Aula 04 Empresarial

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[uJ Estrategia CONCURSOS Aula 04 Direito Empresarial p/ Magistratura Federal (Curso Regular) Leake) o) pa aU EIU aT} ‘eori Aula 04 - Prof. P: Auta 04 SOCIEDADE ANONIMA. Sumario 1 - Consideragées Iniciais. 2 - Sociedade Anénima.. 2.1, Antecedentes histéricos e aspectos introdutérios 2.2. Legislacao aplicavel 2.3. Principais caracteristicas 2.4, Mercado de capitais... 2.5. Criac&o da sociedade anénima 3 - Questées . 3.1, Questées sem Comentérios . 3.2. Gabarito ... 3.3. Questées comentadas .. 4 - Resumo da Aula 5 - Jurisprudéncia Aplicavel 6 - Consideragées Finais .... AULA 04 — SOCIEDADE ANONIMA. perce | Old, futuro magistrado! Seja bem vindo a mais uma aula de Direito Empresarial. Hoje vocé vai aprender tudo que é necessdrio sobre a sociedade anénima, que, na minha modesta opiniao, é 0 tipo societario mais complexo do nosso ordenamento. Esse tipo societério também 6 amplamente utilizado na realidade brasileira, principalmente para grandes empreendimentos. Aquelas grandes empresas das quais ouvimos falar, cujas agées e outros titulos sdo negociados em bolsa, sao as sociedades anénimas! Vamos l4!? Bons estudos! 2 - Sociedade Anénima 2.1. Antecedentes histéricos e aspectos introdutérios A doutrina aponta duas origens histéricas diferentes para a sociedade anénima: as associacdes de credores da Idade Média (a exemplo do Officium Procuratorum Sancti Georgio, uma interessante instituigéo financeira que funcionou por séculos em Génova), e as companhias das indias (patrocinadas pelos Estados Nacionais da Idade Moderna). Adotando uma ou outra orientacéio, o que fica claro é que essas sociedades sempre se dedicaram a grandes empreendimentos, e esta é uma caracteristica marcante das sociedades anénimas. Justamente por isso as sociedades anénimas surgiram como espécie de delegagéo do poder estatal. Somente a partir do Cédigo Comercial francés de 1808 passou a ser permitida a constituig&o de sociedades anénimas independentemente de outorga estatal, mas ainda sendo necessdria autorizacéo. A partir de meados do século XIX os requisitos passaram a ser ainda mais flexiveis, permitindo-se que qualquer pessoa constituisse uma SA, sendo necessdrio somente registro prévio e a submisséio a um regime legal especifico. No ordenamento brasileiro também passamos por essas fases. Inicialmente era necesséria uma outorga imperial para criar uma SA, como ocorreu com o Banco do Brasil, criado por alvaré de D. Jodo VI em 1808. A partir de 1849 as sociedades anénimas passaram a ser constituidas mediante autorizacéo governamental, regime adotado pelo Cédigo Comercial de 1850 Posteriormente, © ordenamento nacional adotou o regime da regulamentacao. Aula 04 - Prof. P: 2.1.1. Governanga corporativa Ainda tratando de aspectos histéricos, hoje a gest&o das sociedades por acées tem se voltado bastante para o estudo das praticas de governanca corporativa (corporate governance), Esse tema surgiu principalmente a partir de estudos desenvolvidos na Inglaterra e nos Estados Unidos, no sentido de estabelecer padrdes de gestdo para essas sociedades. Esses padrdes, por sua vez, fundamentam-se em alguns principios que vocé deve conhecer. Como nosso estudo é eminentemente juridico, nao pretendo fazer anélises aprofundadas acerca desses temas, mas considero interessante que vocé saiba quais so os principios da governanga corporativa em voga hoje: a) Transparéncia > deve-se prestar as partes interessadas qualquer informacdo que seja do seu interesse; b) Equidade > deve haver regras especificas para proteger os acionistas minoritérios e para evitar abusos por parte dos controladores; c) Accountability > a prestacéo de contas precisa ser confidvel, seguindo critérios eficientes e internacionalmente aceitos; d) Responsabilidade corporativa > os administradores e controladores devem zelar pela sustentabilidade das empresas, visando & sua longevidade e incorporando preocupagées de ordem social e ambiental. Um dos problemas estudados com mais frequéncia na literatura sobre governanga corporativa é 0 conflito de agéncia, que ocorre quando os proprietérios da empresa (acionistas) delegam sua administracéo a gestores profissionais (administradores). Essa situacfo pode terminar gerando divergéncias acerca da gestéo da companhia e das decisdes negociais. Explicando de forma simples, 0 conflito ocorre quando os administradores passam a tomar decisées pensando em beneficios préprios, como aumento de salarios e bénus e perpetuacio no cargo, por exemplo. As boas praticas de governanga corporativa surgem justamente para minimizar esse tipo de problema, trazendo padrdes de gesto que devem ser adotados pela companhia de forma’a preservar os interesses do Estado, dos acionistas, dos clientes e da sociedade em geral. A descrig&o dessas praticas surgiu primeiramente na Inglaterra no inicio dos anos 1990 e logo em seguida foi adotada por diversas empresas norte- americanas. No Brasil um importante movimento foi a criag&o do Novo Mercado da BOVESPA, em 2000. As companhias que aderem ao Novo Mercado passam, por ato voluntario, a adotar uma série de padres, que tém a finalidade de inspirar maior confianga dos investidores. A confianga é um dos principais fatores no desenvolvimento da literatura sobre governanca corporativa. Nos anos 1990 houve diversos casos de fraude, amplamente divulgados pela midia, nos quais estavam envolvidas companhias de capital aberto. Nos Estados Unidos podemos citar 0 caso da Enron, que terminou influenciando muito a adoc&o da Lei Sarbanes-Oxley, de 2002. 2.2. Legislagao aplicavel © principal diploma normativo aplicdvel as SA é a Lei n. 6.404/1976, amplamente conhecida como Lei das SA. Trata-se de um diploma legal bastante respeitado e elogiado pela doutrina, que tem por objetivos dar protecéo aos acionistas minoritérios e seguranca para o desenvolvimento do mercado de capitais. © fato de termos uma lei tao antiga sobre um fenémeno tao dinamico como o mercado de capitais nos dé indicios que se trata de um diploma legal bem elaborado, jé que, apesar de ter sofrido alteragdes ao longo dos anos, a lei continua sendo moderna e cumprindo bem o papel de regulamentagao ao qual se propée. Boa parte da nossa aula hoje sera gasta estudando a Lei n. 6.404/1976, que a partir de agora chamarei apenas de Lei das SA, ok? 2.3. Principais caracteristicas 2.3.1. Natureza capitalista e empresarial da sociedade A SA é uma sociedade de capital por exceléncia. Diferentemente da sociedade limitada, que pode assumir feigées de sociedade de pessoas ou de capital, a depender do seu contato social e das relagées estabelecidas entre os sécios, a sociedade anénima sempre foi pensada para minimizar os efeitos das relacdes entre os acionistas, no exigindo sua anuéncia para a entrada de outros no quadro acionario. O estatuto, que € 0 ato constitutive da SA, fixa o numero de acdes, mas nao diz quem so seus titulares, e por isso mesmo a cessdo e a alienac&o de aces nao depende de alteracao no ato constitutivo, tornando essa operagéo muito mais simples. Hoje vocé pode comprar e vender agdes com um simples clique no seu smartphone...! © Aula 04 - Prof. P: Por outro lado, temos parte da doutrina nacional afirmando que ndo se pode mais dizer que toda e qualquer sociedade anénima é uma sociedade de capital. E possivel que sociedades anénimas fechadas terminem assumindo cardter mais personalista. No Brasil temos diversos exemplos de sociedades por acdes que sao empresas familiares e que, por isso, terminam adotando regras pouco usuais por meio de seus estatutos ou de acordos de acionistas, como a limitac&o de circulagdo de acdes nominativas e a exigéncia de aprovacdo de assembleia de acionistas para decisées minimamente importantes. Apesar de a sociedade anénima ser a sociedade de capital por exceléncia, € comum que haja SAs que assumem feic&o personalista, por meio da adocdo de regras especificas em seus estatutos ou em acordos de acionistas. ESCLARECENDO Além disso, voc8 deve lembrar que a sociedade por ages, cuja principal modalidade é a sociedade anénima, é sempre uma sociedade empresaria, nos termos do art. 982 do Cédigo Civil. Art, 982. Salvo as excegées expressas, considera-se empresaria a sociedade que tem por objeto o exercicio de atividade propria de empresdrio sujeito a registro (1967); e, simples, as demais. Pardgrafo tinico. Independentemente de seu objeto, considera-se empreséria 2 sociedade por acées; e, simples, a cooperativa. Na realidade, mesmo antes do Cédigo Civil de 2002, ja tinhamos o art. 2°, §1° da Lei das SA prevendo a natureza mercantil da sociedade anénima. Art. 2° Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, no contrario & lei, 4 ordem publica e aos bons costumes. § 1° Qualquer que seja 0 objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio. 2.3.2. Adocdo de denominacaéo Vocé ja sabe que hd uma série de regras a respeito da adocéio do nome empresarial pelo empresério individual e pela sociedade empreséria, e entre essas regras esté a obrigatoriedade de que a SA adota denominagdo, conforme art. 1.160 do Cédigo Civil. Art. 1.160. A sociedade anénima opera sob denominacéo designativa do objeto social, integrada pelas expressées “sociedade anénima" ou "companhia’, por extenso ou abreviadamente. Aula 04 - Prof. P: Assim, podemos concluir que a SA n&o pode adotar firma. Na realidade isso nao faria nenhum sentido, pois, como seu nome ja diz, a sociedade é anénima, e seu nome deve ser distinto dos nomes dos acionistas, reforgando sua feigéo capitalista. No mesmo sentido temos também o art. 3° da Lei das SA, que ainda veda a utilizag&o da expressdo “companhia” ao final da denominacdo. Art. 3° A sociedade seré designada por denominacéo acompanhada das expressdes “companhia" ou “sociedade anénima", expressas por extenso ou abreviadamente mas vedada a utilizacéo da primeira ao final. Assim, a sociedade anénima pode adotar a denominacéio seguida da designacéio “sociedade anénima" (como ocorre, por exemplo, com o Banco do Brasil SA), ou utilizar a palavra “companhia” (como ocorre com a Companhia de Bebidas das Américas, popularmente conhecida como Ambev, fabricante de diversas marcas de cervejas, refrigerantes e outras bebidas). Re A sociedade anénima seré designada por denominag&o ZSneunoa! a6ompanhada das expressées “companhia” ou “sociedade anénima", expressas por extenso ou abreviadamente mas vedada a utilizacéo da primeira ao final 2.3.4. Responsabilidade limitada Na SA, cada sécio responde apenas pela sua parte no capital social, n&o assumindo dividas titularizada pela sociedade. Obviamente essa regra tem suas excegdes, que so ainda mais restritas no caso das SA, mas ainda assim pode haver, por exemplo, desconsideracao da personalidade juridica. Um aspecto importante, que diferencia a SA da sociedade limitada no que se refere a responsabilidade dos sécios, é a inexisténcia da regra de responsabilizag&o solidaria pelo capital a integralizar. Lembre-se de que, na sociedade limitada, todos os sécios respondem solidariamente pelo que ainda falta integralizar do capital da sociedade, sendo possivel que eventuais execugées atinjam o patriménio de qualquer sécio, ainda que ele jé tenha cumprido seu dever na integralizacao do capital. Nas SA, por outro lado, cada acionista responde apenas pela integralizagao das suas acdes, néo havendo qualquer previsdo de responsabilidade solidéria pela integralizacao de todo o capital social, nos termos do art. 1° da Lei das SA. Art. 12 A companhia ou sociedade anénima teré o capital dividido em acées, e a responsabilidade dos sécios ou acionistas seré limitada a0 preco de emissao das acées subscritas ou adquiridas. Aula 04 - Prof. P: Nas SA cada acionista responde apenas pela integralizacéo das suas agées, néo havendo qualquer previsio de responsabilidade soliddria pela integralizagéo de todo o capital social. FUNDO! 