Professional Documents
Culture Documents
1.2. Pena
Várias são as disciplinas que se relacionam com o Direito Penal, com o crime e
com o criminoso. Ao conjunto dessas disciplinas tem-se chamado de ciências penais.
Aqui se optou por tratar de algumas delas: a dogmática jurídico-penal ou ciência
do direito penal, que tem por objeto o estudo da norma penal; a criminologia, que estuda
o crime em sua realidade fenomênica; e a política criminal, atividade do Estado no
controle da criminalidade.
Ciências ou disciplinas auxiliares seriam a medicina legal, a psicologia
judiciária e a criminalística.
É a atividade que tem por fim a pesquisa dos meios mais adequados para o
controle da criminalidade, valendo-se dos resultados que proporciona a Criminologia,
por meio da análise e crítica do sistema punitivo vigente. Pode-se dizer que política
criminal não é ciência, mas apenas técnica, aproximando-se das disciplinas políticas,
que são disciplinas de meios e fins.
1.4.3. Criminologia
Entende-se por Criminologia a ciência que estuda o crime como fato social, o
delinquente e a delinquência, bem como, em geral, o surgimento das normas de
comportamento social e a conduta que as viola ou delas se desvia e o processo de reação
social. A Criminologia não se limita ao estudo do crime como realidade fenomênica,
cabendo-lhe, de forma mais ampla, o estudo da conduta desviante que constitui fato
social grave.
1
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte geral. 15 ed., Rio de Janeiro: Forense,
1995, p. 90.
2
“Nenhum homem livre será levado ou preso ou retirado ou posto fora da lei ou exilado ou de qualquer
maneira prejudicado, ou nós não iremos ou enviaremos contra ele, exceto em decorrência de um
julgamento justo por seus pares ou pela lei da terra” (HOLT, James Clarke. Magna Carta. 2 ed.,
Cambridge: Cambridge University Press, 1995, p. 460/461).
3
Em sentido contrário: “Devemos abandonar a tarefa, mais própria de antiquário que de historiador,
como diria Marc Bloch, de respingar em textos romanos alguma afinidade - ainda que sonora - com o
A limitação da autoridade do Estado frente ao indivíduo, após, foi desenvolvida
por Locke, Montesquieu e Rousseau. Cristalizou-se, de maneira definitiva, com o
surgimento do opúsculo de Beccaria, o clássico Dos delitos e das penas. Este autor, um
adepto das ideias rousseaunianas, exprimiu que somente a lei poderia determinar a pena
para a prática de crimes, afastando, por completo, que o juiz pudesse formar o direito
penal ou que as normas incriminadoras pudessem decorrer do costume.
O princípio da reserva legal foi cristalizado a partir das declarações (Bill of
Rights) e das constituições das colônias inglesas na América do Norte, em fins do século
XVIII. Na declaração de independência chegou-se a afirmar que “o rei havia tornado
os juízes dependentes exclusivamente de sua vontade”4. A efetiva proibição de leis ex
post facto surgiu em 1776, com a Declaração de Direitos da Virgínia e com a
Constituição de Maryland, embora a o Congresso da Filadélfia já houvesse incluído o
princípio da legalidade entre os direitos fundamentais do homem. Já a Constituição
americana (1787) estabeleceu a proibição da existência de tais normas, além de vedar a
decretação de proscrição (bill of attainder), em seu art. 1º, secção 9, obrigação que foi
imposta aos estados pela secção 10 do mesmo artigo.
A partir daí tal noção se difundiu pelo mundo. Na Europa, surgiu com o Código
Penal austríaco de 1787, de José II, a chamada legislação Josefina. Após, célebre
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, na França revolucionária,
em seu artigo VIII, determinava que ninguém fosse punido senão por força de uma lei
estabelecida e promulgada anteriormente ao crime5. Logo a seguir, na Constituição
francesa de 1793, o legislador constituinte foi ainda mais enérgico e determinou que
não somente ninguém será punido salvo em virtude de uma lei anterior ao fato, como
qualificou de criminoso o efeito retroativo da lei penal em desfavor do réu6.
Em 1794, o Código Penal prussiano incorporou o princípio, bem como o Código
Penal da Baviera de 1813, este redigido por Paul Johann Anselm von Feuerbach (1775-
1833), que, além de ser considerado o fundador do moderno direito penal alemão,
cunhou a expressão latina que sintetiza a reserva legal: “nullum crimen nulla poena sige
lege”7. Afirmava também este autor que o princípio da reserva legal, além de sua base
política, atendia a um fundamento de ordem jurídico-penal. Sustentava que a ameaça
penal exercia uma coação psicológica que impediria a prática de crime. A justificativa
da punição decorria do fato de que alguém, embora conhecendo a ameaça, não deixasse
de praticar conduta proibida. Assim, a punibilidade de determinado fato estaria
diretamente condicionada à anterioridade de sua incriminação e da prévia cominação
princípio, ou de cismar sobre a passagem do artigo 39 da Magna Charta - que continha, segundo opinião
dominante, mera garantia processual restrita aos poucos ‘homens livres’ -, à procura de um antecedente”
(BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 3 ed., Rio de Janeiro: Revan, 1996, p.
