You are on page 1of 16
METODOLOGIA QUALITATIVA E QUANTITATIVA Além dos tradicionais métodos especificos das Ciéncias Sociais, como o de Abordagem e o de Procedimento (ver 2.7) outros dois, 0 Qualitativo e o Quanti- tativo também s4o muito importantes nas investigacées cientificas. Embora alguns autores nao facam distingo entre qualitativos e quantitati- vos (Goode Hatt, 1969:398), hé uma diferenca marcante em relagdo A maneira como sao abordados os fatos, dependendo do tipo de estudo. O método Quantitativo, segundo Richardson et al. (1999:70), “caracteriza- -se pelo emprego da quantificacao tanto nas modalidades de coleta de infor- maces quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatisticas, desde as mais simples como percentual, média, desvio-padrao, as mais complexas como coeficiente de correlagdo, andlise de regressiio etc.” O método qualitativo difere do quantitativo nao sé por nao empregar instru- mentos estatisticos, mas também pela forma de coleta e andlise dos dados. A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. For- nece andlise mais detalhada sobre as investigagées, hdbitos, atitudes, tendéncias de comportamento ete. No método quantitativo, os pesquisadores valem-se de amostras amplas ¢ de informacdes numéricas, enquanto que no qualitativo as amostras so reduzi- as, os dados séio analisados em seu contetido psicossocial e os instrumentos de Coleta nao sao estruturados. _ 270 Metodologia Cientifica + Marconi e Lakatos “As questdes que se abordam desde sua perspectiva qualitativa séo bastante diferentes das que empregam os investigadores qualitativos”, afirma Janesick (1994: 210). 8.1 ORIGEM Todos os autores concordam em que a metodologia qualitativa teve sua orj- gem na pratica desenvolvida pela Antropologia. Depois, empregada pela Sociolo- gia e Psicologia. Posteriormente, a investigagao qualitativa comeca a ser aplicada em Educacao, Satide, Geografia Humana etc. O surgimento da pesquisa qualitativa deu-se quando os antropélogos, que estudavam individuos, tribos e pequenos grupos dgrafos, perceberam que os da- dos nao podiam ser quantificados, mas sim interpretados. No campo da Antropologia, a investigacéo era conhecida como pesquisa etnografica. Trivifios (1987:121) reconhece que a etnografia é uma forma especifica de investigacao qualitativa, admitindo ser ela referente ao estudo da cultura (defi- nigdo geralmente empregada, mas genérica). Para ele, certas posigées devem ser Jevadas em consideracdo como o reconhecimento: a) da existéncia de um mundo cultural desconhecido; b) da necessidade de descrever 0 modo de vida dos povos, para compreen- der seu significado, para melhor entender o funcionamento de socieda- des e grupos; c) da participagao ativa na vida da comunidade, a fim de conhecé-la melhor. A investigagao qualitativa em Sociologia retoma a etnometodologia, a andli- se do discurso e as historias de vida. Os primeiros estudos da Sociologia estavam voltados para comunidades. Em Psicologia, a metodologia qualitativa se incorpora A hermenéutica, & fenomenologia, a investigacao naturalista, etnogrdfica e investigacao etc. Em Educacao, os primeiros textos fazem referéncia a investigacdo natura- lista, evolugao iluminativa e qualitativa, etnografia e teoria critica, investigacio- -agao participativa e colaborativa. Para R. Tesch (1990), “a etnografia, a fenomenologia e o interacionismo simbélico fazem referéncia a tradicdes e perspectivas que os investigadores qua litativos adotam, embora a andlise de casos refira-se a formas ou métodos de investigacao e as historias de vida e/ou a observacdo participante a formas de coleta de dados”. Motodologia Qualitativa e Quantitativa 271 para Bisman etal, (1998:228) “a investgagio qualtaiva supée adogdo de erminadas concepgbesfloséficaseclentficase formulas especticas de coleta e andlise dos dados. © que origina uma nova linguagem metodolégica”. g.2 CONCEITOS E CARACTERISTICAS dos, i - ‘ . a 5 Sea englobam dois momentos distintos: