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NLT ees Cored BOLETIM DA ASSOCIACAO DOS DELEGADOS DE POLICIA ‘DO ESTADO DA BAHIA-ANO 1, N°1 en Lee es) Entrevista com Cor ethane ee Cre eed p.41 Eee Sune ed p.12 Edigdo dedicada & Dra, Débora Freitas Mendes Pereira, Fonte inspiradora, admirével como colega, exemplo de atuagéo investigativa escorreita, aguerrida defensora dos delegados de policia e da instituigéo, expresidente da ADPEB. Diregéo executiva Presidente: Fabio Daniel Lordello Vasconcelos lente: Elvio Brand3o usdenil Franco Lima Diretora do Departamento Financeiro: Janaina Miranda Dore Diretora do Departamento Cultural, Comunicasao, Promocso e Assisténcia Social: Marta Nunes Rodrigues Diretora de Assuntos Jurid Silva Longuinhos Diretor de Relagées Institucionais e Parlamentares: Pietro Baddini Magalhées Mesa de Assembleia: Presidente: Augusto Cezar Lima Eustéquio da Silva Secretério: Bernado Marques Pacheco Suplentes do Conselhos Diretor: Lorena Braga Magalhaes Muricy, Fabio José Vieira Simoes e Henrique José Silva Morais, : Sava Verbena Consetho Fiscal: Dermeval Amoedo Martins Junior, Elaine Estela Laranjeira F. Souza e José Marcelo Marques Novo Suplentes do Consethos Fiscal: Rosemilis Dias Silveira Tannus, Flavio Luiz Machado Lisboa Pinheiro e Leonardo Virgilio Oliveira Monteiro Consetho de Etica: Candido Augusto Vacarezza e Tania Maria Sodré Perreira Santana ‘Suplentes do Consethos de Etica: Marcos José ‘Gomes Tebaldi, Carlos Roberto de Freitas Filho e Charlton Fraga Bortoni Expediente Boletim Indicium ‘Coordenadores: Luiz Gabriel Batista Neves e Gustavo Ribeiro Gomes Brito Edigdo: Luara Lemos - Trevo Azul Comunicacéo Revisio: Matheus Conceicéo dos Santos Projeto Grafico: Mariana Chagas Trevo Azul Comunicagso © Boletim do Sindicato dos Delega- dos de Policia da Bahia (ADPEB/Sindi- cato) nasce como resultado de um lon- go periodo de amadurecimento da sua diretoria e dos delegados de policia da Bahia como um todo. © projeto visa a instigar o pensamen- to livre sobre as inimeras indagacées que cercam a atividade investigativa, seu aprimoramento e validade. 0 Bo- letim sera, assim, um espaco aberto e plural aos académicos nacionais e es- trangeiros que desejem publicar seus artigos, pensamentos ou pesquisas. E com este espirito de contentamen- to que dedicamos a primeira edicio do nosso Boletim a uma de suas Fontes ins- piradoras, Dra. Débora Freitas Mendes Pereira. Admirdvel como colega, exem- plo de atuacao investigativa escorreita, aguerrida defensora dos delegados de policia e da instituicéo, ex-presidente da ADPEB, encantou-se ao chamado dos céus, vestiu-se de luz e seguiu para o renascer em novas aventuras. Nossa ho- menagem e gratidao por nos inspirar a ser luz em meio a escuridao. Seguindo em seu legado, entoava Dra. Debora Freitas, em meio a um café e outro, que como um dos atores cen- trais do sistema de justica penal, pois Nossas agdes perpetuam no tempo, de~ sabrochando em toda a persecusao pe- nal, é curial refletirmos sobre todas as questées que envolvem e legitimam o poder punitivo, "nossas acdes perpetuam no tempo, desabrochando em toda a persecusao penal” ny LW A E sobre essa responsabilidade politi- c@ que o Boletim pretende nos condu- zit, apontando os meandros do sistema posto. Nos enxergarmos inseridos nes- se contexto sistémico e aliado as intme- Tas questées que incidem sobre os Fatos erigidos como criminosos, talvez seja 0 maior desafio da investigago criminal e da funcdo publica que abracamos. Nao é facil ser delegado de policia, principalmente, na configuracéo que o texto constitucional nos posiciona e exi- ge, Na qualidade de deflagradores iniciais da méquina persecutéria, nossas aces exigem postura comedida e precisa, pois avessas ao acodamento pelos direitos e garantias que devem servir de norte aos atos e medidas judiciais pleiteadas duran- te toda investigacao criminal. Invariavelmente, a atividade