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- ee 7d Digitalizagao. PAISAGEO #5 aes : Es “ae fs Imprensa L CUE a Ce Sn « de ® + GENESE DO RELEVO NORDESTINO: ESTADO ATUAL DOS CONHECIMENTOS GENESE DO RELEVO NORDESTINO: ESTADO ATUAL DOS CONHECIMENTOS GiBerTo Osério DE ANDRADE 0 Nordeste do Brasil aqui considerado é aquela, dentre as cinco grandes regides naturais do pais, que abrange os Estados do Maranhdo, Piaui, Ceard, Rio Grande do Norte, Paraiba, Per- nambuco, ‘Alagoas Sergipe e a porcdo do Estado da Bahia ao norte do paralelo de Salvador, totalizando cérca de 12% do territério brasileiro. O Maranhdo e o Piaui — conjunto também chamado “Meio Norte” porisso que ecolégicamente é uma 4rea de transigaéo entre o Nordeste e a “regidéo Norte”, ou “Amazonica” — cor- respondem praticamente ambos & baci iba, bacia se- dimentar neopaleozéico-mesozéica (Devoniano-Cretéceo), ao passo que todos os demais Estados ocupam 0 niicleo nordestino (AB’SABER, 1955:120) ee melhor individualizados do embasamento precambriano sula- mericano. Nésse nucleo gndsissico-granitico, aclas intracra- ‘nicas muitas vézes associadas a fossas-foram preenchidas por “uma sedimentagdo particularmente abundante e extensiva_du- rante o Cretéceo. No que interessa 4 morfologia atu: atual, suas res representagdes modelam-se nas sequéncias Apodi, Ara- oes também na conhecida como “série Jatob4-formagao.Cice- _zo Dantas”. Os sedimentos do grupo Aj sfo em mas principalmenté e-file a inl 2 GitBertTo Osorio DE ANDRADE céncavo, mas ALMEIDA (1966:92) assinala que uma soleira precambriana claramente as separa. A sedimentagéo meso. z6ica {éz-se, alias, extensiva sdbre depésitos neopaleozsicos de bacia do Parnaiba, cuja porgdo setentrional jaz quase toda re. coberta pelo cretacico. No niicleo nordestino todos ésses depésitos cretacicos adap- taram-se a_dobramentos de contornos muito sinuosos, lineamen- tos estruturais cuja complicagao foi posta em evidéncia recen. temente por KEGEL (1965): blocos-oregénicos muito variados em consequéncia da forte curvatura das virgagées das principais linhas direcionais do embasamento metamérfico, segundo sete ou mais diregées de dobramentos de fundo. Morfoldgicamen- te assinalados ja treze anos atrés por RUELLAN (1952), alguns désses dobramentos foram, segundo téda a evidéncia, modesta- mente yeativados durante o Cenozdico (ANDRADE & CALDAS LINS, 1965:18-19 e n. 3). Foi DRESCH (1957) quem primeiro acentuou ser o re- lévo do Nordeste extenstvamente caracterizado por superficies de erosdo escalonadas. No micleo precambriano ésse relévo esta ~constitutdo-por formas residuais salientes sdbre dois sucessivos pediplanos_(Pd2 e Pd:) e ainda sdbre o consideravel nivel de erosao resultante da fase de pedimentagéo (P2) imediatamente posterior ao Pdi: inselberge, i irge, pequenos e grandes macicos _residuais e cristas_também residuais. O “planalto” da Borborema, uma das principais unidades morfolégicas mais comumente referidas na descrigéo do relévo nordestino, é o agru- pamento de macicos residuais dos quais derivam os rios conse- “quenies mais longos da costa oriental; alguns autores conside- ram-no confinado ao Estado da Paraiba, outros incluem na mesma unidade os vizinhos macigos de Pernambuco. Como quer que seja, o “planalto” da Borborema nada mais é do ‘ saldo de superficie antigas iplano mais recente, o (Pz), que rebaixaram perifér todos os quadrantes. Os i Estados da Paraiba ( puiende) sio, porém, _ Ya alguns aparegam a; a GénesE po RELEvo Norpestivo 3 nhanga da costa oriental, sob a influéncia de recentes variagées