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Psicologia: Ciéncia e Prolissio 2023 v.43, €247852, 1-18. ‘nips do. org/10.1980/1982-3703003247962 Antigo. Sobre Dias em Que me Senti sem Ar: Desassossegos do Pesquisar Moises Romanini! "Universidade Federal do Rio Grande do Sul Port Alegre, RS, Brasil Resume: Conceitos como o de alteridade, encontro de saberes, polifasia cognitiva, o principio de familiatidade e de representagdes sociais operaram na complexa (arefa de compreender como ‘0s encontros entre profissionais e usuarios sustentavam e/ou tansformavam as préticas de acolhimento, Entretanto, a experiéncia da minha pesquisa de doutorado me levou a questionar os proprios conceitos utilizados da Teoria das RepresentacGes Sociais. Ao final do ensaio, apés discutir aspectos (eérico-metodolégicos, 0 principio de familiaridade ¢ a questio da tensdo ¢ dos afetos nas representagbes sociais, espero evidenciar como 6 movimento provocado pelo encontro com usuarios e profissionais de uma Rede de Atencio Psicossocial levou-me a ‘questionar pontos escenciais da teoria: o papel domesticador das representagées, a forma ainda cestética de evidenciar os fenémenos, a separacio entre um sujeito que representa ¢ 0 objeto representado e a dificuldade em usar suas ferramentas conceituais para acompanhar processos ‘me fazem repensar meu lugar e minha fungdo de pesquisador. Palavras-chave: Pesquisa qualitativa, Pesquisa participante, Representagao social, Psicologia social On Days when I Felt Breathless: Unrest of Search Abstract: Concepts such as alterity, encounter of knowledge, cognitive polyphasia, the principle of familiarity and the very concept of social representations operated in the complex task of understanding how the encounters between professionals and users supported and / or transformed user embracement practices. However, the experience of my doctoral research led ‘me to question the very concepts used in the Theory of Social Representations. At the end of the essay, after discussing theoretical and methodological aspects, the principle of familiarity and the issue of tension and affects in social representations, I hope to show how the movement caused by the encounter with users and professionals of a Psychosocial Care Network, led me to question essential points of the theory: the domesticating role of representations, the stil static way of showing phenomena, the separation between a subject that represents and the object represented and the difficulty in using their conceptual tools to accompany processes makes me rethink my place and role as a researcher. Keywords: Qualitative research, Participant research, Social representation, Social psychology: Sobre Dias Que me Sentf sin Aliento: Disurbios de Investigacién Resume Conceptos como Ia alteridad, el encuentro de saberes, la polifasia cognitiva, l principio de familiaridad y el concepto mismo de representaciones sociales operaron en la ‘compleja tarea de comprender eémo los encuentros entre profesionales y usuarios apoyarony / 0 transformaron las précticas de acogimiento. Sin embargo, la experiencia de mi investigacion Disponivel em wuslel Bripep Pricologia: Ciencia e Profiseko 2022 v.43, 247962, 1-13. doctoral mellevéacuestionarlos propios conceptos utilizados enlaTeorfadelasRepresentaciones Sociales. Al final del ensayo, después de discutir aspectos te6ricos y metodolégicos, el principio de familiaridad y el tema de tensidn y afectos en las representaciones sociales, Espero mostrar ‘c6mo el movimiento provocado por el encuentro con usuarios y profesionales de una Red de Atenci6n Psicosocial, me llevé a cuestionar puntos esenciales de la teorfa: el rol domesticador de las representaciones, la forma todavia estética de mostrar los fenémenos, la separacién entre ‘un sujeto que representa y el objeto representado y la dificultad para utilizar sus herramientas conceptuales para acompaiiar procesos, me hace repensar mi lugar y rol como investigador. Palabras-clave: Investigacién cualitativa, Investigacién participante, Representaci6n social, Psicologia social. Introdugao: Sobre dias em que me senti sem ar No percurso de uma pesquisa, desde sua con- cepeio, vivencias no campo, até a escrita do relats- tio final, o(@) pesquisador‘a) delimita uma érea e vai construindo seu objeto de estudo a partir de escolhas teoricas, metodolégicas e ético-politcas. Por apro- ximadamente um ano, estive com profissionais e usudrios da Rede de Atengio Psicossocial (Raps) de Porto Alegre (RS) para compreender como as préti- cas de acolhimento a pessoas que usam droges cram construfdas em servigos como 0s Centros de Atengo Psicossocial Alcool e outras Drogas (CAPS AD) © Equipes