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Capítulo 1: A Espada Mais Leal

A
ethelwine tentava estudar o Tratado de Abjuração de Intevar Randoral enquanto a

reunião não começava, mas a verdade era que sua mente estava muito distraída

para decifrar as minúcias de um velho tomo escrito em tel’quellashi arcaico.

Todos os presentes esperavam pela chegada de Idrig Naxxaros, embaixador do Antigo

Império em Alberion. Aethelwine ainda tinha dificuldades para entender por que o draconato

arriscava um incidente diplomático participando daquelas reuniões secretas, mas Casimir insistia

que ele tinha bons motivos e que não era preciso se preocupar. De qualquer forma, com o cerco a

Salésia e o bloqueio naval a Ebenfeld, os canais diplomáticos a que ele tinha acesso eram um dos

poucos mecanismos para trocar correspondências entre as duas nações, de forma que a sua ajuda

vinha se mostrando imprescindível.

As outras pessoas na sala pareciam igualmente tensas. À esquerda do mago, o bardo

Nicolai, normalmente tão falante, parecia esforçar-se, sem sucesso para relaxar junto à lareira.

Ao lado dele, o príncipe não exibia sua autoconfiança habitual. Completando a mesa, o velho

duque Esegar Powell fingia tirar um cochilo, mas Aethelwine sabia que na verdade ele estava

bem acordado.

Finalmente, depois de alguns minutos que pareciam se arrastar por horas, ouviu-se um

toque ritmado na porta – a senha combinada para anunciar a chegada do embaixador. Mesmo ali,

no alto da Torre do Príncipe, era importante ter certos cuidados: Casimir acreditava que, se seu

plano desse certo, ele poderia convencer seu pai a apoiar um acordo de paz. Mas, até que isso

acontecesse, o que eles faziam ali era alta traição.


O príncipe se levantou e abriu a porta, deixando entrar o draconato dourado.

“E então?”, perguntou Casimir, visivelmente ansioso. “Recebemos as notícias que

aguardávamos?”.

Idrig assentiu com a cabeça e tomou um lugar à mesa, enquanto passava a carta que trazia

à mão ao príncipe, que começou a lê-la avidamente.

“Então os rumores que havíamos ouvido são verdade”, disse Casimir, lendo a carta.

“Varonese está morto. Isso muda tudo”.

Aqueles boatos circulavam na corte já havia alguns dias, mas com as atuais dificuldades

na comunicação eles ainda não haviam sido confirmados. No entanto, agora era oficial: o velho

Leonic Varonese, Primeiro Cidadão de Salésia, havia morrido, e com isso o Senado salesiano

teria que eleger um novo chefe para o executivo da república pouco mais de um ano antes do

originalmente previsto.

“Vallee menciona alguma expectativa sobre as eleições?”, perguntou o duque Esegar, que

agora já não aparentava mais nenhum sinal de senilidade.

O senador Anfalen Vallee era o principal contato do grupo em Salésia. Ele liderava a

facção do Senado conhecida como as Gaivotas, que representava as guildas mais favoráveis ao

fim das hostilidades. Cerca de três anos atrás, na primeira eleição após a guerra contra Alberion

começar, Vallee disputara o cargo de Primeiro Cidadão com o senador Tolomeo Fior, líder dos

Tritões, a facção que defendia a continuidade do conflito. Como nenhum dos dois grupos tinha a

maioria absoluta dos votos, o moderado Varonese acabou surgindo como solução de consenso –

em grande parte porque todos imaginavam que, com sua idade avançada, ele não duraria muito

no cargo. De fato, três anos depois, ele finalmente deixava o posto vago.
“Ele diz que a disputa continua apertada”, respondeu Naxxaros. O draconato falava um

alberionês perfeito, praticamente sem sotaque. “No entanto, há cada vez menos indecisos no

Senado. Depois de quatro anos de conflito, quase todas as guildas foram afetadas, positiva ou

negativamente, pela guerra. Desta vez, é improvável que haja um nome consensual: ou Vallee ou

Fior irão triunfar”.

O plano de Casimir envolvia ajudar o senador Vallee a eleger-se Primeiro Cidadão.

Depois, de acordo com as tratativas que eles vinham mantendo, Salésia proporia uma “paz

branca” a Alberion, retornando a situação ao status quo ante. Com isso, o príncipe acreditava que

conseguiria convencer o pai a aceitar o acordo.