climaticas para 0 tmido. Ne~bordo das bacias sedimentares, frentes de cuestas em parte obliteradas poem em destaque chapadas tabulares como a de Sao José (porgéo setentrional da bacia de Tucano) e a do _Araripe. A mais extensa frente de cuestas 6 a da serra Gran- de, ou serra da Ibiapaba, ao longo do limite entre o Ce Piaui, no flanco oriental da bacia do Parnaiba. No interior desta, a topografia é uma sucessio de cuestas grosseiramente paralelas, algumas das quais com proporgées de serras, outras como pequenos ressaltos cuestiformes. Mérros testemunhos se- dimentares ocorrem no interior das bacias entalhadas, como nas depressées periféricas i as circundam. Mau) Tado @sse_relévo foi modelado durante o Cenozéico. Gra- gas, em parte, a um tectonismo de reativagdo de dobramentos de fundo acompanhados de_fraturas e falhas, mas de modo geral acentuado pela sucessio dos pediplanos a que atribuimos, em nossos trabalhos de campo, as designagées de Pds, Pd2 e Pdi no interésse de simplificarmos ¢ uniformizarmos uma nomen- clatura até entio muito desigual (BIGARELLA & ANDRADE, 1964 e 1965). E acentuado também em considerdvel escala pela fase de pedimentagéo Ps ja mencionada (“nivel do Siriji”, de DEMANGEOT, 1959; “nivel de Paraguacu”, de KING, 1957). ‘A ocorréncia de superficies aplanadas no Nordeste ja vi- nhasendo assinalada desde AB’SABER (1953, 1955a e 1956) ¢ FEIO (1954), mas a= primeiras tentativas de sua individua- lizacdo por escalonamento féram ieitas em 1956, quando do XVIII Congresso Internacional de Geografia do Rio de Ja- neiro (DRESCH, BIROT, FENELON, 1957), e continuadas por AB’SABER (1956-57) e por ANDRADE (1958). Tra- falhando separadamente ao mesmo tempo no Brasil oriental, KING (1956) surpreendera também ali uma sucessiio de su- perficies de erosio embutidas, 0 que o levou a proclamar que o segredo da _geomorfologia brasileira esta na compreensio dum desenvolvimento ordenado por sucessivos ciclos de erosio (p. 149). ie ORS Ga GrtserTo Oséri0 DE ANDRADE. As exaltagées que por mais de uma vez deformaram o niicleo nordestino durante 0 Cenozéico ndo parecem ter pro- duzido efeitos de bombeamento tipico, como sugerem DEMAN- GEOT (1959) e outros autores. As maiores elevagées do cristalino coincidem sempre com intersecgdes de dobramentos reativados (ANDRADE & CALDAS LINS, 1936;6; BIGARELLA & ANDRADE, 1964:5), de modo que a intumescéncia regional nao tem propriamente o aspecto dum grande macigo démico (AB’SABER, 1956-7:71; 1965, passim), e sim duma estru- tura irregularmente amarrotada. * A maior parte das intersec- gées controladas por CZAJKA (1959) entre as diregdes estru- turais nordestinas correspondem, no cristalino, altitudes ligei- ramente superiores a 1.000m, Assim, o pico de Jabre e a -tegide do Triunfo (serra da Baixa Verde) ao longo da fron- teira Pernambuco-Paraiba, no divisor Pajeti-Piancé, Assim, também, a serra Per nas eabeceiras do rio Capibari- be, a oeste de Brejo da Madre de Deus, e 0 macigo de Gara- nhuns com a vizinha serra de/Sao José. As diregées cujas in- tersecgdes sGo verificadas por CZAJKA correspondem as di- regdes “Espinhago” (N-S), “Jacobina” (N. NE-S.SW), “Ama- zonica” (E-W) e “Brasileira” (NE-SW) da nomenclatura de KEGEL (1965:17). ‘Quando experimentou identificar as superficies somitais nordestinas, DRESCH tomou como referéncia a superficie in- fra-cretdcica, que lhe pareceu ter sido deformada ao mesmo tempo em que féra fossilizada pela cobertura sedimentar cre- tacica. Contudo nao se sentiu seguro, nem para afirmar que a superficie somital fésse em todos os casos a