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Gérard Lebrun A filosofia e sua histéria Organizagio de Carlos Alberto Ribeiro d “Apresentagio de Carlos Alberto Ribeiro de Moura eS pant wr's COSACNAIFY djscurso, é que ele estima ser normal comportar-se coma retagio do “justo” valha. tm faa, de tal modo que sua interpretags como norma, ft gue o "estado de natureza” perdura absurdamente, na Reps ain ‘se Hobbes se separa de Plat20,ndo &, pois, absolutament recona a Protgoras. Muito 0 contriio ~ Que &, com efegn we ‘eo antes de tudo, crer-seem medidadecontemplar gm sar aval portant sind © sempre, pe, meme ae ee iment, como mein. Assim, o Saber, essa formula que os repye ge pees” encontraram para suplantar (idealmente) a diseordings a a ho fa o fate, no curso dos séculos, senao a mais alta manifestagio do "j, ease (esses fildsofosfabricavam a8 tegras do bom © do men forme aquilo que, pessalmente,gostavam e nao gostavam").E Potigre silenciosamente ganhou a partida, gragas aqueles mesmo: que pense elo vencido. Ruptura com Platio, portanto, mas somente porque ee havia substituido 0 “homem-medida” pelo “filésofo-medida”. Ade, dia jamais éextinta ea universalidade, realizada, a néo ser onde cada un abdica da condigdo de métron e, especialmente, de sua pretensio pene legiferar “no universal” —onde todos consentem em vivernalingigen eno Commonwealth tais como foram instituidos, isto é, tas como dede Iago se inpéem 20s homens. Ao deslocar a realizagio da “verde! do Saber para a Insituigio, a0 fazer permutar a phiss eo némo, Hobbes realiza assim o mais audacioso salvamento do platonismo. Nietzsche colocava Hobbes entre aqueles que “aviltaram ou dew orizaram o conceito de filésofo”. Nao seria malevoléncia de sua pate para com um admirador de Tucidides? — Ainda dessa ver 0 fao de “genealogista” de Nietzsche nao o enganou. : 326 Hobbes ¢ «insttwigio da verdade ie de arte go da obra Amutas: sraaremos aqui da mutagio da obra de arte: nlo, porém, da mutagio, rea neste século das formas de arte, mas da que se refere a0 sentido Gaespessio “uma obra de arte”. E-uma mutagio conceinal ~etalvez tio profnda que poss estar dando & palavra “ate”, sem o percebermos, um enido que jé no tenha nada que ver com 0 corrente no século passado. Essa mutagio, devida a técnicas novas (disco, radio) e artes no- vas (fotografia, cinema, televisao), ninguém pressentiu melhor do que ‘Walter Benjamin, em seu ensaio sobre “A obra de arte na era da sua reprodu " Partindo de uma indicagio de Paul Valéry, Benjamin procura ver, com base em alguns exemplos, como as técnicas, novas podem chegar a transformar “a propria nogio da arte”. E todos os cexemplos que analisa convergem para o que ele designa como o declinio a “aura” da obra de arte. O que devemnos entender por isso? Uma frase de Valéry nos encaminha para esta nocdo: Reconkeceras a obra de arte pelo fata de que nenhuma idgia que ela suscita ‘emnds, nenhum ato que ela nos sugere pode esgotd-la ow con Ai lembranga, _- da..J endo Pensamento ou agao gue possa anular-the 0 efeito ou libertar ‘os inteiramence do seu poder? A aura desi Pera que n 'gna 0 fato de que a coisa se di como eni ” ia 0 bastante ‘enhuma contemplacao possa esgotar sua Ja como a tinica aparicio duma Benjamin, “poder-s > Fealida, rep, por mais proxma que eta". OF Pr ge o pin gee seromacada vez menos ateno a esse inespotivel excedente design = Simao mesmo, cada Vez menos preocupado coma singua Pitre da obra de arte? Ha um aorismo de Nietsche quan °8 ang aresposta que Benjamin dard essa queso. Eo segue” Nem monumeno grego ou cristo, originalmente tudo tinka signifi lian por referdncia aumea ordem superior das coisas: essa acmsferg eed « Piles ie | amines 2 atraefera de sy, {fii ingot enoao menumeno como wn Eu misc aga nmava eesiriamiente no sstamay mas sem prejdicar em sua vag Seninenta frdomenal deama realidede sublime einguictant, canopy pels presen divin pela magi: a beleca quando muta tenperrarions cas ee horror sempre estavapresuposi.