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ati er one ‘iatéasnasioe ‘NUMERO DO PROCESS PROC. Og62 / FUNDAGAO NACIONAL DO DATA_|'29 MINISTERIO DA JUSTIGA FUNDACAO NACIONAL DO INDIO - FUNAT ]GLUME VOLUK GRUPO INDIGENA POTIGUARA TNTERESSADO DOCUMENTO PRIMARIO Espécie MEMO Nt 392 __Procedéneia_DAR Daa RSSUNTO INDENTIFIACACAO E DELIMITAGKO DE TERRA INDIGENA, (eaniGo RESOMO SNDETIFRCACKO. E DELIMETACKO DA TERRA INDIGENA POTIGUARA DE ot R,LOCALIZADA NOS MUNICIPIOS DE RIO TINTO E MARCAGKO /ESTADQ DE PARATBA, u MOVINENTACAO. DATA 2 G o 05 06 oF 08 a 10) in 12 a 6 15 16 7 18 19 20 Mod, AG 0819-22550 am i i f nusreno oa waren sani BS eID EPROTSCDLD. SEER TERMO DE ABERTURA PROC: 08620.1821/2000-DV INT: GRUPO INDIGENA POTIGUARA ASS: IDENTIFICAGAO E DELIMITAGAO DE TERRA INDIGENA Nesta de folhan® 339 , damos prosseguimento ao 2.° volume do Processo n° 08620.1821/2000-DV, que teve o 1.° volume encerrado as folhas n° 329 Brasilia, 21, de Wlaio de 2004. maeals ieaelxmnah, hanes ARAL Chefe do Servigo de Expedigéio e Protocolo irr Fie pacts P—— Fundagao Nacional do indio MINISTERIO DA JUSTICA MEMO n® 36% /CGID Brasilia \ de maio de 2004 ‘AO: Protocolo/FUNAI ‘Ass.: formagao do II Volume do Proceso n® 0862.1821/2000 Eneaminhamos, em anexo, documentos para autyagio do I volume do processo n° 0862.1821/2000, Atenciosamente, . De taut Piuda [ADJA HAVT BINDA Coordenadora Geral da CGID PROTOCOLO/FUNAI REC, EM_19 05 |. of HORAN RUBRIC, oki “dal wat. we Relatério dos novos estudos de identificagao da Terra Indigena Potiguara de Monte-Mor. proc. A B04 (cca — Fong 32 —_____— Fics gtacnasf———$ SUMARIO: Lista de Documentos em Anexo Lista de Fotografias em Anexo Lista de Graficos, Quadros e Tabelas .. Resumo Introdugao . Situagdo Atual da T.I 0 Trabalho de Campo na T.I. Potiguara de Monte-Mo1 Parte |: Dados Gerai ‘ 1. Localizagao e Populagao Atual 12. Histérico da Ocupagao e Parte Il: Habitagdo Permanente 114, Jaragué Nova Brasilia ‘ .3. Lagoa Grande « 11.4, Vila Monte Mor . ¢ Parte Ill: Atividades Produtivas .. , 14, Agricultura... 1.2. Extrativismo Vegetal ( 3. A Pesca e a Coleta de C q q ‘ SE NOIAAADWDVIABIAIANIANINA OOS 11.4. O Trabatho nos Canaviais: «Clandestinos» e «Fichados» 4.1. O PROALCOOL e a “Iflodernizagao” Agricola na Paraiba II.4.2. A Insergao dos Potiguara de Monte-Mor como Mao de Obra Explorada nos Canaviais do Vale do Mamanguape Parte IV: Meio Ambiente .. Parte V. Reprodugdo Fisica e Cultural Parte VI. Levantamento Fundiario Parte VII. Conclusao e Delimitagao .... Bibliografia Anexos. - SIDNEI PERES - : Abril dle 2004 Relatério dos os novos estudos de identificagao da Terra Indigena Potiguara de Monte-Mor. proe. wd $21 | amd Fobvas: rae Rubrica: pe BORTARIA N° 013/PRES/00, DE 07/01/2000 PORTARIA N° 250/PRES/00, DE 13/04/2000 PORTARIAI N° 067/PRES/01, DE 25/01/2001 ‘ORTARIA N° 443/PRES/01, DE 10/05/2001 IRTARIA N° 929/PRES/02, DE 19/09/2002 - SIDNEI PERES - Fevereiro de 2002. Proc. A904 [tier LISTA DE DOCUMENTOS EM ANEXOrohas._ 334 Rubrica:, piano — 4, MEMORIAL DESCRITIVO E MAPA DA TERRA INDIGENA POTIGUARA DE MONTE-MOR. - . ACAO ORDINARIA COM PEDIDO DE ANTECIPACAO DE TUTELA EM DESFAVOR DA UNIAO E DOS CONTESTANTES. PORTARIA N° 013/PRES/00. PORTARIA N° 250/PRESI/O0. . PORTARIA N° 067/PRES/O1. ABAIXO ASSINADO DE INDIOS POTIGUARA DE MONTE-MOR SOLICITANDO RETORNO DO ANTROPOLOGO SIDNEI PERES PARA RETIFICAR LIMITES DA TERRA INDIGENA, ESTABELECIDOS PELOS ESTUDOS DE IDENTIFICACAO REALIZADOS EM 1995. . PORTARIA N° 443/PRES/01. MEMO N° 001/COORDENADORIGT PP 443/PRES/01. RELATORIO SOBRE ALGUMAS DUVIDAS DOS INDIOS POTIGUARA DE MONTE-MOR REFERENTE AOS LIMITES DO TERRITORIO INDIGENA IDENTIFCADO EM 1995. 10, PORTARIA N° 929/PRES/02. 41.PROPOSTA DEFINITIVA DE DELIMITACAO DA T.l. POTIGUARA DE MONTE-MOR RATIFICADA EM REUNIAO REALIZADA NA VILA MONTEMOR, NO DIA 16-10-2003. 142.PROPOSTA DEFINITIVA DE DELIMITAGAO DA T.l. POTIGUARA DE MONTE-MOR RATIFICADA EM REUNIAO REALIZADA EM MARCACAO, NO DIA 16-10-2003. - 43.RELATORIO DAS ATIVIDADES DO POSTO INDIGENA, REFERENTES AO ANO DE 1939. _ 14.CORRESPONDENCIA DE LIDERANCAS POTIGUARA, INFORMANDO AO PRESIDENTE DA FUNAI SOBRE A DECISAO JUDICIAL DE DESPEJO DAS CASAS ALUGADAS PELA CTRT A FAMILIAS INDIGENAS DA VILA MONTE- MOR. 15, MEMORANDO N° 323/2003-FUNAVGAB/AER-JP. 46.ATA DE REUNIAO NO MINISTERIO DA JUSTICA SOBRE A SITUACAO DE CONFLITO DECORRENTE DA DEMARCACAO DA TERRA INDIGENA MONTE-MOR — POTIGUARAVPB. 17.0FICIO N° 110/2003/GAB/ASF DO MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, 6° CAMARA DE COORDENAGAO E REVISAO, BRASILIA-DF, 17 DE SETEMBRO DE 2003. 18. ENSAIO FOTOGRAFICO. . 19. RELATORIO AMBIENTAL DA TERRA INDIGENA POTIGUARA DE MONTE- MOR. NV Onae ON Prot. we gal Loco LISTA DE FOTOGRAFIAS EM AN EXOFoinas; 33.2 ——— Rubtioa. pr 4. Apresentagao de Toré em Jaragua. 2. Roga Indigena Queimada por Agrotéxico. 3. Conjunto Habitacional em Nova Brastlia. 4. Conjunto Habitacional em Nova Brasilia. 5, Marco de Pedra da Auto-Demarcacao. 6. Mata do Rio Tinto. 7. Antiga Fabrica de Tecidos Rio Tinto na Vila Monte-Mor. 8. Antigo Casardo da Familia Lundgren. 9. Escola em Jaragué 10. Capela em Jaragué 41. Escola em Nova Brasilia. 42. Escola em Lagoa Grande. 43. Agricultora Potiguara. : 44, Acampamento em Terreno Retomado por Familias Indigenas em Area de Canavial. . 45. Caminhao e Trator da Usina Japungu Apreendidos pelos indios em Ago de Retomada de Terras. 16. Roga Indigena. 17. Raspando Mandioca na Casa de Farinha. 18. Queimada em Canavial sem Fazer 0 Aceiro. 19. Casa de Taipa. 20. Rio Mamanguape. 21. Manguezal. 22. Canavial. 23. Igreja Nossa Senhora dos Prazeres. 24. Imagem de Nossa Senhora dos Prazeres ao Lado da lgreja. Proc. N: A928 [fo LISTA DE GRAFICOS, TABELAS E FIGURAS. Fohas:.2.26 Rubrioa, pop — ee Produedo Paraibana de Cana-De-Agticar por Municipios .... 18 2 ‘Composigao Etnica da T.I. Potiguara de Monte-Mor ... 19 3. Distribuig&o da Populagdo Indigena da T.I. Potiguara de Monte-Mor por Local de Residéncia . 20 4, Distribuigéio da Populagao Nao-Indigena da T.1. Potiguara de Monte-Mor por Local de Resid&ncia «....cuetnrmertvstnnsenneie 20 5, Quentidade de Estabelecimentos Rurais do Municipio de Mamanguape em 1940 .. Grupos de Area Ocupada pelos Estabelecimentos Rurais no Municipio de Mamanguape em 1940 : Concentragao Fundiaria em Mamanguape (1940-1 960) . . Composi¢ao Etnica da Populagao em Jaragua JaragualFaixas Etarias 10. Composigao Etnica da Populagéo em Nova Brasilia. 11. Nova Brasilia/Faixas Etarias 42. Composigao Etnica da Populagao em Lagoa Grande 13. Lagoa Grande/Faixas Etaras..... 14. Composig4o Etnica da Populagao da Vila Monte-Mor 15. Ocupagdes Nao-Indigenas ... 2 oan Tabelas. 1. Indicadores sociais: comparagéio dos municipios de Marcagéo e Rio Tinto com 0 estado da Paraiba 2. Caracteristicas da produgao agricola dos municipios de Marcagdo e Rio Tinto: produtos das lavouras tomporéries, referente ao ano de 2000 3. Caracteristicas da produgéo agricola dos municipios de Marcago e Rio Tinto: produtos das lavouras permanentes, referente ao ano de 2000 7 oe Distribuigo da Populago no Municipio de Mamanguape em 1940 . Variag&o na Distribuicao da Populagao no Municipio de Mamanguape (1940-1950) . . Aldeia/Lugar de Origem e (ou) Lagos de Parentesco Oo ar Figura, 4. Vila Monte-Mor no Inicio do Século... 28 poe. we AIM acO- Foes: 33% ———_— Introducio. navi tems Os Potiguara ocupavam uma ampla faixa territorial do litoral nordestino até a chegada dos colonizadores europeus no século XVI. Desde entao suas terras foram usurpadas até ficarem concentrados dentro dos limites atuais em que vivemn. A doacdo de terras para a instalacao de trés aldeamentos missionérios, no século XVII, na Paraiba, era parte da estratégia de conquista territorial da Coroa Portuguesa, concentrando 0 povo Potiguara em areas reduzidas e subjugando-os através da catequizacao. Em meados do século XVIII os aldeamentos carmelitas de Sao Miguel da Baia da Traicao ¢ Preguica (ou Monte-Mor) foram elevados a categoria de Vila. Esta era a estratégia vigente de inserir 0s indios aldeados = cuja existéncia foi reconhecida pelas autoridades coloniais ¢ subordinados assim 4 administragdo secular do diretor de indios — na ossatura burocratica do Estado portugués sem a mediacéo dos quadros missionérios da igreja catdlica. No século XIX, 0 método de dominacao e expropriacdo consistiu em demarcar e lotear os antigos aldeamentos € distribuir titulos de propriedade para cada familia indigena. A logica deste procedimento era inseri-los em um sistema fundiério baseado na propriedade, que se implantava no Brasil a partir da Lei de Terras (1850), ¢ eliminar 0 regime indigena de uso coletivo'da terra. O objetivo era transformar os indios em pequenos agricultores e a0 mesmo tempo regularizar a situacéo dos Tnvasores, concedendo-lhes titulos de propriedade ou arrendando-lhes terrenos dentro dos antigos aldeamentos, pagos 4 municipalidade. Felizmente, o antigo aldeamento