2.4. Mercado de capitais © mercado de capitais € um ambiente no qual os valores mobiliérios emitidos por uma sociedade anénima s&o negociados. Estudaremos sobre os valores mobilidrios no momento oportuno, mas por ora vocé deve saber que o principal desses valores é a prépria agéo. Podemos dizer, portanto, que 0 mercado de capitais (ou mercado de valores mobilidrios)’é 0 ambiente no qual sao negociadas, entre outros, as agdes das sociedades anénimas. Inicialmente podemos classificar as SA de acordo com sua autorizacio, ou no, para negociar agdes no mercado de capitais. A definigéo é dada pelo art. 4° da Lei das SA. Art, 4° Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliérios de sua emissao estejam ou nao admitidos 4 negociago no mercado de valores mobilidtios. Podemos dizer, portanto, que a SA é aberta quando tem autorizagéo para negociar seus valores mobilidrios no mercado de capitais, e fechada quando n&o tem autorizacdo para tanto. Essa autorizagéo, no ordenamento brasileiro, é concedida pela Comisséo de Valores Mobiliérios (CVM). Trata-se de uma autarquia, vinculada ao Ministério da Fazenda, que tem o papel de autoridade regulatéria sobre o mercado de capitais. A prépria Lei das SA em diversos pontos menciona a CVM e seu papel. Veja, por exemplo, 0 que dizem os paragrafos do art. 4°. § 12 Somente os valores mobilidrios de emissao de companhia registrada na Comisséo de Valores Mobilidrios podem ser negociados no mercado de valores mobilidrios. § 2 Nenhuma distribuigao publica de valores mobilidrios seré efetivada no mercado sem prévio registro na Comissao de Valores Mobilidrios. A CVM foi criada pela Lei n. 6.385/1976, que estabeleceu como suas atribuigées a disciplina e fiscalizagao das seguintes atividades: a) A emissao e distribuico de valores mobilidrios no mercado; b) A negociacao e intermediag&o no mercado de valores mobilidrios; c) A negociacao e intermediagao no mercado de derivativos; d) A organizac&o, o funcionamento e as operacées das Bolsas de Valores; e) A organizacéio, 0 funcionamento e as operagdes das Bolsas de Mercadorias e Futuros; Aula 04 - Prof. P: f) A administrac&o de carteiras e a custédia de valores mobiliérios; g) A auditoria das companhias abertas; h) Os servicos de consultor e analista de valores mobilidrios. © mercado de capitais brasileiro tem se desenvolvido bastante nos ultimos anos. Recentemente muitas companhias fizeram abertura de capital e passaram a negociar agées em bolsa. Essa operacao de abertura de capital é conhecida como IPO, da sigla em inglés initial pulic offer, ou oferta publica inicial. Para que vocé entenda melhor a importancia de uma IPO para uma sociedade, é importante perceber que esse é um instrumento de captac&o de recursos de pessoas interessadas em investir na sociedade, que geralmente esperam retorno no médio ou longo prazos. E muito melhor e mais barato do que, por exemplo, captar crédito junto a instituigées financeiras, pois desta forma a companhia fica na posicéo de devedora, amargando altas taxas de juros. Quando recebe investimento de acionistas, por outro lado, a companhia recebe uma injecéo de capital que possibilita que a sociedade se concentre no desenvolvimento dos seus negécios, pois esse desenvolvimento traré os retornos desejados pelos investidores. Alguns autores dizem também que o mercado de capitais é um instrumento de acesso & poupanca popular, pois permite que poupadores invistam diretamente num negécio, sem a intermediac&o de instituigées financeiras. E possivel ainda que uma sociedade passe por uma abertura de capital mal sucedida, caso em que precisaré voltar a ser uma companhia fechada. 0 4° do art. 4° da Lei das SA trata do tema. § 4° O registro de companhia aberta para negociacéo de acées no mercado somente poderé ser cancelado se a companhia emissora de aces, 0 acionista controlador ou a sociedade que a controle, direta ou indiretamente, formular oferta publica para adquirir a totalidade das agées em circulac3o no mercado, por preco justo, ao menos igual 20 valor de avaliacgo da companhia, apurado com base nos critérios, adotados de forma isolada ou combinada, de patriménio liquido contabil, de patriménio liquido avaliado a preco de mercado, de fiuxo de caixa descontado, de comparacao por miitiplos, de cotacso das asées no mercado de valores mobilidrios, ou com base em outro critério aceito pela Comisséo de Valores Mobiliérios, assegurada a revisio do valor da oferta, em conformidade com 0 disposto no art. 4°-A, Basicamente o legislador se refere a situac3o na qual é necessdrio fazer uma oferta ptiblica de aquisigéo de agées, na qual a companhia recompra as agées que estSo em poder de terceiros. A preocupaco do legislador aqui foi proteger os acionistas minoritdrios, mas a redacdo merece criticas, pois nao deixa muito claro o que seria o “prego justo” das agées. Se acionistas minoritérios que representem menos de 5% do capital nao concordarem com o fechamento e, consequentemente, ndo venderem suas agées, aplica-se a regra do §5°. Aula 04 - Prof. P: § 5° Terminado o prazo da oferta publica fixado na regulamentaco expedida pela Comissao de Valores Mobiliérios, se remanescerem em circulaggo menos de 5% (cinco por cento) do total das acées emitidas pela companhia, a assembleia-geral poderé deliberar 0 resgate dessas acées pelo valor da oferta de que trata o § 4, desde que deposite em estabelecimento bancério autorizado pela Comisséo de Valores Mobiliérios, disposicao dos seus titulares, o valor de resgate, no se aplicando, nesse caso, 0 disposto no § 6° do art, 44, Basicamente estamos diante de uma hipétese de resgate compulsério, normalmente chamado de squeeze out. A légica aqui é respeitar a maioria, impedindo que um pequeno numero de acionistas impeca o fechamento do capital. Sempre que falamos em mercado de capitais, terminamos mencionando também as bolsas de valores, que ndo compéem a administrac&o publica, sendo uma associacao privada, formada por corretoras e que, por meio de autorizagdo da CVM, presta servigos de interesse publico. Esses servigos consistem basicamente na manutengéio de um local adequado para a realizacéo das operacdes de compra e venda dos valores mobilidrios emitidos pelas companhias. Hoje é comum que as bolsas de valores sejam, elas préprias, constituidas como sociedades anénimas. E 0 caso da mais importante bolsa do Brasil: a BM&F Bovespa SA, que nao é a Unica bolsa de valores do pais, mas certamente é a Unica que tem importéncia na negociac&o de valores mobilidrios. As demais se ocupam apenas de atividades de difusdo do mercado de capitais e de prestacéo de servicos. As operagdes do mercado de capitais realizadas fora da bolsa de valores compdem o que chamamos de mercado de balc&o, que é operado por corretoras e instituigdes financeiras autorizadas pela CVM Por fim, devemos mencionar 0 mercado de capitais primdrio e secundario. Trata-se um conceito muito simples: 0 mercado de capitais primario é aquele no qual sao realizadas as operagées de subscric&o e emisséo de agdes & outros valores mobilidrios, enquanto o mercado de capitais secundario compreende as operagdes de compra e venda desses valores. Seguindo-se essa légica, perceba que a propria companhia somente participa do mercado primario, quando ela propria vende acdes e outros valores mobilidrios na oferta publica inicial. No mercado secundario temos particulares negociando entre si a compra e venda dos valores. Vocé deve saber ainda que na bolsa de valores somente so realizadas operagées de compra e venda de valores mobilidrios. O mercado de balc&o, por outro lado, realiza tanto operagées de compra e venda quanto de emiss&o e subscrigéo de novos valores mobilidrios. Aula 04 - Prof. P: |Subscricdo e emissto de actes outros valores mobilidrios. [Operacdes de compra e vendal dos valores mobilarlos fora da bolsa de valores Mercado de capita [Somente operagies de compra 'e venda de valoos mobilarios, (mercado secundario) 2.5. Constituigéo de sociedade anénima aberta O ato constitutive da sociedade anénima é chamado de estatuto social. Nao se trata de um contrato, mas sim de um ato institucional, e por isso hd uma série de requisitos especificos que constam na Lei das SA. Art. 80. A constituico da companhia depende do cumprimento dos seguintes requisitos preliminares: I - subscricao, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as agdes em que se divide 0 capital social fixado no estatuto; II - realizacao, como entrada, de 10% (dez por cento), no minimo, do preco de emissao das acées subscritas em dinheiro; HII - depésito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancério autorizado pela Comissao de Valores Mobilidrios, da parte do capital realizado em dinheiro. Pardgrafo Unico. O disposto no ntimero II no se aplica 4s companhias para as quais a lei exige realizacdo inicial de parte maior do capital social. Pela leitura do inciso I vocé deve perceber que é exigéncia legal a pluralidade de sécios para constituic&éo da sociedade anénima. A excegéo aqui € a previsdo da subsididria integral, que é sempre uma sociedade anénima, e cuja existéncia esté prevista no art. 251 da Lei das SA. Art. 251. A companhia pode ser constituida, mediante escritura publica, tendo como Unico acionista sociedade brasileira. § 1° A sociedade que subscrever em bens o capital de subsididria integral deveré aprovar 0 laudo de avaliacao de que trata o artigo 8°, respondendo nos termos do § 6° do artigo 8° e do artigo 10 e seu pardgrafo Unico. § 2° A companhia pode ser convertida em