a Pesquisa, ou coleta de dados, e a Andlise e Interpretacdo, quando se procura desvendar o sig- nificado dos mesmos. Richardson (1999:90) afirma que a pesquisa qualitativa “pode ser caracte- rizada como a tentativa de uma compreensio detalhada dos significados e carac- teristicas situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produgao de medidas quantitativas de caracteristicas ou comportamentos”. Para Minayo (2002:21-22) a pesquisa qualitativa “responde a questdes par- ticulares”. Em. Ciéncias Sociais, preocupa-se com “um nivel de realidade que nao pode ser quantificado”, ou seja, “ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspiragdes, crengas, valores, atitudes, o que corresponde a um espa¢o mais profundo das relagées, dos processos e dos fendmenos que nao podem se reduzidos a operacionalizacao de variveis”. Segundo Menga (1986:18) 0 estudo qualitative “é o que se desenvolve numa situagéio natural; é rico em dados descritivos, tem um plano aberto € flexi- yel e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”. Lazarfeld (In: Haguette, 2001:64) admite que, em relagdo a indicadores qualitativos, ha trés situag6es: a) aquelas que substituem uma simples informacio estatistica referente a épocas passadas; b) as que sao usadas para captar dados psicolégicos como atitudes, moti- vacbes, pressupostos etc.; c) aquelas que séo usadas como indicadores do funcionamento das estru- turas e organizacées complexas. Na pesquisa qualitativa h4 um minimo de estruturagao prévia. Nao se ad- mitem regras precisas, como problemas, hipéteses e varidveis antecipadas, e as teorias aplicdveis deverdo ser empregadas no decorrer da investigacao. Alves e Mazzotti (1999:158) admitem que a “adogao prévia de um quadro te6rico, a priori, turva a visao do pesquisador, levando-o a desconsiderar aspectos importantes, que nio se encaixam na teoria e a fazer interpretacées distorcidas dos fendmenos estudados”. 272 Metodotogia Cientifica + Marconi e Lakatos Todavia, um minimo de estruturacdo, de embasamento tedrico geral e um planejamento cuidadoso o investigador necessita para nao se perder no contexto geral, que lhe serve de apoio. A escolha do método remete para uma posi¢ao tedrica (positivista, estru- turalista, dialética, fenomenolégica etc.) que deve ser explicada evidenciando a forma de abordagem (ver Capitulo 2). A teoria é constituida para explicar ou compreender um fenémeno, um processo ou um conjunto deles. Na pesquisa qualitativa, primeiramente faz-se a coleta dos dados a fim de poder elaborar a “teoria de base”, ou seja, 0 conjunto de conceitos, principios e significados. O esquema conceitual pode ser uma teoria elaborada, com um ou mais constructos. Desse modo, faz-se necessdrio correlacionar a pesquisa com 0 universo teérico. A finalidade da pesquisa cientifica nao é apenas a de fazer um relatério ou descric&o dos dados pesquisados empiricamente, mas relatar 0 desenvolvimento de um carater interpretativo no que se refere aos dados obtidos. Para haver contetido vilido é necessdrio muita leitura e reflexao sobre obras selecionadas, que tratem de teorias e de conhecimentos jé existentes, relativos a0 problema da investigacdo. pesquisador tem liberdade de escolha do método e da teoria para reali- zar seu trabalho; entretanto deve, no momento de seu relatério, ser coerente, ter consciéncia, objetividade, originalidade, confiabilidade e criatividade no mo- mento da coleta e andlise dos dados. 