You are on page 1of 10
“Titulo original inglés: The Enlhonmet ‘Astor: Derinde Onto Copyright © Cambridge University Press 1995 “radu: Joogin C. Machado de Sihe Revisor Eds Lye Cope Mario Caio Fotocomposigio: Afomamiri, L# Impresio ¢ acabamento: Tifa — Secdade Gries SA (Lager de Bair, Fri, 4700-001 Brags) Lreligio: Mare & 200 ISBN: 972-759-1658 Depésto legs 160 350/01 ‘Temas ¢ Debates — Actividades Editorsis, L& Rua Prof, Jorge da Silva Hore, 1 — 1500-499 Lisboa Dorinda Outram O ILUMINISMO Tamas n Nahatas 6 1789 Retinem os Estados-Gerais (Maio). Revolta da Bounty 1790 Morre José TI. Edmund Burke, Reflections on the Revolution in France 1791 Thomas Paine, The Rights of Mar. 1792 Mary Wollstonecraft, Vindication of the Rights of Women. A Franca fem guerra com 2 Austria e a Prissia. 1793 Segunda divisio da Polénia. Condorcet, Esguisse d'un tableau Historique des progrs de Fesprit bumain. cartrro 1 O que é 0 Iluminismo? ‘Tempo viel em que o sol brilhars #6 para homens lives ‘que tém como mestre apenas a sua rar. Condoreet! A controvérsia sobre © significado de «O Tluminismo» comecou ainda no século xvpit& tem continuado sem esmorecimento até 20s, rnossos dias. Mesmo no século XVII, as pessoas desse tempo estavam bem cientes de que a difisio de palavzas usadas em reas linguisticas diferentes refetides a «O Tuminismo» — Ayfbléneg em alemio, Lamiees em francs, Ibuminismo em italiano — denunciava uma diver sidade fandamental no coraci0 de «O Tluminismos*. Assim, nio foi surpreendente que em(783)p influente jornal de Berlim, o Berlnisce (Monatsibrjt, pedisse respostas para a simples mas todavia crucial pergunta «© que é 0 uminisma»? Os ensaios enviados em resposta 20 jomal vieram de homens tio diversos como o dramaturgo Gothold Lessing (1729-1781), fl6sofo judeu Moses Mendelssohn (1729-1786) € 0 flésofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), bem como muitos " Gieado em E. Cassce, Reusees, Kent ond Gout (Nova Torque, 1963) HE, Stoke, «AnfMérung, em O. Brunner, W. Conze ¢ R. Kosslleck (eds), Gucisctcbe Grandhegift, Hidrirches Lexikon sur poltichsozialen Spracte in Deatsbland (Scattgart, 1972), 1, 244; F. Venturi, «Contsibuti ad un dizionatio storico: Was ist Aufiliang? Sepreexde, Rive tore iabana, 71 (1958), 112-143, 2 8 outros. Esses artigos podem ser entendidos como um compéndio de vtios significados os quais, no fim do século, viriam a ficar associados 40 termo alluminismos?. Para Mendelssohn, henbisnee era um few ieee — palavra-chave no pensamento do «llu- ‘minismon. Ao mesmo tempo, Mendelssohn estava bem certo de que © iilimitado desenvolvimento da erazio» em individuos podia bem entrechocarse com a sua atitude como sibditos e cidadios. A «Razioy quando levada demasiado longe com interrogagSes © redefinicoes| interminiveis, pode condusir 2 ordem politica, ellgiosa ¢ social 20, we caos ¢ deixar os homens entregues 20 egoismo intelectual. Nem esse | O70 era um problema levantado pelos tedricos. Alguns anos antes apenas, 20 ‘em 1780, o eminentemente pritico governante Frederico 0 Grande, da Prissia (1712-1786), determinou que a Academia de ( lim oferecesse um prémio 20 melhor estado relativo 3 pergunta <& conveniente enganar 0 povo? O facto de isso se transformar na competigio mais popular na histéria da Academia e gerar grande interesse piblico na Europa revela 0 reconhecimento generalizado, em finais do século xvm, de quio importante era o Aufélérang — suficien- temente importante para criar potenciais problemas graves 20s gover- ‘nos em busca de uma afinidade politica com 0 poder do conhecimento organizado na sociedade’. Foi também um reconhecimento da dificul- dade ¢ complexidade de uma qualquer resposta a esta questio. Estes temas foram igualmente abordados por Immanuel Kant na ‘sua colaborago com 0 Berlinische Monatsschrif’. Base carte amtigo é Provavelmente uma das tentativas mais