~ Em yue conse para né, a belega de um monumento? No que é um belo rosto de mulher sem ein uma epic de mascara. ‘Nessas linhas, Nietasche implicitamente distingue duas eras da obra de arte: a da veneracdo ea da beleza pura. A era da veneracdo encena, se 20 nascer a estétca, enquanto reflexdo filos6fica e, mais ainda, em quanto ciéncia. Como bem exprime a frase de Hegel: “Hoje estamos muito longe de venerar, como divinas, as obras de arte”. Subtraida ao cculto de que era essencialmente instrumento, a obra apenas fica ofere- ida a0 “prazer puro” — simples objeto de consumo “estético” (pode-se mostrar que uma tal figura cultural é insepardvel do desenvolvimento da economia de mercado). £ esta a segunda era da obra de arte ~era cujo declinio Walter Benjamin assinala. Na primeira, é a sublimidade que predomina. Na segunda, que se abre no século xvitt, é uma relagio de prajer que mede o valor da obra. O que Walter Benjamin acrescenta, e com profundidade, & que corte nao é, porém, tdo nitido. A aura que se concede (ou que s€ CO cedia) & obra bela é justamente o sinal de que esta obra, por laicizada que seja, nem por isso se vé dessacralizada. E 0 que Kant jé descobrirs 0 definir“o génio artistico” como a faculdade das Idéias extéticas que & uma Idea estética? E “uma representagao da imaginasio, iol 3. Friedrich Niewsche, Menschlck-Alyumenschliches, a [ed bras. Hamano, eve ‘umane, trad. Paulo César de Souza. Si0 Paulo: Companhia das Letras, 2020} B28 A muasio ds obra de ane a pensar, sem que nenhum pensemento determinado in = ji Pero, poss serlhe adequado,e que portntenerhene hee Pe ‘ompletamente exprimir € tornar in 1" Enquanto for i rd mua Tia exc, representagio nunca sed domioeda da pene: € portant impossivel que um comentario ou urna ae covet Tnica d8em conta dO impacto que a obra prods om mine plas ida em que a obra bla é caracterizada por este devo de at *Fmpreensio conceptual exaustiva, pode-se perguntar se a repre- 10 ia” no substiti 0 dnimo religioso. Sem divide ee senaGi gerever a ist6ria do Belo, no século xix, como sendo am pesto do sentimento religioso: 0 estetsmo, 0 eulto da geniaidade So formas de religiosidade... : ermmqudo, essa sobrevivencia religiosa nao bastaria para definir a sie la no sentido kantiano, Esta, simultaneamente, um tema de en- oor ment eum tera de “simples prazer” —e nao & seguro que exes has componentes ndo sejam, alongo term, divergente, Na ideologia dh Beleza, observa Walter Benjamin, opunham-se dois fatores: por um Indo o valor que se continuava atribuindo A obra enquanto objeto de fiscnio, mediagdo do Absoluto — por outro, aidéia de quea obra é uma relidade a exbir,€ depois, gragas ao progresso téenico, a divulgar—e 2 divulgar para um pablico cada vez mais amplo. Habermas mostrou ¢ bem, no seu livro a Mudanga estrutural da esfera piiblica’ como os cone’ cers aberios a um pablico pagante, os museus, as exposigbes (coisas «ut, hoje, nos parecem to Sbvias) foram, no século xvin, conquistes polticas da burpuesia. E esta observacio vai muito além da sociologia daane: diz respeito a propria esséncia da obra de arte, Nao se pinta ius mercado como se pintava para um mecenas, NBos¢conethe 0 Eng Beuboura! como se concebia um castelo de rectesgo dor merase intr, srquitetua”,“decoraio" podem permanecer, Graal do mesmo ipo depron, capt due tl preoenpagio (tanta vers de origem co- ae fut ‘gar é incompativel com a conservagao do halo @ manutengio da aura. Como, por exemplo, 0 valor de tligioso, autenticidade