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OS GuyA NAZES — QM MG 3 i i AB Oenre nee Rapcmentyieyl 2 rs Brasil ¢. 1530 -c. 1630 baat Rodrigo Ricupero 3. Conquista e fixacao Qande lt (nas torras do Brasil) howver sete au vito povoagées estas serto bastante para defenderens(ipedticem) aot da terra que ndo vendamt (pas) brasil ninguém néo o rendendo as naus (francesas) no hin de querer li iv para virem de wsio, Diogo de Gouveia para 1. Joge I A ocupagao inicial On inicial dos portugueses com as tereas americanas foi frustrante ‘em pelo menos um aspecto: 0 comercial, como se percebe nas palavras de Pero Vaz de Caminha, e ivio da feixoria que se ia montar em Calecute, “rela, até agora, nao pudemos saber que haja euro, nen prata” 2, tampouco indicava outros produtes passiveis de comérci sm breve aringir um dos maiores centrus cometciais da Asia, com ia cadorias c diversos circuitos comerciais estabelecides, as terras rocém-descoberiay na sua famosa carta. Para homens que neras i nao passavam de escala aproveitével em céo longa viagem. Alids, esta parece ser, para Caminha, a maior utilidade da terra, “e que af ndo houvesse mais que cer pousada pura esta navegagio para Calicute, isto bastaria” >, além da conversio dos | *Garta de Diogo de Gouveia para 1). Jose III" de 29 de marge de 1532, publicada por Jaime Cortesio na Pauiveas Lusitana Monsonena Historica, 2 comes em 3 vols. Lishoa Real Gabinete Portugués de Leitura do Rio de Janciro, 1956, como lp. 149, Jaime Cartevio, A Carta de Pero Vex de Caminha, Rio de Janeiro: Liveos de Portugal, 1943, p. 240. 3 Hem, 4 Rodrigo Ricupero gentios, pois, como diziam os homens de Vasco da Gama na {ndia, até Ld tinham ido procurar cristéos ¢ especiarias Dessa maneita, néo espanta 0 relative descaso com as teeras dessa margem do Atlintico nos anos seguintes, quando apenas a extrasao do paw-brasil acraiu certa aren- ‘¢io. A viragem foi o envio, em fins de 1530, da armada de Martim Afonso de Sousa, que buseava resolver duas questoes A primeira foi a crescente rivalidade entee portugueses ¢ espanhéis, nas décadas m-descabertas, cuja localizagio frente an ‘Tratado de Tardesilhas, dadas as condigdes téenicas da época, néo podiam ser se- guramente estabelecidas* Essa acierada dispura, que teve como principal ponto de contravérsia a posse das Iihas Molucas no Oriente ¢ do Rio de Prata no Ocidente, dreas que ficariam mais ou menos préximas fag mento® ¢até uma conferéncin entre astrénomos, pilotos ¢ sibios. Contudo, a sohucio da posse das reas em disputa s6 viria parcialmente por meio do Tratado de Saragoca de 1529, que apenas resolvia a questio tocante as Molucas, ja que, pelo tratado, a Espanha abria mao de seus possiveis direitos sobre elas mediante uma indenizacau’ iniciais do século XVI, pela posse das dreas tee inka demarcardria de Tordesithas, acabou gerando inrensas nego- - diplommiticas entre as duas coroas, ameagas de guerra, expedigées de descobi- Seo problema do Orience estava resolvido, o do Ocidente continuava em aberto, & a continente, os navegantes foram recolhendo mais ¢ mais informagdes sobre a existéncia de grandes riquevas minerais aa norre do Rio da Prata, na regido gue posteriocmente seria conhecida como Peru. 1 anmentar a cobiga de ambas as partes, a0 longo das viagens de explorasio a0 sul do Paralelamence a disputa com os espanhéis, uma segunda questéo inquiccava Por- tuyal, Os franceses se avencuravam cada vex mais em cerras do Novo Mundo, travando contato com. os natives ¢ carregande o precioso pau-brasil. Essa peesenca constance alertou a Coroa Portuguesa pura 0 risco da perda das tevras americanas, pois, no dizer de Frei Lasés 4 Chattes R. Boxer 0 Inuperia Colonial Portaguds (ered ediyoes 70, 1981, p. 81 5S Ver, entre curios, Duarte Leite, Mise doy Descobrimentas, 2 vole, Lishoa: Cosmos, 1958, % 1p. 409 (— Ammaisimporcante dolas foi a canheciga viagem de Fernie de Magalhies, a qual os portugue- ses cencaram impedir de todas as manciras, Resumicdamente 4 questio das Molucis pode ser vista ein Jaime Gorcesite, (iste ets des enbrimentas purines. 3 ves, Lisi Tireule de Leituces, 1979, vol. 1, p. G2 cu, ainda, de focina avai descavolvida na obra de mesmo autor Pealicete Lasitena Manusnenta Hivorion Op. cit. sore 1, p. LXXIL, coor 4 publicayie de diveesos documentos snbrea quesiae a partir dip. 33 do mesmo volume: A formacéo da elite colonial 8 «le Sousa, era notério “que nos portos da Normandia se aprestavarn armadas de franceses, com vor pablica de quererem passar as terras novas do Brasil ¢ fundar povoagées" *. [A presenga francesa colocava em risco nie apenas as terras ao sul do continence, noradamente a drea do Praca, mas toda a regito que cabia a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas. Afinal, além da perda do cada ver mais rendoso comercio do pau-brasil, eta necessdrio resguardar os novos torritérios também pela esperanga de descobrimento de metais preciosas ¢ pela estcatégica escala para os navios da rota do cabo. Hsta mesma roca, entéo eixo central do Império Portugués, também poderia ser cortada pelos rivais”, pois, como lembrava a padre Hrancisco Soares, no final do século XVI, os franceses, depois de terem povoado o Rio de Janeiro, cencionavam “ir esperar as naus da [ndia” Duas foram as medidas iniciais para afastar os franceses: a diplomacia € a forga. Logo ae inicio de seu reinado, D. fofo IIL enviou como embaixader a Francisco 1, Joao da Silveira, com a missao de tentar conter 0 corso francés que atacava a navegagiio porruguesa em varias partes ¢ de impedie as viagens para a América, acabando dessa maneira com a situacio de quase beligerdncis entre as duas nagGes no mar, © que para 0 portugueses “se evitaria com mandar el-rei Francisco que nenhum vassalo seu nave- gasse para as conquistas de Portugal” As negosi grande politica européia de cntio, marcada pela luca pela hegemonia continental, da gual Carlos V, impecidar ¢ rei da Espanha, € francisco I da Pranga cram as grandes .6cs diplométicas estenderam-se por atios ¢ ligeram-se a questécs da figuras. Nesse conrexto, pari a kranga nao efa interessante uma guerta com Portugal, al is, o objetivo francés era 6 opasto, tentavam atrair 0 Reino luso para uma alianga, 8 ret Luis de Sousa, Anais de B. Jado HT (e. 1630), wom pref Lapa, Lisboa: Sé da Costa, 1938, 2-vols.. I val. p. 55 noras do Prof, Rodrigues J Ne masegagao a vela, raramente o melhor caminho &¢m Tinha rera, 3 dado o regime de venios do Atfantico sul, os navies portugneses desde a viagem de Vasco du Gama passacary sv afastar da costa at ica altigana, demandando 0 aho-mar ¢ se aproximando muitas veres «hy costa brasileira, buscando com isso uma rats miko mais eOmoda, dai a imporcingia ds controle desta para seguranga da ro.a. Cf. Alfiede Pinhcito Marques, Lisboa, *Voka da Guing” in: Luis de Albuquerque, Dasencivia dos Descobrimentos Portuguese 2 vals. Lishoa: Caminho, 1944. vol. IL. p. 1083 ¢ 1084, Frei Vicente de Salvador conta varios Ventas” 2 Joo ais casos de naus que, indo on voliande da india, aportaram oo Brasil, ¢ pelo tom da descrican, ppereche-se serem grandes scontccimentas, exigindo cuidadas dos pevernadores © demas au- toridades. Frei Vicente do Salvador. Histéria do Bras (1627), 5 edly Si Paulo: Melhor memes, 1965, p. 167, 169, 192 e 337, Vejarse rambénn José Roberto Amaral Lapa, 4 Mahia © 2 Caneia da Indi, Sie Paulo: Companhia Pditora Nacional, 1968, passin! e ern especial, os “quadros". p. 330 e segs. em que moscta 253 ouarréneias de escalas de nauy da Carreira da {ovlia emt Salvador no periods colonial 1) Francis Soares. Coisas Natdvets do Brasil (. 1594). Rio de Jancins: Instituto Nacional de Livro, 1966, p. 47, 1 brei Luts de Sousa, Up. eit. sol. Lp. 36. a 96 Rodrigo Ricupero inclusive propondo ao rei de Portugal o casamenco com uma filha de Francisco T. O problema era que 2 Coroa francesa vivia na década de 1520 um dos seus piozes mo- mnentos, inclusive com a.caprura de Francisco | pelos expanhéis na Baralha de Pavia em 1525; assim nao € de estranhar que as resolugées francesa favordveis aos interesses de Portugal que seus enviados conseguiram artancar do cei da Franga,ficassem sem efeito. Averdade é que, se a Coroa Francesa nao queria uma guerra com Portugal, tampouco rinha vontade ou meios para conseguir conter 0 ataque de seus vassalos a barcos portu- gueses ou a navegacdo deles nas dreas as quais Portugal reivindicava exclusividade Paralelamente, a segunda medida tomada contra os franceses foi o envio de expe- digoes ao licoral brasileiro, as chamadas de “guarda-costas", das quais a mais conhecida ade 1526, comandada por Cristévio Jacsques, despachada apés avisos do embaixador Joao da Silveira sobre o etivio de 10 navios franceses a0 Brasil, € que, nas palavras de Frei Luis de Sousa, “foi correr aquela costa ¢ alimpd-la de corsdrios, que com teima 2 continuavamn pelo proveito que tinham do pau-brasil”?, condo, mem a capeura dde diversas embarcagées ou 0 rigor empregado em seus tripulantes conseguiu dever a navegagdo francesa’, Constarado o fracasso das negociagées diploradticas e das expedicées de guarda- costa para defender to larga faiea costeira, D. Jodo Il adotou, a pattir de 1530, as priticas que reiteradamente vinham sido aconselhadas por Diogo de Gouveia para povoar as terras americanas. Hi muito radicado na Franga, esse douro interlocutor do rei, insistia, 12, 0 melhor estudo sobre as negociacées entre Portugal ¢ Franca em meados de século XVI é ode Gomes de Carvalho, D. Joao IIT e os Franceses, Lisboa: Classica, 1909. Jaime Cortesio pnublicou alguns documentos sobre o sema na Paaliceae Lustana Monuments Hhitériot, Op cit, tomo 1, p. 117 ¢ seguinees. 