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er ne ne) Selecaéo argumental Como foi visto no capitulo anterior, adotar os papéis tematicos como primitivos de uma teoria e estabelecer as definigées dessas fungdes seman- ticas de uma forma consistente é problemitico. Certamente, essas noces sao intuitivas e aceitas por muitos na literatura linguistica, mas as defi- nigdes dadas a elas nem sempre sao consensuais. Existem muitas contro- vérsias a respeito do que seja realmente um agente, ou um paciente etc. Também nem sempre é possivel atribuir um tnico papel temdtico a um mesmo argumento. Com isso, a motiva¢ao existente para se investir em es- tudos sobre papéis tematicos (a proposta de um principio de ligacdo entre a sintaxe e a semAntica e as restri¢des semanticas para processos gramaticais) ficou comprometida teoricamente. No decorrer dos estudos sobre papéis tematicos e estrutura argumen- tal, outras propostas que tentam contornar esses problemas vo surgindo. Por exemplo, existem abordagens mais recentes que adotam um modelo te6rico com definigdes menos refinadas do que a lista de papéis tematicos, assumindo papéis generalizados como nogdes derivadas da relagdo entre os verbos e seus argumentos. Exemplos desse tipo de modelo sdo os protopa- péis de Dowty (1989, 1991) e os macropapéis de Foley e Van Valin (1984). Para esses autores, os papéis temiticos relevantes podem ser definidos com apenas dois itens, grosso modo, o agente e 0 paciente, tendo esses papéis definiges bem mais abrangentes do que as dadas no Capitulo 2. Outros tipos de abordagem adotam modelos com definigdes um pou- co mais refinadas do que as de Dowty (1989, 1991) e de Foley e Van Valin Digitalizado com CamScanner (1984), mas ainda menos especificas do que a lista de papeis tematicos. Um exemplo dese tipo de propost2 é a representacio da estrutura argumental pela decomposicio do sentido do verbo em predicados primitivos, como elaborado em Jackendoff (1983, 1990), Levin e Rappaport Hovav (2005), Van Valin (2005), entre outros. Nessa abordagem, os verbos sio decom- postos em unidades menores de sentido, como causa, mudanga, estado etc. Propostas com definicSes mais amplas, como as de Dowty (1989, 1991) e de Foley e Van Valin (1984), s30 mais econdmicas e interessantes no que diz respeito 20 estabelecimento de um principio que ligue a semintica a sintaxe, entretanto n3o conseguem abarcar informagoes sobre os eventos, sobre a aspectualidade e sobre o sentido especifico dos verbos, entre outras informacdes. Ji propostas do tipo da decomposi¢ao em predicados primi- tives so mais custosas para o estabelecimento da liga¢do entre as estrutu- Tas sintatica ¢ semintica, mas sio mais abrangentes no que diz respeito aos outros tipos de informagées semanticas e sintaticas. Por isso, entendemos ser interessante mostrar essas duas perspectivas teéricas neste livro. Primeiramente, neste capitulo, mostramos a proposta de Dowty (1989, 1991) eo refinamento dessa proposta para o portugués. Retomamos ideias de Franchi e Cangado (2003a [1997], 2003b [1997]) e de Cangado (2005) ¢ estabelecemos um principio de ligacdo entre a semantica e a sintaxe € as restrigdes seminticas para certas propriedades sintaticas. Essa abordagem resolve uma série de problemas das listas de papéis temiticos tradicionais, apresentados no Capitulo 2. E no Capitulo 5 delinearemos uma proposta baseada na perspectiva da decomposicao em predicados primitivos, que inclui informagdes sobre o evento (0 que no é contemplado pela lista de papéis tematicos nem pelos papéis mais amplos de DOWTY, 1991), além de trazer informagdes sobre os papéis tematicos, o aspecto lexical ¢ o sentido idiossincritico dos verbos. Mostraremos, também, que nogdes como agen- te, paciente, beneficidrio, experienciador etc., nas duas abordagens a serem apresentadas, sio meramente descritivas e derivadas de outras informagoes- Digitalizado com CamScanner 1 APROPOSTA DE DOWTY