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58 LITIScONSORCIO UNITARIO tiva, averiguar como é que elas efetivamente se passam: o dado j4 aparece claro, em larga medida, na propria lei, com vantagens que seria ocioso salientar. 7 36. Na 1® alinea do § 80 consubstancia-se a regra da extenséo subjetiva de eficdcia: os atos praticados pelos litis- consortes atuantes, no litisconséreio unitario, produzem efei- tos também para aqueles que tenham perdido audiéncia ou pprazo. Corolario imediato € a exclusio das normais conse- qiiéncias da contumécia, e particularmente a impossibilidade de proferir-se sentenga contumacial, ainda em relacio aos tisconsortes inertes, desde que um’ wnico sequer haja com- parecid ‘A aplicabilidade da mencionada regra sofre duas impor- tantes limitagor a) subsiste apenas enquanto os litisconsortes omissos permanecam tais (1* alinea, fine); isto €: a partir do mo- mento em que entrem (ou voliem) ‘eles a participar da ativi- dade processual, deixam de estender-se-Ihes os efeitos dos atos que os outros pratiquem; >) no abrange a transacéo, o reconhecimento do pe- dido nem a rentincia (2 alfnea). O legislador hiingaro dew aqui solugao expressa a problema que ampla controvérsia ‘tem provocado nos sistemas alemao e austriaco.* Ante a ne- cessidade de preexcluir-se 0 isco de quebra da homogenei- deve entender-se que esses ‘am privados dos seus efeitos Aipicos, inclusive quanto aos litisconsortes que os pratiquem: indispensdvel 0 consenso geral.? 7 Embora, eonforme oportunamente se ressaltaré, a f6rmula da extensio pura e simples de efeitos, consagrada no § 80 ( texto, o Item subseqiiente), nem sempre seja a mais propr! traduzir 0 complexo. modo ‘de atuacao do regime especial aplicavel tula 0 flm pratico a que se ldo, V., a respeito, os ns. 97 ¢ Segs!, abalxo (espec. 88, ‘SCE. supra, ns, 19 ¢ 29) ‘3 Escreyla Epvanvo Espixots, Cédigo de Processo do Estado da Bahia anotado, vol, I, pag. $19, nota 15 (comecada na pag. 318): OQ Codigo hingaro excetua a transacdo, o reconhecimento e a re- miinela. Nao sel, porém, como na hipotese de um litisconsorcio ne- , notas 36 © 37) © 28 (e, al, notas 28 (© cOpIco HONGARO DE 1911 59 37. © Cédigo de 1911 versou também explicitamente ou- tra questo que os precedentes modelos germanicos haviam deixado na sombra. Quando se estatui que os litisconsortes omissos sao atingidos pelos efeitos dos atos dos outros, 0 pressuposto implicito que parece subjazer A diccao da lei é ‘© de que hao de coincidir, no proceso, os comportamentos dos co-autores ou dos co-réus diligentes. Ora, nem sempre é isso que ocorre, e a eventualidade de divergéncias ou contra- ‘igdes suscita dois problemas complementares: 39, sendo impossivel submeter os inertes, simultanea- mente, aos efeitos de atos entre si incompatfveis, como esco- ther, dentre os atos praticados pelos diligentes, aqueles cujos efeitos se devem estender aos otitros? 29, como, para os atuantes mesmos, é inconcebivel he- terogeneidade’no teor da sentenca, e por conseguinte nao se pode admitir que 0 ato de A leve 0 juiz a determinado pro- nunciamento enquanto o ato de B, em sentido oposto, 0 leva a pronunciamento contrario, que se deve pensar da eficécia desses atos, em relacéo aos sets préprios autores? . A posicdo da lei magiar foi claramente fixada na 3¢ ali- nea do § 80: sendo contraditérios ou discrepantes os compor- tamentos dos litisconsortes que atuam, caber4 ao juiz, & vista das circunstancias — levando em conta, naturalmente, os demais elementos dos autos —, determinar a influéneia que 10 Cf. o que se expés, quanto & doutrina alema, em 0 n° 19, fine, com Telagdo & hipétese de um dos litisconsortes unitarios con” - fessar e outro contestar o fato, no tocante & austriaca, em o n.° 29, fa respeito das manifestaces contraditérias simultaneas, Cf. ainda © que se dird, a propésito do direito italiano, em matéria de confissio e de juramenito, em on 44, infra (e, ai, nolas 32, 35 e 36). ‘eessitlo se possam tratar diferentemente o co-réu que confessar e 0 que negar: va sentenca ha de recair sobre ambos com a mesma efl- ‘Pondo de parte a inoportuna alusdo ao litiseonsorelo neces- sdrio (ndo € disso que se trata no § 80 da lei magiar!) e a imp priedade com que Se usava “confessar” no lugar de “reconhecer", B observagio era substancialmente exata; mas a difleuldade ficava afastada pela interpretagao que se expde no texto. Realmente, ou a transaedo, 0 reconhecimento, @ rentincla de um operariam em face de todos, on nao operariam ‘em face de ninguém — nem mesmo, claro, do! que praticasse o ato. O § 80, 2.8 alinea, excluiu a primeira solucko; restava, porém, a segunda, de que EsPivora nfo parece ter cogitado. Cf. abaixo, nota 13-20 n.° 64, 60 uimigconsércto UNrrARI9 i tais comportamentos hao de exercer sobre 0 contetido da de- ciséo. Em outras palavras: os atos em foco, privados da efi- cécia vinculativa que pudessem normalmente ter, sujeitam- -se a livre valoracéo judicial." Fiea sempre certo que a con- viccdo a respeito formada pelo juiz prevalecera para a tota- lidade dos litisconsortes, comparecentes ou omissos. 4 CAPITULO QUARTO DIREITO ITALIANO I — VISaO DE ConJUNTO 38, Prolegdmenos. 39, © ensale de CHrovenDA. 40. A cont 41, Sentido geral da posterior evolugio da doutrina. igi de REDENTT. 38. Em vo se buscaré no direito italiano uma constru- ao sistemAtica do litisconséreio unitério equipardvel & em- i preendida nos paises germAnicos. Explica-o, antes de mais nada, o siléncio do ordenamento positivo, que nfio cogita da i figura; alids, no velho Cédigo de 1865 era extremamente de- \ ficiente a disciplina do litisconsércio em geral, e o desinte- resse da doutrina forjada A sua sombra em explorar certos aspectos da matéria ha de ter contribuido para que, ante a i escassez de sugestées, o proprio legislador de 1940 Ihes tenha negligenciado o tratamento. ‘Sem divida, na fase de renovacdo dos estudes proces- a suais, que tio fundamente marcou a Peninsula apés 0 tour- nant de siécle, idéias e proposices vindas & luz continham os germes de uma elaboracao cujo futuro se poderia conside- rar promissor. E isso com facilidade se compreende se se ti- ver em vista 0 papel desempenhado em tal movimento reno- vador pelo influxo da técnica e da problemitica importadas da Alemanha. Cy LiTIscoNsézcio UNrrin1o A verdade, porém, & que na processualistica italiana a posterior evolucao em ‘grande parte se frustrou. Nao havera, exagero em dizer que, de modo geral, nem sequer se chegou a firmar a perfeita individuacdo do litisconsércio unitario em face do necessario. Os grandes problemas relativos aquele ou ficaram pura e simplesmente ignorados, ou foram tratados como se a este concernissem, com resultados — é natural — pouco satisfatérios. 39. Data de 1904 0 primeiro ensaio de sistematizacéo da matéria publicado na Itélia.t A leitura do texto, de acen- tuada inspiracso germanica, mostra, antes de mais nada, que © autor tinha plena consciéncia da duplicidade de senti em que se empregava a expresso “litisconsércio necessari para designar ora a “necessidade de que varias pessoas parti” cipem de uma causa”, ora a “necessidade de que uma causa seja uniformemente decidida quanto a varias pessoas”. ? Nao The eseapou, também — posto que traduzida em palavras nem sempre tao nitidas quanto seria de desejar —, a percepcao da compossibilidade entre a obrigatéria constituic¢ao do litiscon- séreio e a heterogeneidade do teor da sentenga.? Tera com- preendido, ainda, que a inevitabilidade da decisio uniforme no exigia necessariamente 0 ajuizamento de demanda con- junta; no particular, todavia, a limpidez da exposicao viu-se turvada pelo alvitre pouco feliz de aproximar dois fendmenos 1 # 0 conhecido trabalho de CuzoveNpa Sul litisconsorzio ne tanea dos Studi in onore di Vittorio Sctaloja e depois nes Sagoi di Diritto Processuale Civile, vol. 11, pags. 427 € Seas. 2 Cxrovenna, Saggi, vol. cit., pag. 431. Tratar-se-la de “cose distinte ma, ben s'intends, connesse” —~ sem que, entretanto, se che- Basse a esciarecer em que consistiria, preclsamente, a conexao entre ambas as figuras, 3 Um rapido aceno divisa-se na afirmacéo de, que “a lel po- deria conceder uma exceptio plurium titisconsortivm” (isto é, recla- mar a demanda conjunta) “sem pretender uma decisio uniéa para todos" (Saggi, vol. cit., pag. 435). Mais tarde, registraria 0 autoz, nos Principit, cit, pag’ 1.086, que’as varias demandas dos litiscon- sortes necessirios, “sebbene distinte fra loro, debbono avere al sol (portanto: nem sempre) “un’ unied sorte” (sem grifo no original) Na mesma pauta nao de Insetir-se as referencias — para dizer @ verdade, nao muito claras — feltas na mesma obra (pags. 1078, 1.085) & possibilidade de ser necessario o litisconsércio sé. no mo- mento da propositura da aco, nfo porém no da discussio e deciséo | DIREITO FTALIANO 63 Giversos: a voluntaria co-participagéo, no pélo ativo ou passi- vo do processo, de duas ou mais pessoas, em relacdo as quais se tem de resolver do mesmo modo 0 litigio, e a juncao, im- posta por normas especiais, de processos que dois ou mais legitimados autonomamente instaurassem, para discussao € julgamento simultaneos.* Seja como for, a ténica da elaboracéo chiovendiana re- caia sem diivida na problematica do litisconsércio indispen- sdvel. Tendiam os esforcos do autor, prineipalmente, & fixa- gio de critério rigoroso para a identificacao das hipdteses em que se deveria reclamar a pluralidade de autores ou de réus, Dem como & procura de solugao adequada para o problema. ocorrente quando, numa dessas hipéteses, se proferisse a de- cisdo de mérito, apesar de nao integrado regularmente 0 con- traditério. $6 ém plano secundario preocupou-se ele com os 7 V, Sagi, vol eit, pags. 448-9, 452-3. No primetro caso estaria a impupuacis, ajuteaa em conjunte por dois ou mats sbelos, a de= Hlosragao ‘da issembidla nocial (Codice dé Comtmercio de 1882, art 165, 26 linea) uo sequado, 2 Yeuntao (preceltuada no art, 215,48 alitea, do mesnio aipioma — e, hoje, no art. 2453 do Codice Civile) Gas ‘impugnagoes separadamente oferecidas. por dols ou mats acio- fistas ao “bilancio finate™. Aqui, porém, se." gitdisto & necessaria— Inente unico” (Sagat, vol, et, pdg. 448), no sentido de apreciarem-se hha mesma: sentenga todas as"Implignagées, perteitamente se eancehe, por outro lado, que o ful acolia esta ® sejeite aquela: nao hi, Dols, Bprigatovia, wni{>rmidade, do: teor dw devisho cm face dos diversos Impugmantes ate a_junedo dos processos enlagou em titisconsorela Mubetveniente “0 que corte é outra coisa: a repereussao, na sitwacdo junldice, dos demdls, do eventual ‘acolhimento’ da impugnasao que dualguer cies formule: ¢ isso, pelo simples © dbvio motivo de due Sevtmata de um ratelo ou partiia, A ratio da norms nio se prendia assim ao. propésito. de evitar a quebra da homogeneldade da sen~ enea, mas Inepiravarse —como'a do_precelto final do dispositive (Exlehsko aa coisa julgada fos nclonistas nao. impugnantes). — em Sraem diversa de consideracdes (el. Vioans, Le societa e le associasiont commercials pag. 619). Hoje, 0 art. 2378, 3° alinea, do Codice Civile Sresereve ‘disdipina miéloga’ para ax Impugnacoes ue em separado Se'formulem as deliberaeges da assembleia; amda al, porém, terio Coneorrido para determinar a opea0 do legislador motivos estiwalos So so propésito de assequrar a uniformidade da decisao: v. 2 Tespelto runnkons, Invaliaste delle detiberasiont di assembled @ societd per DAE, 240. De qualquer sorte, inexistiria paridade entre as dns eb hao se resblvendo em argtieges de invalidade as tmpus~ fugoes a0 *bilancio finate’, que “non ¢ in 36 un alto giuridico, ma Somplicemente unoperastone vontabile”, ¢ em face do qual, portanto, Ue pud parlare solo Werrore, d'imperfetia tmpostasione. ¢ compile alone, ma non a nulite” (Someta, Ea tiguidasione delle socteta commercial, pag. 152) a LITISCONSORCIO UNITARIO| Possivels efeitos, sobre a disciplina dos atos processuais, da necessidade de assegurar-se teor uniforme & solucdio do li- igio.