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Visões Da Liberdade
Visões Da Liberdade
Sidney Chalhoub
O livro é uma contestação do que o próprio autor chama de “escravo-coisa”, negando pontos de vista como os de FHC e Jacob
Gorender para os quais a escravidão coisificaria e anularia por completo a consciência do escravizado sobre sua própria condição.
Rebeldia negra: práticas de resistência; afirmação de sua humanidade. Para FHC e Gorender restavam, respectivamente, a negação
subjetiva (psicologismo) e o crime (legalismo).
Objetos de discussão no campo da historiografia: Mecanismo de produção social da memória histórica – maio ou novembro; a
princesa ou Zumbi.
Os escravos para FHC e Gorender: Atividade x passividade – heróis ou vítimas; são válidos mas não absolutos.
Os instrumentos da opressão operam de variadas formas; uma delas é oferecer como campo de batalha os terrenos que ela mesma
construiu; a disputa se dá, dessa forma, no âmbito de uma reatividade dos oprimidos familiar aos opressores uma vez promovida
nos limites que estes últimos estabeleceram desde o princípio (ver o caso da Folha); isto não significa, no entanto, que não se
possa fazer algum embate nesses moldes, mas ele sempre esbarrará nos horizontes do sistema de disputa (jogar em campo
adversário).
Que espaços estão hoje confiados aos grupos historicamente oprimidos (cotas; exposição midiática; representatividade política)?
Até que ponto a participação nas grandes estruturas (academia; mídia; política) que pavimentam as bases da opressão colabora
para a superação da condição dos oprimidos?
O que levou a que este estado de coisas se nos apresentasse como tal: uma concessão calculada das elites, uma conquista dos
grupos minoritários ou uma síntese disso tudo?
Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano
Grada Kilomba
A apresentação traz uma importante discussão sobre a condição do negro nas sociedades ainda marcadas pelo discurso colonialista
e aquelas nas quais já se iniciou algum processo de conscientização/responsabilização histórica coletiva, notadamente das classes
privilegiadas. Kilomba faz uma explicação sobre alguns termos adotados na publicação assinalando certa memória inerente a cada
palavra na língua portuguesa em comparação ao inglês e ao alemão para acentuar preconceitos enraizados no vocabulário
português. Apesar da crítica ser bastante pertinente, a autora se equivoca ao aproximar quatro línguas que, a despeito dos
parentescos, existem concretamente em contextos histórico-sociais muito distintos os quais não servem apenas de pano de fundo
ao funcionamento das línguas; eles são, antes de tudo, elemento constituinte fundamental dos sentidos que emanam dos sistemas
linguísticos em seu uso efetivo; não se trata de desconsiderar aqui a etimologia, a memória vocabular, os sentidos cristalizados, as
relações entre gênero flexional e identidade de gênero, mas de acentuar que é no interior de posicionamentos discursivos que os
termos ganham vida e passam a fazer sentido; o discurso é integralmente formal e integralmente atravessado elo seu entorno
sócio-histórico.
Partes:
A boca - metáfora para posse; o moral (a posse é dos negros) e o legal (a posse é dos brancos); processo de negação (a
responsabilidade sobre a violência de que padece o violentado é imputada a ele mesmo); defesa do ego (terceirizar as
responsabilidades); da negação resulta a inversão; a inversão só se estabiliza enquanto as vozes contrárias estão silenciadas e
consequentemente se justificam a vigilância e a punição.
A ferida - Outro (o diferente que serve de parâmetro negativo ao Eu) vs Outridade (projeção no Outro dos vícios do Eu); em parte
se aproxima do conceito de simulacro da Análise do Discurso (o Outro nunca é o outro per se), mas avança quando mobiliza o
conceito de recalque e repressão (o Outro espelha minha face negativa). “Realidade irracional (e perversa) do racismo” é
traumática (Fanon).
Falando do silêncio - o que se presume serem segredos; o inominável; o medo branco (escravização; colonialismo; racismo)