Como ja apontamos, a ligacdo entre as estruturas sintdtica e semantica éaceita por varias correntes linguisticas e é mais conhecida como Princi- pio da Hierarquia Tematica ou, conforme Dowty (1991) nomeia, “Selecao Argumental”. Varios so os linguistas que apresentaram propostas nesse sentido, utilizando-se do conceito de papéis tematicos e de uma hierarquia entre essas fungdes seminticas e as fungées sintéticas', Entretanto, apesar de as nogées de papel temiatico e de hierarquia tematica serem de extrema relevancia na gramatica das linguas, existem dois grandes problemas envol- vendo essas nocées, 0 que faz muitos desistirem de aceita-las como partes integrantes de uma teoria gramatical, como ja apontado no Capitulo 1.0 primeiro problema se deve a inconsisténcia das definiges usadas para os papéis temdticos que fazem parte das hierarquias propostas. O segundo problema é que essas hierarquias, apesar de serem apresentadas como um princfpio universal, nao apresentam uma mesma ordenagio entre os pa- péis temiticos tradicionais, havendo grande divergéncia entre os autores. Compare alguns exemplos abaixo; veja que, apés o agente, nao existe um consenso entre quais so os papéis relevantes para a hierarquia e nem que ordem seria a universal: (1) Agente > Locativo ou Fonte ou Alvo > Tema (JACKENDOFF, 1972) (2) Agente > Causador > Locativo > Tema > Paciente (FOLEY & VAN VALIN, 1984) (3) Agente > Beneficidrio > Experienciador > Instrumento > Tema ou Paciente > Locativo (BRESNAN & KANERVA, 1989) Com isso, outras propostas aparecem, tentando contornar esses proble- mas, Uma abordagem bem interessante, e assumida por muitos na literatu- ra mais recente sobre papéis tematicos, é a de Dowty (1989, 1991). 1. Cf. Fillmore (1968), Jackendoff (1972, 1983, 1990), Givon (1984), Foley e Van Valin (1984), Van Valin e LaPolla (1997), Van Valin (2005), Carrier-Duncan (1985), Baker (1988), Bresnan e Kanerva (1989), Grimshaw (1990), Dowty (1991), Hudson (1992), Franchi e Cangado (2003b [1997]), Cangado (2005), entre muitos outros. 85 Digitalizado com CamScanner Dowty (1989, 1991),em sua proposta sobre papéis tematicos. aponta ume estratégia de pesquisa para avaliar se as relagdes tematicas realmente possuem relevancia gramatical. Segundo o autor, deve-se trabalhar sobre cada domi. nio em separado, sem deixar que haja interferéncia de informacoes e concep. goes de certos dominios em outros. Pode-se, por exemplo, analisar as estru- turas lexicais propostas inicialmente por Gruber (1965) ¢ Jackendoff (1972, ‘ou somente analisar a indexacao dos argumentos para a projecao sintatica, como na tradi¢do gerativista, ou ainda o que é determinado pela anilise dos fatos da selecao argumental, que é a escolha de Dowty (1989, 1991). O av- tor chama de “Selegio Argumental” o principio das linguas naturais que determina quais papéis tematicos estao associados a quais argumentos de um verbo, incluindo ai nao somente a selecao do sujeito, como era feito na Gramitica de Casos’, mas também a selecao de complementos. Pode-se assumir que se trata do mesmo Principio da Hierarquia Tematica, ou Princ- pio de Ligacao entre a Sintaxe e a Semantica, mostrado no Capitulo 2. Para estabelecer, entéo, o Principio de Selecao Argumental, Dowty (1989, 1991) primeiramente assume que papéis temdticos nao sao primi- tivos semnticos, como na proposta de listagem dos papéis tematicos, mas séo nogées definidas em termos de acarretamentos lexicais de um verbo. Segundo o autor, papel tematico é um grupo de acarretamentos atribuidos a um determinado argumento pelo verbo que o seleciona. Diferentemente do acarretamento semantico, propriedade estabelecida entre senten: no acarretamento lexical somente entram as propriedades inferidas pelo sentido do verbo, nao sendo levadas em conta as inferéncias sobre 0 even- to, como lugar, tempo etc. 2. A Gramatica de Casos, proposta por Fillmore (1968), é uma das teorias pionciras sabre apéis tematicos. O que 0 autor chama de “casos profundos” (deep cases) sbo, em realidad 0s papéis tematicos de agente, beneficiario, locativo, instrumento e outros. Na Gramatice Casos jd existe um Principio de Hierarquia Temitica e é assumido que as funcdes simaticos dos argumentos sio determinadas pelos casos profundos. Entretanto, Fillmore (1958) 3 1pOe uma hierarquia temética que prevé apenas qual argumento vai para a posicao de suicito. 