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caPITULO SEGUNDO DIREITO VIGENTE I — O “STATUS QUAESTIONIS” NA DOUTRINA ELABORADA SOBRE O CODIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1939. 70. ‘Tendéncias da literatura mals recente. regime especial na doutrina: Incufieténela da io. 72, Programa da nossa investigaco. 67. # de estridente hibridismo a inspiragio que mode- lou a disciplina do litisconsércio no Cédigo de Processo Civil nacional de 1939. Voltou-se o legislador para uma. fonte, quando quis indicar os pressupostos de formagéo do processo litisconsorcial; para outra, bem diversa, quando se dispés a fixar os regimes aplicdveis as relacdes dos litisconsortes entre si e com a parte contréria. O art. 88, que demarea as Areas do litisconséreio necessé- rio (indispensével) e do litisconséreio voluntério ou faculta- 118 uitiscoxséacto uNrminio tivo — com suas duas subdivisdes — é de corte italiano, e mais precisamente chiovendiano.* Peninsular é também’ a origem do art. 91,° que interessa menos & nossa pesquisa. Os dispositivos concernentes ao regime do litisconséreio — quer a0 comum (art, 89), quer ao especial (art. 90) — foram mu- ‘tuados da Z.P.0. alemé, de onde provém igualmente o art. 92, aplicdvel a qualquer espécie de litisconséreio.* Essa heterogeneidade estrutural do capftulo dedicado & matéria é em parte responsdvel por incompreensdes que des- de cedo se manifestaram em sede exegética. Nem todos os intérpretes do Cédigo advertiram-se da fratura entre o art. 88 € 0s dois dispositivos subseqiientes. Deixaram-se levar pela tendéncia, até certo ponto razoavel, a procurar uma correla- 2 A terminologia ¢ aqui oscilante na dontrina pétria: enquan- to alguns chamam jacuttativo proprio ao itisconsérelo que nko se Pode recusar quando requerido ‘por qualquer das partes, e faculta- Heo impréprio so que se condiclona & concordanela de todes (assiin, Radzromns Be Munatina, Coment lls TL rags. 01-0; Bane s, Comentarios a0 Cédigo de’Processo Civil, vol. 1, pags. 814-5: Ghovin,’pe Rasunse Pao, Curso de’ Direito Prosesstal Biv; Yo pags. 257 e segs.; Cazaton bz Passos, Do lilisc. no Céd. de Proc. Civ. Sit, pags. 10, 85, 54), outros invertem as denominagdes. (por exer? lo, Jost Freossico Mataves, ob. elt, vol. Tl, pags. 29 e segs Ansan Baxros, ob..cit, yoi. I, pass. Vaubaian Manus be Ourveina Jt, ig. itiscondézeioy que & folatmente ta: ia vontade das partes, ativa. e passive, da demainda, deve-se quallfiear de. propriamente facultasivor 9 qué 56 € facultativo para uina das partes enquanto para a gutte @ ive: Custivel esse €, Gm Yerdade, tmipropriamente facultative” (gritos do orig 2 “As térmulas do art. 88 consagraram sugestio oferecida, no 1.2 Congresso Nacional de Direlto Judielério (1938), por FRANC! ‘Monaro, com base em lancos dos Principit, § 88 (pags. 1.074 e segs. Y., a respeito, Mactiapo Gurmaniss, “As trés figuras do tisconséreio”, in’ Estudos elt., pags. 204-5. 3 © antor do Anteprojeto abeberou-so confessadamente no art. 14, 28 alinea, do Projeto preliminar do Codice di Procedura Civile Aecretado em’ 1940: v. Barista Martins, ob. elt, vol. I, pag. 333. 4" J4 se assinalou noutra oportunidade (v., supra, nota 2 a0 28 1) 0 equivoco em que Incorre Pont=s bE MIvANDA a0 apontar o § 14 austriaco como fonte do nosso art. 90, Com razio Macrae Gur BAniES, ob. clt., pag. 205, ¢ Guruneante Hsreutta, ob, cit, pag. 364, que todavia — "por nao ter atentado na dualidade de aepcoes em ‘due a expressio “notwendige Streitgenossensehaft” aparece nos textos alemies — errava na conclusio precipitada de que 9 regime do Nosso art. $0 seria aplicdvel “a todo © qualquer litisconsércio necessArio”. tivo, porque deper DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) ri ¢do entre as figuras litisconsorciais delineadas no primeiro as reas de incidéneia de cada um dos regimes definidos nos arts. 89 ¢ 90. Pretenderam, em outras palavras, estabelecer a correspondéncia entre a divisdo do litisconsércio em neces- sério e facultativo e a dualidade de regulamentag6es firmada, logo a seguir, no texto legal. 68. Nao era dificil prever onde desembocaria essa_cor- rente doutrinaria. Se um dos dois regimes tinha de corres- ponder ao litisconséreio necessario, e 0 outro ao facultativo, logieamente — concluiu-se — a esta figura havia de aplicar- -se 0 art. 89, e aquela o art. 90. ivas as conseqiiéncias no plano da construgao dog- matica. O art. 90 ndo utiliza, na descricio do esquema de fato idéneo a fazé-lo incidir, iérmula semethante & adotada no art. 88 para caracterizar as hipéteses de obrigatéria co- -participacao ativa ou passiva no proceso. Nao fala em “‘co- munhao de interesses”.® Tampouco diz que o regime especial seré aplicdvel quando ‘necessdrio o litisconsércio. Impde-no “quando a relacéo juridica litigiosa houver de ser resolvida de modo uniforme para todos os litisconsortes”. Do ponto-de- -vista. em que se cOlocou, todavia, a fracéo da'doutrina cuja posic&o ora se descreve, era inevitdvel a afirmacdo, explicita ou implicita, da equivaléncia entre uma e outra expressiio. © pressuposto constante, aqui, é pois o de que sempre coincidem a area coberta pelos processos em que duas ou mais pessoas obrigatoriamente hao de figurar como co-autoras ou co-rés, e a ocupada pelos litigios de solucéo indispensavel- mente uniforme em relacdo a todos 0s litisconsortes. Reina, sendo a indistingao conceptual entre litisconséreio necessdrio 5 Deve-se a Mactiano Gurmanizs a determinacio precisa do sentido dessa expressao, que Se ha de entender como “comhunhao de ‘direito no objeto da demana: io, entre nds, 6 necessdrio pessoas sejam. co-titulares Jaro, se @ propria lel, sempre no dizer do mesmo ‘te a um 86 dos'titulares de um direlto em Iitigiosa — salv pende, porém, acrescentar aqueles oltros em que regra legal espe- ifica, por motivos de oportunidade, exige a propositura da agio por mals de uma ou contra mais de uma pessoa (v. g., Cédigo de 364, 400, 455). 'V. sobre 0 ponto, extensamente, nosso. art, cit. O lilisconsdreio e seu duplo regime, n.° 2. 120 LITIScoNséRcIO UNrTARI0 € litisconséreio unitério, pelo menos o entendimento de serem coeztensivas as duas figuras. 6 De qualquer modo, a todo li- tisconsércio necessario, e 36 a ele, aplicar-se-ia o regime espe. cial do art, 90.7 © Os autores de que se trata, alls, néo usam a expresso “Aitisconséreio unitério”. Falam sempre e apenas de “litisconsorelo necessério”, ao qual atribuem a dupla caraeteristica da indispensa— bilidade e 'da“forcosa uniformidade na deelsio de mérito, subme= tendo-o, em razio desta, ao regime do art. 90. Assim, por exem= plo, Lorss pa Costa, Direito Processual Civil brasileiro, vol. T, pags. 418-5; Gaumier pz Resenvr Frio, ob. cit, vol. 1, pags, 261-3; Joho Boxvmi, Direiio Processual Civil, vol vvitabllidade de solugso “uniforme. » ob. cit: nas pigs. 457, 468, 469 (quanto ao que se 16 na pag. 364, y, nota 4, supra), dava'o art. 90 como pertinente ao litisconsérelo necessdrio, nao obstante advertisse com razio, alhures, que “a representagio do art, 90 é restrita ao fim all indleado” gara, porém, & perfeita ident figura autonoma, embora, ‘intco sentido compativel com o sistema da lel brasileira (ef. acima, 1 2, e abaixo, nota 28 20 n° 75) 7 Ct, na furisprudéncia, a titulo exemplifieativo, 0 Acérdlio do Tribunal de Justica de S40 Paulo, de 10.6.1949, in Rev. dos Trib, vol. 182, pag. 138: “Os presentes somente representam os revéis nO. caso de’ litisconsoreio necessirio”. DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) ya 69. Abramos item especial para examinar a contribuigd oferecida, na matéria, pelo maior dos comentadores do Cédi- go, a quem o profundo conhecimento do direito germanico dava particular qualificacao para a andlise dos textos e 0 es- clarecimento das numerosas questGes por eles mal resolvidas ow deixadas na sombra. Logo no primeiro comentério ao art. 88, pée-se bem clara @ distine&o entre os conceitos de indispensabilidade do litis- conséreio e de “unitariedade da prestacdo jurisdicional”, que ocorre quando “o juiz nao pode dar sorte diferente, no plano do direito material, as partes litisconsorciadas”. La, tem-se 0 litiscons6rcio necessdrio; aqui, o unitdrio.® A indispensabili- dade nao importa foreosamente unitariedade: o ponto, capital Para evitar mal-entendidos, é daqueles em que mais insiste o autor.° Quer dizer: nem todo litisconsércio necessdrio (indis- pensével) é wnitdrio, Por outro lado, registra-se — conquanto sem chamar para o fato a atenego que fora de mister — a existéncia de casos em que a solucdo do litigio nfio pode deixar de ser homogénea, apesar de facultative o litisconsorcio..° A limpidez de tais ensinamentos vé-se turvada em certa medida pelo uso equivoco que o autor faz da expressio “litis- conséreio necessério”. As mais das vezes, esse nomen iuris 8 Powms px Mmanpa, ob. cit, t! it, pag. 98. A nota caracteris- fica da, segunda figura vem de novo aéentuada neste outro passo: “Quando © litisconséreio ¢ fundado em relacio de comunhao, tat que a sentenea tenha de ser uniforme, entio, sim, esse € litiscon- sorelo unitdrio (einhettliche Streitgenossenscha: na pag. 125, volta-se a sublinhar a “Aistinedio itisconsérelo unitdrio (einheitlicne Genossensohaft) e nevessirlo (notwendige Genossenschaft)". (Os grifos so todos do original) ® V., por exemplo, ob. € vol. cit., pig. 98 (verbis gue nem Sempre tenha de ser a mesma a sorte materi: litisconsoreio com fonte na comunhio de Interesses, erifamos) , 14 liliseonsorcios 10 V. ob. e vol. cit., pag. 124: eonsércio pela’ conexio que so 2 dado na oonexio facultativo; logo, ha processos facultatioamente Utisconsoreials — e, alids, obtempere-se, do tdo raros assim (cf, abaixo, n° 76) — em que’a decisio de mérito tem de ser uniformé para todos os co-autores ow co-réus. 122 LiTisconséxcio UNrrin10 designa 0 litisconséreio de obrigatéria constituicdo.™ Nalgu- mas passagens, todavia, aparece empregado em acepedo mais ampla, para abranger ndo 36 aquela figura, mas também o itiseonséreio caracterizado pela forcosa uniformidade no julgamento da causa.” Em semelhante perspé ““itis- conséreio necessério” constituiria género de que 0 unitério seria uma das espécies, representada a outra pelo “litiscon- séreio necessério simples” (indispensdvel, porém néo unité- rio) .8 Ora, nao se fica sabendo, ai, que denominador comum haveria entre as duas supostas “espécies”: nao ser, decerto, a obrigatoriedade da demanda ativa ou passivamente conjunta, 44 que pode ocorrer impossibilidade de solucao heterogénea em processos facultativamente litisconsorciais;* nem, tam- pouco, a inevitabilidade de deciso uniforme, pois nem sem- pre a postula a exigéncia de co-participacso ativa ou passiva no feito. Mas de uma terceira nota, que se deparasse em ambas as “espécies”, ¢ portanto definisse o “género”, nao se cogita em absoluto. 