que se prende a uma obra podesi tempo (excetuado 0 caso dos colecionadores) ag reproduces fas aperfeigoadss? Por que fazer uma peregrinagto ag [oe Rijksmuseum, quando a edigdes Skea nos permitem ad bem eanaarmelhor ainda Gicod ova Ronda rons diaia-me reeentemente uma senhora Sensata, ser esmagada pee doe correr 0 risco de me roubatem a bolsa, quando posse Pee ie o papa pela televisio? Mesmo levando em conta que fone yey ler & uma obra de arte, essa reflexto diz tudo sobre a sutentciade a rad dfs da imagers. A obra & maven ce name que se deve visa no Sev antro, experiments no seu anne © modelo do objeto tinico oferecido num tnico Ingar “Ame me nunca serd visto duas vezes”) & substiuide pelo da partiurs mo aque pode ser executada por uma infinidade de orquestras.O modeinde “monsto sagrado” que era preciso ver, pelo menos uma vez, “omen © 0880", no paleo, é substtuido pelo da imagem filmica, espalheda vg mil cépias. Como, nessas condigdes, poderia continuar funcionando 9 critéro da autenticidade? Mas com is30, acrescenta Walter Benjani, “toda a fungio da arte é subvertida”. A arte, por principio, no é mais uma forma da cultura que nos convoca & contemplagio ¢ a0 real ‘mento, Isso é sinal da sua degenerescéncia? Isso quer dizer que nossa ‘época, “materialista” e “tecnicista”, s6 poderia deixar eclodir uma arte de diversio, completada por algumas elucubragies de estetas? Um dos grandes méritos de Walter Benjamin foi preveni-20 contra um diagnéstico tao apressado ~ jé por citar esse text, to pressionante, de Brecht: 9 esis Bor mig fotoges. Fou ag ira quasetag, Perda do valor gy Me © que Desde ue ora de ars wna meade, esa rg (de oad bare : do pode mais ser-Ihe aplicada; assim sendo, devemos, com prudéncia 6 caugdo~ mas sem receio ~ renunciar & nogao de obra de arte, cas eo reer fg dena da prin cova coo tl dg, ToeA ne ft pris aavesar sem dsimaepes; se ies mE ita ea condi uma tranformasto fandamenal do objet eT, 44 pasodo a tal pono qu cso a nova nog deva reencantat st PO" que no? — ndo evocardé mais quaisguer das lembrangas vincwades antiga sgnficagaa? 7 Beso Brecht, apud W. Benjamin, in op. ci, pt. 339 A mutgto de ova de are arte, como era compreendida por nossos ancestrais,é coisa std sendo substituida por outra coisa, que pode areom o mesmo noes tas 0 te ada em comum into ao referents Essa observago pode parecer exteemist, Parecera um pouco menos, se a aproximarmos de ou na década de 1820, profetizava a moree da arte so que a arte no garante mais esta satisfasio das neceosidades esprit poe tempos buscaram nela, © que outros povos x6 encontraram nela{.-] I eds dias da arte greg ca Idode de Ouro da Beixa Idade Média se foram je aeultararflexiva da nossa vide & tal.) que 0 as formas universis, Jr lets, 0s deveres, 08 direitos, as méximas que valem com norivos e tém prpanderinca, [-] A arte € para nds, quanto & destinasdo suprema, coisa th posedo. .] Tudo 0 que ela tha de autenticamente verdadeiroe vivo se perdeu para nde, em ve, de afirmar a sua necessidade no real eocupar neste 0 lagor mais alto, agora é apenas algo relegedo & nossa representacio$ (Aine o texto de Brecht e esse de Hegel h4, pelo menos, uma diferenga, |" Boquanto Brecht admite que uma “arte” inteiramente nova pode suce- | deraqulo que o século x1x chamava de “belas-artes”, Hegel nio mos- 1a mesma amplidio de espirito, Para ele, a “arte” 6 uma formagio tio [bem determinada de uma vez por todas que, se perecer, nada poder hubstiui-la. Nem por um segundo Hegel Pensa que esta pressentindo fimde certo ciclo semantico da palavra “arte”; nem sequer imagina otermo “obra de arte” poderia designar, no futuro, contetidos in- ramente distintos, * Ho nosso século xx & mais relativista Hoje se tornou trivial