Professional Documents
Culture Documents
Direito Constitucional I
Direito Constitucional I
III. CONSTITUIÇÃO
1. CONCEITO E TIPOS
Constituição:
1. A constituição não pretende regular tudo o que diz respeito ao Estado, apenas:
o As regras básicas relativas a organização do poder político do Estado;
o Definição dos direitos e liberdades dos cidadãos;
o Acatamento de normas constitucionais.
4. A constituição não é uma lei fundamental da sociedade, ainda que possa ser vista
como parte da ordem fundamental para a sociedade:
MATERIAL:
Parte da delimitação das matérias a que deve ser reconhecida dignidade constitucional-
corresponde àquilo que definimos como objeto de estudo do Direito constitucional.
Nestes termos, o que permite verificar se uma determinada norma é constitucional ou não é o
seu conteúdo material, seja qual for a forma que apresente (escrita ou não escrita, positiva ou
costumeira, em lei avulsa ou documento solene).
FORMAL
Neste caso o que permite verificar se determinada norma jurídica é constitucional ou não,
é:
o O procedimento adotado;
o O lugar que ocupa no ordenamento;
o A sua positivação num texto solene.
INSTRUMENTAL
Existir sempre uma constituição em sentido material, ainda que possa faltar a
constituição em sentido formal;
2) A ideia de constituição instrumental não é muito relevante, sendo que o seu conceito
se dissolve no conceito de Constituição em sentido formal.
Constituições concisas: são aquelas que formulam apenas as regras gerais básicas
relativas à organização dos poderes do Estado, aos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos e à garantia da Constituição.
Associadas a:
o Normatividade,
o Estabilidade;
o Maior capacidade de adaptação do texto ás mudanças sociais e politicas.
Associadas a:
o Inefetividade;
o Instabilidade constitucional;
o Revisionismo constitucional;
o Incapacidade de regulação do processo político.
As Constituições programáticas:
o Organização do poder político e dos direitos fundamentais dos cidadãos;
o Fixa um conjunto de objetivos, programas e metas a alcançar pelo Estado
no domínio económico, social e cultural- procura dirigir a sociedade.
Constituição rígida:
Constituição flexível:
o Podem ser alteradas pelo processo estabelecido para as leis ordinárias;
o Por norma, as constituições não escritas são flexíveis.
Paradoxo:
Apesar das normas fundamentais da constituição não escrita britânica serem fáceis de alterar
por simples lei parlamentar, as mesmas permanecem relativamente estáveis.
Por sua vez, não esta dito que a adaptação das constituições escritas à mudança não se faça
também ela mais pela interpretação, pela prática e convenções constitucionais.
Segundo o autor Karl Lowenstein, uma Constituição é o que dela fazem em termo práticas os
titulares e os destinatários do poder e, para ser viva na prática, uma constituição tem de ter
um clima nacional apropriado a sua realização- disto resultam os conceitos acima.
Constituição normativa:
o As normas regulam efetivamente o processo político;
o Processo político ajusta-se ele próprio a tais normas;
o A sua primeira função é a limitação do poder do Estado;
o “Fato que serve e é efetivamente usado”.
Constituição nominal:
o Não consegue regular o processo político, ficando sem realidade existencial,
por falta de correspondência na prática política;
o “Fato que por enquanto está no armário à espera de ser usado quando o
corpo político nacional crescer”.
Constituição semântica:
o A realidade ontológica é a formalização do poder político existente em
benefício exclusivo dos detentores de facto do poder, que dominam a
máquina de coação do Estado;
o Ao passo que a 1ª função da constituição normativa é a de limitar o poder do
Estado, a constituição semântica serve para estabilizar e perpetuar uma
determinada classe política no poder;
o “O fato não é honesto, é apenas um disfarce”.
1) Relevância da tipologia:
2. PODER CONSTITUINTE
Poder constituinte material: poder definir, segundo uma determinada ideia de Direito, o
conteúdo da Constituição, traduzido nas várias estruturas da mesma (formas de Estado,
regime político, sistemas de governo…).
Poder constituinte formal: poder de adotar normas com força jurídica superior das leis
ordinárias- poder de adotar uma Constituição em sentido formal.
Atribuindo ao povo o fundamento da autoridade soberana- que até aqui era reconhecida a
Deus ou ao Príncipe.
Características:
Originário- nenhum outro poder lhe pode servir de fundamento (dizendo-se que era
logica/cronologicamente anterior a constituição);
O poder constituinte é:
Natureza:
Essencialmente um poder jurídico- por trazer consigo a afirmação de uma nova ordem
de validade, expressa nos princípios que dão corpo a nova constituição material;
Democrática:
Através da eleição de representantes para uma Assembleia que discute, elabora e vota
uma Constituição (democracia representativa);
Não democrática:
Revisão constitucional:
Por regra, é uma modificação parcial, visando a continuidade institucional- ainda que
por vezes se preveja a revisão total ou uma transição constitucional (rutura com a
constituição material anterior);
Constituição rígida: aquela que não pode ser modificada pelo mesmo processo adotado para a
elaboração de leis ordinárias- estão sujeitas a limites formais, materiais e temporais.
