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O Que C3a9 Lingua2
O Que C3a9 Lingua2
O QUE É
LÍNGUA
2~ edição
editora brasiliense
O QUE É UMA LÍNGUA-
À PRIMEIRA AUDIÇÃO
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O QUE É UMA LÍNGUA
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14 Antônio Houaiss
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O UNIVERSO VERBAL
língua pode ter duas mil, três mil cem mil palavras - e cada
falante dessa língua pode contentar-se (ou bastar-se, ou resig-
nar-se) com uma parte desse estoque de palavras, segundo
for o meio em que viva, o que faça e como o faça. Por isso,
costuma-se dizer que o conjunto de palavras - ou o léxico, ou
o vocabulário, ou o dicionário etc. - de uma língua é aberto,
porque, com o tempo, tanto pode ocorrer que algumas de suas
palavras desapareçam (ou deixem de ser usadas) quanto pode
ocorrer que algumas palavras nasçam ou sejam criadas ou
sejam tomadas de empréstimo de outras línguas.
Se tomo como objeto de observação uma palavra como
(por exemplo) azul e a ponho numa cadeia falada, verei que
seus limites fónicos são indecisos ou imprecisos: o azul faz-me
sonhar Iwa-' zul-faj-mi-so- ' qnhar I , este azul é forte Iex-tya-
, zu-le- 'for-ti I , dum lápis azul preciso Id u-' la-pi-za- ' zul-pre-
, si-zu I, se for azul ou preto I si-fo-ra- ' zu-low-ápre-tu I : noto
que no primeiro caso, I wa-' zull , no segundo, I tya-' zu-le I, no
terceiro, I za- ' zulj e no quarto, Ira-' zu-low j. os seus limites
fónicos são difusos; e noto mais que, em frases como o azul
pode-oferecer vários matizes (azul=cor) , o azul me dá vontade
de voar (azul=céu). mergulhei naquele azul imaculado
(azul = mar) , também o significado, se não é difuso, é pelo
menos flutuante, cond icionado, dependente do contexto (das
palavras) e da situação (dos interlocutores) . Isso me permite
dizer que, tanto na cadeia fónica quanto na cadeía sígnica, os
'limites' da palavra são imprecisos, o que me permite dizer que
a 'palavra', como tal, é difusa, imprecisa, indelimitada, havendo
até quem diga que ela não existe: o que haveria seria apenas
ur:n núcleo fónico e um núcleo sígnico associados. Ademais,
há línguas em que sequer há um núcleo fónico compactamente
falando, como no árabe, em que, por exemplo, k-1-b : 'cão
genérico' é al-kalb 'o cão, um cão', kleb 'cães', kalbeyn 'dois
cães' e por aí afora. Num nível mais alto de generalização, o
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MAS, NO TEMPO, DESDE QUANDO
FALAMOS?
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A EXPANSÃO DAS LÍNGUAS:
UM ESQUEMA IDEAL
com Homo ; é possível que em lugar de ser com ele, tenha sido
nele, alguns muitos {ou poucos) milhares de anos depois: mas,
no clã em que isso terá ocorrido- ou nos clãs -, -a supe-
rioridade de sobrevivência desses 'mutantes' terá sido tal que,
na competição, os 'mudos' terão tendido a desaparecer. O fat
é que, a partir de 'então' , não terá havido língua que não tenha
provindo de língua preexistente.
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UM 'TEMPO' DIFERENTE
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mana, a urri máximo de 2 milhões de anos .
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A CISSIPARIÇÃO ANTES
DA DIFUSÃO
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O ÔNUS DA HOMINIZAÇÃO
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O CIMENTO HUMANO
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QUANTAS LÍNGUAS
HÁ HOJE EM DIA?
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UM POUCO DE NOMENCLATURA
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UM COTEJO: PASSADO-PRESENTE
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CLASSIFICAÇÃO DAS LÍNGUAS:
ESTADO ATUAL
O indo-europeu
O camito-semítico-cuchítico
As ·línguas dravídicas
As línguas aglutinantes
As línguas turcas
As línguas fino-ugrianas
O basco
mal: para dizer 267, por exemplo, dir-se-á 'trezes vezes vinte e
sete'.
O japonês
O mongol
As línguas amerínd'ias
O malaio-polinésio e o cn:a.er
As línguas da Oceania
Pidgins e crioulos
Têm em comum o fato de se haverem erigido como
línguas para a comunicação entre pessoas de origem diversa
do ponto de vista linguageiro. Mas o pidgln o é entre pessoas
. que conservam sua língua original, constituindo, assim, uma
'segunda' língua do usuário, enquanto o crioulo substitui a
língua ou línguas de origem das populações que o adotam. Há
na África o pidgin particularmente dito, o fanacado e o songa,
já antes referido; nas Novas Hébridas, o bichalamar (do portu-
guês bicho do mar, nome de uma holotúria ou pepino-do-mar,
objeto de intenso comércio com os chineses, no século XVIII ,
devoradores glutões dessa espécie então abundante nos ma-
res da área) se desenvolveu para vincular pescadores que
falavam aí mais de 100 línguas diferentes.
Como crioulos, registre-se o de base portuguesa em
Malaca, o papiamento, de base espanhola, nas Antilhas neer-
landesas; o sango, da República Centro-Africana, corri base
em várias línguas africanas, o haitiano (7 milhões) , de base
francesa, os crioulos também de base francesa das ilhas da
Reunião, Maurício, Seychelles, o crioulo de São Tomé