65/66).
4
FRAGOSO, op. cit., p. 90.
5
“Ce principe a été exprimé par les lois révolutionnaires. Cést ainsi que la Déclaration des droits de
l’homme et du citoyen spécifie, dans le article 8: La loi ne doit établir que des peines évidemment et
strictement nécessaires: nul ne peut être puni qu’en vertu d’une loi établie et promulguée antérieurment
au délit et légalement appliquée” (BOUZAT, Pierre. Traité theorique et pratique de Droit Pénal, Paris:
Dalloz, 1951, p. 61).
6
“Plus énergique est encore la constitution du 24 juin 1793, lorsqu’elle déclare dans son art,. 14: ‘Nul ne
doit être jugé et puni qu’en vertu d’une loi promulguée antérieurment au delit; la loi qui punirait des
délits commis avant qu’elle existât serait une tyrannie; l’effet retroactif donné à cette loi, un crime”
(BOUZAT, op. cit. , p. 61).
7
Ressalte-se que: “Ao contrário do se difunde frequentemente, das obras de Feuerbach não consta a
fórmula ampla ‘nullum crimen nulla poena sine lege’; nelas se encontra, sim, uma articulação das
fórmulas ‘nulla poena sine lege’, ‘nullum crimen sine poena legali’ e ‘nulla poena (legalis) sine
crimine’” (BATISTA, op. cit., p. 66).
de pena, no texto de uma lei penal previamente publicada. Esta é a teoria da coação
psicológica, em que a lei prévia teria, pois, efeito inibidor8.
O princípio se universalizou desde então, sendo encontrado nos mais diversos
ordenamentos jurídicos ao redor no globo.
No Brasil, por exemplo, foi definido em todas as Constituições e em todos os
Códigos Penais. O Código Criminal de 1830, em seu art. 1.º, estabelecia que “não
haverá crime, ou delito (palavras sinônimas neste código), sem uma lei anterior, que o
qualifique”. E, no art. 33, que “nenhum crime será punido com penas que não estejam
estabelecidas para punir o crime no grau máximo, médio ou mínimo, salvo o caso em
que aos juízes se permitir arbítrio”.
O Código de 1890, em seu art. 1.º, assim dispunha: “Ninguém poderá ser punido
por fato que não tenha sido anteriormente qualificado crime, e nem com penas que não
estejam previamente estabelecidas. A interpretação extensiva, por analogia ou
paridade, não é admissível para qualificar crimes ou aplicar-lhes penas”. A
Constituição atual o prevê em seu art. 5.º, XXXIX, e o Código Penal de 1940, com a
Parte Geral de 1984, o incorpora no art. 1.º.
Pode-se mencionar que, ao longo do século XX, houve dois exemplos
paradigmáticos de admissão da ideia de analogia no direito penal, a saber, a lei alemã
de 1935 e a lei soviética de 1917.
Na primeira hipótese, o legislador nacional-socialista afirmou que seria possível
castigar segundo a ideia básica de uma lei penal e segundo o sentimento de um povo.
Dessa maneira, o 3º Reich alemão rejeitou essa conquista obtida a partir do Iluminismo,
como, aliás, o fez em relação ao Estado liberal como um todo. Esse dispositivo, que se
adequava às características totalitárias e repressivas do modelo hitlerista, foi
imediatamente declarado inaplicável pelos aliados já em 1945. Um ano após, foi
derrogado expressamente e substituído por uma nova versão do princípio da legalidade.
A Constituição alemã de 1949 adotou o referido princípio, utilizando o mesmo sentido
que se utilizara a Constituição de Weimar (1919). Na Alemanha, aliás, a reserva legal
foi reproduzida na Parte Geral do Código Penal de 1975.
Já na extinta União Soviética revolucionária, o princípio foi abolido em 1917,
no esteio da incessante oposição que aquele Estado fazia ao modelo liberal e às
conquistas desse modelo houveram atingido. Frise-se que essa noção foi utilizada
durante o período de maior repressão, o de Stálin. A legalidade foi, no entanto,
restabelecida em 1958 e reproduzida em todos os Estados socialistas de então9.
O princípio da reserva legal encontra, hodiernamente, quatro fundamentos para
a sua existência: o liberalismo político; a democracia e a divisão de poderes; a
prevenção geral e o princípio da culpabilidade.
