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Letras Vernáculas | Faculdade de Letras |


| Centro de Letras e Artes | Cidade Universitária |

Crença e confiança nos


discursos virtuais
Uma análise semiótica das fake news

Andrey Istvan Mendes Carvalho (UFRJ – PIBID/Capes)


Licenciando em Letras: Português – Literaturas (FL-UFRJ)

Orientador: Prof.ª Dr.ª Regina Souza Gomes (Dep. Letras Vernáculas – FL/UFRJ)
 Investigar as relações entre crença e confiança
nos discursos virtuais em geral e, em específico,
nas fake news.
 Realizar um levantamento dos recursos que
colaboram para a instauração de um regime de
crença ou de confiança. Objetivos da
 Verificar a preponderância de um ou outro
regime nos discursos virtuais em geral e, em
pesquisa
específico, nas fake news.
 Verificar se existe a influência dos regimes de
crença e de confiança na avaliação do estatuto
veridictório do discurso.
 Para a presente pesquisa, são considerados os
pressupostos da teoria semiótica como
desenvolvida por A. J. Greimas (1984; 1975;
1976; 1981; 1983; 2014; 1993) e continuada,
dentre outros, por Jacques Fontanille e Claude
Zilberberg (2016).
 Nessa teoria, os juízos de verdade e falsidade
Referencial
são frutos de uma relação entre as modalidades teórico
veridictórias, ser e parecer, e suas combinações
como verdade (parecer e ser), falsidade (não-
parecer e não-ser), mentira (parecer e não-ser) e
segredo (não-parecer e ser).
 Os discursos se estabelecem por meio de
contratos (acordos) mais ou menos implícitos,
numa relação intersubjetiva.
 Os principais fatores que influem no
estabelecimento do discurso são: Construção
 Os saberes que podem ser compartilhados
pelos sujeitos.
discursiva na
 Os valores (morais, religiosos, ideológicos) semiótica de
que podem ser partilhados pelos sujeitos. linha francesa
 O estabelecimento de uma relação
Destinador (aquele que faz saber, faz crer) –
Destinatário (aquele que passa a saber, passa
a crer)
 O Destinador opera a construção de um objeto
de saber que será doado ao destinatário. Em
outras palavras, ele constrói, por meio das suas
escolhas discursivas, uma série de operações
Fazer
lógicas que serão refeitas pelo destinatário. persuasivo
 O Destinatário, para aceitar (acreditar) ou vs.
rejeitar (recusar) os saberes e valores
transmitidos pelo Destinador, executa um fazer
Fazer
interpretativo, ou seja, a emulação das operações interpretativo
realizadas pelo Destinador e verifica se são
adequadas ao que considera verdadeiro.
 Os recursos inteligíveis são aqueles que dizem
respeito à construção de um objeto de saber
(ancoragem de tempo, espaço, pessoa; uso de Recurso
recursos intertextuais, dados, pesquisas, etc).
 Os recursos sensíveis são aqueles que, dentre
inteligível
outros aspectos, dizem respeito às anomalias, vs.
enquanto falhas na construção discursiva
(Barros; 2020), à construção de uma imagem, Recurso
seja do Destinador, de outros sujeitos implicados
no discurso ou das próprias condições da
sensível
enunciação, que sensibilizem o Destinatário.
 Quando o Destinador constrói um objeto de
saber, no sentido de construir um algoritmo
lógico que, quando interpretado pelo
Destinatário, leve este segundo a aceitar os Crença
valores e saberes veiculados pelo discurso,
apela-se para a crença.
inteligível
 Quando o Destinador constrói uma imagem de vs.
si, um simulacro no discurso, que vise
estabelecer, quando interpretado pelo Confiança
Destinatário, uma resposta emocional que, no
extremo, ignora as anomalias e aceita, sem
sensível
critério, os valores veiculados pelo discurso,
apela-se para a confiança.
 Crença e confiança influem sobre esferas
diferentes do sujeito: uma atua no campo
inteligível e a outra, no campo sensível.
Esse conjunto recebe o nome de fidúcia.
 A confiança opera pela construção de um
simulacro projetado (Sp) de si pelo
Destinador (S1) no discurso, enquanto a A tensão
crença opera pela construção de um objeto entre crença
de saber (Os) doado ao Destinatário (S2).
e confiança

FONTE: Adaptação de Fontanille, Zilberberg; 2016, p. 253 .


