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Copytigit © by Lai Flivio de Carvalho Costa, Georges Flexor, Raimundo Santos (rg) eta, 2008 Direitos desta edict reservados & MAUAD Batra Lids, ‘Rua Jooguim Siva, 98, 5° andar Lapa — Ri de Jenico — RJ — CEP: "Tl: (21) 3479-7422 — Fax: 21) worwmauad.eombe em covigio ‘com a Editors ds Universidade Ror (EDUR) Projto Grific: \iclo de Arte/Maund Editor Mustragao da #* Cape Bordo Ferto @ O dilema dos transgénicos' Gian Mario Giuliani* (0s ripidos avangos no campo da manipulagdo das componentes fundamentais dos seres vivos tornam os cientistas ainda mais responséveis pela vida e a saide da populagdo, Porém, os cientistas sé podem exercer sua atividade se dispuserem de labo ratorios adequadamente equipados ¢ vultuosos fundos para realizar seus trabalhos. Cres- ce, com isso, um impasse dificil de se resolver. Os mais importantes laboratérios, os que fazem pesquisas avangadas no campo da bioengenharia, esto sob o controle das ‘grandes companhias, preocupadas com as aplicagdes tecnolégicas dos inventos cienti- ficos, Deste mecanismo nfo escapem nem os eentros de pesquisa govemamentais ¢ das universidades pablicas, jf que seus programas tém decisivas contribuigdes de grandes ‘companhias privadas. Sendo assim, quando os resultados da ciéncia prospectam a pos- Iucros para as empresas que financiam as pesquisas, quem pode ‘os consumidores ¢ 0 meio empresas produtoras? AS ambiente em geral? Os proprio organizagBes da sociedade civil 2. Os governos im comega o dilema dos transgénicos. (HP-BRASIL. CATALOGACKO-NA FONTE SINDICATO NACIONAL. DOS EDITORES DE LIVROS, Rl. Os produtos transgéni ‘A engenharia genética parece ter duas faces, uma benéfica ¢ outra obscura ¢ preocupante. A benéfica esté ligada a sua capacidade de reproduzir a base dos medica- ‘mentos através de bactérias ou plantas (por exemplo, a produgio de insulina), ou de * Socidlogo professor associado Ido IFCS/UPR. -inventores”? Em segundo lugar, com relapio & seguranga do produto: a FDA (Food and ‘Drug Administration), realmente testa 0s novos produtos para verifcar sua segUranca, ou simplesmente confia em sua “equival do milho, da batata ede tantas outras plantas transgenic inguagem ¢ talvez esta, s expertos, mas, pelo menos entre os intemautas, comega.a se sponta para uma crescente desconfianga, até chegar a uma cla éa biologi, que sustentando que, embora esses produtos pudessem sera base de uma teenologia contri: ‘08 agrotéxicos, a forte reaglo aos transgénicos seria “pilotada” pela propria indistria agrot6xicos. Seria esta a mais interessada em uma moratoria capaz de Ihe da 0 tempo a se adequar & nova tecnologia. Nesse plano, tis argumentos concluem com afirmagie ‘Por enquanto, a populasSonifo tem, a respeito dos transgénicos (que chega, as vezes, a ser uma batalha) a respeito desses produtos se téenico, politico, econdmico, sociale filos6fit cionais, como no caso da: A face obscura e preocu da bioengenharia se manifesta hoje com seus produtos transgénicos de uso igual ‘convencionais.’ Obscura porque a populagdo, mesmo a mais instrufda, tem muitas ‘culdades para compreender os novos conceites como DNA recombinante, vetor 20, e muitos outros de origem latina ou grega. Os bidlogo formar, a ‘peremptérias do tipo “ou nés continuamos a nos intoxicar com os produtos quimicos, 08 ‘vamos pela tecnologia biolégica”. Para eles, a ciéncia, hoje, estaria adotando um novo 3 procedimentosteenolégicos ainda nto podem ser compreendi srandes conferéncias mundiais realizadas na tea regular a produgSo, a difusio ea utilizagao da bioteenologia. Telvez 0 acord foram promulgadas leis eapazes de assegurar a saide da populag#o e jo mais abrangente seja 0 chamado Protocolo de Biosseguranga. O Protocolo nasceu como ‘uma exigéncia da Convengo de Biodiversidade estabelecida na BCO-92, no Rio de Cor das em Jakarta, em 1995, Como Protocolo da ONU, este ‘todos os paises que sejam seus signatérios ¢ poderé s transporte, manusei coultivos comerciais de transgénicos. Reconhece-se que a liberagao dt Partes is normas serdo formuladas seri crucial para a efic rtadores de gros, como Canada, Austria ‘sa todas as cldusulas ambientais do Proto- ios adotados para as- Existem, também, conceitos que expressam os procedi 0 presas produtoras € 0 de “equivalén primeira vez em uma publicagio da OCDE, Safe ‘Modern Biotechnology: Concepts and Principles uation of Foods Derived by ),um relatério elaborado por ‘mos de seguranga os novos alimentos, em particular aquel diotecnologia. Com este conceito define-se que 08 organi ‘como alimentos, cu componentes de alimentos, pod ‘usados para definir sua seguranga. Também nao pretend dos de avaliagdo da