uma norma de
protecção, a pessoa que criou o perigo tem o dever de o remover.
h) Tem o dever de vigiar a Berta, e desse modo tem dever de garante.
i) Tem o dever de vigiar a Berta, e desse modo tem dever de garante.

Duas notas finais para chamar a atenção para o facto de que todos os casos práticos que foram
resolvidos de modo a que não houvesse dever de garante, não estamos a incluir as teorias da
desproporção dano/sacrifício do agente (não) vinculado ao dever de garante (Prof. André Leite), ou a
teoria do monopólio absoluto dos meios de salvamento (situação de domínio sobre estes) defendida em
certa medida pelo Prof. Figueiredo Dias.

Homicídio por omissão (art. 10.º) / art. 284.º / art. 200.º


Médico que está em campo para socorrer os atletas tem dever de garante; Arbitro/médico
dermatologista/cardiologista, não tem dever de garante se estiver a arbitrar, mas o 1.º se nada faz é
punido pelo 200.º e o segundo pelo 284.º.
Caso 5

Trata-se de um caso de comunidade de perigo. O Prof. Figueiredo Dias avança a possibilidade


de existência de Dever de Garante por relação de proximidade entre os agentes e efectiva existência de
perigo para o bem jurídico.

Realce para que em casos de Estado de Necessidade e Legitima Defesa, apesar do risco criado
ser em regra proibido, permite que este ocorra, pois estão em causa bens manifestamente superiores em
causa. Contudo, isso não apaga o dever de garante (se a minha casa está a arder, e eu entro em casa do
vizinho para agarrar na mangueira, fico responsável por não deixar a mangueira aberta para não alagar
a casa deste).
Tipicidade – Imputação objectiva

I
Criação de um risco proibido

1)

2) Segundo a teoria do risco, C não aumenta nem cria um risco proibido, apenas diminui esse
mesmo risco pelo que não há imputação objectiva.

3) Por regra conduzir automóveis, seguindo todas as regras de trânsito não cria ou aumenta um
risco. Aliás, conduzir, por si só é um risco, mas um risco permitido, desde que dentro dos
limites definidos pela lei.

O Prof. adiantou o conceito de auto-responsabilização, como instituto que afasta a imputação


objectiva (por exemplo, um drogado que compra droga, será que o fornecedor é imputável se ele
morrer de excesso de consumo? Não porque existe uma auto-responsabilização do agente quando
consume este tipo de produtos).

II
Concretização do risco proibido

a) Causalidade

4) Temos aqui um problema de causa eventual e de causa real. Independente da causa eventual a
causa real tem de ser imputada.

5) A morte não pode ser imputada à acção de I.

6) Como dissemos antes, o critério que o Prof. Figueiredo Dias utiliza é o da institucionalização
de um risco proibido:
1. Criação de um risco proibido (comportamento apto a produzir um dano a um bem
jurídico).
2. Resultado (dano) como materialização da acção.
3. Verificação de possíveis desvios no processo causal.

b) Esfera de protecção

7) Conduzir é um risco tolerado pela ordem jurídico, desde que seja feito dentro dos limites da
lei. Contudo, o objectivo de impedir a condução pela faixa da esquerda é a da protecção de
veículos e peões através da ordenação do tráfego, e não a protecção de pessoas que caem de
árvores. O objectivo é ver se o risco criado é contrário à finalidade que a norma visa proteger.

8) Este tipo de caso envolve a actuação de terceiro e a necessidade de distinguir as formas de


negligência: leve ou grosseira. Se a negligência do médico for leve, o dano deve ser imputado
à conduta do automobilista, sendo a morte a causa típica do acidente. Já se a negligência do
médico foi grosseira deve ser interrompida a imputação objectiva.

9) Estamos no campo do comportamento lícito alternativo. Ora, aqui este não teria relevância,
pois mesmo que o médico anestesista tivesse dado a anestesia correcta, ainda assim o doente
teria morrido.

10) a) Aqui temos um caso de causa hipotética. Esta não interrompe a imputação objectiva.
b) Aqui temos mais um caso de comportamento lícito alternativo. Neste caso temos mais
dúvidas quanto à sua viabilidade. Ora, podemos perguntar se quer a adopção do
comportamento lícito quer do ilícito, isso não resultaria sempre na lesão do bem em causa
(nesse caso a violação do bem não seria devida ao ilícito mas ao comportamento).
Para o Dtr. João Viana a dúvida razoável é suficiente para interromper a imputação objectiva.
Para o Prof. Roxin, a questão é saber se o agente aumentou o risco de tal forma que diminui a
base de salvaguarda do bem, a simples dúvida não serve para afastar a imputação objectiva.
Tipicidade – Imputação subjectiva

1) O dolo pressupõe a existência de dois elementos: cognitivo (saber/conhecer) e volitivo


(querer).
Assim, neste caso, não temos uma situação de dolo, pois falta o elemento cognitivo, com o
qual o agente representa a realidade e conforma a acção. Mas isso não significa que Z ficaria
impune, ele seria punido a título de negligência (desde já se adianta que esta é excepcional a
nível do direito penal, pressupondo a violação de um dever objectivo ou de um dever de
cuidado – art. 16.º, n.º3).

2) Aqui cabe desde já fazer uma contraposição: erro de conhecimento e erro de suposição: no
primeiro exige-se que não se conheça que algo existe (disparar contra o arbusto, pensando que
não há lá nada, e afinal mato uma pessoa) e no segundo supõe-se que existe algo, que na
realidade não existe (dei um tiro num homem que vinha na minha direcção e que eu pensava
trazer uma arma para me matar).
Ora neste caso, é claramente erro suposição, o qual dá origem à punição por tentativa (art.
23.º, n.º3) se demonstrarmos que o meio empregue era manifestamente apto a produzir o
resultado.

