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VITORIO, Jaldemir, As Leis ctilticas do Deuteronémio. “Escuta, Israel”. Sao Paulo: Paulinas, , Johan; SILVANO, Zuleica Aparecida. 2020, p. 109-142. In KONINGS, CapituLo 5 ‘AS LEIS CULTICAS DO DEUTERONOMIO alter Vtoio® © conjunto de leis do Deuterondmio (Dt 12-26) abarca trés dimens6es essenciais da vida humana ~ cul- tual, politica, social -, colocando as balizas para 0 cor reto modo de proceder que, por um lado, corresponda a0 querer divino e, por outro, colabore na construgio dda sociedade querida por Deus, para seu povo. O texto biblico coloca-as na boca de Moisés, que as transmite “no outro lado do Jordao, na terra de Moab” (1,5), como festatutos ¢ normas que cuidareis de por em pratica na terra cuja posse YHWH, Deus de teus pais, te dard, du- rante todos os dias em que viverdes sobre a terra” (12,1) Todavia, nao se trata de leis caidas do cu, mas, sim, de modos de proceder, comprovados na pritica co- tidiana do povo. A atribuicao a Deus, que as comunica por intermédio de Moisés, correspone a um recurso literério-teol6gico para dar autoridade ao que resulion do esforgo humano na busea de sabedoria, a fim de > Jaden Viti, presi jst, € mente om Cnc ‘Ronin iblon de Ramae oostor em el tes ol Fauld Stade Fst log FASE-em Belo Horizonte. 109 cstabeecer rela ratemas mas quis a digi de todos se respetad, Ao se revlrem ts par oes tar a boa convivéncia comunitiria, recebem a chancela tolgca qu as colacs nu patamer superior gu da sbedorn humana conus ae spent eomia ‘sem presupono pera viva e 2 merpensie dese upanado de Ibs, Taner em eompenio 6e eis ies 2 serem inposas, tree edad humana, signtcadetcaratria las 0 dosaa conte em repensias sob nova perspctiva, em vit de dr ttansendncia 0 ar human, Quando algun yaa pels alas da Let de Devs opt por urn saber & ala giads,gu fsa nde 9 cola no bom camino de ateng © vided com wie a ng © cided com No Deueronimio,o cto deve se orentar por sormss bem estab, cbora no bse ee $= const em 128, nde sed “no process com forme procedemeos age Hof cada ue vendo ae lie parece bom" Acard na terra representa sn tempo novo, 0 gual a lage deat com seu Doss em todas a vette, se guiriam por diteries chron, cnt las a verte te ‘As Les Cites do Deuerondnio pede sua iene ci fave ees conn mar on rlgiosos ou de norma itn a seem rigs cbedecda. Mais inprtate que ester ly 2 preocupeciospincl econ nas etelinhas da Lt Aeutcronomice Em in ailie, vm telogt so xi do ia ea ein Je at aaa miserictia (sed do ito np, Geigy ed sida ney pve de una soca josta e fraterna. O eulto prestado a Deus 86 tem sentido se for respaldadlo por essa atitude baisica. Mesmo quando no explicitado, cada Lei Ciltica serve para inspirar uma sabedoria de vida, em tudo aderente aos anseios de Deus para seu povo e para toda a humanidade. A.CENTRALIZACAO DO CULTO EM JERUSALEM ‘A insiséncia na centralizagio do culto perpassa a legislagéo ciltica deuterondmiea. Com ela se abre a Lei Jeuteronémica, ao longo da gual, mais de vinte veres, ‘cortem afirmagées a respeito do lugar (mgd) onde 0 istaelita deveriaprestar culto a seu Deus, conforme a ondem dada: “Buscareis YHWH vosso Deus somente no lugar que houver escolhido, entre todas as vosas tribos, para ai colocar 0 seu nome e af fazé-o habitat” (12,5) Ou, entio: “Secrifcards para YHWHL teu Deus