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AUTOR - SAIDE CASSIMO - Desvio e Controlo Social
AUTOR - SAIDE CASSIMO - Desvio e Controlo Social
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Licenciado em Ensino de Português com Habilitações em Ensino de Inglês pela Universidade
Pedagógica, delegação de Montepuez (Actual UniRovuma) /. Actualmente, é estudante do curso de
mestrado em Língua Portuguesa com Segunda e Estrangeira.
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Índice
Introdução .....................................................................................................................................................1
Conclusão ...................................................................................................................................................11
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Introdução
Por outra, vale destacar que os seres humanos, precisam criar relações na sociedade, o que nos
leva a afirmar categoricamente que a vida social é produto das relações que os indivíduos
estabelecem quotidianamente, face a face. As relações entre os indivíduos têm comunicação no
sentido de transmitir certos comportamentos e de como os outros, na intenção de causar
determinada impressão, impõem e modificam seu comportamento. Isso nos remete a negociação
de papéis sociais e valores, bem como a questão do controle de informação sobre si dentro de um
determinado grupo social ou sociedade, com o objetivo de controlar sua imagem a fim obter êxito
naquele contexto.
Entretanto, são os aspectos acima mencionados que se pretendem discutir neste trabalho, olhando
sobretudo, a questão do desvio e do controlo social. Pretende-se no entanto, levantar algumas
considerações sobre a questão do desvio e do controle social relacionando-os, à medida do
possível, com a noção de “desvio social”, noção indissociável da noção de controlo. Quanto a sua
organização, o presente trabalho obedece a seguinte estrutura: a presente introdução, onde se faz
a contextualização do estudo " O desvio e o controlo social", e apresentam-se os objectivos e as
metodologias usadas para a realização deste trabalho, o desenvolvimento, a conclusão e a sua
respectiva referência bibliográfica, onde se apresenta a lista de todos os autores citados no corpo
do trabalho.
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1. Objectivos do trabalho
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2. Definição de conceitos-chave
De acordo com Cusson (1996, p. 413), os sociólogos utilizam o termo ‘desvio’ para designar um
conjunto heterogéneo de transgressões, de condutas não aprovadas. Assim, o desvio é um
conjunto de comportamentos e de situações que os membros de um grupo consideram não
conformes às suas expectativas, normas ou valores e que, por isso, correm o risco de suscitar
condenação e sanções de sua parte. Um ato de desvio é antes de tudo um acto reprovado. O
desvio é essencialmente o produto de um juízo feito sobre uma dada conduta ou sobre uma
maneira de ser. Como tal não é uma propriedade inerente a certos comportamentos, e sim uma
qualidade que lhes é atribuída pelo contexto. Portanto, quando um acto outrora considerado
desvio já não desperta reacções, significa que deixou de ser desviante.
Gerhardt (1989, p. 17) afirma que cada sociedade, com o seu próprio padrão de cultura, que
determinará quais os padrões de comportamento que serão apontados como “normais” ou
“anormais”. Por isso, a “rotulação social” envolve não apenas apontar este ou aquele indivíduo
como doente mental, mas, além disso, indica dentro de uma certa “variedade de opções” que tipo
ou padrão cultural de comportamento estas pessoas devem adoptar.
Assim, o “desvio social” é uma categoria, ou seja, “não existente em si”, isto é, não
empiricamente constatada e sim como um produto da relação indivíduo-cultura-sociedade que, ao
determinar suas regras, acaba, também, criar seus “desvios”. Não obstante, o “desvio” é resultado
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de uma atribuição de forças sociais àqueles que não se enquadram no padrão de normalidade, isto
é, dentro de certas expectativas que construídas socialmente.
Para Kleinman (1980, p. 35, 36), as significações das características que apontam para um desvio
podem ser vistas, então, como que conduzidas a uma certa padronização, enquanto acções sociais
tipificadas e tipificadoras. Por isso, o autor afirma:
A expressão ‘controle social’ tem origem na sociologia. De forma geral é empregada para
designar os mecanismos que estabelecem a ordem social disciplinando a sociedade e submetendo
os indivíduos a determinados padrões sociais e princípios morais. Assim sendo, assegura a
conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e
sancionados.
Mannheim (1971, p. 178) a define como o “conjunto de métodos pelos quais a sociedade
influencia o comportamento humano, tendo em vista manter determinada ordem”. Na teoria
política, o significado de ‘controlo social’ é ambíguo, podendo ser concebido em sentidos
diferentes a partir de concepções de Estado e de sociedade civil distintas. Tanto é empregado para
designar o controlo do Estado sobre a sociedade quanto para designar o controle da sociedade (ou
de sectores organizados na sociedade) sobre as acções do Estado.
