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Leitores de fake news e de

conspirações nos meios


digitais: estratégias de
formação e conscientização
Andrey Istvan Mendes Carvalho (PIBIC-UFRJ/NUPES)
Orientador: Prof.ª Dr.ª Regina Souza Gomes (UFRJ/NUPES)

XIV Fórum de Estudos Linguísticos


II Congresso Internacional de Língua Portuguesa

GT 04 – Língua e discurso: propostas metodológicas para a


interpretação de textos
Percurso da apresentação
(In)definindo nossos conceitos: fake news, teorias da conspiração e
desinformação
Nosso corpus: Jornal da Cidade Online e Jornal Tribuna Nacional
Uma aproximação panorâmica aos discursos desinformativos
A delimitação de enunciadores e enunciatários
Do fazer cognitivo à certeza, da certeza ao agir no mundo
Questões do ensino: desmascarar as mentiras, impedir os fazeres

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digitais
Teorias da conspiração: um
conceito indefinido
Precedentes históricos Elementos contemporâneos
Hofstadter (1996) discute os usos
Knight (2001) aponta o
políticos das teorias da conspiração
conspiracionismo como matriz de
na história estadunidense, definindo-
incontáveis produtos culturais da
as por um “estilo paranoico”.
pós-modernidade.
Byford (2011) remonta a existência de
Barkun (2003) discute a relação entre
teses conspiracionistas desde os
o pensamento conspiracionista e
tempos da Revolução Francesa e das
formas legitimadas de produção de
disputas de independência na
conhecimentos.
América.

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digitais
Por uma definição das fake news
Uma primeiras definições e usos Outra definição possível

“Todo texto por meio do qual as


“Artigos de imprensa que são instâncias tradicionais de mediação
intencionalmente, e que podem ser de informação e construção ética da
provados, como falsos, podendo levar verdade são questionadas
os leitores a má-interpretações da paralelamente ao uso de estratégias
realidade.” (ALLCOT & GENTZKOW, enunciativas de apagamento ou
2017) melindre da instância de autoria.”
(KALIL FILHO, 2019)

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digitais
Por uma (in)definição das fake
news
Primeiras aparições Instabilidades conceituais

“YOU ARE FAKE NEWS!” – Donald Tandoc, Lim e Ling (2017)


Trump, 11/01/2017, em sua primeira encontraram ao menos seis práticas
conferência como presidente eleito distintas tratadas sob o nome “fake
dos EUA. news”: sátiras jornalísticas, paródias,
fabricação de notícias,
Palavra do ano de 2017 pelo fotomanipulações, jornalismo
Dicionário Collins. patrocinado e publicidade jornalística.

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Aproximações e distanciamentos
Posição quanto a veridicção Posição quanto aos valores epistêmicos
(BARROS, 2022) e instâncias do saber
As TdC mostram-se como discursos As fake news, tomadas por verdades,
capazes de desvelar segredos e visam o estabelecimento da certeza
estatuir verdades mais legítimas que quanto aos conhecimentos que
aquelas dos conspiradores. transmitem.
As fake news reconstroem falsidades, As TdC, por outro lado, visam
aproximando-as, por estratégias estabelecer um julgamento de
persuasivas, de discursos aceitos invalidade dos conhecimentos
como verdadeiros. propostos por outros discursos.

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Por uma definição da
desinformação nos meios virtuais

Consideramos como desinformação todo texto, discurso ou prática


discursiva que põe em xeque os conhecimentos e informações
propostos pelas instâncias socialmente legitimadas do saber
(imprensa séria, universidades, institutos de pesquisa etc.).

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Nosso corpus de análise
Jornal da Cidade Online Jornal Tribuna Nacional

Como afirmam em sua página


institucional, “o Jornal da Cidade
Online tem alcançado projeção Apresenta-se como um jornal que
nacional, sendo acessado em todas as preserva “a linha editorial
regiões do país e extremamente conservadora e crítica, em que a
respeitado pelo seu público leitor por pluralidade e o apreço aos fatos que a
seu comprometimento com a análise grande mídia não mostra são as bases
dos fatos, material opinativo, de toda a nossa essência.”
pluralidade e compromisso com a
verdade.”

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Nosso corpus de análise
Jornal da Cidade Online Jornal Tribuna Nacional

Réu em mais de 100 processos cíveis, Presença frequente nas páginas de


criminais, trabalhistas e eleitorais, diversas agências de checagem de
segundo consulta no site JusBrasil. notícias.
Investigado pela CPMI das Fake News. Difusor de teorias sobre a Nova
Ordem Mundial, a influência
Um dos primeiros alvos, no Brasil, de alienígena na terra e teorias como o
campanhas do movimento Sleeping Great Reset e a Iniciativa Mega Rich
Giants. Elite.

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Delimitando enunciadores e
enunciatários
O estabelecimento do contrato fiduciário

O contrato fiduciário estabelece a relação mínima em que o enunciatário-


destinatário passa a aceitar a validade do esquema de valores proposto pelo
enunciador-destinador, seja pela figura própria do enunciador-destinador
projetada no discurso, em que falamos de confiança, ou pela construção lógico-
inteligível do enunciado-discurso, em que falamos de crença.

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Do ato cognitivo ao
estabelecimento da certeza
O fechamento do universo cognitivo

As duas práticas discursivas analisadas anteriormente têm um elemento em


comum: o esforço em serem aceitas, apesar de tudo, como verdade. Esse esforço
visa reconfigurar os conhecimentos e as crenças dos enunciatários, incutindo
valores e certezas ligadas àquilo que o destinador tem por objetivo.
A certeza, nesse sentido, é caracterizada por uma posição tônica, em que o sujeito
adere a esses saberes de maneira intensa, fechando-se para conhecimentos que
possam estabelecer o contraditório.