subsidiéria integral mediante aquisic30, por sociedad brasileira, de todas as suas acées, ou nos termos do artigo 252. Aula 04 - Prof. P: Hé ainda quem diga que no caso de sociedades anénimas de capital aberto so necessdrios pelo menos 3 acionistas, pois a legislagdo exige a instituigéo de Conselho de Administragdo com pelo menos 3 membros (arts. 138, §2°, 140 e 146 da Lei das SA). O inciso II exige a realizagéo de pelo menos 10% do prego de emisséo das ages subscritas. O pardgrafo Unico menciona ainda alguns casos especiais, em que se exige a realizado de um percentual maior do capital. © inciso III menciona a necessidade de depésito de parte do capital realizado em dinheiro, Esse depésito deveré ser feito pelo fundador da companhia, no prazo de 5 dias contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor @ a favor da sociedade. O levantamento dos valores s6 poderd ser feito depois que a sociedade adquirir personalidade juridica, ou seja, somente depois do registro de seus atos constitutivos na Junta Comercial. Caso a companhia nao esteja constituida formalmente no prazo de 6 meses, o banco restituiré os valores depositados diretamente aos subscritores. No caso das companhias abertas, a constituicéo se da por meio de subscrigéo publica de agées, que exige outras formalidades. Basicamente a companhia precisaré estar previamente registrada junto @ CVM, colocar as acgées & disposic&o dos interessados, e depois realizar a assembleia inicial de fundacao. Art. 82. A constituiggo de companhia por subscricao publica depende do prévio registro da emisso na Comisséo de Valores Mobiliérios, e a subscricgo somente poderd ser efetuada com a intermediacao de instituicéo financeira. Vocé deve ter percebido que o fundados que desejar constituir uma companhia aberta precisaré de uma instituig&o financeira intermediéria especializada nesse tipo de operagao. Esse tipo de servigo é chamado de underwriting. Uma vez contratada a empresa, poder ser apresentado & CVM o pedido de registro. Esse pedido deverd ser instruido com os seguintes documentos: a) Estudo de viabilidade econémica e financeira > deve trazer elementos que demonstrem que o empreendimento é minimamente vidvel e que a companhia operaré de maneira razoavelmente saudavel; b) Projeto do estatuto social > deverd satisfazer todos os requisitos exigidos para os contratos das sociedades empresarias em geral e aos especificos das sociedades anénimas, e conterd as normas pelas quais se regeré a companhia; c) Prospecto organizado e assinado pelos fundadores e pela instituigao anceira intermediaria > devera mencionar as expectativas acerca do empreendimento. E necessario trazer varias informagées detalhadas, que constam no art. 84 da Lei das SA. Aula 04 - Prof. P: Art. 84. 0 prospecto deveré mencionar, com precisio e clareza, as bases da companhia e os motives que justifiquem a expectativa de bom éxito do empreendimento, e em especial: I- 0 valor do capital social a ser subscrito, 0 modo de sua realizaco e a existéncia ou no de autorizacao para aumento futuro; II - a parte do capital a ser formada com bens, a discriminag3o desses bens e o valor a eles atribuidos pelos fundadores; HII - 0 numero, as espécies e classes de agdes em que se dividird o capital; 0 valor nominal das agdes, e 0 preco da emissao das acdes; IV - a importancia da entrada a ser realizada no ato da subscricao; V - as obrigacées assumidas pelos fundadores, os contratos assinados no interesse da futura companhia e as quantias j4 despendidas e por despender; VI - as vantagens particulares, a que terdo direito os fundadores ou terceiros, e 0 dispositivo do projeto do estatuto que as regula; VII - 2 autorizacéo governamental para constituir-se a companhia, se necessaria; VIII - as datas de inicio e término da subscricao e as instituicées autorizadas a receber as entradas; IX - a solucao prevista para o caso de excesso de subscricso; X - 0 prazo dentro do qual deveré realizar-se a assembleia de constituicso da companhia, ou a preliminar para avaliac3o dos bens, se for 0 caso; XI - 0 nome, nacionalidade, estado civil, profisséo e residéncia dos fundadores, ou, se pessoa Juridica, a firma ou denominacéo, nacionalidade e sede, bem como 0 numero e espécie de acées que cada um houver subscrito, XII - 2 instituico financeira intermediéria do lancamento, em cujo poder ficaréo depositados os originais do prospecto e do projeto de estatuto, com os documentos a que fizerem mengio, para exame de qualquer interessado. Caber entéo a CVM, com base nos documentos apresentados, avaliar o empreendimento, podendo condicionar o registro a modificagdes no estatuto ou no prospecto e negé-lo por inviabilidade ou temeridade do empreendimento ou inidoneidade dos fundadores. Se a CVM aprovar os documentos e deferir o registro, teré inicio a segunda etapa do procedimento para constituicéo da companhia aberta, cabendo & instituig&o underwriter captar recursos no mercado, colocando as agées junto a investidores que tenham interesse em subscrevé-las. Lembre-se de que, nas sociedades anénimas abertas, todo o capital deve ser subscrito, sob pena de cancelamento do registro de emisséo concedido pela CVM. Nas sociedades anénimas abertas, todo o capital deve ser yeowss subscrito, sob pena de cancelamento do registro de FUNDO! emissao concedido pela CVM. Aula 04 - Prof. P: Art. 85. No ato da subscricao das agées a serem realizadas em dinheiro, o subscritor pagard a entrada e assinaré a lista ou o boletim individual autenticados pela instituicéo autorizada a receber as entradas, qualificando-se pelo nome, nacionalidade, residéncia, estado civil, profissao e documento de identidade, ou, se pessoa juridica, pela firma ou denominacao, nacionalidade e sede, devendo especificar 0 ntimero das acées subscritas, a sua espécie e classe, se houver mais de uma, e 0 total da entrada. Paragrafo tinico. A subscricéo poderé ser feita, nas condiies previstas no prospecto, por carta 4 instituicSo, com as declaragées prescritas neste artigo e 0 pagamento da entrada, A subscric&o fica sob responsabilidade da underwriter, devendo ser obedecidas as condicées do art. 85. Essa é uma operacdo bastante interessante, pois os investidores decidem subscrever as agdes apenas com base no prospecto, dando um “voto de confianca” aos negécios que seréo conduzidos pela companhia. Quando todo o capital social for subscrito, passa-se a terceira etapa do procedimento, com a realizagéo da assembleia de fundagao. Art. 87. A assembleia de constituicao instalar-se-4, em primeira convocaggo, com a presenca de subscritores que representem, no minimo, metade do capital social, e, em segunda convocagao, com qualquer nuimero. § 1° Na assembleia, presidida por um dos fundadores e secretariada por subscritor, seré lido 0 recibo de depésito de que trata o numero III do artigo 80, bem como discutido e votado o projeto de estatuto. § 2° Cada aco, independentemente de sua espécie ou classe, dé direito a um voto; 2 maioria nao tem poder para alterar 0 projeto de estatuto. § 3° Verificando-se que foram observadas as formalidades legais e no havendo oposicao de subscritores que representem mais da metade do capital social, 0 presidente declararé constituida a companhia, procedendo-se, a seguir, & eleicao dos administradores e fiscais. § 4° A ata da reuniao, lavrada em duplicata, depois de lida e aprovada pela assembleia, serd assinada por todos os subscritores presentes, ou por quantos bastem 4 validade das deliberagées; um exemplar ficaré em poder da companhia e o outro ser destinado ao registro do comércio. Na primeira convocagéio, deve haver subscritores que representem pelo menos metade do capital social. Na segunda convocaco a assembleia pode instalar-se com qualquer numero de subscritores. A presidéncia da assembleia cabe a um dos fundadores, e um dos subscritores seré apontado como secretério. A principal pauta dessa assembleia é 0 estatuto da sociedade, cujo projeto deverd ser discutido e votado. Perceba que cada ago da direito a um voto, independentemente de sua espécie ou classe. No momento oportuno estudaremos sobre as classes de agdes e seus reflexos no poder de voto dos acionistas em assembleia. Se n&o houver oposic&io de subscritores que representem mais de metade do capital social, o presidente (fundador) declarara constituida a companhia, e em Aula 04 - Prof. P: seguida a assembleia passaré a eleger os administradores e componentes do conselho fiscal. 2.6. Criagaéo de sociedade anénima fechada A constituigéo de companhias fechadas é muito mais simples do que daquelas que pretendem negociar agdes no mercado de capitais. Como a subscrigdo é particular, néo havendo captac&o de recursos junto a investidores, as coisas ficam muito mais faceis. Art. 88. A constituigo da companhia por subscrigéo particular do capital pode fazer-se por deliberacso dos subscritores em assembleia-geral ou por escritura publica, considerando-se fundadores todos os subscritores. No caso da companhia fechada, portanto, temos duas modalidades de constituigéo: a realizagéo de assembleia dos subscritores e a lavratura de escritura publica em cartério. Caso seja adotada a assembleia de fundagdo, deverao ser seguidas, como regra geral, as mesmas normas que vimos ao tratar das companhias abertas, devendo ser entregues assembleia 0 projeto de estatuto, assinado por todos os subscritores, e as listas ou boletins de subscrigdo de todas as acées. Caso a técnica adotada seja a lavratura de escritura publica, esta deverd ser assinada por todos os subscritores, contendo a sua qualificacao, o estatuto da companhia, a relagao das agées subscritas e dos valores pagos, a transcrig30 do recibo do depésito, a transcric&o do laudo de avaliagéio dos peritos (caso tenha havido subscrig&o em bens), e a nomeag&o dos primeiros administradores e, quando for o caso, dos fiscais. 