de Consultério na Rua (CaR)', Diversas situ- ayes, no encontro com os usuarios e profissionais, fizeram-me repensar minhas escolhas te6ricas para © que eu havia me proposto pesquisar. Entretanto, mais do que questionar a teoria, as histérias vivides € construidas no cotidiano das ruase dos servigos me fizeram calar, emudecer diante da dor, do sofrimento e do estranhamento diante de determinadas situa- 6s. Por muitas vezes, sent-me sem ar Lembro-mede um momento muito difel, queme provocou os mais variados sentimentos. Eu estava acompanhando a equipe do Cn em uma busca ativa de um usuério para tratamento da tuberculose e HIV, ‘em uma praca na regio central da cidade, quando escutamos uma mulher gritando desesperadamente: “Doutora Silvia I.! Doutora Silvia 1.0. Olhamos para és ¢ vimos a mulher correndo em nossa diregao, Silvia L., um tanto perplexa, nao a reconheceu. Quando ela parou diante de nés, vimos que estava toda quei- ‘mada, Muito agitada e nervosa, falava rapido, temia e chorava. Logo depois, Silvia L. reconheceu a pessoa - cla estava mais emagrecida, com 0s cabelos cortados bem curtos (de forma irregular), muito suja, labios rachados e partes do corpo queimadas. Ela nos contou ‘que estava internada na ala de queimados de um hospi- ‘tal na regio central da cidade e que havia recebido alta hospitalar na noite anterior. Entretanto, um homem ‘que a acompanhava nos disse que a mulher fugiu do hospital, pois estava “na fissura pela pedra”™ Unindo as partes da hist6ria contada por ambos, percebemos a gravidade da situacdo, Em um local pré- ximo de onde estévamos, hé aproximadamente um més e meio, essa mulher se negou a ter uma relagio sexual com um homem, também em situacdo de rua, ‘em troca de crack. A noite, enquanto ela dormia, pesquisa, de earaterqualitativo, fi realizad juntos Area Téenica de Satie Mental, de urn CAPS AD e de uma equipe de Consultério nna Ruade uma rede de sade na ego sl do Brasil Fram realizadas observacSes no cotidiano dos servigos, excita de ciérios de campo, entrevistas narrstivas com usustios profisslonals e grupos de discusséo com profisionals. No perfodo de aproximadamente um ano, foram concluidas 298 horas de observagio partcipante em 8b imersdee no campo de estado. Além das observagdes, foram realizadoe {tbs grupos de discussio e 34 entrevistas natrativas com urusrios e profissionas dos servigos. A pesquica fl aprovada pelos Comité: de ‘dia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul eda Secretaria Municipal de Sade de Porto Alegre (XS). Na eseritadatese, autllzacko de heterOnimos fol uma estratéga, ao mesmo tempo, tebrico-metodologicae éica afm de preservar 0 anonimato dos interlocutores. Assim como oUtulo da tese da qual resulta este manuscrit, o uso dos heterOnlmos teve como fonte ins: piredora o poeta Femando Pessoa, conhecido, também, por ulizd-los emplamente~ entre os mais conhecidos, Alberta Caeito, Alvaro ‘Se Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares. Tanto no caso da obra de Fernando Pessoa quanto deste trabalho, of heterdnimos fazem emergiruma concepcéo de suet cujasidentidades s3o maltiplas, um sujeto que éatravessado por diversas e, muitas wezrs, paradoxais ‘dentificagGes,resultando no desdabramento do eu", em seu descentramento em ditegdo ao outro. O heterOnimo fol apresentado com ‘nome ea primeiza letra do sobrenome, seid de pont final, » Segundo Informac6es Colhidas~ s20 trechos transcritos do dério de campo do pesquisador. Quando uso 0 heterOnimo epés uma ‘wanscrigio literal, sio wechos das entevistasrealizadas, foi amarrada por ele ¢ outro homem, tendo, ambos, ateado fogo ao corpo da mulher. Quem a salvou do {ogo foi esse homem que a estava acompanhando e ‘que ajudou a contar a hist6ria, Segundo informacoes deles, a mulher ficou internada um pouco mais de um més no hospital, tendo fugido da internagao e passado ailtima noite toda usando crack. Quando aconvence- ‘mos air conoscona Kombi do CnR, para fazer exames e lratar das queimaduras (que pareciam ser mais recen- tes do que o que haviam nos contado), ela tentou fugit. Na tentativa de fuga ndo fomos atrés dela, mas assisti- ‘mos uma cena de cuidado: 0 homem, aos gritos, muito bravo, dizia que a mulher precisava de tratamento, sendo ela iria mon Ela, que estava muito agitada, paralisou diante do homem. Ele segurou seu rosto com as maos ¢, olhando intensamente nos olhos dela, disse: “Vai te tratar mulher! Nés vamos cuidar daqueles dois que ‘fizeram isso contigo”, Ela voltou para o veiculo e dei- touno banco de tras. Eu, sentado a frente dela, olhava para essa mulher. Ela estava deitada, encolhida, ‘em posigao fetal, tremendo, chorando © repetindo incessantemente a frase: “Aquela