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Na perspectiva das classes subalternas, o ‘controle social’ deve se dar no sentido de estas
formarem cada vez mais consensos na sociedade civil em torno do seu projecto de
classe, passando do momento ‘econômico corporativo’ ao ‘ético-político’, superando a
racionalidade capitalista e tornando-se protagonista da história, efectivando uma
‘reforma intelectual e moral’ vinculada às transformações económicas. Esta classe deve
ter como estratégia o controle das acções do Estado para que este incorpore seus
interesses, na medida que tem representado predominantemente os interesses da classe
dominante, (Mannheim, 1971, p. 178).
Nesse olhar, o controle social, na perspectiva das classes subalternas, visa à actuação de sectores
organizados na sociedade civil que as representam na gestão das políticas públicas no sentido de
controlá-las para que atendam, cada vez mais, às demandas e aos interesses dessas classes. Neste
sentido, o ‘controle social’ envolve a capacidade que as classes subalternas, em luta na sociedade
civil, têm para interferir na gestão pública, orientando as acções do Estado e os gastos estatais na
direção dos seus interesses de classe, tendo em vista a construção de sua hegemonia.
De acordo com Siraque (2005, p. 87), o controle social é aquele que é realizado por uma pessoa,
grupo de pessoas ou por entidade legalmente constituída, com a finalidade de vigiar, examinar,
fiscalizar e colher informações sobre a função administrativa do Estado. Assim o controle social
tem a finalidade de controlar e fiscalizar os actos dos agentes que exercem funções junto ao
diferentes órgãos públicos de todos os níveis de poderes, executivo, legislativo e judiciário,
Por seu turno, Ojeda (2011, p. 89), o controle social se refere ao exercício de um direito pelos
cidadãos, através de mecanismos constituídos legalmente com a finalidade de vigiar, monitorar,
fiscalizar, e se necessário modificar a gestão do Estado realizada por políticos e/ou funcionários
públicos, o que afecta positivamente a eficácia do Governo em alcançar os objetivos propostos
pelas políticas públicas. Assim, o acto realizado individual ou colectivamente pelos membros da
sociedade, por meio de entidades juridicamente organizadas ou não, através dos diversos
instrumentos jurídicos colocados a disposição da cidadania para fiscalizar, vigiar, velar,
examinar, inquirir e colher informações a respeito de algo.
Quanto aos conceitos acima apresentados, pode-se perceber que controlo social tem a finalidade
de garantir a ordem, as relações de poder entre Estado e Sociedade e a execução de objetivos do
Estado. Portanto, é importante que se perceba que o controlo age no sentido de assegurar a ordem
social e isso se dá normalmente por meios que são legítimos. Assim, o professor pode castigar o
aluno se julgar necessário. Note-se que se o castigo for imputado na presença de outros colegas
da classe, o efeito “castigo” enquanto ajustamento às normas será bem mais “eficaz” se o mesmo
fosse proferido individualmente, pois todos poderão observar o que acontece com o aluno que
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“incomoda”. Logo, os alunos estarão cientes da fronteira entre o permissível e o proibido dentro
da sala de aula.
Vai se discutir a questão do desvio social e o controlo social dentro das perspectivas
estruturalista, funcionalista, fenomenológica e interaccionista de sociedade.
Durante muito tempo, no Ocidente, particularmente, prevaleceu a ideia de que cultura, só existia
nas sociedades civilizadas. Com o andar do tempo, a sociologia passou a utilizar o termo desvio
ao se referir a um conjunto de transgressões, aceitas como tal, num determinado contexto
sociocultural.
De acordo com Helman (1994, p. 217), [...] tais definições baseiam-se nas crenças
compartilhadas em um grupo cultural sobre o que constitui o modo ideal, apropriado, de um indi-
víduo conduzir sua vida com relação às outras pessoas. Essas crenças determinam uma série de
directrizes sobre o comportamento culturalmente normal e, também, como será discutido mais
adiante, sobre o comportamento temporariamente anormal. A normalidade é, geralmente, um
conceito multidireccional. Não apenas o comportamento individual é relevante, mas também o
modo de vestir, atitudes, corte de cabelo, cheiro, gostos, expressões faciais, tom de voz e o
vocabulário utilizado são levados em conta, bem como a apropriação de indivíduos em de-
terminados contextos e relacionamentos sociais.