6 41 Assim, com toda a clareca, nas pags. 98, 106, 107, 112, 115, 116, 124, ete. 12” V7, por exemplo, pag. 100, n° (1); “O litisconséreio neces (grifado no’ original ‘ esse trecho ¢ 0 lanco de Macuano Gummtardes (Estudos, cit., pag. 202) rizaria aperias & "espe eS Cf., supra, nota 9. A caracteristica se1 “espécie”, 6 “iifisconséreio. neceasirio unitario” Te. A impressio que flea ¢ a de ter-se deixado o ilustre eseritor prender Gemals & tenminologia alemi No dlvelte tedesco, entretanta, ha uma razio para que se fale de “notwendige Stretigenossenschaft Como de um yénero, ewjas especies sho o iiiscemsoreio de indispensdvel formopao eo itisvonaorelo te obrigatéria uniformidade na sobugto do fitigio: € que tm e outro se subordinam ao regime especial. Esse, 16, 0 ES especies e definicor do genero (v. 0.ae se exp6s, 20 proposito, om os ns. ge 9 deste trabalho, eo que ia sallentaramos, Enterlorniente, no artigo Notas sobre 0 iiseotsdréio mecessdrio. no Nada de semelhante exclusiva da outra DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) 123 Salvo engano, usa ainda o eminente comentador em ou- tro sentido a expressio “litisconséreio necessario”, agora para Gesignar somente a “‘espécie” caracterizada pela obrigatoria homogeneldade do julgamento de mérito. Quer dizer: “ne- cessirio” seria aqui sindnimo de “unitério”. & como se ex- plica a ocorréncia de afirmacdes que, a néo ser assim, terlam de reputar-se flagrantemente contraditérias, como estas: “Os arts. 90 e 91 sao “disposigao em contrario”, pois que sé se Teferem ao litisconsércio necessério” — “O art. 90 86 se Te fere a litisconséreio unitdrio” 1" 70. Como se orienta, no particular, a mais recente pro- cessualistica nacional? A'maioria dos autores reconhece que nao ha coertensdo entre a Area do litiscons6reio necessdrio e © Ambito de incidéncia do regime especial; mas vé o litiscon- soreio wnitdrio como espécie do género litisconsércio necessd- rio. Para a outra “espécie” — em que entrariam os casos de obrigatéria co-participasao ativa ou passiva no processo sem forcosa uniformidade na decisio da causa —, costuma reservar-se a denominacdo de “litisconsércio necessério sim- ples” Em dois tinicos escritores, dentre os que consultamos, descobre-se a consciéncia clara de que a classificagao do litis- 17 As duas proposicdes surgem préximas uma da outra: a pri- mefra nas pags. 109-10, a segunda na pig. 111 do t. 1 dos Coment, cit. © grifo na palavra unitario € do autor. 18 Assim, . g., José Fampexico Manquss, ob. lt, vol. 11, pags. 241-2; AManaL Santos, ob. cit., vol. 1, pag. 19; Guiuatznme ESreirrn, ob. eit, pags. 345-7, 438 (mas v. pags. 364, 457, 408-9, onde 0 autol contraditoriamente, aplicava o art. 90 a todo litisconaéreio necessar =; ,Sempre coneedido como género de que o unltério seria espéct Luis Ropouro pe Anatso Jn, ob. cit., pags. 96-7; Vatoeman Manis DE a , 268; R. Launta Tuoer, ob. cit, itisconsorcio necesario”, por “notwendige St jenossenschaft”, gem 0 cuidado de chamar a atencao do leitor para a diversidadé de acepeses. 124 LIiscoNséxcio uNrTéR10 conséreio em necessdrio e facultative nada tem que ver com a aplicabilidade do regime especial ou do regime comum, ¢ de que tanto existem litisconsércios necessdrios ndo-unitdrios quanto litisconsérelos wnitdrios ndo-necessdrios. Essa, no entanto, a base sélida sobre a qual se poderia ter cons- truido, no direito patric, uma teoria do litisconséreio unité- rio. Atente-se no destaque: & luz do art. 90 do Cédigo de Proceso Civil, onde nao hd referéncia, explicita ou implicita, A indispensabilidade do litisconséreio’ — pois se omitiu, na traduedo do § 62 tedesco, a clausula “oder ist die Streitge- nossenschaft aus einem sonstigen Grunde eine notwendige” — justifica-se menos que alhures deixar contaminar a pro- blemitica da wnitariedade por questdes que a ela nfo dizem respeito. Para bem esclarecer quando e porque incide o regime especial do art. 90 — ou seja, para investigar em profundi- dade os pressupostos do litisconsércio unitério —, 6 condigéo essencial nfo The confundir o ambito de manifestagao com o do litisconséreio necessdrio (indispensavel), nem embutir aquele neste. A vista do que acima se expos, j4 nao surpreen- de tanto que semelhante pesquisa nfo tenha sequer, entre nés, sendo esporadicamente, chegado a empreender-se. 21 20 CALMON ve Passos, Do litise. no Céd. de Prov. Civ. elt, pigs. ; id, Da rev. do dem., cit., pigs. 65-T; A. C. DE AnaGso CINTEA, itor chama as io a ocorrencia da, "de um por outro litisconsorte, no caso de revelia 21 © proprio Caumow x Passos silencla por completo a res- peito, no breve capitulo dedicado ao Iltiseonsérclo unitario (Do ltise. io determina ou quando #6 pode existir ou deixar de existir abrangendo a todos eles”. Quanto a0. primeiro pressupasto indicado, nfio nos consta a existéncia de qualquer regra legal que imponha, para este ou aquele easo especitic, a solucao homogénea do litigio; © segundo pressuposto vinha designado sob formula tm- DIRETTO BRASILEIRO (VIGENTE) 325 71. A andllise do regime especial, em seus miiltiplos as- pectos, também ainda néo se procedeu de maneira sistema tica, Sem diivida se encontram, aqui e ali, ponderagées dig- nas de atencAo a propésito de uma questo ou de outra. O material acumulado, porém, apresenta-se sob forma bastante fragmentéria, permitindo supor que em geral ndo se tenha atingido uma visio de conjunto da problematica ligada & uni- tariedade, com a percepeao do fundo comum subjacente as questoes particulares, e portanto da necessidade de trata-las segundo critérios harménicos, inspirados em principios coe- rentes. Talvez se possa dizer que, se a nossa doutrina se vem esforgando em resolver os problemas do litisconséreio unita- tio — ou, quando menos, alguns deles —, passa-lhe ainda despercebido, ou quase, 0 problema do litisconsércio unitério, em seu porte global. Pesa a responsabilidade, é certo, em boa medida, sobre o legislador. Os vagos, lacOnicos e tecnicamen- te discutiveis enunciados do art. 90'sao, na melhor hipétese, algo assim como a parte emersa de um iceberg, que mal re~ vela as dimensées totais do bloco. Resta sempre Incontestavel o fato de que muito pouco se tem escrito sobre questdes de fundamental importancia, que infalivelmente haveriam de lembrar- a quem se .debrucasse, com maior interesse, sobre o proprio texto legal, pobre e de- feituoso que seja. Por exemplo: a) qual a verdadeira natureza da representagéo a que alude o dispositive? (ou antes: que precisa, exigindo esclarecimentos que.o autor nao se disps a dar, embora se deva levar a seu crédito a clrounstnela de haver pel menos tentado equaclonar o problema em termos préprios. 1gual rito hé de reconhecer-se a A. C. Ds Anatso Crxtua; mas 0 critérlo que propée (ob. cit, pags. 42 © segs.) afigura-se-nos Insuflelente: @ unitariedade do litisconséreio sem duivida pressupde a unicidade do pedido e a da causa petendi (v. abalxo, ns. 74 e 7), porém nao se configura necessarlamente todas as vexts que uma e'outra Ocor- Tem (cf, nota 33 a0 977, injra). Na aeio proposta por varios cre- 126 Lutisconséncio uNrriRio fe juridica se oculta por sob a férmula da “represen- jb) em que extensio — objetiva e subjetiva — pro- duz ela efeitos? (isto é: que atos, e que pessoas, sio por ela atingidos?) ;# c) como prevenir o risco de quebra da homo- geneidade na soluc&o do litigio, quando nao deflua de revelia ou perda de prazo, mas da eventual discrepincia entre os comportamentos de litisconsortes atuantes? Mais generoso tratamento, quase sempre, tem merecido na literatura o t6pico relativo'a eficdcia, para os outros, do recurso interposto s6 por um ou alguns dos litisconsortes. Ha- via a norma expressa do art. 816, a desafiar os exegetas, ¢ néo era, possivel passar em siléncio por sobre os problemas que ela suscita. Mesmo ai, todavia, apenas em época recente vem-se chegando a perceber com clareza e a afirmar em ter- mos explicitos a intima articulacao entre aquele preceito es- pecifico © a regra genérica do art. 90; em outras palavras, a enearar a questéo na perspectiva da unitariedade do litis- conséreio.2 # imperiosa a necessidade de uma reconstrucéo sis- , em que se aproveitardo, é claro, todos os subsidios até aqui esparsos nas precedenites elaboracdes. Alguns serio de grande utilidade no exame dos numerosos problemas par- ticulares do litisconséreio unfério. Mais nos importa, con- tudo, assentar os fundamentos da obra, firmar os grandes prinefpios a cuja luz — e sé a cuja luz —- se pode compreen- der a profunda razao de ser de um fenémeno que tem a sua logica peculiar e sem constante referéncia a ela jamais seré cabalmente inteligivel nos pormenores e nas repercussdes. 22 Em particular: manifestam-se tais efeltos apenas entre os Utisconsortes passivos — como parecem supor, pelos Tespectivos Con textos, as observacées, v. g., de JonGz AMERICANO, OD. clt, 1° vol, ia do art. 90 ¢ do art. 816, V. ai 0 exame das principais posiedes até agora assymidas, no particular, pela doutrina patria, com abundantes indieagées biblio— Grafieas ein as notas 122 € segs. DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) aa meira parte deste ensaio, mostra que a cada passo se depa- rou a ciéncia processual a tematic da unitariedade. Ezistem feitos — € o primeiro e irredutivel dado da realidade — nos quais os litisconsortes nao podem deixar de receber, na deci- sdo de mérito, igual tratamento. Em outras palavras: ha si- tuag6es juridicas pluri-subjetivas que s6 comportam regula- mentagdo homogénea para os varios sujeitos, ativos ou passi- vos. Quando ¢ porque acontece isso? Que fazer para assegu- Tar, em concreto, a preservacdo da. imprescindivel uniformi- dade? Bis as duas grandes ordens de indagacées que cumpre enfrentar. Legisladores, juristas e juizes tém-se visto a bra- gos com elas, e tanto melhor se saem quanto maior a nitidez com que logtam ter do problema visao global. O litisconsér- cio unitério, que alias nao é nisto excecdo, reclama, para re- velar-se em toda a plenitude a quem o queira investigar, a utilizae&io — sem trocadilho — de métodos... unitérios. Deve comecar-se, pois, por verificar que posicéo ocupa a figura no sistema do nosso vigente direito processual civil, como se insere no quadro geral do instituto do litisconsércio. A essa tarefa preliminar de aviventagao de rumos suceder4 a Pesquisa tendente & identificacdo dos pressupostos do litis- cons6reio unitério; enfim, a anélise, ta0 minuciosa quanto Possivel, do regime especial a que ele se submete. Tal, em sintese, 0 programa da elaboracao que se segue. 11 — POSIGAO SISTEMATICA DO LITISCONSORCIO UNITARIO 78, Litisconsércio unitérlo e litisconsérelo comum: conceituagao. 74, Exemplos 4 7. itleconsércio unitario © ronto quanto a com) 76, Litisconssrcio unités fronto quanto a , 7” 73. Diz-se unitdrio o litisconséreio quando, segundo a letra do art. 90, “a relacdo juridica litigiosa houver de ser resolvida de modo uniforme para todos os litisconsortes”. A diccdo da lei é manifestamente atécnica: em direito, 0 verbo licado a relagGes juridicas, tem acepedo precisa, que € a de “desfazer”, “extinguir’.2* No plano processual, gas constitutivas negativas resolvem a relagao igiosa. Mas nao € disso, & evidéncia, que se cogita Na fonte do art. 90, 0 § 62 da Z.P.O. alema, 0 verbo em- pregado € feststellen, que no contexto significa “declarar”. Poder-se-ia entao € unitario quando a relacdo jurfdica litigiosa houver de ser declarada de modo uniforme para todos os litisconsortes. Existira o risco de fa- zer supor que s6 ocorra unitariedade em processo tendente & emissao de sentenca meramente declaratéria? Dissipar-se-ia sem dificuldade 0 equivoco, recordando que, no consenso ge- 24 Cf, v. g., os arts. 647, 648, 869, 879, 923, 1.203 e outros do Codigo civil, DIREITO BRASILEIRO. (VICENTE) 129 ral, todas as sentencas, seja qual for a sua natureza, contém uma declaracdo, muito embora possam nao consistir exclusi- vamente nela. Em todo caso, nada impede que se procure outra formula para exprimir 0 conceito. A “relacdo juridica litigiosa” é a res in iudicium deducta, e 0 pronunciamento que sobre ela emita o juiz formaré o contetido da decisao de mérito. pos- sivel, entao, definir litisconsérelo unitério como aquele que se constitul, do lado ativo ou do passivo, entre pessoas para as quais ha de ser obrigatorlamente uniforme, em seu contet- do, a decisio de mérito. Ao litisconséreio unitério opde-se 0 litisconsércio co- mum.