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Do estabelecimento da certeza ao
ato pragmático
O dispositivo ético e a aceitação do fazer destinado

Uma constante nas páginas veiculadoras de desinformação é, nesse sentido, a


tentativa de transpor o limite entre atos cognitivos (instauração de certezas) e
fazeres pragmáticos (ações no mundo).
O estabelecimento de uma relação fiduciária funciona também para caracterizar a
relação do sujeito para com seus destinadores (Patte, 1985; 1986). Assim, para
julgar-se obrigado a realizar movimentos narrativos, o sujeito deve ter um mínimo
de crença e de confiança na instância que dirige seus fazeres.

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Questões do ensino:
Sobre a veridicção

Diversos trabalhos apontam estratégias para o desmascaramento


dos discursos de desinformação. Dentre esses, o trabalho de Barros
(2020), enumerando os recursos de construção das fake news e
formas de desconstruí-las, é extremamente valioso para o
desenvolvimento de planejamentos didáticos. A preparação de
oficinas, nesse sentido, é um recurso útil para a conscientização.

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Questões do ensino:
Sobre os atos cognitivos

Os atos cognitivos que levam da deslegitimação dos conhecimentos


já estabelecidos para o estabelecimento, como certezas e prismas
pelos quais se vê o mundo, de conhecimentos questionáveis devem
ser objeto de reflexão em sala de aula. Assim, é importante
considerar quais são as instâncias de saber tidas como legitimas
pelos alunos e como podemos nos posicionar diante delas.

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Questões do ensino:
Sobre os fazeres pragmáticos

Os discursos de desinformação tentam transpor os limites do textual


para os agires no mundo. Discutir essa dimensão dos textos com os
alunos, da passagem do discurso para as práticas, é indispensável.
Assim, muitas aproximações mostram-se pertinentes, como
explicitar a interface desses discursos desinformativos com
discursos sensacionalistas, publicitários, estelionatários etc.

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Considerações finais
Apontamentos para o professor e para o conscientizador

É preciso ser camaleônico, a nossa imagem também precisa ser construída como
credível e confiável.
Algumas “heresias” teóricas devem ser cometidas, mas isso não significa um vale-
tudo.
Ter o feeling quanto ao momento de recuar também é fundamental, trata-se de
um estabelecimento de estratégias.
Persistir. Persistir. Persistir.

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Referências bibliográficas
ALCOTT, H; GENTZKOW, M. Social media and fake news in the 2016 election. Journal of Economic Perspectives, v. 31,
n. 2, p. 211-236, 2017.
BARROS, D. L. P. de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. São Paulo: Humanitas, 2001.
BARROS, D. L. P. de. Fake news e as anomalias. VERBUM, v. 9, n. 2, p. 26-41, set. 2020.
BARROS, D. L. P. de. Contrato de veridicção: operações e percursos. Estudos Semióticos, v. 18, n. 2., p. 23-45, agosto
de 2022.
BARROS, D. L. P. de. Algumas reflexões sobre o papel dos estudos linguísticos e discursivos no ensino-aprendizagem
na escola. Estudos Semióticos, v. 15, n. 2, p. 1-14, dezembro de 2019.
BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru/SP: EDUSC, 2003.
BYFORD, J. Conspiracy theories: a critical introduction. New York: Palgrave Macmillan, 2011.
DISCINI, N. O estilo nos textos: história em quadrinhos, mídia e literatura. São Paulo: Contexto, 2009.
ECO, U. Interpretação e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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Referências bibliográficas
FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2000.
FONTANILLE, J.; ZILBERBERG, C. Tensão e significação. São Paulo: Humanitas, 2001.
GOMES, R. S. Relações entre linguagens no jornal: fotografia e narrativa verbal. Niterói: EdUFF, 2008.
GOMES, R. S. Crise de veridicção e interpretação: contribuições da Semiótica. Estudos Semióticos, v. 15, n. 2, p. 15-
30, dezembro de 2019.
Gomes, R. S. Um olhar semiótico sobre a atualidade: a aspectualização a partir de Greimas. Estudos Semióticos, v. 14,
n. 1, p. 108–116, março de 2018.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989.
GREIMAS, A. J. “O saber e o crer: um único universo cognitivo”. In: ______. Sobre o sentido II: ensaios semióticos.
São Paulo: EdUSP, 2014b. pp. 127-146.
HOFSTADTER, R. “The paranoid style in american politics”. In: ______. The paranoid style in american politics and
other essays. Cambridge/MA: Harvard University Press, 1996.

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Referências bibliográficas
KALIL FILHO, M. da V. Fake news e democracia: contribuições da semiótica discursiva acerca da verdade e da
informação na internet. Caderno de Letras da UFF, v. 30, n. 59, pp. 205-219, 2º número 2019.
KNIGHT, P. Conspiracy culture: from the Kennedy assassination to The X-Files. New York: Routledge, 2001.
PATTE, D. “Modalités éthiques: une nouvelle catégorie modale”. In: PARRET, H.; RUPRECHT, H.-G (orgs.). Exigences et
perspectives de la sémiotique: recueil d’hommenages pour Algirdas Julien Greimas. Amesterdã: John Benjamins
Publishing Company, 1985. pp. 265-272.
PATTE, D. "Modalité". In: GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J (orgs.). Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du
langage. Paris: Hachette, v. 2, 1986. p. 141-144.
TANDOC JR., E. C.; LIM, Z. W.; LING, R. Defining “fake news”: a typology of scholarly definitions. Digital Journalism,
v. 6, n. 2, pp. 137-145, 2018.
ZILBERBERG, C. Elementos de semiótica tensiva. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.

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Muito Obrigado!
Andrey Istvan Mendes Carvalho
andrey_carvalho@letras.ufrj.br

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