uma Péseoa, ovelhas ¢ bois, no lugar que YHWH ten Deus hhouverescothido para af fazer habitar 0 eu nome” (15,6). ‘Alguns elementos chamam a atengio no amplo conjunto das oeorséacias do vocdbulo “lugar”: 4) A religido de Israel depende inteiramente do seu Deus. Evita-se, assim, sua manipalagio pela li- deranca religiosa e politica, pois é recorrente a tentagio de querer aprisionar a divindade em es- _quemas humanos, como acontece com os legalis- tas, que atribuem a Deus as préprias invencioni ces, Jesus chamava de “mandamentos humanos’ as falsas doutrinas propagadas pelos escribas & fariscus de seu tempo (Me 7,7). Ao escolher 0 ugar onde deseja ser cultuado, Deus impede que se estubelegam santusrios ou espagos de culto a0 ut bel-prazer de seus adoradores. Contudo, a liber- dade divina pode ser manipulada pelos gover- rnantes que aproveitariam a unicidade do lugar do culto para colocar a religid do. No caso de Israel, pode-se pensar que “a centralizagio implica a concentragio do poder teligioso e politico na capital, Jerusalém, motivo Por que era necessério unificar 0 culto do deus ‘nacional YHWH".! Os deuteronomistas, atentos 4 essa possibilidade, impuseram limites aos reis dl Israel para submeté-los aos imperativos da re- ligidéo (Dt 17,18-20), b)_O “ugar” foi idemtficado com o templo de Jeru- salém, local preciso de encontro com a divinda- de, Entretanto, pode-se redimensionar 0 templo de modo que inclua Jerusalém, a Cidade Santa, constraida Sobre a montanha de Siio, para onde ‘as nagées caminharao em busca da luz.’ Com- reender “lugar” como abrangendo Jerusalém, no se restringindo a estrutura fisica do templo, reveste-se de sentido especial. O espago para encontrar Deus nio se limitaria a quatro pare- des. Seria um espaco mais aberto ¢ abrangente. Assim, © eotidiano da vida precederia 0 culto © a liturgia. O altar ocuparia 0 segundo lugar, en- quanto a mesa da refeiedo em familia se revesti- ria de sacralidade, Por consequéncia, 0 papel do sacerdote tornar-se-ia menos importante do que alideranga doméstica. ROMER, La promi ia dol. [CARRIERE, 0 odo Denn, 8 ©) No Templo, “habita” (Shaikan) 0 “Nome” (Shem) de Deus. Trata-se da teologia da presenga de Deus, na qual “a nocao materialista de habitagao real da divindade no santuério foi superada”? ‘Essa maneira de falar conserva a transcendéncia divina, ao mesmo tempo que vence a tentagao de materializar Deus ¢ transformé-lo em idolo, representando-o por meio de imagem. Quem adentra o Templo tem consciéneia de que ali “ha bita 0 Nome”, impossivel de ser identificado com ‘uma obra humana, pois “YHWH deixa habitar apenas seu Nome no lugar escolhido, enquanto cle mesmo reside no eéu”* O encontra do adora dor com a divindade, entio, se dino mais intima. do adorador e the toca as entranhas. Eventuai representacdes materiais da divindade poderiam levar o adorador a permanecer na superficie da experigncia religiosa e impedi-lo de mergulhas, profundamente, no mistério, 4) A presenca do “Nome” no Templo convida 0 adorador a viver na presenea de Deus, consciente ‘de que todas as suas acdes acontecem em face da divindade. Essa experincia religiosa sublinha a ‘condigéo dialogal do ser humano, situado diante do Nome, com quem est em continuo dislogo, no esforeo de conhecer 0 designio divino para si, para cada ser humano e para