0 bom resultado da pesquisa depende da sensibilidade e intuicéio do pesquisador, que deve ser imparcial, procurando nao interferir nas respostas dos entrevistados e nao deixar sua personalidade influen- ciar as respostas. A clareza é outro ponto importante, ou seja, é regra basica da redacao. Por meio do método qualitativo, o investigador entra em contato direto e prolongado com o individuo ou grupos humanos, com o ambiente e a situacéo que esta sendo investigada, permitindo um contato de perto com os informantes. Em relacdo a pesquisa qualitativa, Borgan (In: Trivifios, 1987:128-130) aponta as seguintes caracteristicas: a) ter ambiente natural como fonte direta dos dados; b) ser descritiva; ©) analisar intuitivamente os dados; d) preocupar-se com 0 processo e no sé com os resultados e o produto; e) enfatizar o significado. Para Martins (1989:52), a descricdo constitui “importancia significativa no desenvolvimento da pesquisa qualitativa”. Movin Quatitaniv « Quanneativa 27 0 que A medida que os dados so coletados, siio também interpretados, e levar & necessidade de novos levantamentos. A pesquisa qualitativa pode empregar vérios métodos ¢ 14 ende do tipo de investigagio. as, A escola dep’ 3.3 ENTREVISTA QUALITATIVA ri et al A entrevista qualitativa é flexivel e aberta. Segundo Sampie! istador) € (2003:455), “define-se como uma conversa entre uma pessoa (0 entre’ outra (0 entrevistado) ou outras como um pequeno grupo ou uma familia”. As entrevistas abertas baseiam-se em um guia geral com tema nao espect- fico; nelas, nas quais o entrevistador tem toda flexibilidade para manipuld-lo. Segundo Grinnell (1997:118), as perguntas podem ser: 1. Gerais: quando partem de planejamentos globais para chegar ao tema proposto. Exemplo: O que pensa da violéncia em familias? 2. Para exemplificar: quando servem para aprofundar mais 0 tema so- licitando ao entrevistado que dé exemplo de um evento. Exemplo: O que concluiu sobre a assisténcia do SUS? 3, Estruturais: quando se solicita uma lista de itens. Exemplo: Que tipo de drogas é mais vendido atualmente? 4, De contraste: quando se questionam semelhangas e diferencas sobre tépicos e se pode classificar em categorias. Exemplo: Como ¢ 0 tratamento das enfermeiras no Hospital X? objetivo das entrevistas qualitativas é obter respostas sobre 0 tema ou problema a investigar. E importante o entrevistador propiciar um ambiente de confianga e também evitar elementos que prejudiquem a conversa, ou seja, interrup¢Ges, ruidos, con- versas, musica, telefonemas etc. Aentrevista deve ser um didlogo espontaneo, porém profundo, aberto, cui- dadoso, descartando perguntas muito diretas. Deve-se também evitar incomodar © entrevistado com perguntas tendenciosas. fo Nas entrevistas podem-se usar diversas ferramentas, a fim de conseguir in- mages importantes e valer-se de gravagdes, anotacoes, fotos, computadores, Para registrar os dados. ae 274 Metodologia Cientifica + Marconi e Lakatos le acrescentar outras perguntas no correr istrar pontos de vista, comentarios, imérias, conclusées preliminares. O entrevistador tem liberdade di das respostas. Apés a entrevista convém regi observacées, reflexées, diividas, hipsteses pr 8.4. OBSERVAGAO QUALITATIVA A observaco qualitativa é uma técnica de coleta de dados também chama- da observacao de campo, direta ou participante, visando: dos aspectos da vida so- 1, Explorar ambientes, subculturas € @ maioria cial do grupo a estudar. 2. Descrever comunidades, ambientes e das pelos participantes e os significados das mesmas. oes entre pessoas e suas situagbes, contextos sociais e culturais. as diferentes atividades exerci- 3. Compreender processos, interpela ou circunstancias, eventos, padrées, 4. Identificar problemas. 5. Generalizar hipéteses para futuros estudos. ‘A observacio qualitativa implica em conhecer e aprofundar as situacdes so- ciais mantendo uma reflexao continua e observando detalhes dos sucessos, dos eventos e das interacGes. Toma-se importante que 0 pesquisador tenha boa meméria para recordar signos nao verbais e outros aspectos da linguagem. Ele deve estar atento a fim de captar os ambientes e as pessoas. Deve também proceder com cautela em caso de investigacdo criminal, a fim de encontrar provas, ganhando a confianga do criminoso. Outro aspecto relevante é 0 pesquisador se introduzir cada vez mais na co- munidade para que nao seja considerado como um estranho, ‘A observagio qualitativa refere-se a uma técnica de coleta de dados que tem como objetivo explorar e descrever ambientes. Segundo Sampieri, as anotagdes podem ser de diferentes classes ou cate- gorias. De acordo com Grinnell (1997:381-382), sdo: + Anotagées da observagao direta: seriam a descricao do que se esta vendo, escutando, sentindo, conhecendo do contexto e das unidades de observagio e colocando os dados de forma cronolégica. + Anotagées interpretativas: comentarios pessoais sobre os fatos que se esto percebendo (significados, emogGes, interacdes e reacées). 