citadas e menos bem com- preendidas para clatificar 0 significado de «lluminismo». Numa frase lx AN, Hinske (ed), War ist Aufeirang? Beige aus der Berntten Monctsrip, 22 ed. (Darmstac, 1977); E. Behr (ed), War it Auplinang? Theses und Deitoner (Gnamgart, 1974), Jean Mondot (ed), Immanuel Kant, n't que kt Lemire? Chote tects (1780-1790) (Pais, 1991). “ses enssios extio reeditados em W. Krauss (ed), Esti! at de tromper Pewpe? lit der Vellareg, sou Nutzen? Concours de la cae de pliloopbie spective de Adie des Sices of de Beles Ltrs de Beri pour Pamnie 1780 (Betlira, 1966), SEE Relee fad) Kath Dain! Widnes (Pomsicttnn 407M £4 0 \Y 9 muito citada, Kant chama ao «lluminismo» a dlibertagio do homem imaturidade propria em que incorre» pelo uso da sua propria razio, nao distorcida por preconceito e sem orientacio alheis. Sapere aude, ter 4 cotagem de saber: esta € a raz de ser do «lluminismos, escreve Kant logo no inicio do ensaio. Mas outras partes do ensaio de Kant, muito menos citadas, apresentam um quadro muito mais complexo do «luminismo», por exemplo, quando assinala: «O uso piiblico da raza pelo homem deve ser sempre livre €s6 isso pode trazer 0 ‘Tuminismo" 20 seio dos homens; 0 uso privado da razio poder ser muitas vezes fortemente limitado». Na esfera pablica, os sibditos de um governante {in o extrito dever de limitar a expressio individual intempestiva no probibilidade de desencadear o caos ¢ a inseguranga. Kant pée 0 mesmo problema, mas por palavras diferentes, como o fizera Mendelssohn. (Que acontece forma de pensar teri resyltado positivo? Kant faz prova de impacién- cia para com os seus contemporineos que olham o seu tempo como sendo de progresso sein fronteiras, apontando para o total aproveita- mento do potencial humano ou para atingir razoiveis equilibrios sociais € politicos. Tal como Mendelssohn, Kant considerou clara- mente que o Tuminismo era um processo ¢ nio um project com sade; «come alum projet chen de perigs de poblemas ec efor agara perguntado se vivo preseatemente nama era Tuminada, 2 resposta é Nao, mas vive-se certamente numa idade de Iluminismon. ‘Mendelssohn e Kant, todavia, 0 Ihuminismo nfo era uma palavra ficil de definir. E para ambos, luminismo parecia ser, ele mesmo, mais uma série de précessos e de problemas do que uma lista de projectos intelectuais susceptiveis de descricio répida e definitiva. Estas percepgGes serio incorporadas na organizagio de andlise neste livro. Em vez de se procurar uma definigio elaborada de Iluminismo, ‘Mesmo homem pensar sem limizes? Essa" dos descnvolvimentos em sociedade e governos a escala univer Almane Ane maie imnorrantes dectes nrnhlemas fram ié aflorados. em: isseneee tan wort: octets esrcesros Gerais Pains hae tous of Esta maneira de encarar o Huminismo como ete de debates que forsosamente adquiriram contornos e forma diferentes. em < textos nacionals e culturais proprios, € contudo relativamente nova, | ‘Em termos gerais e até hé cerca de vinte anos, os historiadores dessa época pensavam normalmente que 0 Iuminismo era um fenémeno relativamente uno na histéria das ideias, ideias estas geradas por um cinone estabelecido de grandes pensadores», como Chatles-Louis Montesquieu (1689-1755), Denis Diderot (1713-1784), ou Kant. Estes pensadores partilhavam as caracteristicas Sbvias de serem brancos, homens € originétios da Europa Ocidental. Reconhecendo embora grandes diferencas de opinido sobre os aspectos individuais entre os grandes pensadores, os historiadores ainda tendiam a ver as suas ideias, 25 ideias de 0 Iuminismo em andlises recentes, como relativamente homogéneas. Segundo esta interpretagio, Iluminismo era um desejo para que os assuntos dos homens fossem orientados pela racionalidade em vex de o serem pela fé, supersticlo ou revelacio; um acreditar no poder da razio humana para modificar a sociedade ¢ libertar 0 indi- viduo