International Center for the Arts of the Americas at the Museum of Fine Arts, Houston

Documents of 20th-century
Latin American and Latino Art
A DIGITAL ARCHIVE AND PUBLICATIONS PROJECT AT THE MUSEUM OF FINE ARTS, HOUSTON

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EM OUTROS TEMPOS E NAIVE ARTS
NOS TEMPOS ATUANS IN Tre
ARTE NDIGENA AND NOWADAY
LUCA HUSSAK YAN VECHEN
CURADORA
OS PRIMEIROS TEMPOS E OS TEMPOS ATUAIS:
ARTES E ESTETICAS INDIGENAS,
“No comego das coisas, aqui s6 havia habitantes da
floresta, seres humanos. Os brancos clamam hoje: “Nés
descobrimos a terra do Brasil!” Isso ndo passa de uma
mentira. Ela existe desde sempre e Omama nos criou com
ela. Nossos ancestrais a conheciam desde sempre. Ela no
foi descoberta pelos brancos! Muitos outros povos, como
os Makuxi, os Wapixana, os Wai Wai, os Waimiri Atroari, os
Xavante, os Kayapé e os Guarani ali viviam também. Mas,
apesar disso, os brancos continuam a mentir para si
mesmos pensando que descobriram esta terra! Como se
ela estivesse vazia! Como se os seres humanos nao a
habitassem desde os primeiros tempos!”
Davi Kopenawa Yanomami, 1999
Trilhas historicas divergentes sao percorridas ha mui
séculos e nesse percurso o passado e o presente indigena
ainda permanecem obscurecidos, reforcando 0
preconceito e o desconhecimento sobre a trajetéria dos
Povos indigenas que vivem no Brasil contemporaneo.
Uma grande parte deste desconhecimento repousa na
conviceao da maioria dos brasileiros de que a histéria do
Brasil principia em 22 de abril de 1500. Nesta data, se nao
58
LCA HUSSA AN VETHEN
CURATOR
PRIMEVAL AND PRESENT TIMES:
NATIVE ARTS AND AESTHETICS
‘in the beginning there were only forest inhabitants here, human beings.
Today the white people claim: ‘We discovered the land of Brazil’ This is
nothing more than a lie. It has existed forever and Omama created us
along with it. Our ancestors have always known this. It was not discovered
by the white people! Many other pegples, such as the Makuxi, the
Wapixana, the Wai Wai, the Waimiri Atroari, the Xavante, the Kayaod, and
the Guarani also lived there. Yet, even so, the white people continue to lie
to themselves, thinking that they discovered this lana! As if it had been
empty! As though human beings had not been living here since the
earliest times!"
Davi Kopenawa Yanomami, 1999
Divergent historic paths have been traveled for many centuries, and in this
travel the past and the present of the native people are stil obscured.
This reinforces prejudice and lack of knowledge about the course of
history of the native people who live in contemporary Brazil.
Much of this lack of knowledge stems from the conviction of most
Brazilians that the history of Brazil began on April 22, 1500. On that date
an event occured which, itnot exactly an act of invasion, was not the So
called “discovery,” the dawning of a nation. Rather, it was the beginning ©
ocorreu propriamente um ato invasor, tampouco foi o
chamado “descobrimento” o alvorecer de uma nagao mas,
efetivamente, 0 inicio do processo colonizador portugués,
indelevelmente marcado pelo genocidio e a escravidao.
Neste teatro, os portugueses inaugurariam a stéria e a
confirmariam. Aos indios sé caberia um papel secundario,
irrelevante, que nao os considera enquanto atores
histéricos concretos, dotados de trajeto préprio.
Ha consideravel polémica sobre 0 povoamento das
Américas e a antigiiidade deste povoamento. Igualmente
controversas sao as referéncias sobre as cifras
populacionais para o periodo colonial. Contudo,
Seguramente, povos e mais povos indigenas
desapareceram da regido costeira e também da calha do
rio Amazonas e de alguns de seus afluentes, descritos nos
séculos XVI e XVII como extremamente populosos. O
morticinio desenfreado foi o resultado de um processo
complexo cujos agentes foram os europeus e as
enfermidades que estes trouxeram, atingindo inclusive as
populagées que nao tinham contato direto com eles.
Outras causas tornaram-se igualmente responsaveis pelo
declinio demografico no Brasil: as guerras de conquista e
de apresamento em que indios de aldeia eram alistados
contra indios ditos hostis; a pentiria resultante, a
desestruturagao social, a fuga para novas regides das
quais se desconheciam os recursos naturais, a exploracao
do trabalho escravo indigena e, mais recentemente, o
esbulho das terras dos indios que se alastrou para as
riquezas do subsolo e para outros recursos naturais
encontraveis em seus territérios’.
A ganancia e a ambigdo dos colonizadores e a inépcia das
politicas indigenistas conseguiram perpetrar a redugao da
populagao indigena para os parcos 300 mil que hoje vivem
em terras que se espalham pelo territério nacional. No
Brasil contemporaneo, 206 povos indigenas se
concentram em sua maioria nos Estados do Centro-Oeste
no Norte do pais; um percentual mais reduzido, mas que
chega a 40%, localiza-se no Nordeste, no Leste e no Sul.
Entretanto, e contrariando teses pessimistas que
preconizavam o seu desaparecimento, as populagées
indigenas voltaram a crescer e, conseqiientemente, nao
podem ser encaradas enquanto uma categoria social
transitéria no cendrio brasileiro, mas sim como parte
integrante de uma nagao pluriétnica.
As vésperas do terceiro milénio, a sociedade brasileira
esté diante de um duplo desafio, pois trata-se de trazer a
luz o papel histérico dos indios na formagao cultural do
pais, como também de repensar o significado da historia a
partir da experiéncia e meméria dessas populagées. Neste
amplo painel onde se desenha a reavaliagao de um
histérico de lutas e resisténcias indigenas, as suas
manifestagées artisticas encontram lugar, pois as mesmas
continuam nao sendo apreciadas e consideradas em sua
justa medida pela grande maioria dos brasileiros, apesar
das evidéncias ressaltarem que as primeiras obras de
arte de nosso territério originaram-se nas
sociedades indigenas.
Ressaltar a complexidade e profundidade conceitual das
artes indigenas constitui a via que norteia as paginas que
sseguem, salientando-se que as mesmas nao pertencem a
uma ordem estatica de um paraiso perdido, mas que
representam obras dotadas de uma contemporaneidade
inquestionavel, mas inegavelmente diferenciada.
“A arte tem o poder de extrair do pensamento cada coisa.
As imagens significam para 0 povo a sombra da sua
sabedoria.”
Raimundo Leopardo Ferreira Ticuna, 1998
the Portuguese colonization process, indelibly marked by genocide and
slavery. The Portuguese inaugurated and confitmed in this theater a
history in which the Indians played a minor, insignificant role, one in
which they were not considered as real actors with a direction and story
of their own,
There is a great deal of controversy conceming when the Americas were
first inhabited, and the processes by which this took place. There is also
much debate as to the accuracy of the population figures pertaining to the
colonial period. Nevertheless, there is no doubt that many native peoples
disappeared from along the coast and the Amazon River and some of its
tributaries, as these were described as heavily populated in the sixteenth
and seventeenth centuries. The massive-scale death was the result of a
complex process involving the Europeans and the sicknesses they
brought, which began by affecting local populations but then spread to
others who had no direct contact. Other causes equally responsible for
the drop in the native population included: the wars of conquest and
capture, in which Indians of the settled territories were enlisted to fight
against so-called hostile Indians; the resulting impoverishment and
destruction of the social structure; the flight to new regions where they
had no knowledge of the natural resources; native slave labor; and, more
recently, the plundering of wealth beneath the soil of Indian territories,
along with other natural resources.
The greed and ambition of the colonizers, together with the ineptness of
their policies regarding the native peoples, reduced the original population
to the much lower level of around 300,000 currently living within Brazi
The 206 native cultures extant today in Brazil are mainly found in the
countrys Midwest and North, while another 40 percent are found in the
Northeast, the East and the South, Contradicting pessimistic analyses
which foresaw their disappearance, the native populations have begun to
make a comeback and can no longer be seen as a transitory social
category in the Brazilian scenario, but instead as an integral part of a
multiethnic nation,
With the third millenium beginning, Brazilian society faces a double
challenge: to shed light on the role the Indians have played historically in
forming our nation’s culture, as well as to rethink the meaning of history in
light of the experience and memory of these populations. In this larger
context, in which the history of their plight and their struggles for survival is
being reconsidered, their artistic creations gain new importance. However,
they are stil not appreciated and given the consideration they deserve by
the vast majority of Brazilians, despite the evidence that the first works of
art in our territory originated within Indian societies,
The pages that follow describe the conceptual complexity and depth of
the native arts, calling attention to the fact that they do not pertain to some
kind of static order of lost paradise, but rather represent works endowed
with an undeniable contemporaneousness, while remaining totally unique.
“Art has the power to extract all sorts of things from thought. The images
signify for people the shadow of their wisdom,
59
 Olhar para coisas surpreendentes,

Olhar para objetos indigenas é olhar para coisas

surpreendentes, porque nao previsiveis. Algumas sio
desconcertantes, como as grandes mascaras, outras
sao ricamente coloridas, como os ornatos plumérios, ou
entdo intrincadas, como os cestos provides de motivos
marchetados. 0 olhar nao deve, contudo, se deter na
superficie, mas mergulhar em estruturas profundas, pois 6
nesse dominio que esses objetos sao mais provocativos
e desafiadores.
Mirar além das superficies induz a conhecimentos acerca
de contextos e, portanto, as produgées indigenas devem
ter uma apreciagdo que nao se restrinja as formas
concretas, mas que englobe igualmente outras expressdes
culturais que compartilham de um mesmo modelo de
experiéncia coletiva. Efetivamente, essas producées
revelam dimensées do universo 0 € metafisico, assim
como transmitem preocupagées eminentemente
comunitérias e identitarias, almejando, sob certo aspecto,
ao titulo de “auto-retrato™. Nesta perspectiva, os objetos
transmitem conhecimentos acerca da imagem que seus
produtores fazem de si mesmos e referendam as
diferentes formas de veicular essa imagem. Em outros
termos, trata-se de uma experiéncia que se legitima
Mascara através da incorporacao das caracteristicas formais e
estilisticas de uma filiagao cultural que afirma e confirma
Ticuna, Amazonas um ser humano assim como um artefato, quer seja ele de
Museu de Arqueologia e Etnologia ~ USP
‘Sao Paulo argila, de penas, de fibras vegetais, quer seja usado por
homens ou por mulheres, em momentos da vida cotidiana
ou nas complexas praticas ritualisticas.
Looking at surprising things
To look at native objects is to look at surprising things, because they are
unpredictable. Some, such as the large mass, are unsetting: others,
such as the feathery decorations, are richly colored: yet others, such as
the baskets with inset motifs, are intricate. The gaze should not, however,
remain on the surface, but should immerse itself in the deep structures, as
this is where these objects are most provocative and challenging,
Looking beneath the surfaces brings about understanding conceming
contexts and, therefore, the appreciation of native productions should not
be restricted to the physical forms, but should include other cultural
expressions that share in the same model of collective experience. These
productions reveal dimensions of the mythic and metaphysical universe,
while clearly transmitting communitarian concems and a desire for
identtication. in some ways they are efforts at “self portrait.”” From this
perspective, the objects convey knowledge about the image that the
producers have of themselves and endorse the various ways of
transmitting this image. In other words, they involve an exoerience that is
legitimized through the incorporation of the formal and stylistic
characteristics of a cultural affiiation which thus affims and confirms a
human being as well as an artifact, whether of Clay, feathers,
plant ficer, whether used by men or by women, for everyday use or for
ritualistic activites.
To probe these productions requires that we see them in civerse ways,
correcting the distortions that stil persist. These distortions arose from the
imperative in Westen thought for evaluating the arts of the Americas
according to its own assumptions. By this process Westerners
transformed the unknown into something known, Out this led to their
longstanding lack of appreciation of these arts, relegating them to the
reaims of anthropology and museums of natural history.* Moreover, they
were, and stil are, considered as “artisanal” objects and therefore
assessed in light of a distinction between artworks and artisanal works.
‘The institution of hierarchies in this assessment is due in part to the native
works being judged as authorless, anonymous works, and in part to the
widespread assumption that artisanal crafts are linked to tradition, to a
past and backward:-looking way of life, as is invariably associated with
native cultures.”

Figura Antropomorta de Cero!

