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QELHe, Glmowwe C — Kiuefeeeee Duper ms — methane, Gros vhera Be Ett Reed 1 MAN OF Taso qua se niio pacional 20 // EDMUNDO CAMPOS COELHO vetia de permicir 0 exercicio de engenharia social consubscanciado na que a ela se segul endo que 6 que Wanderley Guillierme dos Sancos registra, € que cuidadosamence deixo aqui anotado, é o fragor de uma fratura escrucural na sociedade bras leira, uma dessas brupea scancias de descontinuidade histériea em varios plenos que so das ruinas de um ancien régin justificem a celebra~ Isso posto, retomo o coma da regulacio ocupacional observando que ‘Wanderley as vezes uciliza incercambiavelmence os termos “profissio" € “ocupagio", outras vezes sugere que cada qual cem um reference distin- 10 ("profissdes c/ou ocupagses saberé estabelecer contextual: nando uma vez no texto um profissional de nivel superior, 0 logo, a0 exemplificar a disseminagao do conceico de cidadania re- gulada na culcura civica do pats. Devo dizer que, de faro, a distingio no é relevance no texco de Wanderley Guilherme, jé que para o seu argue -menco ni inceressam as importantes diferencas entre aforma de regulacZo das profissdes de nivel superior ¢ a das demais ocupagées, Além desse Ponto, todavia, ndo apenas as diferencas entre as formas de regulaglo ‘mas principalmence as razGes dessas diferencas cornam-se es © med argumenco, tendo em visca, em particular, as controvérsias que 0 “ptofissio" e 0 seu uso em diferentes sociedades tém suscitado ne ratuta sociolégica. Para deslindar 6 lema € necessério esbocar Prelisiinatmence esta distingio, e para cal propésico peemice-meo leitor abcir um longo paréntese de nacurcza lexicogréfica. i Uni des diftuldades com 0 tetmo “profissio” advém de sua acureza polissémica. Derivado do vocébulo latino profs “déelarasdo pSblica” ou “confised a longo do tempo adquiziuo sen- brecha-que ha- AS PROFISSOES IMPERIAIS /f 21 vocos de wa order ao ogadoern Porcogal o século XVII, como 8 no padte Anconio Vieira 2 ne fdas sobre 0 pertencimento & ordem do seu confrade at soldados portugueses ivos de eribos inimigas iz Vieira que “os , mas o de scompas ior paca livrar indios colonos. Em outro texto, que residimos neste Estado, nfo s6 somos ce vendé-los em seguida a adres da Companhia de Jes fissio, mes por oficio somos parocos das igrejas dos religiosos por prot sii regiscrados em codas as edigBes no século XIX do Diciondrio da Lingua ee lac {oraes Silva sugueza de Antonio Moraes Silva. Nao sei qual edigéo do Mc —— mas a 4* do Candido de Figueiredo, de 1925, 3 yerais”.> O Laudelino Freire, de 1943 traz o registro: “Profissbes liberaest a medicina, o professorado, @ advocacia* Originalmente, 0 =m ‘designava o individuo “gue, ademais de liberdade politica, gozava de boa sicuagéo material, o que ido ou, mais precisamence, asartes regiserou-o por prisn« de lazer a0 est 1m sua mais adequeda educagio. Na Inglaterra ¢ nos das liberal arts coma as tiberal profes das profissdes que na incorporava —o ‘ons foi um passa, mas a énfase lo desta modalidade de educacio ¢ na dignidade vin Alia ecg ou sere neers —aseoneape dain porte ‘es dco urs roa Anguiceeeneences ata cote eduagin que promeveocakitede mann eae rofissio Liberal" ndo cera sido cermo usado em Portugal ou no Brasil antes do século XX. E quando o re ‘mentos post foi posca no exer ae spose mas coaal Mas dicionérios nio ias.O texmo jf era usado na linguagem coloquial agHo que se dava a “profssies lberais” alo as slg: prepaigosemelhnteureldentenn, ‘Mente ram vistas no Brasil culo como profissdes “culeas”. Em um interes- sante debace na Camara, em 1877, sobre liberdade de i ‘Cunha Leitdo referia-se a advocacia e 8 medi tm sempre emo “profes enn “eosin clvados mit miming oto asim dscuiado a iberdade de casino Foon pon ns PO Gilome das onus eldedeconn ‘mus logo adiance contrastava-o dos pelas universidades alemas, vinculava @ qualquer 0, 0 depusado 18 nfo como profissdes libe- que os proje- iclufssem uma “faculdade de ‘Te Barsean ard Ameria Us ey sine 1800: bridge University Pes, 1993, 25, ubro de 1877, Appeedize, AS PROFISSOES IMPPRIAIS // 25, ppeetendo designar somence os escudos clssicos da poesia, da eloqitencia e étio, a advocacia) as esco- iadas aos individuos livres e aos espititos onal diverge da variance anglo-americana -pendentes, ‘Note-se que esta crindade profi ‘pela substiuigio da ceologia pela educagio, mas no sei co divergéncia. Seja como for, 0s dicionérios mais antigos nada acrescencaram 420 que o Laudelino jé registrara: nem novos vocébulos relacionados a “pro- fissio" nem significados novos para o termo. Passo, entZo, a0 Auélio". No Aurélio 0 primeiro significado de profissio € o de “declaragio ou confissio piblica de uma erenga, senimento, opiniao ou modo de ser" co segundo € o de “acividade ou ocupagiio especializada, e que supde decer- ‘minado prepero": a profissio de engenheito, a profissio de movorisca (2). O terceiro, de “acividace ou ocupagio especi gio pelo carscer social on inceleccual”: a profissio de jornalista, de a profissdes liberais (3) Este terceiro sentido resulta da adigio ao ancerior do atsibuco do pr leceua, de forma que obsém-se aqui a soma das seguinces carateristicas:especializacio que requer algum