13 Frei Lis de Sousa, Op. ci, vol. i p. 267. 14 Ver de Anténio Baldo e Carlos Malheiro Dias, “A expediio de Cristbvao Jacques” in: Carlos Malheito Dias (Dir), Hseéria da Colonizarie Portuguesa de Brasil, 3 vols. Porto: Litogeaha Nacional, 1922, vol. NL, p. 97 (Cirada dagui em diane apenas como Histéria da Colenisagita Portugues da Brasil) 15. Diogo de Gouveia, hursanisra¢ cflogo, exersew durante multos anos cago de reiter do Colégia de Santa Barbara em Pass, paca cude foram enviados divers estudantes porsugue” ses ¢-do qual foram alunos Inicio de Loiola = Franciseo Xavier, poueo anres da fundagao ds ‘Companhia de Jesus, Atuava também como conselheire ¢ informante dz Coroa Portuguesa parrieularmente nos assuntos que eavalviam temas do akim-Pirineus, ef Lués Ramalhosa Guerreito, “Diogo de Gouveia in: Luis de Albuquergue, Op. ei, vol. b p. 472. Sobre as relaches entre Portugal ¢Pranga no periodo ver Luts de Matos, Les portugasen France au XVIE siecle, érudes ec documents. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1952. A formagao da elite colonial oF qnanda li (nas terras do Brasil) houver sete ou oito povoagdcs estas serto bas- tante para defenderem (impedizem) aos da terra que ndo vendam (pau} brasil a ninguém € nio o vendende as naus (rancesss) ado hio de querer ld ir para virem de vazio, (e) depois disso aproveitaram a terra na qual nfo se sabe se hd minas de metais como pode haver e converserio a gente a fe Dessa forma, a viagem de Mactim Afonso de Sousa, em fins de 1530, teria como. objetivos: a defesa daquelas costas contra os franceses, que “iam romando nelas muito pé”", a posse efetiva au, pelo menos, a explorage do Rio da Prata ea fundagao de ao menos uma povoacio permanente no litoral, sendo assim, ao mesmo tempo, a resposta 4 ameaca francesa ¢ 4s pretenses espanholas, como sc pode constatar pelos seus resultados prdticos: diversas naus francesas aprendidas ao longo da costa, colacagao de padries por tugueses no Rio da Prata ¢ por fim a fundagao da vila de Sio Vicente, A resolugao das duas questées, a rivalidade com os espanhdis ¢ a ameaga francesa, tiveram destinos distintas. A conquista da regio do Peru — objetivo final das expedi- ‘ges que subiam o Rio da Prata — pelos espanhdis, comandados por Pizarro, vindos do norte, pelo Pacifico, cm 1532-35, acabou por levar & perda de interesse pela regiso platina, relegada a um quase esquecimento e transformada numa espécie de “porta dos fundos” dos impérios ibéricos, uta zona de contrabando, que s6 voltaria a ser palco de grandes embates a partir de 1680 com a fundacao pelos porrugueses da Colénia do Sactamento em frente de Buenos Aires, criando uma situacao de beligerincia que se manteve ac longo do século XVIII”, 16 “Carta de Dioge de Gouveia para D, Jodo III” de 29 de margo de 1532, publicads por Jairae Contesio na Paliceae Lusitana Monumente Historici, Op. cit romo 1, p. 149. Registre-se aqui que, cmboraa referida carta de Diogo de Gouveia seja de 1532 ¢ x expediggo de Marsim Afonso de Sousa de fing de 1530, fica claro por outras passagens da carra, como veremos abstxo, que a8 > nels expastas fé vinham senda propostas.a 1D. Jose HII pelo menos desde de 1529. 17 Frei Luis de Sousa Op. ot I, p. 114. 18 Ocreluto mais importante da viagem é v usxto do inmio de Marci Afonso de Sousa, que Foi 1p ge 4 publicado em varias edigSes, das quais « mais importante & Peto Lopes de Sousa, Didvto da Nevegagdo (1530-1532), comencado por Bugénin de Castro, cam preficio de Capistrano de Abren. 2 vals io de Janeiro: Typographia Leueinger, 1927. Ainda pode-se recorrer a edigan de Jaime Cortesio na Paxticeae Lusitana Monumenta Historica, Op. cf, tomo I, p. 431. Para fe contexto mais geral da expedigzo, ver J2ime Contest, Sie Palo capisal geogiffica do Brasil. Rio de Janziro: Livros de Portugal, 1955 ¢ também, pelo lado espanhol, Ensique de Gandia, Antecedentes Diplomatices de las expedliciones de Juan Diag. de Solis, Sebastian Caboto y Dow Pedra de Mendoza, Buenos Aires: Cabaut, 1935. 19 Alice P. Canabrava, O comércia portugués no Rio da Prata (1580-1640), Seo Paulo: FFLCH- USP, 1944; Heloise Bellowto, Ausoridade e Comflito na Brasil Colonial: 0 Governa do Morgede ae Mateus om Sau Paulo (1765-1775). 24 ei. revista. Si0 Paulo: Alameda Casa Edicorial, 2007 98 Rodrigo Ricupero Jaa ameaca francesa petdurou ainda até o inicio do século seguinte. Ao longo desse periodo, os franceses aliados, em varios pontos da costa, 2 certas tribos indige- nas, instigavam escas a lutarem contra os portuguescs, trocavam produtos eurapeus, muitas vezes, armas, por pau-brasil € outras géneros, rompenda o monopélio que a Cora portuguesa tentava impor, ¢, ainda, tenraram fixarse no Rio de Janeiro ¢ no Maranhio. Dessa forma, represenraram nesse momento a maior ameaga externa a0 dominio portugués das terras americanas, contudo, em codos os mamentos decisivos foram derrotados ¢ paulatinamente expulsos, 4 medida que o avanco da conquista portuguesa consolidava o controle sobre novas dre ‘outros momentos deste trabalho”, ‘fw continente, como yeremos em A expedigao de Martim Afonso de Souss, constituiu-se como a primeira etapa da politica de conquista ¢ povoamento da costa do Brasil ploposta por Diogo de Gouveia, nio sé por fundara primeira vila portuguesa cm solo americano, mas também por ser a partir dela que se efetua a divisio das chamadas “capitanias heredisirias", pois Diogo de Gouveia, ao mesmo tempo que propunha o pavoamento das terras, recomendava, ainda, que tas iniciativas colonizadoras se fizessem as expensas dos vassalos, ponde- rando que o enriquecimento desses na empreitada nao ofereceria tiscos 4 Coroa, pois ‘quando os vassalos forem reas os reinos no se perdem por isso mas se ganbam ¢ principalmente cendo a condigao que tem os partugueses, que sobre todos os outros povos, a sua custa servem seu rei”, lembrando também ao monarca que "jf por muitas vezes lhe escrevi o que me parecia desse negécio fa defesa das terras) ¢ (.,) quea verdade era da Senhor as terras a vossos vassalos que (hi) trés anos” propunham colonizé- levando mais de mil moradores “j4 agora houvera quatro ou seis mil criangus aascidas ¢ outros muitos da terra casados com 0s nossos””". 1, Jodo II primeiro acatou a sugestao de povoar as novas terras, para em seguida anuir em doar as terras 20s vassalos. Essa decisao foi comada em 1532, no meio da siagem de Marsim Afonso de Sousa, pois, como o rei explicon om carta « ele, “depois se praticou, se seria meu serviga povoar-se toda esta costa do Brasil, € me requeriam capitanias”, assim dada a impossibilidade de esperar a 1, pois “de algumas partes (Franca) faziam fundamemo de powoar a ico Brasil” e considerando “com quanto trabalho se lancaria fora a gomve, que algumas pesso volta da expedi terra do e laais Ferrand de Almeida, A Calénis la Steramente na época da sucessio dr Expanha, Coin bbra: Faculdade de Leuras da Universidade de Coimbes, 1973. 20 Para huta enrre portugueses ¢ franceses, pode-se convultar entse outros Francisco Adolfo de Varnhagen. Hiredvie geral do Brasil, Se. 5 vols. Séo Palo: Melhotamenras, 1956, vols. Le Ug, na visto francesa, 0 cldssico Paul Gallacel, Hisenire de Bréstl Pranenis au seiztome siecle Pari: Maisonneuve, 1478. 21 “Carta de Diogo de Gouveia para D. Joie Hi" de 29 de margo ele 1532. publicada por Jaime Cortesio na Paubicode Liwitana Monuncenta Hissorica, Op. cit, rom, p. 149. A formagio da clite colonial 9 4 povoasse clcpois de estar assentuda na terra, ¢ rer nela algumas forcas, como ji em Pernambuco comecavam a fazer”, o rei dererminou dividir a costa entre Pernambuco © 0 Rio da Prara, reservando cem léguas para Martim Afonso de Sousa ¢ cingiienta para.o irmio dele, Pero Lopes de Sousa, distribuindo as demsis a algumas pessoas com “obrigacio de ievarem navios ¢ gente 8 sua custa em cempo certo”! A Singular carta de Diogo de Gouveie expressava de modo cio cabal a politi ca seguida pela Coron portuguese paca defender a posse do vasto terrisério, Pazia-se, Portanto, necessétio ocupar alguns pontos da costa, com o engajamento de vassalog dispostos a assumir 0s riscos « os gastos de tal empreendimento, mas no sem a pers- pectiva de auferir grandes vantagens, A implementagao de cal politica deu-se com a distribuigéo das ditas capicanias hereditarias, em meados da década de 1530, relaada acima pelo prépria monarca, sendo que os instrumentos lepais, as cartas de doagdo ¢ os forais conhecidos sio do periode entte 1534 e 1536, Tais capitanias Formariam, coincideneemente, “as sete ou sito povoacées” que Diogo de Gouveia propuntia, pois se doze foram os agracindos em quinze quinhées, apenas em ito delas a colonizagao deu os primeiros passos, embora em duas dessas malograssem nos anos seguintes® O8 primeiros donararios nao foram selecionados entre os grandes de Reino, que Provavelmente ndo teriam interesse pela empresa ou aos quais a Coroa nao teria plena confianga om delegar tarefa em drea co discante do seu controle, Os escolhidos foram importantes fanciondtios di Coroa ja Fgados A cmpresa ultramarina, como o famoso Joao de Barzos, autor da primeira parte das celchres Déeadas da Asia, feivar da Casa da Thdia cm Lisboa, ou Fernao Alvares de Andrade, cesourciro-mor do Reino: gente que jd tinha experiencia conereta nu Império, como Vasco Fernandes Coutinho, Du- arte Coelho ¢ Francisca Pereira Coutinho, todos com larga folha de servigos prestados no Império, ¢ que, uns como outros, haviam amealhado recursos que permitiram fazer 22° “Carta de Jodo IIT a Martin: Afoasi de Sousa, sobre © povoamento da coses do Brasil” dv 28 de setembro de 1532, pblicada ns Hisbra ala Colontzacio Pereuguesa do Brasil vt ML, p. 160 cem Joaquim V. Sersio, O ito de janciva nn séculy XVIi.2 vols. Lishoa: Comissia Nacional . 