Do outro lado da mesa, Nicolai anotava com avidez cada palavra que era dita. O bardo

procurava fazer um registro daqueles estranhos tempos, e Aethelwine já tivera a oportunidade de

ler alguns capítulos de suas Crônicas de Alberion. De fato, ele era bom naquilo.

“Nenhum registro desta vez, Nico”, disse Casimir, ao ver que o bardo escrevia. “Estamos

entrando em um terreno extremamente traiçoeiro”.

***

A
reunião prosseguiu por cerca de uma hora, sem que os participantes chegassem a

alguma conclusão sobre como poderiam ajudar na eleição de Vallee. No entanto,

eles precisavam se retirar: Godomir III havia marcado, de última hora, um

banquete para a corte.


Nem mesmo Casimir parecia saber o que o pai planejava, mas a julgar pela pressa com

que o convite havia sido feito, e por seu tom incisivo, algum anúncio importante aconteceria

naquela noite.

Aethelwine, como amigo do príncipe e filho de um marquês, seria forçado a comparecer.

Com sorte, ele seria colocado longe do pai, e aquela provação duraria poucas horas.

Ele se dirigiu, então, aos seus aposentos. Felizmente, desde que começara a estudar com

Mestre Odalric, o mago da corte, Aethelwine deixara o palácio do pai em Ebenhold e passara a

viver no castelo. As acomodações que lhe foram designadas, sem dúvida, eram bem mais

modestas. Mas a paz de espírito que isso lhe havia proporcionado em muito compensava

qualquer luxo de que ele tivera que abdicar.

***

P
ara um banquete organizado às pressas, em uma cidade bloqueada por uma esquadra

inimiga, o cerimonial do castelo merecia congratulações. Por óbvio, não houve tempo

para que os nobres que se encontravam em suas propriedades no interior fossem

convidados, mas toda a aristocracia da capital parecia presente.

O primeiro rosto conhecido que Aethelwine encontrou foi o do duque Esegar.

“Acho que eu deveria passar uns tempos no meu castelo em Calerfold,” cochichou ele, ao

avistar o amigo. “Só assim conseguirei escapar destas armadilhas.”

No salão, havia uma longa mesa em “U”, e em uma plataforma levemente mais elevada

em uma das extremidades da mesa estava a família real. No centro, bastante régio em branco e

dourado, e com uma expressão que traía um misto de triunfo e apreensão, estava o rei Godomir
III. À sua direita, o príncipe Casimir contrastava com o pai usando trajes escuros, de corte militar

– desde que a guerra começara, ele costumava se vestir daquela forma, mesmo em ocasiões

festivas. Aethelwine conseguia perceber o desconforto no semblante do amigo – o príncipe não

parecia gostar de não saber o motivo de tudo aquilo. Encerrando a composição da mesa, a

princesa Sarena sentava-se à esquerda do pai. Seu vestido azul-marinho com detalhes em prata –

as cores de Alberion – faziam um bonito contraste com sua pele alva e seus cachos dourados,

mas a expressão em seus olhos cor de mel era indecifrável como sempre.

O duque Cerdic de Ergana teve o privilégio de ser colocado no lugar mais próximo da

família real, logo ao lado da princesa Sarena. Apesar de já passar dos quarenta, ele tinha uma

figura imponente e musculosa. Vestia-se com seus trajes formais de Marechal de Alberion, com

um uniforme militar azul e capa vermelha.

À esquerda do duque, estava o marquês Wynfrid Lancaster. O pai de Aethelwine era um

dos aliados mais próximos de Cerdic, e devorava ruidosamente e sem qualquer modo uma coxa

de frango que ele trazia à mão. Ele parecia particularmente animado naquela noite, o que nunca

era um bom sinal. Aethelwine esperava apenas que ele não machucasse demais a pobre prostituta

que tivesse a infelicidade de servi-lo mais tarde.