Relevância relativa (Jorge Miranda): limites materiais têm valor jurídico, mas podem ser
removidos através de uma dupla revisão. Num 1º momento se altera a norma de limites, e
num 2º momento as normas que estavam protegidas por aqueles limites.
Defende-se esta última tese através dos seguintes postulados jurídicos acerca do poder de
revisão constitucional:
! Fenómeno que se tem passado pelo menos desde 2011: Constituição portuguesa numa
situação de coma jurídico.
3. ESPECIFICIDADE DA CONSTITUIÇÃO
No entanto, nem tudo deve ficar em aberto na constituição- não devem ficar em aberto as
bases fundamentais da ordem da comunidade:
Tudo isto na medida em que se espera que a Constituição fixe efetivamente aquilo que deve
ser considerado.
Constituição é uma ordem-quadro- pretende-se salientar que nem tudo está predefinido na
Constituição.
A ideia de ordem quadro remete para o facto de a Constituição consistir numa ordenação
parcial e fragmentaria- trata-se de uma “ordem fundamental” (básica), deixando desde logo
em abertodiversas opções políticas:
1º:
A Constituição estará sempre longe de constituir uma codificação exaustiva- estabelece uma
rede de princípios que se mostram carecidos de posterior complementação, através da ação
dos diversos poderes constituídos do Estado.
O constituinte definiu a moldura externa – deixa o resto aos demais participantes no processo
de realização da Constituição.
2º:
Rigidez e flexibilidade.
Tanto num sentido como no outro, as principais implicações da ideia prendem-se com:
Olhando para a Constituição como algo mais vasto- sistema de valores, princípios, regras e
procedimentos.
Exemplos:
Antes de mais proclama a sua adesão ao valor da dignidade humana- que declara ser uma base
desta comunidade política- e aos valores da liberdade, justiça e solidariedade- que declara
serem fins a prosseguir por essa mesma comunidade política.
Artigo 24º, nº1: a vida humana é inviolável- segundo a Doutrina, estaria aqui enunciado um
princípio aqui. *
Artigo 24º. Nº2: em caso algum haverá pena de morte- segundo a Doutrina estaria aqui
enunciada uma regra. *
Não podemos resumir este preceito a uma única norma, dado que dele decorrem pelo menos
quatro normas diferentes.
Não se pode negar que a vida humana seja também aqui proclamada como valor.
Valores:
Sinalização das opções fundamentais, das linhas diretrizes e dos fins que uma concreta
comunidade política escolheu em determinado momento,
Os princípios e as regras:
São as duas formas que podem apresentar as normas constitucionais, exprimindo em qualquer
um dos casos um dever ser (caracter deontológico).
Mas uma constituição onde só existissem princípios seria geradora de incerteza e insegurança
jurídica, caindo facilmente num “Estado jurisdicional” (sistema onde a última palavra compete
sempre ao Tribunal Constitucional).
Por outro lado, o procedimento é uma estrutura que emerge da Constituição para a garantia
da liberdade e para a racionalização do poder político.
Todas estas especificidades da Constituição- o seu conteúdo politico; o ser uma ordem-quadro
carecida de concretização; o ser uma ordem aberta sobre o económico, politico e social;
ordem jurídica de onde abundam os princípios, as ponderações e a referencia a valores- teriam
de se projetar no plano da garantia das normas constitucionais.
A começar na criação de uma subfunção especial do Estado a qual essa fiscalização da garantia
teria de ser confiada.
Partindo de um conhecimento aprofundado das realidades políticas e jurídicas que lhe são
trazidas
Num quadro de globalização acentuada, devemos saber olhar para a Constituição como uma
estrutura normativa rodeada por uma serie de outras normas de relevância constitucional,
mesmo que não sejam formalmente constitucionais- a estas outras nomas chamamos “redes
de regulação constitucionais”, sendo estas:
Declaração universal dos direitos do Homem de 1948, que foi objeto de uma receção
formal, bem como os princípios cooperativos;
Normas de Direito Europeu que são aplicáveis na ordem interna nos termos definidos
pelo Direito da União, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito
democrático (artigo 8º, nº4).
Muitas das normas do Tratado da União Europeia ou da respetiva carta dos direitos
fundamentais têm natureza materialmente constitucional, ou até mesmo valor
supraconstitucional;
Convenção Europeia dos direitos do Homem de 1950, cujas normas são assistidas por
uma instância jurisdicional europeia equivalente a um Tribunal Constitucional, o
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem;
Em sistemas de Constituição escrita e no âmbito da nossa cultura jurídica, são fontes imediatas
do Direito Constitucional:
Lei Constitucional;
Costume Constitucional;
Interpretações.