Tapirapé, Mato Grosso
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
‘So Paulo
Sondar essas produgées ica olha-las de modo
diverso, corrigindo as distorgées que ainda persistem.
Distorgdes que tém origem na imperiosa necessidade do
pensamento ocidental de avaliar as artes da América a
partir de seus préprios pressupostos e, neste exercicio,
transformar o desconhecido em algo conhecido, abrindo
assim espaco para a prolongada desconsideragao de que
foram alvo, relegadas que foram ao ambito da antropologia ¢ relative scarcity of research and
e dos museus de Histéria Natural‘. Paralelamente, foram e g this material, resulted in the lumping together of
ainda s4o aquilatadas enquanto “artesanato” e, por of the Brazilian Indians under the single label “nati
conseguinte, sdo julgadas valorativamente, a partir do would appear to imply tha there is a common and
estabelecimento de uma distingdo entre arte/artesanato. ong the India i$ ~ which is not the as there are a:
A instituicdo de hierarquias nesta apreciagao deve-se em ofa nere are cultures producing it. For this re
parte porque as produgées artisticas indigenas sao term “native arts,” in the plural, is preferred asa more accu
julgadas anénimas, desprovidas de autoria individual, e em conceptuaization. Neverthe is need to 6:
parte porque, segundo o pressuposto mais freqiiente, o diversi
artesanato estaria ligado a tradicao, a um modo de vida distinguish them fro ropean, Aff sian production,” as
pretérito, atrasado’, aspecto invariavelmente associado as well as from the artistic production of other American people.
culturas indigenas.
In native life, the field covered by the ca ory “art is much idler th
A miopia ocidental, acrescida da relativa escassez de Western thought's definition of “native an.” Western thinking is focus
estudos e publicagées sobre esta matéria‘, permitiu que as the ories of greatest visual im
diversificadas produgées materiais dos indios no Brasil
fossem rotuladas com uma expressao no singular: “arte
indigena”. Entretanto, essa qualificacao nao pode ser cotton, a spatula fors
considerada enquanto um meio de identificagao de uma t formal qualities which
arte comum e geral dos indios, visto que ela se expressa is required in the per al functions,
de tantas formas quantos sao 0s povos que as produzem,
necessitando apresentar-se forcosamente no plural - \er assumption sportable,
“artes indigenas” ~ para uma correta conceituagao. involving at basket weaving,
Entretanto, é preciso ponderar que, apesar das diferencas, feather craft, the v which be found in museums or
ha um ar familiar nessas criagées que as torna xcludes the arts of an ephemeral
distinguiveis tanto das européias como das africanas e das s body 0: forms of person:
asiaticas’, e também de suas congéneres, as produgées is Musical mar various performances,
artisticas de outros povos americanos. ‘ations reveal that the a thetic value lies in the use of a
object or,
© campo abrangido pela categoria “arte” 6, na vida exclusively, €
indigena, muito mais amplo do que aquele que o basket or a
pensamento ocidental delimitou enquanto “arte indigena”.
Ao considerd-la, 0 Ocidente privilegia categorias que sao
visualmente de maior impacto, como os ornatos de penas
ou os objetos rituais. Entretanto, o fazer artistico indigena
no recai exclusivamente sobre os objetos de uso ritual, e
assim uma flecha de caga, um cesto para armazenar
algodao, uma espatula para servir postas de peixe podem,
muitas vezes, apresentar-se formalmente muito mais
elaborados e embelezados do que seria necessario para o
cumprimento de suas fungées de uso.

Flechas para Caga

Parakana, Para
Muse u Parsense Emilio Go
Belém do Para etal

62
Rede de Dormir
Rio Negro, Amazonas
Viena Verna

Outro pressuposto considera que as artes indigenas se
materializam quase que exclusivamente pelas formas
transportaveis, resultado de técnicas manufatureiras
ligadas a categorias artesanais tais como ceramica,
entalhe, cestaria, plumaria, tecelagem, e que sao
encontraveis em museus ou lojas de artesanato. Essa
concepeao exclui as artes de cardter efémero, tais como a
pintura corporal e diferentes formas de ornamentagao
Pessoal, assim como as manifestacées musicais e as
performances. Outras concepgées indigenas vao informar
que a valorizagao estética esta no uso de determinado
objeto ou entado divorciada deste ou, ainda e
exclusivamente, em uma adequagdo complexa entre os
elementos constitutivos de um cesto ou uma mascara.
Ali itada visdo acerca do alcance das artes indigenas,
Pressupondo que os esforcos criativos estariam
concentrados exclusivamente na produgdo de objetos,
olvida que nas sociedades indigenas a arte abrange outros
dominios, enquanto parte integrante de um sistema
cultural. Exprime-se, portanto, em contextos os mais
diferentes, podendo ser encontrada na estrutura circular
das aldeias Timbira, na disposi¢ao dos cultivares nas
rogas Tukano, ou na decoragao aplicada pelos Wayana aos
ca brava’, Paralelamente, as criagées
artisticas indigenas incluem um fazer e um usufruto
didrios, em que a “veemente vontade de beleza” colocada
em tudo o que é feito, atribuida aos Kaapor*, mas que tao
bem se aplica a tantos outros povos indigenas, se revela
também em coisas mitidas, pessoais como o brilho das
penas verdes introduzidas nos Iébulos das orelhas, o som
de sementes que se entrechocam nos colares ou tangas, o
ondular das pinturas corporais no esfor¢o fisico, o olor do
urucu fresco...
64
Mascara
Mehinako, Mato Grosso
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro
The narrow view of what constitutes native art, which assumes that the
creative efforts are concentrated exclusively in the production of objects, is
oblivious to the fact that in the native societies art is to be found in other
areas, as an integral part of a cultural system. It is thus expressed ina
wide range of contexts, and can be seen in the circular structure of the
Timbira villages, in the arrangements of crops in the plantations of the
Tukano, and in the decorations that the Wayana apply to their loaves of
manioc bread." The native artistic expression included in everyday
practices and fruition has given at least one culture, the Kaapor, a
reputation for an “eager yearning for beauty" ° that goes into everything
they make, but this could just as well apply to many other native cultures.
This is also expressed in details of personal items such as the luster of the
green feathers placed in the lobes of their ears, the sound of seeds that
raitle against one another on necklaces and G-strings, the undulations of
body paintings during physical exertion, the scent of fresh annatto dye...
Artistic production in native life consists of an expression of knowledge. of
wisdom that is exercised in many fields. The male and female arists need
to understand the countless raw materials employed - palm trees, vines,
long strips of aruma leaves, feathers and plumes of birds, clay and its
. Teinforcements, various types of wood and fiber. They need knowiedge
Concerning the places where these materials are found, the correct
manner of harvesting and processing them prior to working, knowledge
about glues and gums, vegetal and mineral dyes, vamishes and the
manufacturing and use of instruments. They need knowledge concerning
the right places and moments favorable for a given artistic activity, about
 Urubu Kaapor, Maranhao
Museu Paraense Emilio Goeldi
Bel
Diadema Emplumado
na Francesa
juseum flr Vélkerkunde
 Recipiente Espata de Palmeira
Yanomani, Roraima
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Pard
As produgées artisticas configuram, na vida indigena, uma
expressao de conhecimento, de sabedoria que se exerce
em muitos campos. E requerido dos artistas, homens e
mulheres, 0 conhecimento a respeito das intimeras
matérias-primas empregadas: palmeiras, cipés, aruma,
penas e plumas de passaros e aves, argila e seu
antiplastico, madeiras e fibras. Conhecimentos acerca do
local onde essas matérias sao encontradas, a forma
correta de colhé-las e processa-las para que possam ser
trabalhadas. Conhecimentos sobre gomas colantes,
tinturas vegetais e minerais, vernizes e a confecgo e o
uso dos instrumentos. Conhecimentos sobre os locais e os
momentos favoraveis para a atividade artistica, sobre as
praticas propiciatérias e as evitages que, em conjunto,
contribuem para a exceléncia do resultado final.
Conhecimentos sobre as técnicas de manufatura préprias
ao sexo e idade, a respeito das formas de principiar,
conformar 0 objeto e o arrematar. Conhecimentos sobre o
repertério decorativo, sua origem mitica, a adequagao e
correta aplicagdo dos padrées, pintados ou entretecidos.
Conhecimentos sobre 0 uso e o armazenamento dos
adornos e demais artefatos. Essa soma de conhecimentos,
que se expande para além do que foi elencado acima,
confere as artes indigenas uma representatividade unica.
rtes indigenas se expressam de diferentes formas, das
fémeras pinturas corporais aos permanentes
rupestres, pintados ou gravades nos abrigos ou
o Rio Negro indicam a importancia
fg eee para as sociedades
constituem indicativos de uma continua
tica, pois os Desana estabelecem elos de
passado, ao considerar que foram os seus
autores das gravuras rupestres encontradas
is dos afluentes do Alto Rio Negro“.
Jées artisticas indigenas expressam
omunitarias e individuais, permitindo a
Psociedade indigena desenvolver o que poderia ser
io de “estilo préprio”. No plano expressivo da
§o-indigena e a luz dos estudos até o presente
8'#-é possivel detectar dois enfoques principais.
= privilegiariam conceitos e
amente ligadas as relagdes
We outras optariam por representar entidades
rais e conceitos cosmolégicos mais amplos.
‘social de seus criadores e manipuladores”. Este aspecto
ica patente na ornamentagao corporal dos Xavante e dos
Kayapé Xikrin, onde sinais diacriticos distingem grupos e
the propitiatory practices and the things to avoid, all of which contribute
toward the excellence of the final result. They need knowledge about the
manufacturing techniques best suited for a person in terms of gender and
age, regarding the manner to begin, to give shape to the object, and to
finish it. The need knowledge about the decorative repertoire, its mythic
origin, the adaptation and correct application of the patterns, painted or
interwoven, and about the use and storage of the adormments and other
artifacts. This entire stockpile of knowledge, which goes beyond the
above-mentioned, confers to the native arts a unique
“representativeness.”
‘The native arts are expressed in different ways, in everything from the
ephemeral body painting to the timeless registers either painted or
engraved in caves or rock outcroppings, corresponding to a
representational practice which has existed since the Pleistocene. In
Brazil, records left in grottoes in the southeast of the state of Piaui and
Upper Rio Negro basin indicate the sociocultural importance of these
manifestations for the producing societies '° and provide indications of a
continuous aristic activity. For example, the Desana establish links with
the past because they consider their ancestors the authors of the cave
engravings found along the tributaries to the Upper Rio Negro."
The native artistic manifestations express communitarian and individual
concerns, allowing each native society to develop what could be called a
“style all its own." In light of the studies so far realized,” it is possible to
Getect two main focuses of expression inherent to native production.
Several cultures have favored concepts and representations more
specifically associated to the relations established among individuals and
groups in society, while others have tended to represent supematural
entities and broader cosmological concepts.
Insofar as they are related to the social dimension, the native arts convey
messages concerning the social position of their creators and
manipulators.”* This aspect is evident in the body ornamentation of the
Xavante and the Kayapo Xikrin, in which diacritical signs distinguish
groups and define categories and social statuses such as the inclusion in
certain age groups or in ceremonial groups or clans. The visual language
of the ornaments transmits information about prestige and transgression,
rights and duties, as each individual is only allowed to use omamentation
of his or her ancestral line.* When there is a direct relation to
cosmological concepts, the native convert themselves into prisms that
67
 marcam categorias e status sociais como a inclusdo’em
determinados grupos de idade ou em grupos cerimoniais e
em clas, A linguagem visual dos enfeites transmite
informhagées sobre prestigio\e transgressao, direito e
dever, pois s6 é permitido ao individuo 0 uso de enfeites
de sua linhagem", Quando diretamente vinculadas aos
conceitos cosmolégicos, as artes\indigenas convertem-se
antes em prismas que refletem as concepgées acerca da
composicao do universo e dos componentes que 0
povoam, sobretudo dos que estado alijados da sociedade,
0s mortos, os inimigos, os animais, os sobrenaturais. Entre
os Ye’kuana e os Waiapi a composicao formal e ornamental
de um artefato permite a recapitulacdo do todo,
fornecendo uma sintese da organizacdo da realidade
conceitual, e, paralelamente, reintroduz outras esferas do
universo no seio da sociedade, estabelecendo 0 contato,
necessario, com os “outros”.
Essas consideragées permitem enfatizar que os métodos
das artes indigenas e os sentimentos que as animam sao
insepardveis, nado se podendo compreendé-las como um
encadeamento de formas, porém como um mecanismo
cognitivo que reflete a visdo e 0 sentido que é conferido
pelos membyos de uma sociedade especifica. Nas
sociedades indigenas, a arte serve sobretudo para ordenar
e definir o universo, uma vez que é parte integrante da
fungdo cognitiva global e, neste sentido, permite aos
membros da sociedade criadora “olha-los.e se olharem”"*.

