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Yi-Fu Tuan Espaco e Lugar A Perspectiva ° da Experiéncia de Geografia ias Exatas INESP — Campus de Ri ) ma) DIFEL. BN 000 of 73042 sive of Experience EB Tito Onginat SY Space and Place: The Pe 83.0697 138.96 Psicologa 155.96 5 Percepedo geogriica Psicologia 185.06 1983, Dios de ado raed pat o Bal par aa] DIFEL. Sade ‘Av. Vieira de Carvalho, 40 — 5? andar CEP 01210 ~ Sto Paulo — SP Telox: 3294 DFELR Tels; 223-6923 6 225-4619 Veadas: Rua Daze de Setembro, 1.305 — V. Guilherme CEP 02082 ~ Sto Paulo SP ‘Tel: 267.0001 | | | b Prefacio nua, como a propria ina de outro assim como, na esfera da experiéncia do homem-com o-melo-ambiente, no pude nessa época encontrar um tema ou conceito abrangente com © ual estriturar o meu heterogéneo mate: las vezes tive de recorrer a categ; cionais (como ila, cidade, ov a perspectiva —a_daexperiéncia. A_complexa feza da experiéncia humana, que varia do - rio até a concepgao exp! » orienta © contetido e os temas deste livro, \OHONNOOOSESEOOEOOE OOGGE £0 woe Preféicio ente, tem gies tanto a tantos. Um problema ainda 1 que posso dei de agradecer as pessoas a quem devo mais. Eu as “devorei’ Suas idéias se transformaram em meus pensamentos mai profundos. Os meus mentores andnimos sdo os estudantes colegas da Universidade de Minnesota. Confio que eles sejam indulgentes com qualquer apropriago inconsciente de seus ficos e 6 com pra- te grato a J. B. Jackson ¢ F terem encorajado met ang Wang, Sandra Haas e Patricia Burw gramas que atingiram a elegincia formal que em meu texto ficou apenas no nivel da intengAo; e a Dorian Kotler da University Press pelo meticuloso trabalho-de revisio. Descjo, também, agradecer as seguintes instituigdes pelos recursos ‘que me permitiram trabalhar no Espago e Lugar, et ressados no assunto; A Fundagao Educacional Austra Americana (Programa Fulbright-Hays), por me ter possib tado uma visita Australia; ao Departamer ‘Humana, da Universidade Nacional da Au propiciado um ambiente agradavel e est le para pensar e escrever; ¢ A Universidade da California, em Davis, por um ano de sol e calor, tanto humano como climético.. Yi-Fu Tuan Ano Novo Chines, 1977. Sumario 3 2_ Perspectiva Exper 6 )Espaco, LugareaCri 4 Corpo, Relagdes Pessoais e Valores Espaciais 39 5) Espaciosidade e Apinhamento 58 6 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar 76 (7, Espaco e Ligar 96 8 Espago Arquiteténico e Conhecimento 113 9 "Tempo no Espaco Experiencial 132 10° Experiéneias Intimas com Lugar 151 ‘LL) Afeigdo pela Patria 165 12 Visibilidade: A Criagdo de Lugar 179 13 Tempo e Lugar 198 14 Epilogo 220 Notas 227 si. Catalogasto-ma ‘Ciara Beasleira do Veni Rua Doze de Seen CEP 02152 ~ Sao Pa Tel: 267-0381 > Prefacio (as vezes tive dé recorrer a categorias conveni cionais (como subtirbio, vila, cidade, ou tratar separada- jos humanos) em vez de usar categorias que a central. Nest le-uma Seow Prefaicio Fregtlentemente, tem-me si mento das obrigagdes intelectuais. Uma razao é que devo tanto a tantos. Um problema ainda maior & que posso deixar de agradecer as pessoas a quem dev Eu as “devor Suas idéias se transformaram e1 colegas da Universidade de Minnesota. Confio que eles sejam. indulgentes com qualquer apropriago inconsciente de seus ‘Tenho, zet que 0s fago, Sou profundame P. W. Porter por terem encorajado meus esf a Su-chang Wang, Sandra Haas e Patricia Burwell pelos dia gramas que atingiram a elegancia formal que em meu texto ficou apenas no nivel da intengao; e a Dorian Kottler da Unive ‘que me permitiram trabalh nas interrupgdes, nos dois siltim Minnesota, por con: viagem de estu- dos, seguida de mais um ano de afastamento; & Universidade do Hayat, onde pela primeira vez explorei os temas deste livro, com um pequeno grupo de estudantes de pés-graduagao, inte- ressados no assunto; A Fundagdo Educacional Australiano- Americana (Programa Fulbright-Hays), por me ter possi tado uma visita a Australia; ao Departamento de Geografia Humana, da Universidade Nacional da Austrélia, por ter me propiciado um ambiente agradavel ¢ estimulante para pensar e escrever; € & Universidade da California, em Davis, por um ano de sol ¢ calor, tanto humano como climatico, Yi-Fu Tuan Ano Novo Chinés, 1977. Sumario Preficio V 1 Introdugio 3 2_ PerspectivaExperie! 6 )Espago, Lug 4 Corpo, Relagies Pessoais ¢ Valores Espaciais 39 (S) Espaciosidade e Apinhamento 58 6 | Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar 76 mento 113 132 40° Experincias Intimas com Lugar 151 LL) Afeigao pela Pétria 165 12. Visibitidade: A Criagao de Lugar 179 13. Tempo c Lugar 198 14 Epilogo 220 Notas 227 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. . Distorcdes - Etak — navegagao celeste micronésia, ILUSTRAGOES: Espago definido como localizagho rel demareado. Mapas do mundo dos Ai A estrutura do corpo humano, espago e tempo. “Centro” sugere “elevagio” e vice-versa: 0 exemplo de Pequim. © como espago |. Organizagdes egocéntricas e etnocéntricas do espago, De espaco a lugar: a aprendizagem de um labirinto. intos desenhados. Concepgo do espago como Iugar-repleto (oceano Paci fico) de Tupaia. |. Espacos mitico-conceituais. |. Cosmos ptolomaico. - Casas com pitios internos: 0 grande contraste entre 0 “interior” 0 exterior’ Oyurt mongol e o pantedo de Adriano: o-do e suas expresses arquiteténicas. A casa como cosmos € mundo social: © exemplo da casa dos Atoni no Timor indonésio. Acampamento pigmeu: a separagdio do espago social © sagrado. Espago e tempo dos Hopi: os reinos subjetivo e objetivo. Mito cosmogdnico e espago orientado sicas dos herbis ancestrais dos Walbi tral. Espaco sagrado simétrico (Ming T'ang) ¢ Cidade do Ho- ‘mem assimétrica. © lugar como um simbolo piiblico nitidamente visivel as places royales de Patis, segundo o plano de M. Patte Lugares duradouros: rochedo de Ayers e Stonel simb6lico favenvenvenvenvenvenvenrirr @OOHOEHCOECELECECGeCCoores A ve ee 20. Aldeias, cidades comerciais ¢ areas comerciais: lugares 21. caminhos e lugares linea- res; b. caminhos e lugares ciclicos/pendulares. 22. Os anéis de crescimento (tempo) das muralhas de Paris, Espago e Lugar A Perspectiva da Experiéncia 1 Introducgao “oR: Planicies da e.a.espaco é | de. O lugar € seguranca ,ados ao primeiroe-deseja- . O-que é lar? Ea velha . Estas so ‘slo comps ‘hésicos do mundo. vivo, n6s_os.adi como certos. Quando, no entanto, pensamos sobre cles, po: doi assumir significados inesperados e levantam questBes que nao nos ocorreria indagar. Que é espago? Vejamos um episodio, da vida do teélogo de enfoque & questo sobre o signi: ich naseeu e creseeu em iva munieipal construido na Idade Média, d de um pequeno mundo, protegido ¢ auto-sul crianga imaginativa, a cidade pareceria estreit impressio Auma itadora. @) ~ epee eee reeves 4 Introdusio sua familia para o mar Baltico. A viagem para o litoral — 0 s — era um grande acontecimento, Mais tarde Tillich elegeu um lugar no oceano para viver apés a aposentadoria, decisto esta que sem diivida deve muito as experiéneias da juventude. Quando nga, Tillich também pode escapar as Timitagbes da vida de uma cidade pequena fazendo viagens a Berlim. As visitas & grande cidade curiosamente the‘lembravam o mar. Ber de espaco sem limitagdes.' Experiéncias deste tipo nos levam novamente a reflotir sobre o significado de uma palayra como “espaco” ou “espaciosidade”, que pensamos conhecer bem. Que é um lugar? O que dé identidade e aura a um lugar? Estas perguntas ocorreram aos fisicos Niels Bohr e Werner Heisenberg quando visitaram o castelo de Kronberg na Dina- marca, Bohr disse a Heisenberg: Ito ¢ interessante como este castelo muda tho logo a gente imagina que ‘Hamlet riveu aqui? Como cientistas, acreditamos que um castelo consiste 56 fem pedas, eadmiramos a forma como 0 arquiteto fo eto verde com a pi wtahes de madeira ‘Ser ou nfo ser". No entanto tudo o que rel sr do