Segundo Gerhardt (1989, p 204), numa perspectiva social e contemporânea, fica mais claro que é
cada sociedade, com o seu próprio padrão de cultura, que determinará quais os padrões de
comportamento que serão apontados como “normais” ou “anormais”. Por isso, a “rotulação
social” envolve não apenas apontar este ou aquele indivíduo como doente mental, mas, além
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disso, indica dentro de uma certa “variedade de opções” que tipo ou padrão cultural de
comportamento estas pessoas devem adoptar.
Portanto, relativamente ao acima exposto, fica evidente que a teoria do desvio social e controlo
social parte do pressuposto de que o desvio torna-se inteiramente vinculado à percepção que o
homem faz de si mesmo e do mundo à sua volta. Assim, fica mais claro, então, que é cada
sociedade, com o seu próprio padrão de cultura, que determinará quais os padrões de
comportamento que serão apontados como “normais” ou “anormais”.
Portanto, para o estruturalismo, a sociedade seria o conjunto de elementos que a formam, é uma
perspectiva no sentido de explicar uma parcela da realidade relacionando-a ao todo. Preocupa-se,
no entanto, em apreender o significado do controle para determinado grupo social, não se
esquecendo de sua relação com outras dimensões da vida humana. Isto é, deve ser avaliado como
uma estrutura a qual compreende funções, papéis, peculiaridades do grupo social estudado, suas
crenças, religião, costumes, na medida em que tudo isso (o todo) compõe tal estrutura.
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3.3. A teoria do funcionalismo e o controlo social
Para o funcionalismo, uma corrente que tem recebido uma série de críticas por membros
importantes de outras correntes de pensamento, considera-se que, as diferentes partes da
sociedade funcionam em coesão com o todo, como se fosse um organismo, metaforicamente
falando, em que as partes orgânicas eram de vitais importância para o organismo, interpretado
como o todo, a sociedade, ou a cultura. Desta forma, podia-se, dentro de uma perspectiva
funcionalista, investigar as diferentes partes da realidade social como fazendo parte de um
sistema mais amplo e não separadamente como se estivesse dissociadas do todo, (Bottomore e
Nisbet, 1980, p. 66).
De acordo com Moore (1980, p.425), o funcionalismo parte do pressuposto de que a preocupação
do funcionalismo centra-se na perda da credibilidade dos funcionalistas em detrimento às teorias
mais radicais de orientação neomarxistas, preferidas entre os jovens sociólogos. Não obstante,
uma análise do Funcionalismo nos mostra uma de suas ideias mais centrais. Os grupos humanos
possuem uma série de unidades diferenciadas e interdependentes entre si, compostas por pessoas,
famílias, estruturas de parentesco e categorias de ordem mais analíticas como idade e sexo. Isso
permite, nessa perspectiva, que a sociedade seja um modelo, uma formulação analítica. Assim,
considerando a diferenciação entre as partes e, sua interdependência, é possível perceber como se
dá essa comunicação entre as partes e o todo.
De igual modo, Moore (1980, p.425) sustenta que o fundamental, então, é entender que “[...]
partes diferenciadas desempenham várias funções interdependentes na manutenção da
visibilidade do organismo complexo como um todo.” Portanto, para o Funcionalismo, as
diferentes partes da sociedade funcionam em coesão com o todo, como se fosse um organismo,
metaforicamente falando, em que as partes orgânicas eram de vitais importância para o
organismo, interpretado como o todo, a sociedade, ou a cultura. Desta forma, podia-se, dentro de
uma perspectiva funcionalista, investigar as diferentes partes da realidade social como fazendo
parte de um sistema mais amplo e não separadamente como se estivéssemos dissociadas do todo.
Portanto, nessa teoria o controle social, limita os desvios, uma vez tomado a problemática da
integração social como fundamental ao Funcionalismo. Assim, os mecanismos de controlo Social
seriam accionados graças a uma situação de desequilíbrio entre objetivos e meios e o ambiente
social tornasse favorável ao aparecimento desses indivíduos anômicos, justamente pelo
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afrouxamento de normas e valores que governam o sistema social. Assim, o controle seria
dirigido àqueles membros divergentes que não internalizariam as regras de conduta de seu
sistema, sociedade ou cultura.
3.4. O controlo Social na teoria fenomenológica
De acordo com Garfinkel (1967, p. 87), a fenomenologia sociológica, tida como uma espécie de
sociologia da vida quotidiana busca compreender as maneiras pelas quais os membros comuns de
determinada sociedade constroem e atribuem significados a sua vida quotidiana, introduzindo
assim elementos capazes de sustentar as bases teóricas de autores etnometodológicos e contribui
significativamente ao processo de construção do conhecimento na medida em que acredita que as
Ciências Sociais devem se direccionar para as acções do quotidiano, daquilo que é vivido e
experienciado pelas pessoas.