Características:
Pode ir além destes elementos, como sucede no caso francês, com a inclusão no corpus
constitucional dos preâmbulos das Constituições de 1946 e de 1958, e da própria Declaração
dos Direitos do Homem de e do Cidadão de 1789.
Trata-se de uma atuação desenvolvida no âmbito do ius dicere- não sendo por isso
nem ato da função constituinte, nem de qualquer das funções primarias do Estado,
ainda que lhes seja funcionalmente equivalente;
Princípio do pedido;
Natureza e objeto do processo;
Necessidade de decisão do caso;
O aquis jurisdicional anterior;
O resultado exprimir ainda a fidelidade à Constituição posta- não correspondendo a
uma opção ou ato de criação dos juízes.
Prática reiterada;
Convicção de obrigatoriedade.
Especificidades:
O costume contra legem é o que tem encontrado maior resistência na doutrina constitucional:
Um tipo de costume contra legem mais frequente é o desuso- simples inefectividade das
normas constitucionais escritas.
Em abstrato:
Em concreto:
Vão mais além, por exemplo os preâmbulos das Constituições francesas de 1946 e 1958
(projetam uma abertura do catálogo de direitos fundamentais), ou da Constituição da
República da China (é no preâmbulo que se procede ao balanço, enquadramento e prospetiva
da sua ordem constitucional).
Ainda que resulte de um ato do poder constituinte e possa eventualmente considerar-se parte
da Constituição:
O preâmbulo não pode ser evocado isoladamente;
Não cria direitos nem deveres;
Não há inconstitucionalidade por violação do preambulo;
Nada impede a possibilidade de revisão do preambulo, independentemente da sua
feição histórica e simbólica.
Têm diferente:
Princípios são normas que exigem que algo se realize na melhor medida possível,
dentro das possibilidades fácticas e jurídicas existentes.
Já as regras são normas que se preenchem ou não se preenchem.
Os princípios têm especifica dimensão de peso, força ou importância- tal mostra-se
particularmente relevante nas situações de colisão de princípios, dando origem a
problemas de eficácia, mas não de validade.
Já no caso de duas regras entrarem em colisão, uma delas é invalida.
Esta primeira classificação baseia-se no objeto das normas, o qual pode incidir sobre:
As normas programáticas não podem ser diretamente invocadas pelos cidadãos, nem dão
origem a direitos subjetivos fundamentais.
As normas exequíveis são aplicáveis por si mesmas, sem necessidade de lei que as
complemente (artigos 12º, 24º, 42º, 43º, 44º, 45º, etc).
As normas não exequíveis carecem de outras normas legislativas para serem aplicáveis às
situações da vida (artigos 26º, nº2/ 40º/ 41º, nº6/ 52º, nº3/ 61º, nº4/ etc).
(4)
Normas:
Estrutura:
Dogmática:
São situações de vantagem da pessoa na sua relação com o Estado- estão em geral previstas
nos artigos 24º ao 79º da CRP.
Direitos, liberdades e garantias (do artigo 24º ao 57º), em regra enunciados por normas
preceptivas e exequíveis em si mesmos.
Direitos económicos, sociais e culturais (artigo 58º ao 79º), em regra, enunciados em normas
programáticas e não exequíveis em si mesmas.
Cabe então à dogmática constitucional explicar quais são os elementos que compõe um direito
fundamental, as suas relações e ligações e funções.
Por exemplo:
Artigo 24º, nº1, CRP- é constituído por um conjunto de normas e por vários subdireitos. O
Estado tem relativamente a esse direito deveres de respeito e proteção, não podendo descer
abaixo de um certo patamar de proteção.
O artigo 36º, nº2, é uma garantia institucional- uma estrutura constitucional que protege uma
instituição ou realidade social, neste caso, já existente na ordem jurídica.
Há ainda deveres fundamentais, como é o caso do artigo 36º, nº5 ou o 66º, nº1.
Um dever fundamental é uma estrutura que define uma situação jurídica passiva básica da
pessoa consagrada na Constituição- neste caso em vez do direito a pessoa está obrigada a
praticar ou não determinado facto. Podem servir de restrições a direitos fundamentais.
Aqui definem-se:
Os princípios fundamentais da regulação e organização do poder político (18 grandes
princípios);
Normas sobre os órgãos de soberania (Presidente da República, Assembleia da
República, Governo e Tribunais);
Normas sobre outros órgãos constitucionais da República;
Normas sobre o sistema eleitoral e o sistema de governo;
Outras pessoas coletivas e infra estaduais;
Administração publica em geral.
Encontramos aqui
Ambas constituem procedimentos- uma estrutura que se define por ser uma serie
ordenada de atos e formalidades com vista à produção de um resultado.
6. FUNÇÕES DA CONSTITUIÇÃO
Partindo da distinção, feita pelo Professor Konrad Hesse, entre funções da constituição e
tarefas fundamentais da Constituição- é no âmbito de desenvolvimento destas tarefas que se
coloca o tópico das funções da Constituição.