O princípio é consequência direta da formação do próprio Estado
contemporâneo, dada a exigência de vinculação entre os poderes executivo e judiciário
e as leis em abstrato formuladas. Em que pesem as mudanças contemporâneas no
Estado, muito da justificativa da legalidade ainda remonta a esse fundamento. Assim,
se pode entender que o fim do princípio da legalidade é a ideia de proteção da confiança
e da previsibilidade do direito penal, assim como que se evitem decisões decorrentes da
emoção. Ademais, a vinculação do poder punitivo estatal a uma lei abstrata, pretende,
por si só, proteger a liberdade individual do arbítrio estatal, o que sintetizam as
finalidades da proibição da analogia e da indeterminação da norma penal.
8
BACIGALUPO, Enrique. Principios de derecho penal: parte general. 5 ed., Madri: Akal, 1998, p. 55.
9
Iden, ibidem.
Um outro fundamento é o da tripartição de poderes, já que nessa estrutura, que
se expressa por meio da reserva legal, o juiz não deve criar o direito penal - atributo do
parlamento -, mas, sim, aplicá-lo, e o Poder Executivo não terá ingerência quanto à
punição, o que impedirá qualquer abuso nesse sentido.
Por fim, a ideia de que o princípio da culpabilidade é vulnerado se não houver
reserva legal, pois não se deve falar em agente culpável se o indivíduo sabia ou tivera
a possibilidade de verificar que o seu comportamento era passível de reprovação penal.
Essa verificação tem, pois, que ser feita antes da prática delitiva e, assim, a reprovação
tem, necessariamente, que ser anterior.
Deve-se ainda reiterar que no direito penal, onde o fundamental em jogo é a
imunidade do cidadão frente a proibições e a castigos arbitrários, os seus conteúdos
materiais se concretizam na taxatividade dos delitos. Em outros setores do
ordenamento, os direitos fundamentais objeto de tutela são diversos, mas também eles,
quando garantidos constitucionalmente, se tornam vínculos de validade para a
legalidade ordinária, ou legalidade estrita. Em todos os casos, pode-se dizer que a mera
legalidade coincide com a legitimação formal, enquanto a estrita legalidade, ao
subordinar todos os atos, inclusive a lei, aos conteúdos dos direitos fundamentais,
coincide com a legitimidade material. Significa dizer que a legalidade é essencial para
o próprio Estado democrático de direito e, por isso, dogma que não deve ser afastado
sob qualquer hipótese10.
a) as proibições da analogia (nullum crimen, nulla poena sine lege strticta) - exclui-se
a possibilidade de aplicação analógica das normas que definem crimes e estabelecem
sanções ou medidas de segurança, para abranger casos por elas não expressamente
contemplados.
c) da retroatividade da lei penal (nullum crimen, nulla poena sine lege praevia) – tal
proibição se refere a todas as características do fato, no conjunto de todas as normas
jurídicas que o qualificam e estabelecem consequências para o mesmo. Assim sendo,
uma alteração mais gravosa de dispositivos da lei penal não pode gerar à aplicação com
efeito retroativo. Ressalte-se, todavia, que a proibição da retroatividade somente se
refere à lei e não às alterações da jurisprudência dos tribunais.
10
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Teoria del garantismo penal. 5 ed., Madri: Trotta, 2001, p. 857.
conduta, pois entrega, em última análise, a identificação do fato punível fica ao arbítrio
do julgador.
3.1. Irretroatividade das leis penais e a retroatividade da lei penal mais benigna.
a) Novatio legis incriminadora - a lei posterior incrimina fato que era antecedentemente
lícito;
b) Abolitio criminis - a lei posterior deixa de considerar ilícito penal fato incriminado
pela lei anterior;
c) Novatio legis in mellius - a lei posterior, sem suprimir a incriminação do fato,
beneficia o agente, quer cominando pena menos rigorosa, quer de qualquer outro modo
tornando menos grave a situação do réu;
d) Novatio legis in pejus - a lei posterior, mantendo a incriminação do fato, torna mais
grave a situação do réu.
Para que se possa determinar se houve ou não conflito de leis no tempo, afigura-
se fundamental determinar o momento em que o crime é cometido. Antes, porém, deve-
se assinalar que cometer um crime significa praticar qualquer ato de execução ou de
participação na ação delituosa. É ato de execução aquele que inicia a violação da
norma, com o ataque ao bem jurídico tutelado. Cometer um crime não significa
consumá-lo. Para determinação do tempo crime, diferentes critérios podem ser
adotados. Pode ser considerado o momento em que se desenvolve a ação (teoria da
ação), o momento em que sobrevém o resultado ou que o consuma (teoria do resultado),
ou ambos (teoria da ubiquidade). No Brasil, foi adotada a primeira dessas teorias, por
meio do art. 4.º, CP.
