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Universidade de Brasilia ~ UnB Faculdade de Educacao ~ FE Programa de Pés-graduacao em Educacao - PPGE Disciplina: Pesquisa em Educagiio Cédigo: 391701 Professora: Otilia A. N.A. Dantas TEMA 02 - Tipos de conhecimento e método cientifico REFERENCIA TRIVIRIOS, Augusto N. S. Introdugdo 8 pesquisa em ciéncias socials: a pesquisa qualitativa em educacdo. Sao Paulo: Atlas, 1987. Cap. 2: Trés enfoques na pesquisa em ciéncias, sociais: 0 positivismo, a fenomenologia e o marxismo. é 30 2 TRES ENFOQUES NA PESQUISA EM CIENCIAS SOCIAIS: O POSITIVISMO, A FENOMENOLOGIA E O MARXISMO Vamos procurar tragar, © que nao € fécil, um quadro geral das idéias principais que caracterizam cada uma das tres correntes do. pensamento contemportneo que, segundo nosso ponto de vista, mais tm orientado, em nossa 6poca, a educacao ¢ a pesquisa em ciéneias sociais. Além do positi- vismo, da fenomenologia e do marxismo, talvez seria possivel destacar 0 perionalismo, especialmente 0 que distingue a tendéncia representada pelos télicos de esquerda” que tém entre seus representantes ‘a participagio na denominados mais esclarecidos Mounier e Lacroix, franceses de at , contra o nazismo, durante a ocupaco alema, na Segunda a Mundial, Eles, de mancira singuiar, através da revista Espirit, fun- dada em 1952, tm influenciado amplos setores de corrente avangada do catolicismo da’ América Latina que propiciam mudancas substanciais na vida social, econdmica e politica no continente. Mas prescindimos de um enfoque de destaque do personalismo, porque pensamos que muitos de seus cultivadores, talvez os mais expressivos, aplicam em suas anélises da realidade social elementos te6ricos do marxismo ou da fenomenologia, Isto hiio quer dizer que os personalistas Latino-americanos sejam ccléticos. Sim: plesmente aplicam, iluminados por suas préprias © essenciais concepcSes idealistas ¢ tefstas, mas quais a personalidade humana € celocada no hugar mais elevado, os componentes ideol6gicos de outras tendéncias (© nivel de viggncia na pesquisa edueacional, nestes_momentos, do positivismo, da fenomenologia ¢ do marxismo € desigual. © primeiro, eujo predoininio foi incontestivel até a década de 70, comeyou a perder terreno 20 redor dos anos oitenta de forma notivel. Isto se deveu a diferentes tipos de fatores, Em primeiro lugar, a critica mundial que havia sofrido 0 enfo- {que positivista nas ciéncias sociais, cujos focos mais fortes partiam do neo: mnarnismo representado pela denominada Escola de Frankfurt (Horkheimer, ‘Adorno, Marcuse, Fromm etc.) e da fenomenologia, com raizes em Husserl Me-leau-Ponty, Heidegger etc. © que se concretizava no pensamento So jokigico de Young, Esland, Keddie, Mills etc. Muitos destes pontos de vista adversos ao positivismo jé eram conhecidos pelos pesquisadores deste cortinente nos primeiros anos da década de sessenta, Mas as condicdes histérieas que viviam estes paises, geralmente caracterizadas pelo autorita- rismo, pela ditadura, impediram 0 avango de idéias que pretendessem mu- dar 0 status guo existente, A “‘abertura politica" que peculiariza 0 comeco do deeBnio de oitenta permite uma discussio mais ampla das diversas ten- éncias do pensamento, Por outro lado, 0 positivismo perdew importincia na pesquisa das ciéncias sociais que se realizava, especialmente, nos cursos de pés-graduagio das universidades, porque a prética da investigagao se transformow numa utividade mecinica, muitas vezes alhela as necessidades dos paises, sem sentido, opaca, estéril. A tendéncia quantificagao privilegiou 0 emprego dda estatistica, as vezes usandose técnicas sofisticadas no intuito de atingir maior prestigio como pesquisador. A busca de resultados essencialmente ‘statisticos amarrou, em repetidas oportunidades, o investigador ao dado, 20 cstabelecer ““relagGes estatisticamente significativas”” entre os fendmenos. esta maneira, terminava a anélise das realidades precisamente no ponto onde devia comes: © tratamento isolado, separado de um contexto maior, das informa: 0s, fez destas elementos improdutivos, initeis para os possiveis usurios dias pesquisas, No melhor dos casos foram usadas porcentagens para jus- ificar tarefas, projetos etc., sem maiores perspectivas e profundidade. Esta pritica “positivista” na pesquisa, especialmente na educaga0, originow os Investigadores de uma ‘'s6 pesquisa, a dissertagio de mestrado, por exem plo, deturpando os objetives da pos-graduagao. Na universidade, imbutdos da importancia da quantificagio, e com a assessoria estatistica, os. pos-gra- duados realizaram seus trabalhos, muitas vezes, com éxito. Defrontados com a realidade nacional da escola, sem ou com dificil apoio estatstico. c, fundamentalmente, sem a experiéncia da reflexdo aprofundada que exige luma investigagio que usa o dado cstatistico apenas como uma informacao tuniliar, os pesquisadores se sentiram nauftagar. Naturalmente, 0 fracasso tna formagao de investigadores em educacio envolve uma séric de fatores Complexos ¢ ndo simplesmente a pratica da pesquisa de natureza positivista Mas, sem diivida, esta tem sua alta quota de responsabilidade no desenvol mento da pobre dimensio que se observa no campo da indagacdo cientifica ‘educacional. Os enfoques fenomenolégicos na pesquisa em ciéneias sociais come- garam, em geral, nos uiltimos anos da década de 70, aumentando sua im- portancia 2 medida que diminufa a tradicdo imperativa do positivismo, Na Educacio, talvez se tenham produzide entusiasmos desmedidos em relacio nova visio que se tinha da pesquisa. © habito positivista de pesquiser, famarrado ao dado & sua relacao fundamentalmente quantitativa com Gutta infermagdo, privou ao novo enfoque a possibilidade de interpretagSes Yicas das realidades estudadas. Devemos reconhecer, porém, que alguns pesquisadores fugiram dessas limitagSes. Mas no ambito dos pés-graduan- st 32 dos apresentaram-se escassos resultados validos e meritérios. E de notar, por outro lado, que alguns pesquisadores desenvalveram preconceitos em torno da dimensio objetiva da pesquisa, exaltando o angulo subjetivo © a inter: pretagio qualitativa das informacdes. A busca de significado dos fend menos ¢ das bases culturais dos mesmos complicou a ago dos indagadores educacionais. Isto privilegiou 0 enfoque antropoldgico, especialmente na articipante, © no campo da educacio popular e de adultos. A storicidade do fenomenol6gico ¢ sua tendéncia conservadora esto sendo ukrapassadas por alguns pesquisadores, com 0 emprego de clementos dia- lksicos de analise. Se a pesquisa de natureza fenomenolégica, especialmente a de cunho antropolégico, esti apresentando dificuldades para os pés-graduandos em ceducacio, os embaracos aumentam, notadamente, quando se rel iva de investigar usando a conceitualizagio basica do materialismo.dialé tico, A falta de tradigao no emprego da anélise marxista da realidade, em nnesso meio, ¢ a complexidade do método dialético Ievantam solidas ‘bar- reiras diante dos pesquisadores que desejam avangar neste campo, A cvssio © a pritica da_pesquisa em educagio, dentro do uso dos procedi- mentos materalistas dialéticos, apenas estio comegando, Os estudos rea- lizados até 0 momento, surgides na década de oitenta, mostram, sobretudo, entusiasmo, © que nfo deixa de ser promissor. & conveniente ressaltar, porém, que existem, excepcionalmente, em edueagio, trabalhos — dentro dc enfoque marxista — muito positives. A realidade subdesenvolvida dos povos da América Latina requer, sem diivida, scus préptios métodos de inlerpretagio e de explicagio. ‘Talvez seia mais grave que em qualquer outro campo deslocar, desde zonas alta- mente industrializadas e com elevados padres de vida, esquemas teéricos de pesquisa, fixos, que se aplicam, sem maior anélise, em nosso ambiente. Nossos problemas sio essencialmente sociais, econémicos © politicos. $6 agora comecamos a privilegiar, novamente, os estudos de natureza sociolé- gica. Singularizamos, talvez com demasiada éniase, os problemas de natu era psicoldgica, proprios de povos desenvolvides, em prejuizo evidente das deficiéncias sociais, facilmente perceptiveis. Estamos conscientes de ‘que no queremos estabelecer “hierarquias de disciplinas”* culturais. Mas € wm fato que muitos dos contetidos teéricos de algumas disciplinas foram usados em nossa realidade sem maior estudo © quase mecanicamente, fal- seando nossas interpretagoes dos fenémenos, A seguir, queremos apresentar uma sucinta caracterizagio do positi- vismo, da fenomenologia € do materialismo dialético. Pretendemos, com isso, clarear 05 caminhos te6ricos para os principiantes em pesquisa edu cacional, Isto leva implicito terminar com certos preconecitos que circulam em nosso meio (por exemplo, a dicotomia quantitativa-qualitativa, o que fem estado significando a eliminagdo do quantitativo na pesquisa educe- ional; a rejeigio da experimentagéo no ensino, considerada como heranca nelasta do positivismo etc.).. 