das restrigdes de costumes ou de autoridade arbitréria; e tudo iso assente numa visio universal propressivamene validada pel én- | cca em lugar de o ser pela religiio ou pela tradicio. Um ponto de ~ referéncia na anilise do Iuminismo foi Ernst Cassicer’s The Philosophy \ Of the Enkghteomens, que deficia 0 Taminismo como um periodo }* delineado pelas vidas de dois filésofos: Gottftied Wilhelm Leibnitz (1646-1716) ¢ Immanuel Kant (1724-1804). Nas palavras de Cassirer, © Iuminismo foi eum sistema de valores radicado na racionalidade», uma definigio antiga que deve ter exercido considerivel fascinio nos ~ anos notoriamente irracionais de 1930 na Europa. Esta linha de inter- pretagio do Iuminismo via-o como um movimento intelectual de ‘grandes pensadores da Europa ocidental que despertava pouco inte- ‘Tite & um problema que seri examinado com maior pormenor nos capiculos Tek "Timnst Cassicer, The Phibsmply of the Enlghiement Boston, 1964; pubicsdo iinalmente ex 1932). w a resse no seu contexto social ou politico, ou no impacto das ideias. Esse onto de vista foi desenvolvido e prosseguido por diferentes vias pelo hhistoriador americano Peter Gay na sua sintese de pensamento do Huminismo que comegou @ aparecer em 1966. Alguns titulos de volumes individuzis (The Rise of Modern paganism ¢ The Science of Freedom) indicam claramente as referencias de Gay na interpretagéo do Iluminismo. Tal como Cassirer, cle define o Iluminismo como uma uunidade’, ¢ define a sua cronologia com base nas vidas dos grandes pensadores. Para Gay, o primeiro perfodo ou egeragio» do Iuminismo foi o de Voltsire (1694-1778) ¢ de Montesquieu (1689-1755), seguido pelo segundo, o de Denis Diderot (1713-1784), d'Alembert (1714- -1780) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); 0 «lluminismo recente € © intervalo de tempo coberto pela geragio de Lessing ede Kant. Gay define o programa do Iluminismo como de hostilidade 4 religido ¢ de procura da diberdaden e «progresso» conseguido por um uso ctiterioso da razio para modificar as relagdes do homem com cle proprio ¢ com a sociedade. Realga uma visio do Tluminismo como ‘sendo virtualmente a de um programa de reforma liberal ¢ detém-se menos em escritores como Rousseau, cujos trabalhos rejcita adapta- rem-se faclmente aleste modelo, Foi esta interpretagio que permitiu a Gay alargar o seu rol de pensadores ao incluit os americanos ‘Thomas Jefferson (1743-1826) e Benjamim Franklin (1706-1790) ¢ ver | a Revolugio americana dos anos de 1770, com o seu lema de «Vida, Liberdade ea procura da Felicidades", como a completa concretizacio dos projectos do Tuminismo. A descricio de Gay representa assim 0 reconhecimento de que Iluminismo nfo era puramente um fenémeno ‘europen ocidental, apesar da énfase posta na parte restante do seu das hipéteses, € minimo ¢, do mesmo modo, tal como todos =) anteriores historiadores do Iuminismo, a lista de Gay dos pensadores "Peter Gay, The Rite of Moder Papen, vol. 1 © The Seer of Freda, vol tt (Nova Torque, 1966-1969). " eHlouve somente um Tuminismo» (, 3) "Do preimbulo 4 Dedanagio de Independénca Amecicana (4 de Julho de 1776. 2 a € exclusivamente de homens. Quaisquer referéncias as diversas reac- «es das mulheres as ideias do Tluminismo, com excepgio do debate sobre sexo propriamente dito, estio ausentes do seu relato", AA sintese de Gay, todavia, foi importante por reforsar a idela de © Tuminismo ser uma tarefa critica, comprometida com a actualidade, € mantendo diversidade na propria natureza unitéria. Essa sintese dominou os anos de 1960. Mas na década seguinte, certas linhas de analise, que apareciam apenas de forma atenuada na descrigio de Gay, surgiram gradualmente A frente nos trabalhos de outros historiadores. Depois da publicagio de The Enlightenment in America, de tormou:sc cada vez mais dificil aceit do Tuminismo ou como acontecera na