® Aliés, com 0 correr do tempo, parece haver-se distancia- do cada vez mais o pensamento chiovendiano da tematica especifica do litiscons6reio unitdério. Nas obras posteriores, a qualificagéo de “necessério” surge aplicada ao litisconséreio apenas com referéncia aos casos de demanda obrigatoriamen- te conjunta,? ou aqueles outros em que, nao obstante admi- tir-se a propositura autOnoma de acdo por qualquer dos co- Br ados, deviam reunir-se, para discussdo ¢ decisio si- multaneas, os varios processos eventualmente instaurados. 7 obrigatéria uniformidade da sentenga em processo cons- ido ab origine com a co-participaciio, puramente volun- de duas ou mais pessoas, nao mais se cogitou, 40. Poucos anos depois daquele trabalho pioneiro, viria & luz monografia que, na literatura peninsular, ocupa até hoje lugar de excepcional relevo como empresa dé reconstru- 0 sistematica do fendmeno litisconsorcial." A idéia central da obra era a da diferenciacao entre a multiplicidade de au- tores ou de réus decorrente da mera acumulacdo ou reuniao de processos distintos, de um lado, e a estrutura do “proceso 5 Abstraindo-se da questo relativa & extenstio dos efeitos do recurso — de que adiante se tratara, & parte (V. 1° 47) —, as 0 ‘yacoes de Carovenna sobre 0 regimé espectat do litiseonsdrcio gidas, alifs, no necessdrio, no sentido de indispensdvel) limitaram-so, esquematicamente: A suficiéneia da contestacao por um dos co-Téus para tornar imprescindivel a prova do fato afirmado pelo autor, ainda quando admitido, pelos outros litisconsortes passives: a in: ficdcia da confissio e do juramento de um dos eo-réus, coino fut damento de sentenea destavoravel, inclusive com relacao a ele Dro rio, salvo se provado o fato relevante também quanto aos denial a0 valor dos atos praticados por qualquer dos litisconsortes como él mento de formacao do convencimenio Judicial a respeito de todos (Saggi, vol. cit. pag. 456). cit., pags. 1.078, 1.082; Instituicdes de Direito Pro- ‘pag. 180; vol. Tr, pag, 23 7) Principit cit., pags. 1.078-9, 1.083. Incuilea 0 autor, quanto a essas hipoteses, a obrigatoriedade de decisao uniforme (pig. 1.07), , tirado do art. 215 do antigo Codice ai stra pefsuasivo: v. a nola 4, supra. j& citado de Revenrr, 11 yindizio elvite con ‘edieao remonta a 1911, Nossas indicagses, has subseatientes notas, referem-se a relmpressiid de 1900, com im= portante prefaclo do proprio autor, pommel ou jufzo (uno e tinico) com pluralidade de partes”, de outro. A aguda intuicdo do escritor no passou despercebida a re- lacao entre essa unidade estrutural de certos processos e a inevitabilidade da solu¢ao uniforme do litfgio; nem a possi- lidade de tal ocorréncia em feitos para os quais ndo era de rigor a demanda conjunta.t Chegou ele a confrontar ex- pressamente a figura do “proceso uno” com a do litiscon- séreio submetido pelas legislacdes germanicas a regime es- pecial, em razdo da necesséria uniformidade da sentenga.’* Levando-se em conta os subsidios ministrados nao s6 pelo texto de 1911, mas também pelo prefacio de 1960, € li- Cito fixar os seguintes pontos basicos do pensamento do autor, pelo prisma que agora nos interessa: a) pode ocorrer unita- rledade em hipéteses de litisconséreio facultativo; noutras palavras, nem todo litisconsércio unitario é necessario;!5 b) a obrigatoriedade da demanda conjunta repousa algumas vezes em ravées intrinsecas, ligadas & natureza da res in iudicium deducta (litisconséreio necessario secundum teno- rem rationis), a0 passo que outras vezes a lel a impoe so- 20 V., por exer provvedimento. logteain: iridleamente uno NO 11 'V. g., pags. 60 (e, al, nota 50), 65 ¢, sobretudo, 130, onde se aistingue’ com toda. a nitidez’ entre duds questoes. "se il ghdtsto. sia Sino ed unico nel senso da no! fissato quando tutit costore” (os con Agminos do. prédio. dominante Ge que aise trata)“ administradores, ele agit ou io apie”, de sorte que “nko raditores nécessarios na’ ago de anulacao’ 4. 1, pag. 314), A figura Fesultante da'co- cparticlpagio (nao obrigal de dols ‘ou mais legitimados no pro- cesso chamou Rapenrr, ai, “litisconséreio quase necessdrio” (ef. ob. et. cit,, pég. 325). Usa’ a expresso, em tom algo critico, CarPeixerty, 66 LITIScONSORCIO UNITARIO mente em atengao a motivos de conveniéneia (litisconsércio necessérlo propter opportunitatem); c) 0 litisconsorcio necessario secundum tenorem rationis, em linha de princi- plo, € unitario,"* nao assim o litisconséreio necessério prop- ter’ opportunitatem. A obra redentiana merece que sobre ela detenhamos a atencao, pelo maior realce imprimido ao estudo do regime especial do litisconsércio. Nao apenas se mostrou o autor consciente da néo-coincidéncia entre 0 ambito de aplicacéo de tal regime e a Area coberta pelos casos de demanda obri- gatoriamente conjunta, mas também se preocupou em es- clarecer as mais notaveis peculiaridades da disciplina a que se sujeitavam as relacdes entre os litisconsortes, sempre que se houvesse de dar ao litfgio solucao uniforme em face de ‘todas eles. Ja na primeira tentativa de elaboracio da matéria, sub- linhava-se a diferenca entre o regime adequado nessas hi- poteses € 0 aplicdvel nas restantes (de mera acumulacao TS Ob, cit, preféclo, pigs. XVI, XXVE Dessa distingdo reden- da’corréspondente terminologla, faz largo uso Puore Pisa, Digs. 632 © s0gs. Tdvima sofre atenuagies: v., por exemplo, ob, 80 ¢, af, hola ay quanto ao feos “como os fulzas av ‘partes’ “possono tendere « determinare variamente it tenore (dl merito) det provvedimento tris tos tals, Sea eibora fnerinscce’s necestaieaade do tacoma gipresenca simultinea de varios autores ou reus "non impor fuaimente) tra di toro communansa cf funstont, ne ai sore, perend per loro natura individual” (destaques nossos) . “Il giuramento della parte nel processo litisconsorti 7 di dir, e proc, civ. vol. IX, (1955), pag. 1.183 e nota 52, equiparans conceito ‘ao da 2ujdltty notwendige Streligenossenschajt alema — Isto €, a0 da 1° figura do § 62 Z. P.O. (v. supra, n° 8); tenham-se em vista, porém, no tocante ao ‘exemplo citado, as peculiaridades pro- cedimentais hoje consagradas, segundo ja se recordou (v. nota 4, fine, a0 n2 39), no art. 2378, 3.* alinea, do Codice Civile. DIREITO ITALIANO er processual) aos atos das partes destinados “a influir como tais na formacdo ou no conteiido da providéncia jurisdicio- nal”. E aludia-se & confisséo, ao juramento e aos atos “bi- laterais ou polilaterais”, que ali ndo poderiam limitar-se, como aqui, a um tinico litigante ou a um par isolado de li: tigantes.!” Chegaria 0 escritor, mais tarde, & afirmagao pre- cisa da inaptiddo dos atos dispositivos, em todos os casos de decisto necessarlamente uniforme, para produzir os efei tos tpleos, quando praticados s6 por um ou alguns dos ltis- consortes.i® Tria até ao ponto de ensinar — na esteira da doutrina germanica — que semelhantes atos apenas sérvi- rlam como subsidios, livremente valoraveis, para a forma- ¢o do convencimento do juz. 41. Pouca coisa de substancial acrescenta a literatura posterior & contribuicéo italiana para o estudo do nosso tema. N&o quer isso dizer que haja permanecido estranha & consciéncia dos processualistas mais recentes a existéncia de hipéteses em que o juiz se vé adstrito a emitir de meritis 36 1 giud. ctv. ... cit, pag. 28 (grifado no original). Cumpre ressalvar que, entre as indicagdes ai feltas, algumas se relacionam com a necessariedade, e nilo com a unitarledade, do litisconsorelo: uncia agit atti con effetti timitati, per (pag. 24). Andloga interpenetracio, ainda, nos Projtlt pratict tto Processuale Civile, pag. 285. 47 ‘Quanto & confissio'e a0 juramento, depreende-se que, se- gundo Repenr, o ato de um s6 litisconsorte, no tipo de processo que hos Interessa, ‘produzia (sob o regime entio vigente) efeitos para todos; no tocante, porém, aos atos “bilaterats ou polllaterals”, ao dizer ‘que “st perjezionano col consenso di tutte", parecia 0 autor excluir a eficdcia até mesmo para as partes que 05 fivessem praticado gem a adesto geral (11 giud. Gio... Ot, pag. 24). Cf. 0 que se segue M4 Der. Proc, Civ., cit., t. T, pag. 325; mais explicitamente, pre- faicio & reimpressio de 11 ‘giud.’ ct pag. XX. Mas a’ tese, porém, a exposicao sitivo, nomeadamente ads arts, 2.733, 38 linen, ¢ 2730, 3.8 do Cédigo Civil de 1942 (ef. infra, 39" Prefacio a reimpressio de Il giud. civ. ... cit., pig. XX. 68 urtiscoNséxcio UNrTéRI pronunciamento homogéneo quanto a totalidade dos 1 consortes. De um lado, no entanto, predomina amplamente a tendéncia a identificar esse conjunto de casos com o da- queles em que 0 contraditério sé se tem como regularmente instaurado com a presenca simultanea de varios autores ou de varios réus. 2° E a reciproca é verdadeira: nao se duvida, em geral, de que a forcosa co-participacdo no processo se alie inexoravelmente & igualdade de sorte no julgamento da causa. A expressio “litisconséreio necessfrio” nao costuma ‘apa- recer noutro sentido senao no de litisconséreio de indispen- sdvel constituicao.™ Mas a essa figura atribui-se, de modo 20 Em poucos autores ocorre 0 registro da exigéncia de uni- formidade ‘na’ solucao do ‘consorclo ‘Costa, L'intervento nto’ adesivo, pags. 201; DONornio, Commento al Codice di Procedurd Ci 563 21 A tese em regra 6 antes pressuposta que demonstrada. V. por exemplo, ainda sob o regime anterior, Ruseour, 11 proceso contumacialé, pig. 397, ‘La cosa gindicata rispetto at terst, pag.’ 282; td., 1 giuramento delta parte, pag. 194: centemente Zanzuccur, 3 Gessuale Civile, pag. 192, nota i0; Fassamr, ob. “Natura giuridica del giuramento e lberta dé val in Rip, Trim. dt ss € proc. civ., vol. I (1947), pag. $91, Do que escre- isconsorcio facultative, attibumdo-Ihe, como nota lade de decistio heteroginea, pode inferir-se, « Con ‘& concepedo dominante aderem CaLaNaxoRet, oD. deste auitor trazem logo & mente a figura redentiana ‘do litisconséreio necessario propter opportunitatem (¥, acima, n° 40) ‘22 NeNcIoNt, ’ itisconsorztale nel pro- cesso civile, pig. 84, distingula, com ap reito alemao, as duas acepeéts identificavels no $ 62 da Z. demanda conjunta © necessidade de de DIREITO TTALTANO 60 explicito ou implicito, a cai midade da sentenca definitiva quant éus. Em outras palavras, se nos é to usar terminologia. jar: todo litiscon- isconséreio unitario necessario, Dessa_valoracéo dos dois conceitos como coextensives resulta a possibilidade de aproveitarmos, em nossa pesquisa, certo ntimero de indicacdes doutrinariamente’ formuladas € até inscritas em lei — acerca do litisconséreio necessario. Elas nos interessarao na medida em que se refiram a este nao enquanto indispensével, mas enquanto (supostamente) uni- tar , na medida em que se relacionem nao com a obrigatéria presenca simultanea, em cada polo do proceso, de duas ou mais pessoas, senéo com a necessidade de dar-se, na decisao de mérito, tratamento igual a tais pessoas. O qué impende, pois, é destacar dos textos pertinentes as proposi- gOes inspiradas nesta ultima ratio.® 23 Nessa ordem de Idélas, deixaremos de lado, na exposicio ‘a guestao, assaz debatida, relativa aos pressupostos da (dade do litisconséreio, e também a concernente ao va~ ido. sem regular Integracdo do contraditerio. Esta ultima, que na Ttalia tem feito correr cauda— loses rios de tinta (v. 0 resumo das posigoes fundamentals assumidas 20 propésito pelas diversas correntes, bem como a discussio dos argumentos invocados, em Pxoro Pisawr, ob. clt., pigs. 605 € segs. 651 e segs.), embora a0 nosso ver, do menos de lege ferenda (v. infra, n° 147), deva levar em conta dados relacionados com a obrigatorie- dade de decisdo uniforme, insere-se todavia, por sua natureza, na. problematica direta ee: Cessdrio (~ indispensavel) passarla em ig. 656; , Vol. VET, Dag. ressa referencia. Tegra. despercebida & doutrina posterior. Bem ete Nuovo Digesto 10 plo processual, em. cla "da reuniso, imposta por lel, de processos autonoma- istaurados. Quase intitil frisar que, ainda aqui, slo as pe- gadas chiovendianas que se seguem (Vv. supra, n° 39, € hotas 4.e 7), II — PRESSUPOSTOS DO LITISCONSORCIO UNITARIO. 