3.A definigdo de acarretamento semantico é a seguinte: “uma sentenga @ acarrets uma tenga b se, quando a sentenca a for verdadeira, a sentenca b também o for necessariamem 86 Digitalizado com CamScanner Por exemple, ern uma teritenca de tiper x camttrvia 9,0 veriny construe acarreta lexicalmmente pata wus atgutnenten 16 7 28 proptntades de ver construtor ¢ de ser construido, tevpectrratnente, Lettetattn, tio we pte afirmar, com base na nen an de acatretamenta lexical progenta pot Dorey (1991), que 0 lugar onde v¢ deu eva omntructo € win acartcamento da verbo construir, apesat de ver utn acattetamento vemndetin de wena vemten- «a do tipo x construiu y. Ou seja, 0 verbo construir nio pede wen hogar come argumento para ter seu sentido saturada', A partir de acarretamenten dews tips, Damty (\991) devernohve 2 rexao de papel temético individual. Pode-se afirrar que o papel temition indivi- dual atribuide a xno exemplo acina to“ paps de cmitritor’ porque é wma propriedade que se pode atribuir a x, somente por saber que uma vextenca do tipo x construiu y € verdadeira. J4, em relaczo 20 papel temiticn indivi- dual de y, pode-se afirmar que ve trata do “papel de cmstruida”, porque isso consiste em uma propriedade que se pode atribuir ay neva mesma sentence, Obviamente, definir o papel temético individual de um verbo dessa for- ma trivial nao € interessante do ponto de vista tebrico, pois para cada verbo haveria um novo grupo de papéis tematicos, sndo impossivel tracar gene- ralizaghes gramaticais a respeito dessas funches seménticas. Entretanto, Dowty (1991) parte dessa nog4o para definir 0 que ele chama de “papel temati- estado mental/m). © papel temation causa ¢ definide como [+e], sendo subespeciticado para o trago m, o papel de agente ¢ [4c}, [4m] e0 paciente ¢ [-e}, [en], Essas propostas apresentam problemas signi- ficativos, como apantam Levin e Rappaport Hovay (2005), P, ex, um determinado argu- tnento mao pode Gausar una mnudlanga em si mesmo, sendo [+e] e [+c] ao mesmo tempos Ji que os tragos sto indtios, Iso inviabiliza a caracterizagdo de desencadeadores afetados, «mio em senitengas médias (w menina se senfou) e-em casos problemsticas como os verbos e irigir, que apresentam argumentos que sio agentes ¢ temas, ou seja, apresentam as propriedacdes de desencadeador e afetad, 108 Digitalizado com CamScanner go argumental ¢ de restrigdes a algumas outras propriedades sintaticas, Fazendo uma revisio da proposta de Cangado (2005) para o portugués, vamos, pois, definir quais sto as propriedades semanticas que tem um papel relevante na organizagao da estrutura sintatica, A autora mostra que, em um processo empirico, foi analisada a correlagao entre as fungdes sintéticas ¢ semAnticas de sentengas do portugués que contém os papéis tematicos normalmente mais investigados na literatura (CANCADO, 1995; MOREIRA, 2000; SILVA, 2002; WENCESLAU, 2003)'*. Os acarre- tamentos decorrentes dessas sentengas foram analisados e, como resulta- do, foram, primeiramente, encontradas quatro propriedades semanticas, fundamentais para o estabelecimento das regras que relacionam a seman- tica e a sintaxe: ser um desencadeador de um processo, ter controle sobre 0 desencadeamento de um processo, ser afetado por um processo e ser ou estar em um determinado estado. Pode-se fazer um paralelo das trés primeiras propriedades com as seguintes propriedades propostas por Dowty (1991), respectivamente: ser um desencadeador de um evento ou de uma mudanca de estado em outro participante, ter