séeulo XI. sm poderh provar que ele realmente exist, e menos vive. Mas todo mundo conhece as questbes que Shakesp rar, a profundeza humana que 10 trazer Alar; assim, teve bém que encontrar para si um lugar na ‘Terra, a berg. Una ‘nbs, um eastelo bem dife- | Estudos etoldgicos recentes mostram que animais nao humanos também t€m um sentido de territério e lugar. Os espagos sto demareados e defendidos contra os invasores. Os —| lugares silo centros aos quais atribuimos valor ¢ onde sto satisfeitas as necessidades biolgicas de comida, gua, des- canso e procriago. Os homens compartilham com outros 5 Introdugio mais certos padrdes de comportamento, mas como indicam as reflexdes de Tillich e Bohr, as pessoas também_respondem.a0 espago e ao lugar de maneiras complicadas que nto se conce- bem no reino animal, Como é possivel que tanto o mar Baltico como Berlim evoqiem uma sensagio de yastidao e infinito? ‘Como € possivel que uma simples lenda assombre o castelo de Kronberg ¢ transmita uma sensagao que permeia as mentes de dois cientistas famosos? Se ha seriedade em nossa preocu- pagio com a natureza e qualidade do meio ambiente humano, estas si, certamente, perguntas basicas. Entretanto, poucas vezes elas tém sido levantadas. Ao contrério, estudamos ani- mais, como, por exemplo, ratos € lobos, € dizemos que 0 ‘comportamento humano e'os seus valores so bem parecidos com os deles. Ou medimos © mapeamos o espago.e lugar, ¢ adquirimos leis espaciais e inventarios de recursos através de nossos-esforgos, Estas so abordagens importantes, porém ‘sam ser_complementadas por dados experienciais que possamios coletar ¢ interpretar com fidedignidade, porque nés niesmos somos humanos. Temos o privilégio de acess0 @ esta dos de espirito, pensamentos ¢ sentimentos. Temos a visto do interior dos fatos humanos, uma assergao que nao podemos fazer a respeito de outros tipos de fatos. {As pessoas s yezes se comportam como animais encur- ralados e desconfiados. Outras yezes também podem agir ‘como cientistas frios dedicados A tarefa de formular leis © mapear recursos. Nenhuma das duas atitudes dura muito, As pessoas so seres complexos. Os dotes humanos incluem 6r- gis sensoriais semelhantes aos de outros primatas, mas sto coroados por uma capacidade excepcionalmente refinada para a cringao de simbolos. Saber como 0 ser humano, que | esté. ao mesmo tempo no plano do animal, da fantasia ¢ do | sileulo, experiencia eentende o mundo é0 tema central deste livro. Considerando os dotes humanos, de que maneira as pes- soas atribuem significado ¢ organizam o espaco eo lugar? ‘Quando se faz esta pergunta, o cientista social é tentado a ver cultura como um fator explicativo. A cultura € desenvolvida tunicamente pelos seres humanos. Ela influencia intensamente © comportamento ¢ os valores humanos. A sensagdo de espago ¢ lugar dos esquimés é bem diferente oa dos americanos, Esta abordagem é valida, mas nao leva em conta o problema dos tracos comuns, que transcendem as particularidades culturais ¢, portant, refletem a condigt0 humana. Na observagio dos © cieniista comportamental provavelmente se volta para o comportamento andlogo do primata, Neste tra- ba Portincia desempenhada pela cultura. A cultura é inevitavel, sendo explorada em todos os capitulos. Mas o propésito deste ensaio nao é escrever um manual sobre fluéncia das cul- turas nas atitudes humanas em relagio a espaco e lugar. E antes um prélogo a cultura em sua int enfoca questbes gerais das ap necessidades, e como a cul és (einas se entreligain: 1) Os fatos biol tém apenas nogdes muito gfosseiras sobre espaco e lugar. Com o tempo ada rem sofisticagdo, Quais sio os estdgios da aprendizagem? O corpo humano ou esta deitado, ou ereto. Em posigo ereta tem alto e baixo, frente e cos rita e esquerda. Cc es silo extrapolados as distoree, Nele © que comega como espaco indiferenciads transforma-se.em lugar A medida que.o conhecemos melhor ¢ 0 dotamas.de.valor. Os arquitetos falam sobre as qualidad espaco, As idéias de finidas uma sem a outra, lugar € da ameaca do espago, e vice- nos NO espago como algo que permite movimento, entao ugar é pausa; cada pausa no movi- ‘mento torna possivel que localizagao se transforme em lugar 3) A amplitude da exreriéneia ou conhecime rigneia pode ser direta e intima, ou pode ser ‘espago" e “lugar” nao pi A partir da seguranga e e da amplidao, da liberdad versa. Além disso, se pet 7 Introdugio ceitual, mediada por simbolos. Conhecemos nossa casa inti- mamente; podemos apenas conhecer algo sobre 0 nosso pais, se ele é muito grande. Um antigo habitante da cidade de Minneapolis conhece a cidade, um chofer de taxi aprende a andar por ela, um gebgrafo estuda Minneapolis e a conhece conceitualmente, Estas so trés formas de experienciar. Uma pessoa pode conhecer um lugar tanto de modo intimo como conceitual. Pode ari ede o me ilar idéias, mas tem dificuldade de ex- ressar 0 que conhece através dos sentidos do tato, paladar, olfato, audigao, e até pela vist As pessoas tendem a eliminar aq 1m entre os priticos lar — se nto idiossinera- ‘a — € portanto sem Na_extensa literatura sobre qualidade ambiental, .relativamente poucas.obras-ten- tm compreender-o que as pessoas sentem. sobre espago. vat as diferentes maneiras de experienciar (sen- tatil, visual, conceitual) ¢ interpretar.espago-e lugar como imagens de sentimentos complexos — muitas vezes ambivalentes. Os planejadores profissionais, com sua necessidade urgente de agir, apressam demais a produgao de modelos e inventérios. Por sua vez, 0 leigo aceita sem muita hesitagio, dos planejadores carismaticos e, dos propagan- distas,. slogans sobre 0 meio ambiente que tenha recebido através da midia, esquecendo-se facilmente a rica informagao derivada da experiéncia, da qual dependem estas abstragbes. No entanto, 6 possivel articular sutis experiéncias humanas, tarefa a que os artistas vém se dedicando — freqiientemente com éxito, Em obras literdrias, bem como em obras de psico- Jogia human filosofia, antropologia e geografia, esto registrados intrincados mundos de experiéncias humanas. Este livro chama a atencio para as questdes formuladas pelos humanistas sobre espaco ¢ lugar.’ Procura sistematizar 6s insights humantsticos, exp0-los em sistemas conceituais (aqui organizados na forma de capitulos), de modo que sua importincia seja evidente para n6s, nao somente como seres pensantes interessados em saber mais sobre a nossa propria eSUEEEEV EVE ELEY 8 Introdugao natureza — nossa potencialidade para experimentar — mas ios da Terra, preocupados na pri- je um habitat mais humano. A abordagem do mais freqiientemente a sugerir do que rio como este deve ter a virtude da clareza, isso seja necessario sacrificar 0 detalhe erui cacao, ‘Um termo-chave neste livro & “experi natureza da experiéncia e da perspectiva experier Qual é a 2 a Perspectiva Experiencial srmo que abrange as diferentes ma- das quais uma pessoa conhece e constréi a realidade, Estas maneiras variam desde os sentidos ivos como 0 olfato, paladar ¢ tato, até a i izagao.: CA ps ihe tralia EMOGAO emogto ———— pensamento PENSAMENTO . Os matema- irmam que a expressio de seus teoremas rivs estéticos pensamento dé colorido a toda experiéncia humana, as sensagbes is prazer e dor. A sen- sago é rapids pensamento em um tipo 9 10 Perspectiva Experi especial. O calor sufocante ou ardente; a dor, aguda ou fraca; uma provocaga reayoes ‘acesso, insim Aexperincia é cons! sentimento humano nao é uma ida de sentimento e pensamento. ssiio de sensacdes dis- into ao mundo, e por la qual o eu é afetado coincidem ‘A experiény layra Sugere 0 homiem ou mulher experiente é a quem tém acont coisas. No entanto, nao falamos das experiéncias das pl e, mesmo nos réferinds aos ai fluxo da expe. do seni . Buma ten ida propria | fica atuar-sobre. 