You are on page 1of 42
NT ees LTolM aU LV Asole] eo Xoo) nee ane ee ¥ Pe Ue Ue NORA a Pye) eee) Coty re ec eet rey etl Ere Saeed p.12 Edigéo dedicada Dra. Débora Freitas Mendes Pereira. Fonte inspiradora, admiravel como colega, exemplo de atuacéo investigativa escorreita, aguerrida defensora dos delegados de policia e da instituigo, ex-presidente da ADPEB. Diregéo executiva Presidente: Fabio Daniel Lordello Vasconcelos Diretora do Departamento Financeiro: Janaina Miranda Dore Diretora do Departamento Cultural, Comunicago, Promosso e Assisténcia Social: Marta Nunes Rodrigues Diretora de Assuntos Jurid Silva Longuinhos Diretor de Relagées Institucionals e Parlamentares: Pietro Baddini Magalhées Mesa de Assembleia: Presidente: Augusto Cezar Lima Eustéquio da Silva Secretério: Bernado Marques Pacheco Suplentes do Conselhos Diretor: Lorena Braga Magalhaes Muricy, Fabio José Vieira Simoes e Henrique José Silva Morais, Sava Verbena Consetho Fiscal: Dermeval Amoedo Martins Junior Elaine Estela Laranjeira F. Souza e José Marcelo Marques Novo Suplentes do Consethos Fiscal: Rosemilia Dias Silveira Tannus, Flavio Luiz Machado Lisboa Pinheiro e Leonardo Virgilio Oliveira Monteiro Consetho de ética: Candido Augusto Vacarezza e ‘Tania Maria Sodré Perreira Santana ‘Suplentes do Consethos de Etica: Marcos José Gomes Tebaldi, Carlos Roberto de Freitas Filho e Chariton Fraga Bortoni Expediente Boletim indicium ‘Coordenadores: Luiz Gabriel Batista Neves e Gustavo Ribeiro Gomes Brito Edigdo: Luara Lemos - Trevo Azul Comunicagéo Revisio: Matheus Conceicéo dos Santos Projeto Grafico: Mariana Chagas- Trevo Azul Comunicagso © Boletim do Sindicato dos Delega- dos de Policia da Bahia (ADPEB/Sindi- cato) nasce como resultado de um lon- go periodo de amadurecimento da sua diretoria e dos delegados de policia da Bahia como um todo. O projeto visa a instigar 0 pensamen- to livre sobre as inimeras indagacdes que cercam a atividade investigativa, seu aprimoramento e validade. 0 Bo- letim sera, assim, um espaco aberto e plural aos académicos nacionais e es- trangeiros que desejem publicar seus artigos, pensamentos ou pesquisas. E com este espirito de contentamen- to que dedicamos a primeira edicdo do nosso Boletim a uma de suas Fontes ins- piradoras, Dra. Débora Freitas Mendes Pereira, Admirdvel como colega, exem- plo de atuacao investigativa escorreita, aguerrida defensora dos delegados de policia e da instituicéo, ex-presidente da ADPEB, encantou-se ao chamado dos céus, vestiu-se de luz e seguiu para o renascer em novas aventuras. Nossa ho- menagem e gratidao por nos inspirar a ser luz em meio a escuridao. Seguindo em seu legado, entoava Dra. Debora Freitas, em meio a um café e outro, que como um dos atores cen- trais do sistema de justica penal, pois Nossas ages perpetuam no tempo, de- sabrochando em toda a persecusao pe- nal, € curial refletirmos sobre todas as questées que envolvem e legitimam o poder punitivo. "nossas acdes perpetuam no tempo, desabrochando em toda a persecusao penal” Cy LL LW A E sobre essa responsabilidade politi- ca que o Boletim pretende nos condu- zit, apontando os meandros do sistema posto. Nos enxergarmos inseridos nes- se contexto sistémico e aliado as intme- Tas questdes que incidem sobre os Fatos erigidos como criminosos, talvez seja 0 maior desafio da investigagao criminal e da funco publica que abracamos. Nao é facil ser delegado de policia, principalmente, na configuragéo que o texto constitucional nos posiciona e exi- ge. Na qualidade de deflagradores iniciais, da méquina persecutéria, nossas aces exigem postura comedida e precisa, pois avessas ao acodamento pelos direitos e garantias que devem servir de norte aos atos e medidas judiciais pleiteadas duran- te toda investigacao criminal. Invariavelmente, a atividade investi- gativa é analisada e julgada intra e extra- muros ao sabor dos interesses do espec- tador. Resistir a esse olhar decorrente do conflito diuturno entre o afd coletivo punitivo, inerente a “indignagdo” que o fato delitivo gera socialmente, e a hi dez dos principios democraticos, nota~ damente a presuncao de inocéncia, eis © nosso énus. Para além desse conflito essencial do sistema, cabe-nos indagar profunda- mente ainda, e talvez em primazia, acer- ca do método e do contetdo politico das disciplinas que debatem a exaustéo anecessidade, a criacdo, 0 sentido e o al- cance de certa coacao estatal sobre um fato merecedor de reprimenda penal. Nessa quadra histérica, a investigacao criminal, para ser constitucionalmente valida, deve se assenhorar da vasta e proficua producao académica da crimi- nologia, da politica criminal e do direito e processo penal. Assim, a producdo dos atos investiga- tivos no pode ser encarada como um ato qualquer, informal, dispensdvel, su- privel, onde tudo é possivel, permitido e alheio as questdes politicas e sociais que os cercam. A aparente investigacao esté- ril nunca existiu e jamais existiré. Se num passado nao muito distante a maquina estatal se movimentou para a producao de investigago criminal sobre a ilicitude de uma roda de capoeira, se jé prendeu homossexuais, também os ditos indigen- tes, vadios, enfermos mentais, divergen- tes politicos, se encarcera ou nao pela cor da pele, precisamos indagar: o que hd de nefasto em nosso tempo? “A aparente investigacao estéril nunca existiu e jamais existirs.” E importante saber traduzir 0 axioma que constrange inevitavelmente o siste- ma penal: o tempo, por ironia, sempre o eleva a categoria sublime de condutor social, mas ao observar através do retro- visor enxerga suas visceras, quase sem- pre, em corpos dilacerados numa paisa- gem asséptica. © Boletim vem contribuir para nos impulsionar o entendimento reflexivo, a fim de que possamos sair do lugar comum e das formulacées Faceis sobre um suposto "combate ao crime” ou uma sempre disponivel justificativa fantas- magérica para atropelos procedimen- tais. Distanciarmo-nos como autématos desse processo politico que sombreiam, mas que é a sua verdadeira natureza, torna impenséavel o atuar investigativo. A funcao investigativa nao pode ser- vir ao condutor ou se imaginar conduto- ra, a0 contrério, nossa responsabilidade 6 alterar a chave cognitiva ordindria e encaré-la na contraméo, sob olhar mul- tidisciplinar, dissecando em camadas a investigacao criminal com o bisturi da Constituicao Federal. Que se inicie a jornad In memoriam de Debora Freitas Mendes Pereira Presidente da ADPEB 07 COLUNA INVESTIGATORIO Devido Procedimento Legal e Controle Epistémico na Investigacao Preliminar 09 12 22 25 28 32 35 38 Os processos de vitimizagao e culpabilizagao de mulheres e seus contornos na perpetracso da pornografia de vinganca. Garantismo é cringe? Investigacao Criminal Defensiva: Fundamentos e Reflexos no Processo Penal Autonomia policial ou emancipac3o predatéria? Atividade policial e seguranca publica: combate ao racismo para o fortalecimento institucional e a reafirmagao do compromisso democratico Modelos de processo penal e colaboracao premiada 0 juiz garantista e o paradoxo da fundamentacao libertaria exauriente “A volta dos que nao foram” - reflexdes sobre policia, vinganca e democracia 41 INDICIUM ENTREVISTA Rodolfo Queiroz Laterza - Presidente da Adepol do Brasil ¢ DEVIDO PROCEDIMENTO LEGAL E CONTROLE EPISTEMICO NA INVESTIGACAO PRELIMINAR A Constituigéo da Republica, ao esta- belecer, em seu artigo 5°, inciso LIV, que “ninguém seré privado da liberdade ou de seus bens sem o devido proceso legal”, nao erigiu o formalismo a primado cons- titucional, e, sim, “um complexo de ga- rantias minimas contra o subjetivismo e o arbitrio dos que tém dever de decidir”.* Trata-se, portanto, de uma exigéncia do Estado Democratico de Direito, que se efetiva por meio de um “juizo de le- galidade constitucional devido a todo e qualquer sujeito de direito, para que se expurgue o arbitrio do agente do poder piiblico”, nas palavras do mestre baiano Calmon de Passos? © que, por ébvio, incide desde a fase de investigagao preliminar no processo penal brasileiro,* Figurando como pres- suposto de legitimacao juridica 8 conduta funcional do delegado de policia enquan- to necessario garante epistémico demo- cratico da etapa prévia a acdo processual no sistema de justica criminal. *PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Justica e Proceso: julgando os que nos julgam. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 69. *PASSOS, José Joaquim Calmon de. Direito, Poder, Jus- tica e Processo: julgando os que nos julgam... p. 73 STUCCI, Rogério Lauria; CRUZ e TUCCI, José Rogério. Devido Processo Legal e Tutela Jurisdicional. Sao Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1993, p. 25-29. Nesse contexto, inadmissivel que as decisées tomadas pela autoridade pi blica responsavel pela presidéncia do i quérito policial sejam Fruto de conviccées individuais ou intuigées pessoais. Pelo contrario, “o devido procedimento de investigacao preliminar exige necessaria- mente uma base racional informativa’.* “a devido procedimento de investigacao preliminar exige necessariamente uma base racional informativa” Afinal de contas, segundo anunciado supra, a cléusula do due process of law como uma das “vigas-mestras do Estado de direito, que tem por Fundamento e por escopo a tutela da liberdade do indi- viduo contra as varias Formas de exerci- cio arbitrario do poder, particularmente odioso no direito penal”? demanda um sistema de controle racional do érgao de investigac3o criminal. “MACHADO, Leonardo Marcondes, Manual de Inqué- rito Policial. 