re- aa ue 0 nosso conceito de “obra de arte” é de formagao recente mad) anes entre oes €artesao se impds apenas no fim do século uum monge cet Seal w aC. dante do Doriforo de Poicleto So inham a senses tt diante de uma Virgem gética seguramente ‘lonar-thes ‘ prac enn PrBZeEestético. E isso pela simples raza stético” também 2 “tico” também é uma descoberta recente cs mndiea”, enquano esudo da beleza naate, £ Kant que = ropria “estén Tater “esttico” de um objeto pelo fato de ser 1790, determin» pando o percebo, um pre para, isto capac de da gulquee msivaaointressada (colic, y gaa um estruo-Apalav 8 designaum produto queé destinado aguas Fo receptor, um prazer Purdy Ou ainda: asercontemplado, Pos a ug ae vee dgo no mesmo. “Boguantae dese”, ecreve Senior se capers beacons fa th dle aay we tenticae irevogavel poF t80-somente subtrailo pa ee (que a contemplagio é "das erste liberate Verkilnie 30 ara aude ber do homer para com o mundo? A guein Ce rrmets que hoje entendemos por “obra de arte” continua exes Teper ignd a esa aude de contempla, como pensavam Kan, a) em exe 8M Brazer Schiller ou Hegel. ye sear mas exiver, isso nao deverd surpreender ou escandaliza, pois oconesto de obra de art constiuido naquela época extra mar veo por muita vlorzagdesimplictas, € até mesmo por varios paris pris. Nao € qualquer espécie de obra que suscita essa atragHo mes ada de respeito que se chama contemplayao. Acontece tratar-se, por excl. tin, de uma obra visual: era a partir da escultura e pinrura antgas que Winckelmann definia o cinone da beleza—e sabe-se que, para Hegel a escultura grega representa o momento em que a arte atinge melhor ‘seu equilibrio e realiza melhor 0 seu conceito. Passado esse apoget, @ arte sb podera declinar, Pois a Estética de Hegel é tanto a hist6ria dacuo~ lugio da arte como a do seu declinio inevitavel: a arte se dirige pars.9- ponto em que a sua missdo espiritual sera consumada — em que #8 5088 obras nfo serio mais que objetos oferecidos & curiosidade histone ~Por que, segundo Hegel, deve ser assim? E que Hegel s6 faz justiga a arte dentro dos limites, afinal de contas to esreitos, do seu racionalismo. A tarefa da “bela aparéncia” ari5% segundo ele, é libertar-nos da aparéncia sensorial, impura © BT No quadro de um mestre holandés, nao & a exata reproducao 408 °F" tos que nos agrada: € que “a magia da cor e da jluminagao” transtig™ Auiier 976 lcaton exthétigue de Phomme (Carta 25). Pat eM ig wast ~ stig bling ed. bras: Cartas sobre a educago esta do homem, trade Sd Suk So Paulo: thminuras, 35) demmateieebeesd mee ass € que as ¢ 3 foseadas num “domingo torna fascinante o que, na vida, nos epresentagio artistica & a sua mane’ 3 sortal i fe nio é. Mas, é claro, & sempre ante nossas olhs que ary transmutagaos & Sempre no sensivel que a arte critica o aque a obra de arte se apresenta necessariamente nama Jao pode ser “o modo de expresso mais elevado thesis con i, para la em que governa a ine que Iegel faz do necessirio declinio da “arte”. O signo dese atajnio€ o estreitamento progressivo do suport sensvel da obra de aera ante moderna continua, sem vida, a ser uma figuragao sen- ar, mas ess figuragao precisa cada vez menos de matéria; torna-se wipe mais ascética. Essa ascese, observa Hegel, vai crescendo em cada a das grandes formas de arte caracteristicas da modernidade: a pin ura, que se liberta da “matéria espacial de trés dimensdes” e se conte ™ com “a aparéncia criada pelas cores”; a misica, que se liberta de suporte material permanente e se contenta com uma “matéria vibserre* cefémera; a poesia, finalmente, que reduz a sonoridade a palavra arti- calada. Com ela, diz Hegel, aleancamos o limite da arte — 0 ponto além do qual a obra ja ndo se dirige aos sentidos, mas