“react thelr ideas dodut the poston the universe ahd tNe
‘components existing within if! especially those that have been st out of
Society, the’ dead, ener! imals. and supematural oéings. Among the
Ye'kuana ang the’ eid, the formal and omamental, composition of an,
artifact atows f6r a recapitulation of everything, providing a syritnesis of the:
organization, of i ‘oncepiualreaity, While also functioning to reintroduce.
coe.of, society, petayjening} the,

These considerations
Lifer oie that he, Lhe
“patie arts and tho feelings that motfvate them are inseparable, ax iis
‘impossible to understand them, n,interinking’of forms. but’ rathef as a
cognitive mechanism that refigCts the vision afid the méaning thatis Y
Conterreduy the members.6f a speciic olety. In the native societies art
“serves, above all, toorder ‘afid'define, they ivers@’ since itjs'an neg) f
0 nat the globalcogattve function andi in this Way, permits the i

Reprodu¢ao do Orafismo' sobre Pape!

Reprotucion of a'Sign oh Pere
‘Asuri, Part
Colegso Musoulo dofde Jano

As artes indigenas servem assim de meio para 0
armazenamento e a transmissao de informagées,
configurando um “texto”, eminentemente visual, que se
caracteriza por ser compartilhado, pois os elementos
estéticos possuem um sentido e uma légica que €
compreendida pelo artista e pelo grupo ao qual pertence.
Estes sdo alguns dos motivos que fazem com que as
expressées plasticas indigenas apresentem-se marcadas
pela impressdo de uma acumulacao de cargas e jamais
como o resultado de um impulso criativo espontaneo”.
Parecendo abolir 0 tempo, essas obras conferem a cada
uma de suas expressées a qualidade e valor de modelo,
entretanto, e paralelamente refletem as mudangas
efetivadas no decorrer do tempo, constituindo elas
mesmas arcabougos transformativos que facultam o
surgimento de concepgées que irdo proporcionar as
sociedades criadoras os meios de adaptagao as novas
realidades. 0 que é revelado e se institui é uma certa
qualidade de “estar-no-mundo”, a qual infere um certo tipo
de participagao, de uma ideologia, de uma crenga, todas
profundamente marcadas pelo cultural, pelo comunitério,
valores reconhecidos e compartilhados e que se revelam
sobretudo através do que se deno1 ueiramente
como “decoragao”.
A vida indigena é essencialmente marcada pelo sentido
marca cultural em pessoas e coisas, constituindo uma
atividade artistica e simbélica que é partilhada por todos
os membros da sociedade. Este sentido, no pensamento
indigena, integra a esséncia mesma do elemento ao qual é
aplicada a ornamentacdo, seja ele 0 corpo humano ou um
artefato, pois de outra forma estariam incompletos e
despersonalizados culturalmente; em altima andlise, é a
decora¢ao que os cria, como ocorre com a pintura facial
Tiriy6, Para
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Pard
70
members of the creator society to "see themselves and be seen." The
native arts thus serve as a means of storing and transmitting information,
thus configuring a "text" that is outstandingly visual and has the
characteristic of being shared, because the aesthetic elements possess a
meaning and a logic understood by the artist and the group to which he
or she belongs,
‘These are some of the reasons why the native artistic expressions bear
the impression of an accumulation of loads and are never the result of a
spontaneous creative impulse.” These artworks appear to abolish time,
and confer the quality of value of being a model on each of their
expressions. While at the same time reflecting the changes brought about
by the passage of time, they are transformative frameworks that permit the
emergence of concepts that offer tne means for the creator societies to
adaot to new realities, What is revealed and instituted is a certain quality
of “being-in-the-worid,” which infers a certain tyoe of participation, an
ideology, a belief, all profoundly marked by the cultural, by the communal,
bearing recognized and shared values revealed mainly through what is
commonly called “decoration.
Native life is essentially marked by a decorative sense, a social
intervention aimed at impressing the cultural mark on people and things,
constituting an aristic and symbolic activity shared by all the members of
the society. In the native thinking, this sense is part of the very essence of
the element to which the omamentation is applied, whether this be a
human body or an artifact, as otherwise they would be incomplete and
culturally depersonalzed. in the final analysis it is the decoration that
creates them, as occurs in the Kadiweu facial painting.’* The native
Gecoration seeks to communicate another order that is at the same time
representative and conceptual, and which effectively contributes to the
comprehension of the interinking that exists between the aesthetic and
other realms of thought. The specific intentions are aimed at the
affirmation of ethnicity as well as the human condition, or perhaps at the
appropriation of desirable qualities, spiritual communication, or even
cosmic-philosophical reflection ang the consequent visual expansion that
will alow the artist to peroeive aspects that remain hidden to ordinary
vision. Such is the case among the Wayana with regard to the perception
of the morphology of their supematural beings.”

Kadiweu"*. A decoragio indigena procura comunicar uma
outra ordem que é ao mesmo tempo representativa e
conceitual e que contribui efetivamente para a
compreensio do entrelagamento existente entre a estética
¢ outros dominios do pensamento. Os propésitos
especificos direcionam-se para a afirmag¢do étnica e da
condi¢do humana, ou entio para a apropriagio de
qualidades desejaveis, a comunicacao espiritual ou ainda
a reflexdo césmico-filoséfica e conseqiiente expansio
visual que permitiré ao artista perceber aspectos que
‘estavam ocultos da visio ordindria, como, entre os
Wayana, a percepgio da morfologia dos sobrenaturais”.
A elaboragio plastica da decorag’o destina-se, portanto,
tanto aos corpos humanos quanto aos objetos: cestos,
remos, recipientes ceramicos, bancos, cuias, cabacas,
com variagdes formais porque executados através de
diferentes técnicas, mas revelando 0 estilo de cada
sociedade. Este compartilhamento torna-se compreensivel
se considerarmos que, nas sociedades indigenas, 0 corpo
humano, enquanto matriz organizadora central, pode
estabelecer uma correlagao simbélica com outros
elementos culturais e, nessa légica, os objetos sio
compreendidos enquanto seres corporificados, ou melhor,
representam “corpos” ou partes de “corpos”, os quais nao
40 necessariamente humanos™.
© sentido decorativo encontra no corpo humano o seu
corolario expressivo, pois o ser humano é 0 painel por
exceléncia da afirmagao étnica e cultural. E esse corpo
que oferece o suporte basico para os padrées pictéricos e
também para adere¢os e vestimentas, Tal uma matéria,
que pode ser transformada & vontade, o corpo humano 6
submetido a todos os tipos de tratamento: pintado,
modelado, escarificado, tatuado, perfurado, incrustado,
canalizando o melhor da atividade artistica e semantica
indigena, permitindo retirar um ser de sua condi¢ao
natural de individuo para investi-lo enquanto membro de
uma comunidade. Neste sentido, a decoragiio confere-Ihe
dignidade, significado espiritual e identidade grupal,
tornando-o um ser social". Estes aspectos podem ser
verificados entre os Karajé, que usam brincos
diferenciados sexualmente, portam tembetds de quartzo
‘ou madeira para assinalar a condi¢do masculina e
recebem a marca étnica distintiva constituida por uma
incisdo circular sob os olhos™.
‘The artistic elaboration of the decoration is therefore directed as much
toward human bodies as objects: baskets, paddies, ceramic recipients,
benches, gourd bows and water dippers, with formal variations because
they are executed by diferent techniques. yet reveaing the stye of each
society. This sharing becomes understandable ¢ we consider that in nate
societies the human body, as the central organizational matrix, can
estabish a symbolic correlation with the other cutural elements and, using
this logic, the objects are understood as embodied beings, representing
"bodies" or parts of "bodies," not necessarily human,”
Itis in the human body that the decorative meaning finds its expressive
Corolary, as the human being is the panel par excellence for cutval and
ethnic affirmation, The body otters the basic support for the pictorial
pattems as well as for adormments and apparel. As a material which can
be transformed at human body is submitted to al sots of
Yeatments. It is painted, soupted, scared. tattoced, pierced, and iniaid,
channeling the best native att 19 for the
removal of a being from his or her natural condition as an individual to
instate him or her as a member of a communty. in this way, decoration
confers dignity, spiritual meaning, and group identity, transforming one into
stye of earings s
pgs fo pont Out
ethnic mark consist
image constncted by the co!
necessary in face of the aesthetic canons of other societies. as wel as
the natal and supematural
Giterentiation is processed trrough other forms, as it is necessaryt
emphasize that in the natwve arts it iS not merely the case of decora!
human body, but a'so of “constructing i.” especially during the rit
other important social occasions. Other "bodes" are equally elaborated,
ut together in theform of masks, These are strange, aberrant, magnary
‘bodies in that they are the bogies of enerries, animals, supematual
beings, whic by contrast and by way of ther very strangeness also point
to the fundamental concition of humanity,
n
Essa investidura permite ao individuo alcangar outro
objetivo, o de parecer diferente de si mesmo para
identificar-se com a imagem fabricada pelo coletivo,
concretizando a diferenciagao, necessaria, face aos
canones estéticos das outras sociedades e também face
ao mundo natural e sobrenatural. Essa vontade imperiosa
de diferenciagao se processa através de outras formas,
pois nas artes indigenas é preciso ressaltar que nao se
trata apenas de decorar 0 corpo humano, mas também de
“construi-lo”, sobretudo durante os rituais e em outras
ocasiées sociais importantes. Outros “corpos” sao
igualmente elaborados, montados sob a forma de
mascaras, corpos esses que so estranhos, aberrantes,
agindrios, pois sao de inimigos, de animais, de
sobrenaturais, os quais irdo proporcionar,
contrastivamente e por sua estranheza mesma, a condicao
fundamental de humanidade.
‘Ao inserirem-se em um quadro cultural mais amplo, as
artes indigenas delineiam visées de mundo especificas
nas quais uma mascara ou motivo que possuam
caracteristicas humanas nao vém a ser, necessariamente,
a representagio de um ser humano especifico, mas
apenas a personificagao de determinadas idéias acerca de
humanidade. Outrossim, algumas formas decorativas que
parecem abstratas a um olhar desatento podem ser na
realidade representacées de seres pertencentes ao
cosmos indigena. Os exemplos sao intimeros, mas é
suficiente lembrar que entre os Xerente o triangulo
constitui o padrao jabuti, e o ziguezague, o padrao sucuri,
e que ambos associam-se as metades clanicas”. As
representagées procuram comunicar uma outra ordem que
6 ao mesmo tempo representativa e conceitual, e que
contribui efetivamente para a compreensao do
entrelagamento existente entre a estética e as,
caracteristicas fundamentais dos dominios da sociedade,
da natureza e da sobrenatureza. Em outros termos, as
artes indigenas apresentam nao propriamente a figuragao
de um ser humano, de um animal, vegetal ou de um
sobrenatural, mas sim de uma figura plastica das
concepgées subjacentes a cada um desses elementos. E
esse 0 motivo que faz com que essas artes parecam
culturalmente densas, representando sinteses de um
conjunto de tracos ideolégicos, de uma visao do mundo.
As artes indigenas sao muitas vezes apreciadas com certo
saudosismo e assim aquilatadas como representando
obras de artistas que sao incapazes de operarem
mudangas, ou como sucedaneos empobrecidos de uma
arte outrora pujante. A realidade que se descortina é&
completamente diversa. As artes indigenas, enquanto
produtos humanos, refletem nao apenas as mudangas
efetivadas no decorrer do tempo, mas constituem elas
mesmas um arcabouco transformative que faculta o
surgimento de concepe¢ées, de percepcées, de técnicas
que proporcionam a essas sociedades os meios de
adaptacio a novas realidades. Can¢ées sao criadas,
narrativas miticas sio reelaboradas, novas formas,
materiais e padrées decorativos sao apreendidos e
reformulados. Os Mehinako passaram a reproduzir a
bandeira brasileira em seus cintos de migangas e os
iy e Wayana optaram pela materializacao da listrada
bandeira surinamense em seus ornatos de mesmo
material, porque inserem-se profundamente nas categorias
representacionais indigenas, préprias a cada uma
dessas sociedades*.
Because they pertain to a wider cultural context, the native arts outine
specific visions of the world in which a mask or motif possessing human
is not necessarily the representation of a specific human,
but only the personification of certain ideas about humanity, Likewise,
some decorative forms that appear abstract to the ina
reality be representations of beings pertaining to the native cosmos. The
examples are countless, but it is sufficient to remember that among the
Xerente the triangle represents the jabuti land tutti, the zigzag is the
aconda, and both patterns are associated with the cians.” The
presentations seek to communicate another order that is at the same
time representative and conceptual, and that effectively contnbutes tot
comprehension and interinking between the aesthetic and the
fundamental characteristics of the various realms of society, nature, and
the supematural. In other words, the native arts do not so much present
the figuration of a human being animal, plant, or supernatural being, as
they artistically express the figure of the concepts underiying each of these
elements. This is the reason that these arts appear cuturaly dense,
representing syntheses of a set of ideological approaches, of a vision of
the word,
The native arts are often appreciated with a certain longing for the past
and thus considered as the work of artists who are either incapable of
making changes or are the impoverished substitutes for a formerly
powerful art. In realty this is not the case. The native arts, being human
productions, not only reflect the changes brought about by the passage of
time, but are also in and of themselves a transformative framework
allowing for the rise of concepts. perceptions, and techniques that provide
these societies with the means of adapting to new realities. Songs are
created, mythic narratives are re-elaborated, new forms, matera’s, and
decorative patterns are leamed and reformulated. The Mehinaxo stated
reproducing the Brazilian flag on their beaded belts and the Tiryo and
Wayana chose to put the striped Suriname flag on thers, because they
were so deeply infused in the native representational categories unique (0
each of these societies,**
The native artists reformulate their arts, while preserving ther genunely
differentiating lines, The modes that lead to this incorporation are
represented by the individual innovation, the possibilty of acquiring new
materials or the disappearance of traditional raw materia’s, as well as the
appearance of commercial opportunities, since many native grouos have
come to commercialize their artistic production. This often cous
disadvantageous terms, because of the often manipuative character of
the market for this art.” The native arts also suffer from the influence of
Catholic and Protestant missionaries, who are eager to impose new