foi a pior noite da minha vida’. Quando a mulher olhava nos meus olhos, me respirar, o corpo ttemia, e eu apenas me concentrava para néo chorar diante dela, Nao sabia o que fazer ou 0 ‘que dizer para cla, Faltavam-me palavras, Esse encon- ‘xo me provocou algo téo profundo, uma dor e um sofrimento diante daquela mulher, que 0 simbélico escapou, Emudeci Varios aspectos dessa hist6ria mereceriam nossa atengao, como 0 cuidado em ato daquele morador de rua com a mulher e nossas representagées sobre ‘a populagdo de rua. Nas interagées e no cotidiano das ruas, as pessoas acabam acessando ou sendo acessados por servigos de satide, assisténcia social e de caridade, geralmente vinculados a instituig6es reli- sgiosas, ea construgao de um cuidado entre as pessoas {que estdo na rua, como foi a situagdo narrada acima. em fungao das queimaduras, coragao disparava, sentia dificuldade em ‘Romaning, M. (2028). Sobre dias em que me sent sem at ‘Mas para manter o foco deste trabalho, o ponto que me chama atengdo nessa hist6ria foi o meu sen: timento de vazio, impoténcia. Esta talver se refira melhor a situagdes nas quais compreendemos e temos uma ideia do que deveria ser feito, mesmo que em um, nivel ideal, mas ndo conseguimos sozinhos, apenas com nossa vontade. O vazio é a falta de significados, do plano simbélico, como disse antes. Nao havia uma representacdo, uma ideia, um preconceito, ou qual: quer outro “instrumento cognitivo” que me auxiliasse apensare agir naquela situacao. Foi um encontro que me transformou e me jogou num lugar de nao saber. Foi uma situagdo nova, diferente, Para a Teoria das Representagdes Sociais, quando nos deparamos com, algo novo, desconhecido, buscamos em nosso aparato simbélico algo que se assemelhe para, minimamente, compreender 0 fendmeno, objeto ~ os processos de objetivagao e ancoragem. Por um tempo, senti-me sem ‘ancoragem’ alguma Foi a partir da Teoria das Representagées Sociais (TRS)* que iniciet os estudos para ir delineando co problema e as questées que nortearam a pesquisa ea escrita da minha tese de doutorado (Romanini, 2016) ‘Ao final do longo percurso compreendido entre a escrita do projeto e a escrita da tese, retomnei a teoria para discutir um conjunto denso de dados construidos no campo. Ao reler a tese para aescrita deste manuscrito, percebi melhor que as trajetérias coletivas que apresentei representam néo apenas, os consensos construidos cotidianamente entre profissionais, usuérios e gestores da Raps, mas os, dissensos, as tensdes, Tanto 0s consensos quanto as, tensGes sinalizam para os desafios da construgao do comum nas politicas piblicas de sade, especifica: mente nas politicas sobre drogas. No decorrer desta escrita, embora nao de forma cexplicita em alguns momentos, conceitos como o de alteridade, encontra de saberes, polifasia cognitiva, 0 principio de familiaridade e © proprio conceito de representagées sociais operaram na complexa tarefa de compreender como os encontros entre profissionais e « Diante da disso e amplitude da TRS, Perera de Sé (1998) identifica 08s linhas principals de desenvolvimento da teoria. A prime, ddesenvolvida principalment 1a parti da obra publicada por Jodelet (2005) Polis ef représentations sociales, que parte da complexidade dda representagies socials, propondo uma aproximagio proceseual, mais centrada no aspecto constituinte que no aspecto constituido das representacGes. A segunda, centrada nos processos cognitivos ena estrutura das representacbes socias, foi desenvolvida prine:- ppalmente por ean Claude Abric por meio de sua teoria do Nucleo Central E rercera, mais socioldgica, desenvolvida em Genebra por ‘Willem Dole, centea-se mals nas eondigdes de producioe etculagso das representagOes socials S4, 1998). mportante destacar que 0 aporte eérico desta pesquisa veio do enfoque processual da representacSes soiais. Entendemos que asrepresentagSes si0, a0 mesmo tempo, processo e produto. Seuindo Moscovil (2012), Jodelet (2005) e Jovchelovitch (2008), as epresentagdes sociais dever ser anali~ sadas em relagio aos processos da dinimica social e da psiquica dos sujeitos, Pricologa: Ciénciae Profieko 2023 v.42, €247962, 1-13. usuérios sustentavam e/ou transformavam as praticas de acolhimento, Além de funcionar como operadores te6rico-conceituais, esses conceitos foram utilizados como “plataformas para ver o mundo’, sao “entes’, uma forma de olhar para os saberes construfdos, Entretanto, esses saberes no apenas se tornaram, possiveis em fungao da utilizagao desta ou de outra teoria, eles so possiveis porque também fazem 0 movimento oposto ~ sao gerados a partir de um ponto de vista teérico, mas geram, também, impli- cages para a teoria, que