ao espirito.. Essa andlise, que acabo de resumir, estd eivada de preconceitos intleetualistas. Nao deixa, porém, de ser sugestiva, se admitirmos que Hegel esta falando, sem o saber, do declinio de certa concepgio da arte ~ énio, como acredita, do declinio da Arte em geral. Hegel nio concebe Outro tipo de arte que nao aquela cujas obras se propdem como coisas lependentes e que nos confrontam — uma arte que transforma os seus recep a “lores em eipectadores. Desde que essa condicio no se mas pree- inteiramente, a obra de arte, segundo ele, comega a faltar & sua \ endo objeto ue tim asa consistence para sin € nossa relasty de espeticulo (Ansehauen). Ora, £0 elas ¢ ; mii nd ting desoparese| 5 wma objetividage ermonns nex (Ma COMIEDSDO 94 eM de ery candugida pelo interior pelo subjetiva!® sempre uma relos. ee pripri, sé ‘Tal éa razio da superioridade que Hegel Iara Mas essa superiordade 56 funciona, repetimos, relativamente a cert, sistema esttico. Em outro sistema, sera possivel que essa substiigis da contemplasio pela comunicasio caracterizasse, a0 contritio, a okey de arte enquanto tal... Antes de deixarmos 0 século x1x, observemes aque Nietzsche entreviu tal possbilidade, 20 falar do “empobrecimento sensual da grande arte”. Nossos sentidos, diz, se intelectualizaram; dagam “o que isso significa, e nao mais 0 que isso é”. Disso tudo, 0 que decorre? Quanto mais o olho e 0 ouvido se prestam ao pen samento, mais se aproximam do limite em gue termina a sua sensualidade: 1 alegria resira-se no cérebro |. 0 simBolo toma cada vey mais 0 lugar da coisa. [Mas Nierche acrescenta, imediatamente (mostrando que estd mais pero da estétca classica do que acreditava):] e, por esta via, chegamos & barhéri, tio seguramente quanto por qualquer outra.!* < lter Benjamin, em certa medida, retomou esses temas. Mas a sua in- tengdo € inteiramente distinta: longe de anunciar igualmente o declinio. dda Ante ou 0 advento da barbie, pretende dar exemplos da mutagio que- ‘a arte sofreu no século xx, Enquanto é de bom tom, na década de 1930, denunciar 0 cinema como o novo épio do povo, Benjamin reconhece que © cinema, contrariamente & pintura, “nao convida mais & contemplacio”, ‘as evita cuidadosamente ver uma marca de inferioridade nessetr250 & pecifico da nova arte. & verdade que o filme nao se deixa olhar a vontade € que penetra no piblico, em ver de oferecer-se a ele. Mas por que esse ‘ipo de recepedo seria inestetico? Em nome de que estética se conferiu a _ ‘agora esse privilégio desmesurado & contemplagé? Contemplar é deixar a coisa impor-se, manté-la na sua ~¢ Walter Benjamin nega que toda relago com a obra de arte dev cO™- estranhers 19.6.9. Hag op 9 9 11 F Niewsche, op. cit., nt 17. eae 334 A masse da obra de ate seragas para irde ae nessay queinas perpé= nua nocividude desses anestéteos i parece ~ os meios de informagio; contra jo eultural por exceléncia? Ja Aristoteles zombava desses pl jam que 0 artesio produz a sua obra com os elhos postos, ‘cos que acredi ras Idéias ae : Ese perguntarem: 0 que é entio a obra de arte, se nio é um objeto decontemplaga0?, cu respondereis por que nao seria um objeto de uso? ferdade que uma longa tradiglo apresenta o objeto de arte como 0 ¢on- Teario de um objeto aril ~ mas nao se deve confundir objeto stile objeto ariljado, Quando utilizamos um instrumento, nao o visamos como um objeto dei: Simplesmente nos servimos dele, sem pensar muito ~ execu- tando os gestos que ele exige de nds, fazendo-o dar o desempenho que esperamos dele. Iguaimente, quando leio um livro, néo tenho conscién- ciade estar diante de um objeto, assim como nao tenho consciéncia clara, quando escrevo, de estar diante da maquina, assim como o pianista expe- riente ndo tem