preparo +. prestigio social ou inceleccual. O ma carreira juridiea (4). O quinco, © de jo de um trabalho, de um oficio” (5). £ esta a acepgio corsence no porcugués coloquial e quando se pergunta ao individuo qual o deseja-se saber apenas qual Ide gan € a resposea correca pode ser qualquer das “profissées", espe- 0 expli ada que encerra certo presti social on ializadas ou no especalizadas, no Anrélio: “profissio de nivel superior caracterizada pp qualquer vinculagohierdrquica e pelo exerecio idem, seta de 4 de oursbe de 1877, pp-32-39. auslio Bourque de Holauda Feseica, Nevo Dictuia Lingus Poros. Rio de Jancico: [Nova Frotess, 2 eis, 33% impresio, 1996, ‘24 If EDMUNDO CAMPOS COELHO inte wecimentos”. Dessa forma “profissio liberal” fica de- finida nesta acepgio pela soma final dos acribucos: especializacio que re- ‘quet preparo) + (educagio superior) + (prestigio social ou intelectual) + (Gustncia de telagoes hierdrquicas) + (cardter técnico ou nhecime coe inteleceual de c isn Outros termos, profissdo liberal seria a leads que requer preparo-attavés d¢ treinamnento form: ‘que encerra prestigio s forma aucéa ou intelectual ou ambos, que é praticada de ae cuja base de cor temente técnica ou intelectual Ficamos, entrecanto, com um problema: em qual déssas acepgses classificat os profissionais que, a exemplo de rantos médicos ¢ advogados, trabalham em empresas sob alguma forma de supervisio hierdequica ¢ de Se jd nio slo “profissionais liberais", so 0 qué? Afinal de ou esto mudando nesses casos as condigbes do exercicio individual da medic advocacia nio se transforma em attra profissio quando é parcamenitos juridicos de grandes empresas. Se ina, mas nio mudou a medicina como tal, Também a actibucos corporasvat de uma profissio, cambéma € ébvio que as “profisBes liberais" do Aurélio so aquelas em cujo desenvolvimento estat redomina o exerci iberal” ou aucénomo, caracterizando numeticamen- te um ateibuco corporativo. Quais sio estas profssSes? Hi engenharia jé nascea como profisia predominantemen € nfo seria na acepeao “Wo Aurélio uma das profissbes liberais. Eu diria que a advocacia ainda é uma delas; mas sfo tenho a mesma convicgéo com relagio & medicina."* Ambas freram nas trés Gltimas décadas considerdveis alteragdes hitais —— em sua base de conhecimen ‘insergio no merca- do. Muitas oucras profissies de nivel superior (administraséo, economia, 70 levantaveato mais recente — 6 tisabémo mais tbrangente — 0 ial de 183.052 médicossomeate 39% exercama probssio sob a mo profs raz Mackado ‘Brat: Um irate da aided. Bio de Jaasico: Fdtora Fiera, 1997p presas privadas, ‘eagées de nacurcza'diversa (agéncias. piblicas, empresas privadas, nia aera) constitaindo um grupo que bem se poderia designar por também desqualificadas para integrar 0 grupo des “lide : nae i i a existéncia ou no de vinculagio ‘Na acepeio sociolbigca convencion i ou no de vo hicricquica nfo € o que define uma "pinfssio". Os engenheios sfo via de > gegra assalariados c submetidos 2 algum tipo de concrole hierdcquico; inda assim, a engenharia uma bo ‘mento que controla (produgio e reprodugio)¢ pel éenica no crabalho de que gozara os engenhitos. Os psiquiatras€ 08 p nalistas raramente so assalariados, e no entanco a psicanslise nfo é ie “profissio” no sencido que alguns sociélogos emprestam a0 cermo, dado ee cee mente sistematizado ¢ efeti- qe 0 conhecimenco que comandam & esca vo. Além disso, ¢ como ensina Freidson, “ 2 colegio de individuos a transacionar no mercado seja com empzegadores, fais, pois existe ria dimensCORPOTICVA que # 9" é mais do que uma uma certa capacidadde de gps profi. is, sobrecudo pelo lado da ofere, oferecendo algum «ipo de “protecao 5. Ui monop c a acepsio do Ausélio; sio profissdes no sen cas das primeiras (educa howe poten Sule Cendant cee repoton npc rte Sey Chau est cepies de radon. "sion, op. ces. 129 26 I EDMUNDO CAMPOS COELHO. fo superior, prestfgio social, natureza técnica do conhecimenco) sejam ne- ‘Ao fim e so cabo, a ingeréncia efeciva do Estado cornou-se conspicua Canseho Fede de Edvcasto, Paccer e° 198/64 AS PROFISSOES IMPERIAIS apenas ne esfea da formacio profissional aravés das freqiientes minucio- sas resolugées do Conselho Federal de Educacio. O pancagruélico aps egulacsrio do Con: sgovernos milicares ito aos cursos que preparavam para’as profissSes regulamenta~ das: “Nao cabe a este Consetho opinar sobre 2 conveniéncia de regulamen- tarprofissdes,criando o privilégio do exerccio profissional, mas eio-somen- te a competéncia para fixar 0s curticulos minimos ea duragio dos cursos jue forem regulamencados.