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Uma Alternativa de Reversão de Quadros de Exclusão Sócio-Tecnológica Através de Um Processo de Imersão Tecnológica
Uma Alternativa de Reversão de Quadros de Exclusão Sócio-Tecnológica Através de Um Processo de Imersão Tecnológica
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teoria & prática
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rem ambientes favor·veis ao crescimento e a utilizaÁ„o das TICs em suas pr·ticas do-
‡ construÁ„o conjunta de conhecimento. centes foi extremamente importante na ta-
refa de identificar elementos que impedem
Na reflex„o sobre essa possibilidade, a apropriaÁ„o das tecnologias por parte dos
algumas questıes devem ser consideradas, professores, possibilitando o desenvolvimen-
como, por exemplo: Qual o nÌvel de analfa- to de uma metodologia com vistas ‡ capa-
betismo tecnolÛgico a que os professores citaÁ„o crÌtica e criativa dos envolvidos para
est„o submetidos? Como se d· a apropria- a atuaÁ„o com as TICs.
Á„o das TICs por parte dos professores de
diferentes cursos? De que forma a apropria- Outros pontos foram devidamente
Á„o dessas tecnologias pode propiciar o analisados:
desenvolvimento de novas pr·ticas pedagÛ- ∑ os nÌveis de analfabetismo tecnolÛgico a
gicas? Intui-se que a resposta a estas e a que os professores est„o submetidos;
outras questıes, bem como o surgimento de ∑ a efic·cia da formaÁ„o tecnolÛgica obtida
outras, possa ser obtida atravÈs de um tra- em seus cursos de graduaÁ„o;
balho de imers„o tecnolÛgica desses sujei- ∑ o modo de apropriaÁ„o das tecnologias por
tos, bem como a partir do acompanhamento parte dos educadores.
do trajeto percorrido pelos professores com o
3 O processo de desenvolvimento
objetivo de domÌnio dessas tecnologias.
da idéia
Dessa forma, o desenvolvimento da
J· h· algum tempo, o conceito de So-
pesquisa foi motivado pela necessidade de
ciedade da InformaÁ„o, propulsor de uma das
propor um modelo de imers„o tÈcnico-edu-
mais importantes obras liter·rias do sÈculo
cacional, que capacite educadores ‡ criaÁ„o
passado, a trilogia do sociÛlogo catal„o Ma-
de novas pr·ticas docentes que considerem
nuel Castels, Sociedade em Rede, tem sido
a utilizaÁ„o das TICs, a fim de que possam
repensado com relaÁ„o ‡ sua concepÁ„o.
utilizar tais recursos para a qualificaÁ„o do
processo educacional. Alguns autores apresentam uma lei-
tura alternativa para a atual realidade social.
2 Expectativas da pesquisa
Teresinha FrÛes (2000) propıe o termo So-
Inicialmente, esperava-se propor uma ciedade da Aprendizagem. Para compreen-
metodologia de capacitaÁ„o de professores der a sua idÈia, basta um breve exercÌcio
ao domÌnio criativo das TICs, a fim de fo- lÛgico. A informação em si, amplamente dis-
mentar o desenvolvimento de novas pr·ti- ponibilizada pelas tecnologias, contempor‚-
cas docentes apoiadas pelas tecnologias. neas ou n„o, n„o acarreta obrigatoriamente
o desenvolvimento intelectual; j· o conheci-
Buscou-se, ent„o, possibilitar aos en- mento, para ser percebido como tal, decorre
volvidos a superaÁ„o da situaÁ„o de divis„o da sistematizaÁ„o das informações disponÌ-
digital a que est„o submetidos, a fim de que veis. … exatamente esse o caminho necess·-
possam, tambÈm eles, propiciar essa mu- rio para que as informaÁıes transformem-se
danÁa de postura a seus alunos. A detecÁ„o em conhecimento, e deve ser preenchido pela
da concepÁ„o inicial dos professores sobre capacidade de aprendizagem.
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nada ao que Sampaio (1999, p.11) chama zaÁ„o do mundo atual e na capacidade do
professor em lidar com as diversas
de ìalfabetizaÁ„o tecnolÛgica do professorî, tecnologias, interpretando sua linguagem e
da qual depender· a escolha entre ìinserirî criando novas formas de express„o, alÈm
a tecnologia na escola e ìsofrerî seus im- de distinguir como, quando e por que s„o
importantes e devem ser utilizadas no pro-
pactos ou possibilitar a ìinteraÁ„oî com e cesso educativo. (SAMPAIO, 1999, p. 75).