de uma forma ou outra deu-lhe sustentagao, Esse movimento inverso, de repensar alguns aspectos da teoria, € 0 que constitui este ensaio Inspirado em alguns autores da TRS e nas experiéncias vividas a0 longo do campo da pesquisa mencionada, buscatei trazer reflexses e inquietagdes, algumas ainda incipientes. As nogdes de afeto, tensao, familiaridade, utilizadas ao longo da tese, sero fundamentais nessas, reflexes, entendendo-as como um efeito do desas- sossego provocado pelos intmeros encontros vivi- dos neste percurso. Ao final do ensaio, apés discutir aspectos tedrico-metodol6gicas, principio de fami- liaridade ea questio da tensio e dos afetos nas repre- sentagées sociais, espero evidenciar como 0 movi- ‘mento provocado pelo e no campo de pesquisa me fez, ‘mais uma ver, sentir-me sufocado. Algumas inquietacdes tedrico-metodolégicas ‘A medida em que eu me aprofundava nas leitu- ra e estudos sobre a TRS, as disciplinas que cursava no meu percurso de doutoramento foram produzindo inquietagées irreversiveis em mim. As(os) professo- ras(es) de um programa de pés-graduagao quesustenta uma psicologia social mais “p6s-estruturalista” me tte)apresentavam autores como Judith Butler, Michel Foucault, Félix Guattai Gilles Deleuze, Henti Bergson, Humberto Maturana, dentre outros, Estes, embora nao constitulssem 0 escopo tedrico e epistemolégico do meu projeto de pesquisa, me ajudaram a explcitar as inquietagies que eu vinha sentindo ao ler os rela- tos de pesquisas no campo das representagées sociais E foi com Angela Arruda que encontei um caminho para tais questionamentos dentro da prépria teoria. ‘Arruda (2015) discute alguns habitos metodol6gicos no campo das Representagies Sociais que limitam a teoria. na andlise de fendmenos sociais acelerados, fragmen- tados, que envolvem processos de inova¢ao. Desses abordados pela autora, trés habitos nos interessam neste trabalho, O primeiro é a “objetificacao” do grupo, ou dos grupos estudados. Uma das fortes ceriticas que se faz aos estudos em representagées sociais é que se naturalizam os sujeitos nas pesquisas, ‘tomando o grupo como algo garantido, olhando para ‘ele como algo estavel e com uma tendéncia para a homogeneizagao ~ como uma entidade em si mesma (Arruda, 2015}. Estudos como “representacdes sociais, de professores sobre 0 uso de drogas” recebem criticas por definirem a priori um grupo - 0 dos professores — ‘como estével, homogéneo, Quando sao apresentados, os resultados, as representagées também parecem cestaticas, sendo produtos e produtoras dessa homo- ‘geneidade do grupo estudado, Alguns autores da TRS jé vem trabalhando com. a ideia de grupos fluidos, ainda de forma timida (Arruda, 2015). 0 que se esta comecando a reconhecer, neste campo, € que os individuos parecem ter crencas contraditérias como reflexo das suas relagdes muil- tiplas, com miiltiplos grupos, e que, por isso, jé nao podemos mais defender a ideia de que as crencas, atitudes e valores sero partilhados da mesma forma ¢ com a mesma intensidade pelos membros de um ‘mesmo grupo (Arruda, 2015), No decorter da minha pesquisa, busquei evidenciar a heterogeneidade dos ‘grupos pesquisados. As denominagées “usuarios” “profissionais", amplamente empregadas nos textos das politieas ministeriais, podem parecer uma tenta- tiva de tratar esses grupos como uma entidade homo- génea. Da mesma maneira, quando nos referimos ‘equipe da érea técnica de satide mental, ao CAPS AD e a0 Ca. A utilizagio de heterénimos, confundindo papéis e lugares preestabelecidos, a interlocusao constante entre entrevistas, registros de observacées, materiais de leitura e midiéticos, teve também como objetivo evidenciar a heterogeneidade e fluidez da constituigao de (ais grupos. Portanto, acredito que as escolhas metodol6gicas dessa pesquisa buscaram superar esse primeiro habito, (© segundo, intimamente relacionado com o primeiro, refere-se ao método da observagao par- ticipante, que foi o “carro-chefe” desta pesquisa. Segundo Arruda (2015), quando a observagao partici- ante ocorre nos estudos em representagdes sociais, cla tende a servir como ponto de apoio aquilo que sera investigado nas entzevistas ou questionétios, Nesta pesquisa, as observagbes participantes, registra- das em diério de campo, conduziram a escrita da tese, sendo apoiadas por saberes formalmente elaborados por meio das entrevistas narrativas e grupos de dis- ‘cussdo. As representagées sociais sobre drogas e prati- ‘cas de acolhimento eram um dos elementos que com- punham o campo problemético estudado, mas nao era ‘0 foco. Talvez por isso os saberes construidos por meio das diversas estratégias metodolégicas nao tenham perdido a dinamicidade que lhes sio