0 0 dado nito pode ser conhecido em sua esséricia. O-que pode ser conhecido é uma realidade que 6 is experiéneia, uma criagdo de seniimento e nio, Conio afirmou Susanne Langer: “O mundo da mundo real interpretado pelas abs- tragdes matemiiticas, eo raundo do set € 0 mundo real interpretado pelas abstragdes imediatamente rnecidas pelos Orgios dos sentidos. E iar 6 vencer os perigos. A palavra “experié provém da mesma raiz latina (p perto” e “perigoso”.S Para experi é necessfrio aventurar-se no desconhecido e experimentar o ilu- ; sorio e 0 incerto, Para se tornar um experto, cumpre artis. ntar 0s perigo O individuo é 9 sfio educados mentalmente? Ten- jnclar » povlet op bo francés savoir relacionado com \glés savour. O ir um extraordinds A estruturagdo dos mundos. que 0s atos intelectuais de ver e ouvir, os ato podem ser m¢ -ernir mundos sentidos do olfato até chegarem a ~ eee ree er veeerverrus nariz, humano muito menos agugado que o nariz dos cies para detetar certos odores de baixa intensidade, as pessoas podem ser sensiveis a uma gama maior de odores do que os cies. Cachorros e Jo apreciam 0 perfume das flores da \eas preferem 0 hos, procura am} cheiros de carne putrefata, que desagradariam ao homem. As 1¢as pequenas, também, parecem ser indiferentes aos 8 Fetidos. Langer sugere que os adores de putrefagao sito i para os ai mas que nao tém essa cono- homem, usam as maos para conhecer ¢ confortar membros de sua propria espécie, mas o homem também usa as milos para explorar 0 meio ambiente fisico, diferenciando-o pele, Tais substincias entorpecem, como éculos embagados, afaculdade de exploracio. © meio ambiente arquitetOnico moderno pode agradar aos olhos, mas freqtientémente carece da personalidade esti- 13 Perspectiva Experiencial mulante que pode ser proporcionada pelos odores vatiados & agradaveis. Eles imprimem cardter aos objetos e lugares, tor- sao importante: um mundo olfativo, mas podem as fragrancias e perfumes constituir um mundo? “Mundo” sugere estrutura espacial; um mundo olfativo seria aquele em que os odores esto espa- cialmente arranjados, e nfo simplesmente aquele onde apa- regam em sucessao acidental ou como misturas rudimentares. Podetn outros sentidos, além da visdo e do tato, proporcionar um mundo espacialmente organizado? E possivel argumentar que 0 paladar, 0 odor e mesmo a audigio nao nos dio, por si mesmos, a sensagdo de espago.” A porque a maioria das pessoas fazem uso dos cinco sen: , que se reforgam miitua e constantemente para fornecer ‘mundo em que vivemnos, intrincadamente ordenado e carre- ado de emoges. O paladar, por exemplo, envolve quase invariavelmente o tato ¢ 0 olfato: la ao redor da bala, explorando sua form pernas so bfisicos para que tomemos consciéncia do espago. ‘O-espaco € experienciado quando h& lugar para se mover. Ainda mais, mudando de um lugar para outro, a pessoa adquire um sentido de dirego. Para frente, para tras e dos assume uma organizagio eu, que se move e se direciona. Os olhos humanos, por terem superposicdo bifocal e capacidade estereoscdpica, proporcio- ham as pessoas um espaco vivido, em trés-dimensdes. A e ia, contudo, & necesséria. Uma crianga ou um cegos de nascimento mas que tenham recentemente recupe- rado a visio, precisam de tempo e pratica para perceber que i Perspectiva Experiencial mundo se constitui de objetos tridimensionais estaveis e dis- postos no espago, em vez de padries mutaveis e cores. Toe manipular coisas com a mao produz. um mundo de objetos — objetos que conservam. sua constancia de forma Avangar até as co i era pereepedo, iano visual como fdpiien, dle nos sees lh manos seu mundo. familiar. de_objetos dispares.no_espaco. G Ingar 6 uma classe especial de objeto. uma concrecto de valor, embora no seja uma coisa-valiosa, que possa.ser facil- ménte manipulada ou levada.de-um lado para f objeto no qual se_podemorar, O espago, como jé men namos, 6 dado pela capacidade de mover-se. Os movimentos freqiientemente sao dirigidos para, ou repelidos por, objetos e lugares. Por isso 0 espago pode ser-experienciado de vérias maneiras: como a localizagao relativa de objetos ou lugares, como as distincias e extensdes que separam ou figam.os_tu- pares, e — mais abstratamente — como a rea defi uma rede de lugares (Fig. t= paladar, o olfato, a sensibilidade da pele € a audigao nao podem individualmente (nem sequer talvez. juntos) nos tornar cientes de um mundo exterior habitado por objetos. N entanto, em combinagao com as faculdades “espacializantes" da visto e do tato, estes sentides essencialmente nao distan- iadores enriquecem muito nossa apreensio do cardter espa- cial e geométrico do mundo. Em inglés, por exemplo, quali- ficamrse alguns sabores como sharp, € outros como flat.* significado destes termos gecmétricos & realgado peio uso metaférico no reino do paladar. O odor & capaz de sugerit massa e volume. Alguns cheiros, como de almfscar ou de angélica, sio “fortes”, ao passc que outros sdo “delicados”, “finos”, ou “leves". Os carnivores dependem do sentido agu- ‘A. Bapago define pe acllaagao Pe dds enteepostos (mule AGL) Oespage da mul io essencialmente pela loca lizagao.e pela dist na maioria entrepostos (A), ‘como percebidos do ponto de vista da sede na ilha de Southampton, a0 ppasso que a idéia de limite (a linha da costa) & importante para sentido de cespago do homen esquims (B). Edmund Carpenter, Frederick Varley & Robert Flaherty, Eskimo. Toronto, University of Toronto Press, 1959, p. 6 Reimpresso com rermissio da University of Toronto Press ado do olfato para seguir e capturar a presa, pode ser que seu nariz seja capaz de articular um mundo espacialmente estruturado — pelo menos aquele que se diferencia pel cdo e distancia. O nariz do homem & um érgio bastante at fiado, Depend>mos da vista para localizar as fontes de perigo ede atracio, mas, com o auxilio de um mundo visual anterior, © nariz do homem também pode discernir diregao e calcular ddist@ncia relativa através da intensidade de um cheiro. Uma pessoa que manipula um objeto, sente nao apenas sua texlura mas suas propriedades geométricas de tamanho e forma. Preseindindo da manipulacao, a sen pele, OOOH NHDHHOEL IGG ZOBDAHROM HOMO AAR ADE D 16 Perspectiva Experiencial por si s6, contribui para a experiéncia espacial do homem? Ela cor jtada. A pele registra sensagtes, Informa sobre sua propria con tempo sobre a condigao do objeto que a est Porém a pele nao sente a distancia. Neste aspecto a pereepcao t&til esté no extremo oposto da visual. A pele 6 capaz de transmitir certas idéias espaciais e pode fazé-lo sem 0 apoio dos outros sentidos, dependendo somente da estrutura do corpo ¢ da capacidade de movimento. O comprimento rela- tivo, por exemplo, é registrado quando difer partes do corpo sio tocadas ao mesmo tempo. A pele pode transmitir uma sensagio de volume e massa. Ninguém duyida de que “entrar em uma ba 14 A nossa pele uma sensagio mais maci¢a do que uma Apele, quando entra em contato com objetos achatados, pode aval aproximadamente a sua forma e tamanho. Em pequeno nivel, ‘a aspereza e suavidade so propriedades geométricas que a pele reconhece facilmente. Os objetos também siio duros ow moles. A percepeio talil diferencia estas caracterfsticas na evidéncia espacio-geométrica. Assim, um objeto duro, sob press, retém a sua forma, enquanto um objeto mole nio a retém. O sentido de distancia e de espago se origina da capaci: dade auditiva? O mundo do som parece estar espacialmente estruturado, embora sem a agudeza do mundo visual. E possi- vel que © cego que pode ouvir, mas nio tem mios ¢ apenas pode mover-se, carega de sentido de espaso; talver para tai pessoas todos os sons sejam sensagdes corporais e nko cagdes sobre o carter de um meio ambiente. Poucas pessoas tém deficiéncias to sérias. Tendo visto e possibilidad mover-se ¢ de usar as maos, os sons enriquec sentimento humano em rela¢do ao espago. As orelhas do homem néo sao flexiveis, por isso esti menos aparelhadas para discernir dirego do que, por exemplo, as orelhas de um lobo. Mas, virando a cabeca, uma pessoa pode aproxima‘ mente dizer a direco dos sons. As pessoas ident conscientemente as fontes de ruido, e a partir dessa ‘magao constroem 0 espago auditivo. 