de Sao Miguel nao teve este processo de expropriacdo concluido, 6, ndo foi loteado. Entretanto, apesar do loteamento do antigo aldeamento de Monte-Mor, 14 também persistiu 0 uso comum dos recursos fundiarios, baseado nos vinculos étnicos (de ordem econémica, politica e religiosa) existentes entre as familias indigenas. A partir do inicio dos anos trinta do século XX, iniciou-se 0 processo de retomada dos antigos aldeamentos de Sao Miguel e de Monte-Mor com fa criacdo da reserva indigena de Sao Francisco - cuja area foi cedida pelo governo do estado da Paraiba - pelo antigo Servigo de Protecao aos Indios (SPI). Devido 4 impossibilidade politica de retirar os invasores da area indigena, o SPI arrendou-lhes terrenos dentro dela a fim de mediar os conilitos fundiarios, controlar a disputa pelos. recursos naturais e obter 0 reconhecimento de politicos, latifundiarios e pequenos posseiros da terra Potiguara. Apesar desta medida proporcionar um certo reconbecimento social do SPI no cenério local, os arrendatarios nado pagavam as taxas: devidas ao posto indigena e apoderavam-se de areas sem a autorizacao do 6reao, A Companhia de Tecidos Rio Tinto, que se instalou na regido no inicio do século XX, nunca aceitou a condicdo de arrendatéria ¢ foi a principal responsavel pelo desmatamento da terra indigena. Este proceso de degradagao ambiental acentuou-se com a implantacéo das usinas € plantagées de cana, a partir de 1975, subsidiadas e incentivadas através ae proc, ne Aged (2000 Foinss_ 232 —___—— a Rubica:, zs do PROALCOOL ~ programa do governo i a crise do petrdleo, através do desenvolvimento de fontes energéticas alternativas. ‘A luta mais recente dos Potiguara pela. retomada das terras que lhes tcram usurpadas desde o inicio da colonizagao obteve seus ‘primeiros resultados com a demarcacdo dos 21.238ha da T.l. Potiguara, em 1983. Entretanto, as terras do antigo aldeamento ¢ Vila de Monte-Mor foram excluidas. Tal fato ocorreu devido ao jogo de forcas politicas e ao contexto Ge negociagéo vigentes naquele momento. Entre as propostas de identificacéo apresentadas, o Grupo de Trabalho Interministerial aprovou © encaminhou a0 Ministério do Interior (MINTER) e Ministério Extraordinario Ge Assuntos Fundiarios (MEAF)! aquela que tinha @ menor extensao; € muito distante dos 34.320ha reivindicados pelos indios. Alguns anos depois, 1988, mais um avanco foi possivel com a identificacao de mais 4.500ha, correspondentes & area da TI. Jacaré de Sao Domingos. Contudo, uma parcela consideravel da populacao indigena da Paraiba continuou sem 0 reconhecimento pelo Estado brasileiro do seu territério tradicional. Situagao atual da T.I. Potiguara de Monte-Mor. Em 9-6-1993, alguns indios (José Medeiros, Sitio Jaraguaé-Rio Tinto; ‘Anibal Cordeiro Campos, Vila Monte-Mor-Vila Regina-Rio Tinto; Severino Cordeiro da Silva, Sitio Jaragua-Rio Tinto; Joao ‘Antonio dos Santos, Sitio Jaragua-Rio Tinto; Cicero ‘Vicente do Nascimento, Sitio Jaragua-Rio Tinto; ‘Severino dos Ramos Neves, Sitio Jaragué-Rio Tinto; Vicente José da Silva, Sitio Jaragué-Rio Tinto) enviaram correspondéncia para 0 Procurador da Repiiblica na Paraiba a fim de que solicitasse @ FUNAI a instauracdo dos procedimentos administrativos objetivando a identificagio ¢ delimitacéo da brea por cles ocupada. Em 31-8-93, 0 Presidente da Repiblica, Ttamar Franco, por intermédio de fax enviado pela Secretaria de Documentacao Historica da Secretaria Geral da Presidéncia da Reptiblica, Salete Alves Pereira, responde & correspondéncia mandada por Vicente José da Silva, te 13°8.93, dizendo que o assunto havia sido enviado ao Ministério da Sustica para as devidas providéncias. Em 8-11-93, a Superintendente da ‘SUAP. FUNAI, Isa Maria Pacheco Rogedo, comunica a Vicente José da Silva que o seu pedido de regularizacdo da Terra Indigena Potiguara de Monts” Mor seria incluido na programacéo da Diretoria de Assuntos Fundiérios para o exercicio de 1994 (Brito, 1996). 1 Grapo de Trabalho Interministerial - que era formado pelo presidente da FUNAl, representantes de érgdioe federais e estaduais - era a insténcia de avaliado das proposes de identificagdo de terras indigenas. O ministro Extraor jo de Assuntos Fundiarios ceive passou a apreciar, junto com o ministro do Interior, as igentificagdes aprovades bel “Grupzo”. A TL. Potiguara foi homologada em 29-10-1991 ¢ a Jacaré de Sao Domingos em 1-10-1993, com 5.032ha. pros. NY AGEL) 2000— Fonas, 339 ———-———— -pobsica fn o> A luta pela demarcacéo contou tambémlcom o”apoio da FETAG-PB (Federacdo dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Paraiba) © do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Tinto, que solicitaram 0 empenho das autoridades competentes (Presidente da _ Republica, Presidente da Camara dos Deputados, . Presidente do Senado, ao Superintendente da FUNAI) em regularizar as terras dos Potiguara de Monte-Mor. Em oficio da FETAG-PB encaminhada ao Presidente da Replblica, Fernando Henrique Cardoso, assinam como representantes dos indios: José Augusto da Silva, Anibal Cordeiro Campos ¢ Vicente José Ga Silva (identificado por impressdo digital). Em 09 de marco de 1995, o INTERPA (Instituto de Terras é Planejamento Agricola do Estado da Paraiba) informou (OF PRESI Ne 054) ao cacique dos indios Potiguara de Monte-Mor, Vicente José da Silva que, através de contatos mantidos com a FUNAFADR de Jodo Pessca, os trabalhos de identificagao e delimitacao estavam programados para o exercicio de 1995 (Brito, 1996). Os estudos de identificagéo da T.I. Potiguara de Monte-Mor, municipios de Rio Tinto e Marcacao-PB, foram realizados entre 4 ¢ 19-9-95 © coordenados pela antropéloga da FUNAI, Maria de Fatima Campelo Brito. ‘4. |, Potiguara de Monte-Mor foi definida com 5.300ha, nos quais estéo incluidas as seguintes comunidades indigenas: Jaragua, Lagoa Grande e Brasilia; e a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres. O P. I. da FUNAI situa- se no municipio de Baia da Traicdo, na T. I. Potiguara, distante 24 Km de Rio Tinto. Foram excluidas dos limites da Terra Indigena a cidade de Marcagao (sede do municipio de mesmo nome, desde 29-4-94), a Vila Regina e a Vila de Monte-Mor. Apesar da presenca indigena nessas localidades, a comunidade concordou em exclui-las apés argumentagao da coordenadora do GT de que isto poderia dificultar ¢ atrasar a demarcagho Ga terra indigena, De acordo com os dados do levantamento fundiario tealizado em 1995 estao presentes a Usina Japungu, Rio Vermelho ‘Agropastoril Mercantil S.A., Fazenda Santa Eliane, além de outros ocupantes nao-indigenas. Esta proposta de identificagao ¢ delimitacio da T.l. Potiguara de Monte-Mor percorreu os caminhos administrativos necessérios até chegar ao parecer do Ministro da Justica que se negou a emitir portaria declaratoria, acatando as contestaces apresentadas. Vamos reconstituir este trajeto. «0 relatério de identificacao da T.I. Potiguara de Monte-Mor foi aprovado pelo Presidente da FUNAI, Julio Marcos Germany Gaiger, em 9-6-1997 (Despacho Ne 025/PRES) e publicado 0 resumo do relatorio no DOU, memorial descritivo e mapa em 11-6-1997. A prefeitura municipal de Rio Tinto recebeu tais cépias em 27-6-1997. «© Em 23-12-1997, a Procuradora-Geral da FUNAI, Marialva Thereza Swioklo, encaminhou, considerando merecedoras de anéilise técnica € antropologica, as consideragbes dos contestantes contidas no Proceso proc. Ni _Afed! |r — Fothes:_324Q_ __—— 4 : A ma 2546/97 de 13-10-1997, para avaliacdo da DAF/FUNAL. Esta instancia, por sua ver, enviou 0 Proceso mencionado para apreciagao do DEID/FUNAI, em. 31-12-1997. ‘As contestagées ao relatério foram julgadas improcedentes pelo Departamento de Identificagao e Delimitacdo em dois pareceres: 08 de n° D3 e 24, de 25 ¢ 20-2-98, respectivamente (Oficio n° 551/PRES, de 2- 10-98); ambos assinados pela antropéloga do DBID/DAF/FUNAI, lane Andrade Neves. Em 13-3-1998, 0 chefe do DEID, Walter Coutinho, encaminha ao diretor da DAF as conclusses do parecer 23/DEID, expressando set: pleno acoréo ¢ sugerindo ¢_encaminhamento a apreciacéo conclusiva da Procuradoria-Geral da FUNAL, Presidente da FUNAI e Ministro da Justica (MEMO n°81/DEID/DAF). Em 29-5-1998, foi encaminhado pelo chefe do Departamento de Identificacdo e Delimitaco (DEID/FUNAI), Walter Coutinho Jr. (MEMO Ne 150/DEID/DAF), ao Diretor de Assuntos Fundiérios (DAF/FUNAl), Aureo de Aratijo Faleiros, sugerindo 0 encaminhamento 4 Procuradoria Geral da FUNAI para apreciacéo das contestages apresentadas por Rio Vermelho Agropastoril Mercantil S/A e Luismar Melo (Processo FUNAI/BSB/2546/97) pelo espolio de Arthur Herman Lundgren (Processo FUNAI/BSB/2547/97); 0 que foi feito em 5-6-1998. rm 5-6-1998, a Procuradora Geral, Marina Landim Ferreira, eneaminhou 08 Processos n° 08620.1446/96, 2546/97 ¢ 2547/97 a consideracéo da Coordenacao de Assuntos Fundiarios (CAF/FUNAI), cujo coordenador, Jorge Alexandre Silva, remeteu a andlise ¢ pronunciamento para a Dra. Iguassid Campos, em 29-6-98. Esta, por bua vez, em 31-8-1998, ratificou 0 indeferimento des constestacdes € corroborou as conclusdes do relatério de identificacao, declarando: 0 seguinte: Destarte, entendo que nao hd bice juridico/legal ae Seguimento do procedimento administrativo ora analisado, referente a TL POTIGUARA DE MONTE-MOR (INFORMACAO Ne 578/PG/98). Retornando @ Procuradora Geral da FUNAI, esta considerou necessario remeter os Processos & Coordenagaéo de Assuntos Contenciosos (CAC/FUNAI), em 4-9-1998. O titular deste cargo, Marcelo Luis Rodopiano de Oliveira, acatou os pareceres emitidos pela Coorlenadoria de Assuntos Fundiérios da Procuradoria-Geral_ da FUNAI e sugeriu a devolucio dos autos Diretoria de Assuntos Fundiérios, em 10-9-1998 (INFORMACAO PG N°591/98). Em 1-10-1998, 0 Diretor de Assuntos Fundiarios encaminha 0 Processo FUNAI/BSB/1446/96 ao Presidente da FUNAI, Sulivan Silvestre Oliveira, sugerindo 0 encaminhamento ao Ministério da Justica para publicacéo da Portaria Declaratéria (Encamitihamer to n° 249/DAF). Este, por sua vez, encaminha ao Ministro da Justiga, Renan Calheiros, em 2-10-1998 (Oficio n° 551/PRES). A partir dai o .processo administrative de demarcacéo da Potiguara de Monte-Mor seguiu os caminhos administrativos do Ministério da Justica. * Oconsultor juridico substituto, Aguinaldo Grave Junior, encaminhou 0 processo & Coordenagao de Estudos e Pareceres, em 5-10-1998. O Assistente Juridico da CJ/MJ, Lourival Lopes Batista, apenas observou, em 19-10-1998, a auséncia dos Pareceres n° 23/DAF/DEID € 24/DAF/DEID, mencionada na minuta de portaria declaratoria, nos autos do processo, que se relevada pela autoridade ministerial poderia ser expedida nos moldes propostos pela FUNAI (INFORMACAO CJ n° 1.600/98). Em 21-10-1998, a Coordenadora de Estudos Normativos/CJ/MdJ, Luciana Viliela de Souza Schettini, acatou 0 pronunciamento do Dr. Tourival Lopes Batiste, submetendo @ consideracdo do Consultor Juridico do Ministério da Justica, Byron Prestes Costas, propondo a Semessa dos autos ao Gabinete do Ministro da Justiga (DESPACHO CEP/CJ n° 224/98). Na Assessoria do Gabinete do Ministro da Justica, o assistente juridico, Fernando de Carvalho Amorim, em 29-10-1998, propée a desaprovacao da identificacio e o arquivamento do proceso. Em 28-5-1999, o mesmo assistente juridico propse ao Ministro da Justica: acatar os argumentos dos 4 memoriais apresentados pelos contestantes; desaprovar a identificacéo e delimitacao em foco; retorar os autos FUNAI para proceder novos estudos, excluindo as propriedades Rio Vermelho Agropastoril Mercantil S.A., Luismar Melo, Bmilio Celso Cavalcanti de Morais, Paulo Fernando Cavalcanti de Morais ¢ Espélio de Arthur Herman Lundgren (Processo n° 08620.1446/97: fis. 544-547). © Consultor Juridico do Ministro da Justica, Byron Prestes Costa, acata plenamente o parecer do assistente juridico referido, em 14-6- 1999, ¢ submete os processos 08620.1446/97, 08620.2546/97 ¢ 08620.2547/97 @ consideracao do Ministro da Justia. Sendo Assim, 0 Ministro’ da Justica Renan Calheiros, em 14-7-1999, expediu Despacho Ministerial decidindo: acatar os argumentos contidos nos quatro. memoriais trazidos ao processo pelos contestantes; Gesaprovar a identificagao ¢ a delimitacao da dita Terra Indigena Potiguara de Monte-Mor, na forma proposta pela FUNAI; determinar, de Poot. MASA) / seco Fohes_34,2-__® Rubrica: oie — acordo com 0 inciso III do § 10 do artigo 2° do Dec¥eto n° ¥.775, de 8 de janeiro de 1996, 0 retorno dos autos a FUNAI, para proceder novos estudos, com vistas A identificacio e delimitacao da area remanescente, excluidas as terras particulares de propriedade de Rio Vermelho ‘Agropastoril Mercantil $.A., Luismar Melo, Emilio Celso Cavalcanti de Morais, Paulo Fernando Cavalcanti de Morais e Espélio de Arthur Herman Lundgren; € seja arquivado o presente processo, por ndo atender ao disposto no § 1° do artigo 231 da Constituigao Federal (Despacho Ministerial de 14-7-1999). ° Em maio de 1999, os Potiguara de Jaragué realizaram a autodemarcacao da terra indigena. Os indios de Monte-Mor recorreram ao Ministério Pablico, através da Procuradoria da Repiblica na Paraiba, € impetraram uma Ag&o Ordinaria, com pedido de antecipacao de tutela, em 23-8-1999, contra a Unido e os contestantes.? O despacho ministerial acima referido foi refutado e¢ a FUNAI foi intimada a providenciar novos estudos de identificacao, sob pena de pagar multa hiaria no valor de R$ 10 mil, sem excluir as areas reivindicadas pelos contestantes. e Em 7-1-2000, o Presidente da FUNAI, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, determina o deslocamento do antropélogo Sidnei Clemente Peres, da Universidade Federal Fluminense - UFF/RJ, aos municipios de Rio ‘Tinto, Marcagdo e Baia da Traicdo/PB, para realizar os estudos € levantamentos de campo necessérios.* 0 trabalho de campo na Terra Indigena Potiguara de Monte-Mor. Realizei 0 trabalho de campo dos estudos de identificagéo em pauta em diversas etapas entre os anos 2000 e 2003: 17 a 31-1-2000, 18 a 20-4- 2000, 29-1-2001 a 4-2-2001, 15 a 22-5-2001, 24 a 27-9-2002, e 14 a 17- 10-2003. Inicialmente concentrei meus esforgos no levantamento antropolégico, pois ndo fora entao formada pela FUNAI a equipe completa para efetivar os levantamentos fundiario e ambiental. Delineei a ocupacéo tradicional das terras reivindicadas através de um didlogo qualificado e intenso com o grupo, orientado pelos principios profissionais da antropologia, buscando entender as categorias nativas, as praticas ¢ interagées sociais ¢ as relac6es interétnicas que moldam a historia, a ‘memoria coletiva, 4 economia, a organizacéo politica, 0s usos dos recursos fundiarios e naturais, a cultura e a etnicidade das familias Potiguara envolvidas. 2 Anexo n° 2. 3 Anexo n° 3: Portaria N°013/PRES/00, de 7-1-2000. Pree. NP: 4 peo Fons 343____——-_ 7 Runica__py pice} o—— Em uma reuniao realizada em 143-2000, os indios decidiram modificar os limites da poligonal do desmembramento da zona urbana — Setabelecidas na proposta do grupo de trabalho coordenado pela antropéloga Maria de Fatima Campelo Brit. em setembro de 1995 — da Cidade de Marcacao. Nesta area algumas familias indigenas estabeleceram Tavouras (feijio, macaxeira, mandioca etc.) essenciais para a Sud subsistencia, ocupando terrenos antes destinados @ plantacéo de cana ¢ que restringem sobremancira as possibilidades da agricultura indigena. Hotes rocados, localizados na margem direita da rodovia PB-041 (sentido Baia da Traigéo) e proximo 4 cidade de Marcacéo, foram atingidos por prodiito agrotdxico langado de um avido que matava ou aguava 0 mato de ereeviais vizinhos.> Nesta reuniéo foi considerado como necessario 0 tetorno do antropélogo, junto com um técnico da FUNAI, inclusive para Tetificar @ aresta externa da T.[. Potiguara de Monte-Mor com a TI. Potiguara. Tornou-se imprescindivel entdo a colaboracdo de um técnico da FUNAl ¢ 0 retorno do antropélogo ao campo. Em 14-4-2000, 0 engenheiro agrimensor, Marcelo Maschietto Elias de Almeida, foi designado para o@velinir a area anteriormente deixada sob a jurisdicéo da prefeitura de Marcacéo; verificar se 0 conjunto habitacional construido pela mesma prefeitura estava ou nao dentro da terra indigena;® € retificar 0 vao Bijstente entre as Terras Indigenas Potiguara e Potiguara de Monte-Mor (Almeida, 2000).” Como coordenador dos novos estudos de identificagao acompanhei e supervisionei as atividades mencionadas. fm janeiro de 2001 retornei a campo para supervisionar os levantamentos fundiario e ambiental que ainda nao tinham sido feitos. A portaria indicando os nomes dos integrantes do GT foi emitida em fins de janeiro de 2001.* Compuscram a equipe nesta terceira fase os seguintes profissionais: Sidnei Clemente Peres, antropélogo (UFF) ¢ coordenador do Br: Silvia Regina Zacharias, engenheira florestal; Marcelo Antdnio Elihimas, engenheiro agrénomo (FUNAI/AER/Maceid); ¢ Francisco Assis Pinheiro, técnico agricola (FUNAI/AER/Joao Pessoa). A investigacao dos imodos de uso dos recursos naturais ¢ das caracteristicas do meio 7 Nesta reunido estavaim presentes: onze caciques Potiguara (entre eles o cacique geral, Djalma Domingos) e outras liderancas das aldeias; os advogados Vandalberto de ‘Carvalho aie Recnanio Barbosa, do Conselho Estadual de Direitos Humanos; a Sra. Elizabeth, So Sxeociagdo de professores da UFPB; 0 representante potiguara da APOINME [Avticulagao’ dos Povos Indigenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo), José Eco. S administrador regional da FUNAI na Paraiba, Petronio Machado Cavaleant! Filho; a antropéloga da FUNAI Maria de Fatima Campelo Brito; ¢ os indios residentes em Stata, pare resolver os confitos existentes entre varias familias indigenas desta cereeMidade © 0 cacique José Vicente da Silva. Naquele momento existiam. pessoas em. Seragua que negavam a identidade indigena devido a divergéncias com o cacique, que era 2 principal lideranca da huta pela demareacéo da T.I. Potiguara de Monte-Mor. 5 Anexo n° 18: Fotografia n° 2. © Anexo n° 18: Fotografias n° 3 e n° 4. 