infra-cretacica, nem para recusar a possibilidade de ter 0 tectonismo voltado a funcionar no Cenozéico (DRESCH, 1957:53). Todavia DEMANGEOT (1960:158) nao vacilou em qualificar as su- perficies somitais do Nordeste como restos dum “peneplano pré-cretacico” exumado por erosao policiclica. Nos comegos dos seus estudos sobre superficies de erosao que, normalmente coincidindo com niveis de acumulagio de- senvolvidos ao térmo do processo, poderiam ser usadas como planos de referéncia para uma compreensio ao mesmo tempo morfoclimatica e estratigrafica do Cenozdico brasileiro, AN- Génese po Retevo Norpestino DRADE & CALDAS LINS (1963) ¢ BIGARELLA & ANDRA- DE (1964 e 1965) foram induzidos a considerar uma hipoté- tica superficie somical (Pds) cretacico-eocénica cujos remanes- ( centes no cristalino estariam nas altitudes superiores a 1.000m / indicadas atrés e cujos depésitos correlativos estariam as mes- mas altitudes no térmo da sedimentagao do topo da serra Negra, relévo tabular da bacia de Tucano a sudoeste de Ibimirim (Pe.), e na chapada de Sao José, na mesma bacia, ao norte de Buique. 5 Ao Pds nordestino, assim residual, corresponderiam no Brasil b meridional remanescentes do aplanamento também somital da regido das “serras de Sudeste” no Rio Grande do Sul ¢ a su- perficie Puruna dos velhos planaltos paranaenses (ANDRADE, BIGARELLA & CALDAS LINS, 1963:124). Posteriormente BIGARELLA, tendo interpretado a medi- ¢do de estratos cruzados por éle feita em 1964 nos arenitos cre- tacicos da chapada de Sao José, verificou que a direcao de transporte désse material se fizera para o norte, i.e., para fora da atual bacia de Tucano, de modo que o cristalino agora éxaltado do micleo nordestino nao fora a fonte daqueles sedi- mentos. Em suma, tectonismo pés-cretdcico, excluséo da hi- potese de serem os depésitos cretacicos correlativos da super- ficie de eroséo mais antiga e necessidade de considerar que um aplanamento cenozéico teria truncado o térmo da sedimentagdo mesozoica (BIGARELLA, MOUSINHO & SILVA, 1965:131). A confirmagao désse truncamento dependeria duma reviséo se- dimentologica ¢ estratigrafica dos depésitos que ora jazem a 1.000m de altitude e da probabilidade de se terem discordan- temente sobrepdsto a éles sedimentos cenozdicos. Provisdria- mente, contudo, o Pds nordestino, dantes considerado cretacico- eocénico, passa a ser referido ao Tercidrio médio. Segundo tédas as probabilidades a superficie de erosdo Pds era um pediplano, i. e., uma superficie de erosao desen- olvida sob condigées semi-dridas mediante coalescéncia de ntos, entendendo-se como pedimentos as vertentes con- secgdes inferiores inclinam-se levemente em dire- egues, bem como os niveis de erosio que se elabo- do rectio dessas vertentes embutindo-se nos vales, 'e sempre sob as mesmas condigGes semi-iridas. A a | | 6 GitBERTo OsérI0 DE ANDRADE topografia somital das jd mencionadas serras de Sao José (a noroeste de Garanhuns), do Jacararé e da Baixa Verde (esta na regido de Triunfo) manifesta efeitos de pediplanagao. , O Pads foi exaltado durante © Plioceno por dobramentos > \ de fundo, e essa deformagao definiu as linhas da atual drena- \, gem para a costa setentrional, para a oriental e para o rio Sao { Francisco, ao sul. Desenvolveu-se a partir de entéo um se- 7 gundo pediplano (Pdz) as custas do primeiro, cortando cha- | padas e cuestas sédimentares, 0 cristalino, depésitos cretacicos | da costa oriental ‘e setentrional, e abandonando na periferia atlintica os sedimentos’ correlativos, que sio a formacdo Gua- rarapes, parte inferior do grupo