1 © POSITIVISMO 1.1 Idéias basicas 1. No quadro geral de referéneia, em torno do problema fundamental da Filosofia, © positivismo & uma tendéncia dentro do Idealismo Filosofie © representa nele uma das linhas do Idealismo Subjetivo. Esta identificacio assinala para o positivismo alguns tragos essenciais, aos quais jé nos rofe- rimos em outro lugar, no Capitulo 1, Questées preliminares bésieas 2. © positivismo, sem diivida, nfo nasceu espontaneamente, no sé- culo XIX, com Augusto Comte. Suas raizes podem ser encontradas no empiricismo, jé na antigiiidade. Mas as bases concretas ¢ sistematizadas dele est20, seguramente, nos séculos XVI, XVII e XVIII, com Bacon, Hob- bes ¢ Hume, especialmente 5. © fundador do positivismo foi Augusto Comte.* Podemos distin- guir no pensamento de Comte tres preocupagdes fundamentais. Uma filo- sefia da historia (na qual encontramos as bases de sua filosofia. positiva © sua eblebre “lei dos trés estados” que marcariam as fases da evolugio do pensar humano: teoldgico, metafisico positivo); uma fundamentacio ¢ classificacio das ciéncias (Matematica, Astronomia, Fisica, Quimica, Fisio- logia e Sociologia); ¢ a elaboracdo de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro momento, cle denominou fisica social.” Também Comte elaborou um esquema de uma religiao da humai dade. Pensava ele que a pregacao moral abrandaria os capitalistas e assim seriam mais humanos com os proletérios e as mulheres, eliminando os con- lites de classes, mantendo, porém, a propriedade privada, 4. A grandes tracos podemos distinguir trés momentos na evolugao do positivismo. Uma primeira fase, que chamaremos positivismo eldssico, na qual, além do fundador Comte, sobressaem os nomes de Littré, Spencer e Mill. Em seguida, a0 final do século XIX e principios do XX, 0 empirio- criticismo de Avenarius (1843-1896) ¢ Mach (1838-1916). A terceira cta- pa denominase, em geral, de neopositivismo © compreende uma série de ynatizes, entre os quais se podem anotar 0 positivismo légico, o empirismo \Sgico, estreitamente vinculados ao Circulo de Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath ete.); 0 atomismo Wésieo (Russell, 1872-1970, e Witgenstei 1889-1951); a filosofia analitica (Witgenstein e' Ayer, n.1910) que acham que a filosofia deve ter por tarefa elucidar as formas da linguagem em busea da esséneia dos problemas: o behaviorismo (Watson, 1878-1958) ¢ © neobehaviorismo (Hull, 1884-1952, ¢ Skinner, n.1904), © neobehay "gant gacey om. Monoalliar Frmg, 81 doio dT, pores fm ise? ol everett Go Sait Simon Publican 1600 em ele volumes, Corsa ao. oct bonilea, cm {8 “Disco sabe pio pstvo™ em 162. Cateloho, post 33 34 rismo tomou as idéias de Pavloy e substituiu a base materialista deste pelas corcepsdes do positivismo I6gico e do. operacionalismo. © pragmatizmo, James (1842-1910), irracionalista ¢ empirista radical, ¢ Dewey (1859-1952) primeiro seguidor dos pontos de vista de Hegel. em seguida do positivisms para terminar eriando uma nova escola, denominada instrumentalismo ou haluralismo humanista, de grande influéncia na filosofia norte-americana Dewey influenciou na educacdo dos paises da América Latina. Na politica desenvolveu 0s principios da democracia liberal e do individualismo. To dos estes matizes do neopositivismo conservam os tragos fundamentals do pensamento de Comte: 0s de serem idealistas e subjetivos, 5 Nio compreenderemos cabalmente 0 surgimento do posit e wurgimento do. positivismo postulados se niio 0 entendermos como uma reacao & filosofia espe- ava especialmente a nepreseniada pelo idealismo clissieo alento (Fh. , Schelling, Kant e Hegel) que imperava no pensamento europeu da época de Comte. Facilmente se observa que a flsotia postvista te coloeae no extremo oposto da especulacdo pura, exaltanda, sobretiido, os fatos 6. Uma caracterizacio mais sistemética do que temos chamado 0 ositivismo clissico", segundo as obras de Comte, permite-nos apontar para as seguinies idias basicas: a) Frente a0 problema da possibilidade do. conhecimento ‘humano, Comte manifestase claramente eéptica. “No estado. po: sitivo, 0 espirito humana, reconhecendo a impossibilidade de obler nogocs abolutas, renuncin a procurar a erigem ¢ destino do luniverso, # conhecer 8 suas causas intimas, para descobrit, gra invaridiveis de sucesso ¢ de similitade. A explicagio dos fatos resume-se de agora em diante na ligaglo estabelecida entre os diversos fendmenos particulares w alguns fatos gerais..."' Nestas de Comte descobrimos alguns dos principios fundamentais do positivisma, cujo emprego se considera como de prética comum entre os pesquisadores, Estes principios sio: a busca da explicagio dos fendmenos através das relagGes dos mesmos ¢ a exaltacio da ‘observacio dos fatos, mas resulia evidente que para ligar os fatos existe “necessidade de uma teoria””? De outra maneira, resultaria impossivel que 0s fatos sejam percebidos. “Desde Baccn se repete gue séo reais os conhecimentos que repousam sobre fatos obser: vyados, mas para entrgarse 2 observacio nosso spite presia b) Comte declarase partidério da especializacao, mas cho. ‘ma a ateneio sobre os perigos, para a unidade do conhecimento, que pode ter a especializacao exagerada. Por outro lado, fala do estudo “das generalidades cientificas como de outra grande espe Cialidade"'* Nao € possivel, porque foge & capacidade humana, © ensino de todas as disciplinas cientificas por separado. Deve existi, primeiro, “uma instrucio fundamental sobre todas as grandes clas ses de fendmenos naturais”? “As classificacées dos fendmenos — acrescenta — nao devem ser realizadas a priori, Elas devem provit do proprio estudo dos objetos a serem classificados.”* ©) Talver um dos assuntos mais discutidos no sefo da cultura contempordnea seja 0 da relagio teorieprética. Comte acha que 6 estudo das cigncias possui algo muito mais elevado que o de aten- der o intcresse da indistria, que & o de “satisfazer a novessidade fundamental sentida por nossa inteligéncia, de conhecer as leis dos fenémenos",? “prescindindo de toda consideracao pratica d) Comte prega a submissio da imaginacso 2 observacio, mas isto nao deve transformar “‘a ciéncia real numa espécie de estéril acumulacso de fatos incoerentes”, porque devemos enten- der “que 0 espirito positive nao esté menos afastado, no fundo, do empirismo do que do misticismo”. ©) © positivismo proclema como funcio essencial da ciéncia sua capacidade de prever. “O verdadeiro espirito positive co em ver para prever.” Por outro lado, o exercicio das fungoes intelectuais “exige uma combinacdo de estabilidade © atividade, donde resultam as necessidades simultneas de ordem e progresso, ‘ou de ligacio e extensio’ f) Comte assinala cinco acepedes para a palavra positive." ‘A primeira delas designa 0 real em oposicdo a quimérica. Isto significa que o espirito humano deve investigar sobre © que & posst- vel conhecer, eliminando a busca das causas sltimas ou primeiras das coisas. © positivo é um estado sobre o util ao inyés do ocioso. Nada que néo seja destinado ao aperfeigoamento individual ou coletivo deve ficar de lado. A filosofia positiva deve guiar o scr humano para a cerfeza, distanciando-o da indecisdo; deve clevé-to ‘ag preciso, eliminando © vago, tdo caracteristico da filosofia tradi- Cional. A quinta acep¢o do vocébulo positive aparece como contrdria a negativo, Assim, a filosofia