Os artistas indigenas reformulam suas artes, preservando

contudo tragos genuinamente diferenciados. As vias que
conduzem a esta incorporacao sao representadas pela
inovagao individual, a possibilidade de aquisicao de novos
materiais ou o desaparecimento de matérias-primas
tradicionais, e ainda o surgimento de oportunidades de
muitos grupos indigenas véem-se na
72
 contingéncia de comercializarem sua produgio artistica,
muitas vezes em termos desvantajosos, impostos pelas.
conveniéncias do mercado manipulador dessa arte”. As
artes indigenas sofrem ainda a influéncia de missionarios,
catélicos e protestantes, que se empenham na imposigao
de novas formas arquiteténicas, musicais ou iconograficas,
visando, particularmente, a estética corporal indigena,
com a sistematica introducdo do vestudrio, como ocorreu
neste século com os indios Tukano e os demais povos do
Alto Rio Negro.
Submetidas a um contexto de transformacdo social como o
que é acarretado pelos contatos com a sociedade
nacional, as artes indigenas buscam, na maioria das vezes,
redefinir conceitos estéticos e sociais preexistentes, e
assim séo desconexas apenas na aparéncia. Entretanto,
ndo raro, as concep¢ées estéticas que norteiam os atos
criativos permanecem ativas e, desta forma, as inovagées
procuram nelas se enraizar para compartilhar de seus
canones, revestindo-se de novos sentidos. As recriagées
nas artes indigenas contribuem efetivamente para que os
grupos produtores possam redefinir a sua propria cultura e
resistir social e politicamente aos impactos sofridos.
As artes indigenas foram e ainda sao concebidas e
executadas em contextos que nao compartilham das
premissas ocidentais acerca da defini¢ao de “arte” e de
sua fungdo. Assim sendo, é licito enfatizar a inexisténcia
de categorias indigenas que correspondem a “arte” no
sentido ocidental do termo. Isso nao jifica que nessas
sociedades inexistam obras que nao sejam consideradas
especiais e, conseqiientemente, estimadas, mas é
fundamental indagar a seus produtores e criadores seu
significado e importancia. Essas indagagées sero
di idas aos Wayana que vivem no extremo norte do
Estado do Para, 4s margens do rio Paru de Leste. O texto
seguinte representa uma das possiveis vias de
interpretagao dessa arte, pois o torvelinho simbélico
que a envolve admite muitas entradas e esta 6 apenas.
uma delas”.
“Acho bom, acho bonito as penas do tucano kélu. As
penas séo muito amarelas com vermetho em cima. Esse
vermetho 6 sangue, sao penas (salpicadas) com sangue de
walamuimé, cobra-arco-iris. As penas sao muito bonitas,
sdo para usar no pumari (uma grinalda).”
Aimore Wayana, 1999
Tempo primevo/tempo presente: as criagdes Wayana
Entre os Wayana um discurso sobre “arte” enreda-se
intimamente aos mitos, aos tempos primevos, a expressdo
original dos demiurgos que tudo conceberam e criaram.
Para esse povo de lingua Carib, e também para outros.
grupos indigenas, a maestria artistica e técnica esta
invariavelmente acompanhada de um profundo
conhecimento das narrativas miticas e das praticas rituais,
constituindo dominios intimamente associados.
Segundo o pensamento Wayana, as pessoas, os animais e
9s objetos foram criados em tempos primordiais e assim
se tornaram “modelos” dos atuais. Configurando efigies,
representam manifestagées sensiveis destes tempos.
Alguns desses modelos foram transmitidos aos Wayana,
que passaram a reproduzi-los de acordo com os
parémetros primevos, nao de modo mecanico, mas
architectural, musical, and iconographical forms, especially focusing on
the native corporal aesthetics with the systematic introduction of clothing
styles, as took place during this century with the Tukano Indians and the
other peoples of the Upper Rio Negro.
Submitted to a context of social transformation such as that induced by
contact with the Brazlian society at large, the native arts seek, in most
cases, to redefine preexisting aesthetic and social concepts, and therefore
they are disconnected in appearance only. However, not infrequently, the
aesthetic conceptions that orient the creative acts remain active and, in
this way, the innovations seek to take root in them to share in their
canons, taking on new meanings. The re-creation in native arts effectively
assists the productive groups to redefine their culture, as well as to
‘socially and politically resist the impacts they undergo.
‘The native arts were and still are conceived and carried out in contexts
that do not share in Westem premises of the definition of “art” and its
function. This being the case, itis fitting to emphasize the nonexistence of
native categories that correspond to art in the Westem sense of the word.
This does not mean that in these societies there are no artworks that are
considered special and, consequently, prized, but it is fundamental that
we query their producers and creators about their meaning and
significance. Such inquiries will be been conducted with the Wayana,
who live in the extreme north of the state of Para, along the margins of the
river Paru de Leste. The following text presents one of the possible ways
(o interpret this art, since the symoolic maze that surrounds it can be
entered in several ways, this being just one of them.”
‘I think the feathers of the kélu toucan are good, pretty. The feathers are
very yellow with red on top. This red is blood, they are feathers [speckled]
with the blood of walamuimé, the rainbow snake. The feathers are very
pretty, 10 use in a pumani fa wreath].
Aimoré Wayana, 1999
Primeval/present time: the Wayana creations
‘Among the Wayana a discussion of “art’ is intimately interwoven with
myths, primeval times, the original expression of the demiurges that
conceived and created everything. For these people of the Carlo
language, as well as for other native groups, artistic and technical mastery
is invariably accompanied by a profound knowledge of the mythic
narratives and ritual practices, which are intimately related domains.
73
Tanga
Tukano, Amazonas
Museu de Arqueologia e Etnologia ~ USP
Sao Paulo

75
 Vesicatério Emplumado
Ways
Mus nse Emilio Goeldi
Belém do Para

76
adequando-os a diviséo fundamental de sua vida,
estabelecida pelo cotidiano e pelo ritual, os individuos
operando criativamente em uma temporalidade presente
e pretérita.
Determinados bens materiais, assim como os padrées In Wayana thought, people, animals, and objects were created in
decorativos, estao mais particularmente impregnados primordial tmes and ti Me “models” for the current ones. The
desse sentido de experimentacao. Na realidade, eles effigies they make are representative of those times. Some of these
representam a prépria imitagao. A principal decorrén: models were transmitted to the Wayana, who began reproducing th
dessa concep¢ao faz com que o “projeto” dos objetos e accordingto the primeval parameters, not in a mechanical way, but
padrées decorativos nao seja reconhecido enquanto adapting them to the fundamental division between everyday activities
propriedade dos Wayana, mas sim dos seres arquetipicos, and ritual, wi the individ creatively operatir d
demiurgos e sobrenaturais. Como enfatizam, nada criaram,
sendo apenas experimentadores e usuarios de criagées
alheias. O que Ihes pertence é 0 resultado desta as well as decorative pattern:
“experiéncia”, desse fazer a imagem, que representa uma 2d with this sense of experimentation. In reality, they
caracteristica marcadamente humana e que opera, represent imitat Ited in the Wé
efetivamente, na construgao dessa humanidade. that the ‘design’ of the objec ratve patterr
Outrossim, a significagao dessa fabricagao esta conectada ‘of the Wayana, but rather of
a idéia de uma continua imitacao e atualizacao dos beings. As they emphasize, they did not create, but are merely
modelos primordiais e se exerce enquanto criacao experimenters and users of the creations of others, What belongs to t
construtiva e nao arbitraria, envolvendo os seres s the result of this “experiment,” this making 4
primordiais, os criadores por exceléncia, e os préprios which represents a markedly human charac
Wayana, seus fiéis tradutores. in the construction of this humanity, Moreover, the meanings of these
works is connected to the idea of a continuous imitation and updating of
A génese do mundo Wayana constituiu um tempo de the primordial mode's, exercised as a constructive and non-arbitrary
grande ebulicdo criativa, como relata um longo mito. function of creation. The primordial beings were the creators par
Contudo, muitas dessas produgées eram caéticas, muitas excelle: d the Wayana peo translators,
vezes com fins predatérios, como as flechas que possuiam
olhos. 0 “fazer” primordial remete invariavelmente a uma ¢ of the Wayana world was a ti ish, as
nogao de desdobramento ligada a sua condi¢ao ontolégica: cone extensive myth relates. However, many ofth Se pro
a encarnagao de conceitos de metamorfose, a qual sendo, often with predatory purposes, such as the an
ela prépria, um processo criativo, logra encontrar nas d eyes. The primordial ‘making’ invanably refers to a notion of
expressées artisticas um campo fértil para unfolding related to its ontological status: the embodiment of concepts of
efetivar/visualizar a sua esséncia mesma. Os objetivos metamorphosis, its a mat of the artist
fundamentais da criagdo - primeva ou atual - sao expressions as a fertile field for the effectuation/visualization of its own
entretanto os mesmos: a modelagem do informe para que ence. The fundamental aims of creat th primeval and current—
adquira estrutura, a ornamentagao da estrutura para are nevertt the same: the modeling of the formie: that it can
conferir identidade e a adequacao funcional para a acquire structure, the omamentation
of that r identity,
eficacia da obra criada. and the functional adaptation for the effe
artwork created
Os conceitos de metamorfose permeiam os diferentes
espacos cosmoldgicos: sociedade, natureza e The conce;
sobrenatureza e seus componentes. Na vida social a ‘spaces; society, natur
metamorfose nao atinge apenas os individuos que, através ocial life, metamorpho: ho, by
das mascaras, personificam seres de outros espacos, mas way of masks, personify beings from other spaces, but is also expressed
se expressa também através dos objetos, os quais, em through objects, which, in relation to the original rm
relacado ao modelo original, estabelecido nos tempos orimeva' times, unfold in a partial or This occurs
Primevos, tanto se desdobram em uma configuracao because a house, just as Much as a
parcial como total. Isso ocorre porque tanto uma casa, hares in the principal symbolic function of reproduc
como um cesto, uma borduna, uma rede possuem como part of the “bodies” of the beings celtime of
Principal caracteristica simbélica o fato de reproduzirem reation, The reproduction of the models of other eras is not limited only
0s “corpos” ou parte de “corpos” dos seres existentes no to the reproduction of primordial bodies, but also extends to.
espaco/tempo da criagao. A reprodugao dos modelos de representations that emphasize other, strikingly aesthetic characteristics,
outras eras ndo comporta apenas a reprodugao dos corpos as it deals with corporal decoration, paintings. and adornme
Primordiais, mas também representagées que ressaltam models, Not only their bodies, but also the’
outras caracteristicas, marcadamente estéticas, pois trata- pnmordial beings, can be partially or totally reproduced in an artifac
se da decoracao corporal, pinturas e aderecos desses which me time is conceived as the decoration of the archetype
modelos. Da mesma forma que seus corpos, a estética and of the object, this being contemporary,
corporal dos entes primordiais pode ser reproduzida
Parcial ou totalmente em um artefato, e € concebida como According to this configurative view, the objects for everyday use are
Sendo, concomitantemente, a decora¢ao do arquétipo e do fragmented, “dismembered bodies," since they should not jeopardize the
objeto, este contemporaneo. feasibiity of daily ite. In relation to the times of creation, the artifacts that
7

