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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAPECURU-MIRIM


CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA

DISLEXIA PROFUNDA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO ÂMBITO


EDUCACIONAL

Ana Kissia Cardoso Rodrigues 1


Maurício Silva 2

Orientadora: prof.ª Esp. Maria Alice 3

1. INTRODUÇÃO
A dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento e seus principais sintomas são a
dificuldade na leitura, soletração e escrita. Conforme as especificidades nos sintomas desse
transtorno ele pode se enquadrar em uma determinada tipologia, sendo uma dessa a dislexia
profunda, caracterizada principalmente pela dificuldade de ler determinadas palavras em voz
alta e a presença de erros semânticos na leitura. Independentemente do seu tipo, a dislexia causa
inúmeros prejuízos no desenvolvimento escolar, profissional e social caso não seja identificada
o quanto antes, como afirma Pinheiro e Scliar-Cabral (2017):

Sem a identificação precoce de seus professores, alunos com dislexia correm


o risco de passar por fracassos contínuos na escola. Os disléxicos perdem a
confiança e a motivação rapidamente quando percebem que seus colegas
avançam nos conteúdos e os deixam para trás. Os impactos em longo prazo
dessa perda de autoestima não devem ser subestimados (PINHEIRO E
SCLIAR-CABRAL, 2017, p.20).

Nessa perspectiva, nota-se a sensação de fracasso que o ambiente escolar irá acarretar
na criança com dislexia caso não tenha um acompanhamento adequado, para que, trabalhando
nas dificuldades ocasionadas pelo transtorno, desenvolva suas habilidades cognitivas.
Diante o exposto, o presente trabalho se pauta em apresentar o que é a dislexia, em
especial no que diz respeito a dislexia profunda, destacando seus sintomas, causas, e a
necessidade de acompanhamento adequado, se necessário, com um especialista; será
apresentado também os direitos que devem ser garantidos aos estudantes, seja eles deficientes,
com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotados, assegurados
pela legislação brasileira.

2. METODOLOGIA
A presente pesquisa se desenvolveu a partir da seleção e leitura dos materiais que
serviram de fundamentação teórica, fazendo uso do fichamento de citação para identificar seus

1
Anakissc.16@gmail.com
2
mauriciosilva2342@gmail.com
3
alieceubuntu72@gmail.com

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principais pontos. Além dos encontros presenciais, fez-se uso da rede social WhatsApp para
manter a comunicação à distância, assim, as discussões para o desenvolvimento do trabalho
deram-se tanto de forma presencial quanto on-line.
Para direcionar a pesquisa fez-se uso de materiais teóricos como: o livro Transtornos
da linguagem (2004) de Rotta e Pedroso; o e-book Dislexia Causas e consequências (2017) da
Pinheiro e Scliar-Cabral; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2018); os artigos
A formação social da mente (1991) de Vygotsky, Introdução às Dificuldades de Aprendizagem
(1999) de Fonseca e Diálogos Interdisciplinares (2019) de Lara et al.

3. ANÁLISES E RESULTADOS PARCIAIS DA PESQUISA


A dislexia, atualmente, pode ser entendida como um transtorno neurobiológico que
dificulta o processo de aquisição da linguagem escrita. Nesse transtorno, o cérebro - principal
engenharia funcional do ser humano -, não consegue unir as letras e formar palavras e, ao
mesmo tempo, possui dificuldades na associação dos sons às sílabas formadas. O conceito de
dislexia há tempos vem sendo trabalhado por alguns autores, a fim de que houvesse uma
definição mais concreta e complementar.
A primeira definição do termo 'dislexia' foi proposta por Adolph Kussmaul, onde ele
afirmava que esse transtorno era desencadeado por uma lesão cerebral e através da
nomenclatura ‘cegueira verbal’ dada por ele, pôde-se contribuir para chegar à definição que se
evidencia hoje em dia.
Com o passar do tempo, definições mais completas e aprimoradas foram surgindo.
Segundo Evans (2006) a dislexia é um distúrbio que acomete diretamente a linguagem, nela há
uma grande dificuldade de reconhecer as letras, decodificar e soletrar as palavras, e por não
conseguir compreendê-lo de maneira precisa, o aluno terá sua aprendizagem comprometida.
Davis (2004) define dislexia como:

Um tipo de desorientação causada por uma habilidade cognitiva natural que


pode substituir percepções sensoriais normais para conceituações,
dificuldades com leitura, escrita, fala e direção, que se originam de
desorientações desencadeadas por confusões com relação aos símbolos. A
dislexia se origina de um talento perceptivo (p.38)