7 Perspectiva Experiencial ___ Ossons, embora vagamente localizados, podem transmi- tir um acentuado sentido de tamanho (volume) ¢ de distancia. Por exemplo, numa catedral vazia, 0 ruido de passos res- soando claramente no chio de pedra cria a impressdo de uma vastidao cavernosa, A respeito do istancia, Albert Camus escreve demos ouvir os latidos dos ces a uma distancia dez vezes major do que na Europa. Assim, o ruido assume uma nos- talgia desconhecida em nossos paises confinados.”"* Os cegos desenvolver idade para os a adores auditivos porque no depen- dem tanto deles, Todos os seres humanos aprendem a relacio- nar som e distancia ao falar. Alteramos o tom da nossa voz, de baixo para alto, de intimo para piiblico, de acordo com a distancia social e fisica percebida entre n6s ¢ os outros. O volume ¢ a expressiio da nossa vor, tanto como o que procu- amos de, so lembretes permanentes de proximidade e de © proprio som pode evocar impresses espaciais. Os es- trondos do trovao sao volumosos; o estridulo do giz.no quadro negro & “comprimido” e fino. Os tons musicais baixos so vyolumosos, enquanto 0s agudos parecem finos ¢ penetrantes. Os musicélogos falam de “espago musical”. Em misica criam-se ilusdes espaciais completamente independentes do fendmeno de volume e do fato de o movimento logicamente Com freqiiéncia se diz que a mtisica tem na. A forma musical pode dar vez a uma confirmagio do icélogo Roberto Gethard, forma na musica significa saber exatamente, a cada ins- tante, onde se esta. A conseiéncia da forma é realmente uma sensagao de orientagio Os diversos espacos sensoriais parecem-se muito pouco entre si. O espago visual, com a sua nitidez ¢ tamanko, difere t cego cujo conhecimento do espago deriva de indicadores auditivos e tateis nao pode, por algum tempo, 18 Perspectiva Experiencial apreciar © mundo visual quando recupera a visio. O interior abobadado de uma eatedral e a sensacio de entrar em uma banheira com agua morna significam’ volume ou espaci dade, apesar de serem as experiéncias dificilmente comp réveis. Da mesma forma, o significado de distiincia é tao va- riado quanto as maneiras de experiencié-la: adquirimos © sentido de-distincia, pelo esforgo de mover-nos de um lugar para outro, pela necessidade de projetar nossa voz, por ouvir © latido dos cies & noite, e pelo reconhecimento dos indicadores ambientais da perspectiva visual. ‘A dependéncia visual do homem para organizar 0 espago nao tem igual. Os outros sentidos ai espago visual. Assim, 0 som aumenta a nossa consciénei ineluindo reas que esto atras de nossa cabega © n&o podem ser vistas. E 0 que € mais importante: 0 som dramatiza a ‘experiéneia espacial. Um espaco silencioso parece calmo e sem vida nao obstante a sua visivel atividade, quando obser- ‘vamos, por exemplo, acontecimentos através de bindculos ou na tela da televisio com o som destigado, ou em uma cidade abafada por um manto de neve fresca.” ~ Os espagos do homem refletem a qualidade dos seus sen- ‘tidos e sua mentalidade. A mente freqtientemente extrapola além da evidéncia sensorial, Considere-se a nogio de vastidao, A vastidao de um oceano nio é percebida diretamente. “Pen- Samos no oceano como um todo”, diz William James, “mul plicando mentalmente a impressio que temos a qualquer ins- tante em que estamos em alto mar.”"* Um continente separa Nova York de Sao Francisco. Uma distancia desta magnitude € compreendida através de simbolos numéricos ou verbai calculados, por exemplo, em dias de viagem. “Porém o s bolo frequentemente nos dard o efeito emocional da percep- 40. Expresses como a abismal ab6boda celeste, a vastidao infinda do oceano, ete., resumem muitos célculos da imagi- nacio, e dio a sensagio de horizonte imenso.” Alguém com a imaginagdo matematica de Blaise Pascal olhara para 0 céu ¢ se sentird consternado pela sua infinita vastidao. Os cegos stio capazes de conhecer o significado de um horizonte distante. Eles podem extrapolar de sua experiéneia de espaco auditivo ¢ \ | | | | \ | 19 Perspectiva Experiencial da liberdade de movimento para contemplar com os olhos da. mente vistas panordmicas ¢ 0 espaco infinito. Um cego contow. organizagio espacial no meio ambiente. Por exemplo, os in- dios Dakota acham em quase todas as partes da natureza a evidéncia de formas circulares, desde a forma dos ninhos dos pssaros até 0 trajeto das estrelas. Ao et 05 indios Pueblo, do Sudoeste do Estados Unidos, ver espa- gos de geometria retangular. Estes so exemplos do espaco interpretado, que depende do poder da mente de extrapolar muito além dos dados percebidos. Tais espacos estao no ex- tremo conceitual do continuum experiencial. Existem trés tipos prineipais, com grandes dreas de superposi¢io — o mi- tico, © pragmatico, ¢ 0 abstrato on teérica. O espaco mitico € m esquema conceitual, mas também é espago pragmitico no sentido de que dentro do esquema 6 ordenado um grande néimero de atividades priticas, como o plantio e a colheita. Uma diferenga entre o espaco mitico e o pragmético 6 que este € definido por um conjunto mais limitado de atividades eco- némicas. O reconhiecimento de um espaco pragmitico, como cinturdes de solo pobre e rico, é sem divida um feito inte- lectual. Quando uma pessoa habilidosa procura descrever cartograficamente o padrao do solo, usando simbolos, ocorre ‘um progresso conceitual. No mundo ocidental, os sistemas geométricos, isto é, espacos altamente abstratos, foram eria- dos a partir de experiéncias espaciais primordiais. Conse- qiientemente, as experiéncias sens6rio-motoras e tateis pare- cem estar na origem dos teoremas de Euclides concernentes & congruéneia de forma e o paralelismo de linhas distantes; e a percepgao visual é a base da geometria projetiva. ‘Os homens nao apenas diseriminam padrdes geométricos na natureza e criam espagos abstratos na mente, como tam- bém procuram materializar seus sentimentos, imagens e pen- samentos. O resultado € o espago escultural e arquitetural ¢, em grande escala, a cidade planejada. Aqui o progresso vai POHHHEEOER OME OO MAB MAe ED oe a eaceaeaase 20 Experiencial nentos rudimentares pelo espaco e fugazes discer- a natureza até a sua coneretizagao material € pi- \do-lhe uma personalidade geométrica. Nem a crianga recém-nascida, nem o cego que recupera a visio, aps uma vida-de cegueira, podem reconhecer de imediato uma forma geométrica como o triangulo. A principio, o tridngulo é “espaco”, uma imagem embagada, Para reconhecer o trién- gulo € preciso identificar previamente os angulos — isto 6, lugares. Para 0 novo morador, 0 bairro 6 a prinefpio uma confusio de imagens; “ld fora” & um espago embacado. Aprender a conhecer 0 bairro exige a identificagao de locais significantes, como esquinas ¢ referenciais arquitetdnicos, dentro do espago do bairro, Objetos e lugares so niicleos de valor. Atraem ou repelem em graus variados de nuangas. Preocupar-se com eles mesmo momentaneamente é reconhe- cer a sua realidade e valor. O mundo do bebé carece de ‘objetos permanentes ¢ esté dominado por impressbes fugazes. Como as impressies, recebidas atra sentidos, adqui- rem aestabilidade de objetos e lugares? ‘A iinteligéncia se manifesta em diferentes tipos de reali- zagilo. Uma € a capacidade de reconhecer ¢ sentir profunda mente 0 particular. A diferenga entre os mundos esquemé- ticos dos animais e os dos homens é que os destes esto densa- ‘mente poyoados com coisas pessoais e coisas permanentes. As oisas pessoais que valorizamos podem receber nomes: um jogo de ché & Wedgewood e uma cadeira & Chippendale. As pessoas tém nome proprio. Elas sio coisas especiais que po- dem ser os pr decorativo ¢ seu tilintar quando b: dade como Sto Franciseo é reconhecida pelo ce topografia, skyline, odores ¢ ruidos das ruas® Um objeto ou lugar atinge realidade conereta quando nossa experiéncia com ele & total, isto é, através de todos os sentidos, c com a mente ativa ¢ reflexiva. Quando resid tempo em determinado lugar, podemos ¢% mente, 1rém a sua imagem pode no ser nit 10s também. vé-lo de fora e pensemos em nossa expe ‘A outro lugar pode faltar 0 peso da realidade porque 0 s de fora — através dos olhos de turistas cie humana, produtora de simbolos, que seus membros pos- sam apegar-se apaixonadamente a lugares de grande tama- tho, como a nagio-estado, dos quais eles s6 podem ter uma experiéneia direta limitada 3 Espago, Lugar ea Crianga N o homem adulto so extremamente compl jnam-se das experiéneias singulares comuns. No entanto cada pessoa comega como uma crian logo apés 0 nascimen vos biologicos do crescimento impdem curvas crescentes de aprendizagem © compreensio ‘que sfo semelhantes e podem, portanto, transcender a énfase especifica da cul Como uma erianga pequena percebe ¢ entende 0 seu mei ambiente? Existem respostas bastante sat as. O equ pamento biol6gico da erianga, por exemplo, fornece indicios pelas pessoas e pelos lugares? Estas quest6es so sis de responder. Um retorno introspectivo & nossa fancia é freqientemente decepcionante, porque ten- 2 4 Crianga dem a desaparecer as paisagens luminosas e sombrias de nossos primeiros anos, e perduram apenas alguns aconteci- mentos importantes, como aniversirios e o primeiro dia de acriangaéo ivas do adulto so de ies que procedem das A biologia o ser humano nase tex cerebral tem apenas 10 a 20% do complemento normal de células nervosas de um eérebro maduro; além disso, muitas das nga nao tem 0 cue o meio undo nao du Durante as ejaem aparecer a fixagao ‘com convergéncia’ No entanto, la no quarto més, a crianga mostra pouco interesse em explorar yisualmente 0 mundo além de um raio de um metro A crianga no se locomove e somente pode fazer pequenos movimentos com a cabega e os membros. Moyer 0 corpo seguindo uma linha mais ou menos reta é essencial para a construgto do espago experiencial mediante as coordenadas 4 Espaco, Lugar €aCrianga bésicas de frente, atras e lados. A majoria dos mamiferos, logo apés © nascimento, adquire um sentido de orientagao, dando alguns passos seguindo a mae. A crianga deve adquirit esta habilidade mais gradualmente devido a sua lenta matu- ragio. Que acontecimentos e ativiéades podem dar & sensacdo de espago? Um bebé, no mundo ocidental, passa grande parte de seu tempo deitado. De vez em quando é carregado para arrotar, brincar e fazer agrado. A partir desses acontecimentos pode advir a distingio experimental entre horizontal e vertical. No nfvel de atividade, uma crianga co- nhece 0 espaco porque pode mover seus membros: chutar o cobertor que a incomoda é uma amostra da liberdade que, no adulto, esté associada com a idéia de-ter espaco. Uma erianga explora o meio ambiente com sua boca.’ A boca se ajusta a0 contorno do seio da mae. Mamar é uma atividade muito gratificante, pois requer a particiragao de diferentes sentidos: tato, olfato e paladar, Além disso, mamar alimenta o bebé, dando-Ihe uma sensaco de prazer. O est6mago se dilata e se contrai & medida que 0 aliments entra e € digerido. Esta fungao fisiolégica, ao contrario de respirar, 6 ider conscientemente com estados alte-nados de desconforto e sa- tisfagdo. “Vario” e “‘cheio sto experiéncias viscerais de im- portancia definitiva para o homem. O bebé as conhece e res. onde com choro ou sorriso. Para o adulto, tais experiéncias corriqueiras adquirem um significado melaférieo adicional como sugerem as expressdes: “cho-ar de barriga cheia”, "sen- tir um vazio por dentro”, “estar na plenitude da vida". A crianga usa suas mos para explorar as caracteristicas tateis ¢ geométricas de seu meio ambiente, Enquanto a boca agarra o bico do seio e adquire a sensagao de espaco bucal, as maos ‘movem-se ativamente sobre o seio. Bem antes que os olhos da crianga possam se fixar em um pequeno objeto e discriminar sua forma, suas maos j4 0 apreerderam e conheceram suas propriedades fisicas através do tato, (© mundo visual da erianca é especialmente dificil de ¢ deserever porque somos tentados ¢ atribuir-lhe as categorias \ bem conhecidas do mundo visual do adulto. A maior parte 25 Espaco, Lugar a Crianga das veres nos escapa como os sentidos do olfat, paladare tato estruturam o meio ambiente; até mesino as pessoas cultas no tém um vocabulirio diversificado Para descrever os mundos ¢ tatil, Mas nao enfrentamos problema algum com o e diagramas, tanto quanto as palayras, estio & nossa disposigado. O. mundo visto através dos olhos dos ( adultos ou das criangas mais velhas € vasto e nitido; nele os )objetos esto claramente ordenados no espaco, [sto nao acon fece com o bebé, Falta.ao seu espaco visual estrutura e perma- éncia. Os objetos neste espagu sho impressdes; portanto ten- let a existt para ee-somente enquanto permanvem em sea campo visual As formas e tamanhos dos objetos carecem de constancia, que as criangas mais velhas j4 identit afirma que um bebé pode nao reconhecer a mamadeira quando é dada ao contrério; com cerca de oito meses aprende aviré-la.’ Para uma crianga mais velha, com experiéncia, um. objeto parece menor a distancia, ¢ a di ninui¢io em tamanho de objeto que recua é sem pensar interpretada como um aumento da distancia. Para o bebé, no entanto, um objeto que pareve pequeno porque esta distante pode ser tomado come um outro objeto. O bebé possui uma capacidade inata para reconhecer as qualidades rudimentares das coisas tridimen- sionais, sua constincia de tamanho e forma ea distingao entre Jonge e perto, mas 0 reconhecimento age dentro de um campo. ito restrito comparado com o de um bebé que ja esté enga- tinhando! A capacidade de ver esta intensamente firmada em expe- rigncias nao visuais. Mesmo Para uma crianga mais velha, alua 'o € facilmente considerada como um objeto dife. rente da lua no horizonte. Que a Lua se move ao redor da ‘Terra é uma abstracao alheia a experiéncia da crianga: a Lua é vista apenas em dados momentos, separados por intervalos de tempo que a crianga sente quase como eternos, A gravura de uma estrada que leva a um distante chalé arece facil de interpretar; contudo a estrada s6 tem sentido completo para. alguém qu rido. Uma crianga que ndo anda, nao pode ter sentido de distancia quanto ao gasto de energia Para vencer uma barreira espacial. Uma crianga aprende de- 26 spaco, Lugar ea Crianca pressa a ler os indicadores espaciais ¢ ambientais, mesmo ‘quando Ihe so apresentados em forma de gravura. Um jovem apreciador de livros, de trés ou quatro anos, ja pode olhar em ‘uma gravura um caminho que desaparece na mata ¢ ver a si ‘mesmo como o heréi de uma iminente aventura {£ O primeiro ambiente que a crianga descobre é seus pais, ; O primeiro objeto permanente e independente que ela reco- ( nhece é talvez outra pessoa. As co'sas aparecem e continuam a existir somente quando a crianca thes dé atenco; mas logo se jatroduz em sua consciéncia nascente a realidade indepen- dente do adulto, que existe com ou sem sua atengio? Os ‘adultos so necessirios, no somente para a sobrevivéncia Dioldgica da crianga, mas também para desenvolver seu sen- tido de mundo objetivo, Uma cranga de poucas semanas jé aprendeu a prestar atengo a presenca de gente. Ela comeca a adquirir o sentido de distancia ¢ direcao através da necessi- dade de julgar onde possa estar 0 adulto. Ao final do prim més, é capaz de seguir com os olhos apenas um percepto distante — 0 rosto do adulto. Um bebé com fome e chorando se acalma e abre a boca ou faz movimentos de suegao quando v6 aproximar-se um adulto. ‘Um bebé de oito meses esti atento aos ruidos, especial- mente os dos animais ¢ das pessoas no quarto vizinho. Ele presta atengdo neles; a sua