seguranga dos alimentos, ‘entre os que so usados para este fim. Para os org ‘moleculares, bioquimicas, nutricionais, toxicol6gi nicas de sua transformagio e ao uso a que se destinam. conceito de equivaléncia substancial para a definigSo da seguranga alimentar é aceito intemacionalmente e defendido por varios cientistas. Segundo um importante .de de Nottingham, nada é seguro, por 1 que interessa & 0 “risco relativo”,e tecnologia de modificar alimentos tem 2 ‘dade de reduzir riscos. Os alimentos alterados gencticamente, arguments 0 podem ser até mais sauddveis do que os prop Para ja que a natureza nao & boa, ¢ sim soment irmar que produtos orginicos sio melhores. Estes podem terniveis mais altos nas (substincias produzidas por fungos, que podem causar céncer, Bane: na e alicinagdes) do que os transgénicos.” 287 snstnicns coca seconso pip io asa exes, Undo petri: 7 tantes da politica de oposigo ao uso desses produtos refere-se questo de ser ou no necessériorotular os produtostransgénicos ou que tenham componentes desse tipo. O dirigente da Informagdes sobre Organismos Geneticamente Modificados (Infogm), Frédéric Prat, garanti que Alemanha, Portugel e Franga esto deixando de plantar ‘produtos alterados para nto perderem mercado. O caso mais notério é 0 da Franga, que plantava dois mil hectares em 1998 e em 2000 nfo cultivou nenhuma semente modifi- cada." Grupos industriais franceses criaram produtos livres de transgénicos, mas a pre- ‘gos mais altos para os consumidores. Caleularam que o frango alimentado com protef= ‘as de soja convencional custaria entre 15% a 20% mais caro que o correspondente alimentado com soja transgénica, sendo que este custo maior na came ¢ nos ovos seria repassado aos consumidores. Os empresérios esperam ver se estes se disporto a gastar 'sem troca de uma maior transparéncia sanitira ¢ de uma maior confiabilidade dos +m dos produtores que mantenham suas cul- turas a uma determinada éistincia de hipotétios lugares de contaminago, como fbri- cas quimicas e cenros de incineragSo." Para a representante da Fundaco Gaia em Londres, Helena Paul, 0s europeus ganheram a batalha contra os transgénicos a partir da aprovagdo da lei que obriga a rotulagem.”” Do outro lado da trincheira,estariam os BUA ¢ 0 chamado Grupo de Miami (Ca- nadé, Argentina, Chile e Austrlia), todos grandes produtores de soja e milho transg@nicos. Estes seriam os que ganharam na tltima Convengdo sobre Biosseguranga dda ONU (Fealizada em fevereto de 1999 em Cartagena, Colombia), quando consegui- am bloquear, contra a postura de 170 paises, a sangio de um novo protocol. O Em geral, é apontada uma série de preocupa subsecretirio de Estado para Assuntos Econémicos Comercisis norte-americano, Alen -transgénicos, pelo menos em trés ordens de probler Larson, ainda antes da Conferéncia de Seattle em 1999, deixou clara a disposigao dos alimentar, é reconheci 4 Estados Unidos de lutar contra a Unitio Européia sobre o tema dos transgénicos. Esti- como funcionam as inci ‘mava que as barreiras da Unido Européia a produtos transgénicos dos BUA pudessem hem quais podem ser os efeitos dest a longo prazo e como podem afetar 2 a representar perdas potenciais de USS 1 bilho por ano para os norte-americanos. Larson alimentar; 2) com relago a0 meio ambiente, ainda nao se sabe como ¢ pc contro falou em USS 200 milbées anuais de prejuizo para o seu pais causados pelos bloqueios Jara eventual criagdo imprevista de novas plantas e de plantas daninhas; cor ‘éexistentes, Ele argumentava que ¢ dbvia a preocupagio com seguranga nos EUA, jé controlar a transferéncia de genes para parentes prOximos, de maneira ¢ do pol ‘que 0s produtos transgénicos nfo sio apenas produzidos, mas também consumidos nos ‘outras plantagdes;’ como calcular as eventuais perdas em termos de biodiversidade EUA (Lins da Silva, 1999), porém a rotulagem compulséria s6 faria sentido se houves- portant, como eontoar 0 desperdicio de recursos bi serrisco a sade do consumido, o que io exstria no caso dos alimentos transgénicos: ‘adversos aos diversosciclos ecolégios; 3) com relagdo aos aspectos socioeconém “A rotulagem 36 ria causar confusSo entre os consumidores e solapar a confianga no ainda nilo sabe como limitar o poder ol das empresas pro sistema todo”."” ‘como controlara coneentraglo do conhecimento; como regular a de inteletual; como atenuar a compeitvidade no setor agricole; fato, a fome no mundo.” do como um mecanism ‘um julgamento com . ‘Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, divul 7/10/99) um comentirio sobre um artigo, ‘glesa Nature, no qual os autores Erik Millstone, Bric Brunner e Sue Mayer formulam,, ial", sobre o qual se baseia a ms apés um nimero