investi- gativa é analisada e julgada intra e extra- muros ao sabor dos interesses do espec- tador. Resistir a esse olhar decorrente do conflito diuturno entre o afd coletivo punitivo, inerente a “indignagao” que o fato delitivo gera socialmente, e a hi dez dos principios democraticos, nota~ damente a presungao de inocéncia, eis © nosso énus. Para além desse conflito essencial do sistema, cabe-nos indagar profunda- mente ainda, e talvez em primazia, acer- ca do método e do contetdo politico das disciplinas que debatem a exaustao anecessidade, a criacdo, 0 sentido e 0 al- cance de certa coacao estatal sobre um fato merecedor de reprimenda penal. Nessa quadra histérica, a investigacao criminal, para ser constitucionalmente valida, deve se assenhorar da vasta proficua producao académica da crimi- nologia, da politica criminal e do direito e processo penal. Assim, a producdo dos atos investiga- tivos nao pode ser encarada como um ato qualquer, informal, dispensavel, su- privel, onde tudo é possivel, permitido e alheio as questdes politicas e sociais que os cercam. A aparente investigacao esté- ril nunca existiu e jamais existiré. Se num passado nao muito distante a maquina estatal se movimentou para a producao de investigacao criminal sobre a ilicitude de uma roda de capoeira, se jé prendeu homossexuais, também os ditos indigen- tes, vadios, enfermos mentais, divergen- tes politicos, se encarcera ou nao pela cor da pele, precisamos indagar: o que hd de nefasto em nosso tempo? “A aparente investigacao estéril nunca existiu e jamais existirs.” E importante saber traduzir 0 axioma que constrange inevitavelmente o siste- ma penal: o tempo, por ironia, sempre o eleva a categoria sublime de condutor social, mas ao observar através do retro- visor enxerga suas visceras, quase sem pre, em corpos dilacerados numa paisa- gem asséptica. © Boletim vem contribuir para nos impulsionar o entendimento reflexivo, a fim de que possamos sair do lugar comum e das formulagées Faceis sobre ‘um suposto “combate ao crime” ou uma sempre disponivel justificativa fantas- magérica para atropelos procedimen- tais. Distanciarmo-nos como autématos desse processo politico que sombreiam, mas que é a sua verdadeira natureza, torna impensavel o atuar investigativo. A funcao investigativa no pode ser- vir a0 condutor ou se imaginar conduto- ra, a0 contrério, nossa responsabilidade 6 alterar a chave cognitiva ordindria e encaré-la na contramo, sob olhar mul- tidisciplinar, dissecando em camadas a investigago criminal com o bisturi da Constituicao Federal. Que se inicie a jornad In memoriam de Debora Freitas Mendes Pereira Presidente da ADPEB 07 COLUNA INVESTIGATORIO Devido Procedimento Legal e Controle Epistémico na Investigacao Preliminar 09 12 22 25 28 32 35 38 Os processos de vitimizagao e culpabilizagao de mulheres e seus contornos na perpetracao da pornografia de vinganca. Garantismo é cringe? Investigagao Criminal Defensiva: Fundamentos e Reflexos no Processo Penal Autonomia policial ou emancipaco predatéria? Atividade policial e seguranca publica: combate ao racismo para o Fortalecimento institucional e a reafirmacao do compromisso democratico Modelos de processo penal e colaboracao premiada O juiz garantista e o paradoxo da Fundamentacao libertaria exauriente “Avolta dos que nao foram” - reflexdes sobre policia, vinganca e democracia 41 INDICIUM ENTREVISTA Rodolfo Queiroz Laterza - Presidente da Adepol do Brasil ¢ Artigos ATIVIDADE POLICIAL E SEGURANGA PUBLICA: COMBATE AO RACISMO PARA O FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL E A REAFIRMAGAO DO COMPROMISSO DEMOCRATICO Por Jonata Wiliam Sousa da Silva e Luiz Gabriel Batista Neves Quando falamos em seguranga pi- blica, partimos da compreensao de que se trata de politicas de dever do Estado voltadas a preservacao da ordem publi- ca e da incolumidade das pessoas e do patriménio, por intermédio de érgaos policiais