# Nio era pouca coisa. Mas havia mais. Quan- do.0 governo dispensou do “exame de ordem" os bacharéis em Direito para feito de inscrigéo n0 quadro da Ordem dos Advogados, cornou-se compe- céncia do Conselho Federal de Educecio disci forense e de organizacio couberthe fixar as condigées para o exercico legal da advoca géncia, cambém legal, de inscrigio na Ordem, Na formagio dos médicos lho cornou-se particulermente insacidvel dur 4. Em cese, era limicada sia comperé cera também o Consetho quer disciplineva o Incernato. Em suma, era sua a comipeténcia de regular 0 diimecro do funil pelo qual necessariamente de- passar, 20 final dos cursos acedémicos regulates, os candidacos 20 cexercicio das profissdes regulamencadas. B razoével supor que por deerés de muitas das resolugées do Conselho Federal de Educagio escivessem as elites pro! pr Grupos de Especialistas aos quais os confélheiros podiam recorrer para ional adas nos assessoramento. Nos anos 70 as resisténcias & autorizagio para abertura de novas escolas de medicine ou para o credenciamento definitive de ou- ras j4 em funcionamienco foram inspitadas por estudos de um grupo de -minentes miédicos consticuidos em Comissio Especial pelo Miniscério. da Educagio, Purecer 352/73, Conelho Fedel de Bducacio, ~32°/}- EDMUNDO-CARPOS" COELHO v A falta de escudos sobre o tépico, quase nada se sabe sobre os fatores que afecam 1s probabilidades de sucesso de um projec de regulamentagio, em particular sobre 2s ruabes pelas quas algummas profissbessfo bem-sucedides enquanto ou- ‘as fracassam, Mas, fetas todas as contas, uma profissio nio-regulamentada ue aspire a ascender ao nirvana das regulamencadas terd preliminarmente de satisfazer das condigdes. A primeira consisee em razodvel capacidade de rno- bilizar os praticances (ea existéncia de uma associagSo pode ser um fator impor- ante) ede persuadir setores da sociedade de sua “importincia”. A segunda, em acontrar no Congresso um “padrinho” que se disponha a apzesentar um pro- de regulamentagio e a zelar pelo seu encaminhamento até aprovagio final ‘na Camara no Senado. Normalmente haverd um lay da profssio para acom- panhar nas casas legslacivas a tramitacio do procesto, mas ao fim todo o empe- tho pode ser frustrado por um veto presidencil. Em todo caso, 2 inicitiva cem pertencido & com: nal inceresseda. Seja como for, esgoradss 2s condigdes sua forma atual, é ist6ticas que a inspiraram em inguit hoje o especifico inceresse do Estado na al, Em particular, eueilizando a srmula do ancigo Con- de Educagio, nfo é fécil encontrar raz cexisténcia do hibrido sistema composto de um lado pelo dades particulares" identificado com a esfera das de Eseado para a imbito das idades profi profissionais regulamencadas que seria o “Ei Oa, se quiserem, o misto de la nitidos ficaram, entretanto, os inter regulagio. Mais de segimentos diversos da socieda: de civil. Numa acmosfera jé desimpedida esadas nuvens do at 1 € a0 sopro das mais generosas aspiragSes civis, foi submetida 3 As- inte de 1988 a proposta de inscauracio do regime de li- berdade profissional em termos que sugetiam quase um recorno a letra de Cons ccuigio Cidada, codavia, manteve os meca- No capieulo dos D: 45 PROFISSOSS IMPERAIS 33 dét jue usaram os adversérios —piamos de saree fer em cermos iaricos 20s q 10: Fr Uberdade profssional nos debates de fins do século XK" a Nao obseance a apareace doséncia de inegufroco interes na regulacio das profsde {e questio, quando menos porque - =F repolacio, entre os quais evulea 0 do-monopélio profissional. Sob este no hé como desconhecet 0 peso. do Estado na, Je quem confere os privilégios associados srretanto, nada hi de especial em relagio ao Estado. brasileiro, = Tpémeros eseudos histbrico-comparetivos demonstraram a “pido se faz a sociologia ow a .s profisses ignorando 0 papel. do stado. Para alm desse consenso minimo comecam as divergencias € 08 problemas de quem se propSe a0 estado das profisies no Bra. Encontra- ‘aspecto, € iedade que .n0" e um “modelo europeu-con- se aa liceracura um “modelo anglo-amer agaeal" de processos de profissonalizagio, duas matrices hise6ricas das {uae eeriam surgido 20 longo do sfculo XIX as formas insccacions das profissdes modernas, Desde logo cada modelo poscula encre 0 Estado © as profes uma escrutura slaconal que 6 eflexoexpecula do que st vé m0 cervengio estacal; no outro, a auro-regolagio profissio~ ougo: em um, pal: Ademais, o “modelo anglo-americano” & profissionalizacio bem-sucedida; 0 “modelo europeu-concinen t6ria de fracasso. Embora contestados, mas & falta de uma terceit inence o”da qual dos modelos encaixar 0 caso © Sieufclo no contexto desta controv til, se admitirmos, como ad: ‘yoca que dé fim a0 velho e desgastado debate a respeito de se 0 Estado nene 20 longo do co, que no ‘sécalo XIX) era force ou fraco, pacrimoni owincervencionisca, ete, ece. Receio 4 ‘thesmo quando se concede as categorias que pretendem capt deste Estado ou da sociedade tdo-somente 0 estatuco de mecaforas do que Nestor Duarte, Bara ou pfs, aten 34 Mf EDMUNDO CAMPOS COELHO xemplificar om uma anélise hoje cléssica, admicidammence utiizou o con- «vito de feudalismo nesea acepcio mecaférica:“... um feudalism aripico, se sma europeu, ances de anacronis- "3 As categorias weberianas (buro~ ecido. destino melhor na do pressuposco de que dos-sibem-o-que-encendo-por-patrimonialismo-c-por-estado-bucoctécic ‘sso posto, procederei da seguince forma. Exponho no préximo capfeulo os dois modelos corrences (embora concestados) no escudo das relagies en- te Bstado € profssies. A exposicio & de cardter histSrico-comparativo ¢ concede-me uma cerca margem de liberdade para indagagdes as quais nio Proponho qualquer resposta, ¢ isso pela simples razdo de que nio tenho ‘nenhusta. De qualquer forms, 0 capiculo poderd servir ao leitor com incl nagies “tedricas" como pano de fando para o que vem a seguir. Eo que ver, 8 seguir & minha versio do proceso de consttuicio das profisdes eradicio- ‘ais (medicina, advocacia ¢ engenheria) ao longo do século XIX e das pri- meiras décadas do seguinte, Dei énfase & dimensio insti fiz das relagies profissdes/Estado o keitmotif do enredo, mas tio-somente 0 fo que unifica a erama e Ihe dé alguma unidade. Ao coneritio de certo L, mas ao Nestor Duarte A ole fr Nesioaal, teal compliance of every arb” so individual deservigslitingicos, iso asobtigngies exam fis, extent 6 instar ner A bart d sade primo 8; Max Webee,Ecmony ad Set: At Ota of vol 3, 1958, pp 1.022-1.023, 'AS PROFISSOES IMPERIAIS.