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Dour oe MaNcuene Publicado originalmente na Frangs como Le discours Iitéraire Paratopie et scene «'énonciaton, by Domingue Mainguenea (© 2004 Armand Colin, Paris Armand Colin & mares registrada de Dunod Ealteur ~ 1, rua Paul Bert, = 92240 Malakoff “cat oxnage, publié dans le cadre che programme daide @ ta publication, bénéfcie du soutien du Ministre Francais des affaires Etrangéres” “Este Tito, publieado no émbito do programa de paricipacéo & publicagée, contou com o apoio do Ministerio francés das Relasées Exteriors” Direitos para publcsedo no Brasil adqultidos pela Editora Contesto (Eéitora Pinsky Lida) Montagem de capa e diggramasio GGuetavo 5. Vile Bose Revisao (Celso de Campos J. {ilizn Aquino Gustavo 5. vas Boas Revisdo Celso de Campos Jr Lilian Aquino Dados internacionsis de Catslogegéo na Publicagio (CF) (Camara Brasileira do Livro, s, Bras) Maingueneeu, Dominique Discurc literdrio / Dominique Maingueneau; tradutor Adal Sobral 2.24, 8 rimpressio,~Séo Paulo: Context, 20:8. ‘Dlo orignal: Le dscoursitéraire, Bibiograia. ISBN 978-85-7244-526-5, 2. Anilise do diseusoliteririo Tito, 06-3690 indice para catilogosstemitico: s.Anilisedodiseurso literiria 808.0014 cDD-808.0034 2018 Epona Coxrexro Diretor editorial: Jaime Pinsky ‘Rua Dr. José Ellas, 520 ~ Alto Lapa 105083-030 ~ Sto Paulo - sr at (44) 3832 5838 contextoG editoracontextocom br Affe roibid a reproduc total ou pares (Os ingratores sero processados na forma dali. Prefacio Tal como 0 contexto da obra iterdria# que amplia ¢ renova, ete Iisro no € um manual volado para resumir as reallzagdes de uma isciplina estabelecida; 9 terreno que le percorre se acha em constiuigio. ‘No refuxo do estruturalismo dos anos 1960-1970, desenvolveram-se ‘ulplas problemitcas que, em alguns e3s0s, apesar de si mesmas, ‘questionaram a prépria cancepso de literatura vigente desde o final do séeulo ST, De inicio margnais, essa problemsticas esto hoje em primeiro plano, As teorias da enunciaglo lingustiea, as mltplas ‘correntes da pragmtca e da andlie do diseurso, o desenvolvimento no ‘campo literivio de trabalhos que recorrem 2 Bakhtin, retérca, teria da recepeio, & intertestuaidade, & socoertca ete, impuseram progressivamente uma nova apreensio do fatolitririo na qual dito e ‘oddizer,o texto eo contasto, si indssosveis. uitos pesquisadores levaram na devia conta essa trnsformacio, ‘masa maioria continua a raeioeInar nos termos dos esquemas ‘radicionals, som se dar de conta de que aconjuntura que hes conferia sentido desapareceu, Preservourse, com eeito, até este momento dona ‘que tornou possivl a dstingfo entre historia litera e estiistca e, de ‘mode mais amplo, entre as abordagens “externa” e interna" dos textos. ‘ais do que isto, muitas vezes ea foi reforgada nos anes 1960, tondo-se Tevado a0 paroxismo a concepgio “autotsica” da literatura que se impusera com o romantisino,sleangande seu pont culminante no final doséeulo IK, (© que se acha prestes a muir no # apenas nosso “olhar” sobre = literatura, mas © proprio espago a pastir do qual a apreendemos, A imetéforaética (nosso “olhar, nossa “visio” da literatura) no é isenta de riseos, pois permite pensar que haveria um objeto estdvel — 2 literatrs — cas propriedades poderiamos melhor apneender se imelhordssemos nossos instrumentos de pereepio. Isso deixa de lado 0 {ato de que esse “objeto” se transforma de acordo com os instrumentos. “Objeto"« “sujeito" se acham em permanente interagio no ambit de prices © insttugies que, a diversosttules, se ceupam dos textos. constituigde de “objetos' ede procedimentos de anise vara de acordo ‘com oestatuto dos agents, hem como dos lgares que estes ceupam na produelo ena ereulago dos discusos Esse aggiornamento [secularizagio}, 20 dar acesso 2 modalidades ‘do diseusolterario que ndo advém da eancepoio romintia do “esti, ‘permite em particular tomar lepivel uma mullplicidade de textos dos tmais diversos géneros. Nio podemos continuar a agir como se ‘estegorias como as de “autor”, de “originaidade’, de “imitagio" ete ‘assem intemporsis. Quando se dz qu essa ou aquela obra itervia no tem grande mérto porque contém ‘dichés demals’, porque & poesia “oficial” ou literatura de salio", porque Thes “lta originalidade” ou “sinceridade", mosta-se apenas que @ apreensio que dela se faz io usa os erties adequados. ‘Tanto nest io como em O contexto da obra litera, inteessam~ ‘me sobrotudo as condigses de emergéncia das obras e, portanto, 0 palo 4a eringio, Mas a andlise do diseurso esté Tonge de reduzi-se 2 isso; ‘conhce-se em particular tudo o que € feito em torno das prétias de Jeitura © dos quads sociis e histricas da rsepaio, das condigbes rmateriais de inserisio © de circulagio dos enunciados, de discursos ‘roduzidos pelas diversas instituigdes que contribuem para avaliar © ‘dota de sentido a produgio eo consumo de obras Iiteriias (de modo particular, os msis de comunicagto ea excl). ‘Mesmo que also Timlssemos nossas ambies, a taefa se mostra Dastante dlicada, No 96 porque na maior parte do tempo nio vamos além de abrir antviros, mas também por havercerta contradigde entre ‘ linearidade da maneira de exposigao que uma obra como esta impSe e 1 complexidade do sistema que se espera que ela apresente, sistema caja diversas instinclasinteragem, e dinamicamente:genero detest, Imertestualidade, midium, modo de vida dos _eseritores, posicionamento estétco, cena de enunciacio, tematica ete. Varnos por ‘seo ter de retomareertas quests de urna segdo para outa sob angolas stints. ‘A propria nogdo de “dscurso litriso" & problemética Ela parece pressupor que, por provimidade de género © diferensa especifica, ‘haveria uma eategoria correspondent @ um subconjunto bem defnido ‘da producio lteriia de uma dada socedade, o diseurso lterdri. Ora, somente no eéeulo Ex ooocreu uma zeal autonomizagio da literatura, ‘quesetomou um "campo", assunto de grupos de artistas independentes © especiallzados que pretendem s6 recomhecer as regras por eles ‘mesmos estabelecidas, Na realidad, como © mostrou bem Bourdieu, fesse campo é straessado por um conflto permanente entre " produgio restrita” da vanguarda, que pretende néo fazer nenhuma ‘concessio, @ uma produgio submetida a lei econdmica, dedicade a atender és expeciativas de um piblco amplo. © uso de “discurso Tieririo” mestra-se, pois, arviscado para abordar regimes da literatura ‘que no © prevalecente hi dois séeulos, e euja perenidade, por outro Portanto,“discurso Iitervio® soa ambiguo. De um lado, designa em nossa sociedade um verdadeiro tipo de discurso, vinculado a um ‘estatuto pragmatico reativamente bem caracterizado; de outro, & um, roto que ni desgna uma unidade estvel, mas permite agrupar um ‘onjunto de fendmenos que sio parte de epocas ¢ sociedades muito ‘Siverana ent si, Seria tates necesrio inode aq urea ditingSo entre 0 discursoliteriro, reserva ao regime da Iteratura moderna, € 4 diseursividade Iieréria, que acolhe as mais diversas confiauracies, admitindo assim uma iredutivel dispersio de dscursosliteraies. Nio ‘obetante, esos esforg de terapiaterminclogica podem néo passar de letra mort, restringindo-se a deslocar o problema para o adjetvo “Iteréio". © mais simples é, sem divida, ter conseignea desse duplo ‘tatuto, que é, por outro lado, moeda corrente nas cencias humanas © socal tara em comtradivio com nosso projeto fazer uma proposta que se pretendesse aplicivel em alteraes a obras de todas as épocas © de ‘odos os paises. Claro que existem restric vineuladas 0 ft Iiteraio, fenquanto tal, e que assumem diferentes énfases a depender da configuragio histories. Por uma questo de efledeta,contuo, parece nos dsejavelconcentrar nossos esfrgos num period que tem a dupla