3) Aqui temos uma situação em que estará em causa o elemento volitivo do tipo penal furto.
Com efeito, este pode incidir sobre elementos normativos. Ora na medida em que o direito de
propriedade apela a conceitos técnicos, devemos ponderar, segundo a teoria das esferas do
meio, se um homem médio, não saberia que um carro parado, não é susceptível de
apropriação. Parece que a valoração social do elemento típico do crime furto, é acessível ao
comum dos homens, pelo que X é responsável

4) Mais uma vez, a situação é a do conhecimento de conceitos técnicos, e aqui talvez já seja de
admitir que o Homem médio não saiba os elementos que determinam a necessidade de
declarar esses rendimentos.

5) Estamos no campo dos delita mera proibhita; aqui temos um facto que axiologicamente, a
nível da sociedade, não é considerado como desfavorável, mas que a lei qualifica como tal, e
neste caso, a aplicação do art. 16.º, n.º1, última parte excluindo o dolo.

6) Aqui estamos no campo dos delita in se; aqui temos condutas que pela sua simples prática
constituem crime (violação da integridade física, vida, violação do limite de velocidade, etc).
aqui poderia invocar o art. 17.º, pois o X pode agir sem consciência da ilicitude.

7) Trata-se de um caso de crime putativo; aqui X pensa que a sua conduta é crime, mas esta não
o é, logo, pelo princípio da legalidade, não teríamos crime.

8) Esta é uma das áreas onde podemos invocar a ideia de consciência reflectida, do saber
permanente acompanhante. Assim Z não precisa de ter a noção, constante, de que é
funcionário, ele tem essa ideia incutida, no seu ser (in)consciente.
Aqui o prof. fez referência a um outro caso: um médico que tratou de uma criança Z dos 6-10
anos de problemas alérgicos e sabia que ele tinha alergia ao medicamente X. entretanto o
médico curou-o. Passados dez ano, ele volta ao médico, com um problema diferente, e o
médico dá-lhe o medicamento X, que o deixa doente durante uma semana. Neste caso, temos
negligência, pois o médico não procedeu com os dever objectivo de consultar os registos
médicos do doente Z.

9) Trata-se de um caso de dolo generalis. Com efeito, aqui temos uma situação, onde uma
primeira acção, onde existe dolo, não configura um elemento do tipo de crime (neste caso
seria a morte da mulher), e a segunda acção, que não é incutida de dolo, mas configura o
elemento do tipo de crime (a morte da mulher). Temos duas posições para resolver isto:
- Jakobs: punição no primeiro acto por tentativa dolosa, e no segundo por crime negligente.
- Stratenwerth e FGD: se o segundo acto é uma concretização normal do risco do primeiro
acto, o qual é doloso, ele será condenado por homicídio doloso, esencial é que tenha havido
planificação anterior do 1.º acto.
- Roxin: introduz um exemplo: se ele deu uma pancada na mulher que a deixa desmaiada, e
vai atirar a mulher ao rio, mas tem um acidente, e a mulher morre, em virtude deste, então
interrompe-se o nexo causal, e ele é condenado a título de tentativa.

10) Será que temos aqui uma situação de erro em relação a um dos elementos de facto? Devemos
ponderar que os crimes, se completam com o preencher dos seus elementos típicos,
independente do destinatário. Mas neste caso, é um crime de injuria, pelo que que atende o
telefone, pode nem se sentir injuriado.

11) Estamos aqui perante uma situação de erro na identidade. Com efeito, sempre que a pessoa
desconheça a situação que agrava o tipo de crime, não temos um crime agravado, mas isso não
exclui o crime simples (art. 18.º).

12) Estamos perante um caso de erro na execução. Aqui um agente representa uma acção,
conforma-se com ela, mas por sua inperícia, atinge um objecto diferente do representado. Pela
primeira acção Z seria condenado por tentativa, mas na segunda acção o agente nem
representa a situação.
Esta situação difere das situações de erro de identidade, pois aí há uma falsa representação da
realidade, e aqui não, para além do que, no primeiro há só um bem jurídico em causa (no
exemplo de cima, o bem jurídico vida), e aqui temos dois bens jurídicos.

a) Diferença entre dolo eventual e consciência negligente.

No dolo eventual ainda se consegue visionar um resquício de intencionalidade, enquanto


decisão contra o bem jurídico. Ou seja, o agente leva a se a possibilidade de realizar o facto
típico, entra em linha com essa realidade e decide actuar.
No fundo é a posição de indiferença do agente para com os bens jurídicos, de um modo que só
podemos entender que ele se conforma.

b) Diferença entre abratio ictus e dolo eventual.

A fronteira é pouco nítida. Dando exemplos conseguimos perceber: A dispara contra B a uma
curta distancia. B vai com a namorada C, a qual é morta invés de B. ora aqui, dado a curta
distância é fácil perceber que o agente terá de ter representado a morte de C como
possibilidade da sua acção, e conformou-se com isso. Outro exemplo: mando uma caixa de
bombons envenenados para casa de R, para a matar. No primeiro caso, B carteiro, que faz a
entrega, come-os. No segundo, R recebe os bombons e dá a todos os familiares que tão em
casa, e morrem todos. Na primeira versão é claramente abratio ictus, mas no segundo é dolo
eventual.

c) Diferença entre dolo antecedente e subsequente.

No primeiro, A tem intenção de matar B, mas quando chega ao pé dele, a arma dispara sem ele
fazer nada (homicídio negligente). No segundo, A não tem intenção de matar B, mas quando
chega ao pé dele a arma dispara, e ele fica contente (homicídio negligente).

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