inerentes, Embora tenham sofride um processo analitico, as entrevistas, ‘com seus elementos indexados e nao indexados (andlise narrativa das entrevistas), expressaram con- sensos ¢ também tensbes, sendo utilizadas néo como cestruturantes do (exto, mas em seus meandros. Muito tempo depois, percebi que tanto o acolhimento quanto as praticas de acolhimento nao podem ser objetos de cestudo em representagdes sociais (RS) Por fim, 0 terceiro hébito apontado por Arruda (2015) € 0 fato de as ferramentas da TRS tomarem-se mais adequadas para a confirmagio ex-post, identificando os processos quando (e se) as RS jé esto estruturadas. Nesse sentido, “apesar de sua natureza e hist6ria dinamicas, as RS tm difi- culdade em captar os processos da preparacdo em progtesso” (p. 121). Esse problema me parece ser uma consequéncia do primeiro: a defini¢ao a priori de grupos homogéneos, fixos, para estudar “quem’ representa “o que’, acaba diluindo ou negligenciando ‘ processo, “como”. Esse habito ou problema é ainda mais questionado diante da critica da modernidade, das grandes narrativas e do retomo ao sujeito pormeio dos estudos no campo da subjetividade e processos de subjetivacao (Arrude, 2015; Jodelet, 2009, 2015). Arruda (2015) nos chamaa atengao para o retorno € a redefinicio da nogéo de sujeito nas ciéncias sociais, na filosofia e nos estudos culturais, em fins do século XX ¢ infcio do sécuilo XX1, Conforme a autora, ‘estamos, talvez, enfrentando um campo de estudos sobre a subjetividade muito vasto, euja fundagao 6 a figura do sujeito multiplo e fragmentado, opondo-se radicalmente a visdo essencialista eestética de sujeito. Questionando a construgao binéria ocidental, tendo ‘como base a estrutura ¢ a ordem, 0 sujeito contempo- raneo nao ¢ unificado nem constantemente idéntico (igual a si mesmo, como referia 0 conceito mais clés- sico de identidade), tendo como um dos efeitos a afir- magao da diferenca, ‘Uma primeira (rjevolucéo na forma de conce- ber o sujeito € compreendida por duas perspectivas A primeira centra-se nos. sujeitos e identidades Romnini, M. (2023). Sobre dias em que me sent sem. ndmades, transversal a diversas possibilidades no tempo e no espaco: mudancas na profissdo, nas crengas, nos espacos habitados, dentre outros. Esse nomadismo tem como principal consequén: cia a fragilidade de qualquer definigao baseada na identidade - 0 sujeito némade é caracterizado pela mobilidade, pela capacidade de mudanga, A segunda perspectiva, wibutéria dos Estudos Culturais, concebe 0 “sujeito pés-colonial” © os “sujeltos subordinados’, que, em busca de visibi lidade e respeito, disseminam ideias dissidentes na sociedade, podendo vir a funcionar como fatores de transformacao das representagdes (Arruda, 2015). A segunda (nevolugao abarca definigoes mais radicais ¢ estao inscritas em um paradigma pés- -estruturalista, concebendo uma subjetividade sem o sujeito e um sujeito pés-humanista, sendo ti butéria a autores como Foucault, Deleuze, Guattari © Latour (Arruda, 2015). Deleuze ¢ Guattari (1995), por exemplo, concebem uma producdo coletiva da subjetividade, na qual o sujeito € um terminal, uma interse¢ao de forcas, e, portanto, uma mera circunsténcia. Para os autores, a subjetividade, no devir histérico, assume tragos que séo territo: rializados e desterritorializados conforme as con: diges politicas, histéricas, econémicas e culturais. © estudo dessa forma de conceber as subje lividades e os processos de subjetivacio, que se (orvitorializam e se desterritorializam, parece ser mais apropriado para compreendermos as praticas de aco. Ihimento, que, enquanto préticas, so processos nunca, acabados. Cartografia? Pesquisa-intervengio? Anélise Institucional? Um curto-circuito teérico-metodol6gico gestado no inicio da pesquisa. Observagdo participante e atengdo de um cartografo, Deparo-me com o prine! pio de familiaridade da TRS. Tensio, resisténcia eo estranhamento do familiar Geralmente, toma-se como consenso que uma das principais fungbes das representagdes sociais 6a de tornar familiar o no familiar. Aquilo que ndo nos é familiar soa estranho, incompativel com nos: sos saberes cotidianos e, para ser incorporado a0 nosso arcabougo de saberes, sofre transformagées por meio dos processos de ancoragem e objetivacao, A explicitagao desses processos, iniciada com a obra de Moscovici (2012, 2010), nos ajuda a entender que existe uma hist6ria e uma trajetéria relacionadas as Pricologia: Ciénciae Profieko 2023 v.42, 247962, 1-13. questdes que nos engajamos e aos objetos e fendme- nos que buscamos apreender, © que outras pessoas, antes de nés, também o fizeram. Essa historia ou ‘meméria social compe um ambiente que nos cons titui (e que