tem por objetiva nao des truir, mas organizar 2) F interessante @ opinifo de Comte em relagio a uma prée fica comum, ainda, em nossos mefos intelectuais: a do ecletismo. “Este € absurdo ¢ perigoso, néo s6 em politica, mas também na filosofia. Ele € uma va intenedo de conciliar, sem principios pré- prios, opinides incompativeis.” * 7. A seguir, vamos comentar brevemente as caracteristicas princi pais do positivisma, Fazenda mengio, especialmente, aos tragos que singu- larizam, 0 neopositivismo e o positivismo l6gico: a) Uma das caracterfsticas que mais tém pesado sobre pritica da pesquisa na educacio, ainda que cla nio seja a mais 35, 36 importante do positivismo, 2 de considerar a realidade como formada por partes isoladas, de fatos atémicos, segundo a expresséo de Russell e Witgenstein (atomismo I6gico). Esta visio isolada dos fendmenos sociais, oposta a idéia de integridade ¢ de transforma io dialética hegetiana, permitin que nossos pesquisadores reali zassem estudos, por excmplo, sobre o fracusso escolar, desvincula- dos de uma dinamica ampla e submetidos a relagSes simples, sem aprofundar as causas. A evasao na primeira série surgia como rela. cionada com os anos de magistério dos professores, com seu gratt de formacio profissional, seu nivel sécio-econémico ete. O mundo era um amontoado de coisas separadas, fixas b) O positivismo néo aceita outra realidade que nio sejam 05 fatos, fatos que possam ser obscrvados. “Para que determina dos estudos sejam considerados ciéncia cles devem reeair sobre fatos que conhecemos, que se realizem e sejam passiveis de obser- vagao.” * Isto otiginou um problema. Que se passava com os estados mentais? Todos reconheciam que eles eram diferentes dos fatos do mundo mater |. O behaviorismo, em busca tificidade, climinou a introspeccao, método ekissico da psi tradicional, © chegou & conchusio de que os estados mentais, de qualquer natureza © complexidade se manifestavam através do comportamento © este podia ser observado." Dest mancira, © positivismo conservava incdlume um de seus prinefpios basicos. ©) Mas 20 positivismo no. interessavam as_causas dos fendmenos, porque isso nav ete positivo, nao era tarefa da ciéncia. Buscar as causas dos fatos, sejam elas primeiras ou finais, era erer demasiado na capacidade de conhecer do ser humano, era ter uma visio desproporcionada da forca intelectual do homem, de sua ra 730. sso cra metafisico. Assim, tendo os Fatos como tinico objeto da cigncia, fatos que podiam ser observados, a atitude positiva con- sistia em descobrir as relagdes entre as coisas. Para atingir isto, nas ciéncias sociais, eriaram-se instrumentos, claboraramse deter minadas estratégias’(questionérios, escalas de atitudes, escalas de opiniao, tipos de amostragem etc) e se privilegiou a estatistica e, através dela, © conhecimento deixou de ser subjetivo, aleancando a desejada “objetividade cientificn”. Desta maneira, eliminava-se a busca inadequada do porqué. O que interessa a0 espitito positivo € estabelecer como se produzem as relagdes entre os fates. 4) Este conhecimento objetivo do dado, alheio a qualquer trago de subjetividade, eliminow qualquer perspectiva de colocar a busca cientfiea no servigo das necessidades humanas, para resolver problemas praticos. O investigador estuda os fatos, estabelece re- lagdes entre eles, pela prépria cigneia, pelos propdsitos superiores da alma humana de saber. Nao esta interessado em conhecer as conseqiiéneias de seus achados, Este propésito do espirito positivo engendrou uma dimensio que foi defendida com muito entusiasmo © ainda hoje, em alguns meios, se levania como bandeira verdadei- ta: a da neutratidade da ciéncia, “A ciéncia estuda os fatos para comhecé-los, e tio-somente para conhecé-los, de modo absolutamen- te desinteressado.” “'Quando o sébio cientificamente investiga, ele se desinteressa das conseqiineias prétieas. Ele diz o que é; verifica 1 que so as coisas, ¢ fica nessa verificagao, Nao se preocupa em saber se as verdades que descobre so agradiveis ou desconsertan- tes, se convém que as relacdes que estabeleca fiquem como foram descobertas, ou se valeria a pena que fossem outras, Seu papel exprimir @ realidade, nao julgs-la.” * Este ponto de vista, 0 de ser 0 conhecimento cientifico neutro, foi combatido, primeiro, no mundo ddos cientistas sociais que ndo podiam conceber que a ciéncia hu- mana pudesse ficar & margem da influéncia do ser humano que investigava, So poucos agora os que ainda defendem a neutrali- dade da eiéneia natural. 2) Um dos traco representado por sua re ais caracteristicos do positivismo esté §9. a0 conhecimento metafisico, & meta- fisica, Para alguns esta peculiaridade € a que melhor define a filo- sofia positiva comtiana, Por isso, o cepticismo metafisico se conhe- ce também como positivismo. “Devemos limitar-nos 20 positiva: mente dado, aos fatos imediatos da experiégncia, fugindo de toda especulagio metafisica, S6 hé um conhecimento € um saber, aquele proprio das ciéncias especiais, mas nao um conhecimento ¢ Mais tarde, o empirismo légico, neopositivismo, rejeta também ‘a metafisica, mas por razées diferentes das sustentadas por Comte: ndo acha que 0 conhecimento metafisico deva ser rejcitado porque seja falso, mas porque suas proposigdes carecem de significado, E sia é uma das muitas diferencas que se podem estabelecer entre © positivismo clissico ¢ 0 neopositivismo, especialmente pelo que esti representado pelo Cireulo de Viena, 0 denominado positivismo gico. f) Precisamente foi © positivismo Wégico que formulou 0 e& ere prince da veri (mansago da vedio), Segsndo este principio, serd verdadeiro aquilo que & empiricamente veri eivel, isto é toda aflemagao sobre o mundo deve ser confrontada com 6 dado” Desta maneira, 0 conhecimento cientfico ficava limi tado & experiéncia sensorial. A estreiteza deste principio, que det xava fora da cigneia muitos conhecimentos que nio podiam ser comprovados pela via experimental, redw7iu rapidamente sua im portincia, obrigando os criadores dele a formularem critérios mais amplos sobre o particular, como, por exemplo, admitindo a con- cordincia geral da teoria com 0 dado na experiéneia, 37 38 8) Uma das afirmacdes bésicas d vismo esti represen- tadn Pela sun ida-de unidade metodoldgiea para inventigncto doc dados naturais ¢ sociais. Partia-se da idéia de que tantos os fend- menos da natureza, como os da sociedad estavam regidos por Mis invarives, © problema resdia para o investindor na busca ce ese iendo em vista os objetos que se h) Um dos elementos principais no processo de quantifi 0 dos fates socais fol o empregd do temo varifvel. Ava permitiu nio s6 medir as relagSes entre os fenémenos, mas também lestar hipéteses ¢ estabelecer generalizagoes. Para que a variivel fosse verdadeiramente elicaz, devia ser operacionalizadla, isto 6, ter tum significado especifico, verificavel. Os conceitos operacionali- zzados formavam as proposigées que permitiam formular as teorias."