[L35. -ar seus personagens como escravos de galés, iba d eae rativa e escortagado: ramp guts eus enh impose oun se logos profissionais, hé escasso didlogo com aucor. B, nfo sendo eles s0 ; qualquer ceoris. Ou melhor: suspeto que exista uma-a organiza a.garrad- mas nio escou seguro sobre se seria capaz de exp6-la de forma siscemé- x seja mais prudente deixs- Bla ese, digamos assim, no subtexco € : af ie az Confio em que os especaistas em socologia das profissbes aber ‘dentificé-la, axé porque meu pressuposto € o de que codos-sal sees reoria-estou-me-referindo. Por dlkimo, advirto o leitor de que ele no cmeoneard nenbiuma concluséo subscanciva como fecho deste ensio ea este respeito no hé nada que eu posse fazer (apenas confessar o quanco custou- ‘me evicar uma concluséo conclusiva). : ; 20 cabo reconheso 20 leitor todas as razses para suspeicar de ano drapes an gunse mina wade spot tum aucor desejar melhor ponto de partida para uma longa, educaciva € cesclarecedora conversa? Estado, mercado e as profissdes A\pss « Guerra da Independaci, a cmida estratara regulacéria, geral- tmeotecencrada nas qualifiagbes para olicenciameno profissonl, que algumas coldaias americanas haviam insticuido por soliccagio de associa- §6es locais de médicos e advogados comecou a ser desmontada.! Estad aps Bstado, 05 requisitos formnais de qualific : vocacia e da medi ago para o exercicio da ad- icina foram abolidos como sobrevivéncias “ariscocréci- glesasincompaciveis com a culeuraigualiciia da ‘i i ualicévia da nova nagio. Ohio em 1802, a Georgia em 1806, o Tennessee em 1809, a Car ‘i advogados de elite e6riceinados nas Inns of Coure partiram para o Cana~ 44 ou para a Inglaterre. A desregilacio do exercicio da med Guinze outeos entcé 1830 ¢ 1850} par volea de 1849 apenas Nova Jérsei e Evan obres medina ea advocaiasmercanes ao século XIX. O lito séclo XIX. leitor eno Sl rt rn Bait Theat formation of Amérzan Medicine. Nova York: Basic Books, 1982; Suentel Haber, Out iio se a the American Profissions, 1750-1900, i pe cm hex 1D: re Kimbo ce Pao er Ve XVI er ln Daas end 160-1713" The Aseria oral of Lge ny, VIE 1D Soe 145-165; Bewin LS Eewin L,Surteney “The cours in America colonies” T Hisar. 11,1967, pp. 253-276, Se Ti rin Jared fiat cago: Univesicy of Chicego {AS PROFISSOES IMPERIAIS (/ 37 Distice of Columbia ainda conservavam alguma forma de regulamen- ago, A live médica do ese, graduada cim Cambridge, Oxford ou Edim- sbargo,vivese compelida aabdicar do projeto de reproduzi em solo ame- ‘eno as gradagies de scaros ¢ 0s privilégios associados & organizacio fievarquizada da medicioa inglesa. A parc dos anos 30, 0 radicalismo Yainefairiano da democtacia jacksoniana térmisou @ desmonte da égolagio profssional. Uma advocacia sem advogidos'¢ uma medicina ‘gem médicos, a privica de uma e outra aberta « todo'e qualquer cidadio, ‘Galera. principio do igualitatismo radical que os republicanos jacksonianos spuaham eanco a0 monopélio da “arce de curac” quan aos privilégios de status reivindicados por médicos ¢ advogados. : “Ito posto, oconcrole do nasceace mercado de servigos médicoselegais, (que se expandiria considesavelmente a parti de meados do século, cornou- + ge uma incumbéncia das liderancas profssionais, algo a ser obtido acravés da combinacio de fatores tais como organizagio (a American Medical “Association, em 1846; a American Bar Associacion, em 1878), disciplina inetta e controle sobre as priicas profissionas (digo de ética), ideologia servic piiblico”),énfaze no eeinamento formal, controle sobre o ensino ¢ 1érios de lcenciamento, Encenda-se por controle do mercado de servigos a eliminagio de préticase praticances concottentes ¢ nfo quslifca- dos aravés de alguma modalidade de eeeinamenco formal: na medicina, as jnsimersé eicas”curativas(homeopatas, bocinicos, chomsonianos, centis- tas criss, hidropatas, et) ¢ 0s “empiricos", todos igualmente idenifica- dos com o charlacanismo, ¢ na advocacia os que haviam se quelificado no sobre os antigo sistema do-appreniaship. Todavia'a fSrimula nao era eficaz para con- ‘role do mercado seri que le fosseadicionado o ingrediente do suporce do ~ Estado. O quase-monopélio obeido pela medicina a partir dos anos 80 fa esteira do desencanto com o laiuer-faire, do cemor pelas conseqi dda competicfo sem limites, do crescente poder das grandes corporacbes fnacionais? O igualicarismo da era jacksoniana perdera seu encanto, ¢ de- sinaidas por mais piotegio dos inceresses locais © por uma presenga mais 2 dos competidotesofo oi completa porque alguas Estados concederam protegio / EDMUNDO CAMPOS “COELHO aciva do poder piblico, associadas igualmence a “busca pela