Segundo esta ética configurativa, os objetos de uso
cotidiano constituem “corpos desmembrados”,
fragmentados, pois nao devem comprometer a viabilidade
da vida didria, Em relagao aos tempos da criacdo, os
artefatos que possuem esta caracteristica seriam
“transformados”, pois j4 sofreram o processo metamérfico
que suprimiu as caracteristicas originais, cadticas e
descontroladas. Transformaram-se em coisas que podem
ser dominadas pelos humanos, 0 que permite, entre
outros, que as mulheres empreguem um cesto na fia¢do do
algodao e nao se atemorizem com uma serpente
sobrenatural, de dimensées descomunais, pois este cesto
representa apenas uma grande fatia de seu corpo. Este
processo propicia também ao homem o manejo de sua
flecha, um corpo sem membros e visdo, salvando-o do
enfrentamento com um intrépido guerreiro que essa arma
encarnou nos tempos primevos.
Os objetos usados no contexto ritual compreendem a outra
materializacao possivel dos corpos primordiais e
caracterizam-se por serem detalhistas e anexarem, ao
resultado final, elementos no visuais, como movimentos,
sons e fragrancias, Nessa fabricacdo, a experién’
criativa se revela tao profunda e perfeita que acarreta
metamorfoses, visto que os objetos se transformam em
seus modelos, trazendo a si e a sua realidade para o seio
da sociedade Wayana. A reprodugao
caracteristicas corpéreas dos seres pri
irrupgdo na vida humana, o que é desejavel unicamente
durante as celebracées ritualisticas. Os artefatos rituais
seriam, portanto, “transformadores”, e devem ser
manipulados com extremo cuidado, o seu dominio sendo
mantido sob estreita vigilancia por praticas restritivas e
controladoras, como as que estao diretamente associadas
as evolugées das mascaras. A metamorfose gerada pelos
objetos rituais nao deve ser encarada como se fora uma
mera transgressdo aos padrées culturais Wayana, visto
que se configura como algo que é igualmente criativo e
assim manifesta uma ordem global do mundo.
Os atos criativos dos demiurgos foram, portanto,
los aos Wayana, que os exercem na perpetuacado
da espécie humana, fabricando socialmente corpos que
possuem como modelo a mulher primordial com a qual
compartilham caracteristicas fisicas e estéticas. Fabricam
igualmente outros “corpos”, representados pelos
componentes de seu sistema de objetos. A corporalidade
dos artefatos permite considera-los sob um prisma que
pée em relevo determinados aspectos: forma, decoracao,
fungao, local de armazenamento, que, em seu conjunto,
definem a sua “vida social”. Assim, para ser considerado
estético ou, segundo as concepgdes Wayana, ser ao
mesmo tempo bonito e adequado, um artefato deve estar
concluido, ou seja, estar provido de uma forma definida,
itindo que as caracteristicas de seu “corpo” sejam
Abano (detalhe)
Wayana, Pard
Museu Paraense Emilio Goeldi
Bolém do Pard
78
posses this characteristic would be “transformed,” as they have already
jone the metamorphic process that sugpressed the original chaotic
and out-of-control character They were trar ‘ed into cbjects,
that can be dominated by humans, permitting, among other things, the
women to use a basket while spinning cotton and not be frightened by a
huge supernatural serpent, since the basket represents onlya large
ytion of its body. This process also alows a
body without arms, legs. or vision, assuring that he need not come face
to face with the intrepid warrior that was embodied in this weapon in
primeval times.
The objects used in the ritual context involve the second way in which
primeval bodies can be materalized. They are characterized by details and
include in the final result non-visual elements such as movements,
sounds, and fragrances. In this fabrication the creative experience is so
profoundly ai rectly revealed that it entails metamorphoses, since the
objects are transformed into their models, bringing them and the'r reality to
the inner core of Wayana soceety, The integral reproduction of the corporal
characteristics of the crimeval beings allows for their insertion into human
Ife, which is only desirable during tne ritualistic celebrations. The ntual
artifacts are, therefore, “transformative,” and should be handled with
extreme caution. Their realm must de maintained under strict security by
1s of the masks, The metamorphosis brought
about oy the ntual objects should not be seen as a mere oreach of the
Wayana cultural pattems, since it is something that is also creative and
thus manifests a global order for the world
The creative acts of the demiurges were, tnere‘ore, transmitted to the
\Wayana, who exercise them in the perpetuation of the human species,
socially fabricating bodies tha have as their model the primordial woman
with whom they share physical and aesthetic characteristics. They also
make other ‘bodies nted by the components of theirsystem of
‘objects. The corporeality of the artifacts permits t em to be considered in
al nt that underlines certain aspects: form, decoration, function, and the
ace where they are kept, which, taken as a whole, define their “social
tic, which in t
d suitable, an artfac should oe
1ed form, permitting the
tiole. It should be decorated in
many possibie ways, which will transmit identity, and perform one or more
functions as comprehended in its movements, evidencing its way of life.
Finally, it should have a specific place where it is keot, which characterizes
its home. A body/object with these conditions possesses real and
 Flecha (detalhe)

Museu Paraense Emilio Goeldi

Belém do Para

SISA
“ ISA
A

a
,|

ra
‘Museu Paraense Emilio Goeldi

79
perceptiveis; que esteja decorado de muitas maneiras
possiveis, decora¢ao esta que Ihe transmite identidade;
que desempenhe uma ou varias funcées, compreendidas
como 0s seus movimentos, que comprovam a sua vivéncia;
por fim, que tenha local de armazenamento, o qual
caracteriza a sua moradia. Um corpo/objeto nessas
condigées é dotado de capacidades transformativas reais
e simbélicas e atua sobre pessoas, coisas e outros
elementos, transformando animais e vegetais em
alimentos ou em adornos, jovens em adultos, homens
comuns em seres sobrenaturais.
Essas determinagées, em seu conjunto, circunscrevem o
que os Wayana consideram como os elementos
significativos de sua cultura e que, portanto, sao
adequados e estéticos, valores que se associam
intimamente porque os Wayana nao criam coisas que
sejam consideradas initeis e feias. Correspondem a
objetos especiais porque fruto da habilidade humana para
seu uso individual ou coletivo, no seio da vida social,
tornando a aldeia o mais organizado de todos os espagos,
face a uma pretensa desorganizacao dos demais dominios.
A floresta, 0 céu, os rios s4o, por definicao, desprovidos
desses elementos, porque desabitados pelos humanos. O
que nesses dominios é visto e contemplado para posterior
apropriacdo 6 a estética dos sobrenaturais, a saber a sua
decoragdo corporal e mais especificamente a “pintura
corporal” da serpente Tuluperé, observada pelos Wayana
em tempos pretéritos, durante um fragoroso combate.
A associagao do sentido de recriacdo, que segue os
modelos primevos, e 0 de transposi¢do, que reproduz as
pinturas da serpente sobrenatural, evidenciam-se em um
artefato porque ele representa a imbricacdo do que esta
separado, a saber, a habilidade humana e a beleza do
sobrenatural, a qual associa-se a duas faculdades
essenciais: 0 gesto e a visdo. O senso de humanidade 6
conferido pelo trabalho manual, pelo gestual, socialmente
jo através das geracdes. O senso dos “outros”
resulta de uma apropriacao visual, da paradoxal
contemplacao do que é belo, porém aterrorizante. A
imbricagao da habilidade humana e a beleza do
sobrenatural possibilitam unir o que esta separado,
controlar o que é deletério resulta no que pode ser
referido como a arte Wayana, reconhecida como sua pois
propria e apropriada ao seu uso. Trata-se, efetivamente,
de uma sociedade que tem na valoracao de si mesma e
de seus produtos um meio fundamental de construgao
da identidade.
A concepcao de decoracdo e mais precisamente de
decoracdo corporal nao representa, entre os Wayana,
uma peculiaridade restrita aos humanos, mas aplica-se a
outros componentes do universo indigena - artefatos,
animais, vegetais, espiritos, demiurgos, sobrenaturais -
que também sao decorados, pois esta conforma um
recurso visual que propicia especificidade e identidade.
Nesse sentido, a funcdo da decoragao é a de um veiculo
capaz de agucar a percepcao classificatéria para a
conveniente ordenagao do universo. Nesse quadro, e
considerando-se os sentidos de ineréncia e aplicabilidade
do elemento decorativo, o ser humano constitui o nico
componente de cosmo Wayana capaz de mudar sua
decora¢ao corporal, a qual se adapta as mudancas
temporais basicas de sua vida social: 0 cotidiano e 0
ritual. Os demais seres do universo estéo condenados a
uma Unica e perpétua ornamentagao de seus corpos. A
mais elementar das decoragées se articula
particularmente com a cor porque é 0 elemento basico
que permite reunir em uma mesma categoria dominios
inicialmente desconexos, como os humanos, animais, de
objetos, plantas (inclusive as comestiveis) e sobrenaturais.
symbolic powers over people, things, and other elements, transforming
animals and plants into food or adomments, young people into adults,
common people into supematural beings.
Taken as a whole, these determinations encompass what the Wayana
consider to be their culture's significative elements. Therefore. they are
adequate and aesthetic, values that are intimately associated, becaus
the Wayana do not create things that would be considered useless or
ugly. They are special objects be they spring from numan ability and
are for the good of the individual o: collective, in the heart of social Ife,
making the village te most organized of all the varous spaces as
compared to a supposed disorganization in the other realms. The forest,
o elements,
atics of the
supematural beings, namoly, the decoration of their bodies and more
~ observed by the
specifically the "body painting” of the Tuluperé serpent
Wayana at a tme long ago during a furious battle
The association of the sense of re-creation, which follows the primeval
models, and that of transposition, which reproduces the paintings of the
supernatural serpent, are evidenced in an artifact because it represents
an intertwning of what is separated, namely, the human abilty and the
beauty of the supematural, associated with two essential faculties:
gesture and vision. The sonse of humanity is bestowed by manual labor,
by the gostural, socially transmitted down through the generations. The
sense of the “others” results from a visual appropriation, from the
paradoxical contemplation of what is beautiful, though terrorizing. The
intertwrning of human skils and the beauty of the supematural allow for
the uniting of what is separated, and controling what is harmful results in
what can be referred to as Wayana art, recognized as theits because it is
Unique tothem and precisely suited to their use, They are a society that
has inits valorization of itself and its products the fundamental means for
the construction of an identity.
The conception of decoration and, more precisely, of body decoration
e does not represent mong the Wayana someting unique to humans, but
ples to other Components of the native universe - artifacts, animals,
plan's, spits, demiurges, supematural bengs. They are also decorated,
because ths configures a visual resource that offers specificity and
identity. In this way, the function of decoration is that of a vehicle able to
sharpen the Classificatory perception tor the convenient ordenng of the
uriverse. In this context, and considering the senses and the inherence
and applicability of the decorate element. the human being is the only
componentof the Wayana cosmos able to change its corporal
decoration, which it adapts to the basic tempor in socialI
everyday life and ntual. The ott of the u
Jerpelual omamen
mentary of the decorations are
ment permits inclu same dominating
ce of reams that are intially d'sconnected, such
humans, objects. plants (including the edible ones), and
super natural forces and enttes.
The most inclusive citferentiaton operated by the body omamentation is
that which alows tor singushing d tt ont realms: culture from nature,
as well as from the supematura’. since each of these areas corresponds.
to a decorative form that is si to one of its paradigmatic
components. In this way. a decoration ot a s pattern and color, as in
the painting using annatto pigment, symbolizes the social condition of the
"Wayana being.” The spotting tecynique consisting of a surface covered
81