Europa apenas. No resto das ‘Américas esta interpretagio fors antecipads com a publicasio da obra de A. Owen Aldrige sobre 0 uminismo nas col6nias espanholas das Américas", Aldrige salientava que opiniées como as de Gay nio * ofereciam qualquer aberrura 20 mundo intelectual das sociedades colonizis influenciadas por ideias europeias embora rodeadas 20 ‘mesmo tempo por cultiras indigenas muito diferentes. Outros histo- siadores, como Bernard Plongeron, repudiaram gradualmente a idcia de que o Tuminismo tivesse sido um movimento de «paganismo (3° modemo» ao sublinhar a relagio complexa, muitas vezes nada nostl, centre a Igreja ¢ o Iuminismo™. A partir de 1970 ¢ a pouco € pouco, a area geogrifica de 0 Tluminismo tem vindo a dilatar-se. Em parti- cular, 0 historiador italiano Venturi definiu Iuminismo como uma forga da assim chamada eperiferia» da Europa: Itilia, Grécia, Balcis, Polénis, Hungria e Rissia™ A obra de Ventuti dava grande atengio A ligagio entre as ideias do Tluminismo, & sua difusio pelos Sioa eens ene as ea 2H a iy To agin BA Gus ep DA, Oven sdige (hy, Ts er torins Eng (Ua 1,97] Sn nag ae ea ee ee eisai, 1701850, Rone dian meno eps 16 (99, 55506, a This ot patigue ox sce des baniéme 1770-1820 (Gencbs, 1973. a Figo 1 © fronisplco da. Engepiie mostra a Razio a retro wis & Verdade, "Franco Venti, The End ofthe Ol Regine in Exrpe 1768-1776: The Fint Cite, cnguanto as mavens se afastam para oferecer 0 Céa 8 Luz. sta iuminara exprime (Princeton, 1989). Tadusido por R. Bre Ltclicl, a partic de Seto rfrmatore S 2 jornais, prospectos, cartas € livros, ¢ 20s acontecimentos que ocorre- tam na ésfera politica. Tio-pouco via 0 Iluminismo como um movi- mento intelectual auténomo ou confinado & Europa ocidental. Franco ‘Venturi argumentava que era precisamente nas «franjas» da Europa ‘que as pressdes ¢ as tensdes no interior das ideias do Iluminismo poderiam ser melhor analisadas", Venturi foi também um dos prime +08 historiadores a sugerir uma Cronologia para o Iuminismo no relacionada com os tempos de vida dos grandes pensadores mas sim com 0s indices econémicos e demogrificos. Apesar da variagio regio~ nal e nacional, escreve Venturi: apesar de tudo, dificilmente se deixari de reconhecer um ritmo comum a todas as diferengas locais.. é claro que toda a socie- dade, ¢ nio apenas o movimento de ideias e de politicas, esté em expansio no comego do século, sofre uma crise nos anos 30, atinge © seu méximo nos anos 50 ¢ 60, enquanto os dltimos vinte e cinco anos do século assistem 2 um periodo de profunda perturbacio. E a curva do século xvi ¢ também a do Ilumi- Pelos anos de 1970 cra decerto evidente que os historiadores se ‘mostravam muito mais interessados pela base social do uminismo, pelo probli ebm ‘de como ecam difandidas a dial a2 dene wioadae aT S, ubllizadas © acolhi- cas pela ade. A ordem do dia jé nio era a valorizagio do Saba de cme aS grandes escritores quanto as ori- gens ou coeréncia interna; mas estava muito mais preocupada em ver come as ideias eram socialmente ysadas. Houve simultaneamente um reconhecimento muito amplo da necessidade de dar a conhecer melhor, no os grandes esctitores mas sim os autores algo esquecidos, ccujos trabalhos tinham estado muitas vezes bastante mais acessiveis no a8 tentador observar que 0 luminismo nasceu ¢ se omganizou nos lugares cin o cama wen cel ess ns cece SS eens Tj og, "tren Uni 8 2s século Xvi. O historiador americano Robert Darnton, por exemplo, conduziu inquéritos sobre os movimentos socials, como o Mesme- ismo no Iluminismo, movimentos conspicuamente deficientes em cqacionalidade» mas profundamente influentes na sociedade de entio"*. Darton chegou a referir que a maior parte dos livros do uminismo no tinham sido escritos por grandes inteligéncias mas antes por escritores profissionais agora esquecidos, que escreviam para um novo mercado