ordem’, leva- ram a que Estado apés Estado baixassém legislacio regulacétia em vécios de is, @ capacidade atribuida aos harmonizar os coscumes-locais (dhe law of che land ) hhavia substituido procedimentos de imposigdo das leis reais. A common Law ‘hasceria assiin fora das universidades e da buroctacia rea juizes para adapcar 208 magisteados seria cambém deixeda 2 acribuigio de definis as qualificegSes para o exerct- io das atividades forenses perante os tribunais sob sua jurisdiclo. Tal acti buigto cles delegeriam aos préptios barriers que perance eles compareciam ‘0s cribunais e que haviam se organizado nas quatro Inns of Court. Desta forma; as Inns of Court vieram a gozar de inteira auronomia no preparo nal de seus membros e continuaram a regular acé nossa época a Widade dos barriers garantindo-thes 0 monopélio da apreseacagio dos ‘esos perance a High Coure e, através dos vinculos com este, do monopslio do acesso & magistracura.* Também os tors, processualisras que guarda- vam 0 acesso 20s barristers © aos procedimentos legais, organizaram-se na ‘The Law Society, em 1825, para proteger seu monopélio. Embora no assem do prestigio dos barristers, a posicio esceatégica dos solicitors em versas quescSes legeis dava-thes condigio suficcace para, por exemplo, a= Por duas vezes ao longo de 20 século XVI Marguceth Th los os bert tvertn sua avtonomin contestada eamneagada: su emo (que o sucedeu) Jaime I; no stevlo XX por Me, el Burrage," «the Lice Republic’ declogy, ern Terence C, Karp (eds), Lawyer and be Rie Bivape and Nor American frm te Bien 0 Toem teh Contre, Oxford: Careadoa Pres, 1997, pp. 125-168 ‘Wilfid Pret, “The English Bat, 1550-1700", em Wilf Pr ‘erage and Ameria. Novs York: Holes & Me profess : the rociology of aa. inteapofesiona conflict", em Jabs, Heals Co an Popular Meine in Ninth Cnty Expl, ‘Nove Yorks Holme & Meir, 1977, 164188;S.WE Holloway, “Medical education is Eotced, 1830-1838". Mizar, 49, 324; Michal Burrage, “From practice co school bused ‘profeatiooal education: puters of conflict and acconumodation in England, Face sod sac U em Sheldac. Rothblats¢ Bjorn Wierock (edi, The Exrspeae aed Aneraee Unters sine 1800. Calidge: Casbridge Univesity Pras, 199%, pe C107 [AS PROFISSOES IMPERIAIS /! 39 i a manutencdo dos insticutos a, gara iasfeacia da propriedade fan smbos como obscéculos 8 que perce ios" esceve asegurado deste-prin- io real, foi criado em:1518 © cipios do século XVI quando, por concessio rel, foi eriado em-15, i rea de lege of Physicians com amplo poder egulat6rio sobre a ee cis, Do Apothiecaties Ace de Londres, mas carde amplisdo pera as provinc : : 1815 acé a unificacdo das erés “ordens” médicas (fisicos, cirurgides ¢ pitti pelo edt Ade 159, dren porque puou nee pode & medina ingle de atte ipagio do Estado nas erans- za reativa e complemencar. Com e inas de organizagées como a Pr ‘British Medical Association a pi ‘Thomas Wakeley,o cicurgido-apoce ; jec6tia de reformas foi gestada na acirrada dispuca encre fisic ‘Medical and Surgical Association ic de 1856) € de reformadores como io edicor do The Lance. da a eran por um cmos dever- -apotecirios por outro, estes —— monopélio do «i minados a romper, sob a lideranga de Wakel le dos primeiros. Mesmo os mecanismos ‘do mais da prétice, sob o cont m0 regulat6rios do Medical Ace eram operados pelas trés “ordens", agora “ unificadas, ¢ ndo por fancionérios do Estado. Note-se, ademais, que a téforma médica de 1858 manceve a “liberdade de curar", uma afirmacio as, embora a instituiglo do icos qualificados com seus res~ Medical Register (ama. ‘alos) constituisse ume advereé 42 | EDMUNDO_CAMPOS. COELHO. a bem, estas dua ed bem duas hist6rias cornaram.se exemplares na liceravura sociol6- ais sprosinadamence & década de 60. Admiciu-se como ponto isputado que “profissio” eram apenas aquelas ocupaces em cuja consti ‘ulglo hiserica o mercado ¢ nlo 0 Estado fora o fator determinance. Em ee Profissdo significaya sempre profissio “live”, encendendo- > “livee” no apenas a auronomia do profissional a ip mas ainda um grau suy nin penagaee tne lode gra superior de aronomia compra pare ovpanzar¢ Tolaséem incertengfo do Esad ¢ independentemence de qual mandaco estatal, a prética coletiva dos profission legal de ‘que o Estado, como mero co © monopslio legal da : wante, concedera Oelaner ds esos $Profissionaisrepresentava na literarura Fanci ce {io sents oreconhecienea da supeirdade edna des profes 5o- récicas “empiticas” concorrences, mas também uma protecio adicional conse a inefetaca do proprio Estado. Num esto cl Wilensky «sbogou um modelo de desenvolvimento das profissdes no qual aseqié copa des denen xs ig ea cto eco ‘ene abscato sisrematindo escola ssocaso profisionai) segue apro- imadamente a sequincia histérica de seu aparecimento nos Estados Uni- ce = Jostamence acusada de exnocéacrica, esea versio icana da constituigéo das profissdes foi cabal dos € na se aed em que isoraorescmegaram arena hs de Profissées tradicionais (medicina, adv. eer » advocacia e engenbaria) aa Europa Esca reconst que a advocacia na cdo mostrou que foi necessério quase um século para 12 Se recuperasse do golpe sofrido em, 1790.7 A a of everyone?" Amer Journal of Sali, 70, poder auto-repulasri |AS PROFISSOES IMPERIAIS /f 