atravÈs da tecnologia na escola e suas im-
plicaÁıes, possibilitando a professores e alu- A necessidade da alfabetizaÁ„o tec-
nos a descoberta, a compreens„o e a nolÛgica do professor, que poder· ocorrer
interaÁ„o, contribuindo para a modificaÁ„o de formas diferentes em funÁ„o das realida-
do mundo que os cerca. des socioeconÙmico-culturais de cada um,
tem por base fatores relevantes. Destes, um
A exemplo do processo de alfabetiza- diz respeito ‡ necessidade de que esteja
Á„o, que transcende a idÈia de consumidor atento aos avanÁos tecnolÛgicos para que,
de textos, na medida em que fornece ao uma vez dominados e ìassimilados social-
homem a possibilidade de construir novos menteî, possam ser imbricados ‡ formaÁ„o
conhecimentos atravÈs de uma nova leitura dos alunos enquanto ìcidad„os capazes de
do mundo no qual est· inserido, superando lidar com os avanÁos tecnolÛgicos, partici-
situaÁıes de passividade diante da socie- pando deles e de suas conseq¸Ínciasî
dade, a alfabetizaÁ„o tecnolÛgica pode, e (p.15). Se as tecnologias, nas suas mais
deve, ir alÈm do domÌnio instrumental da variadas formas, fazem parte da vida dos
m·quina, dissociando-se de uma concepÁ„o alunos fora da escola, parece natural que
tecnicista, centrada na utilizaÁ„o da tecno- faÁam parte, tambÈm, de suas vidas escola-
logia como mera ferramenta a ser manipu- res, o que implica o desenvolvimento de no-
lada, passando a ser concebida como no- vas competÍncias por parte dos professores.
vas possibilidades de comunicaÁ„o, de inte-
raÁ„o e de construÁ„o do conhecimento. Ao se referir ‡s ìnovasî habilidades do
professor na sociedade da informaÁ„o, Sampaio
O termo alfabetização È tomado como (1999, p.18) destaca a capacidade de ìcap-
base do conceito de alfabetizaÁ„o tecno-
tar, entender e utilizar na educaÁ„o as novas
lÛgica do professor por alguns motivos.
linguagens dos meios de comunicaÁ„o ele-
Sampaio (1999, p.60) afirma que ambas
trÙnica e das tecnologiasî. A autora afirma que
ìconjugam a decodificaÁ„o de signos e sua
interpretaÁ„o ou atribuiÁ„o de sentido; [...] o professor precisar·
contribuem para a interaÁ„o do homem com utilizar as tecnologias e suas diferentes lin-
o mundo de maneiras mais efetiva, partici- guagens com o objetivo de atingir o aluno e
pativa e crÌtica; [...] necessitam de aperfei- transform·-lo (sic!) em um cidad„o tambÈm
capaz de entender criticamente as mensa-
Áoamento constanteî, e declara que È preci-
gens dos meios de comunicaÁ„o a que È
so compreendÍ-la exposto, alÈm de saber lidar, no dia-a-dia,
com os outros avanÁos tecnolÛgicos que o
[...]como um conceito que envolve o domÌ- rodeiam. (idem, 1999, p.19).
nio contÌnuo e crescente das tecnologias
que est„o na escola e na sociedade, me- Sabe-se que aspectos relacionados ‡
diante o relacionamento crÌtico com elas.
Este domÌnio se traduz em uma percepÁ„o inserÁ„o de novos recursos no processo
global do papel das tecnologias na organi- ensino-aprendizagem demandam, alÈm de
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uma profunda reestruturaÁ„o na atual con- (1) encontros semanais, cujo objetivo era o
cepÁ„o de educaÁ„o escolar e n„o escolar conhecimento e o posterior domÌnio das
e da prÛpria idÈia de inform·tica na educa- tecnologias por parte dos participantes;
Á„o, o domÌnio da tecnologia por parte do (2) encontros mensais, que se destinaram ‡
professor. Assim, È preciso que se iniciem discuss„o e ao aprofundamento de temas
reflexıes no sentido de vislumbrar algumas referentes ‡ inform·tica na educaÁ„o e
possibilidades de mudanÁa de condiÁ„o da- (3) um momento final, destinado ‡ criaÁ„o
queles que s„o submetidos a uma ìeduca- de pr·ticas pedagÛgicas que considerassem
Á„oî para a ìdomesticaÁ„oî, e n„o para a a utilizaÁ„o criativa, crÌtica e segura das
libertaÁ„o, como sugere Freire (1983, p.36). tecnologias.