O mago trocou um olhar frio com o pai, mas eles não disseram qualquer palavra. Em

seguida, Esegar Powell tomou um lugar em frente a Cerdic, e Aethelwine sentou-se a seu lado. O

duque de Calerfold parecia segurar com dificuldade a sua taça de vinho, e sua mão tremia

perceptivelmente. Apesar da idade avançada do duque, no entanto, o mago desconfiava que

aquilo fosse apenas fingimento – ele gostava de afetar senilidade para ser subestimado pelos

adversários.
O embaixador Naxxaros chegou instantes depois. Ele se vestia à moda alberionesa, e não

do Antigo Império. No entanto, apesar de seus esforços para se misturar, aquele draconato de

escamas douradas – o único na corte de Ebenfeld – invariavelmente se destacava naquelas

ocasiões.

Naquela noite, no entanto, a maior parte dos olhares não era atraída por ele ou mesmo

pela família real, e sim para uma mulher que chegou pouco depois e se sentou alguns lugares à

direita de Aethelwine. A Alta Inquisidora Theress La’al chegara escoltada por um paladino de

Valir, e se vestia com a túnica completamente branca e o chapéu trapezoidal que caracterizavam

os membros de alto escalão da Primaz Inquisição. Fora isso, pouco se destacava em sua

aparência para justificar o misto de fascínio e temor que ela parecia despertar.

A inquisidora chegara em Ebenfeld havia alguns dias, vinda de Alantor – no único navio

a atravessar o bloqueio de Salésia, pois nem em uma guerra se ignora uma embarcação

ostentando os dez decágonos do Cântico nas velas.

Os motivos da vinda de La’al ainda eram desconhecidos. Aethelwine se divertia com a

inquietação que isso causava na corte. Cada um dos nobres ali presentes parecia acreditar que ela

viera especificamente para expor e punir seus pecados. O mago se distraía pensando o que eles

teriam a esconder. Um caso extraconjugal? Maus tratos aos empregados? Corrupção e desvio de

verbas públicas? Homicídio?

No fundo, porém, Aethelwine sabia que La’al provavelmente não estaria interessada em

nada disso. Apesar das superstições envolvendo fogueiras para fornicadores, qualquer um com

um mínimo de conhecimento sabia que a principal função da Primaz Inquisição era lidar com

casos graves de corrupção dentro do Cântico – especialmente aqueles envolvendo o culto a


diabos e demônios. La’al, em particular, tinha a fama de gozar de bastante prestígio junto ao

Primarca. Ele certamente não a enviaria para uma zona de guerra se os altos escalões do Cântico

não suspeitassem de algo grave…

Os pensamenos de Aethelwine foram interrompidos por Esegar, que de repente derramou

todo o conteúdo de sua taça no colo do duque de Ergana.

Agora aqueles tremores que ele estava apresentando faziam sentido. Cerdic ameaçou

reagir e até levou a mão instintivamente ao cabo de sua espada, mas Esegar exibia uma

expressão tão senil e inofensiva que ele acabou desarmado.

Em todo caso, logo após o incidente o rei se levantou em sua plataforma, e

instantaneamente todos no salão se calaram.

“Meus amigos,” começou o monarca, “primeiramente, eu gostaria de agradecer-lhes por

terem comparecido a este jantar tendo sido avisados com tão pouca antecedência. Mas, como

todos sabem, o momento pelo qual atravessa Alberion exige urgência, e quando uma notícia feliz

como a que eu tenho hoje acontece, eu não poderia deixar de comunica-la aos pares do reino com

a maior brevidade possível.”

Os comensais se agitaram discretamente na mesa. Quando os ruídos cessaram, o rei

continuou:

“Eu acredito que nosso maior trunfo na guerra é a união. Neste exato momento, os

salesianos estão mais preocupados em lutar uns contra os outros do que conosco. O Primeiro

Cidadão morreu, e agora todas as facções de Salésia se digladiam pelo posto. Em nossa

monarquia, não temos este problema. No dia em que eu os deixar – e esse dia ainda está longe –

todos já sabem que poderão contar com meu filho, que foi preparado para isso desde o

nascimento, para assumir a coroa. E os laços entre as grandes casas de Alberion são reforçados
não por alianças passageiras ou interesses escusos, mas pelo sangue. No fundo, somos todos uma

grande família. E hoje tenho o prazer de anunciar que mais um desses laços será criado. Teremos

um casamento real!”

Um silêncio tenso se abateu sobre o salão.

“Nestes dias tristes de guerra, poucos homens têm demonstrado mais valor do que nosso

marechal, o duque Cerdic de Ergana.”