42, © panorama doutrinario. 43. © problema da extensso da Felagdes com ¢ Iitisconséreio. lea jutgada © suas 42, Nao costumando estudar o litisconséreio_unitario como figura diferenciada, per se, é natural que ndo se de- tenham, em regra, os processualistas italianos na investi- gacéo das circunstincias cuja presenca leva o juiz, inevita~ Velmente, a proferir sentenca de contetido homogéneo em relacéo a todos os co-autores ou co-réus. O problema que hes ‘tem absorvido o interesse é 0 da identificacdo das cau- sas idéneas a fazer obrigatéria — fora das hipéteses previs- tas de modo expresso em lei — a prépria constituicao do Jitisconséreio. ‘AS vezes se depara uma ou outra referéncia incidental aos fundamentos da necessaria_uniformidade da decisdo, re- Jacionada com caracteristicas estruturais da res in iudicium deducta. Consistiria esta, de acordo com autorizada opiniao, numa “‘situacdo ineindivelmente tinica quanto a varios su- Jeitos”.** © problema, em tal perspectiva, e contrariamente & maneira de equacioné-lo que prepondera na doutrina ale- ma,® desloca-se para o plano do Mas a verdade é que, na Ital , consideracdes desse gé- nero desembocam sempre em conciusdes relativas & indis- pensabilidade do litisconséreio. A premissa subjacente é a de que, se algum esquema de fato produz o efeito de preex- cluir a’ possibilidade de solucdes diversas para os litisconsor- tes, esse mesmo esquema de fato produzira também, fatal- 24 FABay 3 Vy 8 ob, elt., pag. 180, i, n° 10, DIREITO ITALIANO a mente, o efeito de tornar inadmissivel 0 julgamento da cau- sa em’ proceso autonomamente instaurado por ou contra um (ou alguns) dos co-legitimados ativos ou passivos.?* 43. Conforme oportunamente se expos?” a processua- listica germanica aponta, como circunstancia bastante para vedar a emissio de pronunciamentos divergentes, no méri- to, quanto aos varios litisconsortes, a possibilidade da ex- tensdo, aos co-legitimados porventura estranhos ao proceso, da coisa julgada que se forme sobre a sentenca proferida em face de um s6 deles, ou de alguns. Pois bem: na litera- tura peninsular néo faltam estudos, minuciosos ¢ penetran- tes do fendmeno; ** apesar disso, no se tém chegado @ por em evidéncia os 'lacos que o prendem ao litisconséreio uni- tario. A deformacao da perspectiva induz os autores a uma, articulacao inadequada com o problema da indispensabili- dade da demanda conjunta. Afirma-se, por exemplo, que onséreio necessArio & alargamento da coisa julgada sao institutos afins e concor- rentes”, com 0 escopo comum de “obter um regulamento uni- forme de relacées juridicas estreitamente conexas”, existindo entre ambos “um ‘vineulo de alternatividade e reciproca ex- eluséo”. Ao legislador, para evitar a quebra da homogenei- dade no tratamento das “relagdes conexas”, apresenta-se a 26 © proprio Fassnm, ob. e lug. elt, em a nota 24, escreve: @ vero infaiti che di fronte ad un effeito necessariamente unico litisconsoreio restrito aos momentos de discussio e decisio da causa. 27 V., supra, ns. 11 € 25. 26 Brevitatis causa, v., a titulo meramente exempliticativo, € 360 ¢ segs, com referencia particular & impugnagao das Geliberagoes Ge assembitias socials, Aumno0 Rocco, ‘Le societa commercial in rapporto al giudizio civile, pags. 214 e segs. 2 LITISCONSORCIO UNTTARIO opedo entre “impor que sejam conjuntamente deduzidas em juizo” ou, permitindo a deducio em separado por qualquer dos titulares, sujeitar os restantes ao vinculo da res iudicata formada em’ face daquele.” Ora, é facil perceber que 0 raciocinio negligencia dois aspectos relevantissimos do problema: 19, para assegurar a solugao uniforme do litigio nao basta forear 4 co-participa- edo No processo os diversos legitimados ativos ou passivos, se concomitantemente nao se disciplinam as relagdes entre eles, e as deles com a parte contraria, de maneira tal que neutralize a influéncia, sobre o teor da decisdo, da even- tual disparidade de comportamentos; 2.°, a extensdo da coisa julgada aos que fiquem estranhos 20 processo tampouco é Suficiente para impedir a ruptura da desejada homogenei- dade quanto aos dois ou mais co-legitimados que dele par- ticipem mesmo na auséncia de imposigao legal. A correla- do deveria estabelecer-se, pois — como entendeu a doutrina alema e austriaca —, entre extensao da coisa julgada aos co-legitimados e regime especial do litisconsércio: néo é a necessariedade deste, mas a sua unitariedade, que entra aqui em jogo. Aos escritores da Peninsula faltou-lhes ver a estrutura intima do mecanismo em sua verdadeira feicdo, € por isso nao tiraram das premissas 0 corolirio exato. 29 Auonio, La cosa giudic cit, pag. 282. Cf, em sentido andlogo, FareniNi, ob. elt., pag. 170, UI — REGIME DO LITISCONSORCIO UNITARIO 44, Prova. Gonfissio. Juramento, 45. Atos dispositives. 46. Recurso: posigso do problema. 47. Recurso: © “Codice di Proceduca Civile” de 1865. 48, Recurso: sistema vigente. 44, Na Itélia, como alhures, tem-se feito sentir a pre- cisdo de submeter a disciplina especial os atos dos litiscon- sortes, e em particular a respectiva eficdcia, nas hipéteses de inevitével uniformidade na solucdo do litigio; do contra- rio, a eventual diversidade das atitudes por eles assumidas levatia o juiz a formar conviecdes também diversas, que se refletiriam no teor da sentenca. Como a obrigatéria_homo- geneidade desta é ordinariamente posta em correlacdo com a forcosa presenca simultanea de varias pessoas num ou noutro pélo do proceso, as prescrigdes legais e os ensina- mentos doutrinarios ao ‘propésito vém lancados com refe- réncia ao litisconséreio necessdrio. Em tema de prova, por exemplo, observa-se que em ca- sos tais a contestacdo por um tinico dos litisconsortes gera para a parte contraria o énus de provar o fato alegado, mes- mo que o admitam como verdadeiro os restantes..° Peculia- ridades interessantes ocorrem no tocante & confissio e ao juramento, que no direito italiano tém o carater de provas legais e vinculam o érgao judicial, determinando o contetido 30 Neste sentido, ja Cxrovenna, ob. e ug. cit. em a nota § 20 n8 82; id., Principii, cit. pag. 1.091; mais recentemente, Sciaccurrano, verbete Litisconsorzto, in Bneicl. Porense, vol. IV, Bag. BO crs LiTisconséncio UNrrARIo da decisdio.* No litisconsércio necessério, se confessa apenas um (ou uma parte) dos co-litigantes, 0 ato perde a eficacia tipica e fica sujeito & livre apreciacdo do juiz, inclusive em relacdo ao(s) confitente(s).® O juramento tem de ser de- ferido ou referido a todos ou por todos os sendo inadmissivel quando algum dos dos a jurar nao tenha capacidade de dis} 31_V., para a confissao, o art, 2.733, 2 alinea, do Codice Civile de 1942; para o juramento, o art, 273% nea, do mesmo diploma, © também, no concenente & no prestagao pela parte, os arts, 239 © 243 do Codice di Procedura Civile, que atribuem & ‘omissio, sob determinadas condigées, © feito de’ produzit 0. sucumbimento do Utisconsortes; repetia-Ihe a Iles0 ZANT, verb. elt, pag. 968, Entende ‘Favuxma, ob. cit, pags. 301 e segs, que a regra do art, 2733, 3 a de 1942, © também ‘a andloga do art, 2.738, "3. _ 20 juramento, representam ‘ ” do prineipio da inter dependéncia: se nio existissem, a confissio e o juramento de apenas os ltisconsortes deveriam considerar-se pura e simplesmente 1 dt efficacia”, i, 3h, ot SAE Patwecex, ty Minouse Ee fri) tivo” vx do. Comentario Wel Codice DIREITO TraLtaxo 5 86 por um (ou por uma parte) dos to € livremente apreciavel pelo juiz; peita ao(s) jurante(s) .2° isconsortes, 0 juramen- inclusive no’ que res- 45. No tocante aos atos dispositivos, inexiste disciplina legal especifica relacionada com o process mesmo em termos de litisconsércio neces: goria® pertencem a desisténcia do dircito, 0 reconhecimen- to do pedido* e a transacao. A doutrina nao tem dado grande ateng&o ao problema; 08 poueos autores que dele se ocupam, entretanto, da obri- eit, pag. 1.001, que ‘a parte eontraria’precisava provar relagdo no segtindo (entenda-se: para que 0 eonteudo da Sentenga houvesse de conformar-se f afirmacao do primelro) V.-cn te ell a doulring posteriormente consa~ i ce 1982, 36 Com razio Fennucct, ob. cit. pgs. 406-T, na critica & juris- \déncia consoante a qual o hisameato faz prova plena: para ov) consorte(s Pnltacdo-de” nos” outres a livre Valoragao Judlelal. Cabetia aqul observaeto andloga a que se fez em B nota £2, supra, quanto & opinizo de Maseivzo aeerea'da conisedo. 37 Parte da doutrina, convém observar, nela Inclui a confissio 0 juramento: assim, por exemplo, REDENTI, Der. Proc. Civ. clt., ©. 1, pag. 312, 38 “Conizovertida a admissibilidade desta figura no diteito ita~ iano, com a tipica eficaela vine quer ‘sob 0 vigente. No sentido posi Principli, elt, pigs. 736-1; id., vol. T, pag. 137 (0 dt dir. proc. cl, pretesd Hana”, in Riv. di dir, proc. ct0,, vol. XIV (1937), pags. 354 © segs. 76 LiTisconsbrcro UNETARIO gatérla uniformidade do regulamento que se hi: Iecer para os varios ltisconsortes deduzem a aj aqui, do principio da interdependéncia entre estes. Negam eficdcia, por isso, aos atas dispositivos que nao sejam por todos concordemente praticados, 3° Inconfundivel com a desisténcia do direito é a mera de- sisténeia do proceso (rinuncia agli atti del giudizio). A re- gulamentacao desta, no processo litisconsorcial, nao tem que ver com a necessidade de soluedo uniforme do litigio, mas m a forcosa presenga de v: pessoas num ou noutro lo do processo.*° % ‘correta, assim — mas nao interessa liretamente ao tema deste estudo — a afirmacéo, encontra dica na literatura“! de que, sendo necessario (= indispen- savel) 0 litisconsorcio, ativo ou passivo, n&o pode, respecti- vamente, um dos co-autores desistir sozinho, nem 0 autor desistir apenas quanto a um dos co-réus. 46. Merece consideragao & parte a questdo atinente ao recurso. © direito italiano tem usado, a0 propésito, de dois expedientes distintos e doutrinariamente apontados ‘como termos da alternativa que se oferece ao legislador diante de um mesmo € tnico problema: a) fazer obrigatéria a co- Fausernr, ob. clt., pags. 300-1. Ra 525, estende 0 regime especial ao (v,, supra, n.°'40.e notas 13 e 18), 40 Cf. o que se expds, para’o direlto alemao, em o no 15, ¢ para o ausiriaco em 0 1 42 No dizer senza in causa di ras palavras, ‘me per tutth —, preferlu a segunds solucdo, DIREITO rraLIANO 1 ;partielpacao, no procedimento recursal, de todos os litigan- tes; b) estender aos demais os efeitos do recurso porventura interposto s6 por um ou em face de um (ou alguns) deles.? Na verdade, porém, a leitura dos textos em que se tem buseado definir, na Itdlia, as hipéteses de aplicabilidade de um e outro regime desde logo mostra que a Area atingida excede os limites da coberta pelos casos de inevitével uni- formidade no julgamento do mérito. Quer isso dizer que 0 propésito de impedir a quebra da homogeneldade da decisao ndo ¢ a tiniea ratio em que se inspiram as leis peninsulares para adotar ora 0 expediente a, ora o expediente b. Sera uma delas, talvez a principal, mas sem exclusdo de outras. no tendo em geral individuado, como figura isconsércio unitdrio, valem-se os italianos de f6r- mulas tecnicamente bem discutiveis, ainda quando querem referir-se — as vezes, parece, sem perfeita consciéncia do alvo a que miram — aos litigios insuscetiveis de shugo heterogénea para os varios litisconsortes. Em todo caso, interessante notar que jamais se considerou satisfatoria, na redac&o dos dispositivos insertos com vistas a a ou a b, a pura e simples remisséo as normas sobre litisconséreio cessario no procedimento de primeiro grau. Teria sido preceituar a obrigatoriedade de integracao do contraditorio em fase recursal, ou a extensdo dos efeitos do recurso, nas mesmas hipdteses em que fosse de rigor a presenca simul- tanea, na inferior instancia, de diversos co-autores ou co- -réus. Ante a tendéncia dominante a supor coeztensivos o conjunto de tais hipéteses e o ambito de manifestagio da unitariedade, era até de esperar que o legislador — pelo menos onde estivesse empenhado em preexcluir 