militares e civis (vide artigo 144 € incisos da Constituicdo Federal). E fundamental tratar de seguranca publica em uma sociedade marcada por altos indices de violéncia letal, como constatado pelo Atlas da Violéncia, que contabiliza 57.956 homicidios no Brasil em 2018. Situagao alarmante, que apon- ta nao sé os altos nimeros de letalidade policial, mas também dados de elevada mortalidade de policiais civis e militares = dentro e fora do hordrio de servico. Essa mistura “explosiva’, de falta de es- trutura e de auséncia de uma politica de seguranga publica a médio e longo prazo, tem ainda uma coluna terrivel de suicidio desses agentes de seguranca publica, como se pode ver em um simples olhar do Anuério Brasileiro de Seguranga Pu- blica, da Atlas da Violéncia, do Monitor da Violéncia, entre tantos outros levan- tamentos estatisticos. Esse ¢ 0 cendrio. que desafia qualquer pesquisador que se propée a abordar a complexidade do tema, sem lancar mao de propostas mi- rabolantes e de Facil solucio. we © desafio se acentua ainda mais quando tratamos da sociedade brasilei- ra, que ostenta complexas assimetrias raciais que perpetuam opressdes basea- das em fatores raciais, de género e de classe de forma interseccional, materia- lizando uma realidade em que apenas em 2018 os homens negros (soma de pretos e pardos, segundo classificaco do IBGE) representaram 75,7% das viti- mas de homicidios, com uma taxa de ho- micidios por 100 mil habitantes de 37,8. Comparativamente, entre os nao ne- gros (soma de brancos, amarelos e indi- genas) a taxa foi de 13,9, o que significa que, para cada individuo nao negro mor- to em 2018, 2,7 negros foram mortos. Jé as mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes de 5,2 - quase o dobro, quando comparada & das mulhe- res no negras. (BRASIL, 2020, p. 47). “apenas em 2018 os homens ne- gros, representaram 75,7% das vitimas de homicidios" Mas ndo somente os indices de violén- cia destinados 8 populacdo de pessoas Pee eae Ce cutee Caer co Cees emetic seis te eel Uae Mier encir cera teees Dy ee melee ri OTL Laa sl) EN Leona A outra ponta, uma dura realidade: a sub-re- Pee Geeronee eked Seem siciraec ey ideia que é reforcada pelos esteredtipos negativos nos aparatos midiaticos (MO- REIRA, Adilson, p. 60), e que impactam na etic eene ictal Petar ies aOR Cea tte eat Deere ei Ce ERs it eeirer a anna oa eur ea Ome merry Cen eruety een eee Temes meee Peer ie ELEN uC Beeches eeu ere Rn oar tc-1) Nolet Meese Beer Ree een Lae Reo co ELSE [eC Tso ct Geese eet ay eee curk orate COSC eR Se ese Pec cm come Rees ts eee em Re Ren [ee cursos que incitam o medo e que sao propagados pelos grupos sociais hege- SMe eee Econ que passam a buscar atitudes urgentes Pee eater eek urn ae da onda punitivista que predomina na ence ea eaee cn a ee trole da criminalidade no Brasil, consta- eee eed ane Crecente ENE de forma indiscriminada: os grupos so- ciais vulnerdveis, geralmente privados Ce eee RU in Poe aie cet coer e) Cen est enero sce cree como bem explica o promotor de justica PETE CCA CUA Le a eRe uc oy De a Sua Ren caus Nos préprios profissionais de seguranca Pe Reon ee eu ie com 64.130 policiais coletada pela Secre- Pen ree ee iene dain NASP (BRASIL, 2009, Pe eat Peo St) Comune eared Ce Peet eure) Preemie tice Comes Cem relata jé ter sido vitima re sulCeie oe te (0a Nee eM a Poca a Peet nr s chance do que os bran- Ree ste cet Ome cet ema Cy Deen ci Dene ener Caste ee Ra ae Ceara cee eT Pees ee ue ns 0s brancos de serem baleados e os po- Tene mcd do que os brancos de serem ameacados. Were anestrus ne tas PSC ee onsen eter Mca ei sori ie Sere ter cme eal Ree aaa el een cents Ree te ne aeO eR ae eet Serine urouCk Caer k eects Go. (DURANTE; JUNIOR, 2013, p. 137). 