A mais inclusiva diferenciacdo operada pela ornamentacao
corporal é aquela que permite distinguir diferentes
dominios: a cultura da natureza, assim como da
sobrenatureza, uma vez que a cada um desses ambitos
corresponde uma forma decorativa que é especifica, por
pertencer a um de seus componentes paradigmaticos.
Nesse sentido, uma decoracao uniforme, unicolor,
correspondendo a pintura de urucu, simboliza a propria
condi¢ao social do “ser Wayana”; o pontilhado,
representado por uma superficie recoberta por manchas
circulares, reproduz iconicamente a pelagem da onga-
pintada, representando este importante animal e,
metonimicamente, os demais, assim como 0 espaco onde
evoluem; o listrado representa o arco-iris, a manifestacao
fisica de uma serpente primordial, encarnando-o, assim
como outros sobrenaturais que comungam de mesmas
potencialidades e, ainda, a propria sobrenatureza.
Ao serem transpostos para um objeto ou para 0 corpo
humano, o unicolor, o pontilhado e o listrado passam a
preencher, esteticamente, os campos vazios formados pelo
tracejado dos padrées iconograficos, outra forma
decorativa. Esses suportes, ao apresentarem
concomitantemente todas as unidades ornamentais,
tornam evidente um sentido de recapitulagao do todo, uma
vontade de sintese universal que é a esséncia da arte
Wayana, determinando de alguma forma o seu estilo.
No corpo humano, as técnicas decorativas consistem na
aplicagao de pigmentos através da pintura, de incisées
sobre a pele, conformando escarificagées, e na amarracao
de atavios confeccionados com diferentes materiais.
Enquanto suporte para a decoracao, a pele humana
apreciada deve ser lisa, sem manchas e feridas, pois estas
impedem efetiva e simbolicamente a sua aplicacao.
Ademais, como é compreendida enquanto uma vestimenta,
a pele pode ser considerada nova ou usada e assim ser
apreciada ou depreciada sob um ponto de vista estético.
Para os Wayana o “traje” requisitado é o da juventude, a
velhice sendo compreendida como a vestimenta que se
evita, que nao se deseja envergar. A pele lisa dos
adolescentes é sobretudo valorizada porque encontra seu
paralelo na pele das serpentes, naturais ou sobrenatur:
cuja textura e decoracao representam o ideal
estético/ontolégico dos Wayana.
A pintura, permitindo a materializacgao da cor, é
fundamental na arte Wayana, constituindo uma técnica
é partilhada por homens e mulheres que utilizam-se
que
dedos e de diversos tipos de pincéis. 0 resultado
dos
apresenta aspecto uniforme, listrado, pontilhado
ou ainda
iconografico. Os pigmentos empregados podem ter base
vegetal, como o jenipapo e o urucu, ou mineral, e
conformam uma paleta que possui como cores basicas o
negro acinzentado, o vermelho, 0 ocre e o branco,
exploradas em diferentes combinacgées. Aplicado
entretecido, um tingimento cromatico pode,
ou
entretanto, se
definir enquanto linha e se revelar como desenho ou
Padrao, o qual é essencialmente “decorativo”, mas sem
compartilhar do sentido ocidental que 6 normalmente
atribuido a este termo.
Placa Dorsal Emplumada
Wayana, Para
Museu Paraense Emilio Goold!
Belém do Para
by circular spots |s an iconographical reproduction of the fur of the
spotted jaguar, representing this important animal and, metonymicaly, all
the others, as well as the space in which they move. Stripes represent
rainbow, the physical manifestation of a primordial serpent, embodying it
along with other supernatural beings that share the same potentials, as
well as the supematural its
‘When they are transposed to an object or human body, the
monochromes, the spots, and the stripes aesthetically fil the empty fies
formed by the broken lines of the iconographic patterns, ar
decorative form. These supports, as they simultaneously represeallntof
the ornamental units, reveala sense of the recapitula of everything,
tion a
desire for universal synthesis that is the essence of V fayana art, ina
certain way determining its style.
(On the human body the decorative techniques consist of the application
of pigments by way of painting, through incisions on the skin, forming
scars, and the attaching of ornaments made from various materials. As a
suoport tor decoration. the human skin should be smooth and without
spots or wounds, as these interfere effectively and symbolically with the
application. Furthermore, as it is understood as apparel, the skin can be
consideredas new or used and thus prized or deg
aesthetic point of vie Wayana, the desired gis that of
youth, o'd age being understood as apparel to be avoided, something one
does not want to wear. The smooth skin of adole: ove all prized
because it finds its parallel in the skin of the serpents, natural or
supernatural, which have texture and decoration th 1 the
aesthetic/ontological ideal of the Wayana
Pe which permits the materiali f color, is fundamental in
Wayana art, constit xting @ technique that is practiced by men and women
using their fingers and various type of brushes. The resulting appearance
is uniform, stiped, dottea, or even ic jographic. The pigments employed
are at times of a vegetal origin, such as genipapo and annatto, at other
times of a mineral origin, and make tte with basic colors that are
black, red, ochre, and white, used in diffe
1 to a surface or interwoven, a chromatic pi
defined as a line and be revealed as a design or pa
entialy “decorative,” though not sharing in the Westem meaning that is
normally attributed to this
term.
The Wayana definition of drawing includes the notions of sign, pattem,
motit. and model, considered in their representative essence. They are
called mirikut, having been extend
Contact with the Brazilian society. The terms kvasiat fo
kuswwa for the Waidpi, ikwasiat for the Asu
Tapitapé, menuri for the Aparai, hott for the Tukano and gona!
Dessano have the same meaning as the Wayana exoression, revealing
the importance of sign as bearers of the fundamental meanings and
principles in native thought
The Wayana signs are associated with the body paintings of the
Supernatural forces and entities, which are grouped into repertoires. Each
element in a given repertoire is identified nominally in that it represents an
individual being in a given realm, and in relation to the rest will present
 Nas definigdes Wayana de desenho, 0 mesmo engloba
igualmente as nocées de grafismo, padrao, motivo,
modelo, consideradas na sua esséncia representativa,
denominada de mirikut, tendo sido estendida a escrita
depois do contato com a sociedade nacional. Os termos
kwasiat para os Kayabi, kusiwa para os Waiapi, ikwasiat
para os Asurini, kwanchiana para os Tapirapé, menura
para os Aparai, holi para os Tukano e goholi para os
Dessano possuem o mesmo significado da expressao
Wayana, revelando a importancia dos grafismos enquanto
portadores de significados e principios fundamentais do
pensamento indigena™.

Os grafismos Wayana esto associados as pinturas

corporais dos sobrenaturais, as quais estdo agrupadas em
repertérios. Cada elemento de um elenco é identificado
nominalmente por representar um ser individualizado
existente em determinado dominio, e em relagao aos
demais apresenta diferencas que se expressam em nivel
formal. Um repertério compreende, assim, uma espécie de
recapitulagdo cosmolégica que projeta, sinteticamente, a
prépria identidade dos sobrenaturais fundamentais. As
mesmas “pinturas”, ao serem empregadas pelos humanos
sob a forma de elenco decorativo, revelam imagens
acerca dos diferentes componentes destes dominios, sob
um prisma que tanto considera a conformacao fisica como
a estética corporal e, ainda, os poderes desses mesmos
componentes que se articulam em um quadro de predagao
© metamorfose. Os poderes predatérios de um animal so
descritos através de uma postura em pé e da
representaciio de seu alimento, préximo a sua boca, &
podem ser enfatizados através de uma representagao
bicefalica, que comporta duas fauces ameacadoras, como
6 0 caso dos padrées que enfocam a on¢a-pintada.
© termo Wayana que identifica a decoracao de
sobrenaturais refere-se exclusivamente a uma nocdo de
conjunto e enquanto criagées inerentes e permanentes
destes seres - a sua “pintura corporal” -, e indica
claramente a posse nao-Wayana do repertério decorativo.
© principal elenco empregado pelos Wayana é referido
como Tuluperé imirikut, “pinturas da serpente
sobrenatural”, e foi observado, em tempos primevos, na
pele deste ser sobrenatural, cujo correspondente
zoolégico 6 a sucuri®. Esse repertério destina-se ao corpo
humano e aos objetos de todas as categorias artesanais,
femininas e masculinas, mas é justamente nos trancados
de aruma* que pode ser observado o mais variado numero
de padrées.
Entre os Wayana e outros povos indigenas de lingua Carib
© arumé representa a matéria-prima que concentra os
mais apreciados atributos de maleabilidade, durabilidade e
resultado estético, e assim detém a maior carga simbélica.
Entre os Wayana, a esse material sao atribuidas
capacidades de reprodugao das peles tanto da serpente
sobrenatural Tuluperé como a da mulher primordial,
Arumana, as quais se atualizariam através dos trangados.
© resultado do entrancamento de-fasquias de aruma
pintado torna-se 0 corolario da revivescéncia desses
seres, a saber, a reproducao de suas peles pintadas, e nao
apenas de suas pinturas, como ocorre com as outras
categorias artesanais. j
Os trangados de aruma permitem evidenciar outro aspecto
importante, relativo a estruturacdo e distribuigdo da
“pintura” do sobrenatural em seu préprio corpo. Em seu
rosto e tronco estado distribuidos os motivos contrastados
em claro-escuro ou marchetados; sua cauda e “membros”
apresentam motivos que ndo sao marchetados, pois as
fasquias de aruma nao receberam pintura. Os grafismos
marchetados estado diferentemente espalhados. Os que
podem ser vistos em uma tnica face, externa, se
espalham pelos flancos, mas os que sao de dupla face e
84
 individual being in a given realm, and in relation to the rest will present
differences that are expressed on the formal level. A repertoire will thus
include a kind of cosmological recapitulation that synthetically projects the
very identity of the fundamental supematural powers and beings. The
‘same “paintings.” as humans employ them as a repertoire of decorative
elements, reveal images about the different components of these realms,
when considered in terms of their physical form, as well as the corporal
aesthetic, and moreover, the powers of these components that are
interrelated in a scene of predation and metamorphosis. The predatory
powers of an animal are represented by depicting it standing up and by
showing its food near its mouth, and can be emphasized by a wo-
headed depiction, showing two threatening mouths as is done in the
pattems based on the spotted jaguar.
The Wayana term that denotes the decoration of supematural beings
tefers exclusively to @ notion of the whole and to inherent permanent
creations of these beings ~ their “body painting” - and clearly shows the
non-Wayana possession of the decorative repertoire, The principal
repertoire employed by the Wayana is referred to as Tuluperé iminkut,
“paintings of the supematural serpent,” and was observed, in primeval
times, on the skin of this supematural being, whose zoological correlate is
the anaconéa.” This repertoire is for use with the human body and the
‘objects of ali artisanal categcries, botn masculine and feminine, but itis
particularly in things braided from aruma” that one observes the greatest
number of pattems,