2.7. Subscrigéo de agées Agora analisaremos algumas regras gerais estabelecidas pela Lei das SA acerca da subscricdo de acées. \z 89. A incorporag3o de iméveis para formacao do capital social ndo exige escritura publica. Nao ha problema algum em parte do capital social da companhia ser composto por bens méveis ou iméveis. Além disso, mesmo no caso dos bens iméveis, a Lei das SA dispensou a exigéncia de escritura publica. Art. 90. O subscritor pode fazer-se representar na assembleia-geral ou na escritura publica por procurador com poderes especiais. Aula 04 - Prof. P: E muito comum que os investidores no comparecam pessoalmente & assembleia, fazendo representar-se por procuradores. Geralmente os investidores tém muitos negécios e por isso terminam contratando agentes de sua confianca para representa-los nessas ocasiées. Art, 91, Nos atos e publicacdes referentes a companhia em constituicéo, sua denominacao deverd ser aditada da cldusula "em organizacao”. A expressdo “em organizag&o” somente seré retirada do nome da companhia ao final do processo constitutive, com o registro dos atos na Junta Comercial Art. 92. Os fundadores e as instituigées financeiras que participarem da constituica0 por subscri¢ao publica respondero, no ambito das respectivas atribuicées, pelos prejuizos resultantes da inobservancia de preceitos legais. Pardgrafo tinico. Os fundadores responderéo, solidariamente, pelo prejuizo decorrente de culpa ou dolo em atos ou operagées anteriores 4 constituics0. A contratac&o da underwriter é importante, entre outros aspectos, para dar mais seguranga aos investidores. Tanto os fundadores quanto as instituigées financeiras que atuarem na constituig’o da companhia poderéo ser responsabilizados se causarem prejuizos. Art. 93. Os fundadores entregaréo aos primeiros administradores eleitos todos os documentos, livros ou papéis relativos 4 constituicso da companhia ou a esta pertencentes. 2.8. Formalidades complementares A fase das formalidades complementares vem logo apés a observancia dos requisitos preliminares junto 4 CVM (no caso das companhias abertas) e da subscrigéo das ages. As formalidades complementares envolvem basicamente os procedimentos de registro na Junta Comercial, além de outras pequenas medidas administrativas e operacionais. Art. 94. Nenhuma companhia poderé funcionar sem que sejam arquivados e publicados seus atos constitutivos. Lembre-se de que, apesar das suas peculiaridades, a sociedade anénima é uma sociedade empreséria, e por isso deve ter seus atos constitutivos registrados na Junta Comercial, como qualquer outra. Além disso, a personalidade juridica sé é adquirida no momento do registro. Aula 04 - Prof. P: Caso a companhia tenha sido constituida por meio de assembleia de fundago, hé uma série de documentos que precisam ser arquivados, conforme art. 95 da Lei das SA. Por outro lado, se tiver sido constituida por meio de escritura publica em cartério (permitida apenas no caso das companhias fechadas), basta arquivar a certidao expedida pelo cartério. Art. 95. Se a companhia houver sido constituida por deliberacéo em assembléia-geral, deveréo ser arquivados no registro do comércio do lugar da sede: I - um exemplar do estatuto social, assinado por todos os subscritores (artigo 88, § 12) ou, se a subscricéo houver sido publica, os originais do estatuto e do prospecto, assinados pelos fundadores, bem como do jornal em que tiverem sido publicados; II - a relago completa, autenticada pelos fundadores ou pelo presidente da assembléia, dos subscritores do capital social, com a qualificacéo, nimero das acées e o total da entrada de cada subscritor (artigo 85); III - 0 recibo do depésito a que se refere o mimero III do artigo 80; IV - duplicata das atas das assembléias realizadas para a avaliagio de bens quando for 0 caso (artigo 8°); V - duplicata da ata da assembléia-geral dos subscritores que houver deliberado a constituicao da companhia (artigo 87). Art. 96. Se 2 companhia tiver sido constituida por escritura publica, bastaré o arquivamento de certidgo do instrumento. Caberé & Junta Comercial verificar se na constituicgo da companhia foram observadas as prescrigdes legais, bem como se no estatuto existem cldusulas contrérias a lei, a order publica ¢ aos bons costumes. Se arquivamento for negado por inobservancia de prescrigéo ou exigéncia legal ou por irregularidade, os primeiros administradores deverdo convocar a assembleia-geral para sanar a falta ou irregularidade, ou autorizar as providéncias necessérias. Uma vez deferido o arquivamento dos atos constitutivos, os administradores deverdo providenciar, no prazo de 30 dias, a publicacio destes e da certidéo do arquivamento na imprensa oficial do local da sede da sociedade. Além disso, um exemplar do didrio oficial deverd ser arquivado na Junta Comercial. A partir deste momento a companhia poderd entrar em funcionamento. Art. 99. Os primeiros administradores so solidariamente responsdveis perante a companhia pelos prejuizos causados pela demora no cumprimento das formalidades complementares 4 sua constituicé. Paragrafo tnico. A companhia nao responde pelos atos ou operacées praticados pelos primeiros administradores antes de cumpridas as formalidades de constituicso, mas a assembleia-geral poderd deliberar em contrério. Aula 04 - Prof. P: Os atos praticados pelos administradores antes do cumprimento das formalidades de constituigéo so responsabilidade deles, e néo da companhia, mas a Lei das SA abre a possibilidade de a assembleia-geral deliberar em sentido contrério, ratificando esses atos. Perceba ainda, pela redacéo do caput do art. 99, que os administradores respondem perante a sociedade por prejuizos que tenham sido causados pela sua demora em cumprir as formalidades. Nesses casos a sociedade pode ingressar com agdo civil de reparagao contra eles. 2.9. Capital social Art, 5° O estatuto da companhia fixaré o valor do capital social, expresso em moeda nacional. Pardgrafo tinico. A expresséo monetéria do valor do capital social realizado seré corrigida anualmente (artigo 167). Art. 6° O capital social somente poderd ser modificado com observancia dos preceitos desta Lei e do estatuto social (artigos 166 2 174). Assim como nas demais sociedades empresarias, 0 capital da SA deveré ser expresso em moeda nacional. A atualizacéo do valor do capital social serd feita anualmente por ocasiao da assembleia geral ordinaria. E importante salientar, porém, que nem sempre o capital social correspondera a exata soma dos valores correspondentes a contribuicSo dos acionistas. Isso porque nosso ordenamento juridico permite a emissio de agdes sem valor nominal, bem como a emisséo de agdes com preco superior ao seu valor nominal. Nos dois casos teremos os valores da diferenca sendo computados para a formagSo de reserva da capital. Art. 7° O capital social poderé ser formado com contribuicées em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetiveis de avaliacao em dinheiro. Art, 8° A avaliacdo dos bens seré feita por 3 (trés) peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembleia-geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalando-se em primeira convocacéo com a presenca de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocacao com qualquer nimero. § 1° Os peritos ou a empresa avaliadora devergo apresentar laudo fundamentado, com a indicagao dos critérios de avaliacao e dos elementos de comparacao adotados e instruido com os documentos relativos aos bens avaliados, e estaro presentes 4 assembleia que conhecer do laudo, a fim de prestarem as informacées que Ihes forem solicitadas. § 2° Se o subscritor aceitar 0 valor aprovado pela assembleia, os bens incorporar-se-d0 20 patriménio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessarias a respectiva transmissao. § 3° Se a assembleia no aprovar a avaliacéo, ou o subscritor ndo aceitar a avaliaco aprovada, ficard sem efeito o projeto de constituicao da companhia. Aula 04 - Prof. P: § 4° Os bens nio poderao ser incorporados ao patriménio da companhia por valor acima do que Ihes tiver dado 0 subscritor. § 5° Aplica-se 4 assembleia referida neste artigo o disposto nos §§ 1° e 2° do artigo 115. § 6° Os avaliadores e 0 subscritor responderéo perante a companhia, os acionistas terceiros, pelos danos que Ihes causarem por culpa ou dolo na avaliacéo dos bens, sem prejuizo da responsabilidade penal em que tenham incorrido; no caso de bens em condominio, a responsabilidade dos subscritores é solidaria, Quando a Lei das SA menciona a formac&o do capital social, na realidade refere-se a sua integralizag&o, que pode ser feita em dinheiro ou em bens que possam ser avaliados em dinheiro. Da leitura do art. 8° vocé deve ter percebido que o procedimento de avaliag&o dos bens é bastante rigoroso, néo é mesmo? S&o 3 peritos nomeados por meio de assembleia geral, que deverdo apresentar laudo de avaliacéo fundamentado. Art. 9° Na falta de declaracao expressa em contrério, os bens transferem-se 4 companhia a titulo de propriedade. Basicamente o art. 9° determina que a sociedade passa a ser proprietdria dos bens transferidos, incorporando-os ao patriménio social. Hé regras adicionais acerca dessa transferéncia no art. 98 da Lei das SA, segundo o qual a certidéo dos atos constitutivos, registrada na Junta Comercial, seré 0 documento hébil para a transferéncia, por transcric&o no registro publico competente, dos bens com que o subscritor tiver contribuido para a formacéio do capital social. Além disso, a ata da assembleia-geral que aprovar a incorporagéio deveré identificar 0 bem com preciso, mas podera descrevé-lo sumariamente, desde que seja suplementada por declaracéo, assinada pelo subscritor, contendo todos os elementos necessérios para a transcric&o no registro publico. Art. 10. A responsabilidade civil dos subscritores ou acionistas que contribuirem com bens para a formacao do capital social sera idéntica 4 do vendedor. Paragrafo tnico. Quando a entrada consistir em crédito, 0 subscritor ou acionista responder pela solvéncia do devedor. O acionista que contribui com o capital social com bens tem a responsabilidade sobre a licitude dessa operacdo. Isso significa que ele tem responsabilidades semelhantes as do vendedor, respondendo, por exemplo, pela eviccéo. Além disso, se a integralizacéo se der por meio de crédito, o acionista respondera pela solvéncia do devedor. Vale mencionar ainda os dispositivos da Lei das SA que determinam os detalhes sobre o procedimento de integralizacéio do capital da companhia. Aula 04 - Prof. P: Art. 106. O acionista é obrigado a realizar, nas condicées previstas no estatuto ou no boletim de subscri¢S0, a prestagao correspondente as acées subscritas ou adquiridas. § 1° Se o estatuto e 0 boletim forem omissos quanto ao montante da prestag3o € a0 prazo ou data do pagamento, caberé aos drgios da administracéo efetuar chamada, mediante avisos publicados na imprensa, por 3 (trés) vezes, no minimo, fixando prazo, nao inferior a 30 (trinta) dias, para o pagamento, § 2° 0 acionista que ndo fizer 0 pagamento nas condicées previstas no estatuto ou boletim, ou na chamada, ficaré de pleno direito constituido em mora, sujeitando-se 20 pagamento dos juros, da correcSo monetéria e da multa que o estatuto determinar, esta no superior a 10% (dez por cento) do valor da prestacao. As condigdes da integralizacéio das agdes subscritas devem constar no estatuto ou boletim de subscricéo. Se esses atos forem omissos, porém, a prépria lei determina que os drgéios de administracéo da companhia deverdo proceder & chamada mediante 3 