* Uma das aspiragSes mais notadamente abrigadas pelos posit vistas fo de feangar resultados na pesqina socal gue pudessem generalizarse, As téenicas de amostragem, os tratamentos estaisti- 0s ¢ os estudos experimentais severamente controlados foram ins- trumentos usados para concretizar estes proptsitos. Partiam do Principio positivista da unidade metodoldgica entre a ciéncia natu: ral ¢ a ciéncia social. Os reiterados reveses, observados 2 simples destas pretensies nao foram. porém, obsticulo para defer der a validade da idéia. A flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condiedes histéricas, unidas a0 fato de que na pesquisa social 0 investigador é um ator que con- tribui com suas peculiaridades (concepgao do mundo, teorias. valo- fs ste) no perio elaborar um eonjunto de condos Frente a determinada realidade com o nivel de objetividade que apresenta tum esto realizado no mundo naturals _—_—: i) Os positivistas logicos, especialmente Cai Ne , nte Carnap e Neurath, desenvolveram a idéia denominada fisicalismo, numa tentativa de buscar uma linguagem tinica, comum para toda a cigncia. O fis le sre pont tee ap dessa poesia. entio era cientific Os cangou resultados satisfatérios. ‘ ‘sforeo " vi. Isto significava rebater a tesc kantiana de que a conscid era capaz de ct atte antes ¢ independentemente da experiéneia Percepeao sensorial. : nse se € fato. Os fatos eram objeto da ci inco muito clara entre valor ia. Os valores, como nio exam “dados brutes” © apenas expressées culturais, ficavam fora do interesse do pesquisador positivista, nunca podiama constituit-se ‘num conhecimento m) © positivista reconhecia apenas dois tipos de conhecimen- tos auténticos, verdadciros, legitimos; numa palavra, cientificos: 0 empirico, representado pelos achados das ciéncias naturais, 0 mais importante de ambos; ¢ © ‘constituido pela légica e pela mar tematica.” s ataques mais relevantes contra 0 positivismo, em geral, se dirigiram sos positivistas Idgicos, especialmente aos integrantes do Cireulo de Viena No realidade, eles eram a cabeca mais vistvel desta tendéncia filos6fica com indiscutiveis rafzes no pensamento comtiano, Talvez. concentraram O$ ata- Giues porque esses pensadores pretendiam fazer do positivismo I6gico uma Filosofia geral da ciéncia, Mas sua tentativa estava to sobrecarregada de tpicos polémicos que ofereciam facilmente brechas para as investidas dos filésofos que sustentavam pontos de vista tedricos diferentes. B curioso que uma das principais limitagdes a0 positivismo 16gico tenha sido levaniada por um dos que integravam, talvez de modo circuns taneial, os colSquios que se realizavam no Circulo de Wiena: Karl Popper. Este fildsofo escrevia em 1974: “Em virtude da publicagio do livro Logik der forschung, publicado em 1934, fui situado como membro dissidente do ositivismo Idgico que apenas sugeria uma substituicao do critério de ve- Hficabilidade pelo critério de falseabilidade...” “Nao obstante, os pré- prios positivistas Ipicos preferiam verme como aliado do que critico. To: dos sabem alualmente que o positivisme lgico esti’ orto... Receio que cu deva assumir essa responsabilidade. Popper formulou o que se denomina racionalismo erftico, tendéncia fi- loséfica contemporanea que também tem recebido outros nomes (empirismo critico, criticismo, falsificacionisma ett.) cujos principios no esifo clara ‘mente’ estabelecidos. Mas, em geral, podemos dizer que 0 racionalismo ‘0 postula explicar © comportamento humano, o saber, as idéias, as organizagSes sociais etc., procurando realizar sobre eles uma critica ten- dente a seu aperfeicoamento constante. O racionalismo critico representa luma linha dentro das filosofias pés-positivistas. Defende © carster hipo- {ctico de todo conhecimento cientifico, a possibitidade de estabelecer que hipoteses so mais indicadas que outras etc. Popper rejeitou, nas ciéncias empiricas, o emprego do método indutivo e sua idéia de inferir de enun- ciados singulates (ou particulares) enunciados universais, como tcorias € hipdteses. FE propos como método da cigncia o método hipotético-dedutivo. "A teoria do método dedutivo de prova ou de concepcio segundo a qual uma hipétese sé admite prova empirica e tGo-somente aps haver sido formulada, opée-se frontalmente a todas as tentativas de utilizar as idéias da Légica Indutiva."™ Este problema do método indutivo, que Pooper denomina 0 “Problema de Hume”, por haver sido este fildsofo 0 primeiro ‘a denunciar suas limitagSes,* esté’ em relagio com 0 ctitério da demarca- 39 40 gio. Para os positivi P tas era cientifico, legitimo, 86 0 que “derivasse experiencia". "Os positivistas modernos ttm condigao de ver mule clare mente que a ciéncia no é um sistema de conceitos, mas, antes, um mg de enunciados.” “.... Contudo, s6 reeonhecerei tim sistema como. empi rico ou cientifico se ele for passfvel de comprovagao pela experiéneia, [seas consideragSes sugerem que devem ser tomado como eritério de demarcayio hao a verficabilidade, mas a falseabilidade de um sistema." Em outras palavras, nfo exigirei que um sistema cientifico seja suscetivel de ser dado como valido, de uma vez por todas, em sentido positivo: exigirel, porém. que sua forma Idgica seja tal que se torne possivel validé-lo através de recurso a provas empiricas; em sentido negative, deve ser possivel refutar pela experiéncia um sistema cientifico empirico, Assim, “Choverd Ow nao choverd aqui, amanha” nao sera considerado empftico, simplesmente por. gue nao admite refutacao, a0 passo que sera considerado empirico o enn. ciedo “Choverd aqui, amanha”.” Devemos reconhecer que Popper, seguindo a linha de Hume, assestou um golpe decisive nas bases das idéias que permitiam aos positivistas, espe- cialmente aos primeiros representantes dessa corrente do pensamento, con siderar_ um conhecimento como cientifico ou nao, mas foi a Escola de -m dtivida, a que cavou o ttimulo, com maior responsabilidade, mo, especialmente 0 que se abrigava no denominado Circulo de Viena. A critica da Escola de Frankfurt foi profunda, demolidora. Seus principals representantes, Horkhsimer, Adorno, Mateus, Benjamin, Fromm, lapermas, dirigiram suas flechas a0 positivista que aparecia c avo cheio de pontos vitals, aceis de acerar ¢ de destrun OM Habermas, por exemplo, examina extensamente 0 positivismo>* Crit cathe 0 haver terminado com a teoria do conhecimento-e sua substituicao pela teoria das ciéncias, “A questao Iigico-transcendental acerca das con: diges do conhecimento possivel visava, simultaneamente, & explicagao. do sentido inerente a0 conhecimento enquanto tal. © positivismo amputa esse _questionamento."® Habermas nfo aceita estabelecer o conhecimento clemtifico como 0 unicamente vilido © ndio investigar 0 que nao seja objeto de percepeaa sensivel. Horkheimer ¢ Adorno™ revisam, especialmente numa obi concep. so de sociolopia de Comte e apontan a suas limitagtens nS oe Pode-se aprofundar no conhecimento das criti E a ib yento das criticas que a Escola de Frankfurt realiza ao positivismo e no sentido geral das reflexdes desse grupo de pensadores nas obras de Giroux,” Freitag “e Jay™ e, naturalmente, nas publicagdes dos integrantes da denominada Escola de Frankfurt, corrente Aeomarxista de extraordindria influéncia na década de sessenta, ‘As idéias ‘Sette, alain « Marin de Anta Marcon, em so Motegi etn So Pa, ta lec, gr fre par cue date soca ete Tena ts ia NP dos filésofos de Frankfurt, que pretendiam a “reconstrugio do marxismo”, jentaram alguns grupos de esquerda que Iutaram, entre outras coisas, pela reforma universitiria de 1968 que teve 2 sua origem em Nanterre, Franga, e que, em seguida, se estendeu pelo mundo. © positivismo, sem diivida, representa, especialmente através de suas formas neopositivistas, como © positivismo I6gico € a denominada filosofia analitica, uma corrente do pensamento que alcancou, de maneira singular ha légica formal e na metodologia da ciéncia, avangos muito meritérios para © desenvolvimento do conhecimento, Se bem que possamos considerar 0 Circulo de Viena 0 centro itradiador por exceléncia do neopositivismo, lambém devemos destacar grupo de Moore na Inglaterra, a ‘Sociedade de Filosofia Empirica de Berlim” de Reichenbach ¢ Hempel, 0 grupo de filosofia da cineia” da América do Norte com figuras importantes como ss de Nagel e Brigman ¢ outros nomes de diferentes paises. Muitos dos heopositivistas, na década de trinta, se deslocaram para a América do Norte, fortalecendo os prinelpios que, nessa linha, se cutivavam naquela nagao. Uma das idéias que postulava Comte, da “necessidade de estabelecer uma relacio fundamental entre a cigncia € a t ® “concretizouse de mank ra extraordinéria no meio norte-americano, 0 que significou que a técnica ‘nia foi mais unicamente geometria, mecinica, quimica etc., mas também politica € moral”. O resultado desta uniao da ciéncia e da técnica ma- nifestou elevado desenvolvimento espiritual e material no pais, que influen- jou a vida social, econémica, politica ¢, especialmente em relagio as na- des da América Latina, educacional, de outros povos. 2 A FENOMENOLOGIA 2.1 Idéias basicas 1. Em nosso quadro geral de referéncia, que gita em torno do proble- ‘ma fundamental da filosofia, a fenomenologia representa uma tendéncia dentro do idealismo filoséfico e, dentro deste, a0 denominado idealismo subjetive. 