29 NET Ty REC aC CRC os Cree eRe heim Cee lei Ree Rr CR Sore cies Rese O70 Leet) ON ee ah ee eee Gr Pees ac eee eed Publica da SENASP (2015)", 53% dos POS en eee er) PSM ner COMM em: MTs oer A ere eee Ee tone R eer es Rene Mr eaten raat gros entre as vitimas da violéncia letal ee een R eee ois de seguranca piiblica. (in Anudrio da Se- guranca Pablica. BRASIL, 2020, p. 77). E, PEO erasure ea Mines a kee ts ees ticned a tet eros POR reek een rsciraers reece siemens eae CEN coe ee er ne SEO CMR ry ces eects Recent suraeet Ieee okt cr) SUSUR Cec ee crc Geert Omer erent Cetera en oo Maracas) Pence yee ee ieee eer? Beene tere tena Dee CRCee Ser Cente tant dois lados das politicas de seguranca PnteMCE ER uC ee CR Talents ey CUTTS eC Te fm motel Tee 1) SUE CMe ec eC mc Noche ae Ck Series re Ret eRe eC Pen Steen these CEM re- Mem ere mL Oe Bee EMU Ae ee eid cel Sat CPPCC eee Cele eM a ME Lele) Cree ea mente Re ete COM eC ee aoe das instituicdes. PSC ru es eae Prete ee ert ney sociedade brasileira pela violéncia, Peete nee Se Chea) ornate es Ot re Sets POE ene cance nce Pte ee eee tard necessidade de publicizacao de informa- eel ee ee Ree eee do efetivo das forcas de seguranca pt- blica para que politicas publicas especifi- fe ter eee eee ee etet etc Beene mut otc ficidade. Além disso, existe a necessi- dade do aprimoramento dos processos Ce Rate ea educagao e do letramento nas questées raciais para 0 efetivo combate & discrimi- Pearse arlene tut) FeO POE ele) Pate eek ie organizacées da sociedade civil voltados Pree tee erie ec eee Penne ered Beene ae Ret een ciety a partir de uma perspectiva antirracista, Genelec Nia Ven ene ace) Rete Rae keyed edu nes Meese (nel Renee cee Caer eek son Ge cay cee ty ces ewe Meee teeta eye oe gurancapublica, Acesso em: 21.abr.2021 as 12:22. Os dados quanto ao efetivo da polica civil est no link: https:// Peron teed rycen Mah ONC Mesa ae eae MiP Uno ev NAAT ole uM van eee OE Es See er ee ene ete ee Ce es BO ereMer ety CU ee a ee eee ecco eee tec 30 Referéncias ALVES, Jader Santos. A atuacao policial na pers- pectiva de jovens negros: Vozes dos invisiveis. Universidade Federal da Bahia. 2017a . Dispon- vel em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ 11/30029/1/DISSERTA%C3%87%C3%830%20 DE%20MESTRADO-JADER%20SANTOS%20AL- VES.pdf. Acesso em: 20. abr. 2021 BRASIL. Instituto de Pesquisa Econémica Aplicada. Atlas da Violéncia 2020. Disponivel em: httpsi// www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/ atlas-da-violencia-2020. Acesso em: 20, abr. 2021 Ministério da Justica. O que pensam 95 profissionais da seguranca publica, no Bra- sil{sintese do relatério de pesquisa). Org: Luiz Eduardo Soares, Marcos Rolim e Silvia Ramos. SENASP/PNUD. Brasilia, 2009. Disponivel em: https:/Awww.soma.org.br/arquivos/senasp- MprofSegPublicaResumoRelatGraficos.pdf. ‘Acesso em: 21. abr. 2021. Ministério da Justica e Seguranca Pts lice. Levantamento Nacional de Informacées Penitenciérias (INFOPEN). DEPEN. Brasilia, 2020. Disponivel em: httpsi//app.powerbi.com/ View?r=eyJrlioiYzg4NTRINZYtZDOCiOOZTNKL- WIIM2YtZGl2Nzk3 0D g0OTIWiwidCl6imVIMDk- ‘WNDIWLTQONGMtNDNmNyOSMWYyLTRIOGRAN- mJmZTHIMSJ9. Acesso em: 21. abr. 2021 DURANTE, Marcelo Ottoni; JUNIOR, Almir Ol veira. Vitimizago dos policiais militares e civis 1no Brasil, Revista Brasileira de Seguranca Pabli- ca, S80 Paulo. 7,n. 1, 132-150 Fev/Mar 2013, FORUM BRASILEIRO DE SEGURANCA PUBLICA. Anuario Brasileiro de Seguranca Publica, ano 14, edigdo 2020, ISSN: 1983-7364. Disponivel em: https://static,poder360.com.br/2020/11/Anua- rio-Brasileiro-de-Seguranca-Publica-2020.pdf. ‘Acesso em: 20, abr, 2021 MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. Colegio Feminismos Plurais, S80 Paulo, 2019. Artigos Mestrando em Direito Piblico pela Universidade Federal da Bah- ia (UFBA) e Especialista em Cién- cias Criminais pela Universidade Catélica do Salvador (UCSAL}. Prince or Doutorando ¢ Mestre em Direito Publico pela Universidade Fede- ral da Bahia (UPBA) e Especia- lista em Ciéncias Criminais pelo Juspodivm. 31

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