For the Wayana, as for the other native cultures of the Carib language
famiy, aruma is important as a raw material with all the qualities of
malleatilty, durability, and aesthetic result, and thus carries the largest
symbolic loac, The Wayana hold that this material is able to reproduce the
skins of the supematural serpent Tuluperd, as well as that of the primorcial
woman Arumana, which are actualized through its braiding. Braiding the
painted strps of aru is the corolary of bringing these beings back to lfe
as it involves the reproduction of their painted skins and not merely their
portraits, a8 occurs in other artisanal categories.
The braiding of the aruma evidences another important aspect, related to
the structuring and cistribution of the “painting” of the supematural being
on its ougs body. On its face and torso the motifs are distributed in
‘contrast$ot light and dark, or inset. Its tai and “limbs present motifs that
are not inset, since the strips of aruma are not painted. The inset s
yvariousy distributed. Those with only one, external face are spread over
the flanks, but those that are double-faced and can thus be seen
interally and externally are concentrated on the belly, this localzzation
indicating that the being has his entrais similarly decorated, since this is
the locale of the fina’ act of the “predatory tragedy.” Found exclusively on
the decorated carrying baskets, they are cons dered the most beautiful
and intricate patterns in their repertoire. Ther reproduction is achieved only
by the most skiled artists, those who, by way of this practice, most
profoundly exercise tne power of visualizing the supematural world,
assim podem ser vistos externa e internamente se
concentram em seu ventre e indicam, por sua localizagao, nd decorative repertoire employed by the Wayana consists of
que este ser tem as entranhas igualmente decoradas, pois of another supematuval being, the aquatic
este 6 0 palco do ato final da “tragédia predatéria”. ssh-water ray, The
Dispostos exclusivamente nos cestos cargueiros 308 the aoex of the ceremonial house
decorados, sao apontados como os mais belos e prosent in every of this artifact consists of
trincados padrées de seu elenco. Sua reproducao é xclusive patiems involving serpents as well as other
conseguida pelos mais habilidosos artistas, que sao elements rola al . S association reveals the
purpose of th e! permitting tne visualization of t
também os que, através deste exercici elements ti atteriy: the supematural beings, the
profundamente exercem o poder de visualizar 0
mundo sobrenatural. spitts, the or m, and their enemies, amiang which is
the wnite man.
Um segundo elenco decorativo empregado pelos Wayana Wien 168
compreende as “pinturas corporais” de outro sobrenatural haracte’istic of the pattems
aquatico, Maruanaimé, cujo correspondente zoolégico é a is clearlysi similarity that unifies the
arraia de Agua doce. A efigie deste ser é uma roda que visual form a ‘ans. In other
arremata a cumeeira da casa cerimonial, que esta s of beings and
presente em todas as aldeias Wayana. A decoragao deste us permitting the esented.,
artefato é formada por padrées exclusivos e consiste em the features that are most charactersti yng of each
serpentes sobrenaturais, assim como de outros elementos model. ‘ether it be vegetal, animal, or supematural
relacionados com contextos alégenos. Essa associagao
revela a finalidade deste artefato - ser um painel que
permite a visualizagao dos elementos constitutivos da
alteridade Wayana: os sobrenaturais, os espiritos, 0
xamanismo predatorio e os inimigos, entre os quais esta 0
homem branco.
‘Ao serem enfocados individualmente, os padrées colocam
em evidéncia a sua caracteristica figurativa, onde
sobressai a existéncia de algum elemento de semelhanga
que une a forma visual e seus significados, e portanto
correspondem a icones. Em outros termos, os grafismos
Wayana constituem representagées analégicas de seres ou
coisas, possibilitando assim o reconhecimentos dos
elementos representados, geralmente os tragos mais
caracteristicos e definidores de cada modelo, seja ele um
vegetal, um animal ou sobrenatural.
A exegese de cada padrao repousa na assertiva de que
sua caracteristica icénica nem sempre é univoca, ou seja,
nao faz alusao a um unico modelo, mas revela miltiplas
imagens, um mesmo grafismo configurando varios
modelos. Possuindo entre si afinidades analégicas,
formam um conjunto representacional que converge,
juntamente com outros, para um mesmo repertorio, as
pinturas corporais do sobrenatural Tuluperé, que, por ser ¢
corolario representativo, constitui 0 conceito que esta na
origem de toda a estética Wayana.
A forca dos padrées provém tanto de sua presenca
tangivel, das imagens com que trabalha, como das
exegeses das mesmas imagens, as quais se
operacionalizam através de uma leitura cosmocéntrica
que une representagao e sentido. A primeira corresponde
ao grafismo em si ® aos miiltiplos significados; a exegese,
entretanto, vai além e evidencia a predagdo animal e
sobrenatural e os sentidos da metamorfose, temas
capitais do sistema cognitive Wayana que influenciam
diretamente a sua arte e estética, como referido. Os
padrées procuram, portanto, comunicar uma outra ordem
que é ao mesmo tempo representativa e conceitual. Cada
motivo, ao ser ao mesmo tempo um e diferentes seres,
simboliza a unidade e a diversidade da cultura Wayana.

Mascara
Wayana, Par
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Par

a6
 we Saar ee
SS
Re a n n e
Cesto (detalhe)
Wayana, Para
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

Um padrao é sempre uma evocagao documental porque

expressa uma e multiplas realidades e, portanto, o motivo
decorativo do quatipuru® representa este animal, um
sobrenatural de mesmo aspecto mas de proporcées
gigantescas, uma on¢a sobrenatural com um rabo igual ao
deste roedor. Enfim, todas essas representagées se unem The exegesis of each ps n lies in the assertion that character
para identificar a serpente sobrenatural, pois o motivo do is not
quatipuru constitui uma de suas pinturas. A compreensao
de cada padrao se efetiva, por conseguinte, através de um Having tt
sentido figurative mais complexo, uma vez que sao that conve
reproduzidos seres assemelhados fisicamente mas que paintings o
evoluem em miltiplas esferas espago-temporais: a dos corollary, constitute the conc
primérdios e as atuais, a da natureza e a da Wayana aestnetc.
sobrenatureza. Conseqiientemente, o sentido restrito dos
padrées sofre continuamente uma mudanga e assim
ilumina mais de um significado. Ao fim, todas as
experiéncias cognitivas e representativas se congregam
para expressar uma ordem césmica mais ampla.
A analise formal dos padrées permite destacar,
inicialmente, que as representagées podem ser integrais
ou parciais, permitindo reconhecer o ser representado em
sua totalidade ou apenas uma parcela de seu corpo. Em previo:
alguns motivos, a prépria definicao de icone deve ser order that is at
expandida, porque existem padrées cuja relagao de in that itis s'
semelhanca com o modelo no se evidencia
nominalmente. 0 nome do grafismo nao corresponde ao
que se procura efetivamente representar e assim é
necessaria a ocorréncia de uma exegese, permitindo
classificar determinados padrées enquanto “metaforas
visuais” para outra representacdo, como ocorre com o
motivo que é denominado de “rabo (enrolado) do macaco
Prego”, que, além de representar esse simio, descreve os
cabelos espirados de um determinado sobrenatural, um
antropomorto canibal, e, por extensdo, uma caracteristi
dos sobrenaturais dessa espécie.
A obtenco e 0 emprego da “decoracdo” dos seres
sobrenaturais revela-se, para os Wayana, em uma
possibilidade de afirmagao de humanidade e,
paralelamente, em um meio de oposicdo aos dominios da
sobrenaturalidade. Em certo sentido, a estética decorativa
Wayana representa o reforco visual da vida social e
indica 0 lugar ~ central - do ser humano no universo que
© rodeia.
87

© olhar que se aprofundou na apreciagao das criagdes
Wayana percebeu que a narrativa mitica funciona como um
subtexto para cada uma das caracteristicas dos artefatos,
que passam a integrar, assim, uma ordem césmica. Nesse
sentido, a arte Wayana nao apenas privilegia
representacées de entidades sobrenaturais e conceitos
cosmolégicos mais amplos, mas afirma que ela propria
representa uma produgdo originaria e original dos
componentes desses dominios - os inimigos, os
demiurgos, os sobrenaturais -, sendo, portanto, dotada de
propriedades que sintetizam os dominios humanos e nao-
humanos. Extremamente rica na profusdo formal e
requintada em relagdo aos elementos constitutivos e
decorativos, essa arte, além do embelezamento da vida
cotidiana, intermediada pelas relagées comunitarias,
preenche requisitos de informagao e de identificacao,
assumindo um papel mediador entre o individuo e a
cognicdo césmica. Nessa mediacao, os objetos e os
padrées decoratives atuam enquanto “imagens”, e assim
fornecem expressao tangivel a uma outra realidade, a dos
seres que evoluem em outros dominios. Atuando nesses
eixos, as diferentes classes de objetos permitem a
expansao dessas dimensées porque representam
idades de visualizagao de uma parcela da
Wayana, a qual esta relacionada aos seres e aos
principios criativos primordiais, que nao podem ser
veiculados téo precisamente através de outros meios,
como a tradicao oral.
Em seu conjunto, os objetos e, mais precisamente, os
elencos decorativos, proporcionam afirma¢ao étnica, mas
muito mais como uma conseqiiéncia do que como um
objetivo em si. Este seria a compreensao do universo no
todo e nas diferentes partes e a inser¢ao individual e
coletiva dos homens e seus objetos de uso nesses
Ambitos. Outrossim, a estética decorativa possui ainda
fungées classificatérias que vo permitir justamente a
delimitagdo e a identificagao dos dominios césmicos para
a sua correta ordenacao. Assim sendo, através da
“decoragdo” de componentes paradigmaticos, humanos,
onga e serpente sobrenatural, os dominios a eles
associados, a saber a cultura, a natureza ea
sobrenatureza, podem ser igualmente visualizados e
identificados. Neste mesmo quadro sao ressaltadas ainda
oposigées fundamentais, como a capacidade de mudanga
decorativa que é prépria dos humanos e a incapacidade de
modificagao ornamental que caracteriza os demais
elementos do cosmo. Nessa oposi¢ao repousa um dos
mais importantes mecanismos de que os Wayana dispéem
na constru¢ao do ser humano e da humanidade.
0 sistema decorativo, ao expressar uma matriz de
identidade profunda torna-se, passivel de manipulagées
que objetivam o incremento de seu valor estético, o qual
repousa essencialmente em uma gradagdo de poder
predatério/metamérfico que caracteriza os seres
sobrenaturais, mas nao apenas estes. A producao de valor
repousa em bases simbélicas e técnicas e consiste na
Formal analysis of the pattems initially allows us to highight that the
representations can be whole or partial, permitting the recognition of the
being represented in its entirety or only in a portion of its body. In some
motifs the very definition of the icon needs to be expanded, because
there are patterns that nave a resemblance to the model that is not
nominally evident. The name of the sign does not convey precisely what
one wishes to convey and an exegesis is thus necessary in order to
classify certain pattems as “visual metaphors" for another representation,
‘as occurs with the motif called *(curled) tail of the capuchin monkey." In
addition to representing this simian, this motif describes the curly hair of a
certain supematural being, a cannibalistic anthropomorphic being, and, by
extension, a characteristic of the supematural beings of this species,
For the Wayana, the acquisition and use of the ‘decoration’ of the
supematural beings allows for the affirmation of humanity while providing a
means of opposing the supernatural realms. In a certain sense, the
Wayana decorative aesthetic represents the visual reinforcement of their
social Ife and indicates the place ~ central ~ of the human being within
the surrounding universe.
‘When Wayana artworks are clearly peroeived and deeply appreciated, it
can be seen that the mythic narrate functions as a subtext of each of
the characteristics of the artifacts, which thus become part of the cosmic
order. In this way, Wayana art not only focuses on supematural entities
and the larger cosmological concept, but aiso affirms that itis an orginal
production springing from these realms ~ the enemies, the demiurges, the
supematural beings - therefore, possessing the properties which
synthesze both the human and nonhuman realms. Exremey rich in its
formal and refined profusion in relation to the constitutive and decorative
elements, this art does more than embelish everyday Ife. Intermedated
by the communitarian relations, it fulfils the requirements of information
and identification, assuming a role of mediation between the individual and
the cosme cognition. In this mediation the objects and the decorative
patteins act as "images" and thus provide a tangible exoression of
another reality, that of the beings that evolve in other realms. Acting along
these axes, the various classes of odjects allow for the expansion of
these dimensions because they represent possiblities tor the visualization
of a portion of Wayana memory, thal which is related to the beings and
the primoccial creative principles, which in turn cannot be conveyed
precisely through other mediums, such as the oral tradition,
All in all, the objects and, more precisely, the decorative repertcites are a
means of ethnic affirmation, but more in the way of a consequence than
as a purpose in and of itseff. This would be the comprehension of the
universe as a whole and in its various parts, together with the ind vidual
and collective insertion of the people and the objects they use in these
fields. Likewise, the decorative aesthetic possesses classticatory
functions that permit the delimiting and identification of the cosmic realms
for their correct ordering. This being the case. by way of ‘decorating’ the
paradigmatic components, the humans, the jaguar, and the supe‘natural
serpent, the realms assocated with these (culture, nature, and the
supematural) can be equally visualized and identified. Also notable in this
same context are some fundamental oppositions, such as the human
capacity for decorative change, in contrast to the impossibility of
‘omamental modification for the rest of the e'ements within the cosmos. It
is in this opposition that the Wayana find the most important mechanisms
for the construction of the human being and humanity.
“reelaboracao” de varias pinturas corporais da serpente
sobrenatural pelas entidades predadoras fundamentais,
representadas por ong¢as e os inimigos, os quais, neste
exercicio, utilizam-se de técnicas préprias. A maxima
cria¢do valorativa consiste, por conseguinte, em dispor
sobre um objeto, como uma flecha de caca, a
configuracao de um animal predador, o qual também
representa a serpente sobrenatural por ser uma de suas
pinturas, e que é ainda graficamente reelaborado
pelo inimigo.
Essa sobreposicao de cargas deletérias constitui a
esséncia mesma da valoragao estética, da beleza, pois,
para os Wayana, quanto mais feroz, mais belo, contanto
que essa ferocidade/beleza possa ser perfeitamente
controlada pelo artista que a reproduz com maestria em
suas obras de arte.
As the decorative system expresses a deep matrix of identity, it is
susceptible to manipulations aimed at increasing its aesthetic value, which
lies essentially along a scale of predatory/metamorphic power that
characterizes among others, the supematural beings. The production of
value lies in symbolic and technical bases and consists of the “re-
elaboration’ of various body paintings of the supematural serpent by the
fundamental predatory entities, represented by the jaguars and the
enemies, who, in doing this, make use of specific techniques. It follows
that the maximum valuable creation is obtained by arranging over the
surface of an object such as a hunting arrow a configuration of a
predatory animal, which represents the supematural serpent, as it is one
of its paintings, and is furthermore graphically re-elaborated by the enemy.
This superimposing of deleterious charges is the essence of aesthetic
value and beauty since, for the Wayana, the more ferocious the more
beautiful, provided that this ferociousress/ceauty can be perfectly
controlled by the artist who masterfully produces it in his or her artworks.