“Valor? Até onde eu sei ele ainda não venceu uma batalha sequer nesta guerra,”

sussurrou Esegar para Aethelwine.

O rei não pareceu ter ouvido o comentário, e prosseguiu com seu discurso:

“Assim, foi com imenso prazer que eu recebi o pedido do duque pela mão de minha filha,

a princesa Sarena. Agora, mais do que nunca, Alberion lutará unida como uma família, e nossos

inimigos descobrirão a fúria do Grifo!”

Ao proferir as últimas palavras, o rei ergueu sua taça em um brinde, mas a reação

certamente ficou aquém do esperado. O duque de Ergana era uma figura mais temida que amada,

e a maioria dos convidados não parecia exatamente entusiasmada com a sua conquista, embora

não tenham faltado sicofantas para gritar vivas claramente exagerados. Wynfrid Lancaster, para

desgosto do filho, era um deles.

Quando o marechal se levantou para agradecer às palavras do rei, a situação se tornou

ainda mais absurda, pois suas calças ainda estavam molhadas pelo vinho derramado por Esegar.

Antes que Cerdic pudesse falar qualquer coisa, porém, o príncipe Casimir se levantou

bruscamente e se retirou por uma sala lateral, visivelmente irritado. A expressão do rei

rapidamente se transfigurou, ficando tão irada quanto a do filho. Em seguida, ele deixou sua

plataforma e seguiu para a mesma sala.


***

O
rei e o príncipe já haviam se retirado fazia vários minutos, e um clima de

constrangimento imperava no salão de jantar desde então. Os convidados não

sabiam como agir, se ficavam ou se saíam, e os serviçais tentavam

desesperadamente manter a impressão de normalidade trazendo mais comida e bebida para a

mesa.

Ocasionalmente era possível ouvir gritos exasperados da sala para onde o rei e seu

herdeiro haviam se dirigido, embora fosse difícil distinguir o que estava sendo dito.

Eventualmente, a princesa Sarena também se retirou em silêncio para outro aposento, deixando

seu noivo sozinho para lidar com os olhares da nobreza de Alberion.

“Pelo visto não faltará emoção em seu casamento,” conseguiu dizer Esegar em um

momento em que o silêncio se tornara quase insuportável. O duque de Ergana não respondeu.

De repente, os gritos da sala ao lado cessaram por um breve momento, mas depois foram

substituídos por berros ainda mais altos e desesperados de Casimir. Agora era até possível

entender algumas palavras: “Papai! Não! Socorro!”

Esegar Powell foi o primeiro a se levantar em direção à sala, mas quando ele se ergueu

vários dos convidados fizeram o mesmo. A porta não estava trancada, e ninguém estava

preparado para a cena que se revelou quando ele a abriu: o príncipe estava no chão, aos prantos,

segurando o corpo ensanguentado de seu pai. O rei, aparentemente sem vida, tinha atravessada
no peito a Protetora de Alberion, a inconfundível espada longa da família real alberionesa, e que

há apenas alguns minutos estava na bainha de Casimir.

Por todos os lados se viam pessoas em choque. Donzelas cobriam os olhos, senhoras

desmaiavam ou fingiam desmaiar. O jovem paladino que acompanhava a inquisidora se colocou

de joelhos junto do rei, segurando na mão direita um medalhão com o símbolo de sua ordem, e

tocando com a esquerda o peito do monarca. Por um breve momento, o medalhão exibiu um

brilho azul – ele devia estar tentando usar seu toque curativo, mas nada aconteceu. Decerto,

Godomir III já estava morto, e um simples efeito de cura nada poderia fazer para salvá-lo.

Com pesar nos olhos, o paladino sinalizou para a inquisidora que nada mais poderia ser

feito. La’al não pareceu se abalar, e adentrou na sala sem olhar para o corpo. Por mais estranho

que isso soasse, ela parecia estar farejando algo.

O duque de Ergana então irrompeu, de espada em punho e acompanhado por alguns

guardas reais. Era evidente que aqueles homens eram antes de tudo leais a ele, e não ao príncipe

ou mesmo ao rei.

“Eu não esperava que Vossa Alteza fosse ficar feliz com meu casamento, mas jamais

poderia imaginar uma reação tão extremada. Mas não pense que o seu sangue irá salvá-lo nesta

hora: príncipe ou não, a pena por regicídio é a morte.”