Essa definição abrange aspectos mais intrínsecos quando afirma que é uma habilidade
cognitiva natural, ou seja, é algo que surge em decorrência do tempo e a partir da união de
várias capacidades, como: a linguagem, a memória e a atenção. Isso se relaciona com o
pensamento de Vygotsky (1991) quando ele pressupõe que a aprendizagem terá um papel de
grande importância no desenvolvimento do saber, desde o que o indivíduo aprende, ao que ele
ensina e acima de tudo a relação que terá entres esses dois aspectos. A partir do
desenvolvimento gerado pelo indivíduo, através da relação cognitiva é que o professor dentro
de sala de aula poderá observar os problemas e trabalhá-los em cima dos pontos pontuais e
poderá enriquecer o conhecimento acadêmico do aluno.
O próprio Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5° edição (DSM-
5) define dislexia como sendo um transtorno específico de linguagem que compromete as

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habilidades de leitura, fluência, velocidade e compreensão leitora que pode ocasionar em
maiores dificuldades nas demais aprendizagens acadêmicas.
Além do termo abrangente de dislexia, é possível desfragmentá-la em outros tipos,
destacando duas principais: dislexia congênita e dislexia adquirida.
A dislexia congênita pode ser definida como um traço hereditário onde pais disléxicos
possuem uma grande probabilidade em gerar filhos com dislexia, pois em seus cromossomos
há uma alteração. É importante citar que existem pesquisas que se embasam no fato de haver
40% de chance de crianças que possuem pais disléxicos virem com o mesmo transtorno.
Contribuições acerca de fatores hereditários relacionados a dislexia afirmam:

As associações entre dislexia e genética, nas diferentes pesquisas, encontram


padrões de transmissão que se encaixam em vários modelos de herança. Além
das mendelianas, foram identificados outros modos de herança mais
complexos, como os modelos poligênicos e as interações multifatoriais. Em
algumas famílias, a dislexia é transmitida de forma dominante. Esses casos
podem ser explicados por um modo de transmissão dominante e autossômico
influenciado pelo sexo (ROTTA; PEDROSO, 2007)

Já a dislexia adquirida passou a ganhar destaque nos estudos no término do século XIX
por neurologistas, nesta linhagem, o cérebro da pessoa portadora sofre uma lesão e a faz adquirir
perda da capacidade de leitura e escrita, ou seja, o portador de dislexia adquirida não é aquele
indivíduo que nasce disléxico, mas aquele que em decorrência de uma lesão no cérebro se torna
agora portador do transtorno.
Tanto na dislexia congênita quanto na adquirida, dependendo das especificidades dos
sintomas, pode-se enquadrar o transtorno em um tipo especifico. Nessa perspectiva identifica-
se uma variedade em tipos de dislexia como ponderado por Pinheiro e Scliar-Cabral (2018):

Da mesma forma que as pesquisas mostram existirem vários tipos de afasia de


compreensão e de produção, muitos tipos de dislexia têm também sido
identificados: leitura letra a letra, a dislexia fonológica, a dislexia superficial
e a dislexia profunda, que são as condições mais estudadas (PINHEIRO;
SCLIAR-CABRAL, 2017, p. 14)

Cada tipo desse transtorno apresenta alguns sintomas específicos ou uma maior ou
menor intensidade desses, tratando sobre a dislexia profunda é importante destacar que ela se
apresenta de duas formas, primeiro, como a inaptidão para a leitura sem a presença de erros
semânticos; e segundo, observando outros sintomas ao já citado, como deficiência visual, a
substituição de elementos como os artigos, as preposições, as conjunções e os pronomes, e a
presença de erros derivados. A dificuldade de ler em voz alta palavras que não podem ser
representadas em forma de imagem constitui-se também como um dos sintomas da dislexia
profunda, dessa forma, os verbos proporcionam maior dificuldade para leitura em voz alta que
os adjetivos, sendo o segundo, mais difíceis de ler relacionados aos substantivos. Contudo, a
pessoa pode ser diagnosticada como sendo disléxico profundo caso apresente na sua leitura em
voz alta somente erros semânticos.