esfera de interesses se expande falém do que é visivel e do que Ihe preocupa. No entanto, © seu espago comportamental permanece pequeno. Parece (que se desanima facilmente con. as dificuldades percebidas. Segundo Spitz, ao redor dos oito meses 0 horizonte espacial da crianga esta limitado pelas graces do seu bergo ou do a Grado, “Dentro de seu quadraéo, ela pega seus brinquedos ‘com facilidade. Se o mesmo brinquedo Ihe é oferecido de fora das grades do seu quadrado, ela zstende as mios, mas estas se detém nas barras; nio continva 0 movimento além_delas; poderia facilmente fazé-lo, porque as barras tfm suficiente espaco entre si, E como se 0 espaco terminasse com o seu quadrado. Duas ou trés semanas apés os oito meses, repenti- namente compreende e é capar.de continuar seu movimento além das barras e pegar seu brinquedo.""" | \ 27 Espaco, 1 a Crianca © bebé que engatinha pode explorar o espago. O movi- nento além da vizinhanga imediata da mae ou fora do bergo. facarreta riscos que 0 bebé no estt preparado para enfrentar. (Os instintos ce sobrevivéncia nao esto bem desenvolvidos. O medo de estranhos aparece entre seis ¢ oito meses. Antes desta etapa, 0 bebé nao distingue os rostos familiares dos nao familiares; @ partir dai vira a cabeca ou chora quando um estranho se afroxima!” O ambiente inanimado fornece pou- ‘cos sinais claros de perigo para o intrépido bebé explorador. Qualquer coisa que pode ser agarrada é agarrada ou colo- cada na boca para um conhecimento mais fntimo; 0 medo do fogo ¢ da 4gva tem que ser aprendido, Para a crianga que engatinha, o espaco horizontal parece seguro. Bla esta cons- te de um tipo de perigo no ambiente fisico: 0 precipicio, perimentos tém demonstrado que um bebé ndo engatinhara ‘em cima de uma placa de vidro colocada sobre um buraco com lados verticais apesar do encorajamento da mae. Seus ‘olhos reagem aos sinais de mudanga brusea de declividade."* ‘A criangi pequena, tio logo aprende a andar, quer ir da mae 2 explorar © ambiente dela. Quanto mais hostil ‘oambiente, maior a dependéncia da protecdo do adulto, Por exemplo, bebss bosquimanos do sudoeste da Africa sto menos propensos a rerder-se da mae quando estio brincando e cor- rem mais facilmente para ela do que as criangas ocidentais."* Em um estudo sobre 0 comportamento ao ar livre de criangas inglesas, de um ano e meio a dois anos, Anderson notou que raramente elzs se distanciam mais de sessenta metros de suas mies. A crianga, caracteristicamente, se move em pequenas westidas de nao mais do que poucos segundos. Bla para entre as investidas por perfodos semelhantes. Quando cami- nha, a crianga gasta a maior parte do seu tempo aproxi- mando-se ou distanciando-se de sua mac. Os objetos e.0s acontecimentos no meio ambiente n@o parecem afetar a ma- hneira como acrianga se move. A crianga necessariamente no se distancia da mde porque foi atraida por um objeto, nem’ volta correndo por causa de um objeto. Os movimentos tém tum cardter brincalhao de experimentagao, A crianga ‘se dis- iancia um pouco da mae, se detém para olhar ao redor, presta 28 © Espaso, Lugar ea Crianca tengo as causas dos sons ¢ dos estimulos visuais.¢ em alguns ‘casos atrai a atengo da mie. Eutremeado com o distante passar dos olhos, est um exame do chao: pega folhas, grama, pedras e sujeira; rasteja ou pula para frente e para tris sobre ‘05 pause tenta sacudir ou trepar en obstaculos.""* Apontar é um gesto comum, Qualquer cené ou barulho que chama a atcngdo da crianga é suficiente fara esse gesto. Freaiente- mente 0 adulto nao consegue disernir a fonte do estimulo, Pode ser imaginario. “Uma crianga pode apontar para um lado do horizonte onde nada se move e dizer A mae que um homem yem vindo.”"* E interessante observar a aparente preocupagao da crianga com o distante e o proximo. Ela aponta para o horizonte e brinca com as pedras a seus pés, mas mostra pouco interesse com oque esta no meio. Os bebés ¢ as criangas pequenas tendem a articular 0 mundo em categorias polarizadas. Reparam e classificam as coisas com base nos contrastes maiores. A propria linguagem comeca quando a crianga para de balbuciar indiscriminada- mente e passa a fazer experiéneias com sons altamente dife- renciados. A primeira vogal é 01 bem aberto € a pri consoante é a oclusiva p ou b feitos com os labios. A primeira ‘oposigaio consonantal é entre as oclusivas nasal ¢ oral (mam®i/ pap); em seguida vem a oposigao das labiais e dentais (papa/ tata ¢ mami/nan4). Junlas, elas compreendem o sistema consonantal minimo de todas as linguas do mundo.* Entre o sexto ¢ oitavo més, como ja mencionamos, 0 bebé comega a separar as pessoas entre “familiares” ¢ “estranhos"’. Pouco depois discrimina os brinquedos inanimados. Quando os brin- ‘quedos sio colocados em sua frente, ele pega o que prefere em ver do que esta mais proximo. Uma crianga de um ano, no colo, Jevanta seus bragos para indicar “para levantar"; con- torce-se e olha para baixo quanco quer dizer “para descer”. Os opostos espaciais so claramente diferenciados por uma crianga de dois a dois anos e meio de idade. Estes incluem em ‘cima e embaixo, aqui e14, longe ¢ perto, topo ¢ fundo, sobre € sob, cabeca e eauda, frente e atris, porta da frente e porta de tris, botdes da frente ¢ botGes cas costas, casa ¢ exterior, Uma crianga que engatinha ¢ capar de verbalizar algumas pequona distingue entre “casa” res de brinquedo m: que “meu quarto” ¢ “jardim’. Os extremos opostos no sio entendidos tao bem; por exemplo “em cima” 6 mais rapidamente compreendido do que (Os trabalhos de Piaget e seus colaboradores tém repeti- damente mostrado que a inteliggucia sensorio-motora pre~ cede, As vezes por varios anos, a apreensio conceitual. Du- rante as atividades do dia-a-dia, a crianga reyela habilidades espaciais que estdo muito além de sua compreensao intelec- ‘ual. Um bebé de seis meses pode discriminar entre um qua~ drado eum triangulo, mas o conceito de quadrado como uma forma determinada ndo aparece até ao redor dos quatro anos, quando também pode desenhé-lo. Além disso, uma crianga pequena pode ter a nocao da linha reta como a trajet6ria de uum objeto em movimento (o caminhao que ela empurra 20 Iongo da borda da mesa), mas 0 conceito geométtico de linha reta nao aparece antes dos seis ou sete anos.” Antes dessa idade, a crianga nfo desenha espontaneamente uma linha reta nao consegue apreender a idéia de diagonal." A crianga que ‘comega a andar, logo anda com um propésito: sai de um ponto-base, dirige-se para o objeto desejado e volta ao ponto de safda por um caminho diferente. Uma erianca sadia de trés fou quatro anos nao se perde dentro de sua casa e de ver. em quando visita os vizinhos. Estas realizagdes sensorio-motoras, contudo, no implicam um. conhecimento conceitual das rela- Ges espaciais, Criangas sufgas de cinco a seis anos de idade podem ir a escola ¢ voltar para casa sozinhas, Elas tém difi- culdades em explicar como fazem isto. Uma crianga "“lembra apenas de onde ela parte ¢ aonde chega, e que tem de dobrar uma esquina em seu caminho, Nao consegue se lembrar de nenhum referencial, ¢ 0 desenho de seu trajeto nao apresenta nenhuma relago com a planta da escola e do bairro." Outra crianga “lembra os nomes das ruas, mas no sua ordem ou os lugares em que deve virar. Seu desenho é apenas um arco com varios pontos aleatoriamente assinalados para corresponder ‘nomes que ela lembra,"” ~Expaco, Lugar - ea Crianca O quadro de referéncia espacial de uma erianga é limi- ' tado. Os desenhos das eriancas fornecem abundantes suges. {es dessa limitagao, Por exemplo, no desenho da erianca, © nivel da gua em um copo inclinado aparece em Angulo reto com os lados do copo em vez. de paralelo superficie da mesa gue fornece a linha basica horizontal para o dese quando se pede uma erianga que deser {elhado inclinado de uma casa, ela pode colocar a chaminé em Angulo reto com a inclinagdo do