275 wva e Quantitative Metodologia Qual . Anotagées pessoais: sobre os sentimentos, so sensacdes do proprio squisado. Depois de classificados os dados, devem-se resumir as ano- tagdes cuidadosamente. A observagio pode ser aberta ou enfocada, geral ou especifica, mas sempre direcionada. a) Aberta: O paciente foi bastante hostil com o médico? b) Enfocada: O médico atendeu pacientemente o cliente? ‘Apés as diversas anotagées, ao fim de cada jomada de trabalho, registrar m um diario as reflexes, pontos de vista, conclusdes preliminares, hipdteses jniciais, duividas etc. Tem-se, entio, o material pronto para ser analisado. g5 METODO ETNOGRAFICO 0 processo de pesquisa em estudos etnograficos ¢ flexivel e nao existe um esquema rigido. Em geral, o pesquisador planeja uma pesquisa sobre um determinado objeto e elabora perguntas sobre a cultura do grupo, seu objeto de estudo. ‘As técnicas utilizadas sio basicamente observacio participante estruturada, 0s didrios de campo, as experiéncias e a interpretagao da informacao. Nos estudos etnogréficos, 0 investigador convive, em grande parte, com as pessoas (objeto de estudo) entrosando-se com elas, vivendo do mesmo modo que elas e atentando com muita responsabilidade. O pesquisador deve descobrir e interpretar, sem interferéncia, os dados, tra- gos e a dindmica do grupo. Para Guber (2001:121), “o trabalho de campo etnografico é uma modali- dade de pesquisa social que mais demanda do investigador, comprometendo seu proprio sentido do mundo, das pessoas e de si mesmo”. A investigacao etnografica nao interessa a generalizaco nem a tipificacao, somente a caracterizacao do respectivo grupo em um cendrio particular e natu- ral. O contetido do informe é basicamente descritivo, com muito pouco contetido qualificativo. 86 ESTUDO DE CASO OU METODO MONOGRAFICO A metodologia qualitativa tradicionalmente se identifica com 0 Estudo de Caso, Vem de uma tradicao de sociélogos e se caracteriza por dar especial aten- to 276 Metodologia Cientifica + Marconi e Lakatos $40 a questoes que podem ser conhecidas por meio de casos. O Estudo de Caso foi criado por La Play, que o empregou ao estudar familias operdrias na Europa. Existem distintos motivos para estudar casos: a) intrinsecos - representacao de tragos particulares; b) instrumentais - esclarecimentos de tracos sobre algumas questées; c) coletivos - abordagem de varios fendmenos conjuntamente. O Estudo de Caso refere-se ao levantamento com mais profundidade de determinado caso ou grupo humano sob todos os seus aspectos. Entretanto, é limitado, pois se restringe ao caso que estuda, ou seja, um tinico caso, nao po- dendo ser generalizado. Para Trivifios (1987:133), o Estudo de Caso “é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente”. No Estudo de Caso qualitativo nao hé um esquema estrutural aprioristica- mente; assim, nao se organiza um esquema de problemas, hipéteses e varidveis com antecipagao. Retine o maior mimero de informacées detalhadas, valendo-se de diferentes técnicas de pesquisa, visando apreender uma determinada situacdo e descrever a complexidade de um fato. Para Ludke e André (1986:18-20), no Estudo de Caso, algumas caracteristi- cas sao fundamentais, como: a) visar a descoberta; b) enfatizar a interpretacao do contexto; c) retratar a realidade de forma ampla; d) valer-se de fontes diversas de informacées; e) permitir substituigdes; f) representar diferentes pontos de vista em dada situagao; g) usar linguagem simples. Os dados qualitativos descrevem