Barreiras. O modo por que a formacéo Guararapes foi depositada na periferia atlantica do Nordeste induziu ANDRADE (1955: 34), DRESCH (1957) e BIROT (1957) a configurarem uma deformagao do tipo flexura continental que, segundo BOUR- CART (1950), afeta geralmente os bordos dos continentes. Ja RUELLAN (1952) assinalara uma flexura da direcgdo “Bra- sileira” (SW-NE) ao longo de téda a costa oriental do pais, considerando ainda que os dobramentos dessa direcéo pare. cem os mais recentes na tecténica do escudo brasileiro. DRESCH e BIROT admitiram que essa deformagao teria ocorrido desde o Cretéceo, ou mesmo antes, tendo voltado a funcionar no Cenozéico. Segundo BOURCART, a linha axial da {le- xura 6 mével e pode se deslocar, no correr dos tempos, quer para o interior do continente (alargamento da zona subsidente), quer para o mar (alargamento da zona soerguida). Teria ‘ sido, entéo, na zona costeira subsidente alargada durante a reativagdo cenozéica que a acumulagio dos _depésitos correla- \ tivos da pediplanagio se efetuous, Na costa oriental do “Brasti-assinala TRICART (1959:304) que a evolugao do li- oO toral foi gondicionada por deformagées tectdnicas do tipo fle- he xura continenlal; KING (1956:152) descreve efeitos seme- Thantes relacionados com o brusco desnivelamento dos baixos cursos fluviais na mesma costa. Em verdade, a flexura con- tinental teria voltado a funcionar mais uma vez no Pleistoceno, - como veremos adiante, deformando ja entéio o Pdi. Os remanescentes atuais do Pd: identificam-se, no Nor- Génesr po Retevo Norpestino - deste, num_nj -800m: 6 a “superficie infra-couraga”, ou “superficie de Teixeira”, de DRESCH, que a referiu ao Eoceno ou pelo menos ao Eogeno, e que nés a principio da- tivamos do Tercidrio médio (BIGARELLA & ANDRADE, 1965:439), mas que, no estado atual dos nossos conhecimen- tos, deve ser referida ao Plioceno, No esquema dos cinco ciclos de erosio de KING (1956), 0 Pd nordestino correspon- deria a primeira fase do penilti “ci ff é datado_do Tercidrio inferior. No esquema de BARBOSA (1959), que distinguiu provisdriamente doze superficies de erosio e de aplanamento no Brasil, 0 Pd2 corresponderia a “superficie plio-pleistocénica”. A couraga lateritica da serra de Teixeira repete-se no reverso da erosdo da cuesta da serra Grande, num nivel da ordem dos 750m. A pediplanagao pliocénica cortou igualmente o reverso das cuestas do Araripe e de Sao José; em nenhuma delas, com efeito, ha um reverso estrutural, mas um reverso de erosdo que corta obliquamente as camadas em mergulho e sobre o qual per- manecem remanescentes do Pds, muito rebaixados na serra Grande e no Araripe, porém ainda conspicuos (1.000m e mais) no topo da chapada de Sao José. Aliés a chapada do Araripe foi basculada no Tercidério (BEURLEN, 1936:39); sua porgao ocidental jaz sub-horizontalmente aplanada ao nivel do Pdz (700-800m) e a oriental levanta-se a pouco mais de 900 m. Mesmo na vertente oriental, porém, uma ombreira do Pde aparece escalonada, de sorte que o basculamento se tera produzido nao depois, mas durante a pediplanagao pliocénica. No cristalino, o Pdz esta muito bem representado no tépo aplanado da serra do Camara, onde os Estados do Ceara, Rio Grande do Norte e Paraiba sao limitrofes entre si, e de varias cristas igualmente aplanadas nos divisores diégua entre o Pa- jet e o Piancé e entre o Pajet e o Paraiba. Aparece também na serra do Ororobd ao norte de Pesqueira, no macigo de Ar- coverde e em téda a area circunjacente da serra de Sao José (Pds) na vizinhanga de Garanhuns. Em todos ésses remanes- centes