* Comum € 0 litisconsércio quando se pode dar trata- mento heterogéneo, na decisio de mérito, aos varios co- -autores ou co-réus. 74. obvio que s6 tem sentido aludir a unitariedade se, para todos os litisconsortes, é a mesma a causa petendi, e 0 mesmo € 0 pedido. A_sentenca definitiva representa como que a resposta do érgdo judicial & postulago veiculada na demanda. Ora, quando se pensa em respostas iguais ou di- ferentes, tem-se em vista, por forca, a mesma pergunta (obje~ tivamente a mesma, entenda-se, ainda que formulada por, distintas ou em face de pessoas distintas). Fora dai, irrelevante a oposi¢éo entre homogeneidade e hetero- geneidade da resposta. Pressuposta sempre, poi exemplos de litisconsércio uni nidade de fundamento, so rio: a) Ativo. 19, de credores quirografarios que exercitam em con- junto a acao pauliana (Cédigo Civil, art. 106); 29, o de estranhos A sociedade conjugal (inclusive 0 Mi- nistério Publico) que pedem juntos a declaragao da nulidade 25 Como ja se observou ( es germanicos fala-se aqui isconsérelo simples). Mas a qui iuivoca, De certa mancira —~ enapo Guruariss, 3 propésito —, ha ‘muito maior unidade) ino litisconsorelo 1 implicidade” (no sentido de intima rio do que naquele que nfo o ¢. ALR = ° 130 ramiscons6xcio UNrréRI0 (Cédigo Civil, art. 208, Te I) ou a anulagdo (art. 213, nt- mero III) do casamento; 39, 0 de co-legitimados a promover a interdic&io de al- guém ‘por loucura, surdo-mudez ou prodigalidade (Cédigo Civil, art, 447, 1a TID; 49, 0 de prejudicados que reclamam a retificado do teor do registro imobiliério (Cédigo Civil, art. 860); 59, 0 dos interessados na sucesso, que pedem a decla- racéo da indignidade de herdeiro ou legatario (Cédigo Civil, art. 1.596); 69, 0 dos herdeiros institufdos, ou de outros interessa- dos, na ac&o de deserdacdo (Cédigo Civil, art. 1.743); 79, 0 dos herdeiros, ou credores da heranga, na acio de sonegados (Cédigo Civil, art. 1.782); 89, 0 de co-legitimados para a a¢do de nulidade de pa- tente de invengao (Cédigo de Processo Civil, art. 332, I e II; Lei n9 5.772, de 21-12-1971, art, 57) ou de registro de marca de industria, comércio ou ‘servigo, ou de expresso ou sinal de propaganda (Lei n® 5.772 cit., art. 100); 9°, 0 dos condéminos de imével rural, que Ihe requerem fa inscrigéo no Registro Torrens (Cédigo de Processo Civil, art. 458); 10, 0 de s6cios que promovem juntos, em juizo, a disso- lugao de sociedade civil ou comercial (Gédigo de Processo Civil, art. 655); 11, 0 de acionistas que pedem a declaracdo de nulidade ou a anulacdo de deliberacdo da assembléia-geral de socieda- de por agées; 12, 0 de acionistas que, ante a omissio da sociedade pelo prazo de seis meses, promovem a responsabilidade civil de diretor por prejuizo diretamente causado ao patriménio so- cial (Dec.-lei n° 2.627, de 26-9-1940, art. 123); 13, 0 de credores, na aco revocatéria falencial (Dec.- «lei n? 7,661, de 21-6-1945, art. 55); 14, 0 de cidaddos, na agiio popular (Constituicéo da Re- publica, art. 153, § 31); 15, em geral, o de co-legitimados & impugnacao da vali- dade do mesmo ato juridico. pimsrfo BRASILEIRO (VIGENTE) 1st b) Passivo. 19, 0 do devedor transmitente e do adquirente, na acio pauliana; 29, 0 dos conjuges, na acdo de nulidade ou anulacao do casamento, proposta por tereeiro; 39, 0 dos outros sécios, na aco proposta por um ou al- guns, para dissolucio da sociedade; 49, 0 das vendedores do imével, na aco de rescisaéo da venda ‘ad mensuram (Cédigo Civil, ‘art, 1.136); 5°, 0 dos co-locadores, na agao renovatéria de contrato de locagéo de imével comercial ou industrial; 6°, 0 dos co-exeqiientes embargados, na aco de embar- gos & execucao fundada em falta ou nulidade da citagéo ini- cial para 0 processo de conhecimento, corrido & revelia do embargante (Cédigo de Processo Civil, art. 1.010, I 79, em geral, o dos participantes de ato juridico, na acdo proposta por outro participante ou por terceiro, para decla- Tacdo da nulidade ou para anulagao do ato. 75. © conceito de litisconséreio unitario ndo coincide com 0 de litisconsércio necessério nem na compreensio, nem na extensdo. Quanto a primeira, basta ver que a estrutura inteligivel daquela figura tem como nota t{pica a obrigato- riedade da decisio uniforme no mérito; a desta, a indispen- sabilidade da presenga simultanea de duas ou mais pessoas no pélo ative ou no pélo passive do proceso. ?° Ora, eviden- temente ndo é 0 mesmo terem de participar A e B, conjun- tamente, do proceso, e ter o juiz de tratar A e Bde modo uniforme na sentenca definitiva. As duas coisas, sobre serem distintas, nem sequer impor- tam mutuamente, do ponto-de-vista légico, uma a outra. Po- de-se com facilidade conceber que, em litigando juntos A e B, seja necessariamente homogénea para ambos a decisdo de 26 Tal, repita-se ainda uma vez, 6 0 inico sentido legitimo da expressad “litisconsorcio necessario" em nosso direito: cf. 0 dis~ posto no art. 294, 1, do Codigo de Proceso Civil, e 0 que se disse acima, em ono 2, Falar de “litisconsorelo necessario” em qualquer outra ‘acepeao é desrespeitar a sistemstica da lel patria. Nao vale transplantar para o ordenamento brasileiro terminologia usada, tai~ yee Justificadamente, em pais estrangelro, a luz do respectivo texto legal. 332 Litisconsénero uNyrinio mérito, sem que ipso facto se exclua a possibilidade de qual- quer deles litigar em separado. Por outro lado, a obrigatéria, uniformidade na soluc&o do Iitigio, em relacfo a duas ou mais pessoas, nao é a tinica razdo capaz de induzir a lei A exigén- cia da Sua co-patticipacdo no feito. 27 de entender de- sejavel, por motivas de oportunidade, que determinada eo juridica receba de uma s6 vez regulamentacao defi em face do conjunto dos interessados, mas sem que tal regu- lamentagao precise ser homogénea para todos. Uma_tinica sentenga deverd definir todas as posicdes individuais, fixando porém com inteira autonomia a sorte de cada um, no plano substancial 2° a imposigdo do litisconsércio no seria, por si, me- dida suficiente para assegurar a uniformidade, quanto a to- dos 0s co-autores ou co-réus, da decisdo da causa. Se a lei, fazendo embora indispensavel a presenea simultanea de duas ou mais pessoas no polo ativo ou no polo passivo do proceso, contudo permite que os comportamentos eventualmente dis- erepantes ou mesmo contraditérios dessas pessoas produzam, em separado, efeitos predeterminantes do contetido da sen: tenca, como pretender que esta regule de modo homogéneo, em face de todas, a situacdo juridica litigiosa? 2° 0s de litiscon- ia preciso: a) que todo litisconséreio unitério fosse necessario; isto 6, que 21 Ao menos para o direito pdtrio, seria equivocado 0 racio- cinio feito por parte da doutrina alema ¢ exposto em on. 9, supra, 28 Exagerava decerto Caansturt, quando rediizia todo’o pro- i 0 exagero oposto, eontud € negat uma realidade que a propria lei, em mais de um passo, nos eolaca diante dos olhos, Uitisconsorciarem-se duas ou mals pessoas i, de maneira infalivel, a resultado Uniforme, Mas, entao, todo litis” eonsérelo se IREITO URASILEIRO (VIGENTE) 133 néo houvesse litisconséreio unitario facultativo; e vice-versa: d) que todo litisconsércio necessario fosse unitério, quer di- o existisse litisconsércio necessério comum. Ain- se verdadeira somente a proposicao a), 0 litisconsércio irl constituiria espécie do género litisconséreio necess4- reeiprocamente, s¢ verdadeira somente a proposic&éo b), isconsércio necessério constituiria espécie do litisconsér- cio unitério. Na realidade, nem uma nem outra proposigéo é verda- deira.® Um rapido olhar ao rol de exemplos do item 74, aci- ma, revela que, dentre os de unitariedade ativa, 36 um (0 99)’ € de litisconsércio necessario. Todos os outros casos alt enumerados pertencem & classe do litisconsércio impropria~ mente facultativo (irrecusavel), fundado na conexéo: para nos cingirmos ao primeiro exemplo, nada forga os diversos credores eventualmente prejudicados a demandar juntos a anulagdo do negécio fraudulento; mas as acdes que cada qual ajuizasse seriam conezas pelo tundamento (mesma causa petendi) e pelo objeto (mesmo pedido), legitimando-se assim. a litisconsorciagao. Agora, é evidente que o resultado, de me- ritis, no pode ser sendo tum tinico para todos os autores: in- concebivel que 0 ato seja anulado em face de 4 e declarado valido em face de B, com 0 que se teria de considerar, ao mes- mo tempo, subsistente ¢ insubsistente.t Analogamente — e © exemplo € classico — no hé como supor que a deliberagao da assembléia social subsista para um (ou alguns) sécios sem subsistir para os outros, mas ninguém negara a qualquer deles @ possibilidade de pleitear em juizo, sozinho, a invali- dao, sendo por outro lado manifesta a conexidade entre. as agoes que dois ou. mais intentem. 30 J4 0 haviamos frisado anteriormente, em’ nossos citados artigos O litise. e seu duplo regime, n° 4, e Notas’ sobre 0 litise. necess. no dir. bras. e no alemdo, dt disposizione det patri- » ensina que a, decia. io do transmitente (ef. Powres DE MIRanba, Tra~ tado de Direito Privado, t. IV, pags. 468-70; Senea Loves, Curso Je 14 LITIScoNséncto UNrrARIO Reciprocamente, hé litisconséreios necessarios que nao so unitarios. Alias, o fato é, hoje em dia, geralmente admi- tido entre nés, costumando'os autores exemplificar com 0 consércio entre marido e mulher nos processos de acao real imobilidria (Cédigo de Processo Civil, art, 81).5? Na ago de usucapiao, que tem de ser proposta contra os “interessados” € 08 “confinantes do imével” (art. 455), facilmente se con- cebe que o juiz, ao decidir a causa, acolha a contestacdo de ite a de outro. Assim também quanto ‘aos diversos ocupantes da Area, litisconsortes passivos neces- sétios na acéo discriminatéria de terras publicas (Lei n® 3.081, de 22-12-1956). 77. A possibilidade de ser obrigatoriamente uniforme a decisio de mérito nao ultrapassa, entretanto, a faixa do li- tisconséreio impropriamente facuitativo (irrecusavel) . O 1 tisconsércio propriamente facultativo, fundado na mera “afi- nidade de questées por um ponto comum de fato ou de di- reito”, segundo a formula do art. 88, jamais é unitario. ¥ suficiente lembrar que a_unitariedade pressupde® 0 ‘mesmo pedido e a mesma causa de pedir. Quer dizer que pres- supde, Go menos, a conerdo. Nao basta que sejam andlogos ‘ou semelhantes os pedidos ou as causae petendi, como acon- tece, por exemplo, quando varios servidores piiblicos acionam juntos a Administragao a fim de pleitearem, cada um para Si, iguais vantagens, com base em suposta igualdade de po- 32° Gurtwerme Esteurra, ob. elt,, pag. 345; José Frepearco Mar- ques, ob. cit., vol. TT, pag. 241. 33 ‘Cf, ‘supra, n2 74. Ao contrario do que parece a A. C. DE Anaézo Cres, ob. clt,, pags. 42 e segs, essa dupla identidade € 20 hosso ver, pressuposto, mas nao condicdo suficiente da unitariedade (ef. supra, nota 21 20/n2 70) Direito Civil, vol. T, pags. 354-5; Caro MAnro va Stuva Peneind, Insti tuicdes de Direito’Civit,’ vol. 1, pag. 381; Sitvio Rovkrcves, ‘Direito pode escrever: . aproveita a todos os credores; a fraude de execucao aprovelta apenas a0 exeqiiente” (Wasiixcton pe Banos Mowrerno, Curso de Direito ", Pag. 251). V. em Pontes DE MIRANDA, Coment, cit., t. XI, pags. 103-4, a crilica & tentativa feita por Lxemmax, Proceso de execuodo, pags. 76-7, de introduzir no sistema patrio a concep¢io italiana, que @ ele mal’ se ajusta. DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) 135 sicdes funcionais; ou quando diversos contribuintes, em con- junto, pedem a restituicéo de importancias recolhidas na co- branca de determinado tributo; ou quando as diferentes vi- timas de um acidente demandam perdas ¢ danos em face do ‘Ao lado do “ponto comum”, podem existir outros pon- tos, néo comuns, sobre os quais 9 convencimento do érgao judicial se forme heterogeneamente em relacéo aos litiscon- sortes, levando-o a julgar procedente o pedido de um, ou os de alguns, e improcedente 0 de outro, ou os de outros. Alias, mesmo no que tange ao “ponto comum”, se o juiz, resolvesse em sentidos divergentes, para A e para’B, litisconsorciados, ‘a questdo controvertida, haveria apenas contradigao légica, nao porém contradigfo prdtica entre os dois capitulos da sen- ‘tenga — e, como se mostraré oportunamente,* a pura exi- géncia légica de uniformidade no julgamento néio é bastante para tornar unitario 0 consércio. 