O controlo Social na perspectiva fenomenológica seria pensado sob o aspecto que tem
sobre a consciência de indivíduos ou grupos sociais. Isto é, não se deve pensar o
controlo Social “em si”, como se fosse algo abstraído da consciência, mas sim, procurá-
lo, eticamente, apreendendo seus significados conscientes para indivíduos ou grupos
específicos. Assim, as relações face a face e a vida quotidiana são o tempo e o espaço
privilegiados na etnometodologia. Assim, deve-se observar (interpretar/compreender)
como diferentes indivíduos têm o elemento Controle agindo em sua consciência, e como
estes organizam sua vida quotidiana, como acham este fenómeno “normal” e, até
mesmo, relativizar no sentido de entender como para outros grupos, diferentes dos
primeiros, podem considerá-lo “não normal” ou “desviante”, (Schütz, 1975).
Portanto, os fenómenos sociais, para a Fenomenologia, são buscados ao nível de seu significado e
sua análise extrapola a simples apresentação e explanação desses fenómenos à consciência.
Assim, a consciência que as pessoas têm sobre a noção de controlo social não se forma de uma
única vez, mas de um conteúdo determinado, não fechado em um momento e em um local
determinado. Pode vir de diferentes formas, como também de diferentes experiências, mas não
todas elas, apenas as que ficaram solidificadas em sua consciência.
Não obstante, o controlo surge no intuito de uma tentativa de garantir a previsibilidade de
diferentes acções e manifestações no comportamento humano, pois todo aquele comportamento
“diferenciado” dos demais, diferente dos tidos como “normais”, representa um estímulo à defesa
da sociedade. Assim, os mecanismos de controlo são accionados para tentar evitar os
“imprevistos”, o “diferente”, o “desvio”, em um sentido mais amplo.
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3.5. O desvio e controlo social em interaccionismo
Bottomore e Nisbet (1980, p. 107) afirmam que para o interaccionismo, a compreensão das
diferentes manifestações do comportamento humano acontece não a partir daquele indivíduo
“inadaptado”, termo próprio das teorias evolucionistas, mas sim como alguém que utiliza os
mesmos recursos simbólicos de uma sociedade mais ampla, interpretando-os de forma diferente,
às vezes contraditória. Então, no que se refere ao estudo do comportamento “desviante” e seu
controle, a problemática da “diferença” está justamente na leitura feita por pessoas ou grupos
sociais que é também diferente da maioria ou do tido como consensual.
Portanto, a temática central da escola interaccionista é a compreensão das diferentes formas pelas
quais as pessoas reagem a determinadas situações, dever-se-ia, grosso modo, procurar respostas
considerando o indivíduo, sua inserção na sociedade e os diferentes contextos sociais nos quais
tais relações se processam. Isso significa que não são somente as condições estruturais capazes de
explicar a acção humana, embora sejam necessárias para a apreensão da realidade.
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Conclusão
Este trabalho teve como objetivo geral analisar o desvio e o controlo social numa perspectiva
social, e olhando sobretudo, as correntes sociológicas.
Portanto, da pesquisa desenvolvida percebeu-se que o controlo social é percebido como uma série
e mecanismos ou instrumentos utilizados pela sociedade, ou por um grupo social, com o objetivo
implícito ou explícito de controlar os comportamentos (ou diferentes manifestações destes) e
acções diferentes ao seu sistema, enquanto que o desvio social ocorre quando o indivíduo ou
grupo não corresponde às normas de uma determinada cultura.
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Referências bibliográficas
Bottomore, T.; Nisbet, R. (1980). História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar
Bourdieu, P. (1990). Espaço social e poder simbólico. In: Bourdieu, P.. Coisas ditas. São Paulo:
Brasiliense
Gerhardt, U. (1989). Ideas about Illness: an intellectual and political history of medical
sociology. Macmillan
Kleinman, A. (1980). Patients and healers in the context of culture: na exploration of the
Borderland between Anthropology, Medicine, and Psychiatry. University of California
Press
Ojeda, Maurício Garcia. (2011). Capital social y clientelismo: otra limitación para el controlo
social. Revista de la Universidad Bolivariana.
Schütz, A. (1975). Collected papers: the problem of social reality. The Hague: Martinus Nijjoff
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