consciéncia clara de “estar ao piano”. (no caso: esses sistemas de signos) apagam-se na sua util readquirem sua independéncia quando deixam de funcionar. (Ora, a presenga especitica de uma obra de arte (tema de tantas medi- '356es filosdficas) nao viria do fato de que essa obra, antes de mais nada, se dé como um guia que se oferece a0 usuario? E a sua originalidade on- tolégica nio se deve ao fato de nés a pravicarmos bem depressa, como um ‘rsirumento que nos é familiar? A obra de arte no seria, antes de mais pee ° utilizar? Tome-se o caso (tio negligenciado) da arquiterura plese Serem urlizados—e no apenas, no bascamentep ios Na relat L2ram construidos os tempos, as catedrais, os pals- Nao é a coli '0 publico com a arquitetura, observa Walter Be Vista wa a viual que predomi dengan MOnLMENto), masa a gunn 2 ae pelo habit [ ‘sponds ao que ses instrumentos a (excetuando-se os Podemos ir mais adiante e perguntar se us proprias artes d dlestinam-se exatamente a oferecer imagens & contemplagio, i or que vamos a0 cinema ou sentamos 3 frente da televisio ae imagens? Mal t 3 olhar cinema € a televisto 56 constituem verdade o filmalogo, que fz projetar vari quanto um objeto. Mas, para imagens (aio ser que o filme seja ents de informagio. E & por isso que a parte montagem, que regult 0 ritmo segus ‘Trata-se de um novo tratamento cl de imagem nao provinka de um recort imagens diante das quais 0 olho se de feitiga. Sem divida, isso pod uum parente ou amigo morto; ou, tale, geira a0 meu lado no dni jogos intimos pelo buraco da fechadurs circunstincias so excepcionais. An nos interessa porque indica alguma coi aque nos deixa adivinhar, ou pelo que jompo de ver passar a mais os detetives do sensivel que os seus V2 Por que as manchas contemplagio das imagens nos distrai da contemplagio das Iss Mas, Besta, digia Pierre Francas dessa maneia, estabelecia uma homogeneidade enganosa entre 2 0P6 ragio perceptiva ¢ o insight intelectual. Admitamos que ‘se contemplem ‘duplo des signos formados Aer de registrada pelo olho humans, ela sugestiva por analogia”. A nos 2 nos informar e orientar, ComemP” soe 6 por isso que as olbamos3> oe as das: que outta coisa fazer com elas, ja que, por principio, as wutiveis, diante do nosso entendimento? ‘Mas, por também por isso que nada me parece mais contestivel do Le iizagio da imagem” & do intelecto. Seria melhor d= ee ptética das imagens (cinematograficas ou televisionadas) 90S forga av exercicio intelectual de outro tipo, a uma compreensio mai ars ‘uma leitura mais répida e, talvez, a um melhor dominio do. ae ae “A Ante”, dizia Hegel, “nao pode servir-se de simples #8 ass dar as significagies a presenga sensivel que lhes corresponde: va Peden tr die ah Peles een Wer rat” ——— ! 336 A mutagdo da obra de are das razbes pelas quais poderia ser superficial, afinal de contas, crosman de ura pntura “no representativa”, Essa en to feliz, porque subentende que a representagio pictOrica & Timid, a propria reprodugio et la ada ¢ existem muitas outras mensagens pi Mostrar era significar de certa manei consciéncia disso, nao tenta mostrar owtra coisa. Um po nos dissesse: “Nao Ihe pedimos mais a sua presi ddimos que decifre rapidamente uma mensige se voce ainda se encontra nestas formas € ne imagio que lhe propomos ainda preserva o se a questio que essa arte nos propoe desempenlios possiveis do nosso siste aque, na origem da incompreensio (tao desculps deena auscitou, houve antes de mais nada wn erro de regulagem come: tido pelo piblico. Este queria continuar contemplando um adro, ta expectativa 96 podia ser frustrada, A obra de arte, entio, nfo comvidisa mais o seu receptor a sonhar com base nel cepgao a partir das indicagdes que ela Ihe fornecia. Assim, 0 oho, que