34 V., abalxo, no 84 III — PRESSUPOSTOS DO LITISCONSORCIO UNITARIO, 78. Consideragses introdutérias. 79. Extensibilidade da colsa julgada: exposigio do eritério © breve apreciagao critica. 20, da colea julgada ¢ unitariedade fundamento, coum, at dade da coisa julgada e unitariedade leconaérelo: equivaléneia funcional. 82. Observagses 85. Tentativa de tancial eae 84, A unitariedade do de ordem pratica. 85. Gritério processual de aferiggo da_unitariedade. 86, Inrelevancia do 87, Unitariedade do dos extraordinarios. 88. Unitariedade parcial. 78. Nos sistemas juridicos onde se tem versado 0 pro- blema, diversas explicaces vimos surgir para a necessidade de resolver-se 0 litigio de modo uniforme em relacio a todos 0s co-autores ou co-réus. Nao vamos aqui proceder, ordenada- mente, ao exame critico de cada qual, e s6 a uma delas con- sagraremos item especifico, para logo tentarmos — aprovei- tando os subsidios colhidos na respectiva anélise — penetrar PIREITO BRASILEIRO (VICENTE) 131 no cerne do problema. A seu tempo serdo formulados, e res- saltardo do confronto com a nossa. prépria tentativa, os juizos de valor sobre as outras elaboracdes Far-se-4 abstracdo, neste passo, das circunstancias rela- cionadas com a indispensabilidade da demanda ativa ou passivamente conjunta. Nos otdenamentos que supdem coex- tensivos a area do litisconsércio necessdrio e o ambito de ma- nifestacdo da unitariedade,® a indagacdo com que agora nos defrontamos assume forma inteiramente peculiar. Se o litis- cons6reio € unitério sempre que (e s6 quando) necessério, 0 problema capital passa a ser o de precisar em que hipdteses, ‘ou por quais motivos, se exige a propositura da acéo por mais de uma ou contra mais de uma pessoa. Em outras palavras: a questa dos pressupostos do litisconséreio unitdrio resol- ve-se na questao dos pressupostos do litisconsércio necessd- rio; fixados- que sejam estes, fixados estardo, ipso facto, aqueles. © mesmo acontece — mas apenas em parte — nos siste- mas que, embora sem limitar o fenémeno da unitariedade ao campo do litisconséreio necessario, consideram-no todavia sempre presente nesse campo, isto é, véem no litiseonsércio necessério uma espécie do género litisconsércio unitério.% Aqui, a identificagao dos pressupostos da segunda figura é problema que ndo se exaure na identificacao dos pressupos- tos da primeira, mas evidentemente a abrange. Se se diz quando e porque a acdo nao pode ser bem proposta senao por mais de uma ou contra mais de uma pessoa, dé-se res- posta parcial a pergunta: quando e porque tem de dispensar © orgao judicial, na sentenca definitiva, tratamento homo- géneo a todos 05 litisconsortes? Restaré,’ entao, pesquisar as, circunsténcias e razoes a vista das quais, fora desses casos, igual desfecho se torna obrigatério. No direito brasileiro, inexistindo coextensividade entre os dois conceitos, ou relacdo de espécie a género entre qualquer 35 Assim, v. g., no itallang, ao menos segundo ‘a concepcao dominante, indlusive” nos textos legais (v. supra, ms. 42 € 44), no suigo (ef. n® 49), no portugues (com ressalva quanto A disciplina da ‘extensio subjeliva dos recursos; ef. ns. 53 ¢ £), no balano de 1915 (wv. n° 63) 36° Por exemplo, o direlto alemio (v. supra, n.° 9, © especial- mente nota 12) e 0 austriaco, de acordo com 6 entendimento da doutrina (v. n° 25), apesar do’siléncio do § 14, que nenhuma alusio contém A indispensabilidade do litisconsdrela (ef. 11° 24) 138 LiTiscons6xcio UNrTARIO das duas figuras e a outraS' nfo ha porque cogitar dos pres- supostos da necessariedade como pressupostos da unitarie- dade do litisconséreio. As duas questées sio em tudo auts- nomas, ¢ a resposta que se dé a uma delas ndo resolve a outra ‘sequer parcialmente. Cumpre encontrar, para a que aqui nos interessa, solugdo que, por si sO, se aplique de modo indis- tinto a todas as hipéteses de litisconsércio unitério, seja ow nfo indispensavel a litigagao conjunta. 79. O prim ie alhures se nos depara — ‘ora inculeado pela doutrina,* ora consagrado na propria Jei® — @ o da extensibilidade da auctoritas rei iudicatae. ‘Sempre que seja apta a fazer coisa julgada também para os restantes a sentenga acaso proferida em processo de que par- ticipe, ativa ou passivamente, um tmico (ou alguns) dos po- tenciais litisconsortes, deve concluir-se que, se efetivamente litigam eles em conjunto, a decisio da causa néo pode deixar de ser uniforme em face de todos.‘ E isso porque — con- soante se expés* —, do contrério, poderiam formar-se, para cada um dos litisconsortes, duas coisas julgadas contradité- rias. A explicagao inscreve-se, pois, em plano puramente pro- cessual. ‘A validade de semelhante raciocinio — abstraindo-se, por ora, de outras consideracdes — repousa obviamente sobre a existéncia, no ordenamento positivo, de uma série de normas que estendam a terceiros, em termos categéricos, a autori- dade da coisa julgada nesta ou naquela hipdtese. O direito patrio 6 excepcionalmente o faz, ao menos expressis verbis @ 37 Conforme demonstrado acima, ns. 75 € 76. 38 Como na Alemanha (v. n° 11) e na Austria (v. n.° 25). 38 Codigo hiingaro de 1911, § 80, 2% hipétese (cf. supra, n° 33). 40 V. a expressiva formula de Scuwas, Die Voraussetzungen der notwend. Sir. Gen, cit,, pag. 180, j4 transcrita em a nota 18 a0 ne 11, acima, 4iV. supra, n° 11 ¢, af, nota 16. . 42. Assm no art. 18, 1 parte, de Let no A700, de 29: 6.1005, que regula o processo da’ aco popular constituclonal. Ai, teria ca~ Dimento — 0 que ndo quer dizer necessariamente que bastesse para DIREITO BRASILEIRO. (VIGENTE) 139 — muito embora, ao contrario de outras legislaces, ® tam- pouco nele se depare regra expressa que restrinja as partes e a seus sucessores 0 circuilo subjetivo de atuacao da res iudi- cata. Seria temerério assentar em tal base a construgao dog- matica do litisconsércio unitario. © que legitimamente se faré — néo, porém, no quadro do presente estudo, que tem objeto perfeitamente definido — 6 tirar provelto dos resultados a que naquela construcio por- ventura se chegue, para empreender a reviséo critica dos prinefpios tradicionalmente adotados, entre nés, em matéria de extensao subjetiva da coisa julgada, Mas aqui nao nos podemos permitir tao sensivel desvio de rota. ‘Tentaremos apenas extrair do que foi exposto jos titeis & compreen- a0 das relagdes reciprocas entre litisconsdrcio unitério e ex- lidade da res udicata, na esperanca de projetar com isso alguma luz sobre 0 mecanismo intimo do nosso instituto. 80. Que razéo de politica legislativa induz 0 ordena- mento a tornar extensivel a terceiros, em certos casos, o vin- culo da coisa julgada? Porque, se B e C se mantiveram alheios a0 processo instaurado por A’ou contra A, hé de aleangé-los, a auctoritas rei iudicatae da sentenga que para A se profe- riu? A explicacdéo sé pode ser uma: aos olhos do legislador, as posicdes juridicas de'B e’de C, em relagao a res in iudicium deducta, séo de tal sorte ligadas & de A, guardam com esta (e entre si) tao perfeita unidade, que se torna impossivel, pra- ticamente, admitir que se cristalize quanto a A determinada regra juridica concreta, a respeito da matéria submetida & cognicdo judicial, sem que a mesma regra se aplique a Be a C. Como as trés posicdes tém de ser iguais, se se discute em juizo sobre uma delas, a solucdo valera necessariamente para todas. Por isso, aos juizes de eventuais processos futu- Tos, que B ou C instaurasse, ou que o adversario de 4 instau- rasse contra B ou C, jé nao thes sera Ifcito examinar a con- trovérsia, mas deverao abster-se de julgar; do contrario, talvez chegassem a diversa conclusio, e ter-se-ia quebrado a indis- pensavel uniformidade. Ora, pode acontecer que B e C (ou qualquer dos dois), em vez de permanecerem estranhos ao processo, dele partici- Mo . Litisconsnc1o UNrTiRIO pom junto com A. Os motivos que impunham a regulamen- taco homogénea das posigdes juridicas individuais, na ou- tra hipotese, & evidéneia subsistem nesta. Logo, tem-se de assegurar 0 desfecho uniforme do proceso conjunto; a de- cisdéo de mérito obrigatoriamente trataré do mesmo modo os litiseonsortes. Mas 0 teor do julgamento vé-se em boa medida influen- clado, ou até predéterminado, pelo comportamento das par- tes. Tal cireunstancia pée em perigo potencial a consecugao Gaquele resultado. Nada garante, a priori, que 4, B ¢ C, li- tisconsorciados, vio comportar-se exatamente de igual ma- nelra durante todo o feito. 4 talvez seja diligente, enquanto 0s outros dois se omitem. Estes podem contestar e aquele reconhecer a veracidade de fatos alegados pela parte contré- ria. Dois recorrerao, ao passo que o terceiro preferira aceitar a decisio desfavoravel. E assim por diante. Dai a necessi- dade que surge para a lel, em casos tais, de imprimir disci- plina peculiar & produgdo dos efeitos des atos ou omissdes que os co-litigantes acaso pratiquem, a fim de neuéralizar, em suas repercussdes no julgamento da causa, as eventuais divergé: e contradicées. Eis as razdes de ser, a um s6 tempo, do litisconsorcio unitdrio e do regime especial a que ele se subordina. 81. A luz'das precedentes consider: a equivaléncia funcional entre extensibilidade da coisa jul- gada e litisconsércio unitério. Trata-se, na realidade, de dois expedientes, de duas técnicas distintas a que recorre 0 legislador para eliminar o risco da quebra de homogeneidade na fixacdo da disciplina a que ha de obedecer a situacéo ju- ridica pluri-subjetiva. Visa-se, sempre, ao mesmo resultado, atingivel por meios diversos ¢ complementares, sem que s¢ exclua, aliés, 0 emprego cumulativo de ambos os métodos. Com efeito. Se uma das situacdes unitdrias a que nos referimos ¢ submetida a cognicao judicial, pode suceder que: @) todos os co-interessados participem do processo, ou porque se vejam forgados a fazé-lo, on simplesmente porque, sem que isso fosse indispensavel, proponham juntos a agiio ou sejam des, fica bem clara adjetivo por outro, 'no texto alloriano, permitir-nos-ia subserever.@ maior parte das cintilantes observacGes do processuallsta peninsular. DIREITO BRASILEIRO (VEGENTE) Mit demandades em conjunto; b) um s6 dentre eles figure, ativa ‘ou passivamente, no fei ©) parte deles esteja presente e je especial os interessados que se litisconsorciaram, a fim de assegurar que para todos esses sobrevenha igual re- sultado; 2%, ampliar aos demais o resultado homogéneo so- brevindo, submetendo-os ao vinculo da auctoritas rei iudi- catae. Nesta hipdtese, aliés, 0 emprego da segunda técnica pressupée a utilizacao eficaz da primeira: se a sentenca pu- desse definir heterogeneamente as posicdes individuais dos litisconsortes, qual das coisas julgadas contradité: tenderia a0(s) co-interessado(s) estranho(s) ao feito? 