comercial produtos culturais, os quais, sem esperar pela ins- piracdo ou aceitar 0 papel de distinto educador piiblico, escreveram num estilo simples com vista a angatiar 0 suficiente para comet”. Darnton passou entio a investigar as condigdes econémicas ¢ comet- isis que tomaram possivel o sucesso de aventuras editoriais que estiveram por detris de algumas das «grandes obras» do Iuminismo — como a Engulapédie de Diderot ¢ d’Alembert™. Foi uma evolucip ‘natural procurar averiguar, a partir destes pontos de vista sobre o ‘Tluminismo, o impacto destas ideias nio 36, em pontospeogaBcamn: te distantes mas também nas classes socisis muito afastadas da instruida, Recentemente, Bob Darnton ¢ o historiador francés Told jer dedicaram estudos a0 a¢olhimento ¢ penetragio do Tumi- rnismo em grupos socidis tio diversos como os dos camponeses ¢ dos aprendizes de tipéprafo#. Darnton intzoduziu neste trabalho uma outra inovasio metodolégica fazendo uso explicito de modelos antro- poligicos retirados das sociedades no-europeias para avaliar as ideias © 08 sistemas de valores do Iuminismo. Darnton alega que 2 antro- pologia fornece ao historiador euma concepgio coerente da cultura», °* Rober Darnton, Mamet and le End of Exkgenmen in Frome (Cambsige, MA, 1968. * Robert Darton, The Liter Under of the OU Regine (Cambridge, MA, 1982. Robert Darnton, The Basiner of Enlightenment. A Publsbing Hlitory of the Engclplde 17754880 (Carbtidge, MA, 197). * Robert Darnton, The Great Cat Masta end Other Eide in Fant Calis! Hisery (Nova Torque, 1984); comentada por Roger Chari em Cala! itor: Beton Pras end Repenattons (tea, Nova Torgu, 1988) * Robert Darnton, datlecual and cultural Histor, em Michael Kammen (eA), The Pest Bre Us; Cntemperory Floral Wing in tbe United Stats (hac, ‘Nova Torque, 1980), 347. cost 26 Embora houvesse forte debate acerca do valor ¢ da adequagio desses modelos, 0 seu uso comprovou de verdade existir uma nova determi- nacio por parte dos historiadores para fazer novas tas sobre 0 Iluminismo, enquadrando-o em novos contextos comparativos. “Tio grande mudanca desde os tempos de Cassier significou que agora nés enfrentamos, mais do que nunca, uma multiplicidade de vias para_o estudo do Iuminismo. H4 presentemente pouca concordatitia ‘quer quanto as fronteiras cronolégicas, quer quanto 20s limites sociais ‘ou geogrificos, no considerando alguma intengio concreta de definic «© Tluminismo em termos de um programa intelectual coerente. Estes problemas de definigio aumentaram com a vontade dos historiadores de por ha diviséria que costut ‘estudo do Tuminismo ¢ 0 da Revolucao 3a®. Presentemente, & cada vez mais valgar ver uma cor Tongo de todo 0 século XVIII em vez de oposigio dristica 20 «lluminismo», definido como ‘uma razio de progresso ¢ racionalidade, 4 «Revoluion, caracterizada por explosdes de fases conspicuas de irracionalidade ¢ violéncia. Por conseguinte, é o Iluminismo, tanto quanto a Revolugio Francesa, que é visto como arauto do dealbar de um inegivel mundo moderno. E por isso, no foram s6 os historiadores a dedicar 0 seu tempo 2 interpretagio do Iuminismo. Fl6sofos e analistas politicos também 6 reinterpretaram na esperanga de defini o significado e 0 futuro do ‘mundo moderno. O Tuminismo é provavelmente tinico entre todos os movimentos histéricos, quer por atrair todo este interesse, quer pelo rau de influéncia dessas interpretagdes filos6ficas no pensamento dos historiadores profissionais. De entre as muites interpretagSes pés-1945 do Tluminismo, neste interface com a Filosofia, a Histéria ¢ a eritica '_{ politica, duas em particular sobressaem. Primeiro, cm 1947, Theodor ‘Adomo ¢ Max Horkheimer publicaram o seu Diabetic of Enlighten- ‘ment, Ao escreverem sobre 2s consequéncias imediatas da guerra ie entre 0 =P, ex, K. M. Baker, Imig the French Revolution: Esseys on Franch Political Cadre in te