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II Simpósio Discente PPGCOM-UERJ – Territórios, Tecnologias e Culturas

Mídias sociais, fake news e


engajamento: contribuições dos
estudos em semiótica discursiva
Andrey Istvan Mendes Carvalho (PIBIC-UFRJ/NUPES)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Orientador: Prof. Dr. Regina de Souza Gomes (FL-UFRJ/NUPES)
Percurso da apresentação

 Apresentação do projeto.
 A comunicação na perspectiva da semiótica de linha francesa.
 O Percurso Gerativo da Significação.
 As relações intersubjetivas: fidúcia, ética, veridicção e epistême.
 Considerações sobre as fake news enquanto práticas discursivas.
 Interfaces entre desinformação, sensacionalismo e conspiracionismo.
A confiança e o engajamento nos discursos de fake
news: estratégias sensíveis e inteligíveis

 Pesquisa iniciada em 2020 como parte do projeto “A veridicção discursiva em crise: uma
análise semiótica”, coordenado pela Prof. Dr. Regina de Souza Gomes (FL-UFRJ).

Dividida em 3 etapas:
 Relações fiduciárias nos discursos desinformativos;
 Relações entre os discursos de fake news e o sensacionalismo;
 Relações entre os discursos de fake news e as teorias da conspiração.

 Projeto em finalização.
Textos e discursos na semiótica de linha francesa

 Para a teoria semiótica proposta e sistematizada por Greimas e Courtés (1989 [1982]),
toda comunicação humana se estabelece por meio de objetos semióticos (em linhas gerais,
textos) que se inserem em uma relação intersubjetiva.

 A teoria, nesse sentido, parte dos estudos linguísticos e da enunciação para compreender
como os significados se estabelecem por meio de processos de construção linguístico-
semiótica.
Textos e discursos na semiótica de linha francesa

 Essa construção acontece em dois planos :


 Plano de expressão: a materialidade sensorial-perceptiva dos objetos semióticos
(Barros, 2021).
 Plano do conteúdo: organização dos sentidos e significados em torno de um percurso
que vai de uma menor para uma maior complexificação (Bertrand, 2003; Barros, 2001).
Textos e discursos na semiótica de linha francesa

 O plano da expressão tem sido objeto de reflexões mais recentes nos estudos em
semiótica, enquanto o estudo do plano do conteúdo já está bem estabelecido na área, em
especial pelo desenvolvimento do Percurso Gerativo da Significação.

 Os estudos do plano da expressão tem se dado, principalmente, pelos estudos na


semiótica plástica e visual, das semióticas sincréticas (Beividas, 2006), além de estudos
centrados no discurso publicitário (Floch, 2000).
Isotopia figurativa:
alimentos

Isotopia temática:
miséria

Atores:
Os brasileiros
(sujeito)
Governo Bolsonaro
(antissujeito)

Oposições elementares:
fartura vs. escassez
O percurso gerativo da significação

 O percurso é dividido em três níveis sucessivos:


 Nível fundamental: os valores básicos do discurso são propostos e organizados em
axiologias.
 Nível semionarrativo: os valores do discurso são colocados em relação com
programas e percursos narrativos (meios dos sujeitos acessá-los de diferentes maneiras).
 Nível discursivo: os programas narrativos se constituem enquanto percursos dos
sujeitos e recebem uma “roupagem” reconhecível por meio das operações de
tematização, figurativização e ancoragens.
Isotopia figurativa:
Tanque de guerra
Urna eleitoral

Isotopia temática:
Política
Regimes de governo

Atores:
Militares
Jair Bolsonaro

Oposição elementar:
Liberdade vs. opressão

Sujeito modalizado por


um querer fazer e um
poder fazer
As relações de contrato: fidúcia e ética

 O contrato fiduciário diz respeito a aceitação do esquema de valores proposto no


discurso, direcionando a relação do sujeito com o discurso – crença - e do sujeito com o
organizador do discurso - confiança (Greimas, 2014; Fontanille e Zilberberg, 2001).