a sociedade, com © propésito de torni-lo regra de acdo. A experi éncia de estar “na presenga de” Deus, no lugar OHRER, G. Hine del de lS Ps Pas, 9.370 ROMER. T.L toeran de Du Pare Sel, 204 p27 M3: escolhido por ele, quando feita com sinceridade ¢ profuncdidade, abarca a vida toda da pessoa de fe, ‘ponto de transformar sua existéncia numa con, } {nua adoragéo, em qualquer tempo ou espaco, { ©) O adorador se vé motivado @ buscar (dara) Deus, caminhando rumo & morada santa, pois i {bia divindade que escolheu um lugar para, nele, fazer habitar o seu Nome. E se torna um peregy xno de Deus! Buscar supée movimento, desinsta lagi, colocar-se metas. A religido assim pensa- «la transforma-se em romaria ininterrupta rumo A divindade, uma auténtica mistagogia, em que 0 ser humano esté sempre a caminho do Mistério, Essa experincia, com seus passos ~ preparacio, i Viagem, permanéncia no “lugar”, retorno para casa’ ocupava um tempo consideravel na vida do adorador, mantendo-o centrado em YHWH, i ‘quem se dispunha busear. 4) 0 “lugar” torna-se ponto de convergéncia re- ligiosa. Para 1é se diigem as earavanas de r0- Ieiros em busca de Deus, para the oferever os dizimos (26,2) ¢ as ofertas espontineas, bem como os holocaustos (16,2), mas também para resolver as pendéncias juridicas, no soluc nadas pelos tribunais porta da cidade (178). A centralidade religiosa ¢ teolégica desdabra- -se na busca de um modo de proceder (ética) conforme querer divino. Que adianta o Nome i penn trainee 14 estar no lugar escolhido e poder ser encontrado, se 08 israetitas cutivam um projeto de vida con- trario ao querer divino? A habitagéo do Nome torna-se um apelo ético para quem tem os olhos fixos nela, As decisbes juridicas, tomadas sob o olhar de Deus, revestiam-se de sacralidade cat tica. Dat a exigéneia de agir “em conformidade com a palavra que eles [os sacerdotes levitas] te anunciarem deste lugar que YHWH houver escolhido”, “sob penta de morte” (17,10.12)'. O “ta” do Templo (culto) deve se coligar com © “aqui” (€tica) da realidade de cada fie (© “lugar” convida para a festa, a alegria e a con- fraternizagio na presenga do Nome. Esse tema aparece, com frequéncia, na legislagio eiitica deuterondmica (12,712.18; 14,26; 16,114.15; 24,5; 26,11). Quando os aoradores esto na pre- senga do Nome s6 tém motivos para se regoziar, pondo de lado a tristeza, O Nome eria um clima de postividade e de otimismo. Os peregrinos po- ‘dem voltar para casa revigorados em suas ener- sas religiosas, bem como as psiquicas. afetivas, motivados a viver com mais qualidade, pois, de certo modo, continuam na presenga do Nome, ‘onde quer que estejam, numa perfeita simbiose entre 0 “lugar” escolhido por Deus e 0 “lugar” ‘onde cada um habita, embora distante, As “re feigoes comunitarias, festivas e alegres diante de 116 “YHWH, soa realizacao real simbslica da fra- temidadefirmandade de todo 0 pov de Israel”? As rofeigbes comunitirias diante de YHWH e 4 alegria dos israclitas na oferenda dos saeri cios transformam essas agies litirgicas em festa, Aligs, festa sem alegria néo € festa! Esta alegria na oferenda dos sacrificios ¢ na eelebragio das ‘estas, no entanto, 96 € completa quando todos (s israelitas participam das refeigées comunita- ras diante de Javé. Assim néo ha mais empobre- ciddos ¢ excluidos, marginalizados e oprimidos