publicacdes na imprensa, fixando prazo de pelo menos 30 dias para o pagamento. © acionista que deixar de fazer o pagamento serd constituido em mora, devendo arcar com juros e correc3o monetéria, além da multa determinada pelo estatuto, que sera de no maximo 10% do valor devido. Este é o chamado acionista remisso. Art. 107. Verificada a mora do acionista, a companhia pode, 4 sua escolha: I - promover contra 0 acionista, e os que com ele forem solidariamente responsdveis (artigo 108), proceso de execucéo para cobrar as importéncias devidas, servindo o boletim de subscricéo e 0 aviso de chamada como titulo extrajudicial nos termos do Cédigo de Processo Civil; ou II - mandar vender as acdes em bolsa de valores, por conta e risco do acionista. Nesses casos 0 aviso de chamada e 0 boletim de subscrig&o serviréo como titulo executivo extrajudicial, e a sociedade podera cobrar judicialmente do remisso os valores devidos. Outra opgio é a sociedade optar pela venda das acdes em bolsa de valores, por conta e risco do acionista. Essas prerrogativas da sociedade em relag&o ao acionista remisso sao tao importantes que a prépria Lei das SA estabelece que sera considerada como no escrita qualquer estipulagdo do estatuto ou do boletim de subscricfo que exclua ou limite 0 exercicio da opgéio, mas o subscritor de boa-fé tera acdo, contra os responsdveis pela estipulacdo, para haver perdas e danos sofridos, sem prejuizo da responsabilidade penal que couber. Caso a sociedade opte pela venda das agées, esta ocorreré mediante leildo especial na bolsa de valores, depois de publicado aviso 3 vezes, com antecedéncia minima de 3 dias. Do produto da venda serio deduzidas as despesas com a operagao e, se houver previsdo no estatuto, os juros, correcéo monetéria e multa, ficando 0 saldo a disposicéo do ex-acionista, na sede da sociedade. Aula 04 - Prof. P: Caso opte pela execug&éo dos valores, a companhia teré ainda a opco de, mesmo apés iniciada a cobranga judicial, mandar vender a aco em bolsa de valores, podendo ainda promover a cobranga judicial se as ages oferecidas em bolsa ndo encontrarem comprador, ou se 0 preso no bastar para pagar os débitos do acionista. Caso a sociedade néo consiga, de forma alguma, obter os valores, poderé declarar as ages caducas e integralizé-las com os lucros e reservas sociais, nos termos do §4° do art. 107 da Lei das SA. § 4° Se a companhia no conseguir, por qualquer dos meios previstos neste artigo, 2 integralizacao das acdes, poderd declaré-las caducas e fazer suas as entradas realizadas, integralizando-as com lucros ou reservas, exceto a legal; se nao tiver lucros € reservas suficientes, ter 0 prazo de 1 (um) ano para colocar as aces caidas em comisso, findo 0 qual, nao tendo sido encontrado comprador, a assembleia-geral deliberaré sobre a reducdo do capital em importdncia correspondente. 2.10. Acées Agora trataremos com detalhes das disposigdes da Lei das SA acerca das aces. Como vocé ja esta cansado de saber, as acdes séo 0 principal valor mobilidrio emitido pela companhia, e isso porque o acionista detém parte do capital social, ostentando a condigéo de verdadeiro sécio da companhia. 2.10.1. Classificagéo das acées Agora estudaremos duas classificagdes mais relevantes: uma que diz respeito aos direitos e obrigagées que as acgées conferem aos seus titulares, ¢ outra que leva em consideracéio a forma de transferéncia. Quanto aos direitos e obrigagées, podemos dizer que as acées sao ordinarias, preferenciais ou de fruicéo. As aces ordinarias s&o aquelas que conferem aos seus titulares direitos comuns. Seu possuidor (chamado de ordinarialista) nao tem nenhum direito ou vantagem em relacéo aos demais sécios, mas também néo esta sujeito a nenhuma restricéo. O ordinarialista também tem direito a voto (que nem todos os acionistas tem!) e por isso normalmente a maioria controladora e os acionistas minoritarios pertencem a essa categoria. Lembre-se de que toda a legislagdo acerca das SA & construida com a finalidade de compatibilizar os interesses entre esses dois grupos. Vocé aprendera mais sobre isso quando falarmos sobre o poder e controle na companhia. Aula 04 - Prof. P: As aces preferenciais, por sua vez, conferem aos seus titulares uma vantagem em relagdo aos titulares de ages ordindrias. Seus detentores so chamados preferencialistas, e normalmente o privilégio vem acompanhado de algumas restrigdes de direitos, como 0 direito a voto, que normalmente nao existem para esses acionistas. As vantagens e restrigdes dessas agbes deveraio ser especificadas no estatuto, conforme art. 17 da Lei das SA. Art. 17. As preferéncias ou vantagens das acées preferenciais podem consistir: I - em prioridade na distribuicao de dividendo, fixo ou minimo; I - em prioridade no reembolso do capital, com prémio ou sem ele; ou IIT - na acumulagao das preferéncias e vantagens de que tratam os incisos Ie II. Ha ainda um tipo especial de aco preferencial, que foi incluida na Lei das SA por ocasiao das privatizacdes do final dos anos 1990 e inicio dos anos 2000 no Brasil. Trata-se da chamada golden share, prevista no art. 17, §7° da Lei das SA. § 7° Nas companhias objeto de desestatizacao poderd ser criada agao preferencial de classe especial, de propriedade exclusiva do ente desestatizante, 4 qual o estatuto social poderé conferir os poderes que especificar, inclusive 0 poder de veto as deliberacdes da assembleia-geral nas matérias que especificar. Basicamente 0 que aconteceu na época foi o seguinte: o Estado passou a alienar a 0 controle das companhias em que detinha a maioria do capital social, mas conservou essas ages preferenciais especiais, que Ihe conferiam direito de veto em determinadas deliberagdes. Em que pese 0 §7° seja especifico a respeito do processo de desestatizaco, doutrinadores entendem que nada impede que sejam criadas ages do tipo golden share em companhias privadas, J8 que 0 §2° do art. 17 autoriza a previsdo estatutéria de outras vantagens as ages preferenciais. Art. 15, § 2% 0 numero de acées preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restricéo no exercicio desse direito, nao pode ultrapassar 50% (cinquenta por cento) do total das agées emitidas. Essa restrig&io faz bastante sentido, pois néo ha cabimento em imaginar uma sociedade na qual mais de metade dos acionistas néo pode votar, ndo é mesmo? Terfamos ai uma maioria que ndo poderia decidir nada e que também no estaria protegida pelas disposicdes acerca dos acionistas minoritérios. Aula 04 - Prof. P: Por fim, devemos falar sobre as acées de fruicgéo, que sao emitidas para substituir as acgdes ordindrias ou preferenciais que foram totalmente amortizadas, conferindo aos seus titulares apenas direitos de gozo ou fruigéio. Art. 44. 0 estatuto ou a assembleia-geral extraordindria pode autorizar a aplicacéo de lucros ou reservas no resgate ou na amortizagao de acées, determinando as condicées € 0 modo de proceder-se 4 operacéo. § 2° A amortizacdo consiste na distribuicao aos acionistas, a titulo de antecipacdo e sem redugao do capital social, de quantias que Ihes poderiam tocar em caso de liquidacéo da companhia. [ou] § 5° As ages integralmente amortizadas poderéo ser substituidas por acées de fruicéo, com as restrigées fixadas pelo estatuto ou pela assembleia-geral que deliberar a amortizag3o; em qualquer caso, ocorrendo liquidagéo da companhia, as acées amortizadas 36 concorreréo 20 acervo liquide depois de assegurado as acdes néo a amortizadas valor igual a0 da amortizaco, corrigido monetariamente. A amortizacéio é uma espécie de antecipacéio dos valores que seréo pagos aos acionistas no caso de liquidacgdo da companhia. Sendo determinada a amortizagéo de uma aco preferencial ou ordindria, calcular-se seu valor patrimonial naquele momento e paga-se esse valor ao titular da acéio. Uma vez totalmente amortizada, a aco preferencial ou ordindria poderd ser substituida por uma ago de fruicdo, e a partir de entao seu titular teré apenas direitos de gozo € fruicéo contra a companhia. Agora falaremos sobre a classificagéo das agdes quanto a forma de transferéncia. Segundo essa classificagdo temos acdes nominativas © escriturais, mas antes de detalhé-los ¢ importante rememorar uma alteragdo legislativa feita nos anos 1990. Até a Lei n. 8.021/1990 tinhamos no nosso ordenamento, além dos tipos acionarios_mencionados, também as aces endosséveis, que podiam ser endossadas no préprio certificado, e as agées ao portador, que podiam ser transmitidas pela mera tradic&o (entrega) do documento. Pois bem, a referida lei determinou a retirada de circulacéio dessas acdes no prazo de 2 anos a partir de sua vigéncia, e por isso essas agdes ndo existem mais hoje, apesar de ainda termes alguns dispositivos da Lei das SA que tratam delas. As acées nominativas sao aquelas transmitidas mediante registro em livro especifico, escriturado pela companhia para essa finalidade. Trata-se do livro Registro de Acées Nominativas, previsto no art. 31 da Lei das SA. Nesse caso a transferéncia é um ato formal, que exige 0 comparecimento do vendedor e do comprador e sua assinatura no livro Transferéncia de Agdes Nominativas (art. 31, §1° da Lei das SA). No caso de aco negociada em bolsa de valores, 0 ‘eori Aula 04 - Prof. P: vendedor sera representado (mesmo sem procuragio) pela sociedade corretora ou pela caixa de liquidac&io da bolsa de valores (art. 31, §3° da Lei das SA). As agées escriturais, por sua vez, néo possuem certificade e exigem menos formalidade para sua transferéncia. De acordo com o art. 35, §1° da Lei das SA, sua transferéncia se opera pelo lancamento efetuado pela instituicéo depositaria em seus livros, a débito da conta de aces do alienante e a crédito da conta de ages do adquirente, a vista de ordem escrita do alienante, ou de autorizacao ou ordem judicial, em documento habil que ficara em poder da instituicao. A propriedade das aces escriturais é comprovada mediante registro no extrato da conta de depésito de agdes do titular junto @ instituic&o financeira. Esse extrato deve ser entregue ao titular sempre que ele requerer, todos os meses em que houver movimentagao, € pelo menos uma vez por ano (art. 35, §2° da Lei das SA). Quanto aos e obrigagées CLASSIFICAGAO DAS AGOES 2.10.2. Classes de acées Como 0 “grande negécio” das sociedades anénimas é atrair investidores para vultosos empreendimentos, ao longo do tempo foram criados mecanismos para tornar a aquisicéo de aces mais e mais interessante. Um dos mais importantes hoje € a diviséo das agées em classes, por meio das quais s&o conferidos direitos e deveres diferentes aos acionistas. Essas classes normalmente so nomeadas de acordo com as letras do alfabeto, de acordo com as peculiaridades de cada acéio. E comum haver, por exemplo, agées preferenciais que conferem prioridade no reembolso do capital, e outras ages preferenciais que conferem direito ao recebimento de dividendo fixo. Vale aqui mencionar também a regra do art. 15, §1° da Lei das SA, segundo o qual as aces ordindrias das companhias abertas ndo podem ser divididas em classes. Aula 04 - Prof. P: Art, 15. As aces, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, sao ordindrias, preferenciais, ou de fruigéo. § 1° As acées ordindrias da companhia fechada e as agées preferenciais da companhia aberta e fechada poder&o ser de uma ou mais classes. As ages ordinarias e preferenciais, em regra, poderao CURIOSIDADE ser divididas em classes, com excegéo das acées ordindrias de companhias abertas. 