You are on page 1of 6

Especialização

Ensino de Química

Disciplina: AGRICULTURA

Aula 1

Título: Introdução à disciplina. Alguns aspectos químicos envolvidos na agricultura

Objetivo: O aluno deverá reconhecer conteúdos químicos no contexto “agricultura”.

Caros alunos, tudo bem?

“Toda a matéria é formada de átomos e vazio, tudo mais é opinião”. Frase

antiga, reportada à Demócrito, não? Tão simples, mas tão espetacular. Os átomos

formam os elementos químicos. Estes, ao se unirem por meio de interações

intramoleculares formam os compostos iônicos, os metálicos e os covalentes. E cada

uma destas classes de compostos têm propriedades e funções diferentes, devido

principalmente, às interações intermoleculares.

Pois bem, nesta disciplina, vamos abordar alguns assuntos da química que

podem ser relacionados à agricultura. São eles: os elementos químicos; neste tópico

aparentemente tão abrangente, vamos verificar quais são aqueles essenciais à vida do

planeta — note bem o que escrevi — do planeta. Em seguida, estudaremos os ciclos

biogeoquímicos do nitrogênio, do fósforo e do enxofre, de forma a entendermos a

necessidade do uso de fertilizantes na agricultura. A partir daí, vamos rever equilíbrio

químico, por meio do processo Haber-Bosch, de síntese da amônia. E, por meio dos

equilíbrios de solubilidade, verificaremos os processos de interrupção dos ciclos


biogeoquímicos.

Entender a ciência pela ciência é maravilhoso, para nós que somos professores

de Química. E, talvez a primeira ideia que eu tenha passado a você de como pretendo

caminhar com esta disciplina, tenha sido esta mesma: entender a ciência pela ciência e

pela beleza que ela carrega consigo. Porém, gostaria de ir mais além, pois entender

ciência nos ajuda a olharmos com crítica tudo ao nosso redor. Por exemplo, não

precisamos acreditar em qualquer propaganda. Não precisamos aceitar qualquer

decisão sem antes pensar sobre ela.

Costumo dizer aos meus alunos — principalmente para aqueles de disciplinas

iniciais — que entender ciência é uma forma de termos “o poder”, não o poder

econômico, ou político, mas o poder “da liberdade”. A liberdade de podermos pensar

sobre o nosso mundo.

Os nossos colegas das humanidades, os cientistas sociais, os geógrafos, os

historiadores, os antropólogos, entre tantos outros, carregam consigo a

responsabilidade de entender e interpretar o mundo. Mas, nós como professores, e

professores de química, podemos tomar para nós essa responsabilidade também, não

é mesmo?

Um pouco acima eu citei, brevemente, os principais tópicos de nossa disciplina.

Todo o conteúdo abordado nestes assuntos será pano de fundo para verificarmos os

impactos social, ambiental e econômico gerados pela agricultura. Só para termos uma

ideia do impacto econômico gerado pela agricultura em 2018 o valor bruto da produção

agropecuária (VPB) foi de R$ 516,6 bilhões. Os principais produtos que contribuíram

foram o algodão, a batata inglesa, o cacau, o café, o tomate e o trigo

(http://www.agricultura.gov.br/noticias/valor-da-producao-agropecuaria-de-2018-e-de-r-

516-6-bilhoes, acesso em 20/09/2019).


Disciplina Agricultura – Aula 1 – pg 2
Estes números, tão vultosos, nos mostram a dimensão do impacto econômico

no Brasil. Agora, imaginem o impacto mundial, levando em conta a produção agrícola

de todos os países? Vamos pensar sobre a China, que é o país que mais produz e

consome alimentos atualmente. Além de exportar alimentos, a China também os

importa. Imaginem o impacto global que a agricultura na China causa? (você pode

encontrar mais dados sobre a produção agrícola da China e de outros países, em

diversas fontes, como por exemplo no site do International Institute for Environment and

Development.

Mas, ao mesmo tempo em que o Brasil, a China e tantos outros países, plantam

muitos alimentos, ainda há 795 milhões de pessoas no mundo que são desnutridas,

pasme, uma em cada nove pessoas no mundo não se alimentam corretamente no dia a

dia (dados da FAO, Food and Agricultural Organization of the United Nations). A FAO

publicou um relatório em 2015, The State of Food Insecurity in the World indicando que

a desnutrição está diminuindo ao longo das décadas. Por exemplo, nos anos 1990-92

havia 1 trilhão de pessoas desnutridas! — observe a Tabela abaixo.