Notas Notes
| Para 0 aprofundamento destas questées ver: Ribeiro (1970); Melatti 1 For a more detailed treatment of these auestions, see: Ribero (1970): Melatti 1980); Cameo
(1980}; Carneiro da Cunha (1992 a e b); Porro (1992), Souza Lima (1995), da Cunha (1992 a @ b): Porro (1992); Souza Lima (1995); Monteito (1985); Picardo (1996,
Monteiro (1995); Ricardo (1996, 1999). 1999),
2 Ricardo (199: 2 Ricardo (1999): 361
3 Gt, Schoepf (1995). 8 See Schoen! (1996).
4 Gf. Roe (1995). 4 See Roe (1995),
» Barbosa (1995): 135-136. 5 Barbosa (1995); 185-196.
6 Algumas das obras mais antigas sobre o assunto sao Cruls (1952) ¢ 6 Sore of the eariest works on ths subject ere Crs (1 152) and Ribero and Rive (1957)
Ribeiro ¢ Ribeiro (1957). Mais recentemente, surgiram coletaneas que ‘Some more recent publcations givng nk ‘perspectives on these studies are: Funarte (1985):
lancaram novas perspectivas sobre esses estudos, tais como Funarte Ribeiro (1987) and, notably, Vidal (19920).
(1985), Ribeiro (1987) e, notadamente, Vidal (19926). 7 See Ribeto (1987)
7 Cf. D. Ribeiro (1987). 8 See Ladeita (1983) for a description of the Timbira house; and Van Velthem (1898)
8 Cf. Ladeira (1983) para uma descricdo da casa Timbira, ¢ Van Velthem ing the decoration of the manioc cakes.
(1995) sobre a decoragae dos beijus. 9 See Rig 548.
© D. Ribeiro (1996): 545, 10 See Pessis and Guiden (1992).
10 Gf. Pessis © Guidon (1992). 41 See Roeio (1992).
11 Gr. Ribeiro (1992). nd Siva (1992): 286-287.
12 Ver Vidal e Silva (1992): 286-287. C }9920), Van Velthen (1986),
19 Ver Vidal (1992b), Van Velthem (1986). 44 See Muller (1992), Vidal (1992)
\ Gf, Muller (1992), Vidal (1992a). 15 See Guss (1990), Galois (1985, 1992).
15 Cf. Gus (1990) Gallois (1985, 1992). 16 See yan Veltnen (1998).
16 Cf. Van Velthem (4995). f (1995)
17 Schepf (1995). 18 Soe Padrosa (1975), Lévi-Strauss (1
18 Gf. Pedrosa (1975) Lévi-Strauss (1979). 19 see Van Vethen (1996),
19 Gf. Van Velthom (1995). 20 Conceming the corporaiy of the subjects, see Taveira (1978), Guss (1990), Van Velthen
20 A respeito da corporalidade dos objetos ver, entre outros, Taveira (1978), (1995, 1998),
Guss (1990), Van Velthem (1995, 1998). 24 Sce Vidal (1985).
2! Ct, Vidal (1985). 22 See Fereton Costa (1985).
22 Cf. Fenelon Costa (1985). 23 See Siva ard Farias (1992).
25 Cf, Silva e Farias (1992). 24 See Van Vet hen (1999).
24 Cf. van Veltem (1989). 25 See Abero (1983),
25 Cf. Ribeiro (1983). 26 Sco Wight (19%
26 Cf. Wright (1999) para recentes estudos sobre a agdo missiondria entre 7 This passage is inspired by wntings of mine, dated 19% 5, 1987, 199%
98 povos indigenas. 1998, 1999.
19), Mull: (1990} and Gallis (1992) tor the othe references.
27 0 texto inspira-se em textos de minha auteria, datados de 1985, 1987, ing venom3s
1992, 1994, 1995, 1998, 1999. (Eunectes murs), is the largest of the Americ
28 Cf. Ribeiro (1989), Muller (1990) e Gallois (1992) para as outras ithis by constriction
referéncia: ‘30 The aruma (echnosiphon sp, hasa tong, floxible stom and grows in marshy areas.
29 A sucuri (Eunectes murinus), também conhecida como sucuriju, boiugu, 31 A gral rodent, Scirus, sp., a member of the sauitel famiy.
boiuna, anaconda, vibordo, 6 a maior serpente constritora e, portanto,
desprovida de peconha, das Américas.
30 © aruma (Ischnosiphon sp) possul caule longo e flexivel e ocorre em
lugares alagados.
31 Trata-se de um pequeno roedor, Sclurus, sp, conhecido no sul do pais
como caxinguelé, serelepe.

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Museu Paraense Emilio Goeldi
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Museu Paraense Emilio Goeldi
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Museu Paraense Emilio Goeldi
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Museu Paraense Emilio Goeldi
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Wayana, Par
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Wayana, Para
Museu Paraense Emilio Goeldi
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Wayana, Par
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

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Museu Paraense Emilio Goeldi
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Wayana, Paré
Museu Paraense Emilio Goeldi
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Galibi, Amapa
‘Museu Paraense Emilio Goeldi
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‘Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

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Kampa, Acre
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

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 Paus de Lavouco
Diggng Stoxs
Kanela, Maranhao
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Paré

107
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Amazonas
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro
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Waidpi, Guiana Francesa
Museu Paraense Emilio Goeldi
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Colegao Museu do indio/RJ
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Colecdo Museu do indio/RJ
Rio de Janeiro

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Rio de Janeiro

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 Ye'kuana, Roraima
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

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Urubu Kaapor, Maranhao
‘Museu Paraense
Emilio Goeldi
Belém do Paré

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Karala, Golds
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
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Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
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Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
Sao Paulo

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Kadiweu, Mato Grosso do Sul
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Universidade de Coimbra
Coimbra
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Museu do Arqueologia o Etnologia - USP
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Kaingang, Sdo Paulo
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
Sdo Paulo

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FABRIC
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Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

134
Tui onas
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro
Furadores de Labio, Orethas, Nariz
Bororo, Mato Grosso
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro
 Grampos de Cabeleira
Bororo, Mato Grosso
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

137
 yrubo, Amazonas
Colego Museu do indio/RJ
Rio de Janeiro
Par Pulseiras
Bracelets
Apinayé, Maranhao
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Pard

140
Grampo de Cabeleira
Hair Cip
Bororo, Mato Grosso
‘Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Labrete
Labret
Bororo, Mato Grosso
‘Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

Museu Nacional da UFRJ

Rio de Janeiro

143
Corea
Bororo, Mato Grosso
Museu ‘Nacional da UFRJ
Par de Brincos
Eanings
‘Suy4, Mato Grosso
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

——ul

Faixa Frontal
Frontal Sash
Tukano, Amazonas
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Par
ueologia e Etnologia - USP
 no, Amazonas
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para
 =
ON
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SOS
AOC
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2ae8e

Roprodugsio de Gratismo sobre Papel

foa.tsen fa S271 Paper
Parakané, Paré
Colegio Museu do Indio/RJ
Rio do Janel ro
 Bandoleira
Kai ranho
Museu Paraonse Emilio Gooldi
Belém do Paré

Reprodugio de Gratismo sobre Papel

Kediweu, Mato Grosso do Sul
Colegio Museu do Indio/RJ
Rio de Janeiro
Escarificador
Scaring Tool
Bakairi, Mato Grosso
Musou Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

Escarificador
Scarring Too!
Asurini, Paré
‘Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro
COMBATER 05 NIMIGOS
HGHIING Tht ENEMES
 Méscare
Taplrapé, Mate Oro
Colegio Museu do Innd, ms
 2
Via)
aobtaes
i giseh
DHL
1 - =£3)¢2s0essec0000c=cece00
Cee RNa

162
 Escudo de Couro
Leather Shi
Ticuna, Amazoni
Staatlichos Musoum fur
Vélkerkunde
Viena Vers

Volkerkunde
Viena Vers:

163
 lavas
Cubs
Roraima
Museu Antropolégico da
Universidade de Coimbra
Coimbra

164
CRIAR REALIDADES PARALELAS
CREATING PARALLEL RCALITED
Mascaras
Ticuna, Amazonas
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
‘Sho Paulo
Méscara
Jurupixuna, Amazonas
‘Museu Antropolégico da
Universidade de Coimbra
Coimbra,

Mascara
Jurupixuna, Amazonas
Museu Antropolégico da
Universidade de Coimbra
Coimbra
Mascara
Jurupixuna, Amazonas
Museu Antropolégico da Universidade de Coimbra
Coimbra
 Tecido Emplumado
Feathered Fabric
Karipuna, Amazonas
Staatliches Museum far Vélkerkunde
Viena Vienna

171
4172
 cre
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
‘Sao Paulo
 go e d e e >
> . S D
b s soho)

Cetro Cerimonial
i
:

Ceremonial Scepte
i

Rtytnm Stick
Apurind, Amazonas Baniwa, Amazi
Museu Paraense Emilio Gi ‘Museu Nacional da UFRJ
Belém do Paré Rio de Janeiro
Colher para

Museu Paraense Emilio Goeldi

Belém do Para

175
 Capacete
Helmet
Palikur, Amapé
Coleco Museu do Indio/RJ
Rio de Janeiro

176
 Sateré-Maué, Amazonas
‘Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janoiro
Vesicatério
Aunt
Sater
Colegéo Museu: do Indio/RJ
Rio de Janoiro
 as
Muse ense Emilio Goeldi
Bolém do Para

182
 Bastées Cerimoniais
(Ceremonal Dance Batons
Ticuna, Amazonas
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

184
Mascara

Museu Nacional da UFRJ

Rio de Janeiro

186
Méscara
Mask
Kobewa, Amazonas
‘Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Paré
 Méscara
Mask
Kayap6-Gorotire, Pard
‘Museu Paraense Emilio Goeldi
jelém do Paré
189
 Machado Semilunar
Parekramecan, Maranhao
Staatliches Museum fiir Vélkerkunde
Viena

190
Urubi , Maranhio
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

192
 Corimonial
Paré
‘Musou Paraense Emilio Goeldi
Belém do Paré

193
Escultura Cerimonial
Ceremonial Soupture
Asurini, Pard
Colegdo Museu do indio/RS
Rio de Janetro
 Trombeta
Trumpet
Munduruku, Paré
Museu Antropolégico da
Universidade de Coimbra
Coimbra

Flauta
Flute
Tukano, Amazon:
Museu de Arqueologia
Etnologia - USP
‘So Paulo
 Banco
Bench
Makuxi, Roraima
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

196
 Pingente de Osso Humano
Pendant of Human Bone
Tupinamba, Pernambuco (?)
Nationalmuseet - National Museum of Denmark
Department of Ethnography
Copenhague Copenhagen

Porta-Cigarros
Cigarette Carier
‘Tukano, Amazonas
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Para

iF i

Cie
:

197
 Aderego Cerimonial
Kayabi, Mato Grosso
Museu de Arqueologia e
Etnologia - USP
S50 Paulo

198
Yanomami, Amazonas

5 sie,
SF

S
 Brincos
Earnings
Bororo, Mato Grosso
Museu Nacional da UFRJ
Rio de Janeiro

Cinto Emplumado
Fes at

Rio de Janeiro
 °
jogia e Etnologia - USP
 Zunidor
Mehinako, Mato Grosso
Museu Nacional da UFRJ
tio de Janeiro
oo

Zoot wloture
Kobewa, Amazonas
Museu Paraense Emilio Goeldi
Belém do Paré
 Langa Cerimonial
Rikbaktsa, Mato Grosso
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
‘So Paulo

204
 Chocatho
Tukano, Amazonas
Museu de Arqueologia e Etnologia - USP
‘Sao Paulo

207
Grinalda com Cobre-Nuca
Rikbaktsa, Mato Grosso _
Museu de Arqueologia © Etnologia - USP
Sao Paulo

209