2.10.3. Valor da acaéo A ac&o néo tem um valor absoluto. Sua valoragéo pode ser feita e formas diferentes, a depender do objetivo. Por isso, para compreender bem esses mecanismos, precisamos analisar as diferentes técnicas e conceitos que envolvem o tema. a) Valor nominal Esse valor € obtido dividindo-se 0 capital social pelo nuimero de acées. Lembre- se de que a SA nao é obrigada a conferir um valor nominal a suas acées, permitindo-se que sejam emitidas agées sem valor nominal. Vocé deve estar pensando que no faz diferenca que o estatuto confira ou néo valor nominal as agdes, pois esse valor pode ser obtido por meio da diviséo do capital social pelo ntimero de agdes, nao é mesmo? Na pratica, porém, existe uma vantagem para os acionistas quando o estatuto prevé o valor nominal de cada ac&o. Nesses casos ha a garantia contra a diluicdo injustificada do valor patrimonial das acées por ocasido da emissdo de novas acées. Se a companhia emite novas acdes com valor patrimonial inferior as antigas, todos os acionistas que jé estéo no quadro terminam sendo prejudicados, pois suas agées passam a representar uma parcela menor do capital social. Por outro lado, se as agdes tém valor nominal, o patriménio acionério ndo seré diminufdo, j4 que 0 art. 13 da Lei das SA proibe a emisséio de agdes por preco inferior ao seu valor nominal. E importante ainda salientar que nada impede que o prego de emiss&o das novas ages seja superior ao seu valor nominal. Nesse caso a diferenga entre os dois valores, chamada de dgio, deverd obrigatoriamente compor reserva de capital (art. 13, §2°). b) Valor patrimonial Também chamado de valor real, é calculado levando-se em conta o patriménio liquide da sociedade. Em vez de dividir o capital social pelo numero de acées, divide-se 0 patriménio liquido. Caso vocé n&o esteja familiarizado com o Aula 04 - Prof. P: conceito, 0 patriménio liquido € calculade deduzindo-se o passivo (obrigacées) da companhia do seu ativo (bens e direitos). No ato de constituig&o da companhia, se suas acées tiverem valor nominal, este seré igual ao valor patrimonial, pois no momento da sua constituicéo a sociedade ainda ndo tem passivo, néo é mesmo? A partir de sua entrada no mercado, a companhia passa a titularizar créditos e débitos, o que faré com que dificilmente seu capital social e seu patriménio coincidam novamente. © valor patrimonial é levado em consideragéo, por exemplo, quando a companhia precisa ser liquidada, assim como nas operagées de amortizacéo de agées ordinarias e preferenciais, que podem ser substituidas pelas acdes de fruigdo. c) Valor de negociagao Na sociedade anénima é livre a negociag&o da participagdo societéria. Essas transagdes, como vocé jé sabe, normalmente ocorrem no mercado de capitais secundario, no qual os acionistas vendem suas acdes a investidores interessados, cobrando valores que oscilam em fungdo das mais variadas circunstancias Alguns doutrinadores falam em valor de negociacao privada e valor de mercado, mas no final os dois conceitos so muito semelhantes, um referindo- se ao mercado de balcdo e outro ao mercado de capitais. d) Valor econémico Esse valor é aferido por meio de estudos técnicos especializados, nos quais os peritos concluem o valor que as acées possivelmente valeriam se fossem postas & venda no mercado de capitais. Essa técnica é importante, por exemplo, nos casos de apuracéio de responsabilidade dos administradores em relacéo a negociagdo de acdes que eram de propriedade da companhia. Se os administradores decidiram vender ages que pertenciam & companhia e ha desconfianga de que a operacio foi subvalorada, por exemplo, somente por meio de estudos sera possivel verificar por quanto aquelas agées poderiam ter sido vendidas na ocasiao. e) Preco de emisséo No mercado de capitais primdrio, como vocé jé sabe, desenvolvem-se as operagées de subscrigéo de novas acées, o que ocorre quando uma companhia passa pela abertura de capital ou quando aumenta seu capital social. Nessas operagdes o valor pago pelas acées é o prego de emissdo, que representa o valor que o investidor entrega a sociedade como contribuigéo para © capital social. © prego, bem como as condicées de pagamento, é estabelecido pela prdpria companhia, unilateralmente. Obviamente a companhia tenta ao maximo estabelecer 0 prego de emissdo no patamar suficiente para tornar a Aula 04 - Prof. P: operago vidvel financeiramente e, ao mesmo tempo, atrair o ntimero esperado de investidores que tenham interesse em subscrever as agées. © preco de subscric&o pode ser superior ao valor nominal da aco. A diferenca é © gio, que deveré obrigatoriamente constituir reserva de capital da companhia. a a 2.10.4. Direitos e obrigacées do acionista Vocé jé sabe que, a depender do tipo de ag&o, sua propriedade pode conferir ao titular diferentes direitos. Por outro lado, existem direitos que s&o conferidos a todos os acionistas, independentemente da espécie de ac&o. Esses direitos essenciais encontram-se previstos no art. 109 da Lei das SA. Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia-geral poderso privar 0 acionista dos direitos de: I - participar dos lucros sociais; IT - participar do acervo da companhia, em caso de liquidagSo; LIT - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gest3o dos negécios sociais; IV - preferéncia para a subscricdo de aces, partes beneficidrias conversiveis em aces, debéntures conversivels em agées e bonus de subscricéo, observado 0 disposto nos artigos 171 € 172; V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei. Aula 04 - Prof. P: A maior parte desses direitos séo consequéncias naturais da compreenséo do acionista como titular de parte do capital social. Naturalmente ele tem o direito de participar dos lucros sociais, afinal de contas, se alguém investe numa companhia, espera que 0 negécio gere lucros, ainda que haja também a possibilidade de alguém adquirir ages por especulacao. Da mesma forma, se decidir-se pela liquidagdo da companhia, se por que razéo for, 0 acionista deve receber o valor correspondente @ sua parcela do patriménio liquido da sociedade. E natural também imaginar que o acionista teré total interesse na regularidade da conduc&o dos negécios da companhia, e por isso ele tem o direito e o dever de fiscalizar a gestao da empresa. Nenhum desses direitos pode ser retirado do acionista, independentemente do tipo ou classe de acdes titularizadas. A Lei das SA prevé inclusive a possibilidade de esses direitos serem defendidos em juizo (art. 109, §2°). Os direitos essenciais séo bastante basicos, e vocé deve percebido que o ito de voto, por exemplo, ndo esté entre eles. Lembre-se de que as agdes preferenciais, em regra, ndo conferem o direito de voto ao seu titular. A Lei das SA prevé o direito de voto aos acionistas ordinarialistas. Art. 410. A cada ago ordinéria corresponde 1 (um) voto nas deliberagées da assembleia-geral. § 1° O estatuto pode estabelecer limitago 20 niimero de votos de cada acionista. § 2° € vedado atribuir voto plural a qualquer classe de acées. Art. 111. 0 estatuto poderd deixar de conferir 4s agées preferenciais algum ou alguns dos direitos reconhecidos 4s a¢ées ordinérias, inclusive 0 de voto, ou conferi-lo com restri¢des, observado o disposto no artigo 109. A lei permite também que o estatuto limite o numero de votos de cada acionista @, ao mesmo tempo, proibe a atribuicdo de voto plural a uma classe especifica de ages, ou seja, néo se pode atribuir mais de um voto a uma mesma acéo. Um acionista que tenha varias agdes tera direito a varios votos, mas nao se pode estabelecer dois ou mais votos para uma s6 acdo. Tome cuidado aqui, pois existe uma previséio na Lei das SA de voto multiplo, mas uma coisa nao tem nada a ver com a outra. O voto multiplo, previsto no art. 141, pode ocorrer por ocasiéo da eleigo dos membros do Conselho de Administrac&o, e consiste na atribuicéo a cada ac&o de tantos votos quantos sejam os membros do conselho. Vimes aqui que, em regra, os acionistas preferencialistas ndo tém direito a voto, mas essa regra também conta com excegdes. Vejamos o que diz os pardgrafos do art. 111. Aula 04 - Prof. P: § 1° As acées preferenciais sem direito de voto adquirirgo 0 exercicio desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, néo superior a 3 (trés) exercicios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou minimos a que fizerem jus, direito que conservarao até o pagamento, se tais dividendos nao forem cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso, § 2° Na mesma hipétese e sob 2 mesma condicso do § 19, as acdes preferenciais com direito de voto restrito terSo suspensas as limitac6es ao exercicio desse direito. § 3° O estatuto poderd estipular que 0 disposto nos §§ 1° e 2° vigorard a partir do término da implantagao do empreendimento inicial da companhia. Basicamente podemos dizer que os preferencialistas adquirem o direito de voto quando a prépria companhia deixa de pagar dividendos por prazo previsto no estatuto, que ndo poderd ser superior a 3 anos. Nesses casos é razodvel imaginar que todos os acionistas devem ter condigdes de influenciar de alguma forma os rumos da resolugdo do problema. Art. 113, O penhor da aco nao impede o acionista de exercer 0 direito de voto; seré licito, todavia, estabelecer, no contrato, que 0 acionista no poderé, sem consentimento do credor pignoraticio, votar em certas deliberacées. Pardgrafo tinico. 0 credor garantido por alienagao fiduciéria da agéo néo poderé exercer © direito de voto; o devedor somente poderé exercé-lo nos termos do contrato. O acionista que empenha sua ago, em principio, no perde o direito de voto, mas nada impede que no contrato seja estipulada cldusula em sentido contrario. Por outro lado, quando for o caso de garantia fiducidria, o direito de voto deve ser exercido pelo devedor, nos termos do contrato. Art. 114. 