também ¢ constituido por nds) ¢ introduz em nossa autointerpretagdo a solidez dos fatos sociais. Moscovici (2012), a0 revelar alguns dos meca- nismos mentais a partir dos quais as pessoas se apro- priam do desconhecido, acomodando-o ao que jé se conhece, prope a ancoragem, cujo processo consiste em fundar formas cotidianas de saber amparadas em contetidos prévios, ligando o objeto ou fendmeno com 0 passado ¢ suas significagdes. O processo de ancoragem expressa uma tendéncia que temos de recuperar e manter sentidos instituldos, por isso que Arruda (1998) indica que esse processo confirma sua longevidade na abordagem da diferenca e seu lugar na construgao das representagdes hegemsnicas. A familiarizacao ou o principio de familiaridade, como fungao resultante dos processos de ancoragem © objetivacao, é amplamente aceito na TRS, mas tem sido questionado por alguns autores. Ama De-Graft Alkins (2012), por exemplo, revisitao principio de fami- liaridade e aponta algumas limitagbes conceituais no mesmo. A autora destaca que existem duas dimen- sées interdependentes no prinefpio de familiaridade. ‘A primeita é que individuos ¢ comunidades tém grande tendéncia e preferéncia pelo que € familiar ‘A segunda se refere a resisténcia de individuos e gru- pos a intrusdo de estrangeiros em suas comunidades. (© nfo familiar atrai e intriga as pestoas, a0 mesmo tempo em que as coloca em situagao de alerta, Nessa direeao, Aikins (2012) destaca e analisa duas funedes do medo na tese de familiaridade de Moscovici, Primeiro, o medo exerce uma funcao de dis- tanciamento em relacio a0 outro, que nos é estranho Esse distanciamento possibilitaria as pessoas ¢ comunidades um senso de continuidade, de enten- dimento matuo ¢ preservacdo das tradigGes e préti- cas cotidianas. Em segundo, o medo proporcionaria uma motivagdo para a domesticagao do nao familiar, trazendo-o para dentro do nosso universo, tornando-o| proximo, por meio dos processos de ancoragem e objetivagdo. Aikins (2012) observa, entretanto, que 0 familiar nunca é algo "quieto’, desprovido de tensio, Com Joffe (1996) e Morant (1995) temos a indicagao de que 0 néo familiar pode coexistir com o familiar no coragao das representagoes, Morant (1995) enfatiza a importancia de dis- ‘inguir entre dois tipos de objetos estranhos ou nao familiares: o néo familiar derivado de posigées sociais ‘marginalizadas, percebido como ameaga e amedron- tador, € 0 ndo familiar porque é considerado uma novidade. Quando se trata de novidade, @ autora pondera que essa alteridade pode nao ser conside- rada ameacadora. Além disso, Aikins (2012), ao revi- sar alguns estudos, como os de Jahoda, Duveen e do réprio Moscovici, destaca o papel de diferentes emo- ‘ges nos processos que envolvem a construgao de representacGes sociais. Infimeras so as emogbes que mediam nossa vida social cotidiana, a comunicagdo ¢ nossas relagGes. Para além do medo em relaco ao nao familiar, Aikins (2012) enfatiza a motivacdo desper- tada pela curiosidade referente & novidade e ao nao familiar, a solidariedade, a hospitalidade, interesse atracdo e a esperanca como mediadores legitimos da produce de saber social, Nessa proposta de revisitar o principio de familiaridade, a nogao de tensao é fundamental (Aikins, 2012; Markov, 2006), pois ela expressa impeto a uma agao (de familiarizar, por exemplo) ou a uma mudanga. A tensdo esta implicita em todas as situagées da vida, apesar de nao ser reco- nhecida como tal, Portanto, a tenséo ¢ inerente na relagdo Alter-Ego e, por implicagdo, na Teoria das Representacdes Sociais e na comunicasao, pois, ‘como diz Markova (2006), “nao pode haver comuni- cago alguma, a menos que os participantes se jun- tem pela tensio, Nao pode haver aco social alguma— a menos que as oposigGes em tenséo se confrontem, sojam negociadas, avaliadas ¢ julgadas” (p. 212), ‘Ao incluirmos a nogao de (enséo na TRS, podemos pensar que as representagoes sociais no apenas fami- liarizam 0 desconhecido, mas também permitem 0 estranhamento do familiar. A proposta de revisitar 0 prinefpio de familiaridade (Aikins, 2012) expe lacunas dda toria abertas a discussio. Se concordamos com a afirmacao da autora de que as representagbes nao ser ‘vem apenas & integracio do estranho, mas ao estranha- mento do familiar, construir representagSes significa ‘também transformar o familiar, transpondo-o @ novos quadros, readequando-o ao presente. Dessa maneira, ‘© processo de ancoragem nao se limitaria a uma reagao ‘ouadequacio do novo, mas, como afirma Arruda (1998), busca do novo que reordenaré o familia, mesmo que ‘num primeiro momento isso signifique desordené-lo, Essa discussao se mostrou muito atual ¢ perti- hente no campo desta