0 rompi- mento da uniformidade na decisio da catisa — langasse mao da formula mais ébvia. Tal, entretanto, nao ocorreu 47. © C6digo de 1865“ impunha ao recorrente chamar ‘a juizo todos os litigantes que tivessem interesse em opor-se & reforma ou & anulacgo da sentenca, e prescrevia, no caso de omissao, a integracdo do contraditério, exeeto sé, tratan- 8 LiTIscons6ncio UNrrARIO de “coisa divisivel’, 0 recorrente declarasse aceitar a io no tocante aos néo chamados (art. 469). A norma concernia ao caso de terem vencido, na instancia inferior, os litisconsortes, ¢ néio se aplicava 86 ao litisconsoreio ne. cessirlo, *° ou 20 unitério, Mas o perigo da contradicao, quan- to a este, presumia-se esconjurado, mercé da obrigatoria participacdo, no procedimento recursal, de todos os adver- sdrios do recorrente. Quanto-& hipétese inversa — sucumbimento dos litis- consortes, e por conseguinte pluralidade de interessados em recorrer —, a regra era a de que, interposto 0 recurso por um imico dos co-litigantes, podiam os outros beneficiar-se dos respectivos efeitos, no tocante aos capitulos de interesse comum, desde que interviessem com recurso adesivo (arti- g0 470). Por exceedo, em trés casos produzia efeitos o jul- gamento do recurso também para os litisconsortes que nao houvessem. intervindo: 1°, quando titulares de um interesse “essencialmente dependente” do interesse do que recorrera e vencera; 2°, quando co-autores ou co-réus do recorrente vitorioso em “controvérsia sobre coisa indivisivel"; 3°, quan- do condenados solidariamente com ele, pela decisio impug- nada. Mesmo nas duas tltimas hipéteses, contudo, a ex- tensao nao se verificava se a reforma ou a anulagéo da sen tenga se fundasse em “motivos exclusivamente prdprios” do recorrente (art. 471). Como se percebe com facilidade, foi nesse dispositive que o velho diploma andou mais pré. do-se a 44 V. 0s textos no Apéndice, pags. 239-40, 45 Monrana, Commentario del Codice ¢ delle Leggi ai Proceaura Civile, vol. TV, pig. 252; Curovenna, Principii, cit, pag, 1.096: Car pag. 38 6 nota 2 isconséreio neces: Ob. cit. pigs. 1.094-5, prevalecia sempre a indispensabllidade do cha” mMamento de fodos, quer se tratasse (como no art, 469) de recurso wortes vitoriosos, quer de recurso in- seonsortes yeneldos, © isso em razio geral consoante 0 qual "i Utisconsoreio ehe Ju neces sario nella prima fase del rapporto processuale continua ad esser necessario nelle jasi successive”. rente nfo chame todos os contendores. liter, no direlto brasileiro, ‘onde a sentenea se presume sempre impugnada pelo recorrente em ries, salvo na hipdtese — que aqui nao interessa — de impugnagao Iimitada a um ou inals Capitulos que nao diga(m) respeito sendo a parte daqueles. Cf. infra, n° 132 DIREITO rrAaLtaxo 9 ximo de uma regulamentacdo especifica da matéria para o litisconséreio unitario — conquanto somente entre os 7¢- corridos. 48. © ordenamento em vigor prescreve a integragao do contraditério, por ordem do juiz, ¢ sob pena de declarar- 7S¢ inadmissivel 0 recurso, caso este se dirija contra sentenca “pronunciada entre varias partes em causa incindivel ou em causas entre si dependentes” e niio haja sido interposto em face de todos os litigantes (art. 331). Propende a dou- trina para a identificagao entre os conceitos de “‘incindibi- lidade” e de indispensabilidade do litisconsércio.*” © con- traditério deve, pois, ser integrado na fase recursal por todos os que hajam participado obrigatoriamente do ‘processo, como co-autores ou co-réus, na instancia inferior. Aos litisconsortes notificados faculta-se a interposic¢ao de recurso incidental, mesmo que jé se tenha esgotado o prazo ou hajam eles aquiescido & deciséo (art, 334). Por meio desse recurso incidental pedirao, como é dbvio, a re- forma ou a anulagdo da sentenca também a seu favor. Res- ta saber se a interposigao ¢ necessdria a tim de que o jul- gamento do recurso produza efeitos para os litisconsortes notificados. A resposta deve ser negativa, & luz da ratio em. que evidentemente se inspird o preceito relative 4 obriga- 48 V. 0s textos no Apéndice, pag. 240. 47 Assim, necessirio “per ragioni Jé D/Onoraro, ob. cit., vol. 1, pag, 563, aps como “‘aquela que ‘indo pode ser decidida diversamente em relacio 2 cada qual dos Interessados”, ajunta, com certeira intuicdo, que tal se verifiea, AS vezes, fora dos casos de litis- consérelo necessario — sem contudlo proceder aos esclarecimentos complementares que seria licito esperar. Também Mics, Corso di Dir. Proc. Civ., vol. 11, pag. 251, opina que a “incindibllidade da c sa” se estende a todas as hipoteses em que, apos intervencac tania, “i giuaieto di primo grado abbia avulo luogo tra wna Gi soguetti, aventt parita di legittimazione”, ‘Tampoueo §. Costs, Ma= ritlo Processuale Civile, pags. 163 © 372, restringe ao ‘cam_ isconsorcio necessirio a ocorréncla de “causas incindive 80 Erriscons6ncio uNrT4RI0 toriedade da_notificacdo, cuja finalidade, a nao ser assim, poderia ser frustrada pela omissao dos chamados a juizo.# ‘A vantagem de interpor o recurso incidental consistira, para © litisconsorte, na possibilidade de arrazoar, de defender o interesse comum ao lado do recorrente originério; ainda, porém, que n&o o faca, ele se beneficiaré da reforma ou da anulacio da sentenca. Nao se depara no texto legal em vigor qualquer refe- réncia & extensao dos efeitos do julgamento do recurso sem integracdo do contraditério. A admitir-se, pois, que & “in- cindibilidade” da ‘causa sempre corresponda ‘a formacao obrigatéria do litisconsércio, subsistiria ainda, quando fa- cultativa a demanda conjunta, o risco de decides afinal divergentes para os varios co-autores ou co-réus. A dou- trina, entretanto, néo poderia passar despercebida a exis- téncia de hipéteses em que semelhante resultado é incon- eebivel. *? Dai sugerirse que, sendo o conflito “unitério © 48 Nao costuma a doutrina ser muito explicita 20 propésito. AxpnioLt, Commento, cit., vol. II, pag. 393, entende que a notificacao basta para conferir ‘0 litisconsorte a qualidade de parte no proce- dimento recursal — naturalmente com a consequéncla logiea de su- jelta-lo, ipso facto, aos efeitos do julgamento do recurso. Ao coit- trario, para Provincrats, Delle impugn. in gen; cit., pags. 255- litisconsorte notificado $6 se torna parte naquele procedimento com a interposicao do recurso incidental; mas o autor esclarece que “il provvedimento reso sulv'impugnazione esercita 1a sua efficacta espan- Siva indipendentemente dalla assunzione 0 no della qualita di parte ne! soggetto non impugnante” (pig. 291; ef. pags. 250-1, onde se condiciona unicamente & notifieacdo a possibilidade do reexame da matérla decidida “anche rispetto a tultt gli altri soggetti”); des~ tarte, a soluedo dada ao problema que se pée no texto, em ultima andllse, nfo difere da que The daria ANpaiour. Também Sarza, Le impugn, cit, pags. 69, 78, nega que a mera integracio do contra~ jo, através da notificacdo, seja suficiente nara tornar recorrente (ou parte no procedimento recursal) explicar, todavia, que, se este dental, ‘nao. s (pag. 18; sem grifo no original), © recurso principal, delxa entrever, @ contrario sensu, uma implicita adesao a tese acima exposta. Con= clusiio idéntica pode extrair-se do que escreve © mesmo autor em Dir. Proc. Civ., clt., pag. 343. 49° Ja aludimos & observacdo de D'Oxorero, segundo a qual a inevitabilidade da solugho uniforme pode ocorrer fora. do Ambito do litisconsdrelo necessario: v., acima, nota 20 a0 n° 41/e nota 47 ao n° 48. Recordem-se igualmente os pareceres de Micutx ¢ 8. Cos- A, ob, e lug. cit. na mesma nota 47. consorte notificado; a0 te a interposteao do recurso inci pIREITO TEALTANO at ineindivel”, de tal sorte que néo se possa “anular ou refor- mar 0 pronunciamento, também unitario e indivisivel, so- bre ele emitido”, em face de um dos litisconsortes, ‘sem anulé-lo ou reformé-lo igualmente em face dos restantes, seja atribuida a deciséo em grau de recurso — a semelhan~ ¢a do que se dispunha no art. 471 do Cédigo anterior — uma “eficécia expansiva” nao 86 independente da interpo- si¢éo de recurso incidental, mas considerada como “efeito automatico” do recurso interposto por outro co-litigante.* Assim se chega, justamente, 4 simples e logica — dirfamos quase intuitiva’— solucdo consagrada no direito germani- co para 0 litisconséreio unitario.5 50 PROVINcIAL, Delle impug. in gen., elt, pags. 253-4, 257. Em casos tais —- 6 0 que se depreende da exposicdo — o julgamento do recurso seria efleaz para os litisconsortes na instancia Inferior ainda que ndo se tena procedido a integracdo do contraditério, mediante hotificacao. Menciona 0 autor, ao proposito, entre outros’ exemplos, ntrovérsias sobre colsas comuns (...) entre séclos (...) 6 (pag. 260, ea alusio traz A’ ineméria, incontinentl, a classiea hipotese da acdo de nulldade ou anulacdo de deliberacao da assembléia social intentada por mals de um socio — protétipg a figura a que Resexrr chamou “litisconsdrelo quase-necessario” (W., supra, nota 13 20 n° 40), Este iltimo escritor, no entanto, a0 versar a diseiplina a ela aplicavel em matéria de recurso, limita-se a opinar pela obrigatoriedade da integracdo do contraditério, na forma do art. 981 (Der. Proc. Civ, eit,, t. TT, pig. 35) St Cf, acima, ns. 18 e 30. CAPITULO aQUINTO OUTROS SISTEMAS JUR{DICOS I — ORDENAMENTOS DE INFLUENCIA GERMANICA, A) Direito suico. 49. As duas espécies de litisconséreio. 50. Os regimes expe B) 0 Cédigo tcheco-estovaco de 1963. 51. Os dois regimes do litiscons6r: 52, © litleconsarelo unitario © seu regime es 49. Para os fins do presente estudo, pode abstrair-se, no exame do direito processual civil suico, das discrepancias existentes entre as varias legislacbes cantonais, bem como entre elas ¢ a federal. Na matéria que nos interessa, as linhas gerais em larga medida coincidem, e o seu tracado permite incluir 0 ordenamento helvético entre os tributarios do sis- tema germanico, a despeito de néo se haver ali firmado a mesma nitida diferenciacao entre a figura do li de formacao obrigatéria e a do litisconsércio de inevitavel uniformidade na solugdo do litigi a LrTisconsénero UNrrinro Distinguem-se 0 litisconsércio simples 1 ¢ o litisconsércio necessdrio. Este se conceitua como 0 que se estabelece entre duas ou mais pessoas que néo podem deixar de figurar juntas no pélo ativo ou no pélo passive do processo.? Quando é ne- cessario 0 litisconsércio, di-lo o direito material.* Considera-se que, enquanto no litisconséreio simples a sentenga pode variar de teor em relagao aos co-autores ou aos co-réus, a0 necessétio corresponde sempre, em vez disso, de- cisdo forcosamente uniforme,* que ademais s6 se profere es tando satisfeitos no tocante a todos os litisconsortes os pres- supostos do julgamento do mérito.* Dai a substancial diver sidade de regimes: no litisconsércio simples, impera o prin- cipio da autonomia, podendo cada um dos co-litigantes pra ticar em separado os atos processuais, cujos efeitos 56 para ele mesmo se produzem;# de outro modo, todavia, passam-se s coisas no litisconséreio necessatio. 50. _© autor cuja exposicao estamos acompanhando dis- tingue dois regimes especiais aplicdvels ao litisconséreio ne cessério. Incide o primero quando se trata de direitos s6 conjuntamente exercitaveis por duas ou mais pessoas. Em casos tais, a eficdcia dos atos processuais — alegacdo ou con- ‘ina (GuioeNeR, Schweizerisches Zluilprosessrecht, pags. 273 ¢ segs.), quer nas proprias leis (v. g. na rubrica do § 39 Ga Z. P.O. do Cantso de Solothurn, 9 mais recente dos eédigos eantonais aue pudemos consultar, promulgado em 1966 e vigente desde 101-196), © conceito corresponde, entre nds, ao de litisconsorelo jacultativo, 2 © sentido da expresso colhtelde, pols, com 0 do direito bra- sileiro: litisconsércio necessario 6 0 litisconsorelo sem cuja formacao 5¢ considera regularmente instaurado 0 contradivrio, V. GUL- DENER, ob. elt, pags. 267 © segs. 3 Guupewer, ob. elt, pags. 267, 268, {38 da Z. P.O. de Solothurn, verbis! “Soweté nach dem’ materietion Reoht die streitigen 5 Guupenee, ob. elt., pag. 270. 