Não há regras especiais para atender à hipótese de ações que configurem crimes
permanentes e continuados, havendo sucessão de leis penais. No crime permanente, a
ação se protrai, com a permanência do resultado antijurídico (ex.: sequestro, art. 148,
CP). Neste caso aplica-se a lei nova, pois sob seu império continuou sendo praticada a
ação. A solução é a mesma para o crime continuado (art. 71, CP), e para o crime
habitual. Em nenhum caso, porém, serão considerados os atos praticados na vigência
da lei anterior.
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço - são os crimes que o CP
prevê no Título XI, Capítulo I, da Parte Especial. Serão, por exemplo, os casos de
peculato, corrupção ou prevaricação, praticados por funcionários públicos, a serviço no
exterior;
a) crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir (art. 7.º, II, a,
CP) - são os crimes que têm sido objeto de convenções e tratados internacionais, que
ultrapassam as fronteiras de um só país e afetam a comunidade internacional de nações,
tais como a pirataria e o tráfico de mulheres. Aqui, aplica-se o princípio da
universalidade;
b) crimes praticados por brasileiros no estrangeiro (art. 7.º, II, b, CP) - é acolhido
limitadamente o princípio da personalidade e é consequência da norma constitucional
que impede a extradição de nacionais (art. 5.º, LI, CF), pois como o Brasil não entrega
o brasileiro que outro Estado reclama, vê-se obrigado a puni-lo no país por crime
praticado no estrangeiro. Tanto faz que seja o agente brasileiro nato ou naturalizado,
desde que a naturalização haja ocorrido antes da prática do crime;
d) crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7.º, § 3.º, CP)
– aplica o princípio da personalidade passiva, já que Estado tem o dever de proteger
seus cidadãos.
1. Teoria do crime
2. O ilícito penal
3. Conceito de crime
a) Conceito formal - crime é toda ação ou omissão proibida pela lei, sob ameaça de
pena;
b) Conceito material - crime é um desvalor da vida social, ou seja, uma ação ou omissão
que se proíbe e se procura evitar, ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano
ou perigo) a um bem, ou a um valor da vida social. Crime é, assim, numa definição
material, a ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com
valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de
pena. Tal conceito acabou fracassando e, por isso, pode-se afirmar que não existe um
conceito naturalístico, sociológico ou criminoíógico de delito, independente da
previsão legal. Crime é necessariamente conceito normativo, ou seja, é infração a
proibição ou o mandado estipulado pelo legislador sob ameaça de pena.
4. Teorias da ação
4.1. Noção
Inexiste ação se o agente atua sem consciência e vontade. Não há, pois, ação,
no caso de coação física irresistível (ex.: obrigar alguém, mediante força física
irresistível, a vibrar o golpe); no caso de ação em completa inconsciência (como no
caso de sonambulismo ou hipnose) e, ainda, nos atos reflexos que consistem numa
reação motora (muscular) ou secretória (glandular), que responde automaticamente a
uma excitação sensitiva (ex.: a tosse, o espirro, o rubor e a palidez emocionais). Não
deixam de ser ação, no entanto, os movimentos impulsivos ou instintivos, das chamadas
ações em curto-circuito, e os movimentos habituais ou mecânicos (resultantes de
prolongada repetição dos mesmos movimentos), pois são suscetíveis de dominação
finalística, integrando-se em atividade dirigida a um fim.
5. Teoria do tipo
5.1. Conceito
Nos crimes comissivos dolosos, o tipo descreve ação em que há vontade dirigida
ao fato que consuma o delito. O tipo objetivo, correspondendo ao aspecto objetivo ou
exterior da ação, tem nesta o seu núcleo fundamental.
Pode o tipo construir-se apenas com base na ação (crimes formais) ou pode
referir-se a certo resultado exterior que à ação se ligue por relação de causalidade
(crimes materiais). Nos crimes formais (também chamados de simples atividade ou de
consumação antecipada), o fato punível consuma-se apenas com a prática da ação; nos
crimes materiais, consuma-se com a superveniência do resultado, que também se chama
evento.
O comportamento proibido descreve-se com um verbo, que corresponde à ação.
A ilicitude penal, no entanto, raramente aparece com uma simples ação. Geralmente,
surgem no tipo referências ao sujeito ativo, à vítima, à modalidade da ação ou ao meio,
tempo ou lugar etc. Isso significa que a ofensa ao bem jurídico tutelado ou o desvalor
da ação se apresentam ou são condicionados pelo concurso de tais elementos, que são
constitutivos da infração. A tipicidade exige sempre a exata realização de todos os
elementos da conduta típica, sejam objetivos ou subjetivos.