do Pde alteiam-se formas residuais do Pds. No Esta- do do Rio Grande do Norte as serras do Martins, de Sao Joao lo Vale e de Santana de Matos, t6 sma_latitude_da 8 Gitperto Os6r10 DE ANDRADE serra do Camara, estéo capeadas por um depésito correlativo é a formagdo Serra do Martins, que MORAES (1924) chamou de “série Serra do Martins” e que é contempordnea da formacdo Guararapes. Ainda no Rio Grande do Norte ¢ na Paraiba, MORAES assinalou varias outras serras com o mesmo capeamento sedimentar em altitudes que também cor- respondem ao nivel do Pd». {A couraga lateritica de Teixeira foi deformada (DRESCH 1957:53) por um ndvo dobramento que acarretou o desenvol- vimento do Pdi. Esse pediplano_mais recente _e mais o nivel de eroséo Ps néle~entalhado constituem_o_elemento_topografico dominante, tanto na_periferia_costeira_como_no interior do nicleo nordestino e da bacia do Parnaiba) Nos altos cursos dos rios que descem do precambriano o Pdi penetra por entre os macigos residuais do Pd2, ora estreitando-se entre éles, ora alargando-se consideravelmente, enquanto que na periferia se acha dissecada até a costa pelo P: e pelos entalhamentos produzidos nos vales durante a mais recente fase de pedimen- tacéo (Pi). No Maranhdo e no Piaui o Pdi e o P2 remon- tam penetrantemente os rios que drenam a bacia do Parnaiba, deixando realcadas as cuestas interiores e os ressaltos cuesti- formes mencionados atrés. O Pdi eleva-se dos 40-60m na costa setentrional daqueles Estados até mais de 500m no alto curso dos rios Gurguéia e Canindé, formadores do Parnaiba, fazendo quase inaparentes os divisores dégua entre ésses rios t o Pd: desenvolvido ao longo do Sao Francisco e dos seus afluentes pernambucanos. Ainda na costa setentrional o Pd: cortou o reverso da cuesta do Apodi, onde foi depois enta- Thado generalizadamente pela subsequente fase de pedimen- tagdo (Pz). Na costa oriental do niicleo precambriano, o Pd: forma falésias de 40-60m ao longo do litoral e eleva-se para o inte- rior até pouco mais de 500m, segundo o plano da flexura con- tinental pleistocénica que veiu a deformé-lo, inclusive 4 custa de falhamentos concomitantes. Assim acontece nos altos cursos consequentes que fliem, no precambriano, quer para a costa setentrional, quer para a oriental, quer para o Sao Fran- cisco. Entre uma das bacias orientais, a do Ipojuca, e a de Génesr po RELEVo Norpestino um dos afluentes pernambucanos do Sao Francisco, o Ipanema, a eth resulta hoje quase inaparente entre Pesqueira e anharé. Ao longo do Sao Francisco, a montante do canyon de Paulo Afonso, o Pd: remonta o vale penetrantemente até o sudoeste da Bahia e até Minas Gerais. . O plano da flexura continental disposta paralelamente & costa oriental de Alagoas, Pernambuco e Paraiba — plano vigorosamente entalhado a partir do litoral pela fase de pe- dimentagio P2 — sdmente se define topograficamente depois de aleangado 0 tépo da dobra monoclinal. Isso induziu, a Principio, que se considerasse a zona soerguida do Pdi como uma superficie auténoma (“superficie de Gravaté”, “superfi- cie de Campina Grande”, v. g.), mas 0 certo é que as escarpas sdmente a separam do nivel de pedimentagao P2, sdbre o qual formas residuais do Pd: numerosamente se alteiam, inclusive como cristas orientadas E-W cujos tépos se elevam gradual- A mente para o interior. E, porém, no Rio Grande do Norte, no Ceara e no Piaui que o alastramento do nivel de erosio P2 se mostra particular- mente dilatado nas bacias hidrograficas setentrionais. Nes submetidas ainda atualmente a um severo regime de aguacei- ros