envolvimento com voli¢do no evento e ser causalmente afetado por outro participante. A propriedade de ser ou estar em um determinado estado nao é tratada por Dowty (1991). Para se esta- belecer a selecdo argumental dos verbos estativos nao tratados por Dowty (1991), essa propriedade no sistema de Cangado (2005) é combinada com mais oito propriedades especificas (ser um possuidor, ser um experiencia- dor, ser um o objeto de referéncia, ser um valor, ser uma qualidade, ser um locativo, ser a origem e ser 0 alvo)'’. Em nossa andlise, percebemos que esse sistema pode ser ainda mais res- trito do que o proposto em Cangado (2005); para 0 estabelecimento da 16, Esses trabalhos foram realizados no Nuicleo de Pesquisa em Semantica Lexical (NuPeS), da Faculdade de Letras da UFMG, coordenado pela primeira autora deste livro. Esses tra~ balhos,e varios outros que tratam dos papéis temiticos sob a perspectiva das propriedades seminticas, sé encontrados no site do niicleo, www.letras.ufmg.br/nucleos/nupes. 17, Cangado (2005) segue, em parte, a proposta de hierarquia entre papéis estativos de Moreira (2000). Digitalizado com CamScanner selocin argumental sto necess4rias menos propriedades do que as propos. tas Meemo que o papel temético de um argumento possa ser composte por um grupo maior de propriedades, decorrentes dos acarretamentos le. sycats dos predicadores, apenas seis dessas propriedades sio relevantes pata de Selecdo Argumental. Essa ¢ outrs vantagem em relacao ao sistema de Dowty (1991). O sistema que aqui seri © estabelecimento de um Princ apresentado nos permite lidar com um ntimero pequeno de propriedades © seus artanjos, mantendo o carater flexivel da proposta do autor, mas ¢li- minando a lista (inacabada) de propriedades dada por ele. Como foi visto em sua proposta, varias propriedades se sobrepdem; portanto, o numern de propriedades semanticas que sao realmente relevantes gramaticalmente ¢ bem menor, Além disso, com um ntimero menor de propriedades, estas podem ser reconhecidas de forma independente. O autor propoe que cada uma das propriedades do protoagente ¢ do protopaciente podem ocorrer isoladamente; entretanto, algumas dessas propriedades sio muito dificeis de serem dissociadas, como ja apontamos. Por fim, é possivel incluir aqui também os verbos estativos que nio sio contemplados pela proposta de Dowty (1989, 1991), Feitas essas observagdes, inicialmente apontamos as propriedades que sto relevantes para o Principio de Selegao Argumental, A definigao dessas propriedades nao é dada sem problemas, mas acreditamos, assim como sugere Dowty (1991) para as propriedades propostas em seu sistema, que esas definigoes sto intuitivas ¢ que existe certo consenso entre os falan- tes 4 respeito do sentido das mesmas. O Principio de Selegio Argumental baseia-se, primeiramente, em um eixo das eventualidades, composto por és propriedades: ser wm desencadeador de um proceso, ser afetado por unt Proceso © ser ou estar em um determinado estado, ow resumidamente, de- sencadeador, afetado ¢ estative. Pode-se observar que essay tres proprieda- des semantics estdo relacionadas a trés grandes categorias semanticas, que compdein as eventualidades no mundo: + acdescausagdes: uma categoria que denota o principio, o meio ¢ 0 fim de uma situaydo ou 0 inicio € a sustentagdo dessa situagdo; o desenca- No Digitalizado com CamScanner deador & a propriedade relacionada ao individuo, no sentido amplo do termo, que dé inicio a essa situagdo: (44) a. O Jodo quebrou 0 vaso, b, O vento forte abriu a janela, ¢. Oatleta correu uma maraton * processos: uma categoria que denota o meio ¢ o fim da situagio; 0 afe- tado 6 uma propriedade que ¢ associada ao individuo, no sentido amplo do termo, que sofre as mudangas ocorridas durante essa situagio: (45) a. O vaso quebrou. b.A janela abriu, + estados: uma categoria que remete a estados permanentes de indivi- duos, no sentido amplo do termo, durante um