01 ed, Belo Horizonte: Editora CEI, 2020, p.23. SBOBBIO, Norberto, Prefécio & 1* Edigao Italiana. In FERRA,OLI, Luigi. Direlto e Razéo: teoria do garantis- mo penal. Trad. Ana Paula Zomer Sica, Favzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flavio Gomes. 04 ed. ‘So Paulo: Revista dos Tribunals, 2014, p. 7. COLUNA INVESTIGATORIO Esse tipo de afirmagao, contudo, nio pode ser meramente retérica. Deve sigi ficar, entre outras coisas, que o raciocinio juridico investigativo, desde a instauracao do procedimento até a sua conclusio, apresente elementos de coeréncia e jus- tificagao na articulacao entre as premis- sas normativas e Féticas consideradas no processo decis6rio. Ou seja, a pratica in- vestigativa concreta exige, além de uma preocupacao hermenéutica contemporé- nea a superacao do paradigma solipsista, completa imersao na epistemologia apli- cada as questées juridicas’ para a correta determinacéo dos Fatos no contexto do inquérito policial. Enfim, esse cuidado a respeito das "condigdes de producdo e identificacso do conhecimento valido, bem como da crenga justificada”’, que se encontra na base da epistemologia, precisa ocupar um lugar de destaque na investigacao cri minal, principalmente latino-americana, marcada por abissais niveis de desigual- dade, cujos efeitos concretos das deci sdes penais mostram-se sobremaneira gravosos 8 subjetividade* “STRECK, Lenio Luiz. Hermenéutica Juridica e(m) Crise. 11 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. "VAZQUEZ, Carmen. Entrevista a Susan Haack. DOXA, Cuadernos de Filosofia del Derecho, n.36, p. 573-586, 2013, p. 580. Do contrério, o arbitrio investigativo criminal continuard a produzir, néo ape- nas intervencdes estatais formalmente ilegitimas, mas sobretudo um espaco cada vez maior de violéncia e injustica na vida concreta de pessoas seletivamente alcancadas pelas agéncias brasileiras de persecusao penal. Especialista em Direito Penal e Criminologia pelo Instituto de Criminologia ¢ Politica Criminal "SANTOS, Boaventura de Sousa. 0 Fim do Impétio Cognitive: a afirmacgo das epistemologias do Sul. Belo Horizonte: Auténtica Editora, 2019, p. 18-19. *MACHADO, Leonardo Marcondes. Manual de Inqué- rito Policia... p. 24-25. PLS OS PROCESSOS DE VITIMIZAGAO E CULPABILIZAGAO DE MULHERES E SEUS CONTORNOS NA PERPETRACAO DA PORNOGRAFIA DE VINGANGA em Gurney Rnd Atardia tipificagao do delito de porno- Pick Mine eee Cee ee Pe ee tur et tee) e culpabilizacao sofridas pelas mulheres, Renee cue ur ue ts Recleteeaet tea OMu retried OnE (eee wena rte ee MN eae ect ee eC Re Estee oer ns Ree Renn Cou eet Peer i eum) eS eR nes ae) Cicero cee acne as PPE eee eee eR ek oe eet rr ieee Een Murat ea Ye ree Pee ee ecu? Pres om Oe OR ets Pee ee Me et Nat) art. 218-C do Cédigo Penal deve ser Pee Oe a Aten vitimologia e com a ideia de justica res- CER UU ae Reg EPO eee inet ck eR cnr Rem ett ee Ceconteeimccaless CT cok MR uC acs eC eM Re allo slog COM ee el el cela Afinal, sabe-se que a pena de prisdo a0 Pr ome SRL oe) UCC ed Pe aenCoe ecu eet eal le CRs ety Or eee Re SOE Me Mo CRM eter Ronencten el Ck ene nines ee eI cee eerste) Coen M MeN COM Maud Pee E) ostuee rc ces kta) Poe nek mete ics Beer ec eel ood eS MCR tr ree ie na cetkcny erm Sica Re un as zaco primaria, também a secundaria (ou Beenie Oke Tera TES eae Rute ce nies CORN ueteecien Cee ea Returns Soe Dc ee ac ismo é para todo mundo: politicas arrebatadoras. TradusSo: BhuviLibanio. 11% ed. Rio de Ja- 2SANTANA, Selma; SANTOS, Carlos Alberto Miranda, A Justica restaurativa como politica piblica alternativa ao encar ceramento em massa, Revista Brasileira de Politicas Piblicas. Brasilia: UniCEUB, v.08, 0.01, abr. 2018, p, 234-235. 9 ING CRE eu Re clcoRs Cy} Pr casa ay Seer ee nrc ee tees) eeu Re eee) Pena keds Pete Caner CRE PR een Nar mn PERM eR ete eed nas redes sociais ou internet, obtidos de een Rn Ree cs) eMac esc ects daria e & terciéria, porque a divulgacao e acesso de terceiros ao material é elemen- tar do tipo incriminador. Tevet cet CUCM Sc Gee Ciro ccs ee eee Peace eR PRD ee el RTs ee CRE Oe eee rel cates eet ee Ue Re CR ela tancia a detalhes do Fato e do ofensor, em detrimento das suas necessidades*. UCR eh poe Nea nieces CO eae eR Cer Ee este tue ee mut) Bnei Cu er ck Cae Be een ks Bees ree eMac Ree Peete tassel n Cree eee atom lc Peace Ue Le Pe ea emcee iene Eee he eutiise trun ren do e procuram culpar a vitima de alguma DER met tet eae Ree lee Le SR eR een ce Benders ace ewes eames ee a OR eee ety conduta criminosa. [A vitima] deve ser Ree aOR ay ECan ee a eae Ree eR etc CR ome ee ee ene eae Aer) Eee eRe is eeu ec Rs ace es CaN eR ce es Cette sec nu Perera kur vive, que comumente a ridiculariza en- Crees me ye Pee en eR Ce Mater) CSR ner ick Meru rtrd Re See CMC re GoeiriternMucecuerte i ace Rte cane une k tice de parte do material intimo divulgado Perio Roe eens nc Ore ORIN eee rc) Ree ue et Pe ee aoe ana eet ee eeu nc See ena i SOc ae Mt Oe as eon eran Me norte NEE see rus PE ae ere et dade feminina, contudo orientam as Eee en Re ncay SEEK IASI kaon Umer eae oe ce tuando praticas de culpabilizacao e 0 ec eM *PRATT, Travis C; TURANOVIC, Jillian J, FOX, Kathleen A; WRIGHT, Kevin A. Self-control and victimization: a me- ta-analysis. American Society of Criminology. Tempe: School of Criminology and Criminal Justice, Arizona State University, v.52, n.01, 2014, p. 95. “SANTANA, Selma; SANTOS, Carlos Alberto Miranda. A justica restaurativa como politica piblica alternativa ao en- carceramento em massa, Revista Brasileira de Politicas PGblicas. Brasilia: UniCEUB, v.08, n,01, abr. 2018, p. 236. "BARROS, Flaviane de Magalhses. A vitima de crimes e seus direitos Fundamentals: seu reconhecimento como sujeito de direito e sujeito do processo. Revista de Di BOE Spe Cue rc aco EN U TuE IEEE) 8 ed, rev, atual. e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 168. 10 E impossivel analisar os processos de criminalizacao e vitimizag3o das mulheres sem quese considerem crencas, condutas, atitudes e modelos culturais (informais), bem como as agéncias punitivas estatais (formais). As mulheres sao socialmente custodiadas, reprimidas, controladas, no piiblico e privado. “A custédia enquanto mecanismo de poder continuo exercido em conjunto pelo Estado, a Familia e a so- ciedade é 0 que articula o que est dentro e fora do sistema penal”®, As formas de vitimizacao e culpabiliza- 0 caracterizam um retorno ao proble- ma em torno de uma sociedade historica- mente sexista, atrelada a manifestacdes Feministas reprimidas e marginalizadas. A pornografia de vinganga faz parte de um ciclo de subjugacao, machismo, feminis- mos em forma de luta, aceitacao e sexua- lidade, e nada mais é do que uma maneira de dominar mulheres na era digital. Por isso € preciso discuti-la com urgéncia. Assessora juridica no MPBA, Pés-graduada em Direito Penal © Criminologia pela PUCRS. Artigos Referéncias BARROS, Flaviane de Magalhaes. A vitima de crimes e seus direitos Fundamentais: seu reco- nhecimento como sujeito de direito sujeito do processo. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais. Vitoria, n. 13, jan/jun 2013, p. 309-334. Disponivel em: https://www.reposito- rio.ufop.br/bitstream/123456789/3739/1/ARTI- GO_V%C3%ADtimaCrimesDireitos.pdF. Acesso ‘em: 09 out. 2020. HOOKS, bell. © feminismo é para todo mundo: politicas arrebatadoras. Traducao: Bhuvi Libanio. 11° ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020. MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia Femi nista: novos paradigmas. 2* ed. Séo Paulo: Sa- raiva, 2017, PRATT, Travis C, et al. Sel control and victimi- zation: a meta-analysis. American Society of Criminology. Tempe: School of Criminology and Criminal Justice, Arizona State University, v. 52, 1.01, 2014, p. 87-116. Disponivel em: https://on- library.wiley.com/doi/epdf/10.1111/1745- '9125.12030, Acesso em: 04 mal. 2019, SANTANA, Selma; SANTOS, Carlos Alberto Mi- randa. A justica restaurativa como politica pé- blica alternativa ao encarceramento em massa. Revista Brasileira de Politicas Publicas. Bras tia: UniCEUB, v. 08, n. 01, abr. 2018, p. 228-242. Disponivel em: https://publicacoesacademicas. tuniceub.br/RBPP/article/view/S059. Acesso em: 08 jun. 2020. TRINDADE, Lorena de Andrade. Pornografia de vinganga: da vergonha a exposicao positiva. 2017. Dissertag3o. (Mestrado em Antropologia Social). Faculdade de Antropologia Social, Univer- sidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Floria- népolis. Orientador: Prof. Dr. Theophilos Rifiotis. Disponivel em: httpsi//repositorio.ufsc.br/xmlui/ bitstream/handle/123456789/180433/348306. pdfrsequence=18isAllowed=y. Acesso em: 16 Jun. 2021. VIANA, Eduardo. Criminologia. 8* ed., rev, atual. ‘e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2020. "TRINDADE, Lorena de Andrade. Pornografia de vinganga: da vergonha 8 exposicio positiva. 