2. A fenomenologia de Husserl, que ¢ a que destacaremos neste bre- ve enfoque, teve grande influéneia na filosofia contemporiinea, Correntes do pensamento que foram extraordinariamente populares nos tempos de pos Segunda Guerra Mundial, como 0 existencialismo, se alimentaram na fonte fenomenoligica. Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, por um lado, re- presentam o existencialismo aleista, e, por outro, Van Breda, Marcel e Jas pers, entre outros, cultivam uma linha de crenga em Deus, cujas raizes prineipais esto em Soeren Kierkegaard (1813-55), fil6sofo dinamarqués, para o qual o pensar deve ser “existencial”. O que importa é o homem como “existéncia”, como um ser intimamente pessoal. Kierkegaard intro- a 42 duziu na linguagem filosofica alguns termos, segundo ele, proprios d3 mun- do intimo da set humano, como angtstia, emer, desesperacdo ete, qu veram notével desenvolvimento entre os existencialistas que cultivaram a literatura, como Sartre, Marcel, Camus ete “seam 3. As origens da filosofia de Edmund Husserl (1859-1938) talver ¢stejam principalmente em Platio, Leibnitz, Descartes e Brentano. De Franz Brentano (1858-1917), filésofo idealista austriaco, quicé proceda um dos concitgs fundamentals da fenomenologia husserliana, ‘da intencionel- dade. Segundo Brentano, a psique sempre esta dirigida para al “in de.” Sep sigue sempre esti dirigida para algo. F 4, Como ocorreu com 0 positivismo, também, dentro da fenomeno- logia, podemos assinalar “grupos de pensadores” que apreseniam suas pro prias peculiaridades, introduzindo mudancas no pensamento original’ da fenomenologia, aprofundando certos aspectes dela, lutando por manter as ‘déias iniciais ete, Na Franca, por exemplo, ressaltam os nomes de Sartre, Merleau-Ponty € Ricoeur: na Alemanha, além de Husserl ¢ seus discipulos (Pfinder, Ingarden etc.), defensores da fenomenologia pura, estao Hei degger ¢ também Max Scheler com sua fenomenologia das esséncias, Mai tarde se constituiram outros grupos de fenomendlogos na América do Norte f na Inglaterra, especialmente, Neste ultimo pais, na década de sctenta ‘giGouse uma corrente fenomenokgica fundamentalmente de natura so. ciclégica, que, em seguida, avancou com seus prinefpios no campo da edu kacio, determinando.actes e manciras de encarar 0 desenvolvimento curriculo na escola e, de mancira singular, a pesquisa no ensino, 5. Os grandes eentros que zelam pelo pensamento de H em Lovaina (Bélgica). na Universidade Catélica, c na Sociedade Fenome, nologica Internacional, em Bifalo, na América do Norte. que publica re gularmente uma revista, Filosofia € Investigacdes Fenomenoldgicas. Em Lo. vaina, sob 0 espfrito do professor H. L. Van Breda, notivel husserliano, dietor do Arquivo Husserl, foi realizada uma atividade extraordindria para manter vivo 0 pensamento do pai da fenomenclogia serl esto ©. Huser! pretendeu inicialmente fazer da filosofia uma cigncia ri- forest. Mais tarde, o que significou uma renincia ts suas declaragies.pr- meiras, voltou-se para a investigagdo do “mundo vivido” pelos sujeitos con siderados isoladamente IEEE NS A filosofia como “ciéneia rigorosa’” deveria ter como tarefa estabelecer 4s cateorias puras do pensamento cientifico. Para aleanear este objetivo, Husserl falou da “redugdio fenomenolégica”. Através desta, na qual o fe- rémeno se apresentava puro, livre das elementos pessoaic ¢ culturais, che. suse a um nivel dos fendmenos que se denomina das esséneias. Dest ma. neire, a fenomenologia apresenta-se como um “método” e como um “iodo de ver” 0 dado. 7. A idéia fundamental, bisica, da fenomenologia, 6 a nocio de in ‘tencionalidade, Esta intencionalidade € da consciéncia que sempre esta 4; rigida a um objeto. Isto tende a reconhecer 0 principio que nao existe objeto sem sujeito, 8. © que & a fenomenologia? ““A fenomenologia & 0 estudo das es- séncias, € todos os problemas, segundo ela, tormam a definir esséncias: a csstneia da pereepefo, a esséncia da consciéncia, por exemplo, Mas tam- bem a fenomenologia ¢ uma filosofia que substitui as esséncias na existéncia © ndo pensa que s¢ possa compreender 0 homem ¢ 0 mundo de outra forma sendo a partir de sua “facticidade”. uma filosofia ¢ranscendental que co- loca em “‘suspenso”, para compreendé-las, as afirmaydes da atitude natural, nas também uma filosofia segundo a qual o mundo estd sempre “ai”, antes dda reflexo, como uma presenca inaliendvel, ¢ cujo esferco est em reen- contrar esse contato ingénuo com o mundo para Ihe dar enfim um status filoséfico. ambigdo de uma filosofia que pretende ser uma “ciéntcia exata” mas também uma exposicao do espago, de tempo e do “mundo vivido”. E © ensaio de uma descricdo direta de nossa experiéncia tal como ela é, sem nenhuma consideragao com suua génese psicolégica e com as explicacdes can: sais que 0 sibio, o historiador ou o sovidlogo podem fornever dela; entre- tanto, Husserl, em seus iiltimos trabalhos, meneiona uma ““fenomenologia genética” © mesmo “uma fenrmenologia construtiva” “Tratase de descrever, e no de explicar nem de analisar. Esta pri- meita conotagao que Husserl dava & fenomenologia nascente de uma ‘psico- logia descritiva’, ou de retornar as ‘coisas mesmas’ foi primeiramente 0 des mentido da Tudo o que sei do mundo, mesmo devido a ciéncia, © sci a partir de minha visio pessoal ou de uma experiéneia do mundo sem 8 qual os simbolos da ciéncia nada significariam. ‘Todo 0 universo da cia € construtdo sobre 0 mundo vivido e, se quisermos pensar na prép cigncia com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, convém despertarmos primciramente esta experiéncia do mundo da qual ela € a ex- pressio segunda,” Esta descricdo do conceito de fenomenologia, feita por Merleau-Ponty, entre as idéias que conhecemos desta corrente filoséfica, nos parece a mais, completa. © pensador francés Merleau-Ponty (1908-1961), segundo nosso ponto de vista, diz que a fenomenologia €, colocando as idéias bisicas gue achamos conveniente sublinhar, para, em seguida, seguindo 0 pense: mento de Husserl, tratar de esclarecer. 9. O primeiro problema que coloca Husser! é 0 da “ questionabilidade do conhecimento”, “Como pode 0 conhecimento estar certo de sua cK sondncia com as coisas que existem em si, de as ‘atingir’?”™ Este questio- namento do conhecimento significa para Husserl a possibilidade da meta- fisica. E admite que 0 exame do conhecimento tem de ter um & 0 da fenomenologia, que é “a doutrina universal das ess se integra a ciéncia da esséncia do conhecimento”.* Mas questionar 0 conhecimento no € negélo, no ¢ ter uma concep- fo eéptica com respeito a ele. Por outro lado, o método fenomenoldgico 43 ia da ne parte dai ssidade de ter um conhecimento indubitivel ow possi vel, ainda que, de “inicio, nfo nos permitido admitir eonhecimento slgum como conhecimento”.” Entéo Husserl, recorrendo a meditagéo cartesiana sobre a diivida, atinge um conhecimento que & absoluto; as vivéncias “so ‘03 primeiros dados absolutos”." E por que este conhecimento € inquestio. ndvel? Porque © conhecimento intuitivo da vivéncia é imanente;. entre. tanto, 0 conhecimento das ciéncias naturais © mateméticas é transcendente conhecimento, “precisa-se da reducdo fenomenoldgica”® Este 6 0 segundo conhecimento, © que significa a suspenséo, a colocacio entre parénteses das erencas ¢ proposigées sobre o mundo natural. E a denominada epoché entre a0 fenomendlogo uma descrigo do dado em toda sua pureza. O dado nfo corsciéncia intencional perante o objeto. A “redugio fenomenolégica’” nao & 0 fendmeno psicolg - € 0 fendmeno psicolégica da apercep- «ec do dado, 0 dado absaluto ndo ¢ a vivencia que eu tenho como ser hee mano. Nao € o que eu percebo. "A ‘existéncia' da cogitatia é garantida pelo seu absoluto dar-se em si mesma, pelo seu caréter de dado na pura evidén cia." “Sempre que temos evidéncia pura, puro intuir e apteender de uma objztividade, diretamente e em si mesma, temos entao os mesmos direitos, fa mesma inquestionabilidade.” “Este passo forneceu-nos uma nova obje. tividade como dado absoluto, a objetividade da esséncia, e visto que, desde © inicio, os atos légicos, que se expressam na enunciagio com base no visto ermanesem inadvertides, revela-se aqui, ao