Em 2015 a FAO não utilizou apenas o indicador desnutrição para aferir a “fome

no mundo”, mas também, são avaliadas o número de crianças, menores de 5 anos de

idade, abaixo do peso. Observe a linha destacada na Tabela 1, que trata dos dados da

América Latina. A desnutrição é um dado importante, pois tem mostrado que o total de

pessoas desnutridas vêm caindo mais que o número de crianças menores cinco anos

abaixo do peso. Ou seja, ainda falta chegar às pessoas alimentos variados — a

importância de uma alimentação variada será abordada em nossa próxima aula, por

meio da apresentação da função de diversos elementos químicos no crescimento das

plantas e para a saúde humana.

Disciplina Agricultura – Aula 1 – pg 3


Agora vamos pensar sob outro aspecto, tão óbvio para a existência da

agricultura, que é o solo. A FAO proclamou o ano de 2015 como o ano do solo. Cuidar

bem do solo é cuidar da vida de todos os seres vivos. Um solo bem cuidado aumenta a

segurança alimentar e nossa resiliência às enchentes e secas porque o solo, quando

possui boa quantidade de matéria orgânica é capaz de reter muita água. A maior parte

dos nutrientes que estão no solo chega às plantas por meio de sua fase líquida — mais

à frente, na disciplina, vamos explorar um pouco as três fases constituintes do solo, a

líquida, a sólida e a gasosa.

É fácil perceber que os solos contêm vida e são a base ou a “rede”, na qual as

plantas crescem. Essa rede, por assim dizer, é formada por compostos inorgânicos,

sendo o silício, a base dos diversos óxidos. O correto manejo do solo é importante para

que ele mantenha-se adequado para as plantações. Por quê? Porque cada tipo de

vegetal necessita de quantidades específicas de nutrientes e os absorve de maneira

diferente. Todos os elementos químicos, tendo sido formados por processos

geológicos, têm um ciclo biogeoquímico característico. Alguns elementos apresentam

um ciclo que incluiu os três grandes reservatórios do planeta — atmosfera, litosfera e

hidrosfera —, como o carbono, por exemplo. Outros, como o fósforo, tem um ciclo

biogeoquímico sedimentar e está contido na litosfera e na hidrosfera. E, o que esses

ciclos biogeoquímicos têm a ver com a agricultura?

Disciplina Agricultura – Aula 1 – pg 4


Vejamos, como exemplo, o caso do nitrogênio, que é essencial para o

desenvolvimento das plantas. Durante este processo, o solo empobrece em nitrogênio.

Com o tempo, e em condições adequadas de umidade e calor, este nitrogênio será

reposto — obedecendo ao ciclo biogeoquímico do elemento — porém, com a

necessidade de não poder parar o plantio, não há tempo para o solo recuperar a

quantidade de nitrogênio perdida. Então, o que é necessário fazer? Utilizar os

fertilizantes, claro. Os fertilizantes são à base de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK).

Este é o ponto de nossa disciplina no qual vamos abordar a síntese da amônia e

equilíbrio químico, pois o aperfeiçoamento da síntese da amônia para escala industrial,

a partir de hidrogênio e oxigênio provocou um grande desenvolvimento industrial e a

Revolução Verde.

Disciplina Agricultura – Aula 1 – pg 5


Mas, voltando ao nitrogênio, se ele tem um ciclo biogeoquímico, este não deve

mais seguir os mesmos passos, pois os fertilizantes injetam nitrogênio no solo, ao

passo que a necessidade de usar a terra para o aumento das plantações também

dificulta a ciclagem natural dos nutrientes. E, o que dizer das terras que são utilizadas

na pecuária e restringem o espaço para a agricultura? Esses fatores provocam a

interrupção dos ciclos biogeoquímicos, outro assunto que trataremos em nossas aulas.

Por fim, e não poderia ser diferente, vamos também abordar, além do uso de

fertilizantes, a necessidade da presença de agrotóxicos — ou pesticidas — corretivos

agrícolas e inoculantes de forma a tornar os solo mais propício ao plantio. Desta forma,

vamos rever, também, os equilíbrios de solubilidade, que é o último dos conteúdos que

serão abordados na disciplina.

Pois bem, este conteúdo será dividido em seis aulas. Em cada aula você

encontrará um texto que trata de um assunto específico e, procurarei chamar a sua

atenção para os aspectos químicos envolvidos em cada um dos assuntos por meio de

algumas Atividades opcionais, as quais são sugestões para acrescer o seu trabalho em

sala de aula ou, até mesmo para elaborar seu TCC... quem sabe?

Espero que goste da disciplina. Eu gosto muito e adorei prepará-la! ;-)

BIBLIOGRAFIA:

FAO - Food and Agricultural Organization of the United Nations: <https://www.fao.org>

IIED - International Institute for Environment and Development: <https://www.iied.org>

Disciplina Agricultura – Aula 1 – pg 6

You might also like