You are on page 1of 6

jusbrasil.com.

br
13 de Novembro de 2022

Pedagogia Indígena no Brasil

Pedagogia por uma visão indígena

Publicado por Lana Potiguara mês passado  21 visualizações

No decorrer de todo período colonial a educação para povos


indígenas esteve vinculada à catequese e sob a direção dos padres
jesuítas, ficando ao encargo deles a conversação dos nativos ao
catolicismo e preparação dos povos originários para servirem como
mão de obra escrava. Assim como a escolarização, a legislação e as
políticas públicas do período colonial.

A antiga escolarização que quase cinco séculos cumpria o propósito


de integração dos povos indígenas à nação de forma forçada e
errônea, afim de abolir sua cultura, dado que eram classificados
pelos europeus como “selvagens”, graças aos movimentos indígena
e indigenista desfaz com este modelo a partir da elaboração da
Constituição Federal de 1988.

É impossível assimilar o contexto das escolas indígenas brasileiras


sem reportar à algumas questões históricas, tais como a invasão
colonial e a catequese jesuíta. Estas estão intimamente conectadas e
tinham o objetivo de alterar as identidades e culturas das
populações nativas com a finalidade de dominá-las e coloca-las a
força a serviço dos interesses da Coroa portuguesa. Através da
implantação de seus ideais, religião e seu modo de vida. Além de
ataques as suas terras e criminalização de suas práticas nativas
como a língua nativa, um dos elementos mais importantes para
povos indígenas.

Inicialmente os jesuítas tentaram implantar a catequese usando a


língua latina e o português. Sem resultados, aplicaram o Abanhenga
(Tupi Antigo) e o Nhengatu (Tupi moderno). O primeiro era a
língua tupi do sudeste litorâneo usado para ensinar os princípios
religiosos às crianças indígenas. O segundo, o Nhengatu, foi
utilizado no Grão-Pará e Maranhão, colônia portuguesa da América
brasileira, com administração própria independente do Brasil.

Tem-se então duas vertentes distintas da e. e. i., a primeira do


período colonial que se estende até 1988 quando a “escola indígena”
estaria estruturada para a integração dos povos originários ao
Estado Brasileiro como forma de dominação e pós 88 com a escola
valorizando os conhecimentos tradicionais, idiomas maternos e
culturas indígenas. A importância das escolas indígenas não está só
relacionada à formação de jovens com potencial de entender o
funcionamento do Estado, da legislação e poderem atuar para
melhorar a relação interétnica, mas também de ensinar suas origens
e combater o apagamento étnico que muitos povos sofrem até hoje.

A década de 80 foi extremamente importante para o movimento dos


professores indígenas buscando e conquistando a autonomia de
suas escolas, como forma de resistência cultural e ideológica. Na
década de 90 a e. e. i. caracterizou-se por ocorrer em território
indígena e com professores indígenas. O movimento dos professores
indígenas começa a organizar suas lutas e reivindicações pela
autonomia, gestão e administração de suas escolas.

A escolarização indígena permite a disseminação de informações


necessárias em relação aos direitos legislativos, garantia do
território, manutenção da cultura tradicional, da organização social,
saúde, preservação do meio ambiente, proteção quanto a invasão de
suas áreas e exploração de seus recursos naturais. Associados estes
importantes quesitos, está o ensino da língua portuguesa e dos
conhecimentos matemáticos básicos evitando que os povos
indígenas sejam explorados comercialmente.

A educação escolar indígena pode ser considerada uma opção de


escola aberta ao ensinar o conhecimento tradicional local através da
prática e pesquisa da realidade de cada aldeia. Está aberta a várias
possibilidades e projetos. Algumas escolas indígenas adotaram
currículo próprio, com as suas disciplinas vinculadas às suas
realidades, como foi o caso da escola Tuyuka do Alto Rio Negro
(AM) ao criar uma escola diferenciada respaldada pela legislação
federal.

Conquanto existam posições contrárias à e. e. i., os direitos à


educação trouxeram enormes benefícios às populações indígenas na
formação de indivíduos capacitados com títulos superiores e
também nos espaços políticos principalmente em decorrência das
pressões exercidas por seus líderes e também com resultado da
organização de associações principalmente de professores
indígenas.