2017. Dissertacéo. (Mestrado em Antropologia Social). Faculdade de Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC, Florianépolis. Orientador Prof. Dr. Theophilos Rifiots, p. 82. MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia Feminista: novos paradigmas, 2* ed. S30 Paulo: Saraiva, 2017, p. 158-164. ou Artigos GARANTISMO E CRINGE? Por Ana Cléudia Pinho Recentemente, as redes sociais bom- baram com uma espécie de guerra gera- cional, na qual os integrantes da geracao Z (nascidos a partir do ano de 1995) ad- jetivaram alguns comportamentos dos integrantes da geracdo Y, também cha- mados de millennials (os que nasceram entre 1980 € 0 final de século Xx) de cringe, isto é, atitudes (ou coisas) fora de moda, ultrapassadas, cafonas mesmo. O famoso pagar mico, portar-se como um tiozSo, agir de modo a provocar uma cer- ta vergonha alheia, seja porque adoram café, usam calca skinny, ou se vangloriam em pagar boletos... Como inte grante da gera- §30 X (pessoas nascidas entre 1965 e 1980), ini- cialmente, olhei isso de soslaio (cringe raiz, até entao eu desconhecia por completo do que se tratava), mas, depois, pus-me a refletir. A gente sempre acha (ou tende a achar) que a nossa geracao é a melhor de todas. Minha geracao, por exemplo, acha-se superior aos babyboomers (tur- ma do segundo pés guerra, até 1965), sobretudo pelo fato de ter visto as mu- dangas tecnolégicas _“acontecerem”! Sabemos 0 que é um fax, uma vitrola, GENERATION Z um “orelhdo", uma maquina de escrever (alias, comecei a minha carreira no Mi- nistério Publico com uma Olivetti porté- til, que me acompanhava pelos interio- res do Para), uma impressora matricial, acompanhamos o nascimento das “re- des sociais” (mIRC, Orkut); porém, ao mesmo tempo, adaptamo-nos (muito bem, ou com algum esforco) a explosao que se seguiu, no século XXI, com o do- minio da internet. Além disso, aqui no Brasil, temos orgulho de sermos da ge- racao “cara pintada’, que foi as ruas pe- las "Diretas ja!” e pelo primeiro impea- chment de um Presidente da Repiblica. Guerras ge- racionais, por- tanto, sdo nor- mais e sempre aconteceram. Os arroubos séo préprios da ju- ventude de cada geracéo que, do alto de sua (ainda) ima- turidade e da explosio de horménios, posta-se no pedestal e patrulha seus an- tecessores, sem se dar conta de que sé chegaram ali por tudo o que herdaram... Lembrei agora da minha avé materna que, quando os netos faziam troca de algum comportamento dos mais velhos, dizia: "tu vais para lé...". Sdbia! 12 « Re A eM eee ee ee see aor ns SIS ol Teo e eure er mel eh eee eee ee ed Concert ketene caret cir] PEO Cua Satie n eee net Ceara ccd PERV Rice RC eth eed CST TM eel ee eee) CMe seen ce at con Ua oe Ue eRe uD Baloo Pema cas ca ann ae tear Cee Re et eces ie leomeec EN See aa ee eee ee al) ella [aloo cons Pea oe CRO aeons OS reR eres MU) oposicao abolicionismo(s) x garantismoe CUTE Umer Rede el Meee aU Sea rete eee ei OC nueren cnet Cee emer CRE no livro Diritto e Ragione) recebe cri ee er Se SR Cn eee tc ERE tu ee etic ee SC Re ee ciuie oe OR eons ec Mat rd articuladores demonstram desconhecer PLS rice pen ee te ae ee Sree nce ii Pinca eer une oe aCe ek ence Prue arse LO Cease medal ecr ue Pee ae CUM Coe) Cee ee tee mee destaque: um, que se dedica & critica a0 eM ec emen eam OR cies e da democracia e, portanto, direciona Beata eae ncaa Bee eared eNom es rie ean e rc ORet AcE AC erect Uce Coker nen ak tree rele cae Peete eae Ce et ey Cee tnie sees Oe é capitaneado por algumas correntes da TC eR eee a ane CR CR Neue ike eer eae e ccs Quando se trata de analisar as assim chamadas teorias (doutrinas, para Fer- npn eee cae Re tee eee eeEO Nesters (eee ten run ttc oir is CP en ae eet) ‘A obra de Luigi Ferrajoli é extensa e muito densa. Para os fins deste artigo serdo utilizados, basicamente, os livros Derecho y Razén: teoria del garantismo penal. Madrid: Editorial Trotta, 2000 e Il paradigma garantista: Filosofia e critica del diritto penale. Napoli: Editoriale Scientifica, 2016 Cf, PINHO, Ana Claudia Bastos de . ALBUQUERQUE, Fernando da Silva e SALES, José Edvaldo Pereira. O garantis- mo penal de Luigi Ferrajoll: apontamentos (des)necessérios a certas “crticas” made in Brazil, Revista do Instituto de Hermenéutica Juridica. Belo Horizonte, ano 17,n 26, p. 155-186, jul/dez 2019, °Cf. CARBONELL, Miguel; SALAZAR, Pedro. Garantismo: estudios sobre el pensamiento juridico de Luigi Ferrajoli Madrid: Editorial Trota, 2009. “Ferrajoli distingue teorias e doutrinas da pena. Como positivista que é, Ferrajoli aborda a questo desde dois olha- res distintos: 0 ser e o dever ser. E, assim, elabora duas questées igualmente distintas: por que existe a pena? Por que deve existira pena? A primeira questo é da ordem do ser e diz com afuncéo efetivamente cumprida pela pena. Trata-se de um problema cientifico, empirico, ou de Fato e, como tal, demanda respostas verificavels erefutéveis e, assim, verdadeiras ou falsas. Respostas a esse questionamento so, para Ferrajoli, as teorias da pena. Porém, quar do se trata da pergunta "por que deve existir a pena?", estamos no terreno filoséfico, trabalhando coma filosofia politica ou moral, endo empitico. As respostas a essa demanda ndo so verdadeiras, nem Falsas. Tats respostas pos- suem 0 cardter ético-politicae, assim, sao aceltaveis, ou ndo, desde essa perspectiva. Aqui Ferrajali fala em escopo (no mais em Funcéo) e as ideias que procuram trabalhar nesse campo so chamadas de doutrinas, endo de teorias. Ce ete en Ouest Ue ae oe ee kee Ce era ene Iparadigma garantista: ilosofia e critica del diritto penale. Napoli: Editoriale Scientifica, 2016. Pagina 24 ney ING Gees eens eco te ates RUN cneee ee sh coe PSEC recat EON sn et Meer OR eR ati Cee ences acy aks Cnn iu eur conceitos e distincoes. Na segunda parte de seu Diritto e eee cee ork ee Peer nio rR yr ce eee Moa er eR E) Rene enn ens fazendo uma criteriosa digressao (histé- rica, filoséfica, moral) das doutrinas que, CMa ea rc m cts eee OnE Reel tase a Pace ere CT ieeter eee Wane eC Re) Cee es Ce ON gr ie cad Rem Coe teeta Ce Oconee Mes he A RCE CMs Ly ineficiéncia (quantidade de pessoas Cael Re tC CoM OTE 10 oe ndo sao punidas) e cifra da injustica (quantidade de pessoas inocentes que, Pe ie ee Ore UC ite en es aM cI Me ire EEO Me oR Meera Clot Saree Ce tat ccm ic ss) PT re ee Se areca ce mente por isso, precisa ser valida e con- vincentemente justificado, sob pena de Bret ee a Cur justificagao do Direito Penal é, ao fim e a0 cabo, 0 problema da justificacdo do Picea lelol ae A esse passo, é imprescindivel alertar Ea cat cI eee ear Rien injustica. Trata-se de uma escolha politi- feo iE aula oa ae | oC) MOC cet esate edge eek seer leat Perera Garner estas h Pee Seen Ark Chas Meer caer Aincuer ae er tence eerste ele SSE Toa eR UME Rea ee ener ment Cree elec co ChE eo Pee Ce Reco uo Rees eens PCM mnn cies ea Tie CUmets tem reteet Ckenuh aac) Meiateed SRE kell Cel) Coe ee enc Nis ere ORRIN se coe CU Cee eel ela Peete eT eco Pete ESE eee Ce tty claro desde ja que Ferrajoli esta bem Dee eC R Cn ce er tence Marie scan) er mec act] eee eRe es er) Geeta ieee tes eee een ee ae) BR enen ee conc ntte ry Pee ah aR Eee Sacer is trarias seja (ainda que de um ponto de vista especulativo) superior aquela ou- eMC scene etee nT cis (Violéncia advinda dos crimes), a justifi- ere Cech tris Daf por que, dentro daquele grande grupo das doutrinas justificacionistas, er esuCe urea Renee trie() Pee Eimme: Cocle Men tas) Ge Mea esa ire dar en its Sate Sra LEAL? Sue ue ee hee eee ee ee uc) Se Semester eee eT eee tether ts inocéncia, em seu art. 50, VIL. Ouseja, para nés, est claro que no estamos dispostas a pagar o custo da injustic. Ta trinas retributivistas (retribuicdo moral e retribuicao juridica) e nas utilitaristas (ou preventivas: prevenco geral e es- pecial, negativa e positiva). A referéncia a uma ou outra, nesse texto, serd feita & medida em que for necesséria para os pontos de argumentagao sobre a posi- 0 adotada por Ferrajoli e, no segundo momento, as criticas a ele dirigidas por setores da criminologia. O garantismo penal é uma teoria neo- -iluminista. Ferrajoli, logo no inicio de Direito e Razdo deixa claro que fara uma releitura dos postulados da Ilustracio e, de fato, o faz, com uma profun- didade sem igual. Seguramente, nin- guém que estude de forma séria o Direito Penal oci- dental nega (ou desconhece) a im- portancia do sécu- lo Xvilll europeu para a formatacao de um modelo de limites e vinculos ao exercicio do poder de punir, Até ai, creio, estamos de acor- do. Por outro lado, também concorda- mos que 0 Iluminismo (como qualquer movimento de ideias, temporalmente situado) hd muito j4 sofreu algumas su- peracées, mantendo-se, todavia, integra a sua origem, Fincada no racionalismo e nas liberdades. Ferrajoli, por exemplo, nao acredita no juiz “boca da lei", de Montesquieu, tampouco defende uma “ditadura da maioria”, como pretendia Rousseau. A bem da verdade, Ferajoli refere-se ao: iluministas como “ilustrados iludidos” J8 que defendiam um formato um tanto ingénuo do Direito, crendo em coisas do "In Derecho y Razbn...pdgina 220. Artigos tipo: “verdade como correspondéncia real”, “lei como expresso da vontade geral”, "perfeigao do legislador ao Fabri- car uma lei”, etc. Vé-se, portanto, que o Garantismo supera algumas crencas da llustracao e avanca em varios pontos. Herdeiro da Ilustrago, Ferrajoli é, de igual modo, um positivista. E mais: um positivista analitico. A separacéo entre direito e moral é, pois, para ele, pressu- posto inegocidvel de qualquer doutrina sobre a justificagéo do poder punitivo. Confundir essas duas categorias implica, irremediavelmente, Fundar sistemas au- toritérios de Direi- to e Processo Pe- nal. A propésito, quando Ferrajoli estabelece as suas trés teses teéricas em matéria de se- parag3o direito x