na soviedade israclita" 1) © maqom divino exige ser pensado de mancira aberta inclusva, de modo a evitar que sefa apro- priado por um grupinho, como aconteceu com 0 templo de Jerusalém, que foi seccionado (trio dos gentios, étrio das mulheres, strio de Israel re- servado aos homens, dtrio dos sacerdotes}, a pon- to de estabelecer quem estava mais préximo ou mais dstante de Deus, Podia acontecer de quem mais necessitava de estar préximo do Nome ver- -s¢ impossibilitado de se aprox importineia de considerar 0 mi horizontes, capazes de abatear todos 0 flhos e fithas de Deus, sem excecio, com especial aten- «io para os exclnidos e marginalizados? ‘Aletta enre elites st Destro” osm eet por KRAMER Ongena de Deutroninan pa ; t | i A teologia do lugar na Lei Deuteronémica (Dt 12-26) dé um passo a frente em relagio a Lei da Aliana (Ex 20,22-23,19)." Aqui se diz: “em todo lugar onde eu fizer celebrar a meméria do meu Nome, virei a tie te abencoarei” (Ex 20,24). Assim, fica em aherto a determinagio do local onde 0 Deus de Ts- rael set buscado, que poder ser mais que um, sem privilégio para o templo de Jerusalém. A passagem da pluralidade & unidade do local de culto pode le~ vantar a suspeita de ser uma estratégia para se impor © controle religioso ¢ politico das atividades ciilticas disseminadas em Israel. ‘A Lei Deuteronémica pode ter justificado a reforma religiosa promovida pelo rei Josias, no século VI aC, Dele se diz ter feito um expurgo da idolatria instalada no templo de Jerusalém 2Rs 234-14); destruido e pro- fanado 0 santuério de Betel, santuério real do Reino do Norte (IRs 12,26-33; 2Rs 23,15-18); “fez desaparecer também todos os templos dos Ingares altos que estavam nas cidades da Samaria [..] € procedeu com eles exata- mente como tinha agido com Betel” 2Rs 23,19), Assim, ‘0 templo de Jerusalém tornou-se, efetivamente, o lugar ‘exclusiva para se prestar culto a0 Deus de Israel, (0 SACERDOCIO LEVETICO ESUA FUNCAO CULTICA A evocagio das Leis Cilticas © do lugar escalhido por Deus abre espago para se pensar nos ofciantes do culo, as liderancas das atividades caltuais, como seria "ara Crean“ Ci Deaton a0 € una conements, es ‘ana suite So Cg da Alana” (CRUSEMANN, dp. 280) uy © caso dos sacerdotes levitas." Sao os que “YHWH teu, Deus escolheu dentre todas as tuas tribos, ele [Levi] & seus filhos, para estar diante de YHWH teu Deus, rea- lizando 0 servico divino e dando a béngio em nome de YHWH, todos os dias” (18,5).” Mais adiante se alude ao caso de vir “um levita de alguma das tuas cidades, onde quer que ele more em todo Tsrael, € com todo 0 desejo do coracao vier para o lugar que YHWH hou- ver escolhido, ¢ oficiar em nome de YHWH seu Deus, como todos 05 seus irmiios levitas que permanecem li na presenga de YHWH"” (18,6-7). Pereebe-se, aqui, a existéncia de dois tipos de sacerdotes levitas, como se hhonvesse um grupo que vive no “lugar” escolhido por YHWH ¢ outro que vem de fora.” rosa pr erp a de sf scence Le ‘com agua 0 Cpe Destro ae oe ais osanos Sic gh selene certs conrum pus rma {fe gecrinas sq proven poe ena a ‘equ desempeunodo mn pet detroit a a oat Deseo to presi sped nove qo Cage Deueoninico ‘ete senate gs” (GRUNWALD, K Oho an doe ‘de? © Does wo Aang sane, Sto Pals: Layo 209 p38) Nowe {ee seri corto earn ego eu. pesos comune sind, in dan pat eons 2 