vantagem de defnir um eonveniente recor histérico, Tomaremas & ‘maforia de nossos exemplos da literatura ocdental, sobretudo francesa, entre 0s séculos XV7 e XS, sem por isso deixar de farer incursbes fora ese corpus de rferéncia. Dominique Maingueneau, © eonterto da obra Titeréria, Si0 Paulo, Martins Fontes, 1995. As condigées de uma andlise do discurso literario Discursos constituintes O discurso literario como discurso constituinte ‘Tomar compacto um conjunto de textos “Iteréros” 6, como vimos, caracterstco de uma estéticaroméntica em que literatura aspira 2 um. cestatto de excegio: de um lado, o burburinho infnito das palavras vis, “ransitivas’, cua fnalidade se acha fora delas mesmas,e, de outro, 0 cireule esteito das obras, “intrnsitiva’, que exprimem a “visio de mundo” singular de um eviador soberano. Essa linha divissia ‘uansferiu-se para o ensino:apesar dos esforgos — que em larga medida, ppermaneceram programiticos - de alguns lingustas do comeyo do século X¥ no sentido de promover uma estes” aplcavel a todo tipo de texts, a escola reservou constantemente a estilistiea ao estudo de textos Iieririos ara os comentadores, obra literdra se sobrepde sem dileuldades 08 textos “profanos’: 0 artigo de formal, as conversagtes, 0s documentos administrativos etc. Mas a sitagio toma-serapidamente mais delcada quando se consideram outros tipas de enunciados, os textos flosofiens ou reliiosos, por exemplo. Ocasionalmente, as antologis da literatura nie hesitar, por outro lad, em Ihes reservar ‘um lugar: para oséculo XV francés, Descartes ou Fontenelle, quanto 20 iscurso Alosfic, eSio Francisco de Sales, Bossuet ou Pascal, quanto 0 discurso religioso,aleangam o estaruo de "grandes eseitares" em funeto do fato de seu estilo ser dotado de uma qualidade particular, ‘Mas esse tipo de jusiieago passa 20 largo do essencal: sem avid, Descartes ou Francisco de Sales escrevem “bern, mas des 0 fazem em vide de uma nacessidade flosfica ou religions histvicamente efinida, nfo porque houvesse neles algum suplemento de qualidade Tierra que os fleesee superar sua prosals condgto de Mésof0 ou de tor rligios,respectivamente Em oposiqio 2 esse empreendimento, parece-nos bem mais produtivo aprecnder o fundo eomum com relaglo ao qual se dstingve Aliscurso literiie,flosfico ¢ religinso do que destacar no corpus religioto ot floséfica alguns textos julgadas dignos da iterator, eventos, som efsito, farar-nos a alremstia minosaimposa pela daa roméntes: ov manter a Kiteratura em sua autanguia ot disolvéla no ‘oeano sem limites dos enunciados “ordinaris", Mais do ater-se @ um recorte elementar entre discurzolteririo e discurse nie literdrio, uma andlise consequente do iscursoliterrio deve fundar-se em conceites © ‘étodos de que parcela ponderivel é vilida para outrea tipos de Giscurso, No sentido que the atribuimos, o discurso iterrio nao é feolado, ainda que tea sua espeifldade: ele parteipa de wm plano eterminado da produgio verbal, 0 dos discursos constitutes: categoria que permite melhor apreender as relagBes entre literatura e ‘Mlosofa,Uterature e relgio, Iiterstura © mit, Hteratura © Ciencia A expresso “discurso constitunte" designa fundamentalmente 03 Aiscursos que se propiem como discurses de Origem, validados por ‘uma cena de enunciagio que autoriza a si mesma. Levar em cont as relagées entre os varios “diseurses constituintes” e entre disearsos constitutes e dlseursos nfo constituintes pode parecer uma eustosa igressio, mas esse agit aumenta de manelra ponderével a inteigiblidade do fato literivio. A questio da autoridade da fala vai, com efeito, bem além da literatura, que nio ¢ 0 inico tipo de discureo que se funda no estatuo, por assim dizer, “amdnico" de uma fonte cenundlativa que participa so mesmo tempo do mundo comum © de fora queexcedem o mundo dos homens “A categoria “diccureo constituinte” mio é um