82. Ante a visdo global desse panorama, ressalta a in- ia do critério dominante na moderna doutrina ger- Ele nao apenas se harmoniza mal com o direito po- sitivo brasileiro, #* sendo que, ainda de um ponto-de-vista pu- Tamente tedrico, se revela insatisfatério a mais atento exame. # sem diivida engenhoso e formalmente correto 0 racio- cinio que o sustenta. De fato: se a coisa julgada da sentenca proferida em face de A também vincularia B, e vice-versa, Posto que A ¢ B litigassem separados, a sentenca proferida em face de ambos, quando litiguem juntos, tem de traté-los de maneira uniforme, sob pena de acarretar a formacao de res iudicatae contraditéri sas. Essa atitude doutrindria vé mais a sintomatologia que a etiologia; deixa na sombra a existéncia de uma razdo pro- funda que ministra a explica¢ao comum dos dois fendme- nos: a extensibilidade da coisa julgada e a unitariedade do litisconsércio. Se, como esperamos haver demonstrado nos itens ante- riores, ambos constituem efeitos, ou manifestagdes vistveis, de uma tinica e mesma causa, nao se avanga muito quando 45 Cf. supra, n° 79, e 0 que se observa no pardgrafo fi item, 142 Lmiscowsércio uNrz4Rro se pretende explicar um deles pelo outro. O que mais im- porta é encontrar a explicacdo global: remontar ao tronco uno, em vez de simplesmente passar daquele para este galho. Ademais, 0 critério sob exame é imprestavel para os casos de litiscons6reio unitario ¢ necessdrio. Aqui, realmente, nao havendo sequer a possibilidade de proferir-se sentenca’ defi. nitiva em processo de que participasse um sé dos co-interes- sados, cai por terra a premissa: como partir da extensibili- dade a B da coisa julgada de A, e vice-versa, se nem A nem ia em condigées de obter, sozinho, decisio sobre 0 mé- A cabal explicagdo, tanto da unitariedade do litis- consércio, quanto da extensibilidade da auctoritas rei iudi- catae, relaciona-se com as caracteristicas — ou, mais exa- tamente, com uma peculiar caracteristica — da situacio ju- ridica substancial a que se hé de aplicar a regra concreta formulada na sentenca definitiva. Por situacao juridica subs- tancial entende-se aqui um conjunto de posigées juridicas individuais, consideradas do ponto-de-vista de suas relacoes com a res in iudicium deducta e com o pedido. Nao se tra- tard necessariamente de uma situaeao regida pelo direito ma- terial: notéria a existéncia de processos em que a questao de mérito tem de ser resolvida & luz de normas de direito Processual.#? 46 No sistema tedesco, a objegio cederia & vista do fato de aue o § 62 da Z. P. O. distingue dois grupos de casos entre os suleltos a0 regime especial, destacando expressamente, para formar um delos, 88 hipdteses de litisconsérelo necessirio (—Indispensavel) (ef n° & aclma). Apenas em relagio ao outro grupo € que se cogitaria da. iidade da coisa julgada como suposto da unitariedade; isconsoreiais, ter-se-ia dé Ia imprescindibllidade da nota 2 a0 n° 6). Entre nos, porém, a » porque — con tantas vezes 14’ se itisconsoreio no importa, por si 86, unitarledade: 0 art. 90 do Codigo de Processo Civil supritnit & ela. sula “oder ist die Streitgenossenschaft aus einem sonstigen Grunde eine notwendige” 47 V. 9» 0 fudtetum reseindens na ago reselsérla fundada em Impedimento, incompeténel infragdo de iiteral disposi Civil, art. 798, 1,4, De TIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) a3, Quando a situacdo juridica substancial é pluri-subjetiva, isto é, abrange mais de duas posi¢des juridicas individuais, ea seu respeito se liti se no feito nao pode as vezes deixar de produzir-se a um s6 tem- po e de modo igual para todos os titulares situados do mesmo Jado. Isso decorre da maneira pela qual essas posicdes juri- dicas individuais se inserem na situacdo global, Semelhante insereao 6 uniforme e tem de manter-se uniforme sob pena de tornar impossivel a subsisténcia da prdpria situacdo glo- bal. Dai haver entre as varias posigGes individuais uma vin- culacdo téo intima que qualquer evolucdo ou sera homogé- nea ou impraticdvel. Convém deixar bem claro que tudo isso precisa ocorrer na perspectiva do particular efeito que 0 desfecho do pro- eesso hé de produzir sobre a situacdo juridica substancial. Nao é necessairio que as diferentes posigées individuals nela. se insiram de maneira uniforme sob todos os aspectos. O que se tem de levar em consideracio 6 a uniformidade no(s) ponto(s) sobre que deve incidir a regra juridiea concret se ordena a atividade cognitiva do jui Se por tal prisma séo iguais ¢ interligadas as posicdes juridicas individuais de dois ou mais sujeitos, entdo essa re- gra conereta necessariamente os atinge.a todos com idéntica eficdcia. Por isso tem de possuir o.mesmo teor para os que figurem num dos pélos do proceso (unitariedade do litiscon- 4 Dai conceber-se perfeitamente que, ainda no tocante @ mesma situacdo Juridica substancial, wena _possa reve Togéneo para os co-titul possibilidade fleara a ‘20 passo que noutro excluida. © que o pedi podem deixar de guardar) homogeneidade em sua insercac na. tuacdo global, enquanto no primeiro concerne a ponto em que tal homogeneldade, se existe, ¢ acidental e irrelevante. A caracterizacao do litisconsdreio como wnltario ou comum dependera fundamental- iz, mas também — e sobretudo — do ales no 4657, de 4.9.1942, art, 15, a, b, @ ¢: +, 212, 1,"11 e Ti) ; embargos & execucao art, 1.010, f e 11); mandado de segurance al Lei ho 1.683, art. $2, I). contra alo judi ue LiTisconséreto UNrriero s6reio) e aleanga mesmo os que a cle permanecam estranhos, conquanto houvessem podido consorciar-se ao(s) autor (es) eu a0(s) réu(s) (extensio da coisa julgada) .° 84. Sao de ordem prdtica — e no de ordem puramente légica — as necessidades para cujo atendimento a imagina- ao do legislador criou 0 duplo expediente da extenséo da Tes iudicata e da unitariedade do litisconsércio, com seu re- gime especial. De ordem pratica 6, alids, in genere, a finali- dace mesma do proceso como instituto juridico, Vale a pena, assim, insistir neste ponto: a simples conveniéncia de evi- tar uma contrariedade tedrica de julgados nao se reputa bastante para legitimar o recurso a qualquer das duas téc- nicas. & preciso que a regra jurfdica conereta formulada na sentenca nao possa operar praticamente senio quando aplicada as varias posigdes individuais. Faceis de compreender as razdes politicas de semelhan- te limitacdo. A extensio do vinculo da coisa julgada a ter- celros é medida de conseqiiéncias cuja gravidade seria imitil querer dissimular. Apresenta inconvenientes de tal monta, que s6 se podem razoavelmente admitir em nao havendo possibilidade de outra solugéo. A adociio de regime especial Para o litisconsoreio, por sta .vez; importa a consagracéo 49 A extonsio ¢ da coisa julgada (ou, talvex mais exatamente, a efiedcia preclusiva panprocessual da colsa julgada material, se? gundo a terminologia usada por Maciano Gumtatkes, “Preclusao, coisa julgada, efelto preclusivo”, in Hstudos, elt, pags. 18 € segs.), nao ape~ nas dos’ efeitos da sentenca: se os co-interessados alheios ao processo nfo ficassem jungidos aquela, poderiam provocar @ formulacho, para si, de regra Juridica concreta’ de teor porventura diverso, com que estaria quebrada a homogeneldade ¢ tornada inviavel a subsistencia, da situagao juridiea subsiancial global. Esse aspecto nao parece ter merecido a ateneao de i Ww. Effie. ed. autor. del » Da © segs, 103 © sogs.; no os ensalos sobre fugnasione di ta'unico.atto”, in Problemi det processo civtte) e constit, sem aie Vids, uma das deblldades da teoria Nebmaniams, que tanto éxito ver obtehdo entre és, Para uma (hecessariamente suelnta) de alguns pontos importantes, v. os Items ia 14 do nosso parecer pus Dilcado na Rev. dos Trib, ol. 410, pags. 51 e sess, na fev. de Dir’ do tin. Pi, vol. 12, pags, 183.¢ segs. etn Dit. Proc. Civ. — Bris. ¢ Puree, city pags. 281 e segs. DIREITO BRASILEIRO (vIGENTE) 145 de sérias restrigdes A atividade processual das partes coliga- das, ou pelo menos a producao dos efeitos dos atos ou omis- eS que cada uma pratique sozinha. # um mal que se aceita para evitar mal maior, e unicamente enquanto indispensé- vel & consecucdo desse objetivo. No particular, portanto, merece acolhimento, em_tese, a licéo da doutrina alemé,*? ressalvada a possibilidade de discordancia quanto a propriedade deste ou daquele exem- plo com que nela se costuma ilustrar a assereao. Confirma- -se, por outro lado, a inocorréneia de unitariedade no ambi- to do litisconsércio propriamente facultativo ainda quando a decisio da causa 56 dependa da solucdo que se der & ques- ‘tao suscitada sobre o ponto comum (de fato ou de direito) : por certo, do ponto-de-vista logico, impde-se que tal questao seja resolvida do mesmo modo para todos os litisconsortes; mas, como inexiste vinculacio prética entre as varias posi ges juridicas individuais, nao se torna impossivel a atuacao simuitanea de regras concretas divergentes acaso formuladas para cada um dos co-autores ou co-réus. O ordenamento pre- fere toletar essa ofensa a ldgica, vista ai como 0 mal menor. 85. Para verificar se deve ser forcosamente uniforme 0 tratamento dos litisconsortes na sentenca definitiva, tem-se pois de atentar na estrutura da situagdo juridica substancial € no efeito que sobre ela se visa a produzir por meio do pro- cesso. Se as diversas posicGes individuais dos co-litigantes se inserem homogeneamente — ao menos sob certos aspectos — na situagao global, e se o efeito visado se destina a operar sobre algum ponto em que a insergdo é homogénea,? a de- cisio de mérito s6 pode ter 0 mesmo teor para todos eles, € unitario é o litisconséreio. . também, na Franea, a critica de Gros- yrrente jurisprudeneial que estende.o mi, Ia contrartété n'est pas “mais logiqui St V,, supra, n° 71. 52. Bo que sempre ocorre (mas nfo corre somente ai) quando ‘nessa perspectiva, ¢ constante © b% Se a relacdo, em si, ndo eziste, ou deixa de eristir, essa falta, eliminagdo) “do suporte comum’ afetard uniformemente a todos 05 Sujeltos, Gusiueame EsteLiza, ob, elt, pag. 468, revelou intuicao Par- ee wo 6 LITIScONSORCIO UNYTARIO Dai se pode tirar o critério utilizavel para reconhecer-se, processualmente, a ocorréneia da unitarledade. O eixo de re~ feréncia é sempre o resultado pratico a que tende o proceso, A vista do pedido e da causa petendi. Se esse resultado for tal que haja de incidir sobre ponto de inser¢do homogénea dos varios co-autores ou co-réus na situacao juri © litisconsércio sera ativa ou passivamente unitario. 5 A conclusao a que se chega naturalmente traz & lembran- ¢a dois outros critérios com que nos'defrontamos na pesquisa, de direito comparado: o da identidade do objeto do processo, sugerido por alguns processualistas tedescos,% e 0 da impossi- bilidade de executar decisdes divergentes, risprudénc objeto do litigi 53. Na aco proposta por varios credores solidarios varios devedores solidarios, © eventual acolhimento do pedido so em relagao 8 parte dos autores ou a parte dos Susclta por esse prisma. © resultado pré tem de contraditério — 6 a formacto do jade do litisconsércio: ¢f., supra, nota 21 a0 54 Cf, no 12, acima, 55 Cf, supra, n° 59 e, al, nota 41. Clalmente exata a0 escrever que “a relacgo ju ‘que ser resoivida de modo uniforme para todos os ‘quando &6 pode existir ou delxar de existir abrangendo a todos ‘A formula, entrelanto, comportaria retificacao: se a relacao Jui iltigiosa tém por (supostos) sujeltos os cla. ou inexisténcia, como tal, necessari Que ‘porventura ndo.participasse (sequt ferla tegitimacdo passiva para a causa, e quanto a ele ndo se poria © problema da unitariedade. Quanto a subsisténcia, cumpre distin gulr: se o que se discute ¢ s6 a permanéneia de um (ou dos sujeltos no Ambito da relacto, pode nfo surgir qual ma de unitarledade; se esté em eausa, porém, a perman da. relagho pluri-subjetiva, a questo assume Torcosamente outro fr de qualquer socledade que ela s6 pode ir abrangendo todos os sdcios: & claro que fa retirada voluntaria ou a exclusio de um deles, ou do alguns, n30 importa, salvo hipéteses especiais, 2 extincao da sociedade. Mas nao de que, se A, B yromove em julzo a dissolugao da sociedade dos trés, sera ‘unittario (além de necesssirio) 0 litisconsor clo passive entre Be C, ou entre A eC, ou entre Ae B. enie os abrange todos; 0 Supostamente) dela, nso DIRETTO BRASILEIRO (VIGENTE) ut jogar com conceito ainda mal delimitado em sede doutriné- tia e sujelto a controvérsias que por enquanto o fazem, para dizer 0 menos, equivoco; a segunda, em seu teor corrente, é atéenica, por fora da alusio, inaceitavelmente limitativa, & “execugao”.