1215, danse qu “foram oles gue YHWH te Deus soe par su ‘cig «para gt aengoem em sane de VHWH, cede abs °Oxleviaevndo dng, pre fi tm de en, pm er ‘users dosnt qu oer ep cain dorm Feiom GR 235 2. "Segnso 0 Dts o memos da to oe Ler ‘Sho ibe par. racerdin =e ose expres cede a (21.5 248310; sbsendo De 19918)” soa ees poder exc Sse Funes esd omen eran 67} onde em er. 15} Sendo alae mito meees pra een todo empress no ‘aaluii mules ocean eosin tmeieco estangte aac ‘tuto so esomendadn bearded dota (Dt abet tn (edema asta DUIS) 118 Contudo, ndo se encontram no Deuterondmio mui- tas fungdes cultuais especificas, reservadas para a classe sacerdotal. Antes, tem-se a impressio de que as aces cultuais prescindem da presenca dos sacerdotes levitas. [Na compreenséo das Leis Citlticas, “deve ser levada em ‘conta uma ampla perda de poder do rei, dos funcions- rios, dos sacerdotes e de toda a classe alta tradicional, ‘opetada pelo Deuteronémio”.* (Os sacerdotes levitas nfo tinham parte nem heranga fem Israel, na tradicio deuteronémica, dai dependerem para sua sobrevivéncia do que era oferecido a YHWH € do seu patrimdnio, ou seja, do que cada um possuia (18,1) Seu direito as oferendas etlticas esté delimitado em Dt 18,35, Eles exereiam fungbes nio cilticas, como no caso do “tribunal de segunda instancia”, instalado em Jeru- salém para a eventualidade de haver “uma causa que te parega demasiado dificil, causas duvidosas de homicidio, de pleito, de lesGes mortais, ou causas controvertidas em ‘ua cidade” (178). A parte lesada ou seu representante (goiel) deveria se dirigir “ao lugar que YHWH teu Deus hhouver escolhido”, onde os sacerdotes levitas ¢ 0 juiz de plantio investigatiam 0 caso ¢ dariam a respectiva sentenca (17,9). As decisées clos sacerdotes levitas © do juiz deveriam ser escrupulosamente obedecidas, sob pena de morte (17,12) O fato de todo 0 processo correr& somibra do Templo poderia dar ao evento judicial uma conotagéo ciiltica. Seria uma agio realizada sob o olhar de Deus, como acontecia por ocasiio do eulto. A decisio do sacerdote GRUSEMANS 4 inp 18 119 120 € 4 do juiz deveriam contar com o aval divino para se revestir de justica, Uma sentenga equivoeada ou tenden- ciosa corresponderia a um culto desagradavel a Deus Aintorvengio judicial dos sacerdotes levitas prevé-se, também, em caso de falso testemunho, “As duas partes em litigio se apresentardo diante de YHWH, diante dos sacerdotes e dos juizes” (Dt 19,17; of. Ex 20,16; Dt 5,20). Cabe-thes investigar tudo com cuidado. Caso se trate de uma testemunha falsa, “v6s a tratareis conforme cla propria planejava trata o seu préximo”, de modo a servir de ligéo para quem ousar “praticar semethante mal no melo de ti” (19,19). Na ocorréncia de um homicidio, de autoria des- conhecida, os ancidos da cidade “se aproximarso dos sacerdotes levitas [.] eabendo-lhes resolver qualquer litigio ou crime” (21,5). O ritual comporta a morte de ‘uma novilha, “com a qual no se tenha trabalhado & ainda nao tenha sido atrelada a0 jugo” (21,3), junto de “uma torrente de gua permanente, onde ninguém tra- balha nem semeia” (21,4) Entfo, “0s ancitios da cidade ‘mais préxima a0 morte lavario as méos sobre a novilha desnucada na torrente, fazendo a seguinte dedlaracio: “nossas mios nfo derramaram este sangue, € nosso olhos, nada viram. Perdioa a0 teu povo