mesmo tempo, © campo dot enunciados sobre esséncias, respectivamente dos estados de coisas genéricos, dados no ver puro.” . . AS im, segundo Husserl, as esséncias sio dadas intuitivamente. Mas estas exséniae no constituem uma especie de mundo, dat ei at cts nem Go conesion Ieee, as so ts ge se spesentn nto Quand existe realizado don signfcados do eonslénein A reducaa fone. sentaa redugao transcendental. Através dela se questiona a existéncia mes- ma da consciéncia que elimina o que a ela é dado e se dirige a sustentar $ua purezaInfencional. assim, sogundo Hossei,surge 8 recincis pure No_processo do desenvolvimento da primeira etapa da reducio fe Y vimeita etapa da reduedo feno- menolgica, quando. Husselestabeleca as exsencias,pensavase que a fene merologia seria uma ciéncia-base de todas as ouiras ciéncias, Mas quando comecou a desenvolver idéias sobre o eu transcendental, o “mundo vivido”, fa fenomenologia genétiea (como esté constituida a consciéneia transcenden- tal?) e a fenomenologia construtiva (como se podem reorganizat os dados nao dados diretamente?) separaram-se evidentemente de seus propésitos ini 11. © termo intencionatidade, considerado como primordial no sis- tema filos6fico de Husserl, 0 foi também importante na filosofia de Bren- ano. Em geral, podemos dizer que “intengao” € a tendéncia para algo que. no caso de Husserl, como 4 0 expressamos, & a caracteristica que apresenta 1 conscigneia de estar orientada para um objeto. Isto é, nao € possivel nenhum tipo de conhecimento sc 0 entendimento nfo se sente atraido por algo, concretamente por um objeto. Para Husserl, a intencionalidade ¢ algo “puramente descritivo, uma peculiaridade intima de algumas vivéncias”.*' Desta maneira, a intencio- nalidade caracteristica da vivencia determinava que a vivéneia era conscién- cia de algo. A importincia do conceito de intencionalidade, para a fenomenologia, fundamental, se se pensa que a vivéncia c a consciéncia sao i nessa filosofia, Ainda que Husserl reconheca que existem vivéncias nao in- tencionais, lembremos que as esséneias surgem como processos de reducdes fenomenolégicas que se iniciam com a intuigao das vivencias. Diré Husserl “Gs investigacées fenomenolégicas so investigacdes universuis de esséncias, para objetividades universais", porque “a fenomenologia quer ser ciéneia € método”® Assim, a fenomenologia, visando constituir-se num pensar de ‘erdades universais, “o fendmeno cognitivo singular que, no fluxo da cons: ciéncia, vem e desaparece, nfo & o objeto da averiguacao fenomenoldgica”.** E indispensdvel, para compreender esta afirmacio, esclarever como a feno- ‘menologia passa da vivéncia, que sempre & singular, para a universalidade. Importa justamente clatificar que © fendmeno absoluto, a cogitatio redu- zida, nfo vale para nds como absoluto dar-se em si mesmo por ser ums Singularidade, mas porque se revela precisamente como autopresentagiio ab- soluta ao puro olhar, apés a redugio fenomenolégica. Puramente vendo, podemos, no menos, encontrar como justamente um tal modo dado abso Tuto, a universalidade.” * 12. iidealismo filos6fico subjetivo, especialmente, tem tido que en- frentar o problema do conhecimento quando este se considera vilido ex: clusivamente para 0 sujeito. Nenhum sistema filoséfico pretende que suas formulagées tenham valor s6 para 0 sujeito que faz. as afirmagGes sobre os chjetos, fendmenos ete. Toda filosofia procura elaborar verdades de caré- ter objetivo, isto é, vélidas para todos. Mas quando as anélises partem do sujeito, isto se torna dificil Eo filésofo pode eair no solipsismo. |Algumas filosofias foram acusadas de solipsistas, como as de Berkeley ea dos repre- sentantes da filosofia analitica, cujos pontos de vista foram considerados como verdadeiros para um s6 sujeito. Por outro lado, sustenta-se o obieti- vismo total que prescinde absolutamente do sujeito. Isto também envolve 45 46 uma situagio problemética, porque, quando eliminamos © sujeito do pro- cesso do conhecimento, este fica como uma “coisa”, alheio a0 interesse da pessoa, © conhecimento assim apresentase como uma realidade & margem do sujeito, e ni como conhecimento proprio do sujeito, Na busea de solugdes para este problema, da extrema subjetividade ¢ da extrema objetividade do conhecimento, tém-se levantado algumas pos- sibilidades tendentes a estabelecer uma relagao entre esses dois pdlos. O que se tem desejado é transformar as formulagées subjetivas em enun dos verdadeiros para todos es sujeitos. Este € 0 problema que se tem de- niominado de infersubjetividade, Um dos caminbos propostos, de intersub- jetividade, tem sido considerar que, quando falamos de um sujeito, nao estamos pensando num sujeito como ente empirico, mas como sujeito puro, transcendente, um sujeito geral, Outra via da intersubjetividade esti repre- sentada no reconhecimento explicito de que nio existem diferencas subs tanciais entre © subjetivo € 0 objetivo, que ambas si expresses de uma mesma realidade. De acordo com isto. 0 problema assim colocado perde seu caréter eritico e, ainda mais, deixa de ser uma preocupacao importante. © neopositivismo de Carnap, Neurath € outros se encontrou com di: principio fundamental de verificagao em que foi sempre de natureza subjetiva, isto 6, com validade para 0 sujeito que os formulava. E este cardter conduzia a filosofia analitica 20 solipsismo. A superacao desta dificuldade foi achada, segundo pensaram os neopositivistas, através da intersubjetividade repre- sentada pela fisicalizaedo da linguagem que, como j4 dissemos, consistia fem reconhecer como verdadcira toda formulagao lingiistiea eapaz de ser traduzida para a linguagem da fisica. Husserl enfrentou 0 problema do solipsismo em alguns momentos do desenvolvimento da fenomenologia. Mas 0 filgsofo estava consciente dos perigos que enfrentava o pensamento fenomenolégico, Por isso, a fenome- nologia procurou, em todas as fases, estabelecer um conhecimento intersub- jetivo, isto €, verdadeiramente cbjetivo, de validade geral para todos. O exame de seu. método da possibilidade do conhecimento inclina a pensar, na fase da epoché, da suspensio, do questionamento do conhecimento, que também deve colocar entre parénteses nao s6 0 cbjeto, mas também a exis- téncia de outros sujeitos. Isto privaria estender a possibilidade do conh mento a outros sujeitos, Estariamos ante uma dimensao solipsista da feno- menologia. Mas Husser! afirma que, através da “redugao fenomenolégica”, onde se distingue entre o eu, que tem uma vivéncia, a vivéneia ¢ 0 mundo que pode estar influenciando 0 eu € a vivéncia, isso nfo ovorre. Este re- ducio permite ter como dado a esséncia do fendmeno. E as esséncias, se- gundo Husserl, se determinam por sua universalidade. Iste significa que a fenomenologia estuda o universal, o que & vilido para todos os sujeitos. O que eu conhego, 0 que eu vivencio, é vivéncia para todos, porque foi redu- zida a sua pureza intima, @ sua realidade absoluta. Assim, 0 mundo que cu conhego — diz Husser] — € o mundo que pode ser conhesido por to 13. Quando desenvolviamos as idéias fundamentais do positivismo, pareceunos que, de mancira natural, essas nogbes basicas cobravam signi Fiado claro na pratica da pesquisa educacional, Estabelecer. por exemplo, que a ciéncia interessava o estudo dos fatos © das relagdes entre os mesmos, t fixagio das modalidades imediatas da investigagdo. Mas, a0 que parecs csia“instrumentalizagio” do pesquisador nao se apresenta com tanta evi Uiencia no enfoque fenomenologico. Por isso, € conveniente ressaltar algumas idéias da fenomenologia pare nssinalar, considerando as dificuldades que tal tarcfa impoe, suas possibil dades de coneretizacio. 14. Percebe-se que da anélise dos conceitos fenomenolégicos em ne shum momento esta corrente do pensamento esti interessada em colecat ery clevo a historieidade dos fendmenos. A busca da esséncia, isto é 0 que b fendmeno verdadeiramente é, depois de sofrer um isolamento total, um Fedugio, eliminando o eu que vivencia € 0 mundo com seus valores, cub tura ete, carcee de toda referéncia que nio seja a de sua pureza como fe nomena, de modo que © componente histérico, que tio pouco interessava ib positivismo, nao € tarefa qe preocupe © pesquisador que se movimenta orientado pelos prineipios da fenomenologia. 