Casimir parecia ignorar as palavras do marechal, e continuava prostrado no chão, com a

cabeça do pai apoiada em suas pernas, e uma expressão de choque e tristeza no rosto. Nesse

momento, a princesa Sarena reapareceu, coberta em lágrimas, e abraçou o irmão. Aparentemente

alguém já lhe contara o que havia acontecido. Era impressionante como as notícias corriam

rápido no castelo.
“Meu noivo, acabo de perder meu pai, e não seria capaz de suportar a perda do meu

irmão no mesmo dia. Eu vos suplico: não marque o dia do nosso noivado como aquele em que

toda a minha família foi destruída. Tenho certeza de que há alguma explicação para isso, Casimir

não seria capaz de matar o nosso pai. Prenda-o na mais alta torre ou na mais profunda masmorra

do castelo, se achar necessário, mas não cometa um erro que não poderá ser desfeito.”

A candura do pedido da princesa não podia ser ignorada, pelo menos ali, na frente de toda

a corte. Cerdic então ordenou a seus homens que levassem o príncipe para o Torre do Marechal,

e ele, ainda visivelmente abalado, deixou que o conduzissem sem protestos.

Aethelwine não podia acreditar no que estava acontecendo. Casimir era seu amigo de

infância, e embora a guerra o houvesse colocado do lado oposto do rei, ele amava profundamente

seu pai, e jamais seria capaz de mata-lo. No entanto, as evidências pareciam inquestionáveis: a

corte inteira testemunhara os dois entrarem sozinhos naquela sala e brigarem por longos minutos,

e Godomir saiu de lá morto por um golpe da espada que todos sabiam pertencer ao príncipe. Os

guardas já haviam revistado o aposento, e ninguém mais fora encontrado. O que mais poderia ter

acontecido?

“Precisamos agir rápido,” disse Esegar enquanto puxava o mago para um canto junto a

Naxxaros. “Não foi por acaso que Cerdic mandou que Casimir fosse levado para a Torre do

Marechal, e não para as masmorras do castelo, como seria natural. Lá o príncipe será guardado

por homens da própria escolha do duque, e mais cedo ou mais tarde – e temo que mais cedo –

seremos informados de que ele foi tomado por remorsos, confessou seu crime e se suicidou – e

não haverá nada que Sarena possa fazer dessa vez.”

“Agir? Você acha que devemos fazer alguma coisa?”, respondeu Aethelwine.
“Ora, Aethelwine, você conhece Casimir melhor do que eu”, disse o embaixador. “Você

não acredita que ele possa de fato ter assassinado o pai, não é mesmo? Eu ainda não sei o que

aconteceu, mas é tudo muito conveniente. Agora que o noivado foi literalmente o último desejo

de Godomir, ninguém ousará questioná-lo, muito menos Sarena. E com o rei morto e o Príncipe

de Sulster executado, ela será a herdeira da coroa – e nada mais natural do que Cerdic ser

nomeado o seu regente. Tudo isso sem deixar o posto de Marechal de Alberion. Ele será muito

mais poderoso do que Godomir jamais foi”.

“Mas o que podemos fazer?”, disse o mago.

“Eu preciso começar a sondar as outras Grandes Casas”, continuou Esegar. “Descobrir

quem estaria disposto a resistir quando a hora chegar. Mas isso levará tempo. Preciso ser

discreto, pois se Cerdic me enxergar como um inimigo ele me destruirá com um estalar de dedos.

E tempo é algo de que não dispomos. Como eu disse, suspeito que o príncipe será eliminado em

poucos dias ou até horas. E se ele morrer não haverá mais nada que possamos fazer. É aí que

você entra. É uma solução extrema, mas não consigo enxergar outra: você precisa resgatar

Casimir e fugir com ele para longe de Ebenfeld, talvez até para fora de Alberion, pelo menos até

que a situação fique mais clara. É a hora de descobrirmos se enfrentar seu pai para se tornar um

mago valeu a pena.”

“Lorde Powell, o senhor sabe que eu faria qualquer coisa por Casimir, mas eu comecei a

estudar há poucos anos… Eu certamente posso fazer alguns truques, mas duvido que tenha

alguma chance de derrotar toda a guarnição da Torre do Marechal sozinho.”