convectivos concentrados numa curta estagdo e comanda- dos pelo deslocamento anual da Convergéncia Intertropical (vd. ANDRADE, 1964: 433 e 445), 0 nivel de eroso pés-Pdi é 0 elemento topografico dominante na paisagem e sobre éle 6 que se levantam os mais conspicuos inselberge e inselgebirge nordestinos. Uma das bacias em que ésse alastramento do p P2 se mostra mais extensivo é a do Piranhas, em cujos cursos teprmlo Sbaixo sertéo” de FEIO (1954:133), ou “superticie de Patos”, que AB’ SABER (1953 e 1956) e FENELON ©4957) ja’ atribuiam a uma morfogénese semisrida pés>plio cénica. Ao tempo em que nao tinha sido ainda destacada a for- magdo Guararapes como depésito correlativo do Pd2, as Bar- reiras eram, como um todo, datadas do Plioceno e considera- das como depésito correlativo do aplanamento mais recente, da “superficie baixa” de DRESCH (1957: 55s.), ou “su- 10 Grteerto Osér10 DE ANDRADE perficie Campina Grande” de BIROT (1957: 67s.), ou ainda “superficie pliocénica” de ANDRADE (1958). Ainda em 1964 BIGARELLA & ANDRADE atribuiam ao Pd: idade plio- pleistocénica; posteriormente, porém, numa tentativa de cor- relacionar a fase climatica semi la dessa extensa pedipla- __nagfo com a primeira glacia 40 do Quaternario (Nebraskan), acreditam ambos que o Pd: foi consumado no Pleistoceno in- ferior (BIGARELLA & ANDRADE, 1965:441). Correlacionamos as fases de pedimentagéo P2 e Ps, que com os segundo e terceiro ) e Illinoisan (Riss) — em muitos lugares so- dissecaram sucessivamente o Pdi, estigios glaciais — Kansan (Mindel de sorte que a formagéo Riacho Mérno, breposta a formagéo Guararapes, é 0 depésito correlativo dos niveis de erosdo desenvolvidos sob as condigdes semi-dridas reinantes no Nordeste durante as trés primeiras fases pleisto- cAnicas de baixa temperatura (BIGARELLA & ANDRADE, 1965:448). A formagdo Riacho Mérno esta, assim, consti- tuida também por pedimentos detriticos e por material retra- balhado da formacao Guararapes, inclusive através de proces- sos de coluvionamento, bem como por terragos fluviais acumu- lados durante as fases de pedimentagaéo. Na mais recente época semi-drida, correspondente___glaciagéo Wisconsin (Wiirm), repetiram-se nos vales, com menor duragdo, os pro- cessos de entulhamento ocorridos ao tempo do Pz e do Ps, de sorte que na subsequente passagem para a época timida (cos- teira) atual novos encaixamentos da drenagem se verificaram entalhando baixos terragos, promovendo o recobrimento colu- vial da parte inferior das vertentes e preenchendo os vales de fundo chato com os depésitos de varzeas atuais. Todos ésses processos tinham sido antes discriminados na costa meridional do Brasil, nos Estados de Santa Catarina, Parand e Rio de Janeiro, por BIGARELLA & MOUSINHO (1965:153s.) e fazem-se igualmente aparentes na costa nordestina, onde, to- davia, uma verificagdo sistematica ainda esta por fazer. Finalmente, ao longo do litoral ocorrem registos de va- riagées do nivel do mar, os melhores dos quais estéo confina- dos aos eventos pés-Wisconsin, tais como terragos de acumu- lagio, marinhos, de 1-2m (ANDRADE, 1956), de 4m e de GéNes— po RELEvo NorpEsTINo i 5-7m, e ainda falésias rejuvenescidas, estudrios afogados ¢ la- gunas costeiras 4 retaguarda de recifes de arenito (ANDRADE & CALDAS LINS, 1963:10). Sado tédas variagdes de sig- nos opostos, mas de saldo afinal negativo. REFERENCIAS “SA - - AB'SABER, Aziz Nacib, 1953. O planalto da Borborema na Paraiba, Séo Paulo, ‘Bol. Paulista de Geografia”, n° 13, pp. 54-62, a 7 AB'SABER, A. 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