O CP define o que se deve entender por dolo, ao estabelecer que o crime é doloso
“quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”(art. 18, I).
Dolo é a consciência e vontade na realização da conduta típica. Compreende
um elemento cognitivo (conhecimento do fato que constitui a ação típica) e um
elemento volitivo (vontade de realizá-la).
O próprio CP estabelece duas modalidades de dolo: direto e eventual.
O dolo direto se subdivide em dolo direto de primeiro grau e dolo direto de
segundo grau.
Há dolo direto de primeiro grau quando o agente se propõe a realização da
conduta típica. O dolo aqui se confunde com a intenção. A vontade se dirige à
realização do fato que configura o delito.
A dúvida quanto a possibilidade de alcançar o resultado é irrelevante. Assim,
não deixa de haver dolo direto se o agente alveja a vítima sem saber se conseguirá
atingi-la.
Há dolo direto também em relação ao meio e ao resultado que necessariamente
estão ligados à realização da conduta típica, mesmo que não sejam desejados pelo
agente. Se este sabe que a ação necessariamente acarreta resultado concomitante, e não
obstante a pratica, quer, por certo, também, esse resultado, embora o lamente. É o caso
de quem, visando eliminar seu inimigo, coloca engenho explosivo no avião que o
transporta, sabendo que o mecanismo será acionado durante o vôo. É o dolo de
consequências necessárias.
Por sua vez, no dolo direto de segundo grau, o querer liga-se com outra
finalidade, porém abrange os efeitos colaterais necessários do fim proposto ou do meio
escolhido, efeitos estes representados no momento psicológico do dolo.
Haverá essa modalidade de dolo direto no caso, por exemplo, do agente que
coloca uma bomba em um avião a ser explodida, em pleno voo, com o propósito de se
vingar da companhia aérea que o demitira –, o fim proposto (vantagem ilícita em
prejuízo da companhia de seguros) e os meios escolhidos (explosão do avião), são
abrangidos imediatamente, pela vontade consciente do agente. Já os efeitos colaterais
necessários (mortes e lesões de membros da tripulação e de passageiros) em face da
natureza do fim proposto ou dos meios empregados são abrangidos mediatamente, pela
vontade consciente do agente, mas sua produção necessária os situa, também, como
objetos de dolo direto.11
Já dolo eventual surge quando o agente assume o risco de produzir o resultado
(CP, 18, I, in fine).
Assumir o risco significa prever o resultado como provável ou possível e aceitar
ou consentir sua superveniência. O dolo eventual aproxima-se da culpa consciente e
dela se distingue porque nesta o agente, embora prevendo o resultado como possível ou
provável, não o aceita nem consente. Não basta, portanto, a dúvida, ou seja, a incerteza
a respeito de certo evento, sem implicação de natureza volitiva. O dolo eventual põe-
se na perspectiva da vontade, e não da representação, pois esta última pode conduzir
também a culpa consciente.
Deve-se a Frank a formulação de um princípio chamado de teoria positiva do
consentimento, que é útil, como critério prático, para identificar o dolo eventual.
Segundo tal princípio, há dolo eventual quando o agente diz a si mesmo: “seja assim ou
de outra maneira, suceda isto ou aquilo, em qualquer caso, agirei”. Revela-se, assim, a
indiferença do agente em relação ao resultado.
Nossa lei equipara o dolo direto ao dolo eventual. Na aplicação da pena, todavia,
a lei manda que o juiz atenda à culpabilidade do agente (art. 59, CP), ou seja, à maior
ou menor reprovabilidade da conduta delituosa. O elemento essencial do juízo de
reprovação é o conteúdo psicológico da ação ou da omissão. O dolo direto revela maior
determinação e perversidade e é, pois, modalidade mais grave da conduta típica que o
dolo eventual.
11
SANTOS, Juarez Cirino. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 138.
antijuridicidade do crime culposo, além de supor que a essência da culpa (negligência)
estivesse num elemento psicológico.
A concepção clássica da doutrina do Direito Penal reduzia o crime culposo a
uma forma da culpabilidade, representada pela negligência, imprudência ou imperícia
da causação do resultado, que constituiria, como nos correspondentes crimes dolosos,
a conduta típica. O dolo e a culpa stricto sensu são, no entanto, inteiramente diversos.
Dolo é fenômeno psicológico, ao passo que a culpa stricto sensu só tem existência no
plano normativo.
Entre a ação ou omissão provocadora do resultado e a culpabilidade faltava um
momento essencial, que era o da omissão de cuidado externo, sem a qual não era
possível fundamentar a antijuridicidade do crime culposo. Quando se verificou que a
ação, nos crimes culposos, só era antijurídica na medida em que violava o cuidado
exigido no âmbito da vida de relação, demonstrou-se que o elemento decisivo da
ilicitude do fato culposo reside no desvalor da ação e não do resultado. Isso permitiu a
elaboração da estrutura do crime culposo.