detalhadamente os individuos ou grupos em sua propria terminologia. A investigacao procura entender o significado do sistema préprio dos en- trevistados. Nao se podem antecipar os aspectos do sistema significativo, nem co contexto do funcionamento da totalidade que sé é possivel conhecer poste- riormente. Para Luna (In: Fazenda (Org.), 1989:38), 0 que caracteriza fundamental- mente o método etnografico é: Metodologia Qualitativa e Quantitativa 277 a) contato direto e Prolongado do pesquisador com a situagéio e as pessoas e/ou grupos selecionados; b) a grande quantidade de dad. . los descritivos, com 0 actimulo de locais, fatos, agdes, pessoas, telacée: s, formas de linguagem etc.; o) existéncia de um esquema aberto que permite transitar entre observa- cdo e andlise, entre teoria e empirismo; d) utilizar diferentes técnicas de coleta e de fontes de dados. Na Metodologia qualitativa as técnicas fundamentais de coleta de dados so: observacao, entrevista e histéria de vida. 8.7 OBSERVAGAO A Observacao é uma técnica de coleta de dados para conseguir informagdes utilizando os sentidos na obtengéo de determinados aspectos da realidade. NAo consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fendmenos que se deseja estudar. E um elemento basico da investigacao cientifica, utilizado na pesquisa de campo e se constitui na técnica fundamental da Antropologia. A Observacio ajuda o pesquisador na identificacdo e obtengao de provas a respeito de objetivos sobre os quais os individuos nao tém consciéncia, mas que orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos Pprocessos observacionais, no contexto da descoberta, e obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade. £ 0 ponto de partida da investigacdo social. Para Selltiz.(1967:233), a Observacio torna-se cientifica a medida que: a) “convém a um formulado plano de pesquisa; b) é planejada sistematicamente; ©) € registrada metodicamente e esta relacionada a proposicdes mais ge- rais, em vez de ser apresentada como uma série de curiosidades interes- santes; 4d) esté sujeita a verificagées e controles sobre a validade e seguranca”., A Observagio tem como principal objetivo registrar e acumular informa- GOes. Deve ser controlada e sistematica. Possibilita um contato Pessoal e estreito do investigador com o fenémeno pesquisado. Sob a visdo cientifica, a Observacio oferece certas vantagens ¢ limitacdes: 278 Metodologia Cientifica + Marconi e Lakatos Vantagens: __ Estuda uma ampla variedade de fendmenos, permite identificar conjunto de atitudes e de comportamentos e pode perceber sinceridade nas respostas. Limitagées: De duracao varidvel, pode ser demorada, pois os aspectos da vida cotidiana nem sempre sao acessjveis e pode ter restrigdes no campo temporal e espacial. Ha varias modalidades de observacao. Segundo Ander Egg (1978:96): a) segundo os meios utilizados: nao estruturada ou assistematica e estru- turada ou sistematica; b) segundo a participagao do observador: nao participante e participante; ©) segundo o niimero de observacées: individual e em equipe; d) onde se realiza: na vida real (trabalho de campo ou em laboratério). 8.7.1 Observagdo Assistemdtica A técnica da Observacdo no Estruturada ou Assistematica, também deno- minada Espontanea, Informal, Ordindria, Simples, Livre, Ocasional ¢ Acidental, consiste em recolher e registrar fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas. E mais empregada em estudos exploratorios e nao tem planejamento e controle previamente elaborados. Para Ander Egg (1978:97), a Observacio Assistemética “nao é totalmente espontanea ou castil, porque um minimo de interacao, de sistema e de controle se impde em todos os casos, para chegar a resultados validos”. 8.7.2 Observagdo Sistemdtica Também recebe varias designacées: Estruturada, Planejada, Controlada Utiliza instrumentos para a coleta dos dados ou fendmenos observados € realiza- “se em condigées controladas, para responder a propésitos preestabelecidos. Po- rém, as normas nao devem ser rigidas ou padronizadas, pois situagdes, objetos objetivos podem ser diferentes. 