moral, ganha des- taque a tese me- ta-légica, relativa a aplicacao da char mada Lei de Hume que, em sintese, veda a derivagao do di- reito valido do direito justo, bem como a derivagio do direito justo do direito valido. Toda a argumentaco que incor- fa nesses equivocos, Ferrajoli chama de ideologias, que confundem o dever ser com o ser (considerando as normas como juridicamente validas, enquanto sejam eticamente justas - moralismo juridico), ou que confundem o ser com o dever ser (considerando as normas eticamente jus- tas, porquanto sejam juridicamente vali- das - estatalismo ético)”. Com base nesse pressuposto, Fer- rajoli - quando responde as questées relativas ao “se” e ao “por que” punir - dirige criticas certeiras aos modelos Artigos abolicionistas (que, para ele, so 0s que__maioria (vitimas de crime em potencial), nao reconhecem justificag3o alguma ao__porém - sobretudo - 4 minoria (pessoas Direito Penal como tal®), assim como —submetidas ao sistema de punicdo). aos modelos justificacionistas de ma- Em outros termos: muito mais do que triz substancialista (retribuicéo moral), _um critério racional de legitimacao do ou ético-formalista (retribuicdo juridi- — poder de punir, o Garantismo funciona ca), bem como aos modelos igualmente como uma teoria de deslegitimaco do justificacionistas, mas de viés utilitaris- _ poder abusivo. ta, que, a seu modo, igualmente con- Fundem moral com direito (propostas correcionalistas de prevengdo especial “muito mais do que um critério positiva, por exemplo). Ao fim, Ferrajoli racional de legitimacao do poder de reconhece que, dentre os modelos utili- punir, o Garantismo funciona como taristas, o Unico que possui a vantagem uma teoria de deslegitimacao do de nao construir ideologia (nao confun- dir ser com dever ser) é 0 da prevenco geral negativa, 0 qual, porém, nao esta — isento de criticas, j4 que, mesmo assim, . oo possui uma forte tendéncia a legitimar Em sintese: embora de raiz iluminis- modelos de direito penal maximo, pois, liberal e utilitarista, e embora jus- se preocupa, téo somente, como bem _ tifique o poder punitivo, Ferrajoli nado estar da maioria (nao desviante). Possui uma postura contemplativa em relacdo ao poder, tampouco compactua Reconhecida essa limitagéo da tese como sistema “assim como ele esta ai”. da prevengao geral negativa, Ferrajoli, _ Ferajoli nao é um ingénuo! Ele sabe per- entdo, propde o seu proprio modelo de _—‘feitamente a quantas anda sistema de justificacdo: 0 utilitarismo garantista, _justica criminal italiano e de boa parte ou reformado. Qual a diferenca? Onde do mundo ocidental (a propésito, ndo Ferrajoli avanga em relacdo a geraco —_ esquecamos que a quarta parte do Dirit- anterior (Iluministas)? Num ponto ex- toe Ragione é dedicada, exatamente, & tremamente importante e muitas vezes —_ fenomenologia, isto é, a andlise da falta negligenciado pelos criticos: muito mais _de efetividade do sistema de garantias do que uma preocupagio com a violén- no modelo penalitaliano). A questo é 0 cia gerada pelos crimes, Ferrajoli est cardter inegociavel da Lei de Hume! Isso comprometido em construir um modelo _é fundamental para o Garantismo! Ou teérico suficientemente complexo para __seja: n3o é porque o sistema de garan- reduzir a violéncia advinda das penas e _tias nao funciona corretamente, que ele dos processos injustos. O utilitarismo nao deva funcionar! Nao se pode, em reformado, pois, n3o visa somente 4 outras palavras, desqualificar 0 Garan- ‘Considero abolicionistas sélo aquellas doctrinas axiolégicas que impugnan como ilegitimo el derecho penal, bien porque no admiten moralmente ningin posible Fin como justificador de los sufrimientos que ocasiona, bien porque consideran ventajosa la abolicién de la forma juridico-penal de la sancién punitiva y su sustitucién por medios pedagégicos o instrumentos de control de tipo informal e inmediatamente social. Por el contrario, no son abolicionistas, sino mas exactamente sustitucionistas, aquellas doctrinas criminolégicas, a veces libertarias, y humanitarias en su intencién, pero convergentes en la practica con el correccionalismo positivista, que bajo el programa de la ‘abolicién de la pena’ proponen en realidad la sustituci6n de la Forma penal de la reaccién pun- tiva por tratamientos’ pedagégicos o terapéuticos de tipo informal, pero siempre institucional y coercitive y no meramente social. Por fin, son simplemente reformadoras las doctrinas penales que propugnan le reduccién de la esfera de la intervencién penal o, por otro lado, a abolicién en Favor de sanciones penales menos aflictivas de esa especifica pena moderna que es la reclusién carcelaria" (In Derecho y Raz6n. Pagina 248). 16 tismo com base no “ser” (empirismo) , se Ear loR (MER een ver ser” (normativa), que, segundo seu POR CRE UE ee UTR CW Lee CR ee RRC Oe essa RCM en cn aie Pee ee Coe Rec es Oe POLS eR tics Pe Scr R Ie stn Su ene Crs minologias criticas e o Garantismo. REO AOR teeoe can cee Pocket anus MIRC eSeae rience, (ET? Prec eee tM CR ER eee Pe Lcd ESSE tes ce PPT COMMA el de rodapé, afirma que Alessandro Ba- cee eM tec) eS eu) ee teeta Cc Pe Ce Meco Speer a ee ccnteero ris Oe er Ue Crea Cu Nene E oo tore Be Cee Rater Reece Pree eee ene T UE Eee eRe CIs Reece toriamente, qualquer razo justificado- Pee re Mec eek cls ES Meee acc Cerne Dees ee eR) nao implique a outra. Nem todas as cri- PLS minologias criticas defendem uma pos: iene iene ume Eau Pee Mer ER cei Cea ae me ecu aie Penne erin eeearte ek Ru Ee ne Rca ce any mesma senda da ressalva Feita por Ferra- CRE ence ues Pat Ore ase ies Tel ea ee ue) PSCC Ra cieee tracey Leo Mea ea ee er Le Perea eet ote tn cael como: i) Ferrajoli é um liberal e, por- tanto, somente ajuda a manter o status quo; ii) Por ser um positivista, Ferrajoli Cone Re mE cos et to opressor; iii) O Garantismo nao con- Ee cee Perea mee EMC ea Maem cen Cece ee uc ac te elmer co COW cur ane ud PEER Ee Mn ent mo) ee ee nee eco CSP CE ule keener Pre uen Ceca nese CES Rae Oc Creer tenner cue Een ete Meee aC “ponte” & abolico do sistema penal. Coi Pea ed Cru ark Heese Need NCTE en nee ae eC ry Ferrajoli, partem de dois modelos nada ‘Una Fonte di equivoci & stata forse l'uso della stessa espressione (refere-se Ferrajoli & expressao “direito penal minimo”) da parte di Alessandro Baratta, che propose una mediazione, a mio parere impossible, tra garantis- Re cae ala i ee Langer a ars aren tee eh eee ae hee Sei oe ee pee ee Ce aceon ee een POP Eott ENC nwa re een Ca eee 1986.” (FERRAJOLI, Luigi. paradigma garantista:ilosofia e critica del diritto penale. Napoli: Editoriale Scientif- 2, 2016, Paginas 19-20) (grifos nossos). Cf. CAMPOS, Carmen Hein de. Criminoligia Fenimista: Teoria Feminista e critica 8s criminologias. 1a edicdo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017, ING CeO ER ee ee CT (onde impera a lei do mais forte, numa espécie de estado de natureza pré-mo- derno) ou a disciplinéria/totalizante (onde os conflitos s5o resolvidos por Deemer eras interiorizacao da ordem, ou tratamento. médico, ou panoptismo social, inclusive PO eA on enon ee ce Poetics Teme ak Mele ane n Meee etme EMSs Ce te Mn cnc EO eM ce eaters cee ae eT ct terrivel). Isto é, com ou sem institucio- nalizacdo; com ou sem 0 Direito, sempre haverd o poder. E af? Como controlé-lo? ee ene ee neurite Been Crear ane ranr td Re ECan eect Ten Cre CR ace) Daa eee cee MOSS acereciace Re OY CT ener eS Pence hte eas CER eee eee eeu et a Cu Cncee ciety Gee Ce SOs cur iit rs Dee acre ie ioe ere erences) Cees tice eel nian iacs en ce armen cai mia da criminologia critica, de suscitar Peer aet ret ertene keen ac etree ee OR eae eee latividade histérica e politica dos interes- Pee cu inet eae Sure Eee te Cntaromus kets CM etme Mera ele: ReaECod latente "legitismo" moral das doutrinas penais dominantes, como alerta cirurgi- eee ne TEe Meee MaMa ue UE Rolle AT) Cee eRe cent Recent Be neces Aerie ee eRe eee rete Relea Sune ceed Cees Cele Cc aie mute rando todo o esforco de Ferrajoli para construir limites e vinculos ao exercicio. Cerca keener er uid Peco licenca ao leitor para, a este pas- Eee ener Ounce) PRC CN Areca eee) Petco terete e Ler ROC ieee ute cn Cre eR mn crunk er Reese Recs BEN cue eee Pa ROU) eee mere eR eee ee Set nua c ue ac justifica o sistema penal; para Anitua, Peer ee Me Melee nat ees te iets t) Peres eure Oar C ers Reser) Cessna) eee en ics eRe ue Rec Rete acrd parte do que foi historicamente o papel Cea ner ietsur ay) Cerne erste ees ec are Cae Cac cea eM T ee meee eM men acc s Ue ea ete en Re prova, contraditério; enfim, um “utilita- Cee Cur cua eR) esate eR noe Pat ee cn iroe arto PU eR Ce ed de pensar em alternativas a pena, endo SS kOe eu ke a au et velmente autoritarios de Direito Penal, de Fazer inveja a Lombroso. Cee hue Se Ore Stu ek ee neue ee eee ats Pett letsy Lace TLeE Lt) Dare SMe EEST? 18 em penas alternativas. E curioso notar que sua entrada macica nos cursos de Direito no Brasil (muito mais lido do que Barata) acabou por adaptar-se 8 ex- panso do sistema penal; a prisio sé se agigantou e se articulou com uma mi riade de controles sobre os pequenos conflitos domésticos e privados(...)". Penso que podemos colocar outras luzes nesse debate, resgatando os pon- tos que acima mencionei: i) _Ferrajoli é, sim, um liberal, o que, em hipétese alguma o torna um mante- nedor do status quo: a separacao clara que Luigi Ferrajoli faz entre vigéncia e