1965. no volume (Lp. 15, Ainda é digno de atengio 0 rehiro da prdptie Murtim Afonso de Sou. a sobre sua vids, escrito aproxtmadamente em 1587 v publierde com o ticulo “Autabiografis ine Luis de Albuquerque (Ong). Martim forse de Sosa. Lisboa: Alfa, 1989, p. 65 e seg 25 Av informasies gecas sohee as eapitaitias © os donatdtios podem ser obricis Hicilmente em Francisco Adotio de Varshagen, Op. cin, especificamente no val, [da p, 136 e segguimtes. A iscussio chissica sobre o cena se encanta na Mitéric ta Colraisacin Poreuguene do Boul nos artigos de Pile Meréa, “A solugio tradicional da colonizagao do Brasil” ¢ Carlos Malhei 70 Dias, “O rogime feurlal das donatérias” respeecivauence nas p. 165.¢ 219 de I yoluine. O cxtnido mais moderna sobrea questao é w de Auténio de Vaseoncclas Saldanha, As capitan: do Brasil, > wl. Lisboa: CNCDP, 2001. 100 Rodrigo Ricupero frente aos gastos da carefa colonizadora:”. Dai Frei Jaboatéo lembrar que 0 prémio destes Gltimas, conquistadores do Oriente, tenha sido um novo servi Ocidense *. ‘Dessa forma, no perioda inicial da colonizacio, a Coraa esteve praticamente ausente do processo, apenas resguardando para sio monopsilio de pau-brasil, do qual cedia uma pequena parce dos lucros aos donatizios, « mantendo uma pequena estrucura admninistrativa voliada para o conteoe fiscal, como forma de zecolher a parte que the cabia da exploragio econdmica das novas dreas, co, conquistar 0 A fase inicial da ocupacao portuguesa, ou seja, entre 2 doagao das chamadas “capitanias heredirarias" ¢ a criacao do Governo-geral, foi tradicionalmente avalia- da como um fracasso, salvo as conhecidas excegdes de Pernambuco e Sao Vicente. Pondcre-se, contudo, que dadas as condigées limitadas ¢ 0 tamanho da tarefa, néo é de desprezar que mesmo com todas as dificuldades. as capitanias “primarias" con- seguiram cumpprit, mesmo que patcialmente, uma crapa inicial da luta pela posse das terras, rornando-se assim, para usar uma expresso militar, “cabegas de ponte’, servindo de apoio a novas investidas ¢ ampliando 0 conhecimento sobre as terras € suas possibilidades de aproveitamento, A tarefa de ocupagao ¢ defesa das novas terras exigin também a montagem de uma estrurure produtiva, para além clo extrativismo do pau-brasil, que viabilizasse economicamente o empreendimento, para tanto se buscou ocupar as terras ¢ explorar a forga de rrabalho indigena, mais ou menos compulsoriamente. Assim, nas palavras de Gandavo, “os moradores desta costa do Brasil codos cem terras de sesmaria dadas do terra, ¢ a primeira coisa que pretendem alcangar sto ¢s- ¢ repartidas pelos capi foi exatamente esta busca desenfreada que rapidamente turvou as relagdes craves estabelecidas com grande parte dos indios que inicialmente haviam aceitado pacifica- mente a presenga dos portugueses © acirramento de cantiiro com as indios, causado pela recusa destes em traba- Tharem em troca do “pagamento costumeizo”, acabou levando A guerra aberta, pois, como alercava Duarte Coelho, quando escavami os indies famiatos ¢ desejosos de ferramentas pelo que the div mos nos viaham fizer as Tevadas ¢ toda as obras yrossas € nos viaham 24 Vejase Pedro de Azevedo, °Os primeiras donaticins” ins Mistévia die Culenizapaa Fortugarss do Brasif. vol. 1M, p. 191 25. Frei Anténio de Santa Matia Jahostao. Nowe Orbe Serdfico (1761), 2 os, 2 partes em 3 vols. Kio de Janeiro: Instituto Hisescicu e Geageélico Brasileiro, 1858, vel. 1p. 134 Per de Magalhaes Gandavo, Histéria da Provincia de Santa Couz 8 Tratady dt Terns a Brasil (576 v. 1570), Sio Paulo: Ohelisco, 1964, p. 8h. A formagéo da elite colonial 1 vender os mantimentos de que temos assaz necessidade c como estao fartos de ferramentas farem-st mais ruins do que slo ¢ alvorogam-se ¢ envoberlsecem-se elevantam-se A reacio portuguesa & resistencia indigena agravou 0 conflito, pois a saida en- contrada & recuisa dos nativos ao escambo, ou scja, em trabalharem em tcoca de produtos de forma permanente ou a sua exigéncia de produtos de maior valor foi ampliat a escravidao"’, destacanclo-se nesse process & atuagao de portugueses que com seus barcos “assalavam” a costa. Esses cativavam indios de certas capitanias © refugiavam-se, em seguida, em ourras, particularmente onde os donatérios nia esravam presentes, fugindo assim da vinganca dos indios, vinganca essa que acabava por atingir os nécleos estabelecidos préximos ao local do saque, getando um clima de anarquia ao longo da costa c continuos confliros cada vez mais dures, como revela Pero de Gées, numa carta ao rci, em que alerta “tet a cerca ao presente em condigio de se perder se The ndo acodem, 0 que tudo nasce da pouca justiga e pouco temor de Dens ede Vossa Alteza” para concluit “se, de Vossa Alteza ngo € provida, perder-se-d rodo o Brasil ances de dois anos” **. A conseqiiéncia disso é que a crescente resisténcia indigena 4 colonizagao, apoii- da ou nio na alianga francesa, passou a ameagar ax conquistas porruguesas de forma cada vez mais vigorosa, aré que na déeada de 40 do seulo XVI esteve possivelmente perta de climinar a presenga lusa encre Pernambuco ¢ Sao Vicente, sendo os portugue- ses fortemente atacados em quase todas as capitanias. Os casos mais graves foram em 1546, na Bahia, onde os portupueses de Fran- cisco Pereira Coutinho foram obrigados a se refugiar em Porto Seguro ¢, posterior- mente, acabaram desbararados, inclusive com # monte do donatério, numa tentativa 27 Duarte Coelho também rechama dos asmadores de pau-brasil sediados ev Tamarac, que, pata obserein seu produto com cais rapide, esievem dispostos x “pagar” © uabalho ds ivs com meceadocias de maior valor, indusive armas, prejudicando os moradores de Per nambuce ¢ atrapalhanda a construgéo day engenhos. Ver *Carta de Duarte Coclho a elerei" die 20 de devembro de 1546, publicads ma Hisedria da Colontaagto Poriugacesa do Brartl, coh IIL, p. 314 081 em José Antonia Gonsalves de Mello ¢ Cleonir Xavier de Albuquerque. Cartas ae Duarte Coelho a el-rei, Recide: Imprenss Universitaria, 1967, p. 35. 28 Wer o clissico de Alexander Marchant, Do Fieanbo & Escravedin, 2° ed. Sie» Paulos Compa- hia Editora Nacional, 1980, 29 Cf "Carta de Pero de Cides eserita da Vila da Rainba a D. Joie TV de 29 de absil de 1546, "Carta de Ceclto do Campo Touriaho escrita de Porto Sepuira «1. Jose HI" de 24 de julhes de 1546 “Cana de Duarte Coelho para D, foio IIL de 20 de dezembro de 1546, pmblicadios tia Hstiria cla Colnnizario Portugiaese de Brast, val iV, cespeetivamence p. 263. 266 8 314.4 Ultinsa tanibém em Jose Antdnio Gonsalves de Mello « Cleonir Xavier de Albuquerque, Op cp 3S. we Rodrigo Ricupero de retorno; ¢ em Sto Tomé ou Paraiba do Sul, ao atual norte fluminense, onde os indios desteuiram a povoagio batizada como Vila da Rainha, levando 0s moradores a fuga para o Espirico Santo”. No final do mesmo ano, sintoma da desegregacéo que atingia os primeitos ni- cleos, © donatatio de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho, € preso por um movi- mento que envolveu boa parte dos moradores da capitania e remetido a Lisboa para ser julgado pelo tribunal do Santo Oficio, acuss ‘Também a partir de 1546, as investidas dos indios atingem Sao Vicente, ganhan- do forca no ano seguinte, quando o posto avangado de Bertioga, pega chave na defesa das vilas de Sio Vicente e Santos, é desteuldo pelos indios, que, vindos da regio do do de cometer crimes contra a fe. atual Rio de Janeiro, ameagavam a capitania vieentina, obrigando os moradores, sob comando de Bris Cubas, a engajarem-se numa guerra defensiva que se manceria até a ctiagéo do Governa-geral, quando os colonizadores passariam 3 ofensiva®: A deteriorizagao da sicuagio dava largos passos, no ano seguinte, 1548, os araques atingem Pernambuco, Ilhéus ¢ Espirito Santo. Os porcugueses viram-se acuados, as vilas de Iguaracu ¢ Olinda foram corcadas, no Espirito Santo boa pazte das benfeitorias feitas nos primeiro: semelhance em Hhéus, ¢ que perduraia ainda nos anos seguintes”. anos foi destruida, com a morte de muitos moradores, situagao (Qs donatérios deram o sinal de alarme nas carras enviadas ao monarca, em que comunicavam nao s6 a perda da Bahia, mas também o fortalecimento da presenga francesa ¢ da ameaga indigena, além do clima geral de descontrole a0 longo da costa, A. Coroa, com a gritaria dos donatirios ea alarmamte noticia da perda da Bahia, chegou a armar um navio de socorro ao Brasil cm 1547, que acabou nao partindo por perder o tempo certo para a viagem, mas a resposta para a grave situagao exigia maiores recursos e Forgas. 30 frei Vicwate do Salvador, Op. cat, ps 125 e 16 respectivamente para.a Babia © para a Sao Tomé. A Veins, porexempla, Rossan 2000. 