8.7.3 Observagdo nao Participante O pesquisador entra em contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada, sem integrar-se a ela. Apenas participa do fato, sem participacao efe- 279 Metodologia Qualitativa e Quantitativa iva ou envolvimento. Age como espectador. Porém, o procedimento tem cardter gistematico- 3.7.4 Observagao Participante , visando coletar cifica do Implica a interagao entre investigador e grupos soci modos de vida sistematicos, diretamente do contexto ou situacao espe grupo. Para Mann (1970:96), a Observacao Participante é uma car 0 observador e 0 observado do mesmo lado, tornando-se o observador um membro do grupo de modo a vivenciar o que eles vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referéncia deles”. O observador pode enfrentar dificuldades para manter a objetividade, fato de exercer influéncia sobre o grupo ou ser influenciado pelas atitude: comportamentos pessoais do entrevistado. 0 objetivo é ganhar a confianca do grupo, fazer os individuos compreende- rem a importancia da investigaco, sem ocultar 0 seu objetivo. “tentativa de colo- pelo Ss OU Sao apontadas, geralmente, duas formas de observacao: a natural, quando o observador pertence a mesma comunidade ou grupo investigado; e artificial, quando ele integra-se ao grupo, visando informagées. ‘A Observacdo Participante é uma das técnicas mais utilizadas pelos pesqui- sadores qualitativos. Segundo Alves- Mazzotti (1999:167), algumas habilidades devem ser exigi- das do observador, como: a) “ser capaz de estabelecer uma relagdo de confianca com os sujeitos; b) ter sensibilidade para pessoas; ©) ser bom ouvinte; 4) formular boas perguntas; e) ter familiaridade com as questées investigadas; f)_ ter flexibilidade para se adaptar a situacées inesperadas; 2) nao ter pressa de identificar padrées ou atribuir significados aos fend- menos observados”. A Observacio Participante nao utiliza instrumentos como questionario ou formuldrio; a responsabilidade do sucesso da investigacdo depende exclusiva- mente do investigador, como habilidade, flexibilidade, aspecto emocional, pro- fissional e ideoldgico. le 280 Metodotogia Cientifica + Marconi e Lakatos 8.7.5 Observagéo Individual e de Equipe Como o préprio nome indica, é a técnica de observagao realizada apenas por um investigador. Nesse caso, a personalidade dele pode projetar-se sobre o observado, fazendo algumas inferéncias ou distorgées, pela limitada possibilida- de de controle. Por outro lado, pode intensificar a objetividade de suas informa- des, anotando os eventos reais. A Observacao em equipe é mais aconselhavel do que a individual, pois o stupo pode observar a ocorréncia por varios ngulos, podendo corrigir distor- des, enxergando aspectos diferentes. E também chamada Observacao Maciga ou Em Massa. 8.8 ENTREVISTA A Entrevista representa um dos instrumentos basicos para a coleta dos dados. Trata-se de uma conversa oral entre duas pessoas, das quais uma delas ¢ 0 entrevistador e a outra 0 entrevistado. O papel de ambos pode variar de acordo com 0 tipo de entrevista. Todas elas t&m um objetivo, ou seja, a obtencao de informaces importantes e de compreender as perspectivas e experiéncias das pessoas entrevistadas. Para Alves-Mazzotti (1999:168), a entrevista, por ser de natureza interati- va, “permite tratar de temas complexos, que dificilmente poderiam ser investiga- dos adequadamente através de questiondrios, explorando-os em profundidade”. Trata-se, pois, de uma conversacao efetuada face a face, de maneira meté- dica, que pode proporcionar resultados satisfatorios e informages necessdrias. As entrevistas qualitativas so muito pouco estruturadas. O principal inte- resse do pesquisador é conhecer 0 significado que o entrevistado da aos fenéme- nos e eventos de sua vida cotidiana, utilizando seus préprios termos. A entrevista permite o tratamento de