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Introdução - RI e Global History
Introdução - RI e Global History
Silvia Patuzzi
História Global é um dos fenômenos intelectuais mais
relevantes da historiografia contemporânea.
Itinerário 1325–1332
Itinerário 1332–1347
Itinerário
1349–1354
Nos últimos anos de vida, esteve em Granada, Espanha, quando esta era ainda a capital do reino nasrida
(dinastia muçulmana ibérica). Realizou depois a travessia do deserto do Saara pelo famoso e mítico trilho das
caravanas de Tombuctu. Por fim, acabou por se fixar no seu país de origem, Marrocos, onde acabaria por
falecer em 1377, na importante cidade de Fez. Como testemunho das suas viagens deixou ficar a obra ditada e
escrita pelo seu secretário, que se intitula Tuhfat annozzâr fi ajaib alamsâr, a qual relata as várias epopeias e
jornadas aventurosas da sua vida de viajante explorador.
A integração global do espaço
Os séculos XV e XVI não inauguraram a Era
dos Descobrimentos europeus, mas
assistiram a uma progressiva e intensa
integração global do espaço.
Um traço distintivo na formação dos numerosos estados europeus foi a sua acirrada competição, que se
refletiu em uma agressiva política de expansão ultramarina em África, Ásia e América. Parker observa que
a presença europeia no Índico foi mais marítimo-comercial e o seu poderio teve de ser construído ao
longo do tempo, enquanto no Atlântico foi mais territorial e agrícola, impondo-se de forma mais imediata.
Em ambos oceanos os ibéricos foram precursores, sendo seguidos por franceses, neerlandeses,
ingleses, suecos e dinamarqueses. Segundo o autor, o caráter comercial e marítimo dos impérios
europeus lhes teria garantido o papel de principais vetores das interações globais do período. Todavia, a
opção por iniciar pelos impérios europeus não parece apropriada, dada a precedência asiática em termos
de centralização política, expansão imperial e comercialismo.
As dinastias Ming e Qing puseram fim ao domínio mongol e empreenderam a conquista de largas porções
do centro e do sul asiáticos, dobrando o tamanho do império chinês. Aproveitando o declínio do poderio
mongol, os czares russos declararam independência e promoveram a conquista da Sibéria, constituindo o
maior império territorial da modernidade. Três impérios muçulmanos surgiram a partir do enfraquecimento
dos impérios mongol e timúrida. O império otomano expandiu-se a partir da Anatólia (atual Turquia),
dominando um imenso território que se estendia do Iraque à Áustria e da Ásia Menor ao Qatar. O império
safávida atingiu limites superiores aos do atual território iraniano, estendendo-se desde o Iraque até a
Índia. O império mugal, por sua vez, dominou quase toda a Índia, Paquistão, Bangladesh e partes do
Afeganistão.
Comércio de longa distância
Charles Parker assinala que uma das mais profundas consequências destas migrações foi a
disseminação de doenças contagiosas, ocasionando catástrofes demográficas entre as populações
indígenas americanas, siberianas, oceânicas e sul-africanas, que não possuíam defesas imunológicas.
As populações indígenas centro e sul americanas foram reduzidas a cerca de uma décima-parte, em
grande medida por conta das doenças trazidas pelos conquistadores europeus e seus escravos
africanos, como varíola, sarampo, tifo, caxumba, malária e febre amarela. De forma semelhante, cerca
de metade das populações indígenas siberianas foi dizimada por varíola, sífilis e gonorreia transmitidas
pelos russos. Algo semelhante se passou no sul do continente africano. Tais morticínios favoreceram a
conquista europeia. Se, por outro lado, a malária endêmica contribuiu para que os europeus não
adentrassem no território africano, por outro, ao ser introduzida através de africanos no continente
americano e dizimar as suas populações indígenas, ampliou a demanda por escravos africanos. Para
além do conhecido comércio transatlântico de escravos, observa-se ainda que 1,7 milhões de africanos
foram vendidos para os mercados índico e arábico, informando-se também sobre o intenso comércio de
escravos eslavos na Criméia, o segundo maior centro escravista do mundo moderno.
Transferências e transformações ecológicas
Uma das partes mais interessantes e inovadoras do livro é a consideração das interações
biológicas e das alterações ecológicas ocorridas em praticamente todas as regiões do
globo, como a disseminação de doenças, a miscigenação, a transferência de culturas e
animais, o criatório extensivo, a mineração e a monocultura. Abordando uma questão
bastante atual, o autor enumera os seus impactos ecológicos, tais como epidemias,
desflorestamento, diminuição da biodiversidade, redução da população de peixes e
mamíferos terrestres e marinhos, contaminação do solo e do ar, erosão, assoreamento de
rios e aumento da aridez em determinadas regiões. Não por acaso, no século XVIII surgiu
na Europa e no Japão a preocupação com a exploração desenfreada dos recursos
naturais.
Charles H. Parker Global Interactions in the Early Modern Age. Cambridge: Cambridge
University Press, 2010 (sobretudo prefácio e capítulo 1)
John Darwin: Ascensão e queda dos impérios globais. 1400-2000. Lisboa: Almedina,
2016 (sobretudo as pp. 17 a 37);
João Júlio Gomes dos Santos Júnior, Monique Sochaczewsk, "História global: um
empreendimento intelectual em curso", Tempo, vol. 23, 3, 2017
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-77042017000300483&script=sci_arttext
MARQUESE, Rafael; PIMENTA, João Paulo. Tradições
de história global na América Latina e no Caribe. História
da Historiografia, n. 17, 2015, p. 20-39.