32 A ameaga fi capi 3. Brite, Saye de Pero do Campo Firinke, Percopolis: Voie ia de Sdo Vicente perthiron com maine imrensidade aé povco depois da conijista ¢ fundagio da cidade do Rio de Janeiro em 1565, mas a resistencia indigena obsi- aria ainda que Ancinio de Salema, governadar-geral do Sul, apés 4 morte de Mem dle 5, lorganizaswe uma grande expedigas cantta os indios nas anos de (570 33. Para a caso de Pernambuco, poule-se ver o relata de Hans Staden. Duas Viggens ao Bresit Gradugio) (2557), Belo Florizente: Iratinia, 1974, p. 46 01a versio ela mesmo texto publicada em Partinari denara Hate Staden, Si Da lo, "Terceira Nome, 1998, p. 24 (Alguns treehos si. hem diferentes nas duss readugées). Para 6 Fspicito Santo & théus, ver Francivce Adal de Varsthagen, Op. efé,, vol. by p. 176 181, expectivamente, A formagao da elite colonial 103 A criagao do Governo-geral A Coroa porcuguesa nao possuia um modelo nico de administracao para seus territérios ultramarinos, que foram sendo organizados segundo modelos préprios ¢ adaprando-se as realidades cncontradas. As opgdes administrativas adotadas devem, portanto, ser entendidas a partir da andlise de certos fatares como, por am lado, a realidade local das diversas reas, ¢, por outro, 2 distincia em relagao & Metropole cas dificuldades de comunicagao, como se percebe pela comparagao entre as varias partes do Império. Assim, por exemplo, no Marrocos as varias pragas permaneceam por todo 0 pe- riedo governadas de forma independence, sem que surgisse um governo-geral comum: © mesmo aconteceu com as reas acidentais da Africa Negra, que se organizaram, contudo, em areas adminiscrativas mais amplas, como o Reino de Angola ou 0 atqui- pélago do Cabo Verde. Ao contririo, no Oriente, é criado, praticamente desde v inicio da conquista, um governo tnico para todas as possessées situadas cncre o Cabo da Boa Esperanca ¢ 9 Extremo Oriente™, As solugécs administrativas adotadas no eram imutiveis, sofrendo altera- g6es, de maior ou menor vulto, que, em face das diticuldades encontradas. tenta- vam dar conta das necessidades da empresa de conquista, garantinde a domina 0 de largas dceas para a Coroa porruguesa. Dessa mancira, as tentativas de delegar & administragio dos novos territérios para os vassalos, isenando a Coroa da respon- sabilidade directa, fracassaram tanto no Brasil como, posteriormente, em Angola, sendo substituidas por novas formas de gestio”. Na América, a Coroa fai obtigada pelos acontecimentos a assumir um papel maior do que até entao tinha desempenhado na colonizacéo do Brasil, criando, em fins de 1548, © chamado Governo-geral, com um objetivo imediato: defender a presenga portuguese has terras americanas frente & reagdo incligena, ajudada ou néo pelo Franceses" 34 Sobre isso. ver Catarina Madeira Suntos, Goa é « ohave de toda a fadia~ perf polities da eapital do Estado da inadis (1505-1570). Lisboa: CNCUP, 1999, p. 47. 35 A delegagao da administragio de novus reas direcamente avs vassalos pode ser entendida como mais uin aspecto da relagio entre @ Caroa e seus vassalos, dentro da fégica da politica de crocs deservigus por mercés. Prrranto, nao se devs confandis o feacasso da primeita vom o da segunda, logo o 490 da iniciativa particular dos vassalos foi empreyade em codo-o Império, independentemonte do fara de a adminisitayio ser tealizada dircramente ou nie pela Coroa 36 Avisio tradicional da questdo nos parsee sera que mais se aproninna da reafidade, ao apanrar com justittestiva as amen Azeveds. “A institu indigenas, a peeserga frames as brigas ear os portagueses, CF Pedro de iodo Governo-gecal” in; Miveria ele Carliniecgio Portuese do Brasil vol. Ml, P84 6 segs. Ver ainda Francisco Adobe Varnhagen, Op. cit. vol. 232 ecg i04 Rodrigo Ricupero Nesse sentido, discozdamos de Raymundo Faoro, quando, discutindo a criagao do Governo-geral, aponta que, mais do que com indios e corsirios, a preocupagéo da Coroa era com 0 fortalecimento dos donatirios, qualificando-os de “inimigo podero- so” da Corre, pois no contexto de meados do século os donatérios estabelecidos nas partes do Brasil lutavam plesmente para sobreviver 7”. Registre-se também nossa discordancia com relagdo & opinido de Jorge Couto, que justifica a criacdo do Governo- geral por fatores geopoliticos. rais como as ameagas espankola ¢ francesa, que, como vimos, ja vinham desde o inicio do século, & de Sérgio Buarque de Holanda, que acredirava ser a busca de metais preciosos, influenciada pela descoberta das minas peruanas, pois, canto no regimento de Tomé de Sousa como na sua ago, nada justifiea que tal busca fosse o centro de suas preocupagées *, © novo sistema de governo adorado se sobrepés ao regime anterior das cha- madas “capitanias hereditirias”, sem extingui-lo, porém este foi paulatinamente perdendo a importéncia que tiveta até entio, A desbaratada capitania da Bahia, sede do Governo-geral, foi comprada pela Coraa aos herdeiras de Francisco Pereira Coutinho, tornando-se a primeira capitania real. Portanto, a partir de 1549, ocor- rea uma tcorganizagao politico-administrativa, as capitanias passaram a ser de dois tipos, particulazes ou da Coroa, ¢ acima delas a estructura do Governo-gers Dessa forma, quando a colonizagao portuguesa retomou a ofensiva, conquis- tando novas reas ao longo da costa do Brasil, essas conquistas foram onganizadas coma capitanias reais. No fim do século XVI, « Coroa jé contava com cinco capita~ nias concra seis privadas e, trinta anos depois, apés a conquista da Costa leste-oeste, jd cram oito reais contra seis privadas” Alem gue as privadas, pois, como nos lembra Diogo de Campos Moreno, sargento-mor do Estado do Brasil, no seu relarério conhecido como Liven que dé Rasdo do Extadv oy as capitanias reais se descavolveram num titme mais acelerado 37 Raymundo Faoro, Os Dones de Poder, 9 ed. 2 vols. $30 Paulo: Globo, LIL, p. 142. 38 Jorge Cou, A consirsipto da Brasil, Lisboa: Cosmos, 1997, p. 130 « Sésgio Buarque de Ho- landa, “A insticuigSo do Governo-geral” in: Idem (Dir). A epaca colonial, do descobrimente a expanséa territorial, 4 vd. S60 Paulo: Difel, 1972, p. 18 (Tome I, vol. 1 da valecéo Historia Geral da Civilizagéa Brasileira, U1 vols.) 39 Em meados do século XVIL, as capitanias reais eram, da norte ao sul: Pard, Maranhio, Ceard, Rio Grande, Paraiba, Sergipe, Bahia ¢ Rio de Janeiro e as privad nambuco, Ilhéus, Porto Seguro, Fapirito Sano ¢ Sto Vicente. Aqni estamos desconsiderande 4 capitania de Santo Amaro que desde w inicio se dissolvou na capitania de Sto Vicente, no tendo vida independente nem grande desenvolvimento, « ponco de, alguns anos depois, yuan- do da quercla catze os sucessores dos primeiros donauitios, nao se tee claro onde ficava a linha : Ntamaracd, Pere iviséria entre ambas ou mesmo quais eram as vilas de cada uma, Sobre o assunta, verse Pedro ‘Taques, Hisséria de Sao Vicente (Sécule XVID, S40 Paulo; Melhoramentos, sd. Obra cserita especialmente para esclarecer a questéo, » soldo de uma das pactes da querela, A formacao da elite colonial 105 do Brasil de 1612, “todas essas capitanias (...) sustentaram-se de violéncias, ¢ nesta conformidade gozaram de mais aumento aquelas que o brago real tomou mais a sua conta, quando no povoar ¢ conquistar faltaram scus donatirios” “, assim, no inicio do séeulo XVIL, enquanto Bahia, Paraiba ¢ Rio de Janeiro iam em franco desenvolvi- mento, as capitanias particularcs, com excegao de Pernambuco e Itamaraca, estavam estagnadas, como S4o Vicente ou Espirito Santo, ou em franca decadéncia, como Théus e Porto Seguro Sobre as excegées, adverre-nos, Diogo de Campos Moreno, poderiam entrar na conta, das teais, pois, embora Pernambuco e Itamaracé fossem de donatiris, “suas maiores neces- sidades acudiu Sua Majestade com capitais, presidios e forcificagoes, que até hoje sustenta de sua real fazenda” “', além disso essas capitanias tinham jé hé alguns anos seus capicies niomeados pela Corea, assunto que retomaremos it frente. Diogo de Campos Moreno lembrava também, que além dos maiores recursos da Coroa, nas capicanias particulates “nunca se encontra pessoa respeitavel no governo, © que nao sucede onde servem capities do dito Senhor (o rei) que sem dtivida fazer muito no aumento dos lugares pela esperanga de serem reputados dignos de maiores cargos**, ou seja, em outtas palavras, a Iégica da troca de servigas por mercés. Con- cluindo, assim, por defender que todas as capitanias fossem reais ou que, pelo menos, seus capities fossem nomeados pelo monarca, Tal conselho foi sendo posto em pritica Ienramente, desse modo apés a expulsio dos holandeses em 1654 as capitanias privadas mais important: , Pernambuco ¢ Itamaracd, foram incorpotadas a Coroa, mas 0 golpe final no sistema s6 viria no século XVITT quando foram completamente extintas A criagio do Governo-geral determinou algumas adapragdes necessirias no regime das capitanias privadass as maiores alteragdes foram particulatmente no tocante a limieagao da algada da justiga nomeada pelo donatitio, a possibilidade da entrada de corregedor da Coroa nas capitanias, antes vedada, ¢ a nova rclagéo dos donatacios ¢ moradotes em getal com a Coroa, agora mediada, em grande parte, pela presenga nas partes do Brasil do governador-geral". 40 Dioge de Campos Moreno, Livro que dé razdo do Esrade do Brasil. (\612). Recife: UFPE, 1955, p. 107. 41 dem. p. 108. 42° idem. p. WON e 119. 43 Neste ponte, estamas deinando de lado as capitanias criadas posceriormente & constituigao do Governo-geral, como a de D, Alvaro da Costa, fitho do segundo governador-geral, 1. Duarte da Casta, no Recincave de Salvador ot coma as eriadas no Maranhio ¢ Pard, por exemplo, a do Cabo Nortede Bento Maciel Parente, que, por terem territério muito reduzido, se comparadas 3s primitivas, nio se destacaram no processa de vulonizacdo e, portanta, nie devem see colocadas no mesmo nivel das capitanias originais. 