 A relação ética diz respeito a adesão dos sujeitos aos valores que são postos e sua
aceitação enquanto diretores de obrigações e necessidades desses sujeitos (Patte, 1986a;
1986b; Discini, 2015), definidas como o engajamento, interesse, indiferença e alienação
frente aos fazeres direcionados.
Oposição entre nós vs.
eles

“Eles” são modalizados


por uma competência
ilimitada: poder fazer,
saber fazer, querer fazer

Relação interdiscursiva
com as críticas ao desfile
militar organizado pelo
pres. Bolsonaro

Termos de valoração
negativa: chilique,
chorumelas
As relações de contrato: veridicção e epistême

 O contrato de veridicção é o responsável pela aceitação dos discursos, enquanto uma


manifestação/representação que pode ou não ser aceita pelo sujeito enquanto como
verdades, segredos, mentiras e falsidades (Barros, 2001; 2022; Parret, 1988).

 Os juízos epistêmicos são aqueles pelos quais o sujeito assume saberes, crenças e valores,
tomando-os como constitutivos de seu universo cognitivo enquanto certezas, probabilidades,
incertezas e improbabilidades (Greimas, 2014; Patte, 1986a).
Termos de valoração
negativa:
Esquerdistas

Isotopias figurativas:
Militares

Isotopias temáticas:
Estado / Forças militares

Oposição elementar:
Ordem vs. desordem

Sujeitos modalizados
pelo poder fazer: é
legítimo o desfile militar

Antissujeitos impedidos
em suas críticas: não
podem e não devem
criticar a realização do
desfile
As fake news enquanto prática discursiva

 Sendo discursos, as fake news propõem contratos que podem ou não ser aceitos por
determinados perfis de enunciatários que são pressupostos no texto.

 O enunciador/produtor do texto, desse modo, apresenta marcas que delimitam um perfil


para si e para o outro, de modo a tornar mais eficiente a manipulação dos valores e crenças
propostos pelo discurso.

 O objetivo das fake news, no fim das contas, é garantir a adesão dos sujeitos a valores e
crenças que direcionem seus fazeres, suas formas de agir no mundo, suas preferências etc.
Fake news, sensacionalismo e teorias da conspiração

 As fake news não são a única prática discursiva que visa incutir nos enunciatários
determinados fazeres e crenças.

 Quanto aos fazeres, os discursos da imprensa sensacionalista visam, pela construção de


proximidades com o enunciatário, criar certa fidelidade enquanto consumidor diário do
produto jornalístico (Landowski, 1992; Discini, 2009).

 Em relação aos valores, saberes e crenças, as teorias da conspiração visam reconfigurar o


universo cognitivo dos enunciatários, promovendo um engajamento firme com a “visão de
mundo” veiculada.
Referências bibliográficas
BARROS, D. L. P. de. “Semiótica e plano da expressão: história e perspectivas”. In: MANCINI, R.; GOMES, R (orgs.). Semiótica do sensível:
questões do plano da expressão. São Paulo: Mackenzie, 2020.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. 3ª. ed. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001.
BEIVIDAS, W. Semióticas Sincréticas (o cinema): posições. São Paulo: FFLCH/USP, 2006.
BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru/SP: EDUSC, 2003.
DISCINI, N. O estilo nos textos: história em quadrinhos, mídia, literatura. São Paulo: Contexto, 2004.
DISCINI, N. Corpo e estilo. São Paulo: Contexto, 2015.
FLOCH, J.-M. Visual identites. Nova Iorque: Continuum, 2000.
FONTANILLE, J.; ZILBERBERG, C. Tensão e significação. São Paulo: Humanitas, 2001.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989.
GREIMAS, Algirdas Julien. Sobre o sentido II: ensaios semióticos. Tradução de Dilson Ferreira da Cruz. São Paulo: EdUSP, 2014.
LANDOWSKI, E. A sociedade refletida: ensaios de sociossemiótica. São Paulo: Pontes, 1992.
PARRET, Herman. Enunciação e pragmática. Tradução de Eni Pulcinelli Orlandi et al. Campinas: Editora da UNICAMP, 1988.
PATTE, D. “Modalité”. In: GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Sémiotique: dictionnaire raisonné de la théorie du langage. Paris: Hachette, v. 2,
1986a. p. 141-144.
PATTE, D. “Modalités éthiques: une nouvelle catégorie modale”. In: PARRET, H.; RUPRECHT, H.-G. Exigences et perspectives de la
sémiotique. Amesterdã: John Benjamins Publishing Company, 1986b. pp. 265-272.
Muito
obrigado! Andrey Istvan Carvalho
andrey_carvalho@letras.ufrj.br

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