15. Esta visio ahistérica da fenomenologia tem originado outra ctf ica forte: a de ser ela conservadora, © mesmo que 0 positivisme. Isto sig- hifica que o fenomendlogo estuda a realidade com 0 desejo de descreve-la, de apresenti-ta tal como ela é, em sua experiéncia pura, sem © propésito de introduzir transfermacdes substanciais neta 16. A fenomenologia exalta a interpretago do mundo que surge iit- iencionalmente i nossa consciéncia. Por isso, na pesquisa, eleva 0 ator, ‘com suas percepedes dos fendmenos, sobre o observador positivist. 17. Os positivistes reificaram © conhecimento, transformaram-10 sum mundo objetivo, de “coisas”. A fenomenologia, com sua énfase no ior, na experiéncia pura do sujeito, realizou a desreificagao do conhecimen: {o, mas a nivel da consciéncia, em forma subjetiva 18. A reifieagdio do conhecimento teve conseqiiéncias extraordinérias para a elaboragio do curricio escolar. Bste transformou-se numa “som Faformagces” que era transmitida e devia ser assimilada pelos alunos. curricula era algo construido, elaborado, terminado, alheio fundamentalm te aos sujeitos. A fenomenologia, baseada na interpretaciio dos fenémenos, nna intencionalidade da consciéncia e na experigncia do sujeito, falou do Cursiculo consiruido, do currieulo vivido pelo estudante, 19. © pesquisador da corrente fenomenolégica no realizaré pes- quisas para determinar, por exemplo, a ideologia do curriculo, porque esse \6pieo nao foi a preocupacio da fenomenologia. A busca do. fendmeno, dda esséncia do mesmo, através da experiéneia pura, elimina toda possibi dade de que ele se apresente além da mascara que a ideologia pode oferecer. 20. Tampouco © pesquisador imbuido dos prineipios fenomeno- légicas, salvo nos niveis de interpretacéo de pereepedes, abor’ara os con- Hitos das classes sociais © das mudlancas estruturais que se apresentam nos povoe, Naturalmente, isto nfo rege para aqueles fenomendloges que tra balham com elementos do marxismo, 21 © enfoque fenomenolégico. com bases antropoldgicas, tem pri Vilegiado, antes que 0 lar, a escola. Nela, exaltaram os estudos na sala de ala. Uma tendéncia, 0 interacionismo, tendo como a sila de aula aleancou notavel desenvolvimento, Seeundo nosso ponto de vista, a expe- rigneia dos antropdlogos ¢ de suas pesquisas em tribos fixas, com suas culturas ¢ seus valores, inspiron aos fencmenslogos a busca ce "modelos semelhantes” que foram encontrados nos grupos regulares e definidos de alunos, 22. Os estudos de sala de aula, separados de todos os elementos hist6ricos e sociais amplos, so uma amostra muito clara do isolamenio do fenémeno em foco, 25. Por outro lado, a interpretacao dos fendmenos que se apresentam numa sala de aula oferece a possibilidade de esclarecer alguns elementos culturais, como ¢s valores, que caracterizam © mundo vivido dos sueitos. 24. © contexto cultural onde se apresentam os fendmenos permite, através da interpretagdo deles, estabelecer questionamentos, discusses dos pressupostos ¢ uma busca dos significados da intencionalidade do sujeito frente a realidade, Desta maneira, 0 conhecer depende do mundo cultural do sujcito. 25. A fenomenologia ressalia a idéia de “ser 0 mundo criado pela consciéneia”. A realidade é construida socialmente. A educacio era vista principalmente como agente da socializacao; na fenomenologia, a prépria socializacdo considerada como uma relacao reciproca."* A fenomenologia, sem dvida, representa uma tendéncia filossfica que, entre outros méritos, parece-nos, tem 0 de haver questionado os conhe- cimentos do positivismo, elevando a importincia do sujeito no processo da construgéo do conhecimento. Na pesquisa educacional, através especial- menic des estudes de sala de aula, permitiu a discussio dos pressupostos considerados como naturais, dbvios. Mas o esquecimento do histérico na interpretagao dos fenémenos da educagio, sua omissio do estudo da ideo- logia, dos conflitos sociais de classes, da estrutura da economia, das mu- dangas fundamentais, sua exaltagdo da consciéncia etc. autorizam a pen- sor que um enfoque teérico dessa natureza pouco pode aleancar de jose quando se estd visendo os graves problemas de sobrevivéncia dos hhabitantes dos paises do Terecino Mundo, 3 MARXISMO, MATERIALISMO DIALETICO E MATERIALISMO HISTORICO 3.1 Idéias basicas 1. Karl Marx (1818-1883), ao fundar a doutrina marxista na década de 1840, revolucionou o pensamento filosdfico, especialmente pelas cono- tacdes politicas explicitas nas sas idéias, colocadas, em seguida, também nor Friedrich Engels (1820-1895). Mais tarde, Viadimir Wich Lénin (1870- 1924) teve a singular capacidade de unir sua vida a0 mais elevado pensa- inento criativo, e a uma pritica revoluciondria intensa, Com cfcito, escre veu obras fundamentais como: O materialism e 0 empiriocriticismo, Ca iernos filosdjicos € O estado ¢ a revolugio, onde coloca as principais bases ‘0 que hoje se denomina marxismo-leninismo. Ao mesmo tempo, participor: utivamente nas revolugoes tussas de 1905 ¢ de feverciro e outubro de 1917, 2. esta mancira, na evolucdo do marxismo, podemos assinalar uma primeira fase, representada por Marx; uma segunda, na qual trabatham juntos Marx e Engels, © uma terceira etapa que, em geral, resume as cor Iribuigées de Lénin. © quarto periodo na existéncia do marxismo, que seria © contemporaneo, apresenta varias tendéncias, mas as prineipais so a sovié- ‘ca e a chinesa, que reclamam para sia continuagao genuina das idéias le: Mars. 3. Numa visio esquematica do marxismo, que é 0 que pretendemos, conscientes plenamente das dificuldades que para isso temos, © de acordo ‘om of objetivos basicos deste livro, quais sejam os de ajudar a esclarecer sie enfogue na prética da pesquisa educacional, mio podemos deixar de tneneionar brevemente alguns temas. Com efeito, nlo seria possivel esque tr algumas idéias com respeito i dialética, is categorias © as leis du Jialétiea. Tampouco devemos fugir de sua caracterizagdo do materialism Gialético e do. materialise histérico. 4. © marxismo compreende, precisamente, trés aspectos principais » materialism dialético, 0 matcrialismo histérico © a economia politica. 5. De acordo com 0 quadro geral de referéncia em relagio ao pro blema fundamental da filosofia, o marxismo se inclui como uma tendéncia dentro do materialismo filos6fico que, como sabemos, apresenta varies Jinhias de pensamento. a9 50 eq 07, As raizes da concepgic do mundo de Marx estio unidas as idGias idealistas de Hegel (1770-1851). O idealismo objetivo de. Hegel accitava que todos os fenémenos da natureza e da sociedade tinham sua bare na Idéia Absoluta, Marx tomou de Hegel varias idéias que foram furdamentais para 0 marxismo, como, por exemplo, o conceito de aliens gac @, de maneira essencial, seu ponto de vista dialGtico da compreensao da reiidade, "Mas, a0 inves de vincular essus idan uo capi abel hhegeliano, desenvolveu-as dentro de sua concepgao materialista do mundo. 7+ Reconhecem-se como fontes diretas do marxismo 0 idealismo lissico alemao (Hegel, Kant, Schelling, Fichte), 0 socialismo ut6pico (Saint Simon e Fourier, na Franga, e Owen, na Inglaterra) e a economia politica ingiesa (D. Ricardo ¢ Smith). 