44 Antonio de Vasconcelos Saldanha, Op. ct, p. 259 x seguintes ¢ Franciven Catlos Cossen- tino. Govermadorergerais do Estads do Brasil eulo XVi e XVID: oftio, regimentos, governagie ¢ 106 Rodrigo Ricupere © rei notificava aos “capitdes e governadores das ditas tertas do Brasil, ou a quem seus cargos tiverem’, ou scja, 0x donatarios ou seus representantes, « aos demais oficiais ¢ moradores que: hajam a0 dito Tomé de Sousa por capicéo da dita povaayio e cerras da Baba © governador-peral da dits capitania e das ours capitanias ¢ tereas da dita costa como dito ¢ hes abedecam camspram ¢ facam o quelheso dito Tarné de Sousa de minha parce requeter ¢ mandar segundo forma dos regimentos ¢ provisses rminbias que para isso leva®. No predmbulo do mesmio documento, o rei explicava que, para “conservar c cno- brecer as capitanias ¢ povoayives” existentes na terra do Brasil e garantir o alargamento da fé crista, tinha mandado construir uma fortaleza ¢ povoacio na Bahia de Todos os Santos “para dai se dar favor ¢ ajuda as outras povoagées, ¢ se ministrar justiga e prover nas coisas, que curnprem a meu servico e dos negécios de minha Fazenda” *, ‘A questo central para a Coroa ainda era a garantia da posse das rerras america nas descobertas em 1500 ¢ que, quase 50 anos depois, continuava ameagada. Depois do malogco das expedig6es de guarda-costa, do pouco resultado pritico da viagem de Martim Afonso de Sousa, era necessdrio reforgar o regime das capitanias com 0 brago real, de que nos falava Diogo de Campos Moreno, a fim de evitar seu fracasso complet a destruigio dos micleos ja existentes. ‘A colonizacao das terras americanas pelos portugueses seguiu uma dingmi- ca diferente da de outras dreas. No caso, a preocupagio primeira era a garantia dg posse do tertitério, 0 que se verificou s6 ter sido passivel, como vimos acima, com 0 povoamento efetiva. Apenas como decorréncia disso, ¢ visando dar suporte econdmico a esa ocupayio, é que se escruturou uma producéo de yéneros para 0 coméreio curopen, dita defendica na Universidade Federal Fluminense om 2005), p62 e seguin- Lilia Lahmeyer Lobo, Administaataa colonial ‘omp. Brasilcira de Artes Griticas, 1952, p. 209 irajetiviasticse tes. Wer eambém sobre 3 nova siruacdo eriada: Luso-Espanvols nas Américas, Rie de Javed e seguinices, 48 “Carta eégia de nomeagao de Vamé de Sousa para yovernadr do Brasil” de 7 de janeiro de 1549, publicada em Ducumensut Hiedrizas, V0 vols. iio de Janeitu: Biblioteca Nacional, 1928-55, val. 35, p. $e mais recentemente na revista Mare Liberum, 17. Lisboa: CNCDP, 1999, p27 AG Idem, A mesma formulugio se zepete praricamente seme algeragoes av predmbula clo “Regi mento de'Tamé de Sousa’, publicado na Hstéria da Colonizagio Portugues do Brasit, vol. 1M, p34. A formagio da elise colonial 107 Tal fatu nao é de menor relevincia, pois, como veremos a seguir, a preecupa- ao com a defesa condicionoy toda uma série de medidas romadas pela Coroa no momento da insticuigéo do Governo-gerai, bem como a agdo do mesmo por toda a segunda metade do século XVI e pela parte inicial do XVIL A citada proocupagio, jd observada na carta de nomeagao, revelarser-d em boa parte dos itens do Regimento de ‘Tomé de Sousa, um dos documentos mais impor- tantes para a colonizagav portuguesa no século XVI, no qual, para além das questées mais imediaras, delineou-se a politica que viria a ser seguida nos anos subseqiientes, demonstrando o cuidado com que foi claborado. inclusive, tendo side levada cm conta também, como se percebe, a experiéncia acummulada no periodo anterior, procurando- se com as medidas propostas responder as queixas ¢ 205 apelos que os donatérios fa- ziara em sua correspondéncia com a Coroa”. Pode-se dizer que 0s abjetivos do Governo-geral no perfodo, dentro do contexto dle defesa das terras, exam derrorar a resisténcia indigena, derrotar os inimigos externos © acabar com a instabilidade reinante ao longo da costa, para tanto a administragae colonial deveria impor a justiga régia © aumentar a centralizagao ¢ 0 controle do pro- cesso de colonizagao por parte da metrépole, aiém de colaborar no desenvolvimento das estruturas produrivas, crianda ou consolidando as bases para que a propria colonia pudesse garantir sua seguranga, As tarefas iniciais de Tomé de Sousa seriam. cm primciro lugas, a ocupagio da ca- pitania da Bahia, apoderando-se da primitiva cerca de Francisco Pereira Coutinho, e, em seguida, a fundasao da cidade do Salvador. Com a seguranga garantida seria castigar os indios responsiveis pels destruicio da capicania primitiva ¢ pela more do antigo donatirio. . © passe seguinte Para tanto, cta necessirio saber quem eram os culpados, porquanto parte dos indios nao tinha responsabilidlade diseta no levantamento, maatendlo-se em paz € ajt- dando os eristaos. Assim 0 rei mandava ao governador “pelo que cumpre muito a servi- (0 de Deus ¢ meu, 9s que assim se alevantaram e fizeram guerra serem castigades com musica rigor”, e ainda lembrava a necessidade de que a punigio servisse de exemplo, pois 47 mbora nao se saiba com certeza quem redigia v regimens de Tomé dle Sousa, acredica-se «que duis importantes figuras da Curse sejam os maiares eesponsiveis, Hstes seria a Con aleclaCascanhetnn qwlnclpal colabonidarile rece: RemnecA loararde and rade, iaipartie régio. responsivel pela montagem da armada do primeiss governadar. o qual ‘Varnhagen diz ter comado a scu cargo os negécios do Brasil: umbos também tinhum grandes funcional interesses ni» Beasil, 0 ps meito tcecheria de'Tomé de Sousa tereas na Babi © a seguude ers donatiria de uma das Grpica i psiminivas, ques contuda, no foi adiame, dado a fracasse dle Barsos ¢ Aires dha Cunha, ale das tuneativas de colonizavio feiras em parceria vom fos le ter interesses nx capirania de hs 108 Rodrigo Ricupero. “estes que ai estéo de paz, como todas as oucras nages (tribos) da costa do Brasil esto esperando para ver 0 castigo que se dé.aos que primeito” * fizeram os danos. Dessa forma, 0s indios que petmaneceram cm paz. na Bahia deveriam ser favo- recidos pelo governador para que auxiliassem na huta contra os outros. Aconselbava ainda 0 governador a buscar apoio nos indios Tupiniquins de outeas capitanias, ini- migos dos da Bahia, ¢ que, segundo o rei, desejavam participar da guerra de punigio, ‘A estratégia seguida com os indios era simples, dividir esses entre os que aceitavam pacificamente 0 dominio portugués ¢ os que resistiam a ele, ou seja, em amigos inimigos, aproveitando-se das divisdes ¢ guerras anteriores & chegada dos portugueses: Essa politica implementada por Tomé de Sousa seria utilizada ao longo de quase todo 0 periodo colonial. © procedimento tomado frente aos indios da Bahia era apenas um primeiro as- pecto de toda uma politica com relagao & questéo indigena que o regimento ji deli neava em diversos dos seus itens. Essa politica aponcava para incorporagao destes ao processo de calonizacéo, por meio da coaversiv 3 religido crista ~ justificativa central do proceso de conquista de territérios, tanto do novo como do velho mundo ~ por meio da escravizacao dos inimigos e do uso dos amigos como combatentes nas guer- ras, como forga de trabalho “semi-compulsdrio” nas mais variadas tarefas ou ainda em outeas atividades, como, por exemplo, na exploracio do sertéo. Além disso, em um adendo ao documento, ji s¢ apontava a idéia de separar os indios converridos dos demais, 0 que, contudo, sé seria colocado em pratica por Mem de S4 com 4 montagem dos primeiros aldeamentas. Resolvida a situagao na Babia, com a fundagio da cidade do Salvador ¢ os indios rcheldes castigadas, o préximo pasto do governador deveria ser auailiar a defesa das demais capitanias, pela acdo do governados, juntamente com seus auxiliares imediatos, 0 provedor-mor ¢ 0 ouvidor geral, que deveriam reorganizar a estrutura administrativa da Fazenda e da Justiga ja exiscentes nos nticleas primirivos. iciando um processo de centralizacéo politico-administrativo, materializada No préximo capitulo, iremos aprofundar 0 estudo sobre a administragée colo nial, analisando sua estrucura funcional, bem como as relagées entre as varias esferas, tanto por areas geogsificas como por ramos administrativos. Contudo, neste ponte, 4 necessitio discutir 0 papel desempenhado pelo Governo-geral e sua relasio com ay diversas capicanias. Esta relacio comecou de imediato, pois assim que chegasse 4 Bahia, Tomé de Sousa deveria comunicar sua chegada aos capities das outras capitanias, que ji ha- viam sido instruidos pelo rei a colaborar com as necestidades da expedigdo, cnviando gente ¢ mantimentos”, 48 Vero |i cltado “Regimento de Tomé de Sousa’, item 5. 