telhado em vez de com a superficie plana na qual esté a casa.” “Separagio” € outro tipo de evidéncia que sugere a inabilidadé da crianga para detetar as relagbes espaciais entre os objetos, ou apenas sua indiferenga para com clas..Por exemplo, o desenho do va. ueiro em seu cavalo pode mostrar uma grande lacuna entre 0 chapén © a cabega do vaqueiro e outra entre 0 vaqueiro eo cavalo” Exros deste tipo sugerem que a crianga pequena estd mais preocupada com as caisas em si — a Agua no copo, © vaqueiro ¢ o cavalo — do que com as suas exalas relagdes espaciais. Os pais sabem como é facil seus filhos se perderem em um ambiente ndo familiar. Os adultos adquiriram 0 hé- bito de tomar nota mentalments de onde as coisas esto e de como ir de um lugar para outro. As criancas, por outro lado, im-se com as pessoas, ccisas e acontecimentos; ir de ‘um lugar para outro nao € de sua responsabilidade. Os homens vivem no chao e véem as drvores e casas de lado. Eles ndo véem de cima, a nao ser que escalem uma montanha alta ou vigjem de avito. As criancas pequenas difi- cilmente tém a oportunidade de supor uma paisagem vista de cima. Elas so seres pequenos em um mundo de gigantes ¢ de coisas gigantescas que no foram feitas em sua est tanto, criangas de cinco ou seis anos reyelam u dinéria compreensio de como seriam as paisagens vistas de cima. Elas podem “er” fotografias aéreas verticais em braneo © preto de povoados e campos de cultivo com uma acuidade ¢ Seguranga inesperadas, Podem reconhecer casas, cat Arvores nas fotografias aéreas ainda que estes aspectos apare. gam em uma escala muito reduzida e sejam vistos de um Angulo e posi¢ao desconhecidos en sua experiéncia, E possivel 3 Espaco, Lugar © Crianga que ngas da cidade tenham tido a experiéncia de olhar fotografins em revistas ou na televisNo, mas as eriangas do Sampo que ndo tém contato com esses veiculos, também con, ‘ais do seu meio am- trens de brinquedo & dhirigem seus destinos como deuses do Olimpo, Susar Ieegee grupo de criangas inglesas precoces pidamente as relagdes espaciais através de aginagao, avid sobre o jardim, colharam para cima e, com de costume, gia | disse: “Ser que ele nos ve sugeri: “E se a gente fizesse 0 pelo homem do avi! imediatamente ¢ trabalhamos vi ram “até 0 topo da escada para saber come de quatro anos e meio compreendeu espontaneamen Se veria o alto de suas eat No periodo de 1950 a 1970, methorou a capacidade das Criancas de idade de jardim de infaincia para entender foto srafias a€reas, Ver na televisdo cenas aéreas ¢ brincar cova simples brinquedos de armar podem ter ajudado esta tendén, Progressiva. Por outro lado, durant (empo, as criangas nao apresentaram neni sofisticagao para compreender os pontos de vista dos Indoe Ghostos de um quarto ou terreno, E mais facil, tanto para a crianca como para o adulto, imaginar como um piloto em seu Qvido ¥é uma paisagem, do que como um agricultor a vé, estando do lado oposto da colina. Assumimos mais rapida mente uma posigaio mw ale 32 Espaco, Lugar ea Crianca perspectiva de outro mortal no mesmo nivel em que estamos, Além disso, a compreensdo do meio ambiente sofre menos apés 90° de rotagio da perspectiva da horizontal do que depois da rotagio de 40 a 50°. A cena obliqua 6 mais dificil de terpretada do que a vertical Para a crianga, uma foto tiraca de lado ou de um pe- queno dngulo acima do chao tem uma grande vantagem sobre ‘© mapa ou a fotografia aérea: apela mais diretamente para a 4 inativa. Uma crianga de trés anos e meio de idade j livro. Ela oth para uma gravura ¢ e! até a casa © penctra fu sua pequ a.” A perspectiva central cria uma ilusto de tempo.¢ movimento na cena: as margens convergentes dle um que desaparece na porta de uma casa distante sito poderosos indicios de aco. Ao contrario, a fotografia vertical fayorece a compreensdo das relagdes espaciais, A crianca nao esté preparada para iniciar a ago imaginativa — a nao ser para atirar bombas na escola, Uma gravura em perspectiva daquelas que aparecem nos livros infantis esti- mula um ponto de vista egocéntrica: a erianga se vé como herdi do paleo, e nio tem condigdes ou vontade de ima, como outro ator — 0 menininho no fim do caminho, por exemplo — 0 veria quando se aprosimasse. Uma fotografia aérea, ou mapa, por outro lado, incentiva um ponto de vista objetivo. Um ponto de vista objetivo desencoraja a ago, espe- cialmente aquelas aventuras precipitadas ¢ draméticas que sao naturais d crianga, ‘Como uma crianga peauena entende um lugar? Se defi- irmos lugar de maneira ampla como um centro de valor, de alimento ¢ apoio, entio a mae 6 0 primeiro lugar da erianga. Amie pode bem ser 0 primeiro objelo duradouro e indepen: dente no mundo infantil de impressdes fugazes. Mais tarde ela 6 reconhecida pela crianga como o seu abrigo essencial e fonte segura de bem-estar fisico e psicolégico. Um homem sai de casa ou da cidade natal para explorar 0 mundo; a erianga que engatinha sai de perto da mae para explorar o mundo, Os lugares permanecem af. Sua imagem é de estabilidade e per- Espaco, Lugar a Crianga manéncia, A mie se move, mas para a crianga, no obstante, cla representa estabilidade ¢ permanéncia. Ela esti quase sempre perto quando necesséria, Um mundo estranho in- funde pouco medo a crianga pequena sempre que a mie esteja perto, porque ela é seu ambiente e refigio familiar. A crianga fica desnorteads — sem lugar — na falta da protec dos pais. A medida que a crianga cresce, vai-se apegando a obje- ( tos, em lugar de se apegar a pessoas importantes, e finalmente )@ localidades. Para a crianga, ugar é um tipo. de objeto grande e um tanto imével,.A prineipio as coisas grandes tém menos significaco para cla do que as pequenas porque, a0 ontrario dos brinquedos portiteis ou dos cobertores prefe- ridos, elas nao podem ser manipialadas e transportadas facil podem nao estar dispontveis nos momentos de etise para dar confortoe apoio. Além do que, a crianga pode desen- volver sentimentos ambivalentes por certos lugares — objetos grandes — que Ihe pertencem. Por exemplo, a cadeira de bebé € seu lugar. Ela come ai e comer da satisfaclo, mas também the dao de comer coisas de que nao gosta e esté presa em sua cadeira, A cri ver seu bergo com ambivaléncia. O bergo € seu aconchegante pequeno mun as noites vai para ele com relutancia; precisa dormir mas tem medo do escuro ede ficar sozinba. Tao logo a crianga 6 capaz de falar com certa fluéncia, quer saber o nome das coisas. As coisas no so bem reais até que tenham nomes e possam ser classificadas de alguma maneira. A curiosidade pelos lugares faz parte de uma curi sidade geral sobre as coisas, surge da necessidade de qual | \ficar as experiéncias; adquirem assim um maior grau de per- | manéncia e se ajustam a algum esquema conceitual. De acor- do com Gesell, a crianga de dois ou dois anos e meio de idade compreende “once”. Ela néo tem uma imagem clara do es- pago intermedifrio entre aqui lé, mas adquire um sentido de segurangz quando o seu “onde?” € respondido com “eserit6rio", ou “edificio grande”. Depois de mais ou ‘menos um ano, a crianga mostra um novo interesse nos refe- ja os reconhece ¢ adianta-se quando sai para um ea Crianga passeio ou uma volta de carro. O egocentrismo se mani na tendéncia em pensar que todos os carros que vio na mesma direcdo devem estar indo para o lugar dela. A crianca também aprende @ associar pessoas com lugares especiticos. confunde quando encontra a sua professora do jardi | faincia no centro da cidac ie segundo ela a professora estd deslocada; esta pe ‘acho? A idéia de lugar da especifica ¢ ie ela cresce. A pergunta “onde gosta is anos provavelmente di vyetha responderé -se mais quatro anos de idade comeca @ usar expressdes como Jonge” e “ld pra baixo" ou “bem longe”. A pergunta “onde voc8 mora?”, uma crianca de dois anos provavelmente dir “casa”, Mais ou menos um ano depois, ela pode dar o nome