Eightenth Contry (Cambridge, 1990), especialmente os expitlos © ™ Diabkik der Aufelinag (Amsterdam, 1947), tadusido para inglés sob 0 titlo. Dice of Eankghienment (Nova Torque, 1972); todas as referéncias slo desta a mundial e do Holocausto, os autores preocuparam-se em perguntar «por que razi0 a humanidade, em vez de entrar numa condicio verdadeiramente humana, esti a afundar-se numa nova espécie de barbaries®. Isso aconteceu, do seu ponto de vista, devido a um para- doxo que reside no émago do pensamento do Iuminismo: © Tuminismo sempre visou libertar os homens do medoe = assegurar a sua independéncia. Contudo, a Terra plenamente civilizada irradia 0 desastre triunfante. O programa do Ilumi- nismo era 0 desencantamento do mundo: a dissociagio de mitos a substituigio do imaginatio pelo conhecimento™. © Homem ganhou supremacia sobre a Natureza ¢ a seguir sobre outros seres humanos, controlando-os «racionalmente» ¢ tecnologica- mente, 0 que levou recusa em ver a Natureza como a sede de poderes misteriosos e de forcas que os homens no podiam explicar. ‘A Tecnologia... np funciona com conceitos e imagens, ou por afortunada perspicacia, mas refere-se a método, & exploragio do trabalho e do capital de terceiros. © que os homens querem aprender com a Natureza € como usé-la, a fim de dominé-la completamente bem como a outros homens... No caminho para 2 ciéncia moderna, os homens renunciam a qualquer exigéncia de explicagio. (© Tuminismo, deste ponto de vista, é definitivamente totalitério no (* sentido em que abandona a questio da finalidade e procura simples- mente exercet 0 poder sobre a Natureza sobre o mundo™, Estas!” pperspectivas relacionam as leituras do Iuminismo de Horkheimer ¢ ‘Adomo com as ideias que sfo agora Iugir-comum no pensamento ambiental. ® Dialetc, poh * Idem, p 3. P idem, pp. 35. “Todavia, segundo estas, o cemne do problems reside na confianga do Tluminismo na «acionalidades: ov seja, que todo 0 ser humano possui a capacidade, logo que libertos da superstigio, da mitologia e do medo, ‘para encontrar solucdes para os problemas objectvamente correctos ¢ aceitéveis por todos 0s espititos «racionais». O problema na pratica, ‘al como realga a Dialect, & que os seres humanos no concordam, de facto, com que é «acionaly. Dado que o Iluminismo nega a validez de outras formas para chegar a solugdes como a tradigio, a mitologia, ou a revelaso religioss, é dificil resolver estes conflitos sem 0 uso da forga. Por outras palavras, esco! io jinismo esti terror politico. A Dialectic nfo foi dificil defender este ponto ¢ alegar ‘que o Tluminismo parece nio ter deixado qualquer legado que pudesse ser usado para tesistir 20 uso do terror politico e is mortes macigas do Holocausto, tecnologicamente garantidas pelo homem, mas até podia ter estado no verdadeiro centro e origem desses mesmos hor- ores. Horkheimer ¢ Adomo estabeleceram mais dois pontos importantes acerea do Tuminismo. Na sua mancira de ver ¢ em primeico lugar, 0 Projecto do Iuminismo de «desencantamento do mundo» tomou dificil, mesmo quando se conseguia uma conformidade aparente com 1 religiio, centrar as aspiragSes de harmonia ¢ realizacio nas «regides do Além», mas «transferia-as como critérios para a aspiragio humana. Isto permitiu aquilo que a Dialectic baptizou de forma famosa como «a vida dirigidan, uma organizacio racional dos homens, da Natureza ¢ do préprio conhecimento, com a finalidade de atingir 08 objectivos deste mundo; aquela espécie de filosofia que tora possivel a ideia de «gestior. Foi isto 0 que a Dialeic viu como contribuindo nio s6 para o carécter especifico de vida de todos os dias no século xx no Ocidente, mas também para os horrores dos campos de concentragio, onde o tratamento dos seres humanos, como meros objectos para serem aditigidos» ¢ destrufdos por um sistema tecnolé- gico «acionaby, atingiu a expressio mais