pesquisa. Principalmente a partir da experiencia com o Consultério na Rua, passo pensar na potencialidade do cotidiano que faz estra- nhar o familiar, fazendo-me ao mesmo tempo ques- tionar a funcio das representacdes sociais enquanto possiveis “domesticadoras” daquilo que se presenta como novo, estranho, e pode nos provocar medo. © trabalho com a populagao de rua e com os usué- rios de drogas nos coloca na posi¢éo apontada por ‘Morant (1995), do nao familiar derivado de posigbes sociais marginalizadas, percebido como ameaca e amedrontador. A seguir apresento um trecho do dié- rio de campo, que traz reflexes sobre mais um dia de observagdes com 0 CR: Ao olhar com atencao aos locais em que essas pes- soas moram, uma atitude era quase inevitdvel: a classificagdo entre os mais organizados e os menos desorganizados. O que concebiamos como organizagao? Ao lado de um viaduto da cidade de Porto Alegre, chamava nossa atengao (minha e de alguns profissionais da equipe) a “organizagao” de uma moradora de rua, Sua “casa” bem “estru- turada’, muito semethante aquilo que concebe- ‘mos ser uma casa, com pegas separadas, méveis dispostos. Considerdvamos essa organizagao ‘como um sinal de satide mental, em meio a todo ‘0 caos em que ela vivia. Mas, baseados em qué pensamos assim? Nas nossas representagdes do ‘que é viver em sociedade e de como devemos habi tar os espagas, ptiblicos e privados. Quanto mais semethante ao nosso modo de viver, menos estra- nhamento nos causava. Sem perceber, acaba se criando uma hierarquia entre os préprios mora- dores de rua ~ dos mais organizados aos menos organizados. Se nao tivéssemos tido consciéneia desse olhar classificatério, para que ou para quem serviriam nossas representasdes sobre 0s modos de viver nas cidades? Qual funsao desempenhariam? De libertasdo ou de dominasito? Representar, pois, pode se tornar sindnimo apenas de classi- ficar, julgar, segregar, dominar. Representacoes ideolégicas... oolhar sobre o Parque da Redencao pode ainda ganhar outros contornos, desde que ‘estejamos abertos ao estranhamento. ‘Mesmo olhando agora para os cantos do Parque da Redengao, de espacos "marginalizados’ que antes Romanini, M. (2022). Sobre dias em que me sent sem. nao compunham meu “terrtério existencial’, continuo admirando a beleza do parque e das antigas arvores; mas porque nao incluir nessa beleza aheterogeneidade ea pluralidade de territrios existenciais dentro de um mesmo espago? Nesses questionamentos parece-me clara a funcdo da tensdo na constituigao e dindmica das representagées sociais. Se uma das fungdes das, representagées sociais fosse a de tornar familiar 0 ndo familiar, nao seria possivel cogitar a coexisténcia dessa pluralidade de territorios existenciais - mas esse é um, dos pilares conceituais fundantes da teoria! O familiar ¢ 0 estranho coabitando 0 mesmo espago, 0 estra- ho desorganizando o familiar, como bem pontuow Arruda (1998), Do medo inicial 20 estranho, outros sentimentos compuseram essa “geografia existencial’ ce esses encontros com os moradores de rua: angistia, empatia, solidariedade, tristeza, alegria. Acredito que somente com essa variedade de sentimentos ¢ que 6 possivel se aproximar do outro, estar com 0 outro, sejanosbancos do parque, sejaembaixo de um viaduto, Portanto, acredito que areflexao critica sobre as nossas, proprias representagdes sociais pode ser uma forma de resisténcia que mantém a tensdo constante na forma como concebemos ¢ tratamos 0 outro, Por isso, nunca de maneira acabada, e sim um processo continuo de roflexdes ¢ inquietacoes Embora poucos estudos tenham demons trado empiricamente o potencial eritico da teoria, Howarth (2006) enfatiza que as ferramentas con: ceituais da teoria tm potencial de critica da ordem social, principalmente a partir de wés areas de anélise: a que estuda a relagdo entre os processos psicolégicos e as praticas sociais; a que se dedica a anélise da reificacao e legitimagao de diferentes sis. temas de saber; e aquela que investiga a agéncia ou organizagao e resisténcia na coconstrucio do selfe das identidades. Howarth (2006) destaca que as representagoes. sociais sao vivas e dinamicas, e que elas existem ape- nas nas relagées, por isso a pluralidade e o hibridismo das representagdes esto no centro da teoria, Ao ques: tionar-se sobre o que as RS fazem, a autora pondera que a multiplicidade e a tensio nas representagaes, sociais possibilitam a comunicagdo, a negociacao, resisténcia, inovaggo e transformagao. Fla busca, em diferentes estudos, o que as RS fazem no cotidiano, como no estudo de Jodelet (2005), quando a autora mostra que as representacGes sociais sobre a loucura atuam como protetoras da identidade da comunidade