49 idera ive 4 A formagéo da elite colonial 109 Além disso, Tomé de Sousa recebeu instrugdes para chamar 4 capitania da Bahia © representante do donatério de Ilhéus, juntamente com o provedor da fazenda real en- tre outros, para que se decidisse a melhor maneira de derrota: os indios entio rebelados naquela capitania, Em seguida, quando possivel, deveria visitar as demais capitanias, particularmence a do Espirito Sanco, também em guerra com os nativos. Em cada uma delas, 0 governador-geral deveria zcunir-sc com o donatério ou seu representante ¢ com os mais importantes funciondrios ¢ moradores para decidir sobre a maneira que sc everia ter com a governanga ea segurangy de cada uma deltas”, As primeiras visitas foram feitas ja no primeiro ano do Governo-geral, entre agos- toe secembro de 1549; » provedor-mar Anténio Cardoso de Barras esteve em Pernam- buco e Itamaraca, nomeando varios funcionarios da administragao da fazenda real ¢, no ano seguinte, este fez uma viagem pelas capitanias ao sul da Bahia, tendo passado por Porto Seguro, Espirito Santo e So Vicente, onde ficou alguns meses, reorganizan- do em toda a Fazenda régia, provendo os cargos uecessirios ¢ dando instrugées para seu bum funcionamenco™, © ouvidor geral Pero Borges também se deslocou, embara tenhamos menos informagbes, sabe-se que esteve, no comego do ano de 1550, tratando da hura contra os indios ¢ da organizagio da justiga em Ilhéus ¢ Porto Seguro de onde envio uma carta a0 fei, em que clamava: “achei tantas cousas de que lancar mio, © que bem parecia terra desamparada da vossa justiga”™. O governador Tomé de Sousa também realizou uma viagem pela costa ao sul da Bahia, em fins de 1552 € inicio de 1953, com certeza tendo estado em Ihéus, Es- pirito Santo e S40 Vicente. Tomando uma série de medidas, direta ou indiretamente relacionadas com a defesa, como cercar de taipa as vilas ¢ os engenhos ¢ prover a artilkaria necesséria nas diversas capitanias, ou ainda ordenar a vila de Santo André na borda do campo, a fim de agrupar os porugueses que viviamn no planalto, e des- tituir o capitio de Mhéus. Além disso, mandou endireicar as ruas de algumas vilas c, ainda, que se fizessem casas de audiéncia ¢ cadeia em todas elas, demonstrando que sua autoridade se escendia inclusive sobre assuntos locais. O governador-geral como representante direto do rei na Colénia, passou a exercer um controle real sobre as agdes dos divetsos agentes coloniais: donatarios, funcionarios € moradores em getal. Assim os capitaes-mores das diversas capitanias ¢ as CAmaras passaram dessa forma a funcionar como instancias inferiores do Governo-geral ou, como explicava Pero de Magalhies Gandavo, “depois que esta provincia (de) Santa 50 Adler iter 18. 51 “Livso primeio do registro de provimmentes seculases c ecesidsticas da cidade da Baia ¢ ter- ras do Brasil", iniciado em 1549 ¢ publicado na colegio Dernmentos Histéricor, Op. cit, vols. 3536. arta do Ouvidor geral Devtor Pero Borges” de? de feversiro de 1550, publicada na da Colonizagio Portuguesa do Brasil, vol. I, p. 267. 2 110 Rodsigo Ricupero: Crus se comegout a povoar de portugueses, sempre esteve instituida era uma governane cana qual asistia governadorgeral por el-ei, nosso senhor, com alyada sobre os ourros capities que residem em cada capitania”™ Parece-nos, pot isso, pertinente refuear aqui a id que se apresenta difusa na histo~ Hografia de que as capitanias seria colénias aurénomas ou que formariam uma espécie de = quipélago” ¢, conseqiienremente ou nite disso, que o governador-geral nao seria mais do aque » governador, ou melhor 0 capitéo-mor da Babi ou uma expecte de figura simblica, sem poder real, [Ein primeiro ugar, santo para os moradores como para os fanciontins des dots idlos do Atlimico, a8 diversas capiranins criadas pelos porrugueses no continence, de- pois conhecida como Amitica, faziam patte de uma drea conbecida comor a costa do Brasil; as terras do Brasil. as pastes do Brasil, ou simplesmente Brasil, @ que indicava o reconhecimenco de uma unidade geogréfica, que, depois, num plano politico-adminis- srativo receberia a designacio de Estado do Bras ‘tal unidade nao era meramente tedrica, pois o deslocamento intracapitanias & muito maior do que costuma ser imaginado, funcionarios de varias categorias, mer culores, soldados c os mais simples moradores se deslocavam ao longo da costa, cum prindo turofae do serviga régio, 08, simplesonente, atrés de melhores oportunidades. lAlém disso, em momentos importantes as capitanias existentes somavam esforgos en prol de dererminadas tarefis, como, por exemplo, a vanguista do Rio de Janciro ou da chamada Costa Leste-Ocste, ambas dirigidas pelo Governo-geral. tise governo de forma algume pode ser compreendido come meramente sim bélico, pois, como verernos em seguida com mal vagar, © governo-geral sediado em 1s diversos assuntos da vida colonial, Salvador desempenhou papel zelevante nos ma gruando tunto em questies mais amplas como em assuntos inzernos de cada capitania, real ow privada®, 53 Pero de Magthies Gandava, Op. cits p. 34. Candave, coma, esqmece ve de perio ante: rior 3 criagio do Goverao-geral em fins de 1548, Sa Fswmplo dessa posiydo ¢ Caio Prado Jinkor. Hirmnaste do Beast! Coneenpordnen, Sto Pole: 21942, p. 307 55 Bom exemple desss Braslie aa Suma pequena carta régin para » governadar-getal 1, Lae Sousa {16i7-1621) com as seguintes passagenss “mereadores que jd estiversm no [Brasil “pasa ie 4 costa de Brasil’, “uma bares do Brasil”, “que do Bre Airasil”, CE Cartas pure Atvaco de Sousa © Gaspar de Sousa, Op. cits pO. se asada” v “nao poderio valer no 56 Ras palass de Anno Martel Hospanhay "écerto quest pans de 1549. os governors: evts ram a caboca do gewezne do Esta, goranclo de upremacia sobre donstation¢ adores das eapitanias, devenda estes uhedeverthes ¢ dar thes conte do sen governo”. Anranie Manuel Hespanba eorrentes” in: Joao Feagoso, Fernanda Bicalhe ¢ Macia de Fatima Gouv Fripicns. Rio de Janciro: Civilizagio Brasileira, 2001, p. 177. Sobre ess “A constituicio do Impérin Portugués. Revisio de alguns enviesamentos _ 0 Antign Regine ns unten vejaese ainda A formagio da elite colonial ul Alem disso, a proemingngia real do governador-geral pode ser vista, por exemplo, na determinagao de que as leis ou alvaris régios, depois de registrados ¢ apregoadas na Bahia, fossem caviados pelo governador-geral com o traslado “concertado € assinado por ele aos capities ou provedores de minha fazenda das outras capitanias das ditas partes”; na preacupagio de Filipe { de Portugal e de seus auxiliares de que fosse 0 governadorgeral do Brasil o primeiro a receber us infurmages da mudanga dindsti- ca; ou ainda que os capitics-mores nomeados para o Rio de Janciro fossem empossa dos nos seus cargos pelas maos do governador-gcral, sendo autorizados a tomar posse diretamente na capitania, apenas na impossibilidade de pa Infelizmence uma das maiores lacunas da documentacdo do period é a corres- poniténcia trocada entre 0 Gaverno-geral as capitanias, pois além da perda de quase rodos os documentos guardados em Salvador do periodo anterior & invasio holande- ses, a maior parte dos atuais arquivos estaduais quase nada guarda para 0 periodo an- terior a 1630. Felizmente, portm, podemos contat com as atas da Camara da efémera vila de Santo André e com os documentos da vila de Sao Paulo, parricularmente as acas e 0 registro geral da Camara, com os documentos reunidos em cédices pesso- ais por alguns governadores-gerais, como os chamados jivros primeira c segundo do governo do Brasil ou com a correspondéncia de Gaspar de Sousa, para retratar parte rem em Salyador™, dessa telagdo entre Salvador ¢ as demais capitanias. ‘Na documentagao apontada, verifica-se a intervencde, em maior ou menor me dida, do Governo-geral na adminiscragéo das capitanias particulares, como se pode perceber, por exemplo, no regimento dado em Salvador em 1556 pelo segundo go- vernador-getal, D. Duarte da Costa a Bris Cubas, capitéo de Sao Vicente. Com uma série de instrugées, que iam das posturas a screm seguidas no que toca ao transito pelo wos de Vernande fond de Portugal ao Regimenso do goversidlor Rogue dis Costa Barto, “Regiment de Roque da Costa Bartero” de 23 de janeiro de 1677, publicado por Marcos Carneiro Mendonga, Op. ett 1, p. 805 e seguintes, Para alguns cases concretos, aléin dos vabalhes citados abaise aa nove 63, ver Eeloisa Bellorto, Op. cz, Dauril Alden. Royal go- sersment in colonial Brasil, Berkeley: University of California Press, 1968, p. 447 ¢ seguinres 57 “Cara régia de 11 de setermbro de 1550 sobre novos povozderes para a Brasil’, publicada em Documentos par « Hiaéria da Apiar, 3 vols, Rio de Janeito: [AA, 1956. 1, p. 97. 58 Numa consulta sobre o essuunte. a parecer final do manarea era de que se deveria mandar as cartas sobre a aclamacdo au governador geral e que este, paresua ver, mandaria essas is om capitanias. CE “Lembranca para el-tei, sobee 6 reducao das capitanias da costa da Brasil” de 25 de setembeo de 1580, Biblioteca ds Ajuda, cédice 49-X-02 {) 237, 402 € 404 v. ¢ também Joaquim Verissime Serraa, Do Brasil Filipine aa Brasil de 160. Sio Paulo: Companhia kai tora Nacional, 1968, p. 9 esegs. 