0 direito de voto da acéo gravada com usufruto, se ndo for regulado no ato de constituicso do gravame, somente poderé ser exercido mediante prévio acordo entre o Proprietario e 0 usufrutuario, No caso da ac&o objeto de usufruto, é preciso haver um acordo entre o proprietario e o usufrutudrio da ac&o no que se refere ao exercicio do direito de voto. Art, 115. O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-8 abusive 0 voto exercido com o fim de causar dano 3 companhia ou @ outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem a que nao faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuizo para a companhia ou para outros acionistas. Este dispositivo teve sua redacdo alterada pela Lei n. 10.303/2001, por ocasiao da reforma legal que teve por finalidade incorporar a Lei das SA os principios da boa governanga corporativa. Neste caso perceba que o legislador tentou coibir 0 abuso do direito de voto no ambito da companhia, nao sé impedindo o acionista Aula 04 - Prof. P: que tenha por objetivo prejudicar deliberadamente a sociedade, mas também responsabilizando-o por eventuais danos causados pelo exercicio abusivo do direito de voto, ainda que seu posicionamento nao tenha prevalecido. © acionista responde pelos danos causados pelo exercicio "er 14, abusivo do direito de voto, ainda que seu voto nao haja | prevalecido. © acionista n&o pode votar nas deliberagdes que possam trazer-Ihe beneficio particular. Essa proibic&o é aplicada, por exemplo, na assembleia que aprecia laudo de avaliacéo de bens dados em integralizacdo do capital. Nesses casos, 0 acionista que ofereceu os bens obviamente nao deve votar na assembleia. 2.10.5. Poder de controle Os doutrinadores comumente classificam os acionistas em empreendedores e investidores, de acordo com seu perfil. Os empreendedores tém interesse na gestdo dos negécios da companhia, e por isso normalmente sao ordinarialistas. Os investidores, por sua vez, apenas esto interessados no retorno no capital investido na aquisic&o das agées, e por isso normalmente séo titulares de acdes preferenciais, sem direito a voto. Pois bem, nesse sentido podemos compreender que o controle da companhia, em geral, é disputado pelos acionistas empreendedores. Essa ideia de controle é muito importante, pois as relagdes entre os acionistas da sociedade anénima normalmente so muito complexas. E comum que haja literalmente milhares de acionistas, com os mais diferentes perfis. Um grupo menor, porém, seré 0 responsavel pelas principais decisdes. Este grupo é 0 que detém o poder de controle da sociedade. Para que um acionista seja considerado controlador, ele deve ter & sua disposicéo percentual suficiente no capital votante para obter maioria nas assembleias, e para eleger a maior parte dos administradores. Além disso, ele deve efetivamente utilizar esse poder, comandando a gestéo dos negécios sociais. Partindo dessa compreenséo, a Lei das SA estabeleceu regras acerca da atuagao do acionista controlador. Art, 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou juridica, ou 0 grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) & titular de direitos de sécio que Ihe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberacées da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; € b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos drgaos da companhia. Aula 04 - Prof. P: Paragrafo tnico. 0 acionista controlador deve usar 0 poder com o fim de fazer a companhia realizar 0 seu objeto e cumprir sua funcao social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. Art. 116-A. © acionista controlador da companhia aberta e os acionistas, ou grupo de acionistas, que elegerem membro do conselho de administracéo ou membro do conselho fiscal, deverso informar imediatamente as modificagées em sua posic¢ao aciondria na companhia & Comissao de Valores Mobilidrios e 4s Bolsas de Valores ou entidades do mercado de balcéo organizado nas quais os valores mobilidrios de emissao da companhia estejam admitidos 4 negociacao, nas condigdes e na forma determinadas pela Comissao de Valores Mobiliérios. A preocupagao do legislador aqui vai além de estabelecer regras de conduta, especialmente em razéo da menc&o da fungdo social da companhia, 0 que significa que os negécios devem ser conduzidos de forma atenta 4 comunidade, ao meio ambiente e aos fatores humanos relacionados ao objeto social da companhia. Além de estabelecer essas diretrizes acerca da atuacéio do acionista controlador da Lei das SA ainda traz a previsio de responsabilizacdo do controlador que praticar atos de abuso de poder. Art. 117. 0 acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticades com abuso de poder. § 1° Sao modalidades de exercicio abusivo de poder: a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao interesse nacional, ou levé-la a favorecer outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em prejuizo da participac3o dos acionistas minoritérios nos lucros ou no acervo da companhia, ou da ‘economia nacional; ) promover a liquidacao de companhia préspera, ou a transformacao, incorporagao, fuséo ou cisdo da companhia, com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem indevida, em prejuizo dos demais acionistas, dos que trabalham na empresa ou dos investidores em valores mobilidrios emitidos pela companhia; ©) promover alteragio estatutaria, emissao de valores mobiliérios ou adogao de politicas ou decisées que nao tenham por fim o interesse da companhia e visem a causar prejuizo a acionistas minoritérios, aos que trabalham na empresa ou aos investidores em valores mobilidrios emitidos pela companhia; d) eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente; e) induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou, descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto, promover, contra o interesse da companhia, sua ratificacao pela assembleia-geral; f) contratar com 2 companhia, diretamente ou através de outrem, ou de sociedade na qual tenha interesse, em condicdes de favorecimento ou nao equitativas; g) aprovar ow fazer aprovar contas irregulares de administradores, por favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denuincia que saiba ou devesse saber procedente, ou que Justifique fundada suspeita de irregularidade. h) subscrever acées, para os fins do disposto no art. 170, com a realizagdo em bens estranhos a0 objeto social da companhia. Aula 04 - Prof. P: § 2° No caso da alinea e do § 19, 0 administrador ou fiscal que praticar 0 ato ilegal Tesponde solidariamente com 0 acionista controlador. § 3° O acionista controlador que exerce cargo de administrador ou fiscal tem também os deveres e responsabilidades proprios do cargo. © rol do §1°, que traz as condutas consideradas como abuso de poder, é meramente exemplificativo, 0 que significa que pode haver outras condutas consideradas como abuso de poder que nao estao na lista. Esse posicionamento jé foi adotado pelo ST). RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DIREITO SOCIETARIO. ART. 117, § 1.°, DA LEI N.° 6.404/76 (LEI DAS SOCIEDADES). MODALIDADES DE ABUSO DE PODER DE ACIONISTA CONTROLADOR. FORMA EXEMPLIFICATIVA. CARACTERIZAGAO DO ABUSO DE PODER. PROVA DO DANO. PRECEDENTE. © MONTANTE DO DANO CAUSADO PELO ABUSO DE PODER DO ACIONISTA CONTROLADOR. FIXACAO EM LIQUIDACAO DE SENTENCA. POSSIBILIDADE. i 0 § 1.°, do art. 117, da Lei das Sociedades Anénimas enumera as modalidades de | exercicio abusivo de poder pelo aci fa controlador de forma apenas ‘exemplificativa. Doutrina. - A Lei das Sociedades Anénimas adotou padrées amplos no que tange aos atos caracterizadores de exercicio abusivo de poder pelos acionistas controladores, porquanto esse critério normative permite ao juiz e as autoridades administrativas, como a Comisséo de Valores Mobilidrios (CVM), incluir outros atos lesivos efetivamente praticados pelos controladores. Para a caracterizacio do abuso de poder de que trata o art. 117 da Lei das Sociedades por aces, ainda que desnecesséria a prova da intengéo subjetiva do acionista controlador em prejudicar a companhia ou 05 minoritarios, € indispensavel a prova do dano, Precedente. - Se, nao obstante, a iniciativa probatéria do acionista prejudicado, nao for possivel fixar, j no processo de conhecimento, 0 montante do dano causado pelo abuso de poder do acionista controlador, esta fixagdo deveré ser deixada para a liquidagdo de sentenga. Recurso especial provide. REsp 798.264/SP, Rel. Min, Carlos Alberto Menezes Direito, j. 06.02.2007, Terceira | Doutrinariamente, é importante lembrar que o poder de controle, conforme Berle e Gardiner, permite que a propriedade e 0 controle dos meios de produgao sejam dissociados, j4 que nem sempre o acionista controlador sera proprietério da maior parte do capital social. Nos casos em que hé grande dispersdo acionéria, é possivel que 0 controlador seja minoritédrio. No Brasil a obra mais importante sobre o tema é 0 livro O Poder de Controle na Sociedade Anénima, de Fabio Konder Comparato. O que nos interessa nessa obra € principalmente a classificag&o proposta por Comparato quanto ao poder de controle. a) Controle totalitario E comum nas companhias fechadas de carater familiar e na subsidiéria integral, j4 que esta tem todo o capital social titularizado por outra sociedade. Basicamente esta situag&o se dé quando todas as acées pertencem a uma Unica Aula 04 - Prof. P: pessoa ou a um grupo de pessoas. O vinculo desses acionistas termina sendo intuitu personae, como tradicionalmente ocorre nas sociedades de pessoas. b) Controle majoritario Neste caso o poder de controle é exercido pelo acionista que tem a maioria das agdes com direito de voto. Essa realidade é muito comum nas companhias brasileiras, ocorrendo, por exemplo, nas sociedades de economia mista federais, em que o acionista controlador é a Unido, mas as agées sao negociadas em bolsa. c) Controle minoritario Aqui temos o controle sendo exercido por um acionista ou grupo de acionistas que nao detém agées correspondentes a maioria do capital social. Isso ocorre quando o capital social é muito pulverizado, e é possivel em razdo da regra do art. 125 da Lei das SA, que permite a instalacéo de assembleia, em segunda convocag&o, com a presenga de qualquer numero de acionistas com direito a voto. d) Controle gerencial Este tipo de controle ocorre quando o capital social é tao disperso que o controle na realidade termina sendo exercido pelos administradores da sociedade, com os acionistas assumindo a posic&o de meros investidores. Além das normas que disciplinam a atuaco do controlador, também devemos conhecer as regras trazidas pela Lei das SA acerca da alienagao do poder de controle da companhia. Art. 254-A. A alienaco, direta ou indireta, do controle de companhia aberta somente poder ser contratada sob a condicao, suspensiva