0 autor alude, literalmente, ape- nas aos pressupostos’ processuais (Prozessvoraussetsungen), mas do contexto se infore que a exigencia tem aleance genézico. © Guipunen, ob. elt., pig. 275. 2 {Binfache Streltgenossenschaft”, assim ‘chamado_quer_em * ‘ourmos sistemas suniorcos 85 testacdo de fatos, confissio, producto de provas, reconheci- mento do pedido, desisténcia do processo, interposi¢ado e de- sisténcia de recutso — depende da co-participagao de todos 9s litisconsortes. A omisséo de um prejudica os outros, salvo quando a lei preceitua que o ato por qualquer deles praticado Geve considerar-se como praticado também pelos restantes.” # Ifeito, porém, ao litisconsorte atuante assumir no proceso @ posicao de. assistente do omisso, e nessa qualidade praticar atos dotados de eficdcia para este — inclusiverecorrer, se 0 outro se recusa a fazé-lo. Ao segundo regime submete-se 0 litisconsércio necessirio passivo, quando os varios co-réus podem defender-se autono- mamente — por exemplo, na aco de dissolugao de sociedade, Proposta. por um sécio contra os outros. Aqui, levam-se em conta as afirmagoes, contestacées e provas feitas por qualquer deles, apesar do comportamento acaso divergente dos de- mais. Em compensacio, os omissos reputam-se “representa- dos” pelos comparecentes, e 0 recurso por um interposto produz efeitos para os outros, até contra a vontade destes, Para a desisténcia do processo ou do recurso, assim como Para o reconhecimento do pedido, reclama-se ‘manifestacao unanime de todos os litisconsortes.? B) 0 Cédigo tcheco-eslovaco de 1963 51. A despeito das compreensiveis peculiaridades im- pressas ao direito processual em razdo da natureza do regime politico vigente na Tcheco-eslovéquia, 0 Cédigo de Processo promulgado no ano de 1963, em substituigao ao de 1950, conserva aqui e ali nitidas marcas da influénela de institui: Gutpexes, ob, }, pag. 271. Entretanto, com base em norma. Jago. fede segiundo a qual mesmo 6 fata nao eontestado comporta prova quando ha motivo para duvidar-se de sua veracidas Ge, afirma o autor a subsisténcla do onus proband!, para a parte contraria, em relacao ao fato que um tnico ltisconsorte conteste, ‘omissos embora os dem: Pag. 271, nota 49. ® Guxpenen, ob. eit,, pags. 271, nota 49, e 506, nota s7, 2 Guipewer, ob. cit., pag. 272. Facil perceber que algumas des- sas peculiaridades se mspiram no propésito de assegurar a homoge neidade do teor da sentenea, enquanto outras se prendem simples mente & exigencla da presenca_simultinea de varios co-autores ot co-réus para a regular integracao do contraditoria, # que se tomam Dor coextensivas as areas cobertas pelo litisconsérelo necessdrio © pelo Utisconséreio unitdrio: v., supra, n° 49 e nota 86 Lamisconséact UNrriRIo ges germanicas, residuos naturais do longo dominio do orde- namento austriaco, sob 0 qual viveu o pais enquanto integrou o Império austro-hiingaro. B justamente o que se observa com relacao a matéria objeto de nossa pesquisa. ‘Nao se preocupa a lei em distinguir entre litisconséreio necessdrio e facultativo. Procura, no entanto, disciplinar a ati- vidade das partes no proceso litisconsoreial, e ao propésito modela dois regimes diversos. Estabelece como regra o princi- pio da autonomia, preceituando que, no caso de pluralidade de autores ou réus, cada um dos litigantes “age para si mesmo” (art. 91, 19 alinea); é 0 regime comum. A seguir, cria a exce- ¢ao: em se tratando “de direitos ou deveres comins, tais que a decisao tem de aplicar-se a todos os litigantes do mesmo lado”, o regime € especial: “os atos de qualquer deles valem igualmente para os outros”. Ressalva, afinal, que nessas hipé- teses ‘a modificacdo do pedido, a desisténcia deste e a cele- bragdo da transacao exigem todavia o consentimento de todos 0s litisconsortes” 1 52. Verifica-se que, sem usar expresso prépria para de- signé-lo, acolhe o Codigo a figura do lifiseonséreio unitdrio e da-Ihe regulamentaco especifica. A formula empregada para definir o pressuposto de incidéncia do regime especial soa como equivalente da consagrada no § 14, princ., da Z.P.0. da Austria, Numa e noutra, inexistindo embora aluséo expli- cita & inevitavel homogeneidade do julgamento de mérito, quanto a todos os litisconsortes, é a semelhante ocorréncia, manifestamente, que a lei quer Teferir-se, quando diz que @ eficdcia da sentenca “‘se estende” & totalidade deles (Cédigo austriaco), ou que & totalidade deles “tem de aplicar-se” a decisdio (Cédigo tcheco-eslovaco). A ndo ser assim, estar-seia diante de disposicdes supérfluas, pois ¢ ébvio que em qual- quer caso a sentenca proferida’ no processo litisconsorcial — uniforme ou néo — ‘se aplica” aos varios co-autores ¢ co-réus, os quais, como partes que so, naturalmente Ihe so- frem 05 efeitos. it 40 Art. 91, 2.8 alinea. Valemo-nos da traduelio francesa felta por Auueer Karka e publicada no Bulletin de Droit Tehécoslovague, da Jednota Ceskoslovenskych Pravniku (niso dos Juristas Tehec ~eslovacos), ano XXIII, ns. 3-4, de 31-12-1965. V.o texto no Apéndtes, pag. 241. 41 Ct, 0 que se escreveu a propésito do § 14 da Z. P.O. austria~ ca, em on 21, supra. oumos sistemas JuRipicos at A exatiddo da inferéncia vé-se confirmada pela feicao do regime especial, cujas caracteristicas — ao menos em sua maior parte —' nao se explicam senao & luz do intuito, que & evidéncia moveu o legislador, de impedir que sobre- venham decisdes divergentes em face dos litisconsortes. O Cédigo tcheco-eslovaco nao recebeu a formula alema da “re- presentacao” dos omissos pelos comparecentes e atuante: hem tampouco chegou até a austriaca, da “parte wnica”: & semelhanca da lei htingara, preferiu dizer, de modo mais singelo e direto, que aos outros co-litigantes se estendem os efeitos dos atos’ por qualquer deles praticados. Ultrapassou ai, aliés, em sua literalidade, o ponto até onde havia de ix para atender & ratio da norma: nem todos os atos proces- suais pdem em risco a uniformidade da deciséo de mérito, € os irrelevantes a tal respelto ndo precisariam ser eficazes para a totalidade dos co-autores ou dos co-réus." Deixou sem solucao expressa, por outro lado, o problema. da even- tual contradicao entre as atitudes dos litisconsortes. Na parte final do art. 90, 2% alinea, reconhece-se a clissi- ca regulamentacao & parte dos chamados ratos dispositivos, que 0 legislador tcheco-eslovaco, ainda a exemplo do magiar, optou por subtrair, pura e simplesmente, a extensio subje- tiva de eficdcia, condicionando-os a manifestacao concorde de todos os litisconsortes. No respectivo rol, chamam a. aten¢ao a auséncia do reconhecimento do pedido — de que néo trata 0 Cédigo — e a presenca, em seu lugar, da modi- ficacdo do pedido, que nao se. pode reputar ato dispositive € suscita ordem distinta de consideragoes. #3 «8 12 V_ as observagées lancadas, respectivamente, acerca do di- reito alemfo e do austriaco, em os ns. 16, fine (e nota 30), e 28 e nota 25 13 A questo seré estudada a propésito do direito brasileiro: v. no 112, infra 13. Nao fol possivel levar em conta, na elaboragéo do presente ensaio, outros ordenamentos que, na materia, refletem = influencia das grandes codificagoes germanicas, Culdam do litisconsorcio uni- trio, por exemplo, 0 Codigo de Processo Civil iaponés de 1890 (art. 62), a lei processual sueca de 1942 (secao 8° do cap. 14, 2° parte), 19 Codigo de Processo Civil da Repiblica Popular Federativa da lugos- Yavia (art, 189), Teria sido interessante estender a. tals textos, © Porventura a outros, a nossa pesquisa de direito comparado; mas a eles ou néo tivemos acesso, ou 86 0 tivemos — como no caso dos ‘tres acima citados — depois de ja entregues & editora os originals do trabalho, cuja publicagio nfo quisemos retardar. II — DIREITO PORTUGUES 58, As duas espécies de litisconséreio. 54. Regime especial: atos dispositives. 55. Regime especial: recursos 53. _O Cédigo de Processo Civil 1uso, apés estabelecer a distingao entre o litisconséreio voluntdrio (facultative — art. 27) e 0 necessdrio (indispensdvel — art. 28), insere no dispositive subseqiiente (art. 29) referéncia lacénica aos respectivos regimes. Af se estatui que nd segundo tipo “ha uma tinica acéo com pluralidade de sujeitos”, ao passo que no primeiro “hé uma simples acumulacao de’ acdes, conser- vando cada litigante uma posicdo de independéncia em rela- go aos seus compartes”. "* Dessa breve e ndo muito clara disposicdo ¢ licito inferir que no tocante ao litisconsércio ne- cessario vige o principio da interdependéncia dos litisconsortes. Logicamente, 0 pressuposto implicito é, pois, 0 de que, em sendo obrigatéria a demanda conjunta, na de emitir-se por forca decisao uniforme, no mérito, para’a totalidade dos co-autores ou dos co-réus.” A luz de ‘tal premissa é que se justificaria a adoco do regime especial para todo litiscon- Séreio de impreseindivel constituicao. Em Portugal também, portanto, firmada esta a presuncdo de que o litisconsércio necessério 6, ipso facto, unitério. Quanto a reciproca, ver-se-& que da disciplina impréssa A extensao do recurso transparece a percepeao, imperfeitamente sistematizada, da existéncia de casos em que, dispensdvel embora a co-participacao no pro- cesso. contudo se impoe o tratamento homogéneo dos consor- tes voluntarios; ou, em palavras mais sintéticas: a pereepcao da existéncia de litisconsércios facultativos unitarios. 14 V. no Apéndice, pigs. 241-2, 0 texto desse e dos outros arti- gos do Cédigo que interessam ao presente estudo. ovraos sistemas soniprcos 89 54, Antes, porém, cabe examinar a disciplina dos atos Aispositivos no processo litisconsoreial. O art. 287 arrola, en- tre as causas de extingao da instancia, “a desisténcia, con- fisséo ou transacao” (letra d). No que concerne & primeira, discriminam-se a desisténcia do pedido e a desisténcia da instncia: aquela “extingue o direito que se pretendia fazer valer”, esta “apenas faz cessar 0 proceso que se instaurara” (art. 295). O instituto a que se alude sob 0 nomen iuris de “confissao” €, na verdade, o reconhecimento do pedido.'5 Este e a transacdo “modificam 0 pedido ou fazem cessar a causa nos precisos termos em que se efetuem” (art. 294). Sendo voluntario 0 litisconsércio, qualquer desses atos pode ser livremente praticado por um dos co-litigantes, com eficdcia restrita “ao interesse de cada um na causa” (arti- go 298, 12 alinea). No litiscons6rcio necessario, “a confis- sao, desisténcia ou ‘transacdo de algum dos litisconsortes 36 produz efeitos quanto a custas” (art. 298, 24 alfnea). Quer isso dizer que fica preexcluida, ai, néo sendo unanimes tais manifestacoes, a normal influéncia sobre 0 desfecho do li- tigio: nao poderé o juiz pronunciar-se, em relacao ao liti- gante que reconheceu, desistiu ou transigiu, nos termos em que Ihe tocaria fazé-lo, se se tratasse de autor ou réu unico.8 Desprovida de efeitos substanciais, ndo se inclui a de- sisténeia da instancia entre os atos dispositivos, nem poe em risco a uniformidade da sentenca; por conseguinte, a exigéncia da co-participacio de todos 0s litisconsortes ¢ mero corolario da obrigatoriedade da presenca simulténea com requisito da regular integracao do contraditério."" Em ou 15 V,, sobre a distinedo entre essa figura ¢ a da confissdo pro priamente dita, no direito portugues, Jost Atusztro nos Reis, Comen- {arto ao Cédiga de Processo Civil, vol. 3°, pag. 405, Bm nosso verbets Reconhee do ped. cit, item 4, retragamos & evolueio do ordenament processuai luso, na materia, desde o texto de 1989 até o vigente, pas- Fando pela referma de 1961; a ele, brevitatis causa, remetemos 0 leitor. 16 Eis como comentava José AtnERTO pos Ruts, ob. ¢ vol. elt, pig. 516, 0 art. 303 do diploma de 1939, de teor quase {déntico ao do Rtual ari. 205: "0 confitente, 0 desistente, o transigente sg deixa de et parte para 9 efelto de estar isento da responsabllidade ‘pelns ustas do processo relativas aos atos posteriores; 9 objeto da ‘acko ubsiste tal qual, n&o se reduz nem se modifica pelo fato de um dos Interessados ‘ter ‘confessado, desistido ou transigido”. 