41 — pevalugt abolia a Ore de Aeneas, que no acon rigine gozara de inecea le impor as normas da profis- jguconornia para conctolar a prética profiss we CLiOrdveet mative dese sdbleaus”). Toealmence desorganizada aadvocs- aa Ordre seria estabelecida por Napoleio em 1810, mas sem os ancigos ios qué Ihe seriam devolvidos integralmente apenas pe Tereira Repiblica. Neste lapso de tempo els esteve, em maioe ou menor ‘rau, dependent sja dos contoles dos franca nda, ainda 0 arc Impézio,seja dos excacutos que Ihe impunha 0 Miniscere de la Jscice aoe sucessivos regimes, © por esse Zngulo a sucesso de regiies politicos fo também uma seqiéncia de conflitos entre os arwats 0 Estado, com a Ordre jstentemente a recomposigéo de sua autonomia. Também ts medicina foi inceicamence desorganizada pela Revolugio. Reconsciculda ‘ela Lei de VencSeeem 1803, nfo recuperou todavia os privilépios auto- no ancien régine. No novo tegime os médecins ‘nomia corporativa de que gover ‘nfo obtiveram 0 monopélio da “arve de curar’ ado, a despeito das resistencias, instieuiu o offciar de san para servir nas provincias e permisiu smplamence que oscars prestasem ali srvgos de sade! Ese ap6s 0 perfodo landrquico que se seguit & Revolugio a “iberdade de curar” nfo enconitrou ~ gbrigo legal como na Inglacerra ou apoio numa culcura igualitéria como nos Estados Unidos, nenhuma lei efeciva velo proceger os médicos franceses da concorréncia dos “empiricos” ¢ dos'charlaties num mercado ainda muito ‘estreito. Ademais, por longo cempo estiveram proibidas pela lei de Le ‘Chapeicr as associagbes profissionais sob o argumento de que nada deveria seincerpor encre 0 povo eo Estado. As que surgiam tiaham existéncia pre- chria carfcer aio oficial, # 0 primeico sindicato médico, criado em 1883, “foi declarado ilegal no ano seguince. Soiente em 1892 resraurou-se 0 mo- “pop6lio dos médecins com a dissolucae do afficias, permicindo-se cambém @ tiagio dos sindicatos com poder de fiscalizr 2 précica legal da medicina, Individualmence, codavia a pestica médica eta “liberal”, isto é, 08 médicos _vendiam livremence seu setvigos no mercado. Uma vez estabélecido 0 le do Estado foi exercido, princi = mato institucional das profissées, m terio tomado cochecimento do offtiet dt sant atcavés das desventuras dt cars mations afzer que clinizox duruae o Segundo Impéio oa pequens 42 || EDMUNDO CAMPOS COELHO palmence, através do cnsin,jé que as faculdades eram pablicase, por meio sobre 0 credenciamenco ¢ o licenciamenta para o exerccio pro nal. Neste caso fica evidenre o concrasce com a Inglaterra, onde as universi- dades de clice privilegiavam uma educagio dl macdo técnies, e com os tados Unidos, onde as escolas particulares predominaram dispucando com as associagées pofissionais lo ‘Gacia para licenciar para o exercicio profissional ‘Também a consticuigio das profissées na Alemanha do século XIX escapou inteiramence 20 modelo anglo-americano.? Af a normalidade da regulagio estacal fazia parte da modernizacio iniciads com as reformas ‘napoleSnicas, as quais colocarain na mio dos Estados maiores, como a Prissia € @ Bavicra, um poder sem precedentes. Neles os advogados eram tidos ‘menos.como representantes legais de isa compe exesses privados perante os ctibu- ‘ais do que como funcionétios ou auxiliaes do Judiciéro, Eseaconcepgio a advocacia como segmn rnogio de que perance 0 10 da administracio pablica escave enraizada na sdo 0s direitos individuais se arenuavam e que a0 advogado cabia declinar da represencacio de clientes com “inceresses im- Préprios", podendo o Estado intervir para corregio de “percepgbes equivo- cadas". O jurista do Estado era 0 modelo do advogado alemio. As associa $8¢s profissionais eram todas locais, sempre sob a vigilancia do poder pablico, na Prissia eram os Tribunais de Honta, criados em 1847 e compostos de Fepresencances do governo ede advogados crteriosaaménte seleconados, que cuidavam da disciplina profissional. Em outros Estados etam os tribunais comuns que fiscalizava dentto ¢ fora do exercicio profissional, o compor- famenco dos advogados, A part de 1860, e depois da unificacio do Impé- tio em 1871, reduziram-se signifcacivamence as précicas regulat6tias uni- erais. O Cédigo dos Advogados de 1879 refleca a tendéncialiberalizance, as © faro € que o Estado jamais. retirou-se inceiramente da esfera da omeys inthe ainetceoth and Jarauch (4), Gorman Profs, «¢ Michael Burage (0) Sage, 1990, 97-115; Chadles E- MeCl Cambridge: Cambridge Univ 26 diversas sob o eixo de uma Gnica [AS PROFISSOES IMPERIAIS TIS que no mesmo ano de 1879 um Regularnenco ala ineromissio estipulava o valor 3s, reproduzinds em “icios servigos legeis. O mesmo padrio incervencionista ocortia fio Am- cs oes ‘do estava unificada na maioria dos Este- a de funcionérios pablicos, “mas 3s, a redagio de relacétios peri6- ios sobre as condigdes médicas em suas localidades eo tracamenco gracul- ul ic ec éncia do Estado seria ainda bastante casio do Império, mas a ingeréacia i ° Q 1s entre médicos € fundos de sadde em torno da ‘comum, como nos cont SEN cen eye ey ei jica desempenhando fungées meramente de suporte, foi trazido a pelos historiadores como um dos procagoniscas princi x rr © processo da consticuigio das profissSes rornacse