Como mostrado no documentário “Falas da Terra” é de suma


importância dar visibilidade, protagonismo e voz aos povos
indígenas contarem sua própria história. Por muito tempo as suas
histórias foram contadas por pessoas que apenas observavam e
colocavam seu próprio entendimento como uma “verdade absoluta”.
“Quando nós chegamos nesse lugar acadêmico e não somos dados
como protagonistas do conhecimento e apenas como sujeito objeto
de pesquisa acontece um processo de epistemicídio que é a matança
do conhecimento coletivo, quando não consideram o saber que vem
do nosso tradicional”. (Célia Xakriabá. Evento Mekukradjá –
Círculo de Saberes: Língua, Terra e Território. Itaú Cultural.
Outubro de 2017). Nas escolas não indígenas não oferecem um
direcionamento, acontecendo de sequer os professores
compreenderem nas universidades de licenciatura acerca de povos
indígenas peala ausência de disciplinas ligadas ao tema, o que acaba
havendo um apagamento proposital invisibilizando toda uma luta
criando um ciclo onde o futuro professor em formação jamais
aprende sobre o assunto e não é possível transferir para os alunos.
Ficando em uma fantasia de 1500 tal como o "descobrimento do
Brasil". É crucial o povo brasileiro reconhecer a sua história contada
por outra perspectiva, o processo doloroso que tem por traz da
formação do país. No qual permanece até hoje um sistema colonial
de inferiorizar para dominar.

Hoje em dia resistem 305 povos indígenas e 274 línguas diferentes


registrados e a pedagogia indígena é um meio fundamental na
formação de jovens com capacidade de aprender a cultura da sua
própria etnia como sua língua, cânticos, grafismo e rituais.
Trazendo os conhecimentos ancestrais independentemente do local
onde reside. Pois os povos indígenas não estão só nas aldeias, mas
também nas cidades, periferia e nos campos. Ocupando todos os
espaços da sociedade, mesmo que seja ainda um local muito hostil,
pois é carregado por muitos pensamentos racistas.

“Quando você diz que você é indígena e quando você tem esse
pertencimento todo esse discurso da integração cai sobre ti nele é
trazido pela sociedade por que ele está tentando te dizer que o
indígena é o ser do passado."(Julie Dorrico. “Eu sou macuxi e outras
histórias” live com Julie Dorrico 2020. Publicado pelo canal
Literatura indígena contemporânea no Youtube. Maio de 2020). É
fato que muitos indígenas em contexto urbano desconhecem a sua
etnia, sendo chamados pelo Estado por pardos ou até negros ou
brancos, mas nunca pela identidade indígena.

Mesmo depois de 521 anos da invasão Portuguesa ao país


Pindorama, ocultado pelo projeto colonial chamado “Brasil”, são o
grupo que mais sofre genocídio e perseguição. Seja pela invasão de
seu território por grileiros, agronegócio e a mineração irregular o
que já ocasionou em contaminação dos rios visto que atualmente o
todo povoado da terra Yanomami em Roraima apresenta mercúrio
em seu corpo desde 2016. Também no recém incêndio criminoso
que destruiu a escola e casa de medicina tradicional do povo
Xakriabá da aldeia Barreiro Preto, no município de São João das
Missões (MG). Também a luta por demarcação de terras contra o
marco temporal.

A tese do marco temporal se baseia na ideia de que populações


indígenas só teriam direito à terra se estivessem de posse da área ou
em disputa judicial por conta dela em 5 de outubro de 1988. As
histórias dos povos nativos começam muito antes de 1500.

A educação também ajuda a população originária a compreender


sua luta e romper com estereótipos criados pela sociedade não
indígena. As escolas indígenas é um recurso fundamental para a
resistência dos povos originários, mantendo sua cultura, ecoando
suas vozes para seus descendentes, combatendo o apagamento
étnico e os estereótipos criados que ainda perpetuam pela sociedade
que questionam sua identidade e tentam silenciar sua luta. Por isso
a educação indígena é importante para ajudar a aceitar suas origens,
afirmar e valorizar a identidade.

REFERÊNCIAS

Ribeiro Meireles, José Manuel. O contexto da educação escolar


indígena brasileira. Revista Brasileira de História & Ciências
Sociais – RBHCS Vol. 12 No 24. Julho - Dezembro de 2020.

Falas da Terra. Direção: Antonia Prado. Produção de Malu


Vergueiro e consultoria de Ailton Krenak. Já Ziel Karapató, Graciela
Guarani, Olinda Tupinambá e Alberto Alvarez. Local Brasil.
Globoplay, 2021. Streaming.

“Eu sou macuxi e outras histórias” live com Julie Dorrico


2020. 1 vídeo (55 min). Publicado pelo canal Literatura indígena
contemporânea no Youtube. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=tO8Tn0uT44w&t=1683s.
Acesso em: 27 jun. 2021.

Célia Xakriabá. Evento Mekukradjá – Círculo de Saberes:


Língua, Terra e Território. Itaú Cultural. Outubro de 2017, em
São Paulo (SP).

Disponível em: https://lanasousaart865728.jusbrasil.com.br/artigos/1660233742/pedagogia-indigena-


no-brasil

Informações relacionadas

Vitoria Pedersoli
V Artigos • mês passado

Solução Pacífica de Lides: do Procedimento arbitral até a


Prolação da Sentença
RESUMO : O presente trabalho irá abordar o instituto da Arbitragem, mais
especificamente sobre a fase procedimental até prolação da sentença
arbitral, com intuito de promover maior estudo sobre esse…

You might also like