ou resolutiva, de que o adquirente se obrigue a fazer oferta piiblica de aquisicéo das acdes com direito a voto de propriedade dos demais acionistas da companhia, de modo a Ihes assegurar o preco no minimo igual a 80% (oitenta por cento) do valor pago por aco com direito a voto, integrante do bloco de controle. Este dispositivo traz um instrumento de defesa dos acionistas minoritérios conhecido como tag along. De forma simples e direta, a regra é a de que, caso © controlador resolva vender suas acées, transferindo o poder de controle a outro, este deverd se comprometer a adquirir as agdes com direito a voto dos minoritarios, pagando pelo menos 80% do preco pago pelas agdes do controlador. Em grandes sociedades anénimas que adotam as melhores praticas de boa governanga corporativa, 6 comum que os estatutos prevejam o tag along com obrigag&o de aquisic&o das acdes dos minoritérios por 100% do preco pago pelas acdes do controlador. Aula 04 - Prof. P: Art. 257. A oferta publica para aquisicéo de controle de companhia aberta somente poderd ser feita com a participagio de instituicao financeira que garanta 0 cumprimento das obrigagées assumidas pelo ofertante. Nesta situagéo temos um interessado em adquirir o controle de uma companhia, que decide fazer uma oferta publica de aquisiggo (OPA). Quando isso ocorrer deverd obrigatoriamente haver uma instituicdo financeira garante. A Lei das SA torna obrigatéria a manutengao do sigilo quanto a oferta antes da sua publicagao. Se as informagées acerca da OPA vierem a public, isso poderd influenciar a negociacaio dos valores mobilidrios da companhia na bolsa. Por isso 0 dever de sigilo se estende a instituicdo financeira, & CVM e, obviamente, ao préprio ofertante. E comum falar-se em oferta amigdvel quando, antes da oferta, ha uma negociagao prévia com os administradores da companhia. Quando nao ha essa negociagéo, ou quando ela foi rejeitada pelo conselho de administracdo, falamos em oferta hostil (hostile takeover) Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas agées, preferéncia para adquiri-las, exercicio do direito a voto, ou do poder de controle deveréo ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede. Este dispositivo trata do chamado acordo de acionistas, que alguns autores chamam de contrato parassocial. Este tipo de acordo pode versar sobre a compra e venda de acées, preferéncia para sua aquisic&o, exercicio do direito de voto, ou ainda exercicio do poder de controle. Uma vez firmado, 0 acordo devera ser arquivado na sede da companhia, e a partir dai seus termos deverdo ser respeitados. Trata-se de um contrato e, portanto, constitui titulo executivo extrajudicial. Sobre a execug&o forcada do acordo, veja o seguinte julgado do STJ. RECURSO “ESPECIAL. “DIREITO” PROCESSUAL “CIVIL” E DIREITO” SOCIETARIO. | ACORDO DE ACIONISTAS. EXECUCAO ESPECIFICA DE OBRIGACOES DE FAZER E | DE ENTREGAR COISA CERTA. HONORARIOS. ART. 20, § 4.°, DO CPC. APELACAO. | PEDIDO DE REFORMA INTEGRAL DA SENTENCA DE PROCEDENCIA. ALTERAGAO _ DE OFICIO DA BASE DE CALCULO DOS HONORARIOS. POSSIBILIDADE. ART. 515, | § 1.°, DO CPC. IMPROCEDENTE DO PEDIDO CAUTELAR E PROCEDENCIA DO_ PEDIDO PRINCIPAL. POSSIBILIDADE. CISAO PARCIAL DA SOCIEDADE. LEGITIMIDADE PASSIVA DA SOCIEDADE CINDIDA. : A acdo em que se busca o cumprimento de acordo de acionistas, por ensejar, via de: egra, a execucao especifica de obrigacées de fazer e de entregar coisa certa, nao se confunde com a agéo com pedido de condenacao ao pagamento de determinado valor, | azo pela qual os honorarios advocaticios devem ser fixados de acordo com o § 4.9, do art. 20, do CPC. - Nos termos do art. 515, § 1.°, do CPC, se na apelacdo ha pedido de eforma integral da sentenca de procedéncia, pode o Tribunal alterar a base de calcul dos honordrios, ainda que nao haja pedido especifico nesse sentido na apelaggo. Precedentes. | A deciséo de proceso cautelar é sempre proviséria, porquanto repousa sobre fatos que | Aula 04 - Prof. P: podem se alterar ao longo do processo principal. Por isso, ainda que a sentenga proferida ! no processo principal tenha sido pela procedéncia dos pedidos, é possivel julgar ! improcedente o pedido cautelar, em razSo da alteracSo da situacSo fatica na qual havia sido deferido, - A sociedade também tem legitimidade passiva para a causa em que se busca 0 cumprimento de acordo de acionistas, porque tera que suportar ! efeitos da decisio; como na espécie em que o cumprimento do acordo ! implicaria na cisdo parcial da sociedade. Recursos especiais n3o conhecidos. REsp 784.267/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 21.08.2007, Terceira Turma, DJ; © acordo de acionistas goza de grande protegao legal, o que Ihe confere muita forca. A Lei das SA determina, por exemplo, que o presidente da assembleia ou do érgdo de deliberacdo da companhia nao computard o voto proferido em desrespeito ao acordo de acionistas devidamente arquivado. 2.11. Outros valores mobiliarios As ages so os principais valores mobilidrios emitides pelas companhias abertas, mas hd ainda alguns outros que vale a pena conhecer. Aqui falaremos sobre as debéntures, partes beneficidrias e bonus de subscrigao. Todos os valores mobilidrios servem para que a companhia se autofinancie. Isso pode dar-se por meio de duas operacées: a capitalizagdo, por meio da qual so emitidas novas acdes, e a securitizagao, na qual sdéo emitidos outros valores mobilidrios. 2.11.1. Debéntures Art. 52. A companhia poderé emitir debéntures que conferirao aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condicées constantes da escritura de emissdo e, se houver, do certificado. As debéntures s&o emitidas pela companhia para conferir ao seu titular um direito de crédito, nos termos de sua escritura de emissao ou certificado. @. _ Debénture ¢ um valor mobilidrio emitido pelas sociedades anénimas que confere ao seu titular um direito liquido e certo contra a companhia, nos termos de sua escritura de emissao ou certificado, constituindo um titulo executivo extrajudicial. Na prdtica, a debénture representa um contrato de empréstimo entre seu subscritor e a companhia. As condigdes dessa operacéo, os valores pagos e outros detalhes constargo na escritura de emissdo ou certificado. Poderd Aula 04 - Prof. P: constar ainda cléusula de correcéo monetéria, com base nos coeficientes fixados para corregao de titulos da divida publica, na variaéo da taxa cambial ou em outros referenciais no vedados em lei (art. 54, §1°). O vencimento da debénture também deveré constar na escritura ou certificado, sendo possivel também a emisséo de debéntures cujo vencimento ocorra somente nos casos de inadimplemento da obrigagdo de pagar juros e dissolucaio da companhia, ou em outras condigées previstas no titulo (art. 55). Quanto aos juros, a debénture poderé assegurar ao seu titular juros, fixos ou varidveis, participacao no lucro da companhia e prémio de reembolso (art. 56). Por fim, recomendo a leitura do art. 57, que trata da possibilidade de a debénture prever sua conversdo em aces. Art. 57. A debénture poderd ser conversivel em agées nas condigées constantes da escritura de emisséo, que especificaré: I - as bases da conversao, seja em mimero de acées em que poderé ser convertida cada debénture, seja como relacao entre 0 valor nominal da debénture e 0 prego de emisséo das acées; IT- a espécie e a classe das acées em que poderd ser convertida; TIT - 0 prazo ou época para o exercicio do direito 4 converséo; IV - as demais condic¢ées a que a conversiio acaso fique sujeita. Quando a debénture for conversivel em agées, todas as condicées dessa convers&o obviamente devem estar previstas na escritura ou certificado. Em principio, cabe & assembleia geral deliberar sobre a emissdo de debéntures. Essa deliberagao deve fixar os seguintes aspectos: a) 0 valor da emissdo ou os critérios de determinagao do seu limite, e a sua diviséo em séries, se for 0 caso; b) o ntimero e o valor nominal das debéntures; c) as garantias reais ou a garantia flutuante, se houver; d) as condig6es da correcéo monetaria, se houver; e) a conversibilidade ou n&o em agées e as condigdes a serem observadas na converséo; f) a época e as condigdes de vencimento, amortizago ou resgate; g) @ época e as condigdes do pagamento dos juros, da participac&o nos lucros e do prémio de reembolso, se houver; h) 0 modo de subscrig&o ou colocaggo, ¢ 0 tipo das debéntures. No caso das debéntures nao conversiveis em agdes, ha ainda a possibilidade de emisséo por deliberagéo do Conselho de Administrasdo, caso n&o haja disposig&o em contrario no estatuto. Aula 04 - Prof. P: Em regra, a competéncia para deliberar sobre a emisséo de TON, debéntures é da Assembl: Geral, mas a Lei das SA prevé a possibilidade de emissio de debéntures nao conversiveis em acées por deliberacio do Conselho de Administracao, caso nao haja disposigSo em contrério no estatuto. Até 2011 havia na Lei das SA um limite de endividamento da companhia pela demissao de debéntures, mas hoje no ha mais essa limitacdo. Art. 62. Nenhuma emissao de debéntures serd feita sem que tenham sido satisfeitos os seguintes requisitos: I - arquivamento, no registro do comércio, e publicacao da ata da assembleia-geral, ou do conselho de administracéo, que deliberou sobre a emisséo; II - inscrigdo da escritura de emisséo no registro do comércio; IIT - constituic¢ao das garantias reais, se for 0 caso. Para que haja a emissdo de debéntures, é preciso que a ata da assembleia- geral ou da reuni&o do conselho de administracéio que autorizou 0 ato seja arquivada na Junta Comercial. Além disso, a propria escritura de emissao deverd ser registrada. Esses registros sao feitos em livro especial mantido pelo Registro de Comércio. © nao cumprimento desses requisitos por parte dos administradores enseja sua responsabilizac&o por perdas e danos causados & companhia ou a terceiros. Art. 58. A debénture poderé, conforme dispuser a escritura de emisso, ter garantia real ou garantia flutuante, ndo gozar de preferéncia ou ser subordinada aos demais credores da companhia. Por fim, vamos falar sobre os tipos de debéntures, que poderdo ser: a) com garantia real; b) com garantia flutuante; c) quirograférias; ou d) subordinadas Nao vou entrar em detalhes sobre essas modalidades, mas a Lei das SA menciona especificamente as debéntures com garantia flutuante, que sao aquelas com privilégio geral sobre o ativo da companhia, mas ndo impedem a negociag&o dos bens que compéem esse ativo. Na prética, isso significa que o titular de uma debénture com garantia flutuante ficaré em quinto lugar na ordem dos credores, caso a companhia venha a ter decretada sua faléncia.

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