completa. ‘A segunda ideia importante que a Dialeic trouxe para o estudo do Iuminismo foi que a visio do Iuminismo de «racionalidade» tinha 0 * Idem, p87. » feito de tomar o conhecimento numa mercadoria como qualquer outra ¢ por consequéncia, destruir uma area onde 0 conhecimento € a verdade, ea sabedorian, estavam ligados entre si. O,conhecimento € 1 ca ficaram por iso também deslgados um do outro, Horckheimer fe Adorno argumentam que o conhecimento, se visto como uma mercadoria para ser comprada e vendida, se transformou num simples meio para alcangar um fim e a «cultura tomou-se completamente numa mercadoria disseminada como informagio sem impregnar os individuos que 2 adquirianw, Estes comentirios confirmam mais tuma vex muito do que foi dito acerca do impacto da «revolugio da informacion causada pela computorizacio, pela transmissio instanti- nea de informacio € pelos novos processos de concepsio. O argu- mento de Horkheimer e Adomo de que 0 conhecimento deixara de ser interiorizado pelos individuos ¢ se divorciara dos valores da vgr- dade, ¢ portanto das questdes da ética, seré importante para a andlise, neste livro, do lugar, num mercado em crescimento, do conhecimento no Iluminismo e do impacto desse mercado nas ideias, ou da naturgza ¢ impacto dessas proprias ideias. A visio do Huminismo expresso por ‘Horkheimer ¢ Adorné foi assim profundamente negativa, com muitas Gonsoninclas com 3s da &poca acerca da exploracio do “ambiente pelo homem, aos efeitos da «evolugio da informacion ¢ & provitve dificuldade de exradi cultura politica 0 ‘Uma outra importante interpretacio do Iluminismo, todavia, é bem mais positiva. O flésofo e analista politico alemio, Jiirgen Habermas, € uma geragio mais novo do que os autores da Dialectic, que 6s seus proprios mentores. Tal como eles, desenvolveu os seus pontos de vista 20 arrepio do cenério das preocupagies de enti. Nos anos de 1970 e 1980, a vida politica alema evidenciou um desvio bvio para a direita. Esse desvio foi acompanhado de novas atitudes em relagio 20 pasado alemfo. Os acontecimentos de 1930 ¢ 1940 foram recen: temente analisados por historiadores simpatizantes da diteita € * Idem, p. 197, Alistair Maclaryre, Afr Virsa, 2* ed. (Londres, 1985) 51-62 angumenta que, por mazes similares, © Tluminismo foi inapar de assegurar uma base segura pars a érca das geragSes furars, 2 » detendo frequentemente posigdes influentes nos aparelhos federal ¢ estatal ¢ nos centros de decisio politica Habermas procurou contratiar estas tendéncias reanalisando 0 Proprio Huminismo, Na sua obra Structera! Transformation of the Pubic Sphere (1962), utilizou muites das perspectivas anteriores de Horkheimer ¢ Adorno sobre 0 consumo de cultura no Iuminismo, ‘mas sem que daf extrafsse as conclusdes negativas de 1947. Segundo ele, outsas potencialidades do Tuminismo fizeram com que valesse 2 [pena prosseguic com os seus ideais, utlizados como correctores da ala direita. Habermas baseou 2 sua visio do Iluminismo no famoso ensaio de Kant com 0 qual iniciémos este capitulo, Habermas enfatizou 2 percepgio pessoal de Kant segundo a qual o Tuminismo, longe de representar uma época fechada e ultrapassada, precisava ainda de ser ‘Argamentava que o Luminismo possula a capacidade de emancipat o' individuos de particularismos restritivos com vista a permitir que agissem, no como «alemies» couragados contra 0 resto do mundo face ao seu passado e 4 adesio a uma posigio acional e cultural caracteristica, mas antes como «seres humanos» ligados a outros humanos por uma procura comum de valores univer- sais tais como liberdade, justica e objectividade. Assim, accitou nio apenas 0s seus criticos contemporineos mas ainda os pensadores alemiies, como foi o caso de Johann Herder (1744-1803) que tinha desacreditado, mesmo no século xvi, as tentativas do Iluminismo para ultrapassar sentimentos