validade e entre fundamentacao exter- na (politica/moral) e legitimagao interna (normativa) deixa claro que 0 Direito, por ser vigente, nao 6, por essa razio vali- do. Ou seja, muito mais do que manter a coisa como esta, o Garantismo possui uma nitida fungao transformadora de alterar a coisa para como ela deve ser! Dito de outro modo: se a legislacao e as praticas em vigor favorecem um sistema penal arbitrario, existe um critério de deslegitimagao superior (que esté dado pela Constituicao), o qual possibilita esse controle, Nao podemos, igualmente, es- quecer que, quando Ferrajoli trabalha o Garantismo desde uma perspectiva mais abrangente, insiste na necessidade de se criar limites e controles, também, ao po- der do mercado, o que demonstra, clara- mente, sua inegavel preocupacdo com a satisfac3o dos direitos sociais; Ferrajoli é, sim, um positivi (analitico). Mas, pelas razées acima jé ex- postas, n3o compactua com um modelo de Direito opressor. Aqui uma observa- G0: isso s6 € possivel porque Ferrajoli trabalha com um modelo normativo de Direito préprio de paises democraticos, com Constituigdes rigidas, 0 que é, rigo- rosamente, 0 caso do Brasil. Portanto, nao se trata de aplicar uma teoria estran- Artigos geira acriticamente, mas de identificar 0s pontos em comum que os sistemas brasileiro e italiano possuem e, além disso, a total pertinéncia da arquitetu- ra teérica Ferrajoliana a0 nosso modelo constitucional. Lembrando que, a partir do momento em que a CRFB de 1988 in- corporou os direitos fundamentais como categorias normativas (e, pois, vinculan- tes), estabeleceu o vinculo necessario para coibir as praticas opressoras; iii) © Garantismo nao consegue cum- prir as suas promessas. Evidente, que nao! Ou pelo menos, ndo as cumpre in- tegralmente. O SG (sistema garantista) nao € descritivo, mas prescritivo, Nao apresenta as coisas como sao, senado como devem ser. Trata-se, como jé afir- mei acima, de um modelo ideal e, por- tanto, dird Ferrajoli, utépico (para Ferra- joli, utépico nao € 0 abolicionismo, mas © garantismo). Ha, pois, graus de garan- tismo. Sistemas mais ou menos garan- tistas, a depender se cumprem mais ou menos as “regras do jogo democratico” (axiomas, que correspondem aos prin- cipios de limitagdo do poder de punir, proibir e julgar); iv) © Garantismo jamais conseguira resolver os problemas estruturantes do sistema penal, como, por exemplo, 0 ra- cismo. Em verdade, nao é para isso que se propée a teoria. Portanto, antes de mais nada, precisamos ter foco sobre a critica. N3o podemos atribuir defeitos a uma aeronave por ela ndo nos levar 3 lua, se nao é a isso que ela se propée. Ainda assim, pelos fortes vinculos de contengao ao abuso do poder, o Garan- tismo pode, indiretamente, ser um gran- de aliado para o enfrentamento dessas questées. Exemplo: crimes de trfico de drogas em que, majoritariamente, o in- vestigado é pessoa preta ou parda e po- bre. N&o raro, tais investigagées, no &m- bito da justica comum (estadual), iniciam a partir de provas obtidas por meio ilicito * 19 Artigos (invasdo indevida em domicilio, buscas pessoas arbitrdrias, etc). A teoria garan- tista, como filtro para arbitrariedades do poder, funciona perfeitamente como cri- tério de deslegitimacao dessas praticas, levando ao arquivamento de um inquéri- to, ou mesmo a uma absolvicao. Vé-Se, pois, que a generalidade das cri- ticas direcionadas ao Garantismo pelas correntes abolicionistas pecam pela com preensao equivocada (ou, até mesma, in- compreensao) da formatacao tedrica de Ferrajoli, enquanto fruto do positivismo analitico, assentada na fundamentalida- de da Lei de Hume, cuja violacao conduz a toda sorte de equivocos, inclusive 0 co- metido, segundo Ferrajoli, pelo préprio Alessandro Baratta, a0 propor o Garan- tismo como um caminho, um atalho, uma ponte, uma mediacdo, uma estratégia, a0 abolicionismo. Isso nao é possivel, pelo simples fato de que partem, ambas as formulacées, de concepcdes tedricas totalmente contrapostas. O Garantismo jamais vai desaguar no abolicionismo, da mesma forma que o Rio Amazonas jamais. desembocaré no Oceano Indico! Garan- tismo nao é estratégia. Ele é 0 proprio fim! Qual seja: garantir! "Garantismo nao é estratégia. Ele é 0 préprio Fim!" Quanto as criticas pontuais de Vera Malaguti Batista, duas observacées: a) a ideia de prevencdo em Ferrajoli, de fato, “"retorna triunfante". Porém, visando minoria (o imputado); algo que jamais foi ventilado pelo discurso liberal clas- sico; b) Oxala Ferrajoli tivesse tido uma entrada maciga nos cursos de Direito no Brasil! Certamente, estariamos muito mais bem servidos... Ainda haveria muito a dizer. 0 deba- te, como se vé, é rico e merece toda a atengo. Porém, o meu objetivo ao ten- sionar Foi, ao fim e ao cabo, mostrar que uma disputa geracional de sentidos em torno dos fundamentos (ou Falta deles) do poder de punir, desde pré-concei- tos estimulados pelo patrulhamento reciproco, tendem mais a afastar do que a unir a boa critica. E obvio que o Garantismo pode dialogar com as crimi- nologias criticas! Com respeito mutuo a seus pressupostos, sé temos todos a ganhar. Ferrajoli e Zaffaroni, por exem- plo, harmonizam-se (cada qual a seu modo) numa proposta clara de reducao de danos. Se a criminologia fornece a0 discurso garantista uma dtima lente de aumento para a compreensao mais alar- gada do sistema penal, o Garantismo, em contrapartida, Fornece a capacidade de ataque ao poder arbitrario. Colocar o Garantismo na posi¢ao con- servadora de um simples legitimador do poder nao ajuda em nada a reacao con- tra o inimigo comum e, além disso, néo faz justica 4 densidade e sofisticacao da teoria de Luigi Ferrajoli. No final das contas, estamos, todos nés, enlacados e enredados numa teia de (des)continuidades. Ora avancamos, ora recuamos. Assim é com 0 poder pu- nitivo. Uma eterna luta para romper os longos periodos histéricos de autorita- rismo, com alguns suspiros liberal-de- mocraticos, que nos empurram para frente. Restam, pois, as perguntas: é ul- trapassado ser um neo-iluminista? E ver- gonha alheia dizer-se um justificador do poder de punir, mesmo quando isso im- plica assumir uma postura intransigente com 0 arbitrio? E pagar mico compreen- der 0 Direito como (a legge del pit! debo- lee buscar uma transformagao desde o proprio Direito? E cafona ser um defen- sor da Constituigdo da Republica? 20 « PLS ree ERC e kena Reuter teeter cents i URC ee eee lle Reconnect LTT etre [o lee CUR eon te ts oe aL oie Peer er eerie eee ND ee Ie el ele POR a esr een Coun irc tion CELE Tot Loco Non ae Nel ecu etter Fete Mcp sid para chamar de nossos (e, com base ne- Cornet tei et POC ORR Caen can aac ci oe AMO) Pree leReN U2 ee eR) POMC Uc CeCe TY eo CR ae Poe CR ect or cts ra do Grupo de Pesquisa “Garan- Perce vovtienig ING WAU Xe Coke Ve DEFENSIVA: FUNDAMENTOS E REFLEXOS NO PROCESSO PENAL Por Elisa Guimares Dantas © advogado criminalista pode instau- ile Reuter ee Be CM sss oe Perec ent aan ase eta POE Ue entre cis Renu Ena e rer a kets Ee es ere ees a Neer een enc me ae) & pauta de movimentos politico-criminais. Afinal, a medida refletiré na prestacao do SMMC ce ne kc Peete euectenmet icin © Provimento 188/2018, emitido pelo Conselho Federal da Ordem dos ONT ee eee cu enon} eee er nies Bree ten etcok eerie Nese heen saul eerie cece Saree sek and Rica eae Sule) Pea Reset MCU eet SOR onset One MEue eon e cr en Petree eke edie eee on Ademais, 0 sobredito documento nao delineia a investigacao defensiva de forma Seno eee ence Ed DERN Ear emcee alcoM Me Cte a) DS SaleE ol Cod ke a Teta escent CeO) Tre ured el iced gels et Peretti tc me cee Rs rem R I oiler le: [ Re accu) De CC EC RMB Ey Peete een me cut iesmet ane ee RMU mC aed een on wither tani CO kena Peete ais Freee eee Seen neon ent Ma Ree Po Sues reser Pern RCM OMe rae ispecies Cue] Cetin Cee etic ime tere Ademais, o Projeto de Lei n° 156/09 (Novo Cédigo de Processo Penal) prevé a Pee ee eRe er eae pee ea em eet re ccs COE LE Soe aENS) rey cer crt] Pye A investigacao pelo particular permi- te a coleta de dados para a elaboracao da tese de defesa, Favorecendo a sua futura aquiescéncia em juizo. A vitima, seja como querelante ou assistente de acusacao, também utilizaré da provi- déncia para amealhar provas. O objetivo & superar a l6gica reativae limitada pelo “contraditério diferido”, que por muito tempo foi conferida ao advogado. Obviamente, a razoabilidade e a reser- va de jurisdicao devem delimitar os po- deres requisitérios do defensor, para evi- tar que sua conduta seja encarada pelos 6rga0s oficiais como tentativa de obstru- 30 das investigagées. Por essa razdo, a investigacao defensiva deve ser preparada de modo a evitar retalia- ges das autoridades, isto é, precisa ser For- malizada e ter a ins- taurago devidamente comunicada 8 OAB, conduzindo-a com res- peito aos direitos de terceiros e aos limites do exercicio de uma atividade que nao tem poder de coergio’, A distribuigao do énus probatério—as vezes atribuida a defesa — deve ser limi- tada pela realizaao da investigacao pelo particular. Em casos como crimes relati- vos & violéncia doméstica e familiar con- tra mulher, por exemplo, o entendimen- to de que a palavra da vitima possui valor excepcional ji € sedimentado®, Obvia- mente, essa consolidagao nao represen- ta uma inversdo no énus da prova, mas sem diividas, Facilita a tese acusatéria. Artigos Alguns corolarios _constitucionais fundamentam a importancia da investi- gacao criminal defensiva, como a ampla defesa, o contraditério e a igualdade, uma vez que se admite a investigacdo feita pelo Ministério Publico®. Nesse sentido, merece destaque deciséo do TRF3 que reconheceu que a investig: (So defensiva é amparada pela Cons! tuicao Federal, seja pela interpretac3o ampla dos principios supracitados ou pela auséncia de norma proibitiva’. Os tratados de direitos humanos fir- mados pelo Brasil reforgam a relevancia da medida. A Convencao Americana de Direitos Humanos prevé garantias mini- mas para o acusado, como os meios indis- pensdveis para a elabo- ragao da defesa. Ade- mais, a possibilidade de indicar assistente técnico para confronto de prova pericial, bem como a Lei de Acesso 8 Informacdo também dao supedaneo a pos- tura ativa da advocacia no Inquérito Policial +. Permitir que a parte acusadora in- vestigue (RE 593.727) ja é motivo para acatar a investigacao conduzida pela de- fesa, a fim de evitar a violacao 8 parida- de de armas". Se o Poder Constituinte garante "ampla" defesa, com todos “os meios e recursos a ela inerentes”, no hd impeditivos para a consecugéo da investigago criminal defensiva. Afinal, um processo penal justo é construido quando o Inquérito Policial é o primeiro filtro de garantias da persecucao penal. “Brasil, 2006 "1d,,2020. 