campo de estudo seguro de suas fonteiras, mas um programa de pesqusas que permite Identiicar certo numero de invariantes, bem como postular umas quantas quests inéditas. Quando se trabalba dessa maneira com iscursos i primera vist to distintos entre si, como o sio o discurso religios,o cienticn o filoséficeo litrrio etc, e se tem a impressio de que indmeras categorias de anise so facimente transferives de ‘um pare o outro, chega-se naturalmente a hipétese de que it um dominio especifico do seio da produgio verbal de uma sociedade,tipos 4e discurso que tém em comum algumas propriedacs rlativas as suns condigses de emergincia, de funcionamento e de circulagio. Agrupar Aiseusos como o Iteréio,o eigoso, 0 lento, o floséfico implica ‘uma dada funeto (fundar e néo ser fundado por outro discurs), eto recorte das situagdes de comunieago de wa sociedade Qh Ingares © (eineros vinculados a esses dscursos constitutes) e certo nGmero de invariantes enunciativas. Tats, por conseguinte, de uma categoria diseursiva propriamente dita. (Os disoursos constituints tém a seu carga o que ce poderia denominar oareheion de uma coletivdade. Esse temo grego, imo do termo Tatino archivwm, apresenta uma interessante polissemla para a ‘nossa perspectva: Hisado a arohé, “fonts, “prinlpi",e, a paztir deo, mandamento’, "poder", o archeion€ sede da autoridade, um pacio, por exemplo, um corpo de magisttados, mas igualmente os arquivos piiblicos. Ele associa, dessa mancira, intimamente, © trabalho de Fancast no © pelo dscurs, a determinagio de sm Ingar ineulado ‘com tim corpo de lomitores consagradas © uma slaboragio da rmemiriat* Os discursos constituintessio discuss que conferem sentido 20s stor da coletvdade, senda em verdade os garentes de miliplos _géneros do disearso.O jomalista, is volta com tm debate social, vai recomer assim 8 autoridade do siblo, do teslogo, do esertor au do {dsofo ~ mas o contrtio no acontece, Eses dseursos so, prtanto, ‘dotados de um estatuo singular: zonas de fla entre outras¢ falas que se pretendem superiores a todas as outras. Diseursoslimite, stuados ‘um Tite, € que se ceupam do Tite, ees devem gerir em termos testuais oF paradoxos que seu estauto implica. Com eles, sto formuladas em toda a sua aeudade as questéesrlativas ao carisma, 2 Eneamagio, a delegagio do absoluto: 2 fim de autorza-se por si rmesnos, eles devem se propor como Tigndos a uma fonteIgitimadora, ‘So 2 um 36 tempo autoconstituntese heteroconstituntes, duas faces ‘gue se pressupiem mutuamente: 36 um dlscurso que se constitu’ no tematizar sua propria constiugio pode deserpenhar um papel ‘onatinsnte com relagio outros discuss. ses dseursos tm 0 perigoso peivléso de Teitimar-se ao refletir em eeu funcionamento mesmo sua propria “enstituico”, A pretensto associada a seu estatuto advém da posigo limite que ocupam 20 inteniscuso: no hd acima dels nenhum outro discutso, « elas 32 ‘autovizam apenas 2 partir de si mesmes. Isso nio significa que @ imultiplicidade de ovtras variedades disursias (a conversagio, ‘mprensa, os documentos administrativos ct.) nio aja sobre eles; bem ‘0 contrrio, na uma continua interagio entre discurses eonstiuintes © ‘lseursos nao constitulntes, asim como entre os discursos constiulntes centre al. E, poréin, da natureza destes titimos nega essa Interagio on pretender submeté laa sous princpice. demos apreender essa consttwipio a partir de duas dimensées indisociavets ~ aconsttui coma agio de estabelecerlegalmente, como processo mediante 0 qual o discarso se instaura regrando sin propria emergencia no interdiscurso; ~ 0: modes de organizacio, da coesio discursia, a constinuigao no sentido deestrutragio de elementos que compdem uma toralldade textual, 1Na medida em que tenba como base uma anélise do discurso, uma anilise da “constituénca’= dos discursos constitutes deve concentrar- seem mostrar o vineolo