7 Anexo n° 4: Portaria Ne 250/PRES/00, de 13-1-2000. 8 Anexo n° 5: Portaria Ne 067/PRES/O1, de 25-1-2001. Ne LLL pee — 344. = 8 Ru — aE ambiente da terra indigena se estendeu pelo periodo’de 29 2001 a 14-2- 2001.9 Durante o més de fevereiro 0 jevantamento fundiario produziu os laudos da Usina Japungu e das fazendas Rio Claro e Miranda; totalizando 9.500ha aproximadamente. Em marco de 2001 foi incorporado ao GT 0 engenheiro agrimensor do INCRA/PB, Santiago Gomes do Nascimento, para acompanhar 0 levantamento fundiério. Este, por sua vez, foi prorrogado por mais trinta dias. Nesta fase foram elaborados os laudos das outras areas de cana (Usina ‘Miriri e fazenda Santa Helena), do clube dos operarios da Fabrica de Tecidos Rio Tinto (Catolé) ¢ dos moradores nao- indigenas de Jaragua, Nova Brasilia ¢ Lagoa Grande. Ao todo foram preenchidos 147 laudos. Foram constatados doze grandes ocupantes nao- indigenas; os outros séo pequenos produtores rurais (agricultores, pescadores, coletores de crustaceos € ‘moluscos), cujo patriménio em penfeitorias € reduzido.. Em Jaragua, Nova Brasilia ¢ Lagoa Grande, as Niderancas Potiguara auxiliaram a equipe do levantamento fundiério identificando os ocupantes nao-indigenas. Nes canaviais das usinas a equipe foi acompanhada por empregados das mesmas. Todo 0 levantamento’ fundiario foi acompanhado por liderangas indigenas Potiguara. : ‘Durante o levantamento fundiario constatou-se uma diferenga entre os pontos do limite oeste da area indigena identificada em 1995 € os pontos estabelecidos pelos Potiguara na autodemarcacio realizada em 1999, A causa da diferenca mencionada foi um erro cometido pelo técnico agricola — que tragou uma. ‘reta no limite oeste, reduzindo a terra. indigena em aproximadamente 1.290ha - do GT de 1995. Em vista disso, Hiderancas indigenas residentes na Vila Monte-Mor solicitaram FUNAI, em 17-2-2001, o meu retorno para retificar tal falha técnica.!! Solicitei ao DEID a colaboracéo de um engenheiro agrimensor, de um engenheiro agronomo e de um técnico agricola. Requisite! as indicagdes de Marcelo ‘Antonio Elihimas e de Francisco Assis Pinheiro, em 17-4-2001, porque, a0 incluirmos a Area retificada, tornou-se necessario complementar o levantamento fundiario por eles realizados na fase anterior dos trabalhos. ‘A equipe ficou constituida.da seguinte maneira: Sidnei Clemente Peres, antropdlogo e€ coordenador do GT; Renato Eduardo Pereira D’Alencar, engenheiro agtimensor, _colaborador; Marcelo Anténio Elihimas, engenheiro agrénomo (FUNAI/AER/Maceié); Francisco Assis Pinheiro, tecnico agricola (FUNAI/AER/Joa0 Pessoa); ¢ Santiago Gomes do —_— 9 Relatério Ambiental da T.J. Potiguara de Monte-Mor. wo gulntonio sobre os trabalhos de levantamento fundiario na Terra Indigena Potiguara de Manseee, de autora do engenheiro agrénomo Marcelo Antonio Elhimas (Elihimas, 2001). 2001). n? 6: Abaixo assinado de indios Potiguara de monte mor solicitande retore ao antropdlogo Sidnei Peres para retificar limites da terra indigena, estabelecidos pelos estudos de identificagao realizadas em 1995. — Rudrica: Nascimento, engenheiro agrénomo, sept S bea jp. As atividades mencionadas foram realizadas entre os dias 15 e 22-5-2001. Para realizar o levantamento fundiario destas terras proximas da BR 101 e da estrada vizinha ao campt de pouso da Companhia de Tecidos Rio Tinto, solicitei ao Departamento de Assuntos Fundidrios (DAF) da FUNAI a prorrogacéo por mais quinze dias da permanéncia em campo de Marcelo Flihimas e Francisco Pinheiro.!* Santiago do Nascimento, agronomo do INCRA-PB, incorporou-se 4 equipe para acompanhar os trabalhos. & importante frisar que se trata aqui de retificagao de uma delimitacdo incorreta realizeda em 1995. Alias, falha técnica admitida pela propria coordenadora daquele GT de identificacao. A propria autodemarcacao feita em 1999 demonstra que os indios pensavam que estas terras tinham sido incluidas na identificacdo de 1995.5 Logo, a T.I. Potiguara de Monte-Mor néo deveria ter sido ja naquela época definida com 5.300ha apenas. Por outro lado, estes aproximadamente 1.290ha englobam uma 4rea de matas — fonte de recursos de uso coletivo — € cabeceiras do rio Tinto, vulneraveis 4 acéo predatoria de canaviais localizados nas proximidades.'6 Neste sentido, o rio Tinto e suas matas ciliares ficami mais protegidos com a preservacéo ambiental de suas nascentes (D’Alencar, 2001). Cabe lembrar que a definigéo de terra indigena vigente na Constituicdo Brasileira de 1988 abrange as dreas imprescindiveis & preservacéo do meio ambiente ¢ dos recursos naturais necessarios 4 reproducdo fisica e cultural dos povos indigenas. Entre 24 e 27-9-2002, eu acompanhei 0 técnico agrimensor Afonso Gerson Farias Costa, funcionario da AER/FUNAI/Belém, na definicao cartografica da parte sul da terra indigena que ainda estava pendente: o trecho do rio Tinto, indo até a sua confluéncia com o rio Mamanguape, entre a Vila Regina e a cidade de Rio Tinto, P06 até POS (vide 0 Mapa ¢ 0 Memorial Descritivo)..” O levantamento fundiario da Vila Monte-Mor foi jniciado em 30-9-2002. A equipe designada para os respectivos trabalhos foi a seguinte: Direma Santos de Vasconcelos (INCRA), engenheira agronoma; Pedro de Souza Filho (AER/Recife), engenheiro agrénomo; Francisco de Assis Pinheiro da Silva (AER/FUNAI/Joao Pessoa), técnico agricola; e o colaborador Antonio Pessoa Gomes, 0 cacique Potiguara Caboquinho (Portaria N° 929/PRES/02, de 20-9-2002; e Portaria N° 1230/PRES/02). Foram cadastradas 1.373 ocupacées, todos referentes a iméveis da Companhia de Tecidos Rio Tinto (CTRT). Apenas 34 ocupantes se declararam proprietarios, mas no apresentaram os titulos respectivos. Além das casas, alugadas aos descendentes dos antigos operarios da 12 Anexo n° 7: Portaria Ne 443/PRES/O1, de 10-5-2001. 13 Anexo n® 8: MEMO Ne001/Coordenador GT pp 443/PRES/01, de 22-5-2001. 44 Anexo n° 9: Relatério sobre algumas dividas dos indios Potiguara de Monte-Mor referente aos limites do territério indigena identificado em 1995. 45 Anexo n° 18: Fotografia n° 5. 46 Anexo n° 18: Fotografia n° 6. 7 Anexo n° 10: Portaria Nv 929/PRES/02, de 19-9-2002. 10 Rls _— ype fo Companhia ou aos Potiguara, foram vistoriadaNoutras’ edificagdes da CTRT: o antigo casaréo dos Lundgren, o Galpao e 0 Clube Regina. Os trabalhos foram interrompidos em 21-12-2001 devido a condicionamentos burocraticos inerentes ao servico piblico. Quase um ano depois uma nova equipe foi formada, para dar continuidade ¢ concluir © levantamento fundiario da Vila Monte-Mor, com os seguintes integrantes: Erica Corréa de Lima (DAF/FUNAI/Brasilia), engenheira agrnoma; Pedro de Souza Filho (AER/Recife), engenheiro agrénomo; Francisco de Assis Pinheiro da Silva (AER/FUNAI/Joao Pessoa), técnico agricola; ¢ o colaborador Antonio Pessoa Gomes, 0 cacique Potiguara Caboclinho.1* Essa etapa de concluséo do levantamento e avaliagdo de benfeitorias ocorreu entre os dias 30-9-2003 a 18-11-2003 quando fcram cadastradas 142 ocupacées relativas a dois conjuntos habitacionais originados de loteamentos feitos pela prefeitura de Rio Tinto. Também foram efetuados o levantamento cartorial ¢ a sistematizacéo dos dados gerados pela equipe do ano anterior. Do total de 1.655 iméveis vistoriados, caracterizados € avaliados somente 29 (1,75%) ndo tiveram seus valores estimados ou porque a casa estava desocupada, ou 0 ocupante nao se encontrava no jocal, ou eram construgdes cujo padréo se diferenciava das demais, exigindo um estudo mais detalhado que nao era pertinente aquela situacao de atuacdo profissional. Das edificagdes que ndo foram avaliadas constam 0 campo de pouso da CTRT e o Tiro de Guerra.!? ‘Acompanhei 0s trabalhos dessa etapa do levantamento fundiério no periodo de 14 a 17-10-2003. Nessa ocasiéo, 16-10-2003, fizemos duas reunides: uma na Vila Monte-Mor com os Potiguara residentes nessa localidade e em Jaragué; e outra em Marcacao com os moradores indigenas dessa cidade e das aldeias de Lagoa Grande ¢ de Nova Brasilia. Explicamos 0 trabalho que estava sendo realizado naquele momento e colocamos em discusséo @ proposta de delimitacao da T.I. Potiguara de Monte-Mor. Os limites indicados foram acatados por unanimidade nas duas reunides mencionadas. Liderangas indigenas monitoraram as atividades - participando de varias delas - das varias equipes de identificacao constituidas e reunides foram organizadas diversas vezes com as familias Potiguara envolvidas a fim de tornar 0 processo o mais transparente possivel para elas. Parte I - Dados gerais. I.1 - Localizacao e populacdo atual. 1 Portaria N° 0891/PRES/03, de 23-11-2003. 18 Relatério Fundiério dos Limites em Estudo da Terra Indigena Potiguara de Monte-Mor. Brasilia-DF, fevereiro de 2004. 