1d, 1992. *id,,2011. Artigos Referéncias BRASIL. Provimento n° 188, de 2018, Regula- menta 0 exercicio da prerrogativa profissional do advogado de realizacao de diligéncias in- vestigatérias para instrucdo em procedimentos administrativos e judiciais. Brasilia, OF, 2018. Disponivel em: https://www.oab.org.br/leisnor- mas/legistacao/provimentos/188-2018. Acesso em: 25 jun. 2021. TALON, Evinis, Investigacao Criminal Defensiva: de acordo coma lei anticrime, Gramado: ICCS, 2020. BRASIL. Constituicso (1988). Constituicao da Republica Federativa do Brasil, Brasilia, DF: Se- nado Federal, 1988. BRASIL. Decreto-Lei n® 3.689, de 03 de outubro de 1941, Cédigo de Proceso Penal. Brasilia, DF, 1941. BRASIL. Lei n® 8,906, de 04 de julho de 1994, Es- tatuto da Advocacia e A Ordem dos Advogados do Brasil. Brasilia, DF, 1994. BRASIL. Lei n® 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Brasilia, DF, 2006. BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3* Regiai Apelacdo Civel n° 5001789-10.2020.4.03.6181, S40 Paulo. Disponivel em: https://wwwjusbra~ sil.com.br/processos/270427 104/processo-n- -5001789-1020204036181-do-trf3. Acesso et 23 jun, 2021 BRASIL. Decreto n° 678, de 06 de novembro de 1992. Convengdo Americana sobre Direitos Hu- manos. Brasilia, DF, 1992. BRASIL. Lei n° 12.527, de 18 denovembro de 2011. Lei de Acesso A Informac3o. Brasilia, DF, 2011 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Ex: traordindrio n° 593.727. Brasilia, 2015. Dispont- vel em: https://redir.stfjus.br/paginadorpub/pa- ginador,sp2docTP=TP&docID=9336233. Acesso fem: 25 jun. 2021 Advogada, pés-graduada em Ciéncias Criminais. wae rca AUTONOMIA POLICIAL OU EMANCIPAGAO PREDATORIA? orice aM PS nT eR Reo bre a Policia Militar, defendida 21 anos Re eS ON Ua rr dos meios de forca combatentes e come- Cee Seer eee Cee ia Cee One. eure eet Pte eenecrevie SC neces Cea a Onan canary eee ee eee eric) SS recent ae teat Poe eh Meee acts eer meen ed en oP Caer isc ne es kaa re to de uso potencial e concreto de Forca ee nicks crs policiais continuadas nos paises demo- rem ESS ee tee eae policias dos usos clientelistas e das apro- PaeCo aiceneem nmr sui) ET ee el eto Pen See een tee iee Coae eee tes Re Pee reac ect eres blicas conduzidas pelo executivo. Afinal, as espadas, por sua prépria na- eee mun ccuter as eee lie zago que se faz, em uma certa medida Peete eek se ee eer) Renee cr neared Breet ek nist eens prontidao militar. Sem delimitagao, con- rl Monsen mariiegicne as) autonomia nao se tem como garantir a es- eee eel ecard ECs ected eee See ee uns Gere tee Kem kee ten ie PUMA C Rei marine a racy ten som rerun care mentares, silenciam oponentes, pautam a reese eeu esc ee ry ING Ome ecm uM Keer CORO RECs rere ce eo Nae ees ROP Meh castietC) Serer eck ice es Tay Det eee ed (eee ree eerie lees a constituicao de 1988, Note-se que o MOREE Rtn ns tec cn e CEC eee ea tee ae) Cee Re Ce acne Pea ese riet mR car) eee cucu icon DES cer CIEE a ru eure eet esgic Bere su MMe noe eae ote en cue ete ee neice Ce eae eee) met cel para fins particulares. E a cantilena co! eee enue cla ee To CP RU nee tee cone Rie nee enue Coles Magne eer) POEM desc anit) e do governo eleito. Nao somos tinicos Cama Ela uae) ee ek ee st Peter ee tee sarc oes Ce ae ete aie cos e de opiniao tenho insistido sobre o governo dos meios de forca em demo- ere PORN Peat atc r Ree enter he aeee ae ets cérnios de carnaval ou as crendices so- Pence tenen cman oir es tche nate mci Bron uu mer cinec tC Be et eterna ces ty 70 anos. Ao invés de se buscar produzir Rene ee unniere tears cia, na contramao do que se Fez e Faz em Coarse MN eaeleta Pl Ruut Slur ries Pret eRe en Relea e hits Pe US murat racr) Ren ett eee rts eee eure MUR ett Cees Cc meter irr iry ecm lich eae ic STEN Cae Roeser ees duzir prevencao direta em policia. NS RUN OM eet sea etc SSE TE Re Ue Uo ks eRe Reco iees ee eR oe Raney eee ee Ea me nc ta forma fortaleceram os discursos corpo- es ae um at Cote ce oer Pen eure cece Ro) tenho insistido nestes 25 anos de pes- rere m RRR MR aes ee Peo oe a a Sie) CST ie Re eee corte. Pois, assim, ela corta a lingua do Neer eR ee ett ce ere ECC Peete ene eta te que vocé, ele senta na sua cadeira, te Cee neuen ran Brasil, sofremos de monopolismo policial, Meee eee ance art Reet eRe em eee Cees RN eg ee Rees CMR ac) eer Men eu meaTeC} Ce ee et ite certs Cee Cee cee) Pec eesti Pen WC ue ett k a eee tci Recency Seen ee ot meee ence ced ee eee REO eee Doyert (PAU ee an te clod Conte aero ae ce Reece re eee re Pe ea curhn Enea cure RTT lS ek ee) DTS eee he eee Det uence aroha MD citer wR so Poet rink cae Dee eee tects cam Pc cias. Desde Sarney tivemos 31 ministros da justica e 17 diretores gerais da PF. Mi- nistro que tenta controlar a PF costuma ser fritado. Quais sao os dispositivos profissionais de controle externo e interno das poli- cias? Nao ha. Quais séo os dispositivos de accountability das policias? Nao ha. Mas, entre nés a solucdo vem antes do proble- ma. O SUSP que concebemos, em 2003, virou um clube de agentes armados des- regrados. A Forca Nacional que proje- tamos virou um ornitorrinco que serve como uma gambiarra coercitiva para ministro da ocasiao brincar de policia. © debate da seguranca publica segue refém do discurso do medo e cloroquina- do com os profetas de segundafeira e os mercadores dos brinquedos da protecao. Tanto os conservadores quanto os pro- gressistas permitiram a ampliagao do po- der de policia sem regulacéo. Isto de FHC para cd. Uns pela via repressiva e os outros pelo ilusionismo prevencionista woods- tock. Assiste-se aos modismos de ocasiéo. Nao se deve colocar um _guepardo para vigiar 0 nosso quintal. E tem sido isso que temos feito seja por achismo ilustrado, seja por ignorancia vaidosa. Lembro que assim como 0 Gal. Gées Monteiro deu vida a “Politica do Exér- cito", assistimos hoje algo andlogo com 05 projetos de lei sobre as policias. Es- tas propostas sdo antigas e agora en- contram ambiente para prosperarem. E bom lembrar que nao se deve impro- visar com espadas. A inamovibilidade mais longa das chefias da PF Foi nos go- vernos Collor (7 anos de Romeu Tuma) e Dilma (6 anos de Leandro Daiello). Ambos sofreram impeachment. Coin- cidéncia, no? FHC, que nao era bobo, governou sem criar controle policial. Mas nao deixou o pessoal da justica e da seguranga se apegar ao cargo. Teve 10 ministros da justica e 6 chefes da PF. Artigos Ninguém esquentou cadeira para afiar espadas contra ele e seus aliados. Bol- sonaro também nao tem nada de trou- xa: em dois anos de governo, jé contabi- liza dois ministros da justica e 3 chefes da PF. A esperteza foi manter a panela com rodizios dos grupos internos que seguram e mexem a colher de pau ao seu favor para fazer Favores. A fila anda e cada grupelho tem a sua vez. Enfim, seguimos de chantagem cor- porativa em chantagem corporativa, reféns da inseguranca como projeto de poder, vendo golpe em tudo e nao en- xergando onde ele pode, de fato, se construir. Seguimos com a baixa insti- tucionalidade e os limbos normativo-le- gais dos meios de forca. Mas, discutindo sobre o papel de bala ao invés de tratar do recheio podre. Agradinhos orgamen- térios e brindes corporativos nao pro- duzem lealdade e adesio das espadas. Professora doutora do departamento de seguranga publica da UF! Artigos ATIVIDADE POLICIAL E SEGURANGA PUBLICA: COMBATE AO RACISMO PARA O FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL E A REAFIRMACAO DO COMPROMISSO DEMOCRATICO Por Jonata Wiliam Sousa da Silva e Luiz Gabriel Batista Neves Quando falamos em seguranca pi- blica, partimos da compreensao de que se trata de politicas de dever do Estado voltadas a preservacao da ordem publi- ca e da incolumidade das pessoas e do patriménio, por intermédio de érgaos policiais militares e civis (vide artigo 144 e incisos da Constituicdo Federal). E fundamental tratar de seguranca publica em uma sociedade marcada por altos indices de violéncia letal, como constatado pelo Atlas da Violéncia, que contabiliza 57.956 homicidios no Brasil em 2018. Situacao alarmante, que apon- ta