O Código Penal vigente limita-se a dizer que o crime é culposo quando o agente
deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia (artigo 18, inciso II,
CP). A lei não define o que se deve entender por crime culposo. Há crime culposo
quando o agente, violando o cuidado, a atenção ou a diligência a que estava adstrito,
causa o resultado que podia prever, ou que previu, supondo, no entanto, levianamente,
que não ocorreria.
a) Conduta lícita;
b) Previsibilidade;
c) Inobservância das normas de atenção, cuidado ou diligência;
d) Resultado.
Na hipótese de dolo, é típica qualquer ação idônea (ou seja, com potencialidade
causal) por meio da qual o agente causa o resultado, realizando a conduta proibida.
Nesse caso, o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo.
No caso de culpa, no entanto, a vontade é dirigida a outros fins. Não obstante,
o agente causa o resultado porque atuou sem observar as normas de atenção, cuidado
ou diligência impostas pela vida de relação, tendo-se em vista as circunstâncias do fato
concreto. Tais normas são fixadas de modo objetivo e geral, ou seja, segundo os
padrões médios gerais vigentes no meio social, constituindo o cuidado objetivo
exigível.
A ação que desatenda ao cuidado e à atenção adequados, nas circunstâncias em
que o fato ocorreu, provocando o resultado, é típica, embora trata-se de conduta, em
tese, lícita, que somente adquire status de ilícita por conta do resultado que deu causa.
Ademais, é exigível o cuidado objetivo quando o resultado era previsível para
uma pessoa razoável e prudente, nas condições em que o agente atuou (previsibilidade
objetiva). Daí não surge a culpa nos crimes culposos, pois esta está em função da
reprovabilidade pessoal do comportamento
Para estabelecer a antijuridicidade, é necessária a previsibilidade objetiva do
resultado, ou seja, a possibilidade de previsão para uma pessoa razoável e prudente
(homo medius). Todavia, para estabelecer a culpa, ou seja, reprovabilidade pessoal, é
necessária a previsibilidade para o agente, nas circunstâncias concretas em que atuou e
tendo-se em vista suas condições pessoais (previsibilidade subjetiva). A previsibilidade
objetiva, todavia, é o limite mínimo da ilicitude nos crimes culposos.
A identificação da conduta típica e da ilicitude, requer a análise do cuidado
objetivo exigível nas circunstâncias em que o fato ocorreu, porque a tipicidade resultará
da comparação entre a conduta do agente e a que cumpria observar para atender a tal
cuidado.
A lei vigente refere-se a “imprudência, negligência ou imperícia” (CP, artigo
18, II), que constituem fórmulas gerais de inobservância do cuidado exigível e são
conhecidas como modalidades da culpa. Imprudência é a falta de prudência, de cautela,
de precaução, ou seja, a conduta arriscada; negligência é forma omissiva: desatenção,
desleixo, descuido; imperícia é a falta de aptidão técnica, de habilidade ou destreza, no
exercício de qualquer atividade.
Saber qual era o cuidado exigível, dependerá de meticulosa consideração das
circunstâncias. Ele se mede pelas consequências geralmente previsíveis da ação,
excluindo-se, por isso mesmo, do âmbito dos crimes culposos, os resultados anormais.
O resultado, por sua vez, corresponde à lesão do bem jurídico e tem de estar em
relação de causalidade com ação ou omissão contrária ao dever de cuidado. Se assim
não for, o fato não pode ser imputado ao agente.
A efetiva previsão do resultado (sem aceitar o risco de produzi-lo) dará lugar à
culpa consciente (ou culpa com previsão). Se o agente não previu o resultado que podia
(e devia) prever, a culpa será inconsciente. Essa distinção, em princípio, é irrelevante,
embora alguns autores afirmem que a culpa consciente é mais grave que a inconsciente.
Na culpa inconsciente não há qualquer relação psicológica entre o agente e o resultado
tendo sido este um dos obstáculos intransponíveis da velha teoria psicológica da
culpabilidade. Culpa consciente e culpa inconsciente são as chamadas espécies da
culpa.
São comissivos os crimes que se praticam por meio de ação. Em tais crimes, a
conduta delituosa viola norma que proíbe determinada atividade. Crimes omissivos são
aqueles em que se viola norma que impõe comportamento ativo, com abstenção da
atividade devida. Consistem em não fazer o que a lei manda.
Ressalte-se que a norma penal ora se apresenta sob forma de proibição, ora como
ordem ou comando de agir. No primeiro caso, a norma impõe abstenção de atividade
e se transgride por meio de ação (crimes comissivos). No segundo, a norma impõe
comportamento ativo e se transgride por meio da abstenção da atividade devida (crimes
omissivos).