limitado de testes que nfo mostram cultivo geneticamente modificado ¢ as varedades de cultivos convencionais. Por série de razées técnicas, no entanto,afirmam os autores do artigo de Nature, esta av apio pode néo detectar os efeitos imprevisiveis da engenharia genética, inclu alteragées inesperadas, De fato, os testes compreentdidos no conceito de “equivs ‘substancial” muitas vezeslidam apenas com toxinasjé conhecidas. Os genes estrang tos introduzdos no organismo, tomando-otrensgnico, podem nko ser adequadame testados em relagéo a0 seu potencialalérgico. Assim, o conceito de “equivaléncia tancial”c os alimentos transgénicos estio longe de apresentar uma visio consens termos de seguranga. Nao obstant, tal conceito teria sido o argumento decisivo 4o pelos érgis reguladores de alimentos geneticamente modificados em outros pa para aprovar a soja transgenica da Monsanto para 0 consumo humano, mostrando as diversas adverténcias estariam deliberadamente sendo ignorads. No entanto, um conterrdneo de Larson (nascido e criado, como ele, no estado de Towa, importante produtor agricola do Meio-Oeste dos BUA), o professor John Fagan, em seminério no Rio Grande do Sul, manifestou-se de maneira bastante diferente. Se ¢ como reduzir, J& © Dane cen somes ae sgundo Fagan, que rabalhou na FDA, os defensores dos alimentos transgénicos escon- {dem importantes ctapas da engenharia genética, Para ee, asituaso atual dos transgénicos {similar do pesticida DDT em 1947, quando 6 seus efeitos positivos eram conheci- dos. Foram necessérios 20 anos para que fossem comprovados os maleficios & saiide ‘humana provocados pelo pesticida. ‘As indistrins produtoras de transgnicos estio preocupadas com otemor dos con umidores a seus produts, 0 que estéafastando acionistas e fazendo com que 0 valor de suas ages cai. Tembém a rejeigo de sementes transgénicas por parte dos agri foresnortesamericanos estésurpreendendo as companhias de biotecnolog tribuido para essa rejcigio ofato de grandes empresas teem pedido a seus fonecedo- res a suspensio da compra de sementes geneticamente modificadas e de outras terem proibido uso de ingredientes geneticamente modificados na formulagio de seus dutos.'" No México, que em 1998 comprou mais de 500 milhGes de délares de mi ‘americano, 0 grupo Maseca, companhia lider na produgio de farinha de milho us para fazer a8 totthas (oalimento bisico no pats), em 1999 recomendava evita a i= portasto de grios modificados geneticamente, Na Coréia do Sul, outro pats grande Jimportador de prios norte-americanos, as empresas de transformsedo de mitho arma ‘Vam estar considerando a op¢%o de comprar milho da China em lugar dos BUA, devid a0 temor dos transgénicos (Paterson e Iplésias, 1999). 0s transg@nicos no Brasil: autonomia ou alinhamento? © Brasil esté investindo muita energia ¢ somas bastante elevadas em divers campos da bioengenharia, obtendo reconhecidos resultados. 0 sltimo ¢ mais famose, sucesso decorre de sua participagio no jé mencionado Projeto Genoma. Depois de tomar o primeiro pais da América Latina a decifrar um genoma, o Brasil buses decodificar 0 cédigo genético da cana-de-avécar. Com 0 apoio da Fapesp, esti ‘tase omais ambicioso projeto de genomas vegetais do mundo. Por enquanto, reine 20 laboratérios paulistas e outros laboratérios de seqilenciamento de genes implantado ‘nos estados de Alagoas e Pemambuco, através de acordos com as respectivas funds 60s estaduais de amparo & pesquisa. Tendo jé decftado as bases quimicas de 42 my dos cerca de 50 mil genes da cana, 0 projeto adquiriu proporgées bem maiores que ddos programas americanos, europeus ¢ japoneses que investigam o DNA da soja € rmilho, O projetojé identficou genes que prometem levar criagdo de uma varied 4e cana para produzi ‘que nfo engorda e também permitiu descobrir um gr de genes ligado & produgo de agicaresespeciais, que até agora nio se sabia que a cane pudesse produzir. ”Também na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esale dda USP, ha seis anos um grupo estuda o isolamento dos genes do milho resistentes errugem do género Pucinia e das espécies polysora e sorgh, esta diltima com ocor 200 Mo Rona, Bats cia no Rio Grande do Sul. O que, de fato, os cientistas buscam é a reduc das perdasy irs impbem que o cultivo de um produto genetics freas restritas e, antes de se liberado para produ- ado pela Comissio Técnica Nacional de Biosseguranga (CINBio)” e scus consultores durante cinco anos, a fim de que se possa avaliar 0 impacto ambiental que 0 produto provoca. 0 cultivo comercial de sementes genetica- ‘mente modificadas ¢ proibido por decisio judicial, mas empresas pblicas e pri

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