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Leitura 1
Leitura 1
O funcionamento normal do organismo requer uma integração harmônica entre sistemas e funções.
Como o desenvolvimento da espécie humana se deu em ambiente em que se alternavam períodos de
movimento e de repouso, a atividade física agiu como força evolutiva, moldando o funcionamento do
organismo. Apesar da importância desse fato, ele acaba sendo negligenciado, talvez pelo automatismo das
ações diárias. Desse modo, as pessoas não se dão conta da importância do movimento no funcionamento geral
do organismo, limitando-se a valorizar suas funções mais aparentes, como capacidade de transporte e
locomoção, relegando o sistema musculoesquelético a um papel secundário.
O sedentarismo vem aumentando rapidamente, nos países desenvolvidos e naqueles em
desenvolvimento,1 sobretudo nas regiões urbanas onde ocorre subutilização dos mecanismos normais
inerentes à atividade muscular. Dessa maneira, independentemente do mecanismo que leve ao
desencadeamento de uma doença, de maneira genérica, pode-se afirmar que a doença é um estado de
desequilíbrio do organismo e, certamente, a perda de uma função como o movimento é um fator importante
para o estabelecimento desse desequilíbrio. Portanto, o profissional de saúde não deve considerar o exercício
físico simplesmente como uma abordagem terapêutica adicional que pode ser oferecida ao paciente, mas deve
ter consciência de que está reinserindo na vida do paciente um fator de extrema importância para o equilíbrio
orgânico.
Assim, reconhecendo a importância do movimento para a boa saúde e longevidade, é fundamental
passar à sistematização do gesto motor e à sua institucionalização e prática em escolas, academias, clubes,
parques e outros espaços públicos, na forma de jogos, ginásticas, exercícios físicos e esportes, assim como
noutras formas diversas de manifestações por meio do movimento corpóreo. No entanto, apesar da grande
oferta, há um número significativo de pessoas que não praticam exercícios físicos e preferem atividades de
lazer com baixo nível de movimento. Nesse sentido, a área do conhecimento sobre o movimento humano, a
educação física, que atua mediante a sistematização da atividade física, transformando-a em uma prática
regular e intencional, hoje definida como exercício físico, tem como objetivo buscar a promoção da saúde e a
prevenção de doenças, enquanto área do conhecimento e de atuação profissional.2
Desde sua origem até os dias atuais, a educação física passou por transformações ideológicas e, de
algum modo, prestou-se como meio para educação e organização das massas, sendo observadas fases bem
características ao longo de seu desenvolvimento, manutenção e atualização.
O educador físico foi inserido na lista dos profissionais de saúde há pouco tempo no Brasil, havendo
ainda, nos dias atuais, algumas dúvidas sobre o processo de formação profissional para atuação nessa área,
uma vez que a maioria dos cursos de graduação é voltada para a área pedagógica e/ou para a prática esportiva,
sem formação acadêmica para atuação na área da saúde.
Diante da necessidade de profissionais com a adequada formação para atuar nesse âmbito, observou-
se nos últimos anos a criação de cursos de educação física que contemplam em seus currículos a discussão de
conceitos como saúde, doença, risco/vulnerabilidade, prevenção de doenças e promoção da saúde. Com base
nesse novo paradigma, na atualidade, a formação do educador físico passa a ter um foco mais definido para
atuação na área da saúde, visando ao emprego das diversas modalidades e possibilidades do movimento
humano, por meio do exercício físico, na promoção da saúde e na prevenção de doenças, especialmente
VAISBERG, Mauro; MELLO, Marco Túlio de. Exercícios na saúde e na doença. Luna Júnior LA. Barueri: Manole, 2010.
daquelas conhecidas como crônico-degenerativas. Desse modo, tem-se objetivado um novo perfil para o
profissional de educação física, com vistas à atuação mais específica no processo saúde-doença-cuidado.
Várias podem ser as razões alegadas para o sedentarismo e a instalação de doenças relacionadas ao
baixo nível de movimento corpóreo, conhecidas como síndrome hipocinética. No entanto, deve-se considerar
a possibilidade de que a maioria das pessoas tenha preferência por programas com baixo nível de movimento,
especialmente por não sentirem prazer na execução de atividades físicas.
Corrobora essa observação uma pesquisa publicada em 2000,3 quando se realizou um levantamento
epidemiológico relativo à prática de atividade física na cidade de São Paulo, relacionando-a a queixas de sono.
Verificou-se que somente 31,3% da população da cidade praticam algum tipo de atividade física e que, desse
montante, somente 36,4% recebem orientação de um profissional da área de educação física. Com isso, nota-
se não somente o baixo percentual de pessoas engajadas em programas e/ou propostas de aumento do nível da
atividade física diária, como também a pequena participação de profissionais de educação física nessa
orientação. Assim, surgem algumas questões de interesse para os educadores físicos: como motivar as pessoas,
especialmente as sedentárias, à prática regular de atividades físicas? Como aumentar a adesão e a eficiência
dessa prática para a saúde física e emocional?