59 Ver, por exemple, a Carta de nomeagza para capicio do Riv de [aneizo de Martin de Sa” de 15 ce derembro de 1601 ea “Cacta de nomeagio de Afonso de Albuquerque” de 12 de feverciro de 1605. Arquivo Nacional da ‘Torte do Tombo, Chanceliria de Filipe [, Doagées, respectivamen: (eLivt0.6. AL 291 ye hive IZ. 6? % 2 Rodrigo Ricupero interior da capitania a ordens sobre as obras da alfindega, casas do Conselho e pontes que deviam ser concluidas em Santos". ‘No Registro Geral da Camara de Sio Paulo, também podemos encontrar ind- meros exemplos do controle exercido pelo governadorgeral sobre a capitania de Sao Vicente, por meio de regimentos ¢ instrugGes sobre os mais diversos assuntos ou do provimentas de cargos, até, inclusive, com a suspensio do capitée-mor nomeado pelo. donatirio ¢ a nomeago de um substitute". Vale a pena ainda lembrar os regimentos aos capitdes-mores do Espirito Santo, Maranhao ¢ Ceara emitidos pelo governador-geral D. Luis de Sousa, entre 1617 € 1619, por meio dos quais passa instrug6es pormenorizadas aos fururos capitaes-mores sobre a administragao das tespectivas capitanias®. Outro aspecto do controle exercido pelo Governo-geral é, pelo menos esse ¢ 0 abje- tivo, sobre o movimento dos moradores, que, desde as entradas ao sertao até as possibili dades de imcercimbio com os indfgenas no ligoral, deveriam contar com a autorizacio do governador-geral ou do capitao-mor da capitania, medidas que visavam impedir que ages isoladas acabassem provocando maiores confliros com os nativos s sinda, acabar com © descontrole que reinava ao longo da costa. ‘Além disso, apettou-se o controle sobre os direitos reais e também sobre os Funcio- ndrios subalternos da fazenda, que agora deveriam ir até Salvador prestar conta do que tinham arrecadado em cada capitania, acabando com a liberdade quase que irrestrira de que esses funcionirios gozavarn. Por tudo isso, a visio de que capitanias como a de Pernambuco gozavarn de auronomia em face do Governo-geral nfo corresponde a realidade, A capitania de Duarte Coelho conseguir manter certa autonomia apenas enquante viveu o primeiro donatirio, possivelmente, pot deferéncia da Coroa a obra deste, Depots cada vez mais 4 Coroa, por via Governo-geral, passou a interferir na adiministrasdo local, inclusive nomeando varios capitaes-mores durante a menotidade do donatario, entre, pelo me- nos, 1593 ¢ 1614, ou com a permanéncia por largos anos dos governadores-gerais na capitania no inicio do século XVI, fazendo que a familia donatarial empreendesse G0 “Reyimemto que hi deter ie Cubas” de 11 de feveeito de 1556, regstrado no liven de Aras da Camara de Santo André, publicade como apéndice g obra de Afonso de Taunay. Jodo Remtalho 1 Santo André da Bordat do Carapu. Saxo Paulo: Revista dos tribunais, 1953, p. 261 segs Gi Ven entte outros, “Traslado da provisio de Joo Pereira de Sousa, capitfo cesta capitania de Sie Vicente” de ¢. 1600, “Regimenco de Capitéo Diogo Gongalves Laco que Ihe deu 0 senhor goverador 1. Francisco de Sousi” de 1601 © “Traslad da provisio de senor governador Dingo de Mendonga Furtado” de 1624, publicados respectivamente nas paginas 74 126 e454 do Registro Conal da Camara de Sao Pato, Vo\,\, Sav Pau: Arquive Municipal, 1917. 62. Ver Livro 2 da Governo dor Brasil. Lishoa: CNCDP « Sao Paulo: Museu Paulista, 2001, res- pectivamente, p. 66, 17 € 130. A formagio da elite colonial 3 uma enorme lura nao para defender a autonomia, mas simplesmente para garantir sas Prertogativas basicas’, ‘© ponro alto dessa luta foi ma segunda metade da década de 1610 e inicio da sc guinte, quando Matias de Albuquerque retomou o governo da capirania pata a familia donatarial, entrando cm conflito com 0 governador-geral D. Luis de Sousa (1617-1621) € seus representantes em Pernambuco, © conflite chegou ao rei, que em carta a0 g0~ vernador-geral avisava: “vi o que me avisastes sobre Matias de Albuquerque, ¢ demais deo mandar advertir da obtigagio que tem de obedecer as ordens que The derdes ¢ ter ‘convosca correspondéncia devida ao lugar que ocupais ¢ de que no 0 cumprindo as- sim Iho mandarei estranhar com demonstragéo” , mandando repor ao estado inicial todas as inovagies que fossem contra a jurisdigao real. Por tudo isso, mesmo Caio Prado Jiinior, um dos autores que defendem a idéia da ampla autonomia das capitanias frente no Governo-geral, afirma que nio se deve subestimar o poder e a autoridade dos governadores, “nem mesmo reduzir-lhes a ex= presséo na vida administrativa da colénia. Nao somente suas acribuigées s40 conside- raveis .. como ainda o simples fato de representarem © encarnarem a pessoa do tei, € terem a faculdade de se manifestar como se fossem o proprio monarca, € circunstincia que basta, no sistema politico da monarquia absoluca de Portugal, para dar a medida do papel de relevo que ocupam”*, Dessa maneira, o Governo-geral, ao longo da segunda merade do século XVI ¢ dos primeitos anos do seguinte, passou a desempenhar um papel central na mon- tagem do processo de colanizagao no Brasil, momento que, como veremos, estavarn sendo langadas as bases do Antigo Sistema Colonial. Nessa conjuntura, a luta contra 63 Avrelagio entre © governo-geral ¢ a capitania de Peonambuco foi ebjeca de alguns estudos Taro perfode dos donacirios, Francis Dutra, “Centrafization vs. Donararisl Privilege: Pere nambuco, 1602-1630" in: Dauril Alden, Colonial Roots of Modern Brazil, Berkeley: Universi- ty of California Press, 1973, Para o periada pés-restauragio, jd sob controle tégio, Vera I aicia Acioli, jurisdigao econflites. Recife: Fd. UEPE ¢ Maceié: Ed. UFAL, 1997. 64 “Carre do rei para D, Luis de Sousa’, escrits em Madrid em 10 de ievereito de 1612. Cf Linro 2 do Governs da Brasil. Op. eit, p. 160 ¢ 161. Na continuagio da carta ao governador-geral, encontta-se cOpia da enviada a Matias de Albuquerque, em que o tei afirma: “posto que fin de vos que comforime vossa obrigacio guardarcis nessa cepitania as ordens que ves des o govertia- lor desse Estado, como de vosse superior que & me parocen advetticlo de nove por esta carta {que assim 0 fags, endo com ¢ governadar a curresponsdéncia devida ao lugar que ocupa” 65 Essa rentativa de reforralecee » poder donacarial em Peenambucy seve come fpice 0 momento Posterior &invasie de Salvador polos holandeses em 1624, pois wm a prisiu da gernador-getal Diogo de Mendong2 Purtado, acabou assumindo » pasta o propria Matias de Albuquerque, entao no governo de Pernambuco, Conrudo, poucos anos depois, a conquista de Pernambuco pelos mesmos holandeses pis fim 4 esses prctensdes. Sobre o conflto jurisdicional entre Matias de Albuquerque ¢ Diogo de Mendonga Euctado, ver Frei Vicente do Salvador, Op. cit. p. 426. 66 Cio Prado Jimior, Op. cit. p. 308. 4 Rodrigo Ricupero 95 povos indigenas ¢ seus aliados estrangeiros teve um papel primordial, pois foram estas guerris que possibilitaram a conquista de novas tetcas e escravos para a expan- cura e beneficiamento da cana-de-agticar, alicerce econémico do pro- io da agri cesso de colonizagao ¢ fundamento de uma elite nascente na colbnia, em sua maioria diretamente envolvida no processo de conquista” Sob 0 aspecto da conquista territorial, 0 periodo pode set diviclide do ponto de sta das guetras ocorridas, em dois momentos: um defensive © outro afensive. No primeiro, que, grosso modo, duraria entre a chegada de Tomé de Sousa em 1549 ¢ 0 fim do governo de Mem de Si, com sua motte em 1572, a preocupagéo prioritaria era garantir a defesa das dteas ocupadas, com pequcnas expansées ern torno dos niicleos estabelecides, Além dessas, apenas uma dinica nova conquista de vulto, que foi a do Rio de Jancito, que, com se sabe, foi muito mais uma resposts & presenea francesa do que uma iniciative originariamente lusa, tanto assim que em 1560 a fortaleza francesa foi arrasada e a regido abandonada, s6 sendo ocupada definitivammente em 1565, dado © temor de que os franceses voltassem a ocupar a Bata da Guanabara © segundo momento, que comecaria depois da morte de Mem de $i ou um pouco depois, seria marcadla por uma tetomada da ofensiva por parte dos portugueses isla aproximadamente aré 1630, nesse momento os portugueses com forgas ¢ recursos retirados das capitanias primitivas, particularmente das de Pernambuco ¢ da Bahia, iniciaram uma etapa de conquistas: Paraiba om 1584, Sergipe em 1587, Rio Grande em 1598, Ceard entre 1603 ¢ 1613, Marankao entre 1612 ¢ 1615 ¢ Pars em 1616, consoli- dando assim a fachada Atléntica ¢ ampliando em muito & érea ocupada. Defesa, povoamento e economia A auséncia na América de circuiras comer: ecorria no Ori 's estabelecidos, ao contririo do que ne, impediu. que os portugueses ficassem restritos a esfera da circula- S40, obrigando-us a assumir a responsabilidade direta pela produgio dos géneros de interesse a0 comércio curopeu. Essa situayao ndo permitiu que 0 modelo do Império 6F As guernis com os fnidios em momentos postetioces riveran umn caréeer diferente, assim, por exemple, as luras di segunda metade do século XV ne sertao di atul regio Nurdeste nao iahan come favor precipuo a obvencae de miv-de-obra escrava, que jd era abuscecida lar gumente pelo trific negieiro, mem as novas toreas eram aproccitadis pata a cana de agicar, atividade condmica central do periodo, mas pars a pecudria extemsiva. [5 eon reas purifrieas como Sy Paulo e Pars « pela posse do esctavo do que das cerras. Ver Pero Punwoni, A Guerra dos Barbares, pour indigenus « 0 colontzagio do sertia nordesie do Brasil 1650-1720, Si Paulin Fedusp ¢ Hucites, 2002. fea & muito my. A formagio da elite colonial us oriental fosse seguido nas partes da Brasil, pois manter uma oxcense sede de fortalezas ue dominassem os principais pontos estratégicas, cor enorme dispéndio material ¢ umano, para defender o escambo do pau-brasil nfo teria o menor sencid, nema vis P Pi bilidade econdmica®, Tampouce a ocupaco do Marrocos servia cle madelo, pois nessa regido, pequena © Proxima a Porcugal, as pragas fortes portuguesas serviamn de baluartes na defesa de Reino e de suas navegacées, sendo, portanto, meros enclaves, com pouca relacie com a terra ¢ completamente dependenses de socarme permanente do Reino, onerando so- bremancira as coftes régios. Efi, um verdadelto sorvedouro de recursos financeivos © humanos que néo interessa reproduzir em outras partes, Assiny para a Coroa, o Brasil nao poderia tornarse outro Marrocos, da mesma forma que nao poderia ser outta India, Na Ameri ,a colonizaio encetada pelos portu- Busses Seguin muito mais ¢ modelo antes utilizado nas lhas atlanticas ~arquipelagos dos