inestrisvel entte o inttadiscusiva © 0 ‘exradiscursivo, a imbricagdo entre uma organizagio texmual e uma aividade enunciativa, Sua enunciagio se instnura como dispositivo de legitmacio de seu proprio espaso,incluindo seu aspecto institucional: ls ariela 9 engendramento de umn testo © uma manera ds inseever= ‘num universo socal Seguindo a lgica da “nstituigio discursive’, ‘recusamo-nos, assim, a dissociar as operagies enuncativas por meio as quais se instru 0 diseurso que constoi dessa maneira a Tegitimidade de seu pesiconamento ~ do modo de organizagio ‘ntitucional que este discurso a um tempo pressupe e estrutura, "Evocames aqui tio somente os discursoseonstituntes de nosso tipo de sociedade, queles advindes em seus aspectos essenciais do mundo _g1ego.Os discursos constitutes sio miltiples eesti em concorrénca, ‘embora cada um deles possa ter num dado momento 2 pretensio de ser ‘0 detentor excusvo do archeion. Essa pluralidade ésimultancamente irredutivel e constitutiva desses discurses, que se alimentam de sua ‘rvedutivel maltiplicdade, formando cada um deles unidade com a _gestdo dessa impossvel coexistancia. No Ocidente,ahistviada cultura se estrutura por meio desse trabalho de delimitagio reciproca de iscursos que dover negocaro archeion. Ourora, o discursofloséfico ‘2 discuso religioso lutaram para saber qual delesestava estabeleido de modo a stribuir um lugar a cada discurso. Essa pretensio foi ‘contestada pelos defensores da superoridade do discurso cient, que se desenvolve afastando a todo instante a ameaga do relgioso ou do filossfico. Cada discuso consituinterevela-se au a tempo interno @ ‘extero aos outros, 2s quais atravessa pelos quai ¢ atravessado, Eles se exclieme se comocam simultancamente: seo diseurs ccaifico nio ‘pele propor-se sem conjurar de modo incessante a amesga do discurso religioso, este mio para de negocar seu esttuto com relagio ao diseurso cietifico.. ‘Ocarsterconstinunte de um dicurso eanfre a seus enuncedos um ‘stato particular. Mais que de "texto", e mesmo de ‘obra’, poderiamos falar aqui de inseries, nog que desfaz toda distingio erapiriea entre ‘oral © grific: inserver no ¢ forgosamente escrever. As literaturas ‘fais so “inseitas”, como o slo numerosos enunciados micas ora, _mas essa inergio segue caminhos que nio sto os de um céigo grifico, ‘Uma inseriggo ¢ por nature exemplar; ela segue exemplos eda 0 ‘exemplo.Produzir uma inserigdondo é tanto falar em sou nome quanto seguir o rast de um Outro invisivel, que associa os enunciadores- ‘nodelo de seu proprio posicionamentoe, para alm disso, a presenga da fonte que funda odicurso constituinte: a tediqao a verdad, a blers [A inscrgio € assim profundamente marcada pelo oximoro de ums ‘epetigio constitutiva, a repetigio de um enunciado que se situa numa rede replets de outros enunciados (por flagHo ou rejeiglo)# se are 8 possibildade de uma veatualizagio. Por sua maneira de situar-se num interdiseuro, uma inceriqio apresenta-se ao mesmo tempo como ‘ctivel. Essa nogdo de insrigdo supse, com efeto, uma referencia & “dimensio “midilégica” dos enunciados, para retomar uma expressio ‘de Debray, a suas modalidades de suport ede transporte. Loge, um ‘posicionamento ndo se define apenas por “conteidas": hi uma relagdo esseneal entre 0 carter oral da epopela, seus modos de organtzagio ‘estua, seus temas ete. No Toeante & iso, tal como a vielos outros aspects, trata-se de superar as imerorisis oposigGes da andlise textual: agio © _epresentagio,fundo ¢ forma, texto ¢ contexo, produgio e roeepsio. Em vez de opor cantaGdos « mods de transmniedo,uin interior do texto © um ambiente de priticas nfo verbs, € preciso elaborar um dspostivo cm que a atividade enuncatvainteere um modo de dizer, jum modo de crculagéo de enunciades © um certo tipo de ‘eaclonamenta entre os homens.

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