Os crimes comissivos também podem ser praticados por omissão (crimes
comissivos por omissão). Em tais casos, o agente viola norma implícita existente junto
à norma proibitiva, que lhe impõe (tendo-se em conta a situação em que se acha) o
dever jurídico de ativar-se, impedindo o resultado.
Assim, a omissão dá lugar a duas espécies de crimes omissivos: 1 — Crime
omissivos próprios (ou puros), nos quais a omissão consiste na transgressão pura e
simples de um comando, que estabelece um dever de agir (ex.: omissão de socorro,
artigo 135, CP); 2 — Crimes comissivos por omissão, nos quais a omissão consiste na
transgressão de um dever jurídico de impedir o resultado que configura o fato punível
(ex.: tendo trancado, por inadvertência, seu inimigo, em determinado recinto, o agente
deixa intencionalmente de libertá-lo, abrindo a porta. Pratica, por omissão, o crime de
sequestro, artigo 148, CP)
8.2. Omissão
9. Ilicitude
9.1. Conceito
Os dois primeiros grupos estão previstos na lei penal e, por isso, são
denominados causas legais de justificação. Já o terceiro é conhecido como causa
supralegal de justificação.
Não é antijurídica a ação praticada no exercício regular de direito (CP, art. 23,
III), pois é inconcebível que o ordenamento jurídico, por um lado, confira um direito,
e, pelo outro, torne ilícita a ação que corresponde ao exercício de tal direito. A ilicitude,
no caso, somente pode surgir se o agente excede os limites fixados pela lei para o
exercício do direito, ou seja, por meio do abuso. É indispensável que o agente tenha
consciência de que atua no exercício de um direito. O excesso, doloso ou culposo, é
punível.
Os casos de intervenção cirúrgica são, em geral, resolvidos como exercício
regular de direito. Todavia, mais correto será reconhecer a inexistência de ilicitude nas
intervenções cirúrgicas praticadas segundo as leges artis, por sua evidente adequação
social, qualquer que seja o resultado. Serão, evidentemente, ilícitas e criminosas as
intervenções cirúrgicas em que houver culpa stricto sensu (negligência ou imperícia).
Constituem, igualmente, exercício de direito as hipóteses de dano à integridade
corporal resultante de esportes violentos. Esses esportes são regulamentados pelo
Estado, e se realizam para atender a fins socialmente úteis e valiosos (pro virtute). A
ilicitude surge, aqui também, com o abuso, representado pela transgressão das regras
do jogo.
9.8. Ofendículos
10. Culpabilidade
10.6. Embriaguez
Na coação física irresistível, como vimos, inexiste, ação, pois não há atuação da
vontade. Na coação moral irresistível existe ação, pois o coacto também atua
voluntariamente (coactus tamen voluit). Neste caso, portanto, subsiste o dolo.
A culpabilidade, no entanto, se exclui, pois não é exigível conduta diversa de
quem atua rigorosamente em situação de necessidade (art. 22, CP).
A coação moral irresistível resulta da ameaça ou da intimidação, expressa ou
tácita, ou seja, da revelação do propósito de causar um mal futuro, cuja superveniência
dependerá da vontade do agente. Pode também a coação moral resultar da violência já
empregada, em conjunto com a ameaça de que prossiga. A gravidade da ameaça
relaciona-se com o mal, que deve ser relevante e considerável, tendo-se em vista as
condições peculiares à pessoa ameaçada.
Se a coação era resistível, haverá apenas circunstância atenuante (art. 65, III, c,
CP).
Aqui, o agente supõe agir licitamente porque imagina, por erro, existir situação
de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Ex.: o agente, supondo-se na
iminência de ser agredido por seu inimigo (que antes tirava do bolso a carteira de notas),
alveja-o, matando-o (legítima defesa putativa). Neste caso também subsiste o dolo.
Existe discussão doutrinária acerca de as descriminantes putativas serem
consideradas como erro de tipo ou erro de proibição. Tem-se firmado entendimento no
sentido de que, nessa hipótese, o erro é de proibição, e não de tipo. A intenção dos que
elaboraram o CP vigente parece ter sido a de considerar as descriminantes putativas
como espécie de erro do tipo, pois elas estão previstas no parágrafo 1.° do artigo 20: “É
isento de pena quem, por erro plenamente justificável pelas circunstâncias, supõe
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”.
O agente erra sobre a ilicitude de seu comportamento, sabendo perfeitamente
que realiza a conduta típica, tanto do ponto de vista objetivo como subjetivo. O agente
aqui sabe o que faz, mas supõe erroneamente que estaria permitido. Exclui-se não a
tipicidade, mas sim a reprovabilidade da ação.