17. Cf, acima, ns. 15 (e notas 25 @ 27), 28 (e nota 27), 45, fine; adiante, n8' 108. 90 Luriscons6ncio UNETARIO tras palavras: a imposicao legal diz aqui respeito ao litis- consércio necessério enquanto tal (isto é, enquanto indis- pensdvel), nao ao litisconsércio necessario enquanto (supos- tamente)'wnitdrio. J& 0 preceito concernente a desisténcia do pedido, ao reconhecimento deste _e & transagao obviamen- te descansa no propésito de garantir que a disciplina da si- tuagéo litigiosa venha a revestir-se de teor uniforme; a ratio ndo se liga, pois, & indispensabilidade, mas A unitariedade 6 litisconsércio. 55. Em matéria de recurso, inspirou-se parcialmente o Gireito uso no sistema do velho Cédigo italiano de 1865 Distingue, como este, entre os casos de vitdria e de sucum- bimento dos litisconsortes. Quanto 20 primeiro, impoe que todos sejam notificados do despacho que admite o recurso; sendo voluntario 0 litisconséreio, faculta ao recorrente ex- cluir, na interposicéo, algum ou’ alguns dos vencedores, 20 passé que, sendo o litisconsércio necessario, tal exclusio & impossivel (art. 684, 1 alinea). Noutras palavras: a ne- cessariedade do litisconséreio na instancia inferior —— © s6 cla — importa sua necessariedade também na instancia re- oursal. Vencidos que sejam os Utisconsortes, ocorre, nas hipé- teses que o art. 683 enumera, a extensdo dos efeitos da im- pugnag&o aos litisconsortes do recorrente. Aqui, a grande diferenga, em relacdo ao antigo ordenamento peninsular, & que na lei portuguesa expressamente se prevé a extensao dos fos do Tecurso em todos os casos de litisconséreio neces- sario (art. 683, 1.* alinea). Vigora a mesma disciplina, entre- tanto, para algumas hipoteses de litisconséreio voluntétio, e no concernente a estas é facil verificar que: a) a da 22 alinea, letra a, do Cédigo lusitano, relativa as partes da sentenca “em que 0 interesse seja comum”, subs- tancialmente corresponde 4 do art. 470 do velho diploma italiano, inclusive com o condicionamento da extensao dos efeitos & “adesio” dos co-litigantes; b) as da 2# alinea, letras b ¢ ¢, do primeiro reproduzem as do art. 471, 28 alinea, ns. 1 e 3, respectivamente, do se- gundo. Sao os casos de “‘interesse essencialmente dependen- te” e de “‘condenacao solidatia”. Coincide em ambos os tex- ‘oummos sisTEMAS JuRipICos a1 tos, quanto a esta ultima hipétese, a negagao excepcional da extensao subjetiva dos efeitos quando as questées agitadas no recurso nao s¢jam comuns aos litisconsortes. !* © que em resumo eabe registrar é que o legislador por- tugués, ao versar a matéria, teve a intuigio de que a ne- cessidade de assegurar a solugéo uniforme do litigio extra- vasava do Ambito do litisconséreio necessrio. Nao dispon- do, porém, do instrumento conceptual adequado, por néo individuar, como figura per se, 0 litisconséreio unitatio, foi- -Ihe impossfvel — tal qual o fora ao italiano, que ele par- cialmente imitou — chegar a uma sistematizacao coerente € global, capaz de transcender o plano das solucoes presas a um empirismo casuistico. 18 Comparem-se asduas {6rmulas: “...a nfo ser que 0 recurso, pelos seus Tundamentos, respeite unicamenie a pessoa do recorren- fe" (Codigo portugués, art. 683, 2" alinea, letra ‘c); “... se l'uno 0 Taltro” (isto 6, a reforma ou’a anulaco da sentenga) “sia stato pronunzlato per motiv! esclusivamente propri della persona che ha proposto la domanda” (entenda-se: que interpds 0 recurso; a ‘“do- manda” a que fazin mengéo ala velha lei italiana, art. 471, ultima alinea, 6-0 pedido de reforma ou anulaeso da sentenca). José Auoxe- qo bos Reis, Cédigo de Proceso Civil anotado, vol. V, pigs. 300-1, reconhecer que “o n° 2 reproduz a doutrina do n.° 1 do art. 471 do Cédigo Italiano de 1868”, pretende encontrar desigualdade entre os dois diplomas no que tange a derradeira hipotese de ex- tensao: 0 dispositive peninsular poderia abranger o caso de solida- Hedade aéiva, enquanto 0 portugues, com a expressio “condenados como devedores solidarios”, limitar-s¢-la go ambito da solidariedade passiva. Mas essa limitaeao por forea prevalecia igualmente na letra da norma italiana, que falava dos “condannati in solido” — devedo~ Fes, € claro, pols nao se concede condenaodo, solidiria ou nAo, de eredores, a ‘nfo ser em custas e honorarios de advogado. A opiniao de Marrioro, Traltato di Diritto Giudiziario Civile, vol. IV, pag. 367, que José Attinro bos Rais elta, ra insustentavel na medida em que equiparava A condenacao 0 mero sucumbimento dos autores (1); ‘quanto 20s argumentos de ordem sistemdtica, também invocados por esse escritor, no se poderia exclulr a priori a possibllidade de sua invocacio no’ proprio direito portugues. Il — Direito francés 56. Os principios da Tidade” dm inctancia. 57. A revelia no processo Ii 58, Regime do I dores solldsrios. jons6reio entre eredores ou deve. 59. A “indivisibilidade do objeto do ime especial do litisconsércio, 56, Pouca atencio tem-se dado em Franca, quer no plano legislative, quer no doutrinario, & figura do litiscon- séreio. Nao é de estranhar, por isso, que a problematica sus- citada pela obrigatéria uniformidade na. solucéo do litigio, em face dos varios co-autores ou co-réus, esteja longe de re- ceber o.tratamento sistematico que alhures se Ihe dispensa. Na realidade, a questdo nem sequer 6:posta, em regra, com a devida nitidez; a impressdo que se tem é a de que a pro- cessualistica francesa ainda nao chegou @ percepeao global da unitariedade do litisconsércio, como fenémeno diferen- ciado a que se liga uma ordem especifica de indagacdes, com forcosos reflexos na pauta normativa. Costuma-se discutir, sem diivida, se nos casos de plura- lidade de autores ou réus deve a instancia considerar-se “di- visivel” ou “indivisivel”, reputando-se independentes ou nao, uns dos outros, os co-litigantes. Doutrina e jurisprudéncia es forcam-se por ‘estabelecer critérios a cuja luz se hajam de aplicar os dois opostos principios da “divisibilidade” e da “in- divisibilidade”.? Se os resultados sao insatisfatérios, isso se 19 Sobre a evolucio doutrinaria e jurisprudencial a respeito, v. Monew, Les limites au principe de la dipisibilite de Pinstance quant aux’ parties, pags. 3 ¢ segs. ourros sistemas sunforcos 93 explica justamente pela auséncia de uma nogdo clara das raz6es por que, sob alguns pontos-de-vista e em determinadas cireunstancias, a atuacdo dos litisconsortes no proceso tem de submeter-se a disciplina especial. A falta dessa visdo uni- taria do problema é que mantém as solucdes amarradas, aqui também, a um preceiturio de inspiragao puramente empirica © casuistica. Ao contrério do que se poderia supor. a invocacéio do chamado “principio da indivisibilidade” nao se poe necessa- riamente em relagdo com a inevitabilidade de um regula- mento homogéneo da situagao litigiosa, em face de todos os litisconsortes. Em outras palavras: a funcéo que se Ihe atri- bui nem sempre se assimila a de um expediente instrumen- tal ordenado A consecucao desse fim constante. A significa- cdo funcional do referido principio ndo é univoca; as suas manifestagdes concretas nao se acham ligadas por um es- copo comum. Basta assinalar que em algumas delas a “in- divisibilidade” repousa sobre o mero fato da pluralidade de pessoas no mesmo pélo do proceso, independentemente de qualquer consideracio quanto & sorte que Ihes reserve o des- fecho do pleito.% 57. Exemplo conspicuo dessa equivocidade é a regula- mentag&o da contumdcia no proceso litisconsoreial. Em ou- tros ordenamentos, conforme se mostrou#! a especificidade da disciplina, ai, tem razdo de ser e objetivo perfeitamente definidos: evitar a quebra da uniformidade na decisdéo da causa, quando apenas uma parte dos co-litigantes permaneca inerte, sujeitando-se assim, em principio, aos efeitos de ex- trema gravidade produzidos por sua omissao, no tocante ao 20 Na monografia citada em a nota anterior — a qual repre- senta a mais apreciavel tentativa de elaboracao sistematica da ma- teria na literatura gaulesa — agrupam-se em trés classes as alu- didas manifestacoes\ do “prineipio da indivisibilidade”: a primeira abrangeria as vinculadas “ala seule existence d'une pluralile de parties”; a segunda, as relacionadas com a “‘preexisténcia de certos facos juridicos entre os litisconsortes"; a terceira, as decorrentes da “indivisibilidade do objeto do litigio” (pags. 12-13). Flea desde logo manifesto —e todo o texto subsegiiente o ilustra de maneira expres- siva — que nao podem merecer tratamento homogenco situacoes tgo diversas na substancia: seria de admirar que causas a tal ponto dispares houvessem de gerar iguais conseqiiencias. 31 V., acima, n° 17, quanto a0 direito alemfo, ¢ n.° 30, quanto a0 sistema’ austriaeo. 9 Limiscons6rcto UNrTinio julgamento do mérito. Por isso mesmo, o regime especial s6 incide em sendo inconcebivel a emissio de pronunciamentos divergentes para os omissos e para os atuantes. Ora, no direito francés no é tao intensa a repercussio da contumcia no desfecho do litigio: o jugement par défaut nio se reveste, no sistema do Code de Procédure Civile, do carater de sentenca definitiva necessariamente desjavordvel ao contumaz.® Nao parece inteiramente justificada, assim, a preocupacao constante do legislador em imprimir regulamen- tagao peculiar aos casos de inéreia de parte dos co-réus. 3° No plano doutrindrio, é certo, invoca-se para fundamenta-la a reformas introduzidas na procédure pa) faut pelas leis de 1922, 1958 e 1960. A jurisprudéneia da Cour de Cassation, segundo a quai contumacia do autor devia acarretar a vitoria do reu no mérilo, fol sempre criticada em sede doutrinaria: ‘v. BONCENNE, Théorie dé la procédure civile, t. TIT, pags. 25 ¢ segs; Monet, Traité élémentaire de procédure civile, pags. 613-4. Também para GLAssoN, Précis théo- 23 A diretriz fundamental dessa regulamentagao peculiar — que se tem modificado, ao longo das sucessivas reformas, em pontos Secundarios — consiste na adocao de expedientes destinados a asse~ Eurar que 0 julgamento seja havido como contradictotre em relacio 2 todos os co-reus, inclusive os a reforma de 1960; com referéncia ao sistema do primitivo art. 1:3, BoNcENWE, Ob, € t. cil., pags. 32 e segs.; GLASSON, Ob. e t, clt,, pags. 634 © segs.; para ‘a reforma de 1922, Gansonnet ¢ Cizar-Bru, Precis fol consagrado por lei de 2-7-1889; v. Dennascu, Procedure admi~ nistrative contentieuse et procédure ‘civile, pag. 172. ‘OUTROS sisTEMAS JuRipICos 95 necessidade de evitar julgamentos contraditérios.** Mas, de um lado, tal necessidade, que s6 existiré em algumas hipé- teses, nao explicaria a extensdo genérica do regime a todos 0s processos passivamente litisconsorciais; de outro, mesmo naquelas hipéteses — as do litiscons6reio a que chamamos unitdrio —, 0 risco que se diz querer afastar nao decorreria pura e simplesmente, repita-se, do fato de permanecer inerte uma parte dos co-litigantes passives, pois ainda quanto aos revéis nfo fica s6 por isso predeterminado o teor da decisio sobre 0 mérito. © sistema do Cédigo francés, no particular, tem sido apontado como fonte inspiradora do § 62 da Z.P.O. tedesca. ** A luz do exposto, no entanto, é fora de diivida que, se influén- cia ocorreu, nao a teré recebido o legislador de 1877 sem pro- funda reclaboracio, cunhando formula de sentido tedrico ¢ alcance pratico bem distantes daqueles que possuia a inscul- pida no texto napoleénico. 