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É importante destacar que, conforme divulgado no site da EMS (2016), a dislexia
profunda pode “ser de origem cromossômica ou hereditária, alterações cerebrais, produção
excessiva de testosterona durante a gestação, encefalopatias, perturbação no parto ou no início
da vida e desnutrições graves nos primeiros anos de vida”. Mas, esse transtorno também pode
ser adquirido através de um acidente vascular cerebral ou ainda ocasionado por um traumatismo
cerebral.
De modo geral, é de suma importância que, independentemente do tipo de dislexia, seja
ofertado um acompanhamento adequado para as crianças nos ambientes escolares caso seja
necessário e que os profissionais da educação proporcionem o desenvolvimento dos seus
alunos, pois, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2018), esse é um
direito garantido, podendo ser constatado no §1º do art.58, o qual afirma: “haverá, quando
necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades
da clientela da educação especial”.
Diante o apresentado é importante destacar que embora a dislexia seja um grande
desafio na vida de muitos estudantes é fato determinado que o professor saiba conduzi-lo para
percorrer o caminho educacional. Fonseca (1999) ressalta que é interessante que uma criança
que esteja inserida em um processo educacional seja direcionada pelo professor, principiando
desde o processo de fala para que prossiga ao de construir a escrita e mais à frente a leitura. Ou
seja, para acompanhar o desenvolvimento de um aluno disléxico é necessário dar pauta aos
processos e obedecê-los por vez, para que isso facilite a concretização do conhecimento
educacional.
É definitivamente inadequado acreditar no fato que quem possui dislexia não consegue
se desenvolver em todas as áreas, cada indivíduo é singular e possui habilidades próprias, no
entanto, muitas vezes é necessário o auxílio de alguém para lapidar. De acordo com Vygotsky
(1991) é necessário enxergar a oportunidade de entender os processos mentais para que a partir
disso se possa elaborar programas que cultivem potencialidades de cada criança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a apuração da análise realizada através das pesquisas bibliográficas,
podemos concluir que dislexia é um distúrbio que acomete diretamente a linguagem, a fala e a
escrita, embora não haja a ela uma definição totalmente concretizada, é interessante frisar que
dislexia não é doença, mas um transtorno que interfere o desenvolvimento sistemático
educacional.
Embora esse transtorno esteja presente na vida de muitos alunos, ainda é um assunto
pouco difundido e conhecido dentro das escolas, bem como dentro das casas. Muitos
professores ao esbarrarem com alunos que possuem dislexia, não sabem como prosseguir e por
conta disso, alguns transferem ao aluno uma bagagem recheada de julgamentos, que faz com
que dificulte ainda mais o processo de aquisição do conhecimento.
A fim de que o problema evidenciado estagne, é importante que a família acompanhe o
desenvolvimento do indivíduo, através de visitas a locais apropriados ao tratamento de
transtorno, pois isso o ajudará a acompanhar o andar da turma e não se sinta “abandonado”,
além desse fator servir para a futura inserção na vida profissional. O acolhimento por parte das
pessoas que estejam dividindo o mesmo local, seja a família, seja a escola, é necessário, pois
isso fará a criança compreender que terá apoio onde estiver e não se sinta isolada.
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Por fim, é de extrema importância evidenciar que uma criança disléxica não é e não
pode ser considerada inferior a nenhuma outra, pois as ‘dificuldades’ encontradas nelas podem
ser trabalhadas, por um psicopedagogo, por exemplo e assim consiga acompanhar todos, sendo
errôneo de tal modo, taxar uma criança disléxica de “burra” ou ‘preguiçosa”, pois os sintomas
são acometidos a ela e não escolhidos.

REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. BRASIL.

DAVIS, Ronald D. O dom da dislexia. Rio de Janeiro: Rocco. 2004.

DISLEXIA: genética e hereditária. EMS, 2016. Disponível em:


https://www.ems.com.br/dislexia-genetica-e-hereditaria-blog,495.html. Acesso em: 11 out.
2022.

FONSECA, Vitor da. Introdução às Dificuldades de Aprendizagem. 2. Ed. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1999.

LARA, Lidiane Gomes et al. DISLEXIA. Diálogos Interdisciplinares, v. 8, n. 1, p. 69-82,


2019.

PINHEIRO, Ângela Maria Vieira, SCLIAR-CABRAL, Leonor. DISLEXIA Causas e


consequências. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017

ROTTA, T, N. PEDROSO, S, F. Transtornos da linguagem, in: ROTTA, T, N.


OHLWEILER, L. Transtorno da aprendizagem abordagem neurobiológica e multidisciplinar.
2o edição, Porto Alegre: Artmed, 2007.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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