Avores ¢ da Madeisa - com a desenwolvimenta de urna economia agrocaportadora, Dessa forma, resumiidamente, o damfnio das terras ameticanas reivindicadas peli Coror partugu exigia, como vimos anteriormente, 0 povoamento, ¢ este, Por sus vez, exigia, por um lado, a montagem de uma estrutura adini por ouero, o desenvolvimento evondmiea necessirie para forneeer 9 suporte mate. straciva e, rial para o sucesso da colonizacéo™, Empreendimento que demandaya recursos que os donatirios, encarregados pela Coraa. tum primeira momento, para executar a tarefa, mao possuiann, mem Padleriam obter no pau-brasil, que cm vireude do estanco ségio os beneficiava ponco. Asin, nessa conjuntura, 0 produta escolhide pars viebilizar a emp dactieas aproveltanda-sc, entre outros Fatotes, das boas condies do sole apontadas por Caminha na célebre passayem"!, colonial foi A escola no causa surprese, pois @ agiicar passava por umd fase de grande Prosperidade, com os pregus em alea © ampliacéo de mercados, eapaves de absorver 0 crescimento da produgi 0. Alim disso, a experiéncia acumuiada pelos porrugiieses, par 6 Pars uma visa gy Lnupérta Colonied Portugts (eduydo), Lishoa: Fdig6es 70, 198) ¢ de Vitorins Mayathics Godinh, Os Derobrimentes ea kconareia Mardi, 24 el 4 vals. Lishoa: Prosnga, 1991 2 aindao maderns trabalho de Francisco Bethencourt e Kieti Clkaudhnrs Hiteste de Expensio Portuguesa, 5 vols. Lishoa: Circulo de Letares, 1998, ldo Império, vejase, por exemple, ws elissicos de Churley R. Boxer, (7 CU Davi Lupes. 4 Bspunie en Marcas, Lisbuss Toarenia, se Augusto Perea da A ral. (itiria de Mazagio, Lisboa: Alfa, 1989, Sobre ete aspects fundamental, ver Caio Dado finion, Op. ete, 21 e seuttintes ¢ Feenando Novais, Hortagal ¢ Bait ma crise do Antigo Sisiema Culantal (1777-1808) 6 ed. Sio Paste Hucieec, 1995, p. 1026 seguinwes. 71 Brime Corcesae, A Crna de Per Vas de Camniahee Rio de Jancieo: Livton de Portugal, 1943, p 240, 116 Rodrigo Ricupero ticularmente na Ilha da Madeira, desde © século XY, facilitava a transposi¢ao dos co- nhecimentos técnicos necessdrios & o acesso avs circuitos comerciais jé estabclecidos?. Conseqiientemente as iniciativas colonizadoras empreendidas pelos donatarios na segunda metade da década de 1530 j4 se estruturaram centralmente na produce agu- careira, relegando para segundo plano o extrativismo do pau-brasil, que vinha sendo explorado desde as primeiras expediges de reconhecimento no inicio do século XVI ‘As cartas dos primeiros donatérios deixam clara essa associagao entre o acticar a colonizagao das novas areas. De Pernamiuco, Duarte Coelho contava ao rei que depois de pacificar a terra, dou “ordem a se fazerem cngenhos de agricar que de li (Por tugal) crouxe contratados”” de Porto Seguro, Pero do Campo ‘Tourinho prometia a0 monarca, apés pedir 2 real ajuda, “tanto que os engenhos se acabarem ... Vossa Alteza rerd aqui um novo Reino e muita renda”™ e, num tiltimo exemplo, da fracassada ca- pitania de Sio Tomé, no atual norte fluminense, Pero de Gées explicava 20 sécio que os indios, sob as ordens de seus feitores, plantavam rocas “pata que quando vier gente ache jd que comer c canas ¢ 0 mais necessério para os engenhas ... entretanto ... fago cu cd no mar dois engenhos de cavalos que mola um deles para os moradores ¢ outzo para rds somenre, e isto para o presente os entreter””. Em outro sentido, « capitania de Itamaracd, praticamente abandonada pelos do- ‘nos, serm recursos para iniciar a produco de agtivar, pouco se desenvolveu nesse mo- mento, transformando-se no centro do resgate de pau-brasil ¢ sendo dominada pelos feicores dos armadores que. segundo Duarre Coelho, rumultuavam a costa, além de oferecerem refiigio aos criminosos que Fugiam de Pernambuco. Assim 0 contraponto brasileiro do agticar ¢ do pau-brasil revela uma série de opgoes adotadas no inicio do processo colonizador, O extrativisme do pau-brasil nao contribuia para @ fixagdo de mécleos populs cura de dreas ainda nao exploradas, Além disso, por constiruirse num extanco régio, sua Jonais, levando a um certo nomadismo, sempre 4 pro- exploragao era arrendada 2 comerciantes, cujas feitores sem maiores preocupagées ou vinculos com a ocupagio das terras préximas as Areas de corte da madeira, acabam por provocar inuimeros conflites com os indios, como visto anteriormente™. 72 CE Vera Lucia Amaral Ferlini. ferra, Trabalho e Poder. Si0 Paulo: Brasiliense, 1988. 73 “Carta de Duarte Goethe a elvei” de 27 de abril de 1542, publicada na Histéria da Coloni- ago Portuguesa do Brasil, vl. III, p. 313 ¢ em Jose Antdnio Gonsalves de Mello e Cleonir Xavier de Albuquerque, Op. cit, p. 85. 74 “Carea de Pedso do Campo Tousinho” escrita de Porto Seguro em 28 de julho de 1546, pu- blicada na Histiria da Colonécagéo Porsuguesa do Brasil, vi. 1, p. 266. 75 “Carta de Pedto de Gées escrita da Vila da Rainha ao seu sicio Martina Ferreira” de 18 de agosto de 1545, publicada na Historia da Colonizagie Portuguesa do Brac, vol. 111, p. 262. 76 Por outro lado, a exploragio do pau-brasil, podesia setvir para amealhat os recursos neces- sitios a0 emprcendimento agucareito, Ver, por exemplo, a "Carta de Muarte Coelho" de 22 de margo de 1548, publicada na Hisrdria ala Colenisagta Portugursa slo Brasil, vol. 1, p. A formacio da elite colonial 17 Mo agticar, sedentirio, sxigia nao $6 o plantio da cana de agiicar, como tam- bém o seu beneficiamento, gerando a consttusio de engenhos. Eases, como veremos actlance, taasformatam-se etn importantes free de ocupacio ¢ de defesa do tertitério, Dessa forma, pade-se dizer que-0 sucesso Jey empreendimento colonial nas partes do Brasil dependia do sucesso da cconornie agueareira e vice-versa, Contudo, a economia agucareira, apis um cotnego promissory; softcu um duro re- tle 1548, com a fnalicade de defender or Inicleos portuguese jd instalados ¢ garanti: Portugt Ff & Processo de colonizavio, a ture de recomecar 2 ontagem da cconomia acucareina”, base de sustenrasio econdmica da nasceme calénia, pois mesmo com a maior Participa- FEE ASO: Re Mesino momento em que Tomé de Sauce era enviado para idlade do Salvador, D. Joo I ordenavy ue parte das fortalezas na costa do Matrocos fossem abandonadas". © Pras de {ato nao poderia se tornar outre Maro. cos: Era necessirio que um setor dos moradores Pudlesse prestar os servicos exigidos, sem dependencia da Fazenda régia, na Ssperanga de que rais servicos revertessem em houras ¢ mercés diversas, Loge, 26, tomivim om José Antonia Gonsalves de Mello e Cleouie Xavier de Albuquerque, Op. lam scr dads 20s iudios, para evitar e Processo dechcarecimemto do “resgate™ CE Atexsndey Marchacn, Op. cit. passim, 78 Varce da populagio das areas abanconadas foi deslovads pata Salvador Tat abandono pro- Wreou enorme poléinics cm Portugal, rendo seug defensores side also de pesadas erhicas Alguinas dolasacabaram segisteadas, como, porexemplo, aqucla eon «ue “praticanda-se enire 05 fidalgos que © homem Que mais insistira em sy fargarem oy jogures de Africa fou seja, do Marrovas) fara Fernao Alvares de Andrade, esctivin da fazeada de el-rei, Ptaguejavam dele. E tm dia, dizenda Fernio Alvares a0 conde (ly, Jodo Coutinho, Conde de Redonda ¢ capitio de Arvla) que tinha grande Festi, disse tne cles Maloc seta @ de Altice’. Ferndo Advance de Andrade, digs-se de pastagem, eta um deg ‘nalores incentivadores da ocupacéo da Brasil, ‘ero rescbido uma capicenia que sealou nascent, cxplorada, alim de cio na explorasdo de ltheus, Ditor Poreugueses Dignos de Monéria(Século XW, editada © comentads por José Hermano Saraiva, ed. Lisboa: Buropach nevies sid, 118 Rodrigo Ricupero O primeiro problema era come atrair moradores dispostas a correr os riscos da enorme tarefa, repleta de desafios. A pritica de enviar degredados nfo bastava, ora preciso oferecet contrapartidas que incencivassem a vinda de moradores”, como por exemplo, a distribuigao de cerras, as isengdes de tributos e o apoiv A construgao de eagenhos e aos lavradores de cana. A carta régia coviada a Pedro Anes do Canto cm Angra, nos Acores, éum bom cxem- plo dessa politica de incentivo, nela o rei, apés relatar que a cidade do Salvador jd estava “muito forte e defetsdvel” © que a terra era “grossa e fetil’,afirmava “que bavendo gente em abastanga, que a plante, granjeie e fara nela muito proveito ¢ a terra sc cnobrecer! muito", oferecia “embarcaghes € mantimentos a todas as pessoas que se quiserem ir viver nas ditas partes do Brasil e além disso Ihe serao Id dadas pelo dito Tome de Sousa ceras que plantem eaproveitem livcemente sem delas pagarem mais que o dizimo a Deus” Assim, sem duvida, 9 maior incentivo utili América foi a ampla oferta de terras brasileiras. Além disso, a possibilidade de obten- do para atcair moradorcs pare a io de escravos ea participacao, em maior ou menor medida, na economia do acticar também deveriam servir como atrativo. As rerras portuguesas do nove mundo foram, desde a inicio do proceso, incor- poradas a0 patriménio régio ¢ doadas pelo monarca ou por seus agentes, na forma de sesmatias", segundo as normas das Ordenagées da Reino ede instrugies especificas, cujo primeiro exemple é a autorizacio dada a Martim Afonso de Sousa", AA discribuigdo ¢ 9 aproveitamento das tertas foi uma preocupagio constaate da Coroa ao longo do periode estudade. Com a criagito das chamadas capicanias heredicérias, 0 mo- narca, previdente, determinou, nas cattas de: doagao, que no miximo 10 kiguay das terras da

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