assunto de carater pessoal. Todavia, seria aconselhavel o uso de um roteiro simples, que guie o entrevistador pelos principais tépicos, caso ele seja iniciante. Por ser a entrevista um intercdmbio de comunicacio, é importante ter pre- sente toda uma série de aspectos que tornam eficaz a inter-relagdo, a fim de obter um testemunho de maior qualidade. O pesquisador, antes da entrevista, deve informar ao entrevistado sobre 0 interesse, a utilidade, 0 objetivo, as condicdes da mesma e o compromisso do anonimato. E também importante que na conversagao o pesquisador demonstre motivacao e credibilidade. Além de tudo, deve ser prudente. Metodologia Qualitative e Quantitativa 281 Para Goode e Hatt de precisao, focaliza 3 conversacao”. (1969:237), a entrevista “ A 7 ‘consiste no desenvolvimento $80, fidedignidade e validade de um certo ato social comum A entrevista qualitativa, junto is usual na inve: 0 objetivo da entrevista é compreender as perspectivas e experiéncias dos entrevistados. Por ser a entrevista um interca: ter presente toda uma série de as de se obter um testemunho mbio de comunicaciio, torna-se importante Pectos que tornam eficaz a inter-relac4o, a fim de qualidade. 8.8.1 Tipos de Entrevista HA diversos tipos de entrevistas, que variam de acordo com 0 propésito do investigador: a) padronizada ou estrutura roteiro previamente estab: predeterminadas; da - quando o pesquisador segue um elecido. As perguntas feitas ao individuo sao b) despadronizada ou semi-estruturada — também chamada de as- sistematica, antropoldgica e livre - quando o entrevistador tem liberda- de para desenvolver cada situago em qualquer direco que considere adequada. E uma forma de poder explorar mais amplamente a questo. Esse tipo de entrevista, segundo Ander-Egg (1978:110), apresenta trés mo- dalidades: Focalizada Quando ha um roteiro de tépicos relativos ao problema a ser estudado e © entrevistador tem liberdade de fazer as perguntas que quiser, sobre razées, motivos, esclarecimentos, Para isso, fazem-se necessérias certas qualidades ao Pesquisador como habilidade e perspicécia. Clinica Quando se estudam os motivos, os sentimentos e a conduta das pessoas, Nao Dirigida Quando ha liberdade por parte do entrevistado, que poderd manifestar li- vremente suas opinides e sentimentos. 282 Metodologia Cientifica + Marconi e Lakatos __A pesquisa semi-estruturada é a que os investigadores qualitativos mais ‘utilizam. 8.8.2 Vantagens e Limitagées tg Como técnica de coleta de dados, a entrevista oferece varias vantagens e limites: a) vantagens - pode ser usada com todos os segmentos da populacao. Ha maior flexibilidade e oportunidade para avaliar atitudes e compor- tamentos, podendo o entrevistado ser mais bem observado. Possibilita também a coleta de dados importantes que nao se encontram em fontes documentais; b) limitagées - quando ha dificuldade de expressio, de comunicacéo ou incorporaco clara dos significados, levando a uma falsa interpretacao. Ha possibilidade de o entrevistador sofrer influéncia do questionado. Outros aspectos so: retengao de dados importantes e ser de longa du- rac&o, nao sendo econémica. Os autores, em geral, colocam a Histéria de Vida e a Historia Oral como tipos de entrevistas. 8.9 HISTORIA DE VIDA A Historia de Vida refere-se a uma narragao em torno de determinados fatos ou fenémenos, nos quais se evidenciam valores e padrées culturais. £ uma técni- ca de coleta que pode complementar dados ja levantados. Consiste em um modo de interpretar e reinterpretar os eventos, para melhor compreender as ages, os conceitos e os valores adotados pelo grupo ou indivi- duo em pauta. Essa técnica de campo permite ao pesquisador um maior controle sobre a situagao ou as motivacées do entrevistado. O objetivo do investigador é, portanto, o de complementar dados coletados, a fim de obter maior conhecimento sobre a vida do individuo. Ela tem como fungao bésica estimular a pessoa, visando conseguir respostas claras e precisas sobre determinado estudo. A Historia de Vida pode favorecer o surgimento de novas quest6es e conse- guir mais detalhes. Metodologia Qualitativa e Quantitativa 283 8.9.1 Fases da Histéria de Vida Segundo Pujadas (1992:59-84), a montagem da pesquisa Historia de Vida abrange as seguintes fases: Etapa Inicial Consiste em: a) planejamento teérico do trabalho; b) justificativa da metodologia; ©) delimitacao do universo da pesquisa; ) explicagao dos critérios de selecao ou dos informantes. 