Pricologia: Ciénciae Profit 2023 v.42, 247962, 1-13 que “hospeda’ os “loucos’, atuando, por meio de rituals e praticas cotidianos, na exclusao da loucura, Ouno estudo de Duveen (2010), que salienta como as representag6es sociais sobre género reproduzem rela- {Goes e identidades de género, servindo para manter e defender as diferencas consideradas “naturais” entre ‘os géneros. Seguindo o pensamento de Howarth, dar-se conta do que as RS fazem é um passo importante para reconstruir 0 potencial critico da teoria. Ela ainda nos fomece outras indicagGes para tornar a teoria mais, critica, num processo reflexive sobre a prépria teoria, Uma delas é a necessidade do aprofundamento da anilise das relagées entre representagGes e préticas sociais, bem como entre as representagdes sociais e as relagdes de poder, Para isso, precisamos entender que as representacdes sociais sio mais que ferramen- tas sociaise psicolégicas que orientam nossa compre- ensao do mundo em que vivemos (Howarth, 2006) Cabe destacar, entretanto, que parte significativa das pesquisas mapeia as RS de um determinado objeto ‘ou fendmeno como saberes socialmente construldos compartilhados. Aproximando-nos do final desta segdo do manus- crito, gostaria de compartilhar um outro trecho do meu didrio de campo: Apés uma tarde conversando com moradores de rua, pelos bancos da redengao e ao lado de um viaduto, o que restou foi um forte aperto no peito uma vontade de chorar, Desses dez meses de campo, talvez esse tenha sido um dos dias mais impactantes, Sinto como se tivesse levado um 40¢0 no estémago... enquanto converso com eles, chegam transeuntes curiosos com seus belos cachorros, e sentem medo que os seus peguem pulgas dos caes que acompanham os moradores Oolhar para os caes éde ternura, cuidado, Para as pessoas que ali estavam comigo, era de nojo, ‘medo, desconfianca, Um senhor me olhou e disse “vlu, somos piores que lixo. O crack que eu uso ou a cachaga que bebo nao definem a pessoa que sou’ Outro me conta sua vida e, lacrimejando, mostra (05 hematomas no corpo, resultado de um espan- camento na noite anterior. Esse mesmo senhor ‘me diz que toda moeda tem dois ladas, 0 ruim e obom. Eque seu problema é desejar demais. Outta, fuma crack ao meu lado, bebe sua cachaga eagride @ é agredida pelo namorado, Disse-me que somos sozinhos mesmo, inclusive eu, mesmo com ‘minha vida normal’, Mas antes de tudo isso, um homem ‘me otha profundamente e diz: “tu é sé mais um! Tu é um cara legal, de boa, mas tu é sé mais um! ‘Nao me faga falar da minha vida, porque nada vai mudar’, Come falava hoje pela manha com uma profissional, para mim é muito cémodo irna redengao, almogar num bom restaurante e depois escutar histérias, Meu almoco nunca foi tao indi- ‘gesto, Para que ou para quem serve o que fazemos? Pensativo e, sim, melancélico, Em primeiro lugar, parece-me evidente que, no caso dos moradores de rua, as representagoes sociais produzem e/ou reforgam a exclusio que sofrem cotidianamente, Soma-se ai a questo do uso ‘de drogas, outra pratica socialmente condendvel ealvo de preconceitos ¢ esterestipos. Além disso, o questio- namento feito por um dos moradores de rua "tu é56 ‘mais um?" ~ provocou uma tenséo e um estranha- mento na forma como nos concebemos enquanto pesquisadores. Para que serve esse estudo? Quais con- sequéncia tera? Serao “mapeadas’ as representagoes sociais, e depois? O “tu s6 é mais um" nos convoca a um lugar desconfortavel, porém necessario, e que nos remete inevitavelmente & dimenséo ética e politica das nossas escolhas tebrico-metodol6gicas. Apattir detodas essas consideragdes, Arruda (2011) nos desafia a entender as representagées como uma rede de significados ~ assim como funciona 0 pensa- ‘mento social, em rede e em relagio direta com a aco. (0s processos representacionais acontecem na teia do social, na qual a linguagem e a comunicagao so fun- damentais, j que @ comunicacio é o suporte que pos- sibilita a criagio das representagSes sociais, Essa teia ou rede de significados nao separa os fendmenos uns dos ‘outros nem de seu contexto, pelo contrério, “as ramifi- ccagdes de todos os lados so 0 que compée o quadro da representagio. A representacdo social é um rizoma ‘que cresce, urdida na tessitura da sociedade, uma rede sem fim, sempre em produgdo, sempte acolhendo novidades” (Arruda, 2011, p. 362). Para isso, é preciso retomar nogdes como as de resisténcia e relagées de poder (Foucault, 1984). Mas, para além da resisténcia dos grupos a que nos dedicamos compreender, 0 processo de implicagao do pesquisador me parece igualmente fundamental Implica¢ao que pode ir além dos j& apontados por

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