nao sé os altos némeros de letalidade policial, mas também dados de elevada mortalidade de policiais civis e militares = dentro e fora do hordrio de servico. Essa mistura “explosiva’, de falta de es- trutura e de auséncia de uma politica de seguranga publica a médio e longo prazo, tem ainda uma coluna terrivel de suicidio desses agentes de seguranca publica, como se pode ver em um simples olhar do Anuério Brasileiro de Seguranca Pu- blica, da Atlas da Violéncia, do Monitor da Violéncia, entre tantos outros levan- tamentos estatisticos. Esse é 0 cenario que desafia qualquer pesquisador que se propée a abordar a complexidade do tema, sem lancar mo de propostas mi- rabolantes e de Facil solucao. we © desafio se acentua ainda mais quando tratamos da sociedade brasilei- ra, que ostenta complexas assimetrias raciais que perpetuam opressdes basea- das em fatores raciais, de género e de classe de forma interseccional, materia- lizando uma realidade em que apenas em 2018 os homens negros (soma de pretos e pardos, segundo classificacso do IBGE) representaram 75,7% das viti- mas de homicidios, com uma taxa de ho- micidios por 100 mil habitantes de 37,8. Comparativamente, entre os nao ne- gros (soma de brancos, amarelos e indi- genas) a taxa foi de 13,9, o que significa que, para cada individuo ndo negro mor- to em 2018, 2,7 negros Foram mortos. Jé as mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes de 5,2 - quase o dobro, quando comparada & das mulhe- res nao negras. (BRASIL, 2020, p. 47). “apenas em 2018 os homens ne- gros, representaram 75,7% das vitimas de homicidios" Mas ndo somente os indices de violén- cia destinados 8 populacdo de pessoas Pee eae Ce cue ae Cae coa Cees eet eit ict eas Cel ara ool) RICE cr ee cae io nees De Yen leira (DEPEN, 2020) e ajuda a construir, na Oreehonentnek tein cet eters presentag3o de pessoas negras em espa- Perea ccer ister ec ey ideia que é reforcada pelos esteredtipos negativos nos aparatos midiaticos (MO- REIRA, Adilson, p. 60), ¢ que impactam na Pertenece a leet Petar ion Pe Cyt Rte Resets cd Der EE eet Ee so eld Renee eaas en ea Sc) Cee aC) eee eee lie icas, a questao racial € Fem ease Reece eee tienes Te een Pe teien ticks eee iret) Nolet East Beene em) Pee ee [a eo Pte ORS Pee eee een etek oe ac) Pee Lee ton Coca is Ser nUee CoM tice isn een Preece eC oe Cnn ct as eRe ee ue ee ees Stet Ma eR Re eI propagados pelos grupos sociais hege- See ence een CN ene teeter tet ete sc Poe eu he Cent een teers ohne inc DUE ste ee Oo PCRS Re IE ecl MRE ce eee Re nee etd rca de forma indiscriminada: os grupos so- ER USM ene Td Cee eS eMC R ie Deen se cet t) 05 alvos preferenciais do sistema penal, ee eR ug Ce) baiano Jader Alves (2017, p. 25). a eRe unc oy De US od Nos préprios profissionais de seguranca pblica. Com base em pesquisa empirica com 64.130 policiais coletada pela Secre- een ees ie nen adsense NASP (BRASIL, 2009, Pete Peco St) Cem UrIe eared Cri eet ce ur ava) Pee crac Comes em ale Renee mek ur) Cee nUCceL ye SU oe Noe nee Pere Mec ey Peete nnrios Senet tetris Ree erect Omelet eae Cy Dee kc ene eres Cees eee Mar et oe Cee cee eT pee ee eee au ts Pee eure ates liciais militares pardos tém mais chance do que os brancos de serem ameacados. Wanita aes esate Me tas Peet eer a cee eter Ce eee seo iss GS een erect Ree rane el eee create Reread discriminagdo, mesmo dentro da institui- Go. (DURANTE; JUNIOR, 2013, p. 137). 29 ING RECS CCRC os Cree eke kere Serer Neen RnR once eco Pee O70 Leet) Eee ah nee ce ee Ger ies ar eee eed Cre RoR OC EE ard POS e ere eer) PS eee CMM Come SMT ee Peer aT Serie eee Ee ate kk eer nes BARC Mr eat eer are gros entre as vitimas da violéncia letal eee nee ieee oc de seguranga piiblica. (in Anudrio da Se- eMedicine ee Peer acne Missa eee ts ees ticied a tetas ROR nek Oeste ec Tecra eerie n eae CON cence Cente no incluiu na base de dados informa- Recerca get Ieee Coke cr) SUSUR Cec arc cece Geter ke Omer era ert Cetin en oo Mur U eat) as necessérias pesquisas e andlises mais Beene eer ete Todos esses dados revelam que nos COME en Eee eee eee publica, seja na atividade policial, seja eee R cee tc) Cen aera ok esc n Sc violéncia, pela discriminagao e pelo ra- Cenc Reiser ew Ey CEN Rae cree) CPt on ec ae cme os Eee Mae ee erie eee ei CME Dee) eee Melee) Ce Ner a Mee Reuss ct} ee ee eRe eee do, portanto, encrustado nas praticas eee Sse "seja enquanto cidadao, a Peete Aten) sociedade brasileira pela violéncia, pela discriminacao e pelo racismo eee cna es Ot te Neti) Ps uER Me nccanre ner politicas de seguranca publica. Hé uma necessidade de publicizacdo de informa- Coreen ee Ream ieee do efetivo das forcas de seguranca pt- blica para que politicas publicas especifi- fee ter ea eee rete erat et cy ETT OR eel e uo ficidade. Além disso, existe a necessi- dade do aprimoramento dos processos Ce eee UC educagao e do letramento nas questées Renee een keunce Teenie Penola amet nel ene tity Tet Pur nico tred Pate eek organizacées da sociedade civil voltados Pee tee ieee ce eeu Penn ur ee ed seguran¢a publica voltadas 4 populagao Ac Ctnecs en cehrescn Creu renee tele eg Celular leeks BP coe Pesquisado no portal Federal: https://wwwijustica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/sinesp-1/bi/dados-se- ‘guranca-publica, Acesso em: 21.abr2021 as 12:22. Os dados quanto ao efetivo da polica civil est no link: https:// Peer eee rycen nahh essmiN Cae eae Nie URee Ney Nara ol uN ya ee OE Es Se ea ee econ etc a eee Peery CA pee a ee eee ecco eee tec ct Referéncias ALVES, Jader Santos. A atuacao policial na pers- pectiva de jovens negros: Vozes dos invisiveis. Universidade Federal da Bahia. 2017a . Dispon- vel em: hitps://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ 11/30029/1/DISSERTA%C3%879%C3%830%20 DE%20MESTRADO-JADER%Z0SANTOS%20AL- VES.pdf. Acesso em: 20. abr. 2021 BRASIL. Instituto de Pesquisa Econémica Aplicada. Atlas da Violéncia 2020. Disponivel em: https:// www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/ atlas-da-violencia-2020. Acesso em: 20. abr. 2021 Ministério da Justica. O que pensam 05 profissionais da seguranca publica, no Bra- sil{sintese do relatério de pesquisa). Org: Luiz Eduardo Soares, Marcos Rolim e Silvia Ramos. ‘SENASP/PNUD. Brasilia, 2009. Disponivel em: https://www.soma.org.br/arquivos/senasp- MJprofSegPublicaResumoRelatGraficos.pdf. ‘Acesso em: 21, abr. 2021. . Ministério da Justia e Seguranga Pi lice. Levantamento Nacional de Informacées Penitenciérias (INFOPEN). DEPEN. Brasilia, 2020. Disponivel em: https://app.powerbi.com/ View?r=eyJlioiYzg4NTRINZYEZDOCiOOZTNKL- WITM2YtZGl2Nzk3ODg0OTIlliwidCl6ImVIMDk- WNDIWLTQONGMtNDNmNyOSMWYyLTRIOGRAN- mJmZTHIMSJ9, Acesso em: 21. abr. 2021 DURANTE, Marcelo Ottoni; JUNIOR, Almir Ol veira. Vitimizago dos policiais militares e civis, 1no Brasil, Revista Brasileira de Seguranca Pabli- ca, S80 Paulo v. 7,n. 1, 132-150 Fev/Mar 2013, FORUM BRASILEIRO DE SEGURANGA PUBLICA. Anuério Brasileiro de Seguranga Publica, ano 14, edigéo 2020, ISSN: 1983-7364. Disponivel em: https://static,poder360.com.br/2020/11/Anua= rio-Brasileiro-de-Seguranca-Publica-2020.pdf. ‘Acesso em: 20. abr. 2021 MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. Colegio Feminismos Plurais, S80 Paulo, 2019. Artigos Pee ey Mestrando em Direito Publico pela Universidade Federal da Bah- ia (UFBA) e Especialista em Cién- cias Criminais pela Universidade Catélica do Salvador (UCSAL) Prince or Doutorando ¢ Mestre em Direito Publico pela Universidade Fede- ral da Bahia (UFBA) e Especia- lista em Ciéncias Criminais pelo Jaspodivm. 31 Artigos MODELOS DE PROCESSO PENAL E COLABORACAO PREMIADA Por Luiz Augusto Reis de Azevedo Coutinho A colaboracao premiada é um acordo processual, espécie do género negécio juridico processual, que muito embora nao tenha como objetivo modificar 0 procedimento, estabelece obrigacées reciprocas entre as partes, verdadei- ramente “um novo modelo de Justica Penal, que Funciona a partir de fungées nao epistémicas e sem preocupacao de legitimar o exercicio do poder de punir estatal” (BADARO, p. 127), sendo uma alternativa como forma de composicao do litigio penal. Trata-se de uma técnica especial de investigac3o na modalidade dos meios de obtencao de prova, advindo de um negécio processual personalissimo, que gera obrigacées e direitos entre as par- tes celebrantes (Ministério PUblico/De- legado de Policia e colaborador). Considerando a existéncia de dois modelos de orientacao para 0 processo penal, a abordagem do tema colabora- cdo premiada tem seus reflexos bem de- finidos a partir da compreensdo de cada um deles. A nogéo de modelo inquisitive re- monta ao processo penal instituido pelo Papa Inocéncio Ill (1161-1216), em meados do século XIII, para perse- cugao de hereges (inquisitio haereticae 32 ¢ pravitatis) e é pensado sob a tradi¢do do civil law, para designar um proceso penal no qual o magistrado, por reunir as Fungées de acusar, defender ejulgar, nao atua com a imparcialidade exigida pelos contemporaneos postulados do due process of law. Bem pontua sobre o tema Aury Lo- pes Jr, quando afirma: “Pode-se consta- tar que predomina o sistema acusatério Nos paises que respeitam mais a liberda- de individual e que possuem uma sélida base democratica. Em sentido oposto, 0 sistema inquisit6rio predomina histori- camente em paises de maior repressao, caraterizados pelo autoritarismo ou to- talitarismo, em que se fortalece