%° A que se propde aqui evita, acreditamos, uma € outra desvantagem, e ministra base solida a construcao dogmética da unitariedade. 86, Nao se objete que o resultado do processo apenas se torna certo com o transito em julgado da sentenca definitiva, e até 14 € impossivel prever em que sentido se tespondera & postulacdo do - Se a objecdo fosse relevante, sem dtivida invalidaria o critério alvitrado, porque a sujeigao dos litiscon- sortes ao regime especial ou ao comum necessariamente pres- svpde que, desde 0 inicio do feito, tenha o juiz como saber se 0 litisconséreio € ou no unitario. Pode-se, com efeito — e 0 direito positivo, aqui e alhures, oferece exemplos ilustrativos —, preceituar a extensio da coisa julgada secundum eventum titis, muito embora tal opedo de politica legislativa envolva a aceitacdo de conse- “uerajt der Beschaffenkell des. streitigen. Rechisvérhditnis~ serta no § 14 da respectiva Ordenac: ta 14) —, 6 evidente que dela nao se. extr preciso de ‘ieagio dos casos de unitarledade. POLAK, ob. ta-se a indlear mela dizia de exemplos, sem tentar recer 0 traco comum profundo que os une. Mas a questo jo mal colocada, porque a exigéncia de tratamento uni~ ocorrer em relacao a situagoes juridicas regidas pelo menos para 6 nosso direito: a de que @ unitarledade repousa sobre @-comunhao dos poderes de administragso e de disposieao do objeto , quand® nada pelo prisma da sua aplicabl- a ai a io, ¢ ainda a de que a seu ver o efeito uniforme da sen hos aludidos casos, € mero coroldrio da forgosa litisconsorciacao (cf nota 19 a0 no 25, supra). As normas de direito processuat que Hotz Hanmer aponta como basiantes para fundamentar litisconsércios uni- tarios (v. ob. elt., pag. 97, e ef. nota 17 a0 n° 25, acima) sao na verdade, em priméiro piand, regras impositivas de demands conjunta: a unltatiedade seria, ai tainbém, pura consequéncia da necessarie- us Lariscoxséncto UNrTARIO qiiéncias pouco desejaveis: realmente, se a auctoritas rei i- dicatae 36 vincula os co-interessados quando julgado proce- dente 0.pedido, exsurge o risco da formacao de coisas julga- das coniraditérias entre as mesmas partes." Em todo caso, a solucdo é adotavel, e tem sido adotada. Ao con nin- guém conceberé por um momento que a lei condicione a0 eventum litis a unitariedade do litisconséreio, ou seja, a in- eidéncla do regime especial. T4o clamoroso seria 0 absurdo, que nem vale a pena alongarmo-nos ao propésito. Na verdade, porém, quando as posicGes juridicas indivi- duais se inserem de maneira homogénea na situagao global, em relacao a determinado efeito que sobre ela se pretenda operar, essa homogeneidade necessariamente subsiste em re- lac&o ao efeito contrario. Dai ser indiferente o resultado do processo: quer seja o pedido julgado procedente, quer impro- eedente, a regra juridica concreta formulada ‘na sentenca tera de aplicar-se de modo uniforme a todos os interessados. Se, por exemplo, 4 e B, co-legitimados & impugnacao do mes- mo ato juridico, propoem juntos a a¢ao anulatéria, tanto faz dizer que ndo se pode invalidar 0 ato sendo para ambos, como dizer que s6 para ambos pode ele ser declarado valido — e portanto subsistente. Séo como duas faces de uma tinica moeda. Assim, a impossibilidade de prever-se que resposta 57 Por exemplo: se os sécios A e B, separada e sucessivamente, aclonam a sociedade para pedir, pelo mesmo fundamento, a anulagao de deliberacdo da assemblela, e's 0 segundo tem éxito, a admitir=se, por dido) adquira a auctorit lagdo a A ter-se-A0 a col © ato (no proceso instai gada da sentenga que o anulou (no proceso Tesultado muito feio (ein sehr unschones Eri Scuwas, Die Voraussetungen der nolwend. Str. Gen., elt, Dag. 279, mas inevitavel diante de regras como, v. g., a do art. 248 setz de 6.9.1965. O legislador patrio inteligentemente conjurou ho art, i8'da Lei n® 4717. ‘a sentenca produz coisa julgada erga omnes quer acotha quer rejeite o pedido, salvo quando, nesta segunda hipétese, se funde na “deticiéncia de prova”; em tal caso, porém, ‘Sequer para o autor, a quem de nova prova”. A soluedo é vantajosa por mais de um ponto-de-vista e merece ampliacao, de lege Jerenda, As espécies andlogas, Cf, o item 22 do nosso parecer citado em a nota 49 20 n° 83, supra. DIRETTO BRASILEIRO (VIGENTE) 149 dard ao pedido o juiz em nada influi para descaracterizar 0 litisconsércio entre A e B como unitario, nem por conseguinte {lo ao regime especial. A eventual resposta ne- nao menos que a afirmativa, ha de produzir efeitos icos em face de A e de B. 87. Em diversas ¢ notérias hipéteses, atribul a lel a mais de uma pessoa legitimagao (extraordindria) para, autonoma- mente, discutir em juizo relacdo juridica ou status alheio. para nos cingirmos a dois exemplos, entre tantos ou- qualquer interessado” pode pleitear, no biénio, a de- claracao da nulidade de casamento contraido perante auto- ridade incompetente (Cédigo Civil, art. 208, parégrafo ini- co, n° I); “qualquer acionista” fica habilitado a promover judicialmente a responsabilidade civil do diretor da sociedade por aces, pelos prejuizos causados ao patriménio social, des- de que a propria sociedade nao exercite a acio dentro dos seis meses subseqiientes A primeira assembiéia-geral ordiné- ria (Dec.-lei n® 2.627, de 26-9-1940, art. 123) Ora, tais legitimados extraordindrios, pelo fato mesmo de o serem, nao se inserem de modo direto na situagao juri- dica substancial. Nem os tera como destinatarios a norma juridiea conereta que na sentenca definitiva se venha a cor- . Expressiva, nesse sentido, ¢ alids a diccdo do se- sitive legal supramencionado, em cuja 2* alinea se Ié que “os resultados da aco de respons neficiarao o patriménio social”, e no o patriménio individual do acionista, a quem a sociedade apenas deverd indenizar das despesas feitas no seu interesse. Em semelhantes easos, portanto, 0 lao que prende a si- tuagéio juridica substancial as posigées subjetivas dos co-le- gitimados extraordindrios — abstraindo-se aqui das razées de politica legislativa que Ihe tenham inspirado a criagéo é formalmente comum a todos eles e consiste sempre na po: bilidade, que a cada qual se reconhece, de agir em juizo nomine’ proprio para obter providéncia ‘destinada a surtir efeitos em face de outrem. Desse ponto-de-vista, a insercio das varias posigdes individuais dos co-legitimados extraor- dinarios na situacdo juridica substancial seré invariave mente homogénea. O resultado pratico a que tende 0 feit ha de produzir-se — positive ou negativo que seja — sem- pre com © mesmo aleance, sobre os titulares da relacéo ou 150 Liriscons6ncio uNrrAe10 status litigioso. Tanto faz que no processo figure um tinico dos co-legitimados extraordinarios, ou al; . Dai a regra que se pode enut consércio entre co-legitimados extraordindrios é unitdrio. 88. 0 efcito que através do processo se visa a produzir sobre a situacao juridica substancial pode incidir apenas parcialmente em ponto(s) de inser¢do homogénea das posi- Ges individuais dos litisconsortes. E dbvio que, nesse caso, a unitariedade do litisconsércio ser também parcial, limi- tando-se & area (objetiva ou subjetiva) onde se manifesta aquela homogeneidade. Concebem-se duas hipéteses: 1%, em relacio a parte do pedido, ou a algum (ou al- guns) ‘dos pedidos cumulados, 0 efeito visado € necessaria- mente uniforme para todos os co-autores ou co-réus, sem que o seja quanto ao restante: unitariedade objetivamente parcial. Exemplo: na acéo redibitéria proposta contra os ex-condéminos ‘pro indiviso que venderam a coisa defeituo- sa, nao pode o juiz-desfazer o negécio s6 no tocante a um dos réus sem desfazé-lo igualmente no tocante ao outro; mas, decretada que seja a Tedibicéo, se um tinico dos alie- nantes conhecia 0 vicio, ser condenado também em perdas e danos, ¢ 0 outro somente a restituicéo do valor recebido e das despesas do contrato (Cédi I, art. 1.103) ;58 28, em relagdo a parte dos litisconsortes, o efeito vi- sado é’necessariamente uniforme para todos, sem que o seja, quanto aos outros: unitariedade subjetivamente parcial.” 58 J Repmvms, no prefacio a reimpressa ‘elt., pag. XIX, referindo-se aos casos em que o per lutte te parti stesse una unica convinione e quando giunga a dovra emettere per tutte una untea decision”, ‘conseguenze secondarle, quali possono esse- cit,, pag. 179, 20 qual nao escapou a possi na'sentenea, “it passaggio da una disci primaria di un certo contenuto ad'una disctplina sanzionatoria di ). V. ainda em Mo- 59 Como se 1é em Wourr, ob. cit., pig. 125, glich, dass ein Teil der in einer Klage genannten Streitgenossen lunzertrennlich, der Rest einfach oder nur unter sich unzertrennlich DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) 151 Exemplo: na ago demarcatéria, os lindes do imével sé po- dem ser fixados de um determinado modo quanto a cada qual dos iméveis confinantes, embora o sejam com total autonomia fem Telagao aos outros; a decistio pode ser heterogénea em face dos proprietarios dos diversos iméveis confinantes, mas sera forcosamente homogénea para os condéminos pro indi- viso de um deles. A natureza parcial da unitariedade tem importantes con- seqiiéncias praticas. Como 6 intuitivo, em casos tals 0 re- gime especial s6 incidiré na medida em que haja de ser uni- forme a solugao do litfgio. Os atos ou omissées que por esse Angulo nao interessem submetem-se ao regime comum. Pode ‘0 fenémeno’ assumir grande relevancia pratica, por exemplo no que toca com a extensio (ou nio), aos litisconsortes, dos efeitos do recurso por um s6 interposto.° @ Sublinha o ponto Moreau, ob. clt., pag. 276. Cf. infra, nota 178 (parte final) ao n° 130. oo ist ( também possivel que parte dos litisconsortes num processo ‘Sejam unitarios, € os restantes comuns ou apenas entre si unitarios) ". Cf, Rosensenc, ob. cit,, t. IT, pag. 104, IV — REGIME DO LITISCONSORCIO UNITARIO 29, 0, on 92, 93. 94, 95. 97. 98. 99. 100, 102, 103. 104. 