24 Boncenne, ob. cit,, pigs. 32-3; Gtasson, ob. e t, cit, paz. 034; Gansowwer e Cfézan-Bau, ob. clt., pig. 575; Most, ob. elt., paz. 810; Cucus, Précis de procédure civile et commerciale, pag. 360 Vineews, Précis de procédure civile, pag. 528; Gnostiiue, L’inatvist- bitité en matiére de voies de recours, pags, 11 e 114. Este autor, porém, sente 0 problema e como antecipa a primeira objecd citada, a seguir, no texto, quando ressalta que a regra les parties le méme sort’ quel que soit le earactére de la mat acrescentando effet, peu importe que la matiére soit ai et quien principe les interéts des parties pulssent étre trait facon diferente ou quelle soit indivisible: dans tous les cas par Ia procédure du défaut profit~joint, leur sort sera le méme” (Gnostrint, de. provado houvesse sido negada pelo drgio julgador da oportunamente se mostrou que tal circunstincia nio ¢ tida como ‘bastante, no direito alemao, para tornar unitario © Jitisconsérel 25 “Assim (mas em tom dubitativo) Reorwrr, 12 gind. ctv, clt., pag. 43, nota 34 (comecads na pig. 40), e 08 autores alemiies recordados em Hextw:c, Lelirbuch, cit,, vol. TIT, pig. 171, nota 7, principio. O préprio Hetawac, contudo, recusava'se a ver no primi: tivo art. 153 da lei gaulesa o modelo do dispositive germanico: v. ob. € lug. cit, e mais, no mesmo volume, pig. 166, nota 47. 96 Limiscons6ncio UNrTARIO 58. Algumas das aplicacées do chamado “principio da indivisibilidade” costumam ser postas em correla¢éo com 0 fenémeno da solidariedade ativa ou passiva. Nos processos em que figuram credores solidarios como co-autores, ou de- ‘vedores solidarios como co-réus, a eficdcia dos atos' dos co- -litigantes sujeita-se a disciplina aberrante, por certos angu- Jos, do regime comum. Em matéria de juramento, por exemplo, presereve 0 ar- tigo 1.365 do Code Civil, alineas 4% e 63, que o deferido a um dos devedores solidérios aproveita aos’ seus litisconsortes,2° desde que verse sobre a divida em si mesma, no sobre o fato da solidariedade. Acrescenta-se em doutrina que a recusa, pelo devedor, de prestar o juramento deferido por um dos credores solidérios aproveita aos litisconsortes deste?" e, re- ciprocamente, a recusa, pelo credor, de prestar o juramento deferido por um dos devedores solidérios aproveita aos litis- consortes deste. Afirma-se ainda que o juramento prestado por um dos credores soliddrios aproveita aos seus’ litiscon- sortes.2° No concernente a transacao, apesar do que se 1é no ar- io que a concluida com um dos devedores ow’ credores solidarios aproveita aos res- pectivos litisconsortes, conquanto nao lhes possa ser oposta.*? Mas 0 ponto esta longe de ser pacifi¢o.3 Corrente é a invocagdo da solidariedade (ao menos da passiva) como causa de extensio subjetiva dos efeitos do re- 26 © principio j4 fora enunclado por Porm, Traité des obli- gations, pig. 449. Segundo 0 mesmo autor, ob, cit,, pag. 448, deferido © juramento por um dos eredores solidatios, se "0 suposto devedor jurasse nao dever, 0 ato produziria efeitos iguaimente em face dos ‘outros credores. 27” Avsry e Rav, Cours de Droit Civil francais, t, VITT, pag. 194; Prnnot, verbete Preuve, in Répertoire de Droit Civil de Datto2, ¢. IV, pag. 172, n° 1188. 28"' Asay e Rav, ob. e lug. elt. (v. também t. TV, pag. 31). 29 Pennoz, verb, e pag. cit., n® 1.189, Observe-se que esse mes- ‘mo eseritor nega expressamente a extensio, 20s co-devedores ‘soli- dos efeitos da confissdo por um deles feita (verb. cit., Dag. '0'g32), embora no direlto frances também a confissio possua, A semetnanga ‘do Juramento decisério, 0 carter de prova lag, vin culativa para o 7, por exemplo, PLawroL e Riven,’ Traité pratique de Droit Chil francais, t. VIT, bag. 398. OUTROS sisrEmas JURiDIOs sv ‘curso — notadamente do appel — interposto por um s6 dos co-litigantes, ou em face de um sé deles.® A jurisprudéncia mais recente, porém, tende a negar tal extensio quanto aos co-devedores solidarios que hajam participado do processo na instancia inferior, restringindo-a aos que dele tenham permanecido ausentes.* Com isso, eliminar-se-ia o interesse da questo para a problematica atinente ao regime do litis- consércio: os co-devedores solidérios estranhos ao feito nao cram, & evidéncia, litisconsortes do que recorreu, ou daquele em face de quem foi 0 recurso interposto, Seja como for, certo parece que a tal conjunto de pe- culiaridades nao se atribui, como razo de ser, a necessidade de assegurar a emissao de pronunciamento judicial uniforme em relagao a todos os co-litigantes vinculados pela solidarie- dade. Nao é essa a preocupacdo subjacente As teses expos- tas: basta ver que com ela nao se compadeceriam algumas das limitag6es assinaladas.% A explicagdo das singularidades impressas ‘4 disciplina do litisconsércio, nas hipéteses em foco, hé'de busear-se alhures: na idéia de representaeao legal ‘ou mandato técito, que, segundo opiniao tradicional entre 32 Guassow, ob. cit., pag. §7; Monet, ob. elt., pag. 632 (o qual, obscure”...); Cucus, ob. eit., pag. 389; Panton e Riven, ob. e t. cit, pag. 397 53 2 0 que Informam Cucus, ob. elt, pig. 389; Grosuréee, ob. 1, pag. 614; Mazeauo ‘Dennina, verbete -0 das posigdes jurisprudenciais e dou- 34 V. gy mo tocante & confissfio, dado 0 seu valor de prova Tegal (v. supra, nota 29), e mesmo aos efeltos do recurso: 6 claro que, se se entendesse imprescindivel Fegulamentacio homogenea 98 Limiscons6xcto UNrriRIo os franceses,* ¢ resistente a tantas criticas, ligaria outros os varios figurantes na relacéo obrigacional pelo menos do lado passivo. Desloca-se o problema, assim, para o terreno do direito material, reduzindo-se a meras con Seqiiéncias as suas manifestagdes no plano do processo.% 59. Maior interesse reveste para a nossa pesquisa a ela- boragdo a que se vem procedendo em Franca, noutra ordem de idéias, a propésito da “‘indivisibilidade“do’ objeto do liti- gio”.*" Aqui realmente parece esbocar-se uma tentativa de construcdo em larga medida assimilével — senéio pelos re- sultados, bem mais modestos, ao menos pelo espirito que a anima — aos modelos dogméticos do direito germanico.® A problemética que neste ponto se abre, com efeito. especifi- camente se relaciona com a necessidade de decisdo uniforme: a indivisibilidade do objeto do litigio conduziria forcosamente & soluco homogénea dele em face de todos os litisconsortes. Em outra terminologia, estranha A linguagem juridica fran cesa: seria sempre unitdrio o litisconsércio, quando indivisi- 35 V., por exemplo, pela teoria da representacéo reciproca entre os Inclusive do ponto-de-vista de suas repercussdes prevalecente no direito ‘que se busea explicar com dados exclusivamente processuais aclma, n° 10). 37 Cf, em a nota 20 do n© 56, supra, a classificacdo proposta anifestagdes do da unitariedade do litisconsorcio (v., acima, n.° 12). ‘oumos sistEMas suRircos 99 vel 9 objeto do litigio no tocante aos varios co-autores ou co-réus. Dai a indispensabilidade, nesse caso, de um regime especial para as relacdes dos co-litigantes entre si e com a parte contréria.% O conceito de “‘indivisibilidade do objeto do litigio”, po- rém, ainda esté longe de ser definido com a preciséo desejé- diz que nao abrange unicamente as hipéteses de lade da relacéo obrigacional discuti Até onde se estende, contudo, € tépico discutidissimo. Con- forme diretriz prevalecente na jurisprudéneia, deveria con- indivisivel 0 objeto do litigio sempre que houvesse induzido do tratamento de casos coneretos em que os tribunais tém sentido a necessidade de assegur: lamentaedo subjetivamente uniforme da situacdo Para demonstrar-Ihe a insuficiéncia no plano dogmatico, bas- ta assinalar que a sua aplicabilidade se cingiria tao-somente 0 das agoes condenatérias.* 42 A nfo ser, é claro, que se entenda em acepeio atéonica a referencia 2 ezeeupdo, como se depreende de alguns dos exemplos indicados por Monsav, ob. elt, pags. 300 e segs. € por GROSLIARE, ob. cit, pags. 64-6. 100 LITIscoNséncto UNrTARIO Quanto as caracteristicas do regime especial, residirao principalmente: a) na disciplina dos incidentes sobre a com- peténcia, com 0 fito de garantir a instrugao e o julgamento conjuntds; #3 b) na exigéncia da participacio de todos os li- tisconsortes para a eficdcia da transacao, da desisténcia do processo, da aquiescéncia a decistio, do reconhé pedido; ## c) em certas peculliaridades da sistem: cursos: Com relacio a c). a despeito de fortes oscilacées, pre- domina em sede jurisprudencial a tendéneia a distinguir en- tre as hipéteses de sucumbimento e de vitéria dos litiscon- sortes: nestas, a solucéo consagrada é a de arvorar em re- 43 Monrav, ob. ci mente processuat da riedade, os sistemas juridicos mals aperfelcoados, ho partictlar, ten- waisquer cogitacdes acerca de atos que nflo repercutam: diretamente no julgamento de meérito: cf. supra, ns, 15 € 28, € V. neste a referencia especifica a questao da competéncia, tlustrada pelo pronunciamento de Potiak (nota 26 a0 cit. n° 28) _. “4 MOREAU, ob. cit, pigs. 190 © segs. Esse autor, c no recouhece grande ihieresse 20 problema dad ‘aco do mesmo na pag. 197, nota 82, consoante a qual é extensivel a esa . a fortiort. & maior parte das solucdes adotadas em matéria juiescéncla & decisio. 45 Monst, ob. cit., pag. 633; Vincenr, ob. cit., pig. 612; Gros- xine, ob. cit,, pags. 165'e segs; Monzav, ob. clt., pags. 216, 234 e sexs, Formula este autor o voto de que expediente andlogo — integracao tancla superior, por todos os figu- \do para a hipétese inversa (plura- v. bags. 238 © segs. » Pag. 632; Gnostrter, ob. cit. p&es. 150 e segs., i 4 Dag. 216. Um conironto Culdadoso entre o conjunto de solugses imagimado em Franca pela jurispradéncia e © sistema eriado na Italia pelo legislador de 1863, em matéria de Feeursos no processo litisconsorcial, revelara a existéncia de diversos pontos de contacto: ef. 0 que se expds, no tocante ao velho ordena- mento peninsular, em on? 47, supra. OUTROS sisTEMAS JuREpICOs 101 quisito de admissibilidade do recurso a interposi¢ao, pela parte contraria, em face de todos os litigantes _vencedores;* naquelas, admite-se em geral que a interposi¢ao regular de recurso por um dos sucumbentes abre aos demais a possibi- lidade de passar, mediante adesao, a instancia superior, ainda gue tenham perdido o prazo ou aquiescido a sentenca, e por ‘Yezes se chega a reconhecer como eficaz para todos os ven- cidos na instanela inferior, hajam ou nao aderido ao recurso do litisconsorte mais diligente, a decisdo que se venha a pro- ferir no respectivo julgamento.* capiruLo sExTo CONCLUSOES GERAIS DA PESQUISA DE DIREITO COMPARADO 60._ De tudo que até aqui se expés defluem as seguintes conelusées: 1# Leis, doutrina e jurisprudéncia tém percebido, com maior ou menor nitidez, a ocorréncia de casos de litisconsér- cio em que é inconcebivel a regulamentacéo heterogénea da situaco litigiosa em face dos varios co-autores ou dos varios co-réus (litisconséreio unitério). 28 Com muita freqiiéncia tem-se suposto encontrar essa caracteristica nas hipéteses de obrigatéria presenca simulta- nea de duas ou mais pessoas no pélo ativo ou no pélo passive do processo (litisconséreio necessario). 38 Ainda nos sistemas — como os germanicos — em que _ ‘se reconhece ser forcosamente uniforme a solucdo do litigio em casos de litisconsércio meramente facultativo, tem-se enten- ido que semelhante desfecho nao pode deixar de ocorrer também em todas as hipéteses de demanda obrigatoriamente conjunta. 48 Por conseguinte, ou se concebem as relagdes entre 0 litisconséreio unitario e 0 litisconséreio necessario em termos de coeztensividade das respectivas areas de manifestacdo (quando nao de indistingdo conceptual), ou pelo menos sé considera o segundo como espécie do género constituido pelo primeiro. 58 A preciso de assegurar a uniformidade da sentenca conduz & edicdo de normas que disciplinam de maneira pe- 108 LITISCONSORcIO UNITARIO culiar a atividade dos litisconsortes, quer em relacdo uns aos outros, quer em face da parte contréria. 6 © conjunto dessas normas constitui o regime espe- cial, que nao raro se diz aplicdvel, mereé da falsa mas corren- te identificacdo entre duas figuras distintas, ao litisconsércio necess4rio, e que tem como principio fundamental o da in- terdependéncia dos litisconsortes. 7% Variam de ordenamento para ordenamento as mani- festagdes coneretas do referido prinefpio, bem como as fér- mulas utilizadas para exprimir-Ihe o modo de funcionamento; essa variac&io, em boa parte, reflete a do proprio elenco dos atos e omissdes suscetiveis, em cada sistema, de determinar © contetido da decisio de mérito. 