incompreensivel sem a conside- co problema foi o de refundir as duas hists- acassaram: ou davam um firm s. Como observou Johnson; fica nas duas conclusbes alexiativas: ob auconomia profssional ou Ou mercado ow Escad, como preferem outros. © cexperigncias hist6rieas eo ‘ou “menos’ Edica insticuidos por Bismark. isda crama da profissionalizacio. De rmodernas na Europa continent fica bastante claro que eng sto de “m: Iss0 pe 0, inversamente, de “mais” ow-"menos” mercado € um recurso ee German Experienee..» P. 123. ayo Terk pine pte Bem fon iene Bras, 1982, 186-2 a ne AAI EDMUNDO CAMPOS CORLHO. advocacia tenham estado na Franca e na Alemanha quase que permanente 4 mente sob politicas regulatérias, os médicos ¢ os advogado¥ alemies niio ‘concebiam a regulagio escatal como faror adverso para os sc fissionais. Em p no século XVIII 2 autonomia de que desfrutaram suas congéneres na Fran: 2. Em segundo lugac, 0 burocraca aleméo, sobrecudo consticufa um modelo ocupacional de excepcional p io e poder, razio pela qual médicos e advogados nao viam na instituicgo de um mercado de 4 servigos livres a melhor via para a estabilidade e para o suicesso pro (Os médicos nio se opunham ao io da “liberdade de curae” ¢, de faco, negaram apoio a legislagio que punia os praticantes nio licenciados, Ade- ‘mais, comparclhavam com o restance da classe média educada (a Bildung. ‘birgertum ) uma visio estatisca-corporativa da sociedade da qual nio estava ausente uma acencuada inclinagéo para cooperar com o governo. Mesmo no ‘curso do processo de iberalizagio nas décadas de 60 e 70 advocacia e m ina mantiveram uma extreita associagio com o Estado. Inversamente, advogados franceses participaram ativamente da queda dos sucessivos regi- mes até a Terceira Repablica, cransformando freqiientemente os tribunais ‘sum eficiente inscrumenco de propaganda politica. Além disso, a amplieu- de da regulagio profissional na Franga era menor, bastando observar nova- ‘mente que @ incapacidade da medicina francesa de se auto-regular como corporagio nfo impediu que os médicos individualmence exer oficio denezo dos mesmos moldes “liberais* com que o exerciam os americanos ou ingleses. ‘Também as erajec6sias das profissdes na Inglaterra c nos Estados Unidos cornam-se superfcialmence semelhantes quando exai pela 6tica da ‘oposigdo entre auronomia profissional e regiilacio estacal. A aciva ‘ses, com 0 atenuado e reativo intervencionismo do Parlamento inglés, Nos Estados Unidos tracava-se'de newar-&s profissdes o status difezenciado que reclamavamn cm base em cricé acesso privilegiado a um corpo de terra, onde uma educacio especializado. Na I cema Oxbridge era uma das bases > arefas postas pelos FISSOES IMPERIAIS if 45 “fq monopélio dos fins, watavacse de acomodar as demandas das ordens rc i deslocamento excestiva de valores e sem ofen- cis inferores, mas sen ee of ae demasia os guardies mais exacerbados do laissez-faire. Dai também sranarencio da “liberdade de cara. “ho fim c 20 cabo, calver se pudesse dizer que identificar laiuezfaire com tusincia de ago estatl ¢ regulacio com “mais Estado" co : ‘mente urna ilusio de perspective. Comencando a expansio do credo laisez- mmo na Inglaterra apés 1830, Karl Polanyi obsecvava que a via ane r aberta e assim mantida por um moncance sem precedence Se cmal io hava ead de natural no 0 pelo Estado. Os anos trinca e repelindo regulagdes intervengio estacal e que, assin (faire (1 0 prOprio laisez-faire foi imp i e ma explosio le (quarenca viram no apenas uma expl ? esis stab tre ein sings i do Escado, agora dotadas de uma burocracia ceneral capaz de realizar cae idores do liberalismo {..J 0 laisez-faire no foi um Igo,cle rao algo a ser obsido™." Nestestermos, io cio de que em sociedades de “pouco’ sea Inglacersa, uma das condigées da auro- mécodo para se of haveria qualquer paradoxo na Estado, como os Estados ‘nomia das profissdes foi a razodivel rever os estudos aanglo-ameticano, pois € pouco provével que o la jacksonianos tenha escapado 5 Mas Polanyi agio do Estado, Nos mesmos termos, seria 2 fase formativa das profissdes no mundo | deflagrada na mecade do sécu- ire menos como o resultado de Vial Polanyi, The Gat Trasfonncrion. Bostoa: Reucos Pres 139. 46 lf EDMUNDO CAMPOS COBLHO AS PROFSSOES IMPERIAIS 11-42 — tuma macigsincerveacio do Estado nai esferaécondmmiea do qué como uma 4 deliberada,difusae dscreca politica de gene relagio a viros coriografia liberal que ina de mercado ‘vee’ negligenciou a experiéacia de amplos se adores sem especi izada permit ris tipos de proprietdcios."