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am por tomar parte do estudo, estando au- as experiÍncias pr·ticas dos alunos, esta-
tomaticamente liberados para, uma aula por belecendo relaÁıes e detectando contradi-
mÍs, participar dos encontros de discuss„o Áıes entre teoria e pr·tica.
teÛrica realizados no Mundo da Leitura e dos
encontros semanais em hor·rios alternati- Etapa 4:
vos e realizar o trabalho final da disciplina, Relacionada com a imers„o tecno-
de acordo com os objetivos do projeto. lÛgica propriamente dita dos envolvidos,
Etapa 2: esta etapa ocorreu concorrentemente com
a anterior, sendo, inicialmente, proporcio-
ObtenÁ„o de informaÁıes referentes nados momentos de familiarizaÁ„o e utili-
‡ concepÁ„o atual dos professores sobre o zaÁ„o das tecnologias, visando um poste-
papel das TICs na sociedade atual e, mais rior e conseq¸ente domÌnio desses recur-
especificamente, no processo educacional sos. Os encontros foram realizados sema-
como um todo. Tais informaÁıes foram cap- nalmente, em hor·rios previamente esta-
tadas atravÈs das discussıes mensais, as belecidos, sendo desenvolvidos nas de-
quais tinham como base um texto especÌfi- pendÍncias da Universidade de Passo
co da ·rea e os coment·rios surgidos infor- Fundo, com o envolvimento do pesquisa-
malmente durante os encontros semanais. dor, da equipe do Mundo da Leitura, de
Utilizou-se tambÈm o recurso de entrevistas volunt·rios do curso de CiÍncia da Com-
e question·rios. putaÁ„o 3 e os sujeitos da pesquisa.
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senÁa das tecnologias, as iniciativas existen- Mas, cabe salientar que apesar dos
tes na ·rea, dentre outras. aspectos expostos, que serviram de base
para a reestruturaÁ„o do projeto, os alunos
PorÈm, h· de se destacar que a inefi-
puderam desenvolver propostas, n„o t„o ino-
c·cia da capacitaÁ„o tecnolÛgica dos pro-
vadoras quanto o esperado, mas alternati-
fessores pÙde ser minimizada a partir das
vas e diferenciadas em relaÁ„o ‡queles que
atividades realizadas no projeto, nas quais
verificou-se a relaÁ„o do domÌnio da tecno- n„o participaram do projeto, utilizando, de
logia com a predisposiÁ„o proveniente de forma segura e eficiente, os recursos
uma motivaÁ„o adequada; motivaÁ„o que tecnolÛgicos disponÌveis. Algumas das pro-
passa pela discuss„o, reflex„o e conheci- postas e atividades ser„o disponibilizadas
mento do potencial das tecnologias ao pro- no site do projeto (http://vitoria.upf.tche.br/
cesso educacional. ~leitura/imersao/), t„o logo a etapa de
digitalizaÁ„o do material seja concluÌda.
Na mesma linha, pÙde-se detectar a
carÍncia das universidades no preparo dos 6 Considerações finais
professores para a atuaÁ„o com as TICs, o
que pode ser facilmente verificado a partir Foi possÌvel verificar a import‚ncia do
da an·lise dos currÌculos, que algumas ve- domÌnio das TICs por parte dos professores
zes n„o prevÍem disciplinas relacionadas, e a sua conseq¸ente utilizaÁ„o diferenciada
das ementas das disciplinas de inform·tica no processo educacional, visto que, na me-
educativa, da opini„o de alunos e do dida em que se reconhecem as potencia-
posicionamento da maioria dos professores, lidades e as possibilidades das TICs, È pos-
que, tendo o papel de proporcionar, ou ao sÌvel propor formas de utilizaÁ„o alternati-
menos apoiar, iniciativas semelhantes na vas, para alÈm da concepÁ„o atual de
·rea, acabam por dificult·-las. inform·tica educativa. Entretanto, para que
seja possÌvel aprofundar essas discussıes
N„o se trata, entretanto, de uma defi-
ciÍncia da Universidade de Passo Fundo, e traÁar um paralelo entre as duas experiÍn-
mas uma realidade na educaÁ„o superior cias, bem como aprimorar o processo de
brasileira. Da mesma forma, os alunos ain- imers„o proposto pelo projeto, torna-se fun-
da n„o reconhecem a import‚ncia de ativi- damental a sua continuidade em uma
dades que os coloquem em contato com tais perspectiva de contribuiÁ„o permanente, para
recursos, uma vez que de aproximadamente o desenvolvimento de competÍncias que pos-
60 alunos matriculados na disciplina de Pr·ti- sibilitem aos professores o domÌnio criativo e
ca de Ensino I, somente 29 se dispuseram a autÙnomo das tecnologias, buscando alterna-
participar e apenas 12 finalizaram o projeto. tivas para a minimizaÁ„o da exclus„o digital.
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