8% As preocupacées legislativas e doutrindrias tém-se concentrado principalmente no problema posto pela diversi- dade de comportamento dos litisconsortes, e de maneira par- ticular com relacdo aos seguintes temas: comparecimento atuagdo de um ou de alguns, concomitante com a inércia, processual de outro(s); atitudes divergentes na producao de Provas, sobretudo na daquelas a que se atribui eficdcia vin- culativa; pratica de atos dispositivos unicamente por uma parte dos litisconsortes; interposicaéo de recurso também s6 por um ou por alguns deles. 9* De envolta com essa problematica, especifica do litis- conséreio unitdrio, costumam versar-se outras questées, rele- vantes apenas na perspectiva da obrigatoria presenca simul- tanea de duas ou mais pessoas em cada pélo processual, como a da possibilidade ou impossibilidade da desisténcia do pro- cesso por um tinico dos co-autores ou quanto a um tinico dos co-réus. 10? No que tange a primeira ordem de problemas, as diferentes solucdes legislativas e doutrindrias oscilam entre dois extremos: a) 0 condicionamento da eficdcia do ato (ou da omisséo) ao comportamento undnime de todos os litis- consortes e b) a extensdo, aos restantes, dos efeitos do ato (ou da omissdo) de um sé deles. Os sistemas conhecidos re- sultam da combinacdo, em varidvel dosagem, desses expe- dientes opostos e simétricos, mas convergentes para um mes- mo e tnico fim. SEGUNDA PARTE DIREITO BRASILEIRO capiruLo PRIMEIRO DIREITO ANTERIOR carfruLo sEGUNDO DIREITO VIGENTE , cariruLo TERCEIRO DIREITO CONSTITUENDO CAPITULO PRIMEIRO DIREITO ANTERIOR 61. As leis ¢ a doutrina menos recentes. 62. 0 Cédigo balano de 1915: estrutura geral da materia. 63. 0 Codigo baiano de 1918: pressupostos do regime do litisconsar- 65. Outroe Cédigor estadual 66. © Anteprojeto da 12.9 Sul © da Comissio Constituctor 61. Por longo tempo passaram despercebidos ao legis- lador, entre nés, os problemas relacionados com a necessi- dade de assegurar-se, quanto aos litisconsortes, uniformidade na solugao do litigio.’ Despercebida provavelmente Ihe passou, ao que tudo faz crer, a existéncia mesma de casos em que tal solugio nfo pode deixar de ser uniforme. Em véo sc procurara nas leis processuais do século passado qualquer indicaeao de que se tenha pensado nisso. Da fixacio de um regime especial para o litisconsércio, inspirado no propésito de evitar a quebra da homogeneidade na decisio da causa, obviamente jamais se cogitou. 1 Um iinleo tépleo mereceu por vezes regulamentacko legal: do recurso por qualquer delés interposto: v., alnda no direito relnol, 108 LiTIsconséxcio uNrrAR0 A tal deficiéncia de textos correspondia, alids, néo me- nos notavel pobreza doutrindria. O litisconsércio, in genere, néio era tema que atraisse o interesse dos expositores do nosso direito processual civil. A ele néo dedicavam mais que poucas ¢ inexpressivas linhas, em regra, as obras publicadas no pais até as primeiras décadas da atual centuria, Um dos autores da época — 0 primeiro que tentou dar A matéria contornos menos vagos — conhecia o Cédigo ale- mao de 1877, e expressamente 0 invocava em abono de seus ensinamentos.? Nao parece, contudo, havé-lo traduzido com fidelidade.* No que tange, em particular, ao ponto que mais nos interessa, desfigurou’ completamente a parte do texto original em que se alude a necessariedade do litisconsércio como um dos pressupostos de sua wnitariedade.* Nao espan- ta o seu total siléncio acerca das eventuais relagdes, no di- reito patrio, entre 0 litisconsércio de indispensavel consti- 2 Joko Moxruo, Teoria do proceso civil e comercial, pag. 210, nota 3: “Estas regras, condensadas do ultimo codigo do pro esso civil alemio, nos parécem fundadas na melhor teoria filosatica do proceso”. A'14 edicao do livro data de 1899-1901; eltamos a 5.2 edigao, de 1936, 3) “Um dos equivocos mais gritantes ¢ 0 uso da conjungio “ou”, em vez de “e", na locueao “analogo fundamento de fato ou de di- Felto” (v., na ob. e pag. cll, a letra ¢ da enumeracdo das clreunstan— clas que’legitimam o litisconsorcio), a qual supostamente corres ponderia & usada no § 60 (antigo § 57) tedesco, onde todavia se lé ‘“gleichartigen tatsachlichen und rechilichen Grunde™. 4 Reza o § 62 (antigo $ 59) da Z. P.O. “Kann das streitige Rechtsverhiltnis allen Streitgenossen gegeniiber nur einheition fest- gestellt werden, oder ist die Streitgenossenschaft aus einem sonsti- Ben Grunde cine notwendige,...” (isto é: “Se a relacao Juridica litigiosa s6 uniformemente puder ser declarada em face de todos os ‘onsortes, ou se 0 litisconsércio for, por outra razdo, necessi- rio...”). Traduaia Joo MONTEIRO, ob. e’ lug. cit.: “Quando a ques~ tao litigiosa nao pode deixar de ter solucio uniforme a respeito de todos os litisconsortes, ou quan jualquer outro motivo, a co- munhdo de interesses @ necessdria...”. O texto alemao nada con- tém que Justifique essa esdruxula referencia a uma “comunhao de interesses” necessdria — expressdo cujo sentido mesmo se nos afi- gura enigmatico; comunhao de interestes ou existe, ou ndo existe, mas quando se podera dizer com propriedade que deva obrigatéria~ ‘mente existir? © L. II, Tit. LXXX, das Ordenagées Filipinas, cujos preceltos foram Tecolhidos na Consolidacao de 1876 (arts, 1530 2 1.582). Mas é claro que no se tinha consciéncia da respectiva insercio na global pro- blematica de um tipo bem definido de litisconséreio. i. [BIREITO BRASILEIRO (ANTERIOR) 109 tuig&o € © litisconséreio de forcosa uniformidade na solucio do litigio. Na doutrina posterior, aquelas relacdes viriam a ser definidas em termos de coextensdo entre as duas figu- ras; mas ai j por influéncia do que ao propésito se dis- pusera no art. 9° do Cédigo baiano.* Convém voltarmos logo os olhos para esse diploma. 62. Ao Cédigo do Processo da Bahia (Lei n° 1.121, de 21 de agésto de 1915) deve-se, entre nés, a primeira tentativa séria de disciplinar 0 instituto do litisconsércio. Os dispo- sitivos pertinentes (arts. 69 a 10) compunham o Capitulo IL do Titulo I (Das disposigdes gerais) do Livro I (Do processo civil e comercial), e a sistematica adotada logo & primeira vista se revela familiar a quem haja consultado os textos das trés grandes codificacdes germanicas, de 1877 (Alema- nha), 1895 (Austria) e 1911 (Hungria) ‘Como transparece da propria distribuicio da matéria, a fonte principal em que se abeberou o legislador foi sem diivida a Z.P.0. tedesca. Os arts. 69 e 7 enumeram as hips teses de formacao do litisconsércio; os dois seguintes defi- nem, separadamente, o regime comum (art. 8°) € 0 especial (art. 99), por que hao de governar-se, conforme 0 caso, as relacées dos litisconsortes ‘entre si e com a parte contraria;? © ultimo contém disposicao genérica, facultando a qualquer dos co-litigantes, seja qual for a natureza do litisconsércio, “promoyer o andamento da causa”, e ordenando que sejam todos “intimados para os varios atos do proceso”. ¥ crista- ‘AURRLIANO DE GusMKo, Processo civil ¢ comercial, vol. T, pas. 234: “A caracteristica do litisconsoreio necessdrio consiste em que, no podendo ser dada seno uma s6 solucdo ao litigio relativamente 2 todos os litisconsortes, estes se reputam como constituindo uma parte uniea, e 0s efeitos do procedimento de um se estendem a fodos, sendo os que tenham delxado correr a causa & sua revelia repregentados pelos que acompanharam o movimento ou a mareha do proceso até final” (grifado no original). . ‘© Embora Guswio se refira as Ordenacdes alema, austriaca e hiingara, ‘tem-se a Impressao de que s6 as conheceu’ através das informagses contidas nas notas de Esrixota a0 Codigo da. Bahia. Diz, alias, com evidente inexatid’o, que as regras dos trés diplomas germinieos foram “integralmente transplantadas” (sic) para os arts. 6° 2 10 da lei baiana (ob. e lug, cit.); por onde se vé que estava de todo em todo Inadvertido das dessemelhaneas existentes entre os préprios ordenamentos apontades como padrées. 7 V. os textos no Apéndice, pag. 242, 110 LITIscoNSORCIO UNTTARIO lina a correspondéncia entre cada um desses cinco_dispo- sitivos e os §§ 59 a 63, respectivamente, da Ordenagao ale- ma, onde apenas a 2# alinea do § 62 nao teve par no texto baiano. © art. 99 6 0 que mais nos importa. Ai esto claramente indicados: na parte inicial, os pressupostos do litisconsér- cio unitério; na final, 0 regime a que ele se subordina. 68. Qual, no sistema do Cédigo baiano, a area de in- * cidéncia do regime especial? A leitura atenta da primeira parte do art. 99 faz certo: a) que as expressdes “‘pela natu- reza da relacéo juridica, ou por disposicao de lel” sdo, a ri- gor, supérfluas, nada acrescentando de substancial A pri- meira oragdo, de onde poderiam ser canceladas sem prejui- z0 do sentido (“Quando 0 litisconséreio € necessaric ) que a clausula “sé uma solucdo podendo ser profe em relacao a todos” foi inserta como explicitante, ndo como restritiva; isto é: a lel nao quis dizer que, para tornar apli- cAvel o regime especial, seria de exigir-se, além da indispen- sabilidade do ltisconsércio, & impossibilidade de solugaio he- terogénea do litigio, mas sim que tal impossibilidade é ca- racteristica do litisconsércio necessério.* Em outras palavras: de acordo com o art. 9.9, o regime especial incidiria sempre que neces: onsércio, caso em que nao seriam possiveis decisdes diferentes em relacao aos Varios co-autores ou co-réus. A necessariedade do litis- conséreio, por sua vez, poderia resultar da “natureza da re- Jagio juridica” (itigiosa, entende-se) ou de “disposicao de sem que o Cédigo esclarecesse em que hipéteses, fora das’ expressamente previstas em norma legal, a forgosa co- -participagao de duas ou mais pessoas no mesmo pélo do pro- cesso devia considerar-se imposta pela “natureza da relacdo juridiea”.° © Gonfirma-o 0 comentario do udesse a sentenca, em ‘com a mesma eficicla’ istre autor do necessirio © Sela: produsir os mesmos naturalmente como conseqiiéncla da homogeneidade do seu teor) sobre os co-litiga: (EsriNoLA, ob. e vol. eit, pag. 319, nota 15, comecada na. pag. 318) nao define ‘nem enumera” — escrevia Espixoua, pag. 318, nota 15 — “os casos de litisconsdrcio necessar nem, ‘podetia fazé-lo, mas o eritério distintivo que fornece 6 suf! cientemente claro: havera litisconsdrelo necessarlo quando a lel ch DIREITO BRASILEIRO (ANTERIOR) a © sistema da lei baiana afastava-se do consagrado na Or- denacdo alema em admitir a coincidéncia entre 0 circulo de aplicacdo do regime especial e 0 Ambito de manifestacdo do liliseonséreio necessario. A luz do art. 9.9, todo litisconsércio necessétio seria un: € vice-versa, enquanto, nos termos do § 62 tedesco, a indispensabilidade do litisconséreio consti- tuiria apenas um dos pressupostos de incidéneia do regime especial"? 64. Passando agora do exame dos pressupostos ao do regime do litisconsércio unitari do texto alemao, preferindo tomar por modelo 0 § 14 da Z.P.O. austriaca. O “reputam-se os litisconsortes uma_parte tinica” corresponde, quase com literal exatidao, ao “so bilden grelo necessirio 6 espécie do % unitarlo, mas a reciproca nao é verdadeira (ef. supra, nota 12 a0 n° 9), No sistema do Cédigo balano — ressalvada a interpre- tagao, entretanto ‘a que se fez referencia em a nota anterior (1.* objecio) —, tinham-se como coeztensivos os dois con- eltos © determinar ou quando a esséncia da relacdo for tal, que a pretensio dirigida contra uma pessoa abrange, com a mesma eficdcia, outra ou outras” (sem grifo no original).’ Poderia objetar-se: 1.°, que 0 contetido da parte grifada nao aparece se tenha querido expressi-lo na cldusula Ser proferida em relagao a todos"; mas, nesse caso, a unitariedade 86 caracterlzaria 0 litiseonsorelo hecessario em razdo da natureza art. 6°, a nfo Ser que (werbis “preter ocorréncia de nds, porém, € irrecusdvel a existéncia do litisconsorcto ative neces- sdrio' (quando, por ex, o marido tenha de propor ado que verse sobre algum i jo casal)” (pag. $19; grifamos). Mais vale reco- jaiana — a semelhanca, do Cédigo alemao — ndo ministrava criterio entemente para a identificacao dos casos em que se tornai €o-participacao de duas ou mals pessoas como autoras ou rés.

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