2 Anexos 11 € 12: Proposta Definitiva de Delimitagdo da T.. Potiguara de Monte-Mor Ratificada em Reuniao Realizada na Vila Monte-Mor, e Proposta Definitiva de Delimitacao da. Potiguara de Monte-Mor latificada em Reunido Realizada em Marcagao. proc. NA Gal | gene. romnes, BUF Ret ean eee Marcacéo.é um municipio criado recenteinente, 1996, com uma 4rea de 95,1, Km? ¢ populacdo de aproximadamente 6.203 habitantes, morando em 1.389 domicilios particulares permanentes. Sua sede esta situada dentro da APA Barra de Mamanguape e tem acesso direto ao rio Mamanguape ¢ ao manguezal. A distribuicdo da populacao por género é equilibrada, 51% de homens e 49% de mulheres; da mesma forma também quanto a situacao dos domicilios, 48% dos moradores (ou 2.948 pessoas) se encontram na zona urbana e 52% (ou 3.255 pessoas) na zona rural. Aproximadamente metade (51%) dos habitantes tem menos de vinte anos de idade e aproximadamente 2/3 (67%) tém menos de trinta anos de idade, A taxa de fecundidade das mulheres caiu nos tltimos anos de 6,12 filhos em 1991 para 3,93 filhos em 2002. Os indicadores sociais do municipio sao desanimadores, considerando os indices eiaborados pelo Instituto de Pesquisa Econdmica Aplicada (IPEA) para Marcagdo verificamos que eles estao todos abaixo da média do estado da Paraiba. O IDH (indice de desenvolvimento humano), que é a média aritmética de outros trés indices, é de 0,526 para o ano de 2002; ou seja, menor do que a média estadual do mesmo indice (0,661), apesar de ter melhorado muito nos tltimos dez anos (0,373 no ano de 1991). Acontece 0 mesmo com os outros indices que compéem 0 IDH. Nas areas da educacdo (0,597), expectativa de vida ou longevidade (0,547) e renda (0,435) a situacdo ne ano de 2002 ainda é pior co que a média da Paraiba (0,737; 0,636; € 0,609 respectivamente); apesar de ter evoluido muito favoravelmente desde 1991 no primeiro setor (era de 0,273), pouco no segundo (0,438) e quase nada no terceiro (0,407). Veja a tabela 1 adiante, Mas vamos destrinchar um pouco mais algumas caracteristicas do desenvolvimiento humano no municipio para montarmos um quadro mais elucidativo. Em primeiro lugar, existe uma desigualdade social gritante em Marcacdo, pois os 10% mais ricos concentram 38,4% do total da renda de todas as familias, enquanto a esmagadora maioria da populacéo (80%) detém apenas 43,6% da totalidade dos rendimentos. & altissima a parcela da populacéo (79,83%) com renda domiciliar per capita inferior a RS 75,50; apesar de ter diminuido bastante nos tiltimos dez anos 0 fosso entre ricos e pobres, pois em 1991 este grupo extremamente depauperado equivalia a espantosa cifra de 90,85% de todos os habjtantes.?! Um grupo ainda mais pobre formado por aqueles com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 37,75 abrange mais da metade (53,89%) da populacdo municipal. Os esforcos de alfabetizacéo atingiram apenas um pouco mais da metade dos individuos com idade acima dos dez anos (53,3%), colocando Marcacéo entre os municipios paraibanos com menor 11 21 Renda domiciliar divida pelos residentes no domicilio, R$ 75,50 corresponde 4 metade de um salario minimo segundo valores de agosto de 2002, situando tais individuos abaixo da linha de pobreza 12 Rubrica, desempenho nesse quesito. Muitas criangas cand Te 7 anos de idade (44,99) ainda séo analfabetas, apesar deste contingente ter se reduzido quase pela metade nos tltimos anos (correspondia a 82,6% em 1991) e de menos de 10% deles apenas nao freqientarem as salas de aula? (enquanto em 1991 dois de cada trés meninos ¢ meninas ou 62,94% nesta faixa etdria estavam fora da escola). "A. qualidade de vida propiciada pelo acess> a servicos ¢ equipamentos basicos também deixa muita a desejar. Apenas um pouco ‘mais da metade dos habitantes (54%) usufruem moradias com agua encanada (seja proveniente de rede geral, de poco, de nascente ou de tescrvatorio abastecido por agua das chuvas ou carros-pipa). Situagao que mudou um pouco desde de 1991 quando 45,73% das pessoas tinham Abastecimento adequado de 4gua nas suas casas. Se junto com a agua eneanada considerarmos a existéncia de banheiros nes residéncias, 0 perfil se tora mais lastimavel, pois o percentual de habitantes que Eesfrutam de tal condigao sanitéria cai para 46,32%; néo esquecendo de mencionar © significativo avango nesse aspecto comparando-se com 0 pequeno montante de 26,25% de “privilegiados” no ano de 1991. Ja @ Abrangencia do fornecimento de energia elétrica (provida ou no por rede geral, com ou sem instrumento de medicéo) foi espetacularmente expandida entre 1991 e 2002 de 49,58% para 90,84% da populacdo. © servigo de coleta de lixo também aumentou extraordinariamente neste mesmo periodo (de 1,62% em 1991 para 48,84% da populacao em 2002), eniretanto se encontra ‘num patemar ainda insatisfatério porque nao aicanca metade dos cidadéos do municipio. Em suma, apesar dos indicadores de desenvolvimento humano em Marcagao apontarem para mudancas positivas, a qualidade de vida da absoluta maioria da populacto ainda @ bastante critica. Vejamos agora alguns componentes da estrutura econémica do municipio. ‘as atividades econdmicas predominantes no municipio de Marcagao sao a pesca e a agricultura. A cidade de Marcagao ¢ 0 maior ponto de processamento e escoamento de caranguejos da Barra de Mamangue. A producdo de caranguejos € comercializada em Natal, Recife ¢ Joao Pessoa. Quando a produ¢ao é alta os compradores vém buscar no jmunicipio. Atualmente @ producao agricola € vendida nas feiras de Rio ‘Tinto e Guarabira. Este municipio € cortado pela rodovia PB 41. A cana- de-agicar € 0 principal produto agricola tanto em termos de area plantada (2.680ha) quanto em termos do valor da producéo anual (R$ 3.216.000,00}. Todavia, a produtividade média das plantagées de cana do jmunicipio’ (40 toneladas por hectare) é inferior a produtividade média @ Este fato talvez evidencie que muitas criangas matriculadas nao estejam efetivamente freqientando a escola ou freqientando precariamente, impossibilitando assim o seu aprendizado. Cabe lembrar que muitas criangas e jovens trabalham na roea, na maré ou bo corte da cana ajudando seus pais no sustento da familia, como veremos adiante. 2% Dados referentes ao ano de 2002, coletados no site: ‘=: ni, acessado em 3-4-2004. 13 Rubiced raaskyo estadual (50,4 toneladas por hectare). Esse municipio 6 13° produtor de cana-de-agiicar do estado e responsavel por 2% da producdo paraibana. fm segundo lugar esté a mandioca com 100ha de rea plantada, cujo vaor da produgdo no ano de 2002 foi equivalente a 144 mil reais ¢ cujo vendimento (nove toneladas por hectare) é superior a media paraibana (8,4 toneladas por hectare). Os outros cultivos da lavoura temporaria s&o 0 abacaxi (4ha de rea plantada) e a batata-doce (6ha de 4rea plantada). Veja a tabela 2 abaixo. ‘Na lavoura permanente os produtos mais importantes em termos de Grea plantada s40 0 coco da baia (60ha), cuja produtividade (duas toneladas por hectare) € muito inferior 4 média estadual (em torno de 5,8 toneladas por hectare), ¢ a castanha de caju (30ha), cuja produtividade (400kg/ha) € superior a média estadual (37 1kg/ha). Contudo, 0 mame (Isha de area plentada), mesmo apresentando um rendimento (40 toneladas por hectare) inferior a média do estado (46,8 toneladas por ha), é 9 produto mais importante em termos do valor da produeao anual no ano de 2002 (210 mil reais). As outras culturas da lavoura permanente séo as seguintes: banana, laranja, manga, maracuja ¢ urucum. Veja a tabela 3 abaixo.* © municipio de Rio Tinto possui uma populagéo de 22.311 habitantes, 5.545 domicilios particulares permanentes, e superficie de 506,Skm*. A estrada PB-041 liga Rio Tinto a Mamanguape ¢ a Baia da Trai¢do, localizando-se entre essas duas cidades. O municipio possui ainda uma rede de dezoito estradas com 183 quilémetros. A rodovia que liga Rio Tinto a Bafa da Traic4o - 24 km ~ foi asfaltada. A estrada que liga Rio Tinto & BR 101, pelo campo de pouso, tem 6 Km ¢ é vicinal. As vias de Acesso ao municipio s4o razoaveis, havendo alguns problemas nas éstradas vicinais, principalmente no periodo do inverno quando as chuvas provocam erosées. Rio Tinto conta com um Campo de Pouso para heronaves de pequeno porte, com pista de 1.200 metros de comprimento, mas encontra-se abandonada. ‘A distribuicéo da. populacao por género é equilibrada: 49% do sexo masculino (11.000 homens) e 51% do sexo feminino (11.311 mulheres). A maioria das pessoas reside no meio urbano (59,5%). Alids esta € uma tendéncia persistente, a concentracao urbana se demonstrou estavel nos Ultimos trinta anos: 1970 (59,9%); 1980 (61,6%) € 1991 (58,8%). Estes nmeros parecem evidenciar a ndo existéncia de fluxos populacionais importantes entre 0 campo ¢ a cidade a ponto de modificar tal configuragiio demografica. Talvez este fato se deva a uma distribuicéo equilibrada de methorias na qualidade de vida