Sprendera somente a ser espectidor passivo,achava-se em presenga de dia arte eo objetivo ndo era mais mostrar o mundo, porem baliza® ‘minha construgio do mundo. O.olho fora eduendo para olbat£ PER: Gumte ue escutasse. = Quer dizer que essa mutagao seria sindnimo sofisticagio? E exatamente 0 contririo. Se é verdade, ss que “o tnico problema estético é o da insergdo da arte na vida cote diana”, parece entdo que a arte moderna est multiplicando ess boty dade de insergo. Ainda que a obra cinematografica ¢@ obra pict6ri atuem diferentemente sobre a nossa sensorialidade, reste 4° 10 interior do Vi" 7 indvsem? para fazer-nosexplorélon em novas profundezas; ambi indir, seu receptor a reorganizar a sua cinestesia € 0 set €SP35° tor, Neste sentido obra de arte funciona como um analisadoy = de nos fazer encontrar as modulagdes sensoriais do cotidis! sem ela, passariam despercebidas/ ° Assim, parece-me que mal comegamos a medi ‘cussio cultural dessa mutagdo da obra de arte. Quanto M2 dade das geracdes (e, com isso, no entendoa *sensibilidade” 4 reprodugio. M expeticulo; pe. «qué? Para saber de intelecrualidade ‘como diz Delew® contribuem para fazer-nos peneirar mais ¢ mais 338 A mutase do obra de ane nos?” Essa re= ntdo de uma sociedade ntent a velocidade a partir am ou exaltam a pretensa “abstra- der que a expressio arte abstrata, mente, é um contrasenso. i fo ressoe for nas determinadas de recepgao sensorial, de motricidade, de controle s. Foi a mutagso excessivamente brutal dessas formas nas 1as geragdes que criou ~ para uso dos filisteus e dos estetas, 10 de uma arte que seria desvinculs nao encontrou o seu pil Saas publico, a saber, aqueles que sero rar nela 05 seus proprios acontecimentos Ser da atte declinaré rapidam iat etna apdamente para aueles ep “mundo sense” & sistema perceptivo & modelado pel: prs pelo ub honamento das huzes numa discoteca, pela rajada das ‘elevisadas. O que pressenti ibstrata” & ‘Mutacao de n Sio de nosso mundo circundante seria acompanhada por uma a each chamada WMezda esdrixul: acostumado: A obra de mais como la. Ela nfio pode mais sé-lo p: 8 a ritmos que destro arte perdeu a su do subpercebido 4 mais irbnico do que 0 esoterismo aparen a ser mais id Me de ae aun pols a verdadeira arte “eliata" er ce eens destinada a um pblico formado de indy” praatre di oo magindvio de xo ¢ convidadosa sone, srados”, deposi so da obra de arte talverz.seja que ela, hoje, come, O segredo da mets imagindrio que esté ao alcance de cada un. nos fazer conquistar assim for, ras formas de ate saa Wo Augie da obra de ane sransgredir a fiitude creve em varias ocasides, e sob virios enfoques, a grande sg alae eee ge anita do sloaig wen para pig es ceceee a iberes da “Rey itagaio” (Gi itica ory, quando desaparecem os saberes cla “Representagio” (Grammer Geral, Hstdria Natural, Andlise das Riquezas). Durante a “idade da representagio", era Gbvio que conhecer consist em reconstituir 6 ane deamento das naturezas simples, ou 0 eneaixamento das expécies natn. ris. Também era dbvio que a ordem das coisas, jé por seu principio, era pasivel de desdobrar-se num guadro. Conhecet era ver, “ho sends de pertber’.E, mercé do bom uso do Método, esse saber nie passava, {em odes os dominios, da continua supressdo da distancia ~ alls pure, Ie apareni~ entee a representasdo eo ser. Ora, & essa alianga que srompe quando emergem, desligados da Represenagio, exes cbjeos fuss que slo a Vida (para biologia),alinguagem (para flologs) 6 trabalho (para a economia politica), ¢ se dissolve “o campo homogéneo dhs representasies ordenadas”.| Tudo entio se os 0 ser humang ixador do Verbo Divino que detinha Se a marhesis ou a ordem taxionémica. Submes

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