“Você não precisa fazer isso sozinho”, disse o duque. “Precisamos encontrar Nico.

Aquele halfling tem seus talentos, e ele certamente poderá ajudar”.


“Acho que há mais uma pessoa que devemos procurar”, acrescentou o embaixador. “A

monja”.

“Alana?” disse o mago. “Embaixador, eu achava que Vossa Excelência compartilhava da

minha opinião sobre ela”.

Alguns meses atrás, Casimir começara a se interessar pelas artes marciais praticadas

pelos discípulos de Iteus, que transformavam mãos nuas em armas letais. Ele então requisitara

um professor do monastério que ficava nas Montanhas Tawnyl. A professora que eles enviaram,

no entanto, era uma elfa incrivelmente bela, e, pouco depois do treinamento começar, ela e o

príncipe iniciaram um relacionamento amoroso, que àquela altura já era conhecido por boa parte

da corte. Aethelwine, assim como os demais amigos de Casimir, não gostava muito daquela

história. Na melhor das hipóteses, a monja seria uma distração em um momento em que o

príncipe precisava de atenção total nos problemas do reino; na pior, ela seria um passivo, ou até

uma espiã.

“Eu pouco a conheço, mas concordo que essa relação é imprudente e tira o foco do

príncipe”, respondeu Naxxaros. “No entanto, neste momento precisamos de qualquer ajuda que

pudermos encontrar, e acho que não temos dúvidas de que ela o ama. Além disso, ela luta como

poucos”.

“Isso é verdade. Tudo bem, eu tentarei encontrá-la.”

“Aethelwine, sei que nada do que estou pedindo é trivial, mas eu não o faria se achasse

que você não está à altura do desafio”, concluiu Esegar, já se preparando para se retirar.

Ademais, como nobres de Alberion não temos apenas privilégios – temos responsabilidades para

com o país, e é nosso dever honrar nosso nome em momentos como este. Vá e encha de orgulho

seus ancestrais. Encontraremos alguma forma de entrar em contato assim que possível”.
Aethelwine faria tudo o que estivesse a seu alcance. O lema de sua casa, afinal, era “A

Espada Mais Leal”. Seu pai podia ter desonrado os Lancasters de todas as formas possíveis, mas

Aethelwine restauraria o orgulho desse nome.

Relações com Outros Personagens

 Casimir: Casimir é sem dúvidas o melhor amigo de Aethelwine. Durante toda a

juventude difícil do mago, o príncipe sempre se mostrou um companheiro leal. Agora é a hora de

retribuir, e Aethelwine fará o que estiver ao seu alcance para resgatá-lo.

 Alana: é claro que Casimir tem o direito de ser feliz, mas Alberion atravessa um de

seus momentos mais difíceis, e o príncipe é sua única esperança. Será que ele não poderia

esperar até o fim dessa crise para iniciar uma aventura amorosa? Verdade seja dita, Aethelwine

reconhece que os sentimentos entre os dois parecem genuínos. No entanto, ele continua a achar

que Alana é a pessoa errada, na hora errada.

 Liarieth: não conhece.

 Nicolai: quando Nicolai foi trazido para o círculo de aliados de Casimir, Aethelwine a

princípio desconfiou. Afinal, não era incomum que aproveitadores tentassem se aproximar de

gente poderosa para obter vantagens. Com o tempo, no entanto, ele percebeu que Nico não era

um desses, e hoje ele é capaz de dizer que o halfling é um de seus amigos – e uma das poucas

pessoas com que ele sabe que pode contar para o desafio que terá que enfrentar.

 Tanner: Aethelwine conhece o jovem paladino de Valir há algum tempo. Ele foi uma

espécie de filho adotivo do finado duque Ta’run, que era um amigo próximo do duque Esegar.

Como os dois têm aproximadamente a mesma idade, pode-se dizer que eles cresceram juntos,
mas nunca foram próximos. O paladino sempre foi, por assim dizer, um daqueles com muitos

músculos e pouco cérebro. No entanto, ele nunca foi um dos valentões que assediavam

Aethelwine em sua juventude – pelo contrário, nas poucas vezes em que testemunhou alguma

ação de Tanner, ele parecia exibir um sólido senso de justiça.

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