das pessoas em ambas as situagoes de domicilio. A excecdo vale para o antigo distrito de Marcagao, recentemente emancipado, cujas condigées de existéncia dos seus 24 Dados refeventes ao ano 2002, coletados no site: 2004. , acessado em 3-4- Pro. NLR | goca — Fothes: 290 ———— 14 Rubsicay moradores em varios aspectos era bastante precria, como ja vimos. A absoluta maioria da populagao (58%) tem menos de trinta anos de idade. A taxa de fecundidade das mulheres diminuiu desde 1991 de 4,13 para 2,78 em 2002, ficando ligeiramente abaixo da média estadual de 2,84. Os indicadores sociais de Rio Tinto em geral sao proximos da média estadual. O IDH evoluiu de 0,506 para 0,603 nos tiltimos dez anos, enquanto no estadual cresceu ei patamares aproximados nesse periodo (de 0,561 para. 0,661). Os progressos recentes no setor educacional (de 0,506 para 0,717) também acompanharam de perto os avancos no nivel estadual (0,575 para 0,737). Ja os IDHs referentes a longevidade (0,555) ¢ a renda (0,537) continuam defasados em relacao a média paraibana (0,636 € 0,609 respectivamente]; apesar de tragarem uma linha ascendente ha algum tempo. Veja a tabela 1. Vamos ver mais de perto essa radiografia das condigées do desenvolvimento humano em Rio Tinto. ‘A desigualdade social no municipio é alarmante: 0 grupo dos 10% mais ricos segundo a renda domiciliar per capita detém 42,6% das receitas da totalidade das residéncias, enquanto que o grupo dos 80% mais pobres mantém apenas 41,7% dos ganhos auferides no municipio. Essa injusta estrutura distributiva se agravou com o tempo, pois ha alguns anos atras a pequena “confraria” dos mais ricos abocanhava uma parcela menor (38,1%) do conjunto dos rendimentos enquanto o grosso da populacéo se contentava com 47,2% do conjunto dos rendimentos. ‘Aqueles que vivern abaixo da linha de pobreza equivalem a 60,31% dos habitantes, pois se mantém com menos de meio salario minimo (R$ 75,50, conforme valores de agosto de 2002) de renda domiciliar per capita. Em 1991, esta cifra chegava a quase % (72,15%) da populacao de Rio Tinto. No bojo desta faixa existem ainda aqueles mais pobres, que sobrevivem com uma renda domiciliar per capita inferior a metade ca infima quantia mencionada acima (R$ 37,75), que abrangem 1/3 (33,85%) da populagao. ‘A repercussao desse quadro calamitoso sobre a infancia é maior, atingindo mais de % (76,5% em 2002 e 83,09% em 1991) das criancas de 7 a 14 anos de idade cuja renda comiciliar per capita onde moram esta abaixo de R$ 75,50 e outros 47,34% (e 49,99% em 1991) em cujos domicilios a renda per capita nao ultrapassa R$ 37,75. Quanto aos esforcos na esfera da educacdo, todavia, o diagnéstico é mais promissor. ’A taxa de alfabetizacdo (67,9%), cujo parametro abrange os individuos acima de dez anos de idade, coloca Rio Tinto numa posicéo intermediaria neste quesito, se tomarmos como referéncia todo o estado. Houve uma significativa redu¢do do analfabetismo entre as criancas de 7 a 14 anos: de 59,7% em 1991 para 28,7% em 2002. As condicoes de facilitagéo do ingresso e da permanéncia na escola deram um salto qualitativo, pois 0 percentual de criancas e adolescentes entre 7 e 14 anos que estavam fora da sala de aula, em grande contingente nos tltimos trinta anos (43,2% em 1970; 47,3% em 1980; e 41,2 em 1991), foi enormemente reduzido para 8,4%. Cabe notar, contudo, que se as criancas anaifabetas s4o em maior mimero do que aquelas que nao freqiientam a 15 Rubrica: 3 escola; ou alguns alunos efetivamente matriculados nao estado freqiientando regularmente as aulas ou assim o fazem muito precariamente, prejudicando seu desempenho escolar. Quanto ao saneamento pasico, as noticias nio s40 catastréficas, mas também no séo tio animadoras ¢ a reversdo do quadro parece caminhar a passos lentos em alguns aspectos ¢ mais rapidamente em outros. Aconteceu um aumento de pessoas favorecidas nas suas casas com agua encanada?S de 54,83% para 64,78% no periodo de 1991 a 2002, porém ainda nao é pequena a proporco de aproximadamente 1/3 da populacéo desprovida deste beneficio salutar. A felicidade de morar num lugar provido de banheiro, juntamente com a Agua encanada, existe para 58,16% dos habitantes. Tal situacao se alterou pouco desde 1991, quando 31.57% da populacao gozava de tal “conforto”. O servico de coleta de lixo Se expandiu num ritmo formidavel de 43,4%, em 1991, para 76,25% em 2002; ¢ 0 fornecimento de energia elétrica ja alcanca quase toda a populacdo (95,61%), tendo se ampliado também de maneira importante desde 1991, cujo indice de atendimento era de 81,9%.> Geralmente, os produtos agricolas colhidos na regido, sao comercializados nas feiras livres de Rio Tinto, Mamanguape ¢ Baia da Traicao, ou, diretamente na Ceasa, em Joao Pessoa. As principais culturas da lavoura permanente s4o 0 coco da baia (com 300ha de area plantada), a banana (com 38ha de area plantada), a castanha de caju (com 20ha de area plantada) e 0 mamao (com 20ha de area plantada). O coco da baiaeo maméo apresentam uma produtividade média inferior a média estadual. A castanha de caju apresenta um rendimento bem superior @ média paraibana. Outros produtos também séo cultivados, mas incorporando extensées menores do computo geral das terras destinadas ao plantio como a manga (Sha de area plantada), o maracuja (Sha de area plantada) ¢ 9 urucum (6ha de rea plantada), o limao (4ha de area plantada) ¢ a pimenta-do-reino (Sha de area plantada). Quanto aos produtos da lavoura temporaria, a cana de aclicar € indiscutivelmente o principal produto tanto em termos de area plantada (9.251ha), quanto em termos do valor da produgao (acima dos 15 milhdes de reais no ano de 2002). A produtividade dos canaviais de Rio Tinto (aproximadamente 55 toneladas por hectare) esta acima da média estadual (50,4 toneladas por hectare). Esse municipio é o terceiro maior produtor de cana da Paraiba, responsavel por 11% (508.800 toneladas) de toda a producdo estadual durante o ano de 2002.77 Veja’ o grafico 1. Outros cultivos também relevantes na agricultura 25 Proveniente de rede gerel, de poco, nascerte ou de reservatério abastecido por agua das chuvas ou carros-pipa. 26 Dados referentes ao ano de 2002, coletados no site: 1 3-4-2004. } Pedras de Fogo é 0 maior produtor paraibano de cana de agitcar, formecendo 27% da produgao estadual, Em segundo lugar vem Santa Rita com uma produsao correspondente 2 12% da producao paraibana. Estes trés municipios juntos proveram a metade das quase 5 milhées de toneladas de cana da Paraiba cothidas em 2000. gov. bt, acessado em. ( pres, A R2L L acco - a : Rubrica’, i > fi municipal so a mandioca (com 572ha de area “ease © abacaxi (com 113ha de drea plantada) e a batata doce (com 110ha de area plantada). O abacaxi merece destaque em relagdo aos outros dois produtos devido ao elevado valor da sua produgéo anual, chegando recentemen.‘e a quase 1,4 f milhoes de reais.2* ( Tabela 1 : Tndicadores Socials Mareagao Rio Tinto Paraiba (1991-2000) (1991-2000) (1991-2000) fi DH 0,373 - 0,526 0,506 - 0,603 | 0,561 - 0,661 ( TDH - Educacao 0,273 - 0,597 0.506 - 0,717 | _0,575- 0,737 IDH - Longevidade 0,458 — 0,547 0.529-0,555 | 0,565 - 0,636 i IDH — Renda, 0,407 = 0,435 0,484 = 0,537 0,543 — 0,609 ( Fonte: qin.iucuiiinsunt, abeseado cm 3-4-2004, ; Tabela 2 ‘ Taracterisiticas Agricolas dos Municipios de Marcagso e Rio Tinto. ( Trea plantada, drea ccihida, quantidade produzida, rendimento médio e ‘Valor da produgao des principals produtos das lavouras tempordrias. isa Ties] Ghantade | Redmon | yay crags izorpesecemanine | puta | cate | pmasin | mide | coro) € Iabacad C0 ; PARABA Taaal_aneal___zrazos] 005] 10420 Maroese 4 4 * 0.000 ‘a io Tito rr Ta]___3:30] __s.00 sel et dooe ¢ PARABA a0 ree] av] once] 959 Morag C ‘asf s.000) “0 ‘ ioe rm 7% 0a) e000 =| {_ ‘ [Gana d-gsear ; PARA wear] svaar| —_asesaai| —_soaor| saor Marcagie ‘aseo] 2600] 107200] aoo00] 3.214 Rio Tio 925i 2251] sos.soo] saseol 15264] . Wwandocs ) PARABA wee] zeae) reese) eaer| 2000 6 Maropte 109 0) soo) 000 er ( Rio Tito sn sr] szzo] 10.00 a1 i fsancia PARABA rm rr mal 2100 wal Tae p d 25 ES {7 Gunite pedicle il nace rendiento mécio em ts por heron. (1) Area plantada referee ara destinadsscohetsno ano Fonte:IBGE, Deloria de Pesquisas, Coordaragio de Agropecuiia,Produgio Agila Municipal 2002. i Ponte: wu. t0us.gov.cr, agessado era 9-4-2004. , acessado em 3-4- 28 Dados referentes ao ano 2002, coletados no site: www.ibue.4o 2004. Tabela 3 Rubrica: Caracteristicas da Agricultura dos Municipios de Marcagao e Rio Tinto. Frea destinada a colheita, area colhida, quantidade produzida, rendimento médio © ‘valor da produgdo dos principals produtos das laveuras permanentes. vcomgieamwoneeceosmneiice | omens | cattle | poamsar | “nese” | ght . rans | its | “fea |RER™ | aon eae sa{ —aae| aerate re to Sa ame qs Siena ome yal os ae ena Saeed eemed a on a a ra ; aed a oes F fae r ae aed a a a je = = sn Gone = a oa pamed : a mien ome acessado em 54-2004. Fone 18 Grafico 1. Proc. wd 921 Lato Foines:_ 354 Produgio paraibana de eana-de-agicar por municipios Rui, > “4 eal (ane co Mamanasana ‘heard (rao Exe Sane ‘Ssontgus ce Taps ogooceonaveceseccoacennooso OS: este grace ft elaborado a partir de dados colctados no site wwwjhsew. I, aeessade emt 3-4-2004, A Terra Indigena Potiguara de Monte Mor localiza-se nos municipios de Rio Tinto € Marcac4o e suas principais aldeias sao: Jaragua, Nova Brasilia, Lagoa Grande e Vila Monte-Mor. A populagao indigena que reside dentro da area indigena identificada corresponde a 3.002 individuos ¢ 874 familias frente a 5.264 ndo-indios, correspondendo a 983 familias (Grafico 2) Outros 656 indigenas, correspondendo a 238 familias, moram na cidade de Marcacéo. Vale notar que a proporcao de familias indigenas’€ maior do que a proporgao da populacdo indigena porque varias familias Potiguara tém integrates ndo-indigenas devido aos casamentos interétnicos. Quanto maior esta diferenca maior é a incidéncia de casamentos entre indios e nao-indios numa localidade especifica, Por exemplo, € maior na Vila Monte-Mor ¢ menor em Lagoa Grande. Quase 2/3 (64%) da populacdo indigena se concentra na Vila Monte-Mor (Grafico 3), onde esta também uma esmagadora maioria da populacéo néo- indigena (91%} (Grafico 4). Eeses dados censitarios foram obtidos junto a Fundacéo Nacional de Sade (FUNASA), que presta servicos de atengao a satide aos indios pelo Distrito Sanitario Especial Indigena Potiguara, e junto a Administracao D Os dados sobre a populacao ¢ as familias ndo-indigenas foram retirados dos laudos de Vistoria dos levantamentos fundiérios efetivados em 2001 ¢ em 2002. Estes valores, vehetante, eotao subestimados pois 0 levantamento fundiério de 2003 nao registrou 0 Shimero de moradores e das familias ndo-indigenas dos 142 iméveis cadastrados. cites: B55 ————_19 Executiva Regional de Jodo Pessoa (AER/Joa0 rot ae dados mais atualizados produzidos por estas instituicdes, referentes aos Ultimos dois anos, mas € bom lembrar que foram coligidos no bojo de suas praticas assistenciais ¢ que deveriam ser aperfeicoados pela realizac4o futura ¢ periédica de censos autdnomos e sistematicos com orientacdo antropologica.® ‘Todavia, considero 0 quadro aqui .apresentado muito proximo da realidade populacional da terra indigena em apreco. Grafico 2 Composigio Etnica da T.I. Potiguara de Monte-Mor 53% CO Familias Indigenas @ Familias Nao-Indigenas, taPopulagao Indigena 11 Populagao Nao-Indigena %0 Um recenseamento indigena implica questées metodologicas complexas, pois aqui nao se trata de dados inertes ¢ definitives posto que séo determinados pela dinamica dos fendmenos étnicos e dos contextos histéricos em que cles ocorrem. Para uma discussao mais aprofundada sobre os problemas dos recenseamentos de populagdes indigenas no Brasil, ver: Oliveira Filho, 1997; 2 Azevedo, 2000. 20 Grafico 3 Pros. 4 21 am Fothas:_ 3.56, Distribuigdio da Popula240_ Rybyisa: Indigena/Local de Residéncia. (foxp— 11% 17% % Vila Monte-Mor varagué Nova Brasilia CLagoaGrende Grafico 4 Distribuigdo da Populagao Nao-Indigena/Local de Residéncia 7% 2% 0% aVila Monte-Mor (varagué CiNovaBrasilia Glagoa Gende 1.2 - Histérico da Ocupacio. A Vila & dos cabsclos, Nossa Senhora dos Prazeres (Trecho de entrevista com um Potiguara). Os Potiguara ocupavam o litoral nordestino desde 0 que conhecemos hoje como o estado da Paraiba até 0 estado do Maranhao. No século XVI, envolveram-se na disputa entre portugueses ¢ franceses que ancoravam stias embarcacées na costa da antiga provincia da Paraiba em busca do pau-brasil. Devido a sua alianga contra os inimigos da Coroa Portuguesa, proc, wf 24 | acco Fores 3S f————— 21 runionyt D4 esses indios sofreram ataques armados cujo intuilo era & retomada da soberania husitana naquela faixa litoranea. Como o rei de Portugal havia sido incumbido pelo Papa para combater os inimigos da fe crist4 existentes nos seus dominios ou converté-los — pois os indios foram considerados como portadores de razdo, portanto passiveis de serem catequizados -, missionarios franciscanos foram designados para acompanhar as expedigées bélicas contra os Potiguara; na época classificados entre os gentios mais aguerridos. A sua belicosidade entretanto nao impediu que fossem expulsos de uma grande extenséo de terras que ocupavam; rechacados para além do rio Paraiba, ficaram concentrados entre os rios Mamanguape e Camaratuba, regiéo em que vivem atualmente. Apesar das varias Cartas Régias e Alvaras que proibiam a escravizacéo dos indios e a usurpacao das suas terras, tal fato continuava a ocorrer. As Cartas de Sesmarias estabeleciam o respeito as aldeias indigenas, entretanto, os indios eram expulsos ¢ dispersavam-se pelas florestas, dificultando o trabalho missionario. A doaco de terras para os indios, portanto, tinha a finalidade de fortalecer a catequese como principal instrumento de colonizagao. No século XVII, os franciscanos atuavam na Paraiba, entretanto nao ha noticias ainda do aldeamento de Monte-Mor (Preguica); 0 que nao significa que nao existisse. Ea partir do inicio do século XVIII, que aparecem as mengées explicitas a estes dois aldeamentos - junto com o de Mamanguape - dirigidos por missionarios carmelitas. Cartas Régias, Alvaris ¢ Regimentos de 1710, 1728, 1755, 1758, 1785 e 1804 confirmaram a concessdo de terras aos indios de Monte-Mor.Na segunda metade de século XVIII, Monte-Mor foi elevada & condigSo de Vila, apresentando assim uma extensao bem superior a légua quadrada conferida as missdes. Tal ato era aplicado aqueles aldeamenios que alcancassem um determinado patamar populacional, sendo desta forma agraciados com terras adicionais conforme a necessidade dos seus habitantes indigenas. No inicio do século XIX, as populacées indigenas de Monte-Mor e da Baia da Traicao (506 pessoas) correspondiam a mais de 1/3 dos indios da Paraiba. Por todo o século XIX ha varias referencias documentais quanto ao reconhecimento piblico dos indios de! Monte-Mor, seja pelo governo imperial, por sacerdotes catélicos ou pela imprensa. Varios documentos e mapas atestam também a existéncia de indios aldeados em Monte-Mor. Muitas autoridades do Império afirmam tal fato através de oficios, circulares, relatérios etc., que prestam informacées sobre a situaco das terras da Provincia da Paraiba (posses e sesmarias sujeitas a revalidacées, terras devolutas e patrimonio de indios aldeados e selvagens). Em 1858, por exemplo, o Juiz Municipal e Delegado de Terras Publicas de Mamanguape informa ao Presidente da Provincia sobre a inexisténcia de terras devolutas naquela jurisdicéo. Em 1861, a Secretaria de Governo da Provincia de Paraiba apresentou mapas nos quais consta 0 aldeamento de Monte-Mor com quatro léguas quadradas ~ parte cultivada com cereais e canas e parte arrendada judicialmente - que abrigam 150 22 Rica fas > ——— almas e 58 fogos. Esta Vila foi excluida do mapa relativo as terras devolutas. Em 1859, alguns rendeiros do aldeamento de Monte-Mor declaram que as terras por eles utilizadas pertenciam ao patriménio indigena. Sendo assim, conforme a Lei 1.114 de 1860, que estabelecia as condicées para a extincdo de aldeamentos, as terras da Vila de Monte-Mor nado poderiam ser consideradas como devolutas ¢ vendidas a particulares. Os Potiguara ndo estavam confundidos com a populacdo nao-indigena ¢ néo abandonaram as suas terras, apesar da invaséo consentida e€ legalizada das terras indigenas pelos diretores de indios através do arrendamento. A continuidade. da ocupacdo Potiguara foi atestada oficialmente mais uma vez alguns anos depois, quando foram definidos os limites da Sesmaria. Em 1865, o engenheiro Anténio Goncalves da Justa Araiijo - que foi nomeado para medir as terras dos patriménios indigenas da Paraiba no ano anterior — informa que os indios de Monte-Mor viviam aldeados e grande parte de suas terras estava arrendada. Justa Aratijo constatow também a incansdvel luta dos Potiguara contra os invasores de suas terras. No ano seguinte, foi concluida a demarcacao do perimetro da Sesmaria de Montemor. Foram delimitados os lotes de 165 indios e dos arrendatarios, que foram nominalmente relacionados. Apresentou também © quadro da aldeia de Montemor com 75 posses para indios, n&o distribuidas. Em 1875, quando foi permitida a venda de terras aforadas em aldeamentos extintos, nao poderiam estar incluidas as terras de Montemor, como ja vimos. Os terrenos doados em lotes aos indios de Montemor n&o podiam ser vendidos, pois eram inalienaveis devido a condicdo de Srfaos dos indios, que os impedia de alienar suas terras sem assisténcia judicial e segava qualquer possibilidade de serem desapropriados. Por outro lado, a extingao de um aldeamento s6 implicava em devolucdo se fosse abandonado pelos indios; 0 que nao ocorreu no caso da Sesmaria de Montemor, como ja vimos.5" “No tempo da Amoros: O coroné