Israel, que resgataste, 6 YHWH, no permitas que um sangue inocente recaia sobre 0 teu povo Israel. E este sangue Ihe ser perdon- dos” 21,6-8) A funcio dos sacerdoteslevitas parece ser © de testemunbas em nome de YHWH, pois cabe uos ancifos realizar o ritual. ‘Os sacerdotes levitas tinham uma fungéo espectfica junto do re, como se pode perceber em Dt 1718, a0 dizer: “quando subir ao trono real, o rei devera escrever num | | livro, pata seu uso, uma o6pia desta Lei, ditada pelos sacerdotes levitas” (17,18). Sua tarefa consistia em estar atentos para que 0 monarca agisse com fidelidade nas responsabilidades referentes ao pove, Deveriam cuidar para que o rei “nao se levantasse orgulhiosamente sobre seus irmios, nem se desviasse deste mandamento para a dieita on para a esquerda” (17,20) Funcionavam como “olheiros de Deus”, o primeito interessado em que 0 rei se deixasse guiar pelo direito e pela justia no trato com ‘os mais fragilizados ¢ indefesos. sacerdote levita tem, da mesma forma, um pa- pel em contexto de guerra. “Quando estiverdes para comecar 0 combate, 0 sacerdote se aproximard para falar ao povo, ¢ the dir: ‘escuta, 6 Israelt [..] YHWH_ vyosso Deus marcha convosco, lutando a vosso favor contra os vossos inimigos, para salvar-vos” (20,2-4) So palavras de bons augirios do sacerdote, que se transformam em voz da divindade, como se misturasse sua propria figura de sacerdote (mediador do povo na presenga de Deus) com a do profeta (intercessor pelo povo junto a Deus). Uma atuagio especial do sacerdote levita dé-se ro caso dos contaminados pela lepra. A Lei estabele- ce para os leprosos: “cuida de por diligentemente em Dritica tudo © que os sacerdotes levitas vos ensinarem; cuidareis de por em pritica o que eu thes tiver orde- nado” (24,8). No exercicio dessa atividade o sacerdote levita age como instrumento nas ios de Deus, que the ‘Como oars ets no cupeam sn fo de costs rie ovr profetas cumin 0 ppel de desu descompae cate ‘Beto [antag dor re ean por non cafe denser Em reno ae pore indefns(IR21 20). 121 122 indica 0 modo de proceder no trato com os leprosos, fem vista da cura ou da no contaminagio de outras pessoas. Porém, nao se diz que tipo de orientacdes ‘eram dadas pelos sacerdotes levitas no tocante & lepra Uma evocagio da caminhada pelo deserto 6 feita a proposito: “lembra-te do que YHWH teu Deus fez a Maria no caminho, quando safstes do Egito” (249). A acao divina de castigo pela lepra © da cura apds sete dias de segregacio haveria de se repetir pela agio dos sacerdotes levtas (Nm 12,10-15). sacerdote tem uma fungao no rito de oferta das primicias dos frutos da terra a YHWH. Elks deverao ser ‘entregues, “colocadas num cesto” ¢ levadas “ao lugar que YHWH teu Deus houver escolhido para af fazer habitar ‘0 seu nome” (26,2). 0 sacerdote toma 0 cesto, deposita-0 “diante do altar de-YHWH teu Deus” (26,3-4); 0 ofer tante se poe a pronunciar, em face da divindade, uma belissima oragio, em que relé a histéria do povo, sob a protecao divina: “Meu pai era um arameu errante..” (265-9). O sacerdote tem a satisfacdo de ver a alegria das pessoas de fé, exortadas a se regovijarem “por todas as boas obras que YHWH teu Deus deu a tie tua ‘causa, juntamento contigo, 0 levita e o estrangeiro que reside em teu meio” (26,11) Sua funcéo, de fat, é a de cespectador, pois, uma