8.9.2 Fases da Pesquisa Englobam: a) escolha de bons informantes; b) selecdo de individuos que representam bem o universo sociocultural; ©) _verificagao da disponibilidade e predisposicao dos informantes. Para Haguette (2001:81-82), a Hist6ria de Vida serve como ponto de refe- réncia para avaliar teorias que tratam do mesmo problema, ajuda em dreas de pesquisa que abordam superficialmente o assunto e serve de base para suposi- ges. Pode ainda ser titil no esclarecimento de aspectos subjetivos de varios estu- dos, fornecendo maiores detalhes. Pujadas (1992:68) propée as seguintes regras na elaboragao da Historia de Vida: estimular a vontade de falar do informante e criar condigées ambientais para que se realize de forma cdmoda; evitar a monopolizacao da palavra e nao dirigir excessivamente a en- trevista; elaborar um esboco geral da biografia que inclua as etapas de vida e maior ntimero de dados cronolégicos do individuo. a) Db © Em Histéria de Vida, a técnica mais utilizada para investigar é a entrevista semi-estruturada, pois permite aprofundar-se cada vez mais na vida do entrevis- tado. Mas nao é a unica. 284 Metodologia Ciemtifica + Marconi e Lakatos 8.10 HISTORIA ORAL Enquanto a Histéria de Vida levanta a vida de uma pessoa, evidenciando valores e padrées culturais, a fim de compreender as acGes, os conceitos e os significados de atitudes e de comportamentos, a Historia Oral investiga os fatos e acontecimentos registrados na meméria de pessoas de destaque na comunidade. £ uma técnica de coleta de dados bem ampla. A Histéria Oral preocupa-se com o que é impo! a compreensao de determinada sociedade. Esse levantamento, realizado por meios mec&nicos ou manuais, tem como finalidade preservar as fontes pessoais, obten- do dados que podem preencher lacunas em documentos escritos, registrando, inclusive, a linguagem, os sotaques, as inflexdes, até mesmo as entonacoes dos entrevistados. Tudo 0 que se pode coletar sobre 0 passado de certos individuos, suas opinides e maneiras de pensar e agir, procurando captar principalmente dados desconhecidos. Na seleco dos entrevistados d que vivenciaram fatos do passado (antes que desaparegam) e pro! cializados em determinado assunto. De acordo com o tipo de entrevista, a Historia rtante e significativo para a leve-se escolher, primeiro, os mais idosos, por- fissionais espe- Oral pode ser classificada com a) biogrdfiea - quando o individuo exerce papel importante na vida da comunidade; b) tematica — quando a pessoa tiver participagao restrita na sociedade. HA sempre, como em todas as entrevistas, uma interacdo entre pesquisador e entrevistado. Segundo Haguette (2001:94), alguns autores fazem certas criticas & His- téria Oral, dizendo que ela nao pode ser totalmente confidvel, pelo fato de basear-se em: a). depoimentos parciais; b)_versdes dos acontecimentos e nao em reconstituigio; ©) impressdes distorcidas, em virtude de a meméria ser falha ou deficiente. AHistéria de Vida é uma técnica de levantamento de dados com depoimen- tos orais de pessoas que testemunharam fatos e eventos do passado, que podem ser escritos ou gravados pelo investigador. A Hist6ria Oral, que tem como uma de suas finalidades a de preencher lacu- nas nos documentos escritos, é considerada importante porque pode interessar a varias ciéncias como Antropologia, Sociologia, Ciéncia Politica, Hist6ria etc. Seria, portanto, a reconstituicdo de um perfodo ou de um evento histérico por meio das pessoas envolvidas.

You might also like