da rua nome da cidade, 0 que nao é freqiiente.” Na , como o conhecimento de lugar de uma, iae se expande? Um estudo de alunos da primeira e sexta séries em duas comt este americano & sugestivo>* Mostram-se as criangas gravu- lugares que formam parte do ambiente lade, fazenda e fabrica. A respeito de sofisticadas. Vila, lugares familiares aos alunos da sexta série; descrevem-nas.com. certeza e facilidade compardveis as dos adultos. Quando se mostra uma gravura a um aluno mais velho, ele ¢ freatien- temente capaz nto apenas de dizer 0 que 6 (vila, cidade, etc.), em que consiste, mas também de colocar o lugar no seu contexto geogrifieo maior; nio somente descreve 0 que esto fazendo as pessoas que aparecem na gravura (coriando grama, fazendo compras, etc.), mas também procura explicar como 35 Espaco, Lugar ea Crianca é mais provavel que amplo; pode mesmo ni0 igo se prende as erianga primeira série olha a grayura ignore seu ambiente espacial m pouco tem a coisas que vé na gravura. De fato, 0 alunos de primeira série parece nao ser o ambiente, mas as ‘pessoas: o que est fazendo o homem ou a menininha, Em geral, estes alunos no mostram tanto entusiasmo pelos luga~ res, como os mais velhos. { | Ohorizonte geogrdfico de uma crianga expande A medida jecessariamente passo a passo em mnhecimento se fixam ago e para lugares estr: de cinco ou seis anos, a crianga pode demonstrar curiosi sobre a geografia de locais ex6ticos se nfo tem experi aprendizagem ainda nao explica si 'es bruscas na compreensao. Nao é de su ie uma crianga possa demonstrar interesse pelas noticias de lugares distantes, pois a sua vida € rica em fantasia e se sente 4 yontade no mundo da fantasia antes que ‘os adultos venham Ihe exigir que viva imaginariamente nos paises reais do livro de geografia. Para uma crianca inteli- iéncia 6 uma procura ativa e em que urpreendentes para além (O que caracteriza 0 lago emo com 0 lugar? Os alunos norte-americanos de primeira série podem reconhecer como entidades: vila, esquina e fazenda; ‘mas temos observado. que os alunos mais novos tém menos a dizer e so menos entusiasmados com tais lugares do que os mais velhos. Com excegio das creches e dos poucos lugares piiblicos esto a 36 ~Espago, Lugar ea Crianga pequenas. Sera que elas sentem necessidade de estar em luga~ fes de acordo com seu tamanho? Supée-se que existam tais evessidades. As criangas pequenas, por exemplo, como se ‘de cauda, onde se sentam nearem, as criangas mais yelhas procuram cantos e esconderijos tanto em ambientes Construfdos pelo homem como na natureza. Passar a noite no Quintal, em uma barraca ou em uma casa na aryore é para Glas uma verdadeira festa, como se estivessem realmente fa- rendo uma longa viagem para uma cabana de eagador. {© sentimento por lugar influenciado pelo conheci- mento de fatos basicos: se 0 lugar é natural ou const Grelativamente grande ou pequeno. A crianga de cinco ou seis anos nao tem este tipo de connecimento. Ela pode falar com entusiasmo sobre a cidade e 0 lago de Genebra, mas a apre ciagao destes lugares, com certeza, é muito diferente da de um adulto culto. Nessa idade 6 provavel que ela suponha que nto.a cidade como 0 lago sao artificiais, E bem provavel que ia ache, também, que ambcs tenham tamanhos comparé- Jextromamente possess ‘brinquedos sao dela, que a cadeira perto da mie é seu lugar € se apressa em defender 0 que considera que the pertence. Entretanto, grande parte da luta da crianga pela posse nfo é ‘ade uma genuina afeigo. Nasce da necessidade de ‘o seu proprio valor e de conseguir status entre os ‘m objeto ou um canto do quarto, sem valor momento, de repente adquire valor, omar posse. Uma vez que a crianga readquire 0 controle absoluto, seu interesse pelo brin- ‘quedo ou lugar rapidamente acaba.” Isto ndo quer dizer que ‘as pessoas, jovens ¢ velhas, néo sintam necessidade de apoiar sua personalidade em objetos e lugares. Todos os seres hu- manos tém seus proprios pertences ¢ talvez todos tenham necessidade de um lugar seu, quer seja uma cadcira no quarto ‘ou um canto preferido em qualquer veiculo, a7 Espago, Lugar ea Crianga que, nos Estados Unidos, os filhos dos trabathadores rurais volantes sofrem porque, entre outras rarbes, nao tém durante um perfodo de tempo um lugar que identificar como deles. Pedro, por exemplo, 6 um menino de sete anos que viaja com seus pais, para ¢ baixo, na costa Leste, Raramente permanecem m em uma fazenda, Pedro ajuda a colher frutas e verduras. Vai Aescola quando pode. Coles escreve: Para um monno como Pedro, o prédio da escola, mesmo yelho e ito bem ‘iobiliado, & am mondo novo — com grandes j dos assoalhos & porta, forrosrebocados e paredes eam gravuras, ¢ uma carteira que é dele, ‘que Ihe & designaca, que se supte the pertence, ou virtualmente Ihe per- fence, dia ap's dia, quase como um certo tipo de direito. Depois de sua alaram que eu podix Fentar nesta cdeira e me disseram que a earteira 6 para mim, e que todos 5 dias eu devera vir para o mesmo lugar; sobre a cadeira ela disse que ere sinha enquento eu estiver nesta escola — isto foi o que disseram as professoras."* (O luger pode adquirir profundo significado para 0 adulto através do continuo acréscimo de sentimento ao longo dos Cade pega dos méveis herdados, ou mesmo uma man- sha na parcde, conta uma est6ria. A eriauga no apenas tem ‘um passads curto, mas seus olhos, mais que os dos adultos, |estiio no presente e no futuro imediato. Sua vitalidade para fazer coisas e explorar o espago nao condiz com a pausa refle- xiva e com a olhada para tras que fazem com que os lugares parecam saturados de significancia. A imaginagao da crianca 6 de um tipo especial. Esta presa a atividade, Uma crianga cavalga um: pau como se estivesse sobre um cavalo de verdade, ¢ defende uma cadeira virada como se fosse um verdadeiro castelo. Ac fer um livro ou ao ver suas figuras, ela entra rapi- damente na fantasia de um mundo de aventuras. Porém um espelho quebrado ou um tricielo abandonado nfo Ihe transmi- tem nenhuma mensagem de tristeza. E as criangas ficam des- concertades quando solicitadas a interpretar o estado de espi- rito de ura paisagem ou de uma pintura de paisagem. As pessoas {6m estados de espirito; como pode uma cena ou lugar parecer feliz ou triste?® Porém, os adultos, especialmente os 38 © Espago, Lugar ea Crianca cultos, nfo tém dificuldade de associar objetos inaniinados com estados de espfrito. As criangas pequenas, to imagina- tivas em suas esferas de aco, podem olhar prosaicamente Para os lugares que aos adultos Ihes trazem tantas recor- dagies. Corpo, Relacdes Pessoais e Valores Espaciais GE spago” 6um termo abstrato para um conjunto com- E plexo de idéias. Pessoas de diferentes culturas dife- rem na forma de dividir seu mundo, de atribuir va~ lores as suas partes e de medi-las. As maneiras de di Pago variam enormemente em complexidade ¢ sofisticagio, assim como as técnicas de avaliagZo de tamanho e distin Contudo existem cerias semethangas culturais comuns, & repousam basicamente no fato de que o homem 6 a medida de todas as coisas. Em outras palavras, os prineipios fundamen- tais da organizagéo espacial encontram-se em dois tipos de fatos: a postura ¢ a estrutura do corpo humano e as relagdes (quer préximas ou distantes) entre as, O homem, como resultado de sua experiéncia in! mm Seu Corpo & ‘com outras pessoas, organiza o espaco a fim de conformé-lo a suas necessidades biol6gicas e relagdes so A palavra "corpo" sugere de imediato antes um objeto que um ser vivo e espiritual. O corpo é uma “coisa” e esta no espago ou ocupa espaco. Ao contrério, quando usamos os termos “homem’” e “mundo"', ndo pensamos apenas no ho- mem como um objeto no mundo, ocupando uma pequena parte do seu espaco, mas também no homem como habitando © mundo, dirigindo-o ¢ criando-o. De fato, o simples termo 39 Ce i

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