a hege- monia estatal em detrimento dos direi- tos individuais”. (LOPES JR, p.95) “o sistema inquisitério predomina historicamente em paises de maior repressao, caraterizados pelo au- toritarismo ou totalitarismo" Na tradicdo anglo-saxénica, a colabo- ragéo premiada tem sua existéncia jus- tificada pelo principio da oportunidade, reitor da acao penal. As bases principio- légicas da colaboracao premiada no di- Pere ROR Nr me Can daquelas que sustentam o instituto do erie aed een ee institutos so distintas. O direito italiano ener te Scarce Ge One tereaie ee uc Mod ener et Mue Rn caer os separaco dos trés sujeitos processuais: acusado, acusador e julgador. De qual- eee eae Cet emergéncia, o instituto da colaboracao PMC Cie a mec sere as liana como causa de diminuicao de pena, expressando-o por norma de natureza PEI MUEnut Ce RUMEN ete) PI ene ere ee nae ain] eee eer er Reena cca oe Cre CIn Gc mci n ate ne) Seek ees iu Ronnie ee Serres Bee Resco ema sn id eReereiere thers Deco eeteu rcs CO coe ror Pcie Or) Ceo eR ect Pee etter tre) POLE Mice) Ciscoe Oe EL ornate) Oe Tan eet) Peetu omit Bee Tene Ca Sees de declaracées falsas; EC MM etc acu RF) aco penal rende um vasto e dificilmen- te controlével ambito de atuago ao pro- Betoun Cem nur ee ced conferem a certeza do prémio ante uma Peach cece Pele Rt Sa eaico a Teo Nat PateN Cisse er UCR rea ee tens Police Renu r We Re rs POR u cena een PGT eS eck ER rie More CC comm Cat OMe Mra portou instrumentos tipicos de processo Pe eee ec cis Se ue ue aoe ere ete ues leniéncia (leniency program), relacionan- Cease cncrukneccienca Cee eee og Rae toridade antitruste local antes de inicia- CER eta rictm ER ES unre close ces Scie re nea mnie ei culdade de combate a criminalidade or- Pee eee ccna ters EPSeeten cu ieet tet Wen tee ee eck Rl ure Re Re ey CeCe t ee eR eee) Cert rie eae hCem tie Rien see uence Re ee OR re no sentido de evitar a atuacao estatal quan- do estiver sendo 0 ob- Fee NCateccON ieee Roucac in Dee eed tor extensivo as suas Cora) ser vingadas em caso Pcie accu) eee Recut Ceara er) Peer ue uee rer EN eR et ET) Cece Re Reet ee coke aCe DOs ieee setts Bremen aera aia lite) que tentou acabar com os criminosos Ce eae See cd CPCs MOM ee) Pablico para o exercicio da aco penal que Geer er ec penal tao sé tenha ele noticia do crime e Pees esc ck eet ase ns atuar. J4 no sistema do Direito Norte-Ame- ay ING ricano (plea bargaining), inspira-se no triné- Riese mes cuir Maem Diferentemente do sistema italiano, que eens em aii ied Steuer cic) Re seean ee es eseurtet comon law a liberdade ampliada da pode- res muito grandes ao érgao acusador que Cet ret ur recuse ie eet cee POE en Mo MN oa Pena uC teu cuee Oe een ene eter) ereucae Ne cruruen aie rosea Renner ee This PSE en Mor Cae entre elas: proporciona mais beneficios EON eters cere a a efeito dissuasivo da conduta delituosa; eet Rane Cesc orem CMe eraser eC ae ee eee circle rene Cem iM cari Tee eid acusados do crime, existindo vantagens SOR eeu so eae Rte te tute ee eee eS eee etc icin 34 Luiz Augusto Coutinho Professor de direito penal na Uni- versidade Catélica do Salvador (eonpecerecee reer! Creregar scene Ronee ee eee en a2) Ceteecc eres cot es Ere ee ecto oro ne gentino (UMSA). Artigos O JUIZ GARANTISTA E O PARADOXO DA FUNDAMENTAGAO LIBERTARIA EXAURIENTE Por Matheus Martins Moitinho A Constituigado Federal de 1988 inau- gurou um panorama calcado na maior protegdo do ser humano frente as in- geréncias do Estado, operando uma virada copérnica quanto ao catélogo dos direitos fundamentais. A titulo de exemplo, para ndo pecar no vicio da prolixidade que infelizmente persegue esse articulista, tem-se que a matéria passou a ser tratada logo no inicio do texto constitucional pelo legislador constituinte origindrio de 1988, ao pas- so que em experiéncias anteriores o trato do tema se dava ao final, talvez por se colocar em patamar de desim- portancia ou nitido nominalismo o ple- xo de valores mais intrinsecos do ser humano pelo préprio Estado. Tal aspecto é revelador da fixacdo do compromisso de todos os poderes quanto & densificagdo/concrecao dos direitos e garantias Fundamentais e, no caso do Poder Judiciério, da atribuicao da missdo institucional de proteg3o do ser humano frente ao arbitrio estatal. No processo penal, a incidéncia de direi- tos essenciais como a presuncéo da ino- céncia, devido processo legal, vedacao a tratamento cruel ou degradante, entre outros, torna ainda mais impositiva a obrigacdo de o membro do Poder Judi- ciério atuar como verdadeiro tutor das regras do jogo e da plena eficdcia dos di- reitos Fundamentais, como fator de atri- buicdo de legitimidade de uma eventual intervengao do Estado no bem maior da liberdade individual. O sistema acusatério encontra-se fin- cado na dicgo do art. 129, inciso |, da Constituicdo Federal, dispositivo esse recentemente concretizado por meio do art. 3A, do Cédigo de Processo Pe- nal, apés o advento da Lei n° 13.694/19. A jungo do referido sistema com a nor- matividade do principio da presuncao da inocéncia resultariam na atribuicao da carga probatéria ao érgdo acusatério, fixando-the a tarefa/énus de comprovar os elementos da sua hipétese acusaté- ria. E, quando nao existente base prob téria suficientemente apta para a afi macao da responsabilidade criminal do réu, no se exigiria maior carga de fun- damentacao, mesmo porque a sua ino- céncia é presumida, nao sendo necessé- ria maior digressao para sua afirmacao. Embora tudo isso paresa ser uma ob- viedade, posto que decorrente da pré- pria interpretacaio do plexo de valores trazides pela ordem constitucional vi- gente, o estado real das coisas é demons- trativo da existéncia de uma sociedade que clama por punicéo a qualquer custo. E, transgredindo a sua concep¢ao de ins- tancia contramajoritaria, ndo raras vezes * 35 Artigos 0 membro do Poder Judicidrio inspira-se nas vozes das ruas (0 canto da sereia de Homero), a admitir voluntarismos que desvirtuam a sua missao institucional, culminando numa inversdo de valores que resulta na demonizacio do juiz que segue a Constituicao Federal e as leis vi- gentes, como se tal agente politico fosse um entrave para o climax do gozo da pu- nigdo clamada pelo corpo social. No af de punir a qualquer custo, 0 julgador incorpora o personagem Dredd dos quadrinhos, aglutinando as fungées de investigar, acusar e julgar, num cla- ro exemplo de sistema pés-acusatério tao bem mencionado por GLOECKNER (GLOECKNER, 2018, p. 24). Na divida, no simplesmente absolve - deixando de aplicar o principio da presungao da ino- céncia como regra de julgamento — mas persegue uma verdade e uma vontade construida no seu psiqué, rampendo com toda a liturgia que um sistema que adota a separacao de funcées Fixa, incorporan- do-se a arena processual como se jogador fosse e ndo como arbitro (ROSA; LOPES JUNIOR, disponivel em https://www.con- jur.com.br/2019-jut-05/imite-penal-jogo- -nao-juiz-nao-jogada-fora-ei). O juiz garantista, por sua vez, ainda preocupado com a integridade do texto constitucional e 0 sistema de protecao inaugurado como decisao politica Fun- damental, optaria por cumprir as regras vigentes, sem protagonismo, sem holo- fotes, sem anseios de satisfacéo do sen- timento majoritério populacional. Ob- servador da producio da prova, quando viesse a se deparar com uma acusagdo infundada, sem ressonancia probatéria para a submissao do cidaddo a uma re- primenda penal, ndo deveria se envergo- nhar de absolver, sendo que poucas pala- vras deveria externar para tanto, j4 que no precisaria Fundamentar exaustiva- mente a respeito da inocéncia da pessoa. Entretanto, como diz o culto profes- sor Lénio Streck (STRECK, disponivel em http://www. ihu.unisinos.br/78-noticias/ 581764-aplicar-a-constituicao-hoje-e- -um-ato-revolucionario-entrevista-com- -lenio-streck), aplicar a Constituigéo nos dias atuais é um ato revolucionério. Diante de uma sociedade por mais e mais puni cumprir 0 manto de valores plasmado no texto constitucional, através de de- cis3o de cunho libertario, principalmen- te quando emanada por um juiz que se alinhe a um perfil garantista, acaba por exigir, paradoxalmente, maior carga de fundamentacao, tanto como forma de autodefesa institucional por parte de quem assina 0 decisério, como meio de, através do constrangimento argumen- tativo, apontar o caos que se insere o estado de coisas atual e reafirmar os va- lores da ordem constitucional vigente. A primeira razdo justificadora para a emanac3o de uma fundamentaco exauriente libertaria diz respeito a uma instintiva autoprotecao do agente ema- nador do decisério. E que, diante do pensamento majoritdrio relativizador das garantias Fundamentais, a culminar, vez por outra, na admissio de funda- mentag3o condenatéria com base pro- batria rarefeita, o juiz garantista, numa atividade parecida como um exorcismo argumentativo, aponta exaustivamente as raz6es para uma absolvicdo ou soltu- ra do cidadao, de modo a deixar inques- tiondvel que exerce a sua fungdo com base nas leis vigentes e ndo por mera preferéncia pessoal ou filoséfica. Quanto a isso, ndo é demais lembrar que julgadores com perfil mais garantis- ta jé foram alvo de questionamentos em instancias correcionais em razao do con- tetido libertério das suas decis6es. sem- pre importante citar os casos dos juizes Roberto Luiz Corciolli Filho e Kenarik Bou- jikian, os quais responderam a processos 36 ¢

You might also like