 Como dois sujeitos, expostos a um mesmo
enunciado e com, potencialmente, um mesmo
repositório de saberes, realizam julgamentos
distintos sobre seu estatuto veridictório?
 Há alguma influência da inserção do discurso
em um regime de crença no julgamento
veridictório? Se sim, qual? Se não, há outros
Perguntas de
fatores que influenciam? pesquisa
 Há alguma influência da inserção do discurso
em um regime de confiança no julgamento
veridictório? Se sim, qual? Se não, há outros
fatores que influenciam?
 Um sujeito que enxergue, no Destinador do
discurso, uma figura confiável estará inclinado a
julgar o discurso, apesar das anomalias, como
verdadeiro e aceitar os valores veiculados.
 Um sujeito que enxergue, no Destinador do
discurso, uma figura não-confiável estará
inclinado a julgar os recursos inteligíveis com
Hipóteses
maior detalhamento, ou assumir de pronto a não-
verdade do discurso, recusando seus valores.
 Assim, o julgamento veridictório e a aceitação
ou não dos saberes e valores veiculados podem
ser dirigidos pela carga fiduciária investida.
 Trata-se de uma pesquisa qualitativa em um
corpus de 10 capturas de tela de notícias falsas
selecionadas, inicialmente, do site da agência de
checagem de notícias Aos fatos.
 Para a presente exposição, foram escolhidas Considerações
cinco elementos representativos do corpus que
servirão de base para a exposição do método de
metodológicas
análise e considerações teóricas.
 Dentre esses elementos, 1 foi classificado pela
agência como distorcido e outros 4 como falsos.
Valorização da figura citada
Argumento de autoridade

Desvelamento de
um segredo
Ironia

Construção da urgência
Assunção
da verdade
Ironia
Erros ortográficos
que são ignorados

Os que não confiam


nesse destinador é que
são pessoas
desinformadas
Descrédito do enunciado

Valorização da figura citada


Argumento de autoridade
Escolhas de tradução

Desconfiança em relação
aos instrumentos de
checagem
Valoração positiva do movimento
Não correspondência Intertextualidade
imagem x legenda

Apoio dos partidários

Deslegitimação do órgão
de imprensa
 Como apontado por Barros (2020), há uma
tipologia complexa das fake news, mas todas se
unem no sentido de causar uma mobilização,
uma sensibilização dos enunciatários e uma
adesão do Destinatário aos valores doados pelo
Destinador.
 Confrontados por outros discursos/valores
diferentes dos que são veiculado pelos
Conclusões
destinadores com os quais se identificam, os preliminares
sujeitos desacreditam a fonte do discurso
dissonante.
 Assim, a inserção do discurso num regime de
confiança pode diminuir ou anular a
permeabilidade do sujeito aos discursos
dissonantes.
 Ampliação do corpus visando uma maior
verificação das hipóteses, considerando
inclusive outras fontes de material, como grupos
e canais da rede social Telegram.
 Ampliação do levantamento bibliográfico sobre
os discursos virtuais em geral e, em específico,
Próximas
sobre as fake news, visando uma base mais
ampla para as hipóteses e conclusões.
etapas da
 Formulação de um instrumental teórico-analítico pesquisa
para a análise da fidúcia em outros objetos,
dentro da perspectiva da uniformidade de
abordagens proposta pela semiótica de linha
francesa.
BARROS, D. L. P. de. As fake news e as “anomalias”.
VERBUM, v. 9, n. 2, p. 26- 41, 2020.
BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. trad.
Grupo Casa, coord. Ivã Carlos Lopes. Bauru, SP: EdUSC,
2003.
CRUZ, D. F. da. Algumas considerações sobre o crer e o
saber. Estudos Semióticos, [S. l.], n. 4, 2008. Referências
FONTANILLE, Jacques; ZILBERBERG, Claude. Tensión y
significación. trad. Desidério Blanco. Lima: Fondo Editorial
bibliográficas
de la Universidad de Lima; 2016.
GOMES, R. S. Crise de veridicção e interpretação:
parciais
contribuições da Semiótica. Estudos Semióticos, [S. l.], v.
15, n. 2, p. 15-30, 2019
GREIMAS, A. J. Semântica estrutural: pesquisa de método.
trad. Haquira Osakabe e Izidoro Blikstein. São Paulo:
Cultrix, 1984.
GREIMAS, A. J. Sobre o sentido: ensaios semióticos. trad.
Ana Cristina Cruz Cezar et al. Petrópolis: Vozes, 1975.
GREIMAS, A. J. Semiótica e ciências sociais. trad. Álvaro
Lorencini e Sandra Nitrini. São Paulo: Cultrix, 1981.
GREIMAS, A. J. Pour une théorie des modalités; in
Langages, ano 10, n. 43, 1976. p. 90-107
GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica.
Referências
trad. Alceu Dias Lima et alli. São Paulo: Cultrix, 1983. bibliográficas
parciais
GREIMAS, A. J. Sobre o sentido II: ensaios semióticos.
trad. Dilson Ferreira da Cruz. São Paulo: EdUSP, 2014.
GREIMAS, A. J; FONTANILLE, J. Semiótica das paixões.
trad. Maria José Rodrigues Coracini. São Paulo: Ática,
1993.
SOARES, V; MANCINI, R. Uma leitura tensiva das
modalidades veridictórias. 2020 (no prelo)

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