8. A importincia que apretenta para 9 marxisme a concep materialise da realidad torna necessivio relerirse brevemente a0 Maighs lism filosotio. i sabemos que ste comidera que a maleria ¢ © principio primordial © que o esprto seria o aspecio secunlivio. A canselencin roe € um produto da matézia, permite que o mundo s¢ ieila hela, 6 Cee ‘saga a possibilidade que” temo nome de eonhceer ounietse. A ideia materiaita do. mundo recone que realdade enise independente morte da conscinea, Ja os gregos buscaram intensamente 0 principio apae de eriar todas as cosas, 6 elemento basico —- que para algun er & nus, para outros 6 ar, 0 fogo, «terra ee, Estes primulvos matesoletig Usieo as mesma propriedades (por enemplo, ter sensagdes que 0 pe qvico, Alguns que tinham a concepsio material da naldads inchs, foram dnkticos. Na" Made. Media podemos dlzcr "que ensontamos, oe mmatevialisas na eorrente fiasica denominuda nominutisme. ‘ban seoaide om a exallagdo dos valores helénicos, v1 reelgao do capil medigeal panteista do mundo ¢ reviveu também a iia hilgaoista da naturera, Lope surgsm outmas grandes figuras que, de algum med, sustém pontor de lism moderno. e outros, come Hobbes, Spinoza ¢ Locke, resallgony © valor da experince do conhecimemo’dreto da ‘naturesa, 0 proses das cifncias, especialmente da Tsien eda matemstica, oviginoy cue deeming o materialism mecaicisia. O séeule XVIli ¢ panicularnenrs interessante porque duranic essa cpoca se desenvolveu 6. materaline franeis, de grande influencia no pensamente univers desse tempo La Mei, Diderot e€ Helbach, em forma especial sobresstam Bor see male: Fiolismo ateista. Feuerbach possivelmente sea a ligura de mals alto rlevo de todo © periodo que. se designa como présmarkista. Feverbacl (TBO, -1872) destacouse por seu apolo a0 matetalismo e. sey staque ds ‘elas de Hegel, especialmente aquelas que identiticavam a esséncia humana com 8 autoconsciéneia, Marx e Engels seguiram 0 pensamento de. Feterbach em sin idSia materialist da veaidade. Mas Mats, em suas eCicbres Teses sobre Feuerbach, em 1845, rebate sua concey filoséfica geral ao mesmo tempo que traga as bases principais do que mais tarde constituiria o corpo \esrieo do denominado marxismo, 9. © materialismo dialético & a base filosdtica do marxismo e como Lal wealiza a tentativa de buscar explicagdes eoerentes, légices ¢ racionais para os fendmenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Por um ido, o materialismo dialético tem uma longu tradigio na filosofia materia lista e, por outro, que é também antiga concepgao na evolucao das ideas, haseiase numa interpretagao dialéica do mundo. Ambas as ralzes do pensar humano se unem para constituir, no materialismo dialético, uma concepsio cientifiea da realidade, enriquecida com a pritica social da hhumanidade, Mas 0 materialismo Uialético nao s6 tem como base de scus prinefpios a matéria, a dialética e a pritiea social, mas também aspira ser teoria orientadora da revolucio do proletariado. © materialismo dialGtico significa a superagao do materialismo pré-marxista, no que este tem de meta- fisico e de idealista, A filosofia, na concepgio do matctilismo dialélico, so- {eu modificagio substancial. Ae invés de ser um saber especifico e limitado 1 determinado setor do conhecimento, © pensar filosstieo tem como props sito fundamental o estudo das leis mais gerais que regem a natureza, a sociedade © 0 pensamento ¢, como a realidade objetiva, se reflete na cons- Isto leva ao estudo da teoria do conhecimento ¢ a elaboracao da ldgica, Atiavés do enfoque dialético da realidede, o materiulismo dialé- \ico mostra como se transforma a matéria e como se realiza a passagem das formas inferiores as superiores. 10. ‘Talvez uma das idéias mais originals do materialismo dialétieo seja_a de haver ressaltado, na teoria do conhecimento, a importincia da ppritica social como eritério de yerdade, E ao enfacar historicamente. 0 conhecimento, em seu processo dialético, colocou em releyo a interconexio do telativo © do absoluto. Desta mancira, as verdades cientifieas, em zcral, significam graus do conhecimento, limitados pela historia, mas, como 14 dissemos em outro lugar, este relativismo nao significa reconhecer a in- capacidade de 0 ser humano chegar a possuir a verdade 11, © materialism historico é a ciéneia filosética do marxismo que estuda as leis sociolégicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolugdo histérica e da pritica social dos homens, no desenvolvimento da Humanidade, O materialismo histérico significou uma mudanga fundamen- tal na interpretagio dos fendmenos soeiais que, até nascimento do ‘marxismo, s¢ apoiava em concepedes idealistas da sociedade humana. Marx © Engels colocaram pela primeira vez, em sua obra A ideologia alema (1845-46), as_bases do matcrialismo hisi6rico. Nela criticam os jovens hogelianes ¢ Feuerbach, que acham ainda que # historia era resultado das idcologias © da presenga dos “herdis”, ao invés de buscar nas formagSes sécio-evondmicas e nas relagoes de produce os fundamentos verdadeiros das sociedades. © matetialismo histrico ressalta a forga das idsias, capaz de introduzir mudancas nas bases econdmicas que as originou. Por isso, dlestaca a ago dos partidos politicos, dos agrupamentos humanos clc., 52 cuja aco pode produzir transformagdes importantes nos fundamentos materiais dos grupos sociais. © materialism histérico eselarece conceites como ser social (relagdes materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em forma objetiva, isto é, independentemente da consciéneia); “eousciéncia social” (sao as idéias politicas, juridicas, filosoticas, estéticas, religiosas ete.), assim como a psicologia social das classes etv., que se tm constituide através da historia; meios de producao: ido 0 que es homens empregam para originar bens materiais (maquinas, lerramentas, energia, matérias qui- i foreas produtivas: sio os meios de produc, os homens, sua de produgio, seus habitos de trabalho. Nao obstante, sem 1 importincia nica do homem, a forca de produgao depende fundamentalmente dos instrumentos da teendlogia, As relacoes de producio no podem ser separadas das forcas de produgao, Podem ser de relagdes mituas de cooperagao, de submissa0 ou de um tipo de relagdes que signi- figue transigao entre as formas assinaladas. Sido os vinculos que se estabe- ecem entre os homens. Os modos de produedo: historicamenie se indicam cinco modos de produgio — prépria da comunidade primitiva, escrava- gista, feudalista, lista © comunista (com duas fases: soci munista). © materialismo hist6rico define outra série de con ‘mentais para compreender suas cabais dimensoes, como: sociedade, forma- {Goes sicio-econdmicas, estrutura social, organizacio politica da sociedad, Vida espiritual, a cultura, concepeao do homem, a personalidade, progresso social etc ira muito geral, pode-se dizer que a concepedo materia- nla trés caracteristicas’ importantes, A primeira delas é a da materialidade do mundo, isto é, todos os fendmenes, objetos © processos que se realizam na realidade s40 materiais, que todos cles so, simples- mente, aspectos diferentes da matéria em movimento. A segunda peculia- ridade do materialismo ressalta que a matéria € arterior & conseiéncta. sto significa reconhecer que a consciéncia é um reflexo da matéria, que esta existe objetivamente, que se constitu) numa realidade objetiva. E, por Ultimo, © materialismo afirma que o mundo é conhecivel. Esta {é na possibilidade que tem o homem de conhecer a realidade se desenvolve gradualmente, No comeco, apenas o homem pode distinguir o objeto, fené- ra perrae Pot fg aualdede. Bd depletion ede levar milhares de anos, séculos, meses ou diferentes dimensoes de dur © homem é capaz de conhecer os aspectos quantitativos, a esséneia, a causa ete. do objeto. Estas trés caracteristicas sao prOprias também do materialismo dialé- fico. Mas € importante salientar que este se distingue por outros prin- cipios, unidos esireitamente ao conceito de dialético. Como se sabe, em sta origem, « dialética, nos tempos de Platio e AristSteles, era entendida como a arte da discussi0, i base de perguntas e respostas, € como uma técnica capaz de servir para classificar 0s conceitos e dividir os objetos em géneros © espécies. Mas, desde os tempos de Heréclito, comegavase a defender outra idéia basica da dialética: a da mutabilidade do mundo e a da transformacao de toda propriedade em seu contrdrio, A filosofia grega antiga, pode-se dizer, especialmente com Platdo e Aristételes, ressaltou 0 aspecto “contraditério” do ser que, a0 mesmo tempo que s¢ transforma em outro, ¢ tinico © miltiplo, imutivel ¢ passageiro. Uma notivel contribuicao realizou, mais tarde, no séeulo XVI, © idealismo clissico alemao para a consolidagao da dialética e, em seguida do materialismo dialético. Os idealistas alemdes entenderam a realidade nao $6 como objeto de conhecimento, mas também como objeto da alivi ade. Kant, 0 fundador do idealismo clissico alemao, seguindo Descartes,

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