A consequência do erro de proibição neste caso, se era escusável, a exclusão da
culpabilidade. O erro é escusável quando não deriva de culpa.
Se o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo, seguem-se as
mesmas consequências jurídicas previstas para o erro de tipo. Se o erro era inescusável,
o agente responde pelo fato a título de culpa (art. 20, § 1.°, CP), respondendo pelo crime
o terceiro que determina o erro, se for o caso (art. 20, § 2.°, CP).
Dispõe o art. 20, § 3.º, CP: “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é
praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades
da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”. Significa
dizer que haverá o chamado erro sobre a pessoa (erro in persona) sempre que houver
falsa representação da realidade e o agente praticar crime contra uma vítima
determinada, imaginando, todavia, que fosse outra.
Assim, se Tício alveja Caio supondo, erroneamente, que se trata de seu inimigo
Mévio, responderá por homicídio, sendo irrelevante o erro, que é acidental. Se Mévio
fosse ascendente ou irmão de Tício, aplicável seria a agravante prevista no art. 61, II,
e, CP.
Com os mesmos critérios do erro acidental resolve-se a hipótese de erro na
execução (aberratio ictus). Em tal caso, o agente, por acidente ou erro no uso dos meios
de execução, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa.
Segundo dispõe o art. 73, CP, responderá o agente como se tivesse atingido a pessoa
visada, aplicando-se a mesma regra prevista no art. 20, § 3.º, segunda parte. Se, no
entanto, atingir também a pessoa visada, haverá concurso formal de crimes (art. 70,
CP).
Por outro lado, pode o agente ter sido induzido em erro por outrem que
responderá pelo crime (art. 20, § 2.º, CP). Ex.: Tício, querendo matar seu inimigo Caio,
entrega a Mévio arma de fogo, informando erroneamente que está descarregada, e
levando-o a atirar sobre a vítima, “para assustá-la”. Caio, atingido, vem a morrer.
Responde Tício por homicídio doloso. Mévio, que agiu de boa-fé, supondo por erro que
a arma estava descarregada, responde por homicídio culposo, pois deveria ter-se
certificado de que não havia perigo na suposta brincadeira. O seu erro foi inescusável.
O artigo 16, CP, dispõe: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça
à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”. É uma
espécie peculiar de arrependimento, que ocorre após o momento consumativo do crime,
determinada por medida de política criminal.
Sempre se considerou importante a reparação do dano por parte do delinquente,
procurando estimulá-la, na suspensão condicional da pena (art. 78, § 2.°, CP), no
livramento condicional (art. 83, IV, CP) e na suspensão condicional do processo. O
crime torna certa a obrigação de indenizar integralmente o dano causado (art. 91, I, CP).
Concede a lei redução da pena (de um a dois terços), se ocorrem as seguinte
condições:
a) crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa;
b) reparação do dano ou restituição da coisa;
c) ressarcimento realizado em qualquer momento, porém antes do recebimento da
denúncia ou da queixa.
O favor legal se aplica a qualquer espécie de crime. A única condição é que o
crime não tenha sido praticado com violência à pessoa ou grave ameaça. A violência à
pessoa está implícita em crimes contra a pessoa, como o homicídio, lesões corporais e
a rixa. Em outros casos, encontramos na lei referência expressa à violência ou grave
ameaça, como meio de realização da conduta típica (exs: constrangimento ilegal, art.
146; roubo, art. 157; extorsão, art. 158; esbulho possessório, art. 161, II etc.).
O dano, cuja reparação o agente deve realizar, será em regra patrimonial. Mas
pode também ser não-patrimonial. O dano patrimonial consiste numa diminuição direta
ou indireta do patrimônio da pessoa atingida pelo crime. Dano não-patrimonial é o
“prejuízo causado diretamente à pessoa, sem atingir, imediatamente ou mediatamente
o patrimônio desta, ou a pessoa mesmo, em sua capacidade produtiva”. O dano não
patrimonial só pode ser reparado por uma indenização em dinheiro, que
verdadeiramente não extingue o chamado dano moral, que, por sua própria natureza, é
insuscetível de uma precisa apreciação em valores materiais. No ressarcimento do dano
não-patrimonial realiza-se uma satisfação ao lesado, dando-lhe uma compensação em
dinheiro que é um sub-rogado do dano sofrido.
A reparação do dano deve ocorrer, para que se conceda o favor legal, antes do
recebimento da denúncia ou da queixa. Isso significa que a simples apresentação da
denúncia ou da queixa não é bastante para impedir a concessão do benefício. O termo
limite para realizar a reparação do dano e obter a redução da pena é o início da ação
penal que se dá com a decisão do juiz recebendo a denúncia ou a queixa.
O ressarcimento não precisa ser espontâneo, basta que seja voluntário.