naquele tempo matava, homi... os empregados dele. O povo chamava o tempo da Amorosa né. Aquele povo tinha um medio! Ave Maria do céu! (Trecho de entrevista com uma india Potiguara). Ficou claro pelo que foi exposto acima que, apesar da Sesmaria de Montemor ter sido loteada e de terem sido distribuidos titulos a varias familias Potiguara, os terrenos demarcados para os indios nao poderiam 81 Até aqui me baseci no excelente levantamento da histéria Potiguara realizado por ‘Therezinha Baumam (1981). Ver também Méonem & Maia, 1992. pro, NARI) aon Foes AID 28 Rubrics: phan ser vendidos devido & condicdo juridica de ériios daNqual gozavam. Contudo, um homem conhecido como Comendador Campelo, figura de grande prestigio politico, residente em Mamanguape, conseguiu aoderar- se de trinta destes titulo. Mandava prender os indios por motivos ititeis e depois lhes oferecia a liberdade em troca dos terrenos que detinham (Amorim, 1977). Este personagem apresenta-se na meméria coletiva dos indios como uma pessoa acima da lei, detentora de uma patente, concedida pelo Imperador D. Pedro I, que lhe conferia poder de vida ou morte, e a quem a policia nao atingia. Nesse tempo, 0 finado Campelo, tinha um Campelo aqui em Mamanguape, que era ... ele tinha patente dado pelo rei. Esse negocio de patente era 0 que © povo tirava, assim digamos tirava um ... como uma carta brance, uma coisa, pra ter uma forca de chegava o cabra ... chegava assim que era (?) por todo canto. Ai o cabra tinha matado um acold, chegava aqui na porteira a policia podia vir ali ndo chegava mais. Cabra de forca (Trecho de entrevista com alguns Potiguara). Anos depois esses terrenos foram vendidos para a Companhia de Tecidos Rio Tinto. Na segunda década do século XX a’ Fabrica de Tecidos Paulista, fundada por Herman Lundgren nas proximidades de Recife, expandiu suas atividades estabelecendo mais uma industria em Rio Tinto. Em 1917 os irmos Frederico e Artur Lundgren enviaram dois intermediarios, Artur Gées ¢ Ornilo Costa, para “comprar” as terras necessarias para a instalacao da fabrica. Segundo os indios, um individuo chamado Alberto César havia recebido uma posse do Imperador D. Pedro II dentro do aniigo aldeamento de Montemor - /...] pra ele criar filhos e netos, ndo pra negécio, que a terra era do indio [...] -, onde ele construiu 0 engenho da Preguica. Ele vendeu este terreno por vinte mil réis e foi embora para Tavares, um lugar proximo a Rio Tinto. Apolénio Gomes de Arruda foi designado para ocupar o cargo de administrador. Em 1918, comecou a drenagem e canalizagdo das aguas de uma lagoa existente para os rios Mamanguape e Preguica, a derrubada do mato e a abertura dos caminhos. No ano seguinte, foram iniciados os trabalhos de recuperacao das terras pantanosas e de construcdo do edificio da fabrica - que entrou em funcionamento a partir do final de 1924 - e das casas para 0 administrador e os operdrios (Amorim, 1977). ‘Apés essa fase de iraplantacao da sua unidade produtiva em Rio ‘Tinto, a Companhia passou a coagir os indios a venderem as suas terras, utilizando inclusive a forga armada de seus capangas. Ameacados de morte, muitos indios “venderam” suas terras e foram empregados como operérios da fabrica. Para estes a Companhia mandou construir casas que cram alugadas. As casas antigas, que eram de taipa e cobertas com palha (de palmeira, de coqueiro ou de capim manibu), foram demolidas. Todos os moradores destas casas - inclusive os vigias - reservavam um dia para irabalhar nas plantac6es (de mandioca, batata, macaxeira, banana etc.) da Rubricay Companhia: era a didria, Quem nao cumprisse cm essd obrigacao - ou “pagamento” - poderia ser despejado da casa onde morava. Subjugados pela Companhia, tinham que negar a identidade indigena. Outros simplesmente fugiram para outros lugares; alguns nunca 1.ais voltaram a Rio Tinto. [...] Quando eles se alicergaram, comegaram a trabathar aonde € a fabrica hoje, comecaram a trabalhar que sentaram a fabrica at eles invadiram aqui, perto do rio pra cd s6 era indio sé, sé, 56... Tudo casa de paia, pois eu ainda tenho um foto das casa dos indio daqui. Entdo, quando eles comegou trabalhar, invadiram aqui pra dentro, pegaram. a imprensar o indio: “Isso aqui de quem é? “E meu, Coroné’. “Seu ndo, seu ndo. Isso aqui vocés nao diz que é de vocés, isso aqui é de Coroné Frederico; se vocés disser que € de vocés, voces leva fim. Vou the dar dez (?}®2 por estas terra que vocés diz que é seu. Pronio, amanhda néo quero the ver aqui”. Muitos ndo aceitou, desapareceu e morreu no meio do mundo e nao veio mais. Certo? Entdo, outros que ndo quis sair, aqueles mais novo que ndo quis sair, eles pronto ... deu emprego a eles, porque queimaram a casa deles e foi obrigado |...) Entdo, ficou empregado aqueles que... nao, mas pagando a casa sim. Entdo, continuou. E isso ai invadindo, e isso at invadindo, tomou tudinho até em Marcagdo. Ai fez divisa de Monte-Mor com Sao Migué. Até Marcagdo eles mandavam. Pronto! E eu tenho foto ainda das casa que eles queimaram aqui em frente da igreja N@ S dos Prazeres de Monte-Mor [Grifos meus]. Entao, quando eu chegiei aqui um velho que morou ali que trabalhou na Companhia, desde que a Companhia chegou que ele trabalhou, ele me contou tudinho como foi do jeito que eu t6 contando ele me contou. Comprou o Engenho da Preguica e dai se levantou-se e tomou tudinho, tomou tudinho. Agora, era duzentos capanga dentro da drea tudo armado de rifle e de cip6-pau. Se 0 cabra chegasse, dissesse assim “eu nao dou por dinheiro nenhum’, podia se ir embora (?) fora 1d no arrepia, e eles correram foram ficar 1d no portao na divisa da terra. Pronto. E 0 que Ihe conto é isso. E entdo muito indio desapareceu e muito ficou, mas debaixo dos pé da Companhia, nao dizendo que era indio [...] (Trecho de entrevista com alguns Potiguara). Na Vila Montemor, onde foi construida uma segunda fabrica,* os indios foram expulsos e tiveram as suas casas de palha incendiadas, como %2 0 ponto de interrogaao no meio de uma citacdo substitui uma palavra ou expresso inaudivel na gravacao da entrevista em fita cassete. Reticéncias entre colchetes significam uma interrup¢ao em um trecho da entrevista, feita pelo autor deste relat6rio, para retomé-lo mais A frente. Reticéacias sem colchetes indicam as pausas ow hesitacdes normais da comunicacao verbal corriqueira. Vou manter o anonimato dos entrevistados, pois, devido aos conflitos com os usinciros ¢ fazendeiros, alguns deles ficaram com receio de serem prejudicades por causa do contetido dos seus relatos. 39 Anexo n° 18: Fotografia n° 7. Pe Rubrica. —— yimos no relato acima. Dupla violéncia: fisica 4l/simbélida. A Vila Monte- Mor e a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres s&o dois referenciais fundamentais das narrativas dos indios sobre o seu passado e, portanto, da sua identidade étnica. No tempo que eu nasci ... quando eu nasci essa Companhia jé chegou ai. Jé tinha chegado. Essa Companhia chegou ai ou foi 17 ou foi 18. Eu nasci em 21, pois bem. E agente morava na Vila. O coronel chegou ali... [J [.--] Agora, quando ele chegou que comprou ali ... 0 Catolé, comprou Rio Tinto ali, que chamava 9 Engenho da Preguica, ele comprou, e comprou Gameleira, que era outro engenho, que era do doutor Campelo. Ea Vila ... comprou 0 Catolé, ali o Engenho da Preguica, que era Rio Tinto, que ele botou, quando chegou botou, e comprou Gameleira, que era do doutor Campelo, e a Vila tomou. Ele nao comprou. A Vila foi ineluida quando comprou. Nesse negécio tudinho a Vila ele tomou conta. Quando eu nasci ele jé tinha chegado. Eu nasci em 21, me batizei em Sao Pedro Sao Paulo, na igreja. [...] Tomou porque ele comprou e a Vila foi incluida. E agente morava ld. Ea Vila era dagente, agente pagava, quando ele tomou esse negécio d’agente lé e botou agente pra fora, tomou a bem dizer as casa dagente, tomou. Pra fazer uma casa maior do que essa daqui, que cabe essa daqui dentro, chegou Seu Apolénio, finado Ornilo, e uns quatro ou cinco. Tudo de cipé-pau. Chegou Id ele disse assim: “Joao ...” |...) “Jodo, essa casa s6 vale 250 miréis*. “Seu Apolénio, uma casa dessa nao vale esse dinheiro todo. Uma casa grande dessa, dez pé de coqueiro, e 0 senhor 86 dé esse dinheiro”. Ele disse s6. “Agora, se 0 senhor quiser 0 senhor vai receber, se ndo quiser o senhor vai Id reclamar*. Quando chegava lé pra fazer a reclamagao ele tomava, pronto, ndo dava nem um vintém. Tomava tudo. E 0 que eu conto é isso. Ea Vila era dagente, dos caboclo! A Vila era dos caboclo, Nossa Senhora dos Prazeres. A Vila era dagente mesmo. Era e é! E ele nao comprou nao senhor, ele ; tomou. Ele comprou Id, comprou ed e ficou a Vila no meio e tomou. E ali, nesse tempo _da amorosa, nesse tempo eu era pequeno, menino né, ninguém reclamava néo, porque se fosse reclamar jé sabia [Grifos meus] (Trecho de entrevista com um Potiguara).

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