* Ao concrério da de Po mirada repse a substiacia escamoreada pela iniopia das teotias do Estad a dei lo Escado, ou a0 Estado como construgio cultural diluida em préticas cotidian: fo cule tidianas e, por isso, saben for ‘granted. Sem a Gafase de Polanyi, mas com as sombras das suas alsa Operado este deslocamenco de perspectiva, descobre-se um Escado muito cados, Por exempl ies, de abandonar um e Fidamence’ com seus patrbes. lerer tais ordenamentos cradicionais acravés de estatatos nfo raro eram ‘eclarados inconstieucionsis pela magistracura sob o argumento de que vio- vam disposig6es da common law e precedentes jé julgados pelos cribunais, 0,0 Combination Ace de 1800 colocou fora da leicodas as Evencuais tentacivas do Parlamento de , (no) cegulagio do mer- ¢ado'e 0 mito da sobecania do Paslamenco nas fungSes de laumabiny permi- tiramh aos economistas e aos cientistas politicos erigit kennethburkeanamente juma moderne ere liberal sobre uma claca de relagbes de trabalho desps- teas, medievais e desumanas." Cabe aqui uma transctigio mais longa: “A 4 House of Commons promulgou leis proi- ‘indo a sindicalizagao em vérias ocupagbes e localidades; o Master and Servant “Ker'de 1823 definia a quebra de concraco de emprego por parce dos patsbes iio um mero delico civil, que # ourea parce podia remediar através de asio judicial, mas como crime o rompimenco do concrato pelo empregado, sujet tando-o a condenacio, multae prisio." Por longo prazo o mercado de batho fcacia suspenso “entee a serviddo feudal eo sistema contracua livre ‘da economia politica do século XIX “5:Bois bem, a legislagio erabalhista vigente nos Estados Unidos acé as primeiras décadas do século XX era a inglesa, adaptada aqui ali as céndi- ‘es do pais} Seria esce heranca histérica, muito mais do que a fangio ‘consticucional de rever.decsbes dos oucros dois poderes, © que explicaria melhor 0 1es na adjudicaczo dos conflitos trabal resisténcia em ceder terreno aos estacutos do Congresso ou dos le estaduais no dominio da common law. Como nota Karen Orcen, 05 juizes statements, They scivity and ndvidualand colaive smo dos sua vos elie le crucial to theory, anno be {uel Revolton em PatickO'Brea rth Sic. Cambridge: Cabeidge the Indust Revolution’. Ein Paice K.O Bian 1 fol evogado cms 1875, igh evn iy at ying ess pon hes Th Paty of Liar Bs Berkley Te Uecie f siga de porto o vaca de Karen Oren, red States and Eagland” Polal They, 48 J EOMUNDO_CAMPOS COBLIO obserufam o trabalho dos legisladores com o argumenco de que os estatutos podiam suplementar a common law fa esfera das relagies de tt ‘do alteri-la subscancialmence, ‘ia no campo do diceito comercial. Por qué? Porque, tal como as relagbes ‘entre cbnjages, ow encte paisefilhos, as relagbes empregado-patrio cinham ‘atzes em “leis naturais", ao passo que as relagies de negécios eram “artifi- tho ras ora nio oferecessern a mesima resistén- ‘car 0 principio da néo-revroatividade, con- sagrado'na common law, para invalidar os estacutos como argumento de que alceravamn pits boc as condigées sob as quais empregados e patrdes haviam estabelecido seu contraro. Em sincese, “em sua maior parte, a lei erabalhisca americana permaneceu como common lat, produto das decisées judiciais — faro, a plena soberania do Congresso ¢ dos legislacivos estaduais na das I 0 da ago coletiva dos trabalhadores americanos no século XIX em resisténcia Acommon lawdo senhor-e-servo, B por aqui descobrimos a chave para outro enigma: como regular sem eparencemente abdicer de um “Estado fraco" Por volca de 1870 tornou-se bastante claro para os americanos que @ politica de laissez-faire produzira efeitos colacerais indesejéve banizacéo seguida de tensées sociais sem precedences Hipida centralizagdo do poder econdmico pela via da catvelizagio e concen- ‘acio da economia, crescentes pressdes sobre o ideal da igualdade de opor- tunidades © ampliacio das desigualdades sociais. no encendimenco de Orren, como o prod: a virada do século, a extensiva incervengio das aucoridides para Conttolat 6 processo de mudan- 6 havia dado cabo do “career excepcional” da sociedade americana, entre 1877 € 1920 foi sepultado o sentimenco da “austncia do Esta ‘Agora havi a “busca de ordem’, € saida foi a criagio de umm sem-nvimero de agéncias adminiserarivas e regula funcionalmence especializedas, independences e escassamente articuladas entre 6s diversos niveis de gover- sho. No comentario de Hamilton ¢ Succon, “a familia, a crianga, a com dade, 0 mercado # 6 consumidor — estes exam os objecos da atencio das Files Rien pos HG, finalmente, a questio do "projeto prof [AS PROPISSOES IMPERIAIS /f 49 ja ances do que instrumento endo adelegis- (O intenso trabalho ideo- jtimagio.da nova ordem, o ingente esforgo para conservar 0 -o essencialmente distinco agéncas,Deviam sels a extenso da cd , fa esa essencialmence admit ‘dos politicos, sua tare! far ou fazer com que as eis Sossem aplicaas. 6gico dele ito do “Estado freco” edeum apat Ss baroecics fortes'e centralizadas dos Estados europeus nio foram de fodo ber-sucedidos: “um sentido de Estado” roma conta da politica ameri- 9 butas = gana contemporanea. Tiaca-se do sentimenco de uma organizagio com po- “der coercitivo que opera: de nosso controle imediaco e que penetra jem todos os aspectos da.nossa vida. A esca organizacio temos chamado de a Estado corporative, s6tulos. Pois, afinal de concas, é a auséncia de um sent : incivo da culcura politica americana’ aque tem sido o grande teago ses no original)” (Ora, 0 fato de que em virios Estados americanos a regulagio da advoca- cia e 0 retomno da legislagio regulasés ham sido parte deste amplo processo de “reconstrugio” do Estado cobre de densas nuvens cia do mercado no processo de profis~ de cexicismo a tese da predon sionalizacio nos Estadcs Unidos. Vv ‘um conceico imporcen- init de 1989, p32 2 ‘Naina Adinirdtse ge University ren, 1982, p. 3. Cad on 208

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