105. A) Parte gerat Regime comum e regime especial do litisconssr- A formula da representacie © sua origem Critica da formula do ponto-de-vista tedrico, da_férmula do ponto- agi). ita tesrico © ea da formula do ponto-de-vista prético. ‘As formulas da representacio ficta © da substi- tuigdo procescual! critica, Compo: ymentos _determinantes ¢ comportamen- sativos das: pa © problema da dive determinantes no. pros Solugses concebiveis Constructo dogmatica dae Diretriz fundamental para a textos legate, Exame dos di - 90. Aplicago ae hipsteses nfo expressamente regu ada. Enunclagae do principio geral relevan; ‘Tavoravele da distingzo entre comportamentos © comportamentos “desfavoraveis”. DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) 153 muito pouco provavel que o legislador processual ido consciéncia clara € global da proble- matica especificamente relacionada com a unitariedade do litisconsoreio. Nem por isso é menos certo, em todo caso, que ele sentiu a preciséo de fixar, para determinado tipo de’ pro- cesso litisconsoreial, disciplina distinta da aplicével, em linha de principio, as relacdes dos co-litigantes entre sie com a parte contrétia. Mais ainda: 0 teor do art. 90 revela, no es- Pirito de quem o redigiu, sendo a compreensdo nitida'e ama- durecida — que s6 poderia descansar sobre 0 exame critico em profundidade do modelo inspirador, o § 62 da Z.P.0. alema —, quando nada a induiedo de que as graves restrigdes impos- tas a autonomia dos litisconsortes se legitimavam sempre e apenas pela necessidade de assegurar, de meritis, a emissio de pronunciamento judicial homogéneo, abstracdo feita de quaisquer outras circunstancias, em particular a de ser ou nao indispensdvel a presenca simultanea de duas ou mais pessoas no pélo ative ou no pélo passivo do processo. A dois regimes diversos pode submeter-se, pois, no siste- ma vigente, 0 litisconséreio. Comum € o regime caracteriza- do no art. 89 do Cédigo de Processo Civil, segundo 0 qual “os litiseonsortes serio considerados em suas relagées com a parte adversa como litigantes distintos e os atos de um nao aproveitarao nem prejudicarao aos demais”. A doutrina * cos- tuma referir-se, nesse contexto, ao principio da autonomia dos litisconsortes, sendo alids ‘evidente que tal expresso, quando necessdrio 0 litisconséreio, tem de entender-se cum grano salis: os litisconsortes necessarios ativos sio forcados @ propor em conjunto a aco, e os litisconsortes necessarios passivos devem ser todos citados para contesté-la, sob pena de, num caso e noutro — salvo integragao do contraditorio por iniciativa do juiz (art. 294, n° I) —, tornar-se inviavel a apreciacdo do meritum causae, por defeito de legitimacao das partes, © 61 V. g., José FRepenico Marques, ob. olt., vol. 1, pag. 242: Amanat Sanz0s, ob. cit., vol. IL, pags. 17-8; Vatpémar Makis pe Our” vera Jn, ob. cit, pags. 264-5; Gurtutzeme Esrevita, ob. cit, pag. 364, 62 ‘Cf. exposto acima, na parte final do n.° 2. Vale a pena observar, de passagem, que io préprio Utisconséreio facultativo nko prevalect em termos dbsolutos 4 consideragao dos co-autores ou co- é V,, DOF exemplo, o art. 30 do Codigo genericamente apliedvel a qualquer litisconséreio. 154 LITIscons6xcIo UNTTARIO A regra do art. 89 1 de “disposigéo em contrarik © regime especial, * verbis dido algum prazo, serio representados pelos demais”. ‘Iva logo de inicio a existéncia 90. A formula adotada pelo legislador patrio, consoan- te mais de uma vez ja se registrou, corresponde quase literal- mente, no particular, A utilizada no § 62 da Ordenacao tedes- ca. La e ca, 86 se cogita expressis verbis de comportamentos omissivos, por parte de alguns dos litisconsortes, suscetiveis, de por em risco a imprescindivel uniformidade da sentenca definiti jusdo & revelia, no tex- cimento a uma audiéneia. Em ambos os recorre-se ao mesmo expediente para preexc cias indesejéveis daqueles comportamentos omissivos: con- sideram-se “representados” os litisconsortes omissos pelos comparecentes ou atuantes. » Seguiu portanto com fidelidade o Cédigo de 1939, na ma- térla, a orientacao firmada no primeiro dos grandes estatutos processuais germAnicos dos tempos modernos. Nao se acos- tou ao padrao austriaco, de que preferira aproximar-se, rece- bendo-Ihe a concepefo dos litisconsortes unitarios como “par- te unica”, o Cédigo baiano de 1915; nem se contentou em preceituar com maior simplicidade, & semelhanca da lei hin- gara, a extensio, aos outros co-litigantes, dos efeitos dos atos Praticados pelos’ diligentes. Cabe sublinhar esse retorno fonte primitiva, especial- mente no que tange & escolha do remédio julgado apto a atender a ratio legis. A idéia da “representacao” dos litiscon- sortes omissos pelos demais fora, na verdade, desprezada em todos os textos anteriores que entre nés vigeram: 0 préprio Cédigo paranaense, que noutros pontos acompanhava tao de perto o paradigma’alemao, neste houve por bem deixé-lo de lado. 6 $6 nos Anteprojetos de 1932 e de 1936 ® viria a ressur- ©3 Quanto ao art, 816, v. infra, no 113, @ ef. 0 que ja escre- veramos no art. O litise. ¢ sew duplo’ regime, ‘elt., ns. 1 e 5, onde se acham firmadas, em termos sintéticos, as bases da elaboracio a que Se ha de proceder, com maior desenvolvimento, neste trabalho, 6 Cf, supra, n° 64, 65 Cf, acima, no 65. © Cf, supra, n° 66. DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) 155 gir a formula afinal consagrada no estatuto nacional ainda em vigor. Ela rende ensejo, como se passa a mostrar, a graves objecoes, tanto do ponto-de-vista tedrico, quanto do pratico. 91. De acordo com ligdo tradicionalmente repetida pela doutrina, nota caracteristica da representacdo é 0 fato de uma pessoa praticar ou receber atos jurfdicos em nome de outra. ® Os autores, em minoria, que ndo consideram bastan- te esse traco, ou francamente ihe negam relevancia, acen- tuam, em todo caso, que o representante deve agir contempla- tione domini, isto é, no interesse do representado e com o obje- tivo de fazer’ surgir diretamente para este os efeitos do ato. # certo que se tem falado de uma “representacdo indire- ta ou mediata”, na qual nao s6 age o representante em nome proprio, mas também se produzem os efeitos do ato, de inicio, em sua esfera juridica, tocando-Ihe num segundo momento, 97 Tao difundido o ensinamento, que a rigor se tornam supér- fluas citagoes. Entre nés, v. por todos Powres pe Mix representante quem del negozio giuridico, pags, 573 che chi agisce per conto altrut Gestinatario (C) come uno che ma di altra persona determinata (A) ossia agisea in nome di quell’altra persona” (gri~ Murreis, Die Lehre Ito da_representacao, do negéeio se pro- duzam nao em sus pessoa, mas na do dominus (der Wille des Stell- vertreters, dass die Wirkurgen des Geschafts nicht in seiner Person, sondern in der des Dominus eintreten sollen)”. Modernamente, PU- Guiart, em varios de seus Stud! sulla rappresentanza, da Televo & tal aspecto, reputando insuficiente o elemento puramente formal do “agir em nome alhelo”: v., por ex., Dégs. 109-10, 243-4, 402, 520-1, Para Poresco-Rawiceano,” De la’ représent juridiques en droit comparé, 0 requisite do Pode faltar sem que por isso deixe de haver representacio: pensavel, 20 contrario, é a intenedo de produzir efeitos diretos sobre a esfera juridica do representado: v. pags. 246. e segs. ao direito francés), 393 e segs. (quanto ao alemio} cante a0 suico). Alm dessa ¢ a concepeao de Nerrt, La rappresen- tanza nel diritto privato moderno, passim, espec. pags, 200, 218, 225. von der Stelivertretung, pag. 138, como req) “a vontade do representante de ‘que os efe' 158 uimisconsénero usztinro: por forca da relacio que o liga ao representado, transferi-los para este. A opiniao sem sombra de diivida prevalecente, contudo, recusa foros de cidadania a tal figura no dominio da verdadeira representacao.” Ora, para.a incidéncia do regime especial previsto no art. 90, sobre ser totalmente irrelevante a vontade do(s) li- tisconsorte(s) omisso(s),”" também o é a existéncia ou ine- xisténcia da contemplatio domini por parte do(s) diligen- te(s). Pouco importa que este(s) atue(m) nomine proprio, tenha(m) em vista 0 seu exclusivo interesse e pratique(m) atos processuais sem a menor intencfo de gerar conseqiién- cias inclusive para 0(s) outro(s), ou até sob expressa decla- racao de nao querer(em) tal resultado: os efeitos, na medida 62 V. em Sontossmann, Die Lehre von der Stellvertretung, I, pigs. 84 © segs, 0 confronto entre as figuras da “representacdo indireta” e da “representagao direta”, nos termos em que se costi- mava formular a distincdo, e que esse autor, allds, rejeltava (v. 0 que o representante age, como reza o ¢ 164, 1 alinea, (cf. EXNeccenvs, in Exweccenus-Kier-Wotrr, Tra~ T, vol. Il, pag. 248; Larenz, ob. elt., pag. $84; igemeiner Feil, pig. 289). 7 Assim, entre tantos outros, Poresco-Ramnicrano, ob. t. IIT, pags. 235-6, 244-6 Ortaxno Gonus, Iniroducdo ao %. G4 Catota Fenaana, 10 negoxto giuridico nei jano, pags. 681-2, 7 Como frisava MexEsTRINA, ob. cit, pag. 229, nem mesmo a rensincta expressa dos litisconsortes revéls A extensio subjetiva de ito ‘alemao, ¢ bem assim para o brasileiro (com reserva rente se deve entender que os efeitos qual, nao obstante, adota o esquema "ef. ‘nota 22 ao nS 27, acima. DIREITO BRASILEIMO (VIGENTE) 187 em que hajam de produzir-se, produzir-se-o de qualquer mo- do, independentemente das circunstancias apontadas. 7 92, Nao se contornariam as dificuldades com a simples observacao de que se trata, no caso, de representagao legal."* Prescinde-se, nesta, da vontade do representado, nao, porém, @a vontade do representante, que tem de ordenar-se, como na representagao voluntaria, & producao de efeitos juridicos sobre a pessoa do representado: a contemplatio doniini & re- quisito comum a ambas as espécies de representacao. Ora, disso néo hé que cogitar na aplicacao do art. 90. Seria ess modalidade bem esdrixula de represen- tagdo legal teresse do(s) suposto(s) re- presentado(s), nem em razao de sua incapacidade, ao arre- plo do que sdi acontecer.” Nao 6, com efeito, ao interesse particular do(s) litisconsorte(s) omisso(s) que acode a dis- 72 Cf, Hexiwis, Lehrbuch, cit., vol. IIT, pag. 187; Rosenerne, ob. cit, t. 11, pag. 112; Lun, Dir. Broc.’ Civ. ted., clt., pag. 814; td, mals extensamente, Die notwend. und die bes. Str’ Gen., cit, pag. Tl, onde fos argumentos expostos no texto se acrescenta © de que 6 litiscon- sorte diligente precisa querer atuar para si, enquanto na verdadeira representagao, a0 contratlo, 6 essenelal “que o representante queita petmanecer inatingldo pelas declaragdes que emite como represen tante (dass der Vertreter von der Erkldrungen, die er als Vertreter abgibt, unberihrt bleiben will)”. Entre os comentadores do Cédigo patrio, Jouce Amenicano sentiu nitidamente a lmpropriedade da for~ mula empregada no ‘art. 90 e procurou esclarece- ver de auténtiea representacao, 0 que se 73 Hotzuammsn, ob. cit, pigs. 48 € fentante legal foreado (gesetai 75 De argumento andlogo valem-se os processuallstas moder- nos (v., por exemblo, LIEBMAN, Proc. de exec. cit, pig. 102) para impugnar a tese da “tepresentacdo” do executado pélo orgao judi rrematacao. Cf. entre tantos, Berti, Teoria gen, del nm Limiscos6rcio UNrT4RI0 pubblico de evitar 0 conflito pratico de julgados. Realmente: porque haveria a lei de tutelar com zelo téo mais intenso o interesse da parte negligente em determinados processos li- tisconsorciais do que nos demais casos de litisconsércio e nos feitos em que o omisso seja o wnico autor ou o tinico réu? Logo se vé que a ratio deve ser procurada alhures. Por outro lado, é claro que a omissdo em atuar no pro- cesso n&o torna incapaz o litigante que 'se omite; e se ele, independentemente dessa circuns| , 0 for, 0 suprimento da incapacidade hé de fazer-se pelo meio proprio, indicado na lei, inclusive por iniciativa do julz (Cédigo de Processo Civil, arts. 80 ¢ 84, § 19): ndo bastaré, é dbvio, a presenca do litisconsorte atuante. Inversamente, sendo éste incapaz, em seu nome estara praticando e recebendo atos processuais © seu préprio representante legal, sem nenhum poder de pro- mover a extensao dos efeitos de tais atos a esfera juridica de outro(s) co-autor(es) ou co-réu(s) 93." Também ao Angulo pratico revela-se por mais de um aspecto insatisfatéria a tese da “‘representacao” dos litiscon- sortes revéis ou omissos pelos comparecentes ou atuantes. Rigorosamente, levaria ela a considerar eficazes para aqueles todos os atos por estes praticados ou recebidos no feito. Ora, tal conseqiiéncia ultrapassaria obviamente os limites compa- tiveis com a ratio legis, que é apenas — convém sempre rel- terar — a de assegurar a uniformidade do pronunciamento judicial sobre 0 meritum causae. Mas, para isso, nao é ne- cessario adotar expediente tao radical; como se vera melhor ido propria,"® s6 quanto aos atos das partes que ten- dam diretamente a influir no contetido da sentenga é que se precisa submeter & disciplina especial a extensdo subjetiva de eficdcia, Ademais, a concepgao criticada esbarra em ébice insupe- ravel na hipétese de, comparecendo e atuando mais de um entre os co-autores ou ¢o-réus (nao, porém, todos), assumi- rem no proceso atitudes divergentes ou contraditérias. Seria ai rematado absurdo considerar representado(s) 0(s) omis- s0(s), 20 mesmo tempo, pelo litisconsorte que contestou e pelo que reconheceu 0 pedido, pelo que recorreu e pelo que 7 Infra, ns. 108 e segs. DINEITO BRASILEIRO (VIGENTE) 159 aquiesceu & deciséio. Impossivel, realmente, admitir a produ- cdo simultanea, para determinado(s) litigante(s! da contestacio’é do reconhecimento, da interposicio de re- curso ¢ da aquiescéneia.”” ‘Nao é tudo. Se sio por um lado excessivos, conforme se assinalou, os resultados a que se chega aplicando com rigor joc de representagio, por outro eles se mostrariam insu- ficientes para evitar, como cumpre, em qualquer emergéncia, a quebra da homogeneidade na solucao do litigio. O risco dé tal quebra pode, com efeito, originar-se ndo s6 do compor! mento omissivo, mas também do comportamento ativo de al- gum (ou alguns) dos co-litigantes, que por exemplo desis- fa(m) do direito postulado, ou réconheca(m) 0 pedido.”