vez recebida a oferta e colocada diante do altar de YHWH, quem dirige suas palavras a Deus € 0 ofertante. ars lim de DE 1228 ssn Leta ees ae Dr 2790, “avorde YHWH tev Deos en prem pritica or mandamento eos statis sochojee ordi" Nowtryceay Moses eseve ean ea ele St 98 ‘even on flo de Lev gue carer «Ac da Alans de VW, ono snes oss et" (Dt 31. (© papel dos sacerdotes levitas, por conseguinte, tem pouguissima expressio. Pode-se pensar na legslagio ciiltica deuterondmica preocupada em esvaziar a fungio propria dos sacerdotes, reduzindo-a o maximo possive, lbrindo espago para a atuagio das pessoas comuns nas fungbes especificas de um sacerdote. AS MUITAS FORMAS DE CULTUAR DEUS. (© “lugar escolhide por YHWET” euttual de Tsrael, considerando alternativos para atividades cilticas. “S6 no lugar que YHWH houver escothido, numa das tuas tribos, que deveris oferecer teus holocaustos; & ki que deverés por em pritica tudo 0 que eu te ordeno” (12,14), Um elenco quase exaustivo de priticas cultuais encontra-se em 12,6: “levareis para Id voss0s holocaustos e vossos sacriticios, _vossos dizimos ¢ 0s dons das vossas mos, vossossacrificios ‘otivos e vossos sacrificios espontineos, os primoggnits das ‘vacas ¢ das vossas ovelhas”, Essa lista repete-se em 12,11, acrescentando “todas as oferendas escoliidas que tiveres prometido como voto a YHWH!. O fiel deve se mostrar ‘generos0 no tralo com seu Deus, a quem express seu agradecimento com 0 obséquio de suas melhores posses. 5 saverdotes levitas no sio citados como me- diadores do culto prestado a Deus, pois todos os dons deveriam ser consumidos num grandioso banquete. “Comereis li, diante de YHWH vosso Deus, alegrando- -vos com todo o empreendimento de vossas maos, v6s € vyossas familia, com o que YHWH teu Deus te houver abengoado” (127)? © ALeteea eservn: Nest eg comer dso sants” (L221). ‘eigo eo osteo de no prenceat ifm exe, 123 124 "Nao € 0 prazer de comer, ¢ a alegria de comer juntos, pois ‘alegria marca essa experigncia de estar juntos, reunidos, na festa, na presenga de Deus, no lugar que indica a uni- dade profunda de todos os isreelitas.* Portanto, 0 culto acontece como refeigdo, em éiltima ‘anilise,oferecida por Deus a seus adoradores. E Deus se alegra com a felicdade dos que se fartam com uma abundancia de bens. O sacerdote deve se contentar com a parte que lhe & destinada, dos animais e das primicias da terra (I8,3-5). Na eventualidade de algum Jevita se encontrar em Jerusalém ¢ “oficiar em nome de YHWH seu Deus [..] comers uma parte igual & deles" (18,6-7) O ritual dos holocaustos prescrevia: “oferecerss teus holocaustos, a carne e sangue, sobre o altar de YHWH. teu Deus: 0 sangue dos feus sacrificios serd derramado sobre o altar de YHWH teu Deus, ¢ comers a carne” (2,27). 0 holocausto supe a vitima sendo totalmente consumida: 0 sangue cra devorado pelo fogo © a carne, ppor sta vez, tomava-se refei¢io para os peregrinos. A intervenedo do sacerdote torna-se desnecessiria.” Tem- -se a impressio de que “a autorizagio para 0 abate de animais sem nevesstar do sacerdote & uma tentativa de anulago da influéncia do clro em Jerusalém" © “abate profano” realizava-se fora do espago do"Templo, “embora fosse, sem chvida, acompanhado de certos ritual CARIBE Ove do Dated, I. Gf a ” Nolewtic, to acarme quant osange crm devorns pel ge aus ‘ual peso pacer (Lv 298 > ROMER. La promi hire dl. 67 ROMER. Linnie de Din p23 ‘A Lei do dizimo, com seu desdobramento social, tem origem ciltica. Tratava-se de oferecer a0 Criador ‘uma porgao simbélica dos frutos da eriacéo. F. como se alguém trabalhasse a terra alheia ¢, por ocasito da colhita, oferecesse a0 proprictirio uma porcao previa mente combinada, ‘A Lei previa dois tipos de dizimo. O dlizimo anual correspondia & décima parte de toda producio agricola de trigo, vinho novo ¢ dleo, somado aos primosénitos das ‘yacas € das ovelhas. Tudo isso deveria ser comido “no fugar que Deus houver escolhido para af fazer habitar 0 sev nome”, com uma finalidade: “aprender continuamente a temer YHWHT teu Deus” (14,22-23). A consagracio dos bens a Deus nao exigia serem entregues a pessoas (cer dotes levitas) ou a instituigdes (Templo). “Outro propésito ‘io aparece; ndo se menciona nenhium recebedor destas ofertas, nem templo, nem rei, nem sacerdote, nem Deus. [Na pratica, isto acaba com o dizimo, pois o prio pro- dutor vem a consumi-lo”, pois se destinava a uma grande rofeigio de earéter litGrgico, da qual participavam os estratos sociais desfavorecidos.” Essa refeigio apontava para a comunhio, a solidariedace, o cuidado com os mais pobres, desdobramentos éticos da fé corretamente vivida. Propée-se aqui uma espécie de “piquenique reizioso”. Desa atividade de congragamento deverso participar to- a s pessoas ligadas a bito da refecida casa patiarcal (SEMAN, 4 Tp. 508.0 Dentro sor questo do ‘non mesmo ope ei, 0 fro amp SO ae ee mn dmcnso rte ernie no Levin, onde e pete a gamin ‘Sse cert Asda" on dsm ds eat os pros {ern com dora dn sores pena + YEWHE€ ca cons YHWH 2130) bm ov lon, pene an crea 125 126 [Nomeadamente citam-se as personae miseraetipicas dos tempos biblicox:“o evita, 0 estrangero, 0 Geli, a viva, que esti na tua cidade” (14,29) Estes expressimente de. ‘em ser includos na béneio da partilha> A ccasuistia ciltica permitia, em se tratando de 0 peregrino morar demasiadamente distante do “lugar”, vender of produtos da terra ¢ dos animais destinados & YHWH e, ao chegar i, “trocar 0 dinheiro por tudo 0 ‘que desejares: vacas, ovelhas, vinbo, bebida embriagante, tudo enfim que te apetecer, € comer li, diante de YHWH teu Deus” (14,24-26). Os levitas, cuja sobrevivéncia de- pendia da caridade alheia, no deveriam ser deixados de lado, mas, sim, convidados a ir junto, com o ditto de participar do banquete (14,27). Com o dizimo trienal que, provavelmente, era praticado por revezamento, e no por todos a0 mesmo tempo, procediase de modo diverso, Deveria ser colo- cado na porta da cidade, de modo que “o levita (pois ele no tem parte nem heranca contige), © estrangciro, 0 6rfgo e a vitiva que vivem em tuas cidades” comessem fe se saciassem (14,2829), Essa partitha com os pobres © 08 desvaidos revestia-se de profundo sentido cultual. Apontava para o banquete escatoldgico em que os pobres da terra serdo saciados Deus se alegrart por ver seus fithos ¢filhas livres da fome e da exclsso das bens desse ‘mundo (15 55,1-2)>* A dimensto social de solidariedade e 5 REIMER lnc rit sighs prt do Denti, 16. protec sins pseseritrpretad ploviéenpcnial O-nensgec™ a at prepa bls (co sede ce P13) © Sy free um meen nan = excelent ot bes cametaes

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