intervalo de tempo; 0 estativo é a propriedade relacionada ao individuo que es minado estado permanente: ‘4 nesse deter- (46) a. O vaso est quebrado. b.A janela esté aberta. Em outro eixo, que se aplica a verbos de natureza estritamente e propomos mais trés propriedades relevantes para o Princfpio da Selegio Argumental: estar em algum tipo de condigao mental, ser o possuidor de algo e ser o objeto de referencia do estado denotado pelo verbo, ou resumidamente, condig&o mental, possuidor e objeto de referencia, Essas propriedades esto relacionadas a’grande categoria dos estados, uma categoria que remete a estados permanentes de individuos, que podem ser exemplificados da se- guinte forma: + Estados: * condigéio mental: uma propriedade que denota o estado mental, seja psicolégico, seja cognitivo, seja perceptual, de um individuo mw Digitalizado com CamScanner cama a Carla, sabe semintica. + possuidor: uma propriedade que denota o estado de posse de um individuo (48) a. O rapaz tem um carro novo. b. O proprietério possui muitas terras. + objeto de referéncia: uma propriedade que denota 0 objeto para o qual se atribui uma determinada propriedade (49) a. O Ricardo mora em Belo Horizonte. b. O menino detesta jilé. Vamos mostrar, mais a frente, outras propriedades que sio compativeis com as propriedades estativas. Entretanto, essas outras propriedades ndo sao necessarias para a organizagio do Principio de Selegio Argumental, embora sejam relevantes para algumas propriedades sintaticas. Ainda, para que esse sistema funcione adequadamente, propomos as se guintes restrigOes, adaptadas em parte do sistema de Dowty (1991): + Completude A todo argumento tem de ser atribuida, através da relagdo de acarretamen- to lexical, pelo menos uma das propriedades do eixo das eventualidades. + Distingao ‘Todo argumento se distingue de outro por pelo menos uma proprieda- de acarretada. Essas restrigOes garantem o cCumprimento do Critério-Theta ¢ 0 estabe- Jecimento do Principio da Selegao Argumental. 12 Digitalizado com CamScanner Exemplifiquemos, pois, a propriedade de desencadeador, Quando win verbo, como correr em (50), ou um sintagma verbal, come assustar a nie Iher em (51), acarreta para um argument sero desencadeador de in pro cesso, este serd um acarretamento que compoe 0 seu papel tematicn: (50) O atleta correu, (51) A chegada inesperada do Paulo assustou a mulher, Para testar nossa proposta da atribuigdo de propricdade vans Os valer da propriedade semantica da contradigao. f. sabido que nav ve pode negar uma propriedade que faz parte do sentido do verbo, sem que haja contradic4o, Portanto, se as sentengas em que se nega o desencadeamento do processo por parte do argumento na posigao de sujeito forem contra- ditérias, tem-se uma evidéncia de que a propriedade de desencadeador est sendo atribufda a esse argumento: (52) [ O atleta correu, mas nao foi cle que desencadeou 0 processo de correr". (53) FA chegada inesperada do Paulo assustou a mulher, mas nao foi a cheyada inesperada do Paulo que desencadcou o processo de assustar a mulher. Uma observagao importante é que a propricdade de desencadeador nao deve ser comparada aos papéis tematicos de agente ou causa simplesmente, ou a qualquer outro papel tematico. Por exemplo, o agente é normalmente associado a inten¢do e ao controle. Embora essas propriedades possam ser compativeis com o desencadeador, nao € 0 caso necessariamente, como no exemplo em (51). Repare que desencadeador é somente uma propriedade que pode ser associada a outras propriedades, em um grupo especifico de Propriedades, chamado papel tematico. Consequentemente, 0 desencadea- dor pode ser parte de um “agente”, um desencadeador com controle, como m (50), ou parte de uma “causa”, um desencadeador dessa causagao, 18, Relembrando, o simbolo indica que a sentenga ¢ contraditoria (CANN, 1993). 13 Digitalizado com CamScanner

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