* ndo tendo ficado revel, nem perdido prazo, qualquer dos tisconsortes, néo se acharia base, no teor do art. 90, para recorrer ao expediente da “representacdo” dos néo-atuantes pelos diligentes. Todos, por hipétese, atuaram, embora nao no mesmo sentido. & intuitive que a eficdcia dos diferentes comportamentos ha de subordinar-se, em casos ass gime especial; mas a teoria da representagao rev tente para orientar a construcéo dogmatica.” Assim também nos casos em que 0 perigo de solugSes di- vergentes resulte do comportamento nao uniforme da parte conirdria em relagao a todos os litisconsortes — v. g., desis- téncia ou reconhecimento do pedido quanto a um tnico (ow a alguns) dos co-autores ou dos co-réus, respectivamente Fica-se inteiramente fora do Ambito literal do art. 90. E, 77 Resolvia arbitrariamente 0 problema, 20 nosso ver, Heut- any, trab. elt, pag. 15, negando efeito ao alo que prejudicasse os ltisecnsortes. Assistia-Ihe razio em dizer que, se um. tinico dos com- Dareeentes confessa 04 fatos alegados pelo aitor, nao se pode ‘omisso como representado pelo confitente, pois atril gue negou (ou negaram) a veracidade dos aludidos fatos. 78 ponto sera versado com o indispensdvel desenvolvimento em 0 0.0 95, abaixo. 28" y., 0 propdsito, as observacses de Lenz, Die notwend, u. die bes. Str. Gen,, ell do nosso art."90, 86 alude Darecentes; nao & de um comparecente Mestre que aqui necessariamente falha. a “pois ndo se pode justificar a eseolha do presentar os outros (denn es ldsst sich nicht be Streitgenosse es sein soll, der den anderen vertritt) 160 LITIscoNs6ncIo UNITARIO além do mais, deveria porventura entender-se que a vontade do adversdrio'investe do poder de representar os outros 0(s) Utisconsorte(s) por ele escolhido(s)? 94. Como oportunamente se registrou, ®° costuma a dou- trina tedesca, bem consciente dos problemas téenicos susci- tados pela letra do § 62 da Z.P.0,, recorrer a idéia de ficeao juridica: tratar-se-ia, ai, de uma Tepresentacio ficta. Seme- Thante explicacdo, todavia, deixa subsistir as dificuldades de ordem pratica acima indicadas; é, além disso, puramente ne- gativa e nada adianta sobre a verdadeira natureza do meca- nismo criado pelo legislador. Falar em “representacio ficta” € excluir que haja deveras representacao; é, pois, dizer 0 que ‘no ccorre, mas deixando em siléncio 0 que realmente ocorre — € isto, afinal, € 0 que mais importa. Aproximar da substituicdo processual a figura de que se trata! € alvitre que oferece, tecnicamente, vantagem apre- a do superar a’objecao relativa & circunstancia 05 litisconsortes diligentes em nome dos omis- sos. Continuaria a ser verdade, porém, que os atos por aque- es praticados surtem efeitos nao apenas para os “substitui- dos”, mas também para os “substitutos” mesmos, que alias 86 precisam ter em vista, ao atuarem, os seus préprios Além disso, permaneceriam de pé, em face dessa construcdo, ‘0s argumentos de ordem prdtica oponiveis & baseada na idéia de representacao: nao sendo necessaria, & luz da finalidade que se quer atingir, a extensao subjetiva de eficécia quanto a todos os atos dos litisconsortes atuantes, somente dentro de certos limites justificar-se-ia 0 consideré-los como substi- tutos processuais dos outros; se os diligentes adotassem po- siedes discordantes ou incompativeis entre si, nao se saberia a qual reconhecer e a qual negar a qualidade de substituto dos omissos; atuando todos os co-litigantes, talvez em senti- dos contrérios, nao haveria como reputar qualquer deles substituido pelo(s) restante(s). Isso para nao falarmos na ins. © Cf, supra, n° 16, fo yi Come Propunha Heutwic, ob, ¢ lug. cit. em @ nota 29 a0 52 No dizer de Hun.wic, System, cit, vol. T, pig. 345, tal forma, particular de substituicao processual (Prozessstaridsehajt) ‘distingult- ja da comum pela clreunstanela de que nesta a parte age uit com eficdcia sobre relacdo juridica alhela. Ct. Lehrbuch, cit., vol. IIT, pags. 170-1, e supra, nota 29 a0 n° 16, BIREITO BRASILEIRO. (VIGENTE) 161 total imprestabilidade do expediente em relagdo as hipéteses de comportamento nao uniforme da parte contraria perante 0s varios co-autores ot co-réus. N&o parece que o melhor caminho seja o de tentar ex- plicar 0 fenémeno sob exame pelas afinidades, maiores ou menores, que apresente com outros, se os pontos de nao coin- cidéneia’ sdo tantos que o intérprete se vé obrigado, a cada passo, a formular atenuagées e ressalvas. Tal procedimento, Ionge’ de contribuir para a clarificacéo dos conceitos, abre margem, muito ao contrario, des que tudo aconselha a evitar’ Mais vale procurar identifiear os tracos que carac- terizam, no seu proprio e singular modo de atuacao, 0 me- canismo em foco. Para tanto, faz-se indispensdvel uma breve digressao. 95. Partamos desta simples afirmagiio: a0 longo do processo, deparam-se a cada uma das partes (nfo apenas ao réu!), sucessivamente, opedes entre comporlamentos diver sos, a um dos quais, as vezes, atribui a lei o efeito de influir em termos decisivos, no todo'ou ent parte, sobre o modo por que se resolver 0 litigio — ou, em outras palavras, no contetido da regra juridica concreta que hé de disciplinar a situacio litigiosa. Alternativa desse género é, v.9., a) @ que se abre ao réu entre contestar ou néo, se alguma norma legal impde ao julz, na hipétese de revelia, dar ganho de causa ao autor: ‘oferecida a contestacdo, permanece incerto © resultado, podendo o érgéo judicial concluir pela. proce- déncia ou pela improcedéncia do pedido; ndo oferecida a contestacao, ao contrario, fica desde logo ‘predeterminado o desfecho do pleito. Outro exemplo: b) proferida a sentenca de primeira instancia, se o vencido recorre, subsiste a incer- teza, pols 0 recurso tanto podera ser provido como despro- vido, ou nao conhecido; mas se ele deixa escoar in albis 0 prazo de interposicao, a formagdo da coisa julgada cristali- za de maneira definitiva o resultado a que se chegou na cogniedo de primeiro grau. Ainda outro: ¢) se o autor de- siste do direito deduzido, fixada estara a_solucao do litigio; se nao o faz, @ persiste ha postulacao, nao se pode saber a priori qual sera 0 teor do julgamento. Desde logo se observa que o comportamento determinante — assim designado aquele a que a lei confere influéncia deci- siva no desfecho do pleito — ora consiste na prdtica de certo 162 Litiscoxséxcto UxrriRIO ato, como no exemplo ¢, ora na abstengdo de praticé-1o, como nos exemplos a e b. Aos comportamentos do primeiro tipo cha- maremos, para facilidade de exposi¢ao, comportamentos de- terminantes comissivos; aos do segundo tipo, comportamentos determinantes omissivos. A cada comportamento determinan- te corresponde um comportamento alternativo, que nao tem a propriedade de predeterminar, nem mesmo parcialmente, o contetido da regra juridica conereta a cuja formulacao ‘se visa. Alternativo da revelia € 0 oferecimento de contestactio; alternative da omisséo em recorrer é a interposi¢do do re- curso; alternativo da desisténcia 6 0 prosseguimento no pro- cesso. 96. Vejamos agora como repercute o fendmeno deserito nos processos litisconsorciais, A vista da possibilidade, sempre coneebivel, de que um ou alguns dos co-antores ou’ dos co- -réus opte(m) pelo comportamento determinante, enquanto 0(s) outro(s) opta(m) pelo comportamento alternativo, ¢ bem assim de que a parte contréria adote 0 comportamento de- terminante quanto a um ou alguns dos litisconsortes, ¢ 0 comportamento alternativo em face dos demais. Se o litis- consércio 6 comum, ou seja, se inexiste dbice a que a solugéo do litfgio varie de um para’ outro dos co-litigantes, nenhuma dificuldade especial surge nesse plano. Pode sem diivida acontecer que, sendo necessdrio 0 conséreio, nao se admita, no curso do feito, a retirada do co-autor A'ou do co-réu B, sob pena de vir a faltar o requisito da legitimacao ativa ou Passiva, que ja néo estaré satisfelto com a s6 presenga do(s) restante(s) co-autor(es) ou co-réu(s).® O problema sera, porém, de outra natureza; e de qualquer sorte apenas se pord nas hipéteses em que um dos comportamentos divergentes tenha por efeito normal desligar do processo aquele que o haja manifestado, ou em face de quem se haja ele mani- festado. Bem diverso é 0 caso quando, unitério © litisconsércio, se tem de assegurar a todo custo’a uniformidade da regra Juridica concreta que ha de disciplinar a situagdo dos co-li- tigantes. Ora, continua em tese possivel a manifestagao de comportamentos discordantes por parte dos co-autores ow co-réus (um contesta, outro permanece revel; este recorre, 83 Cf, supra, no 2, e infra, ns. 107, nota 105, e 108, DIREITO BRASILEIRO (VIGENTE) 163 aquele no), assim como a manifestagdo de comportamentos discordantes da parte contraria em Telacao a eles (0 autor desiste do pedido em face de um tinico dos litisconsortes pas sivos unitérios, e prossegue quanto aos outros; o réu reconhe- ce 0 pedido em face de um tinico dos litisconsortes ativos unl- térios, e defende-se contra os outros). Torna-se inconcebivel, porém, que aqui se permita a cada um desses comportamen- tos produzir autonomamente os seus efeitos ordindrios; se- ndo, estaria desde logo predeterminado, para este ou aquele ‘igante, wm desfecho com o qual talvez nao viesse a coin © atingido, afinal, no concernente aos demais. 97. Comporta 0 problema, a priori, mais de uma ‘so- lucao: @) estender aos outros litisconsortes os efeitos do com- portamento determinante de um (ou alguns) deles, ot os efeitos do comportamento determinante da parte contréria em face de um (ou alguns) deles; b) recusar (no todo ou em parte) efeitos ao comporta- inante de um (ou alguns) dos litisconsortes, ou ainda no tocante Aquele(s) mesmo(s) jofado, ou em face de quem 0 haja adotado ©) estender aos outros ltisconsortes os efeitos do com- portamento alternativo de um (ou alguns) deles, ou 03 efei- tos do comportamento aldernativo da parte contréria em face de um (ou alguns) deles. A primeira vista, poderia supor-se que a valha perfeitamente & soluedo b. Na verdade. pre se da. Se, por exemplo, um dos dois ugfio ¢ equi- so nem sem- isconsortes uni- tarios recorre da. sentenca e outro deixa de interpor 0 recurso, a simples recusa de eficdcia 4 omissdo em recorrer,* quanto ao litigante omisso, impediria decerto o transito em julgado para este, ao fim do prazo escoado in albis; porém nao bas- taria, por si s6, para submeté-lo ao julgamento que viesse a ser proferido sobre o recurso interposto pelo outro: é necessé- rio que se devolva ao 6rgao ad quem o conhecimento da ma-

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