de superioridade devidos a identidade nacional, baseados na ra¢a, religiio, idioma ou ligaséo a0 lugar de nnascimento. Habermas argumentou também que o Iuminismo assistiu a criago de um «dominio piblico» para o debate ¢ transformagio de opinies, ou seja, aquilo que hoje designasiamos de wopinizo publican. Segundo a perspectiva de Habermas, tal foi criado pela classe média que orga- 3), Habermas, The Structure! Trafrmaton of the Public Sphere: An Exgticy into 4 Category of Boargeais Society (Cambcidge, MA, 1989), trad. por T. Burger de Strukteroandd der Sfenkebait (Darmstadt, 1962). G. Eley, «Nazism, Politics and the Image of the Past: Thoughes on the West German Hisoitezte, Patt and Preset, 121 (19881. 171-208 3 nizou e utilizou 0 fluxo de material cultural e 2s estruturas sociais regionais que determinaram a transmissio de ideias. Em vez de inter- preti-lo, como o tinham feito Horkheimer € Adorno, como 0 inicio de uma cindiistria de cultura» que provocaria 0 divércio da «verdade» sclativamente & «informacion, ¢ reduzicia mesmo a natureza do conhe- cimento a uma procura puramente instrumental de controlo, Haber- mas, pelo contritio, viu a criagio do «dominio pibblico» como um meio de libertagio. Para ele, significou que 2 wopiniZo piblica» podia surgi ¢ comegar 2 exercer influéncia sobre a forga tradicional privi- legiada. O «dominio piblicon de Habermas era um espago onde os ‘omens podiam escapar as suas tarefas como siibditos ¢ ganhar auto- noma no exercicio ¢ permuta das suas proprias opinides e ideias. Ao reinterpretar 2 cultura do Tuminismo, Habermas estava também a demonstrar a possibilidade da andlise histérica incluir um significado moral no presente, Inesperadamente, este trabalho convergiu com o do grande | francés Michel Foucault que ‘se envolveu com Habermas no debate sobre © significado do Iuminismo. Tal como Habermas, também Foucault entendeu o ensaio de Kant como uma definicio crucial de Tluminismo. Abandonando posicées anteriores 20 aperceber-se de uma grande lacuna entre 0 Iluminismo € 0 pensamento moderno, Foucault adoptou o ponto de vista de Kant de q terminado e usou o estudo de Rant come Foi jé dito 0 suficiente para mostrat a grande amplitude de variagio quanto 4s manciras de interpretar o Huminismo. Nao é habitual definir © Tluminismo como um movimento de pensamento em vez da era de * Michael Foucault, What is Ealightenment’> em Paul Rabinow (ed), The owes Read, (Nova Torque, 1984), 45-56. A respotta de Hibermas € «Mit dem Pfeil ins Here der Gegenwart: Zu Foucauls Vorlesung aber Kant Was ist ‘Aufidicung>s, em J. Habermas, Diz neue Uniberichtichlct: bine poten Schrier V Grankfur-am-Main, 1985), 126-131; tumbém em D. C. Hoy (ed), Foxants ‘A Gated Reader (Oxford, 1986), 105-119, como «Taking aim at the Heart of the 2 ‘uma dinasta especial ou de um «grande homem». Também é invulgar verse até que ponto 0 seu estudo histérico foi influenciado pelas andlises baseadas no inquérito filoséfico, Habermas, Horkheimer e Adorno, para nio mencionar Kant e Hegel, nfo 6 enformaram as ideias sobre as estruturas bésicas do epensamento do Iuminismo», como também escreveram na convicglo de que o Huminismo no uum periodo histérico «fechado» mas sim um periodo que, para o bem om para o mal, esti ainda a influenciar o tempo presente; tal como Kant teria concordado, ele est ainda incompleto. Escritos recentes de historiadores profissionais sobre o Huminismo abriram novas éreas de inquérito, em especial na histéria social das ideias, em lugar de se ‘manterem concentrados no trabalho de um cénone-padrio de «grandes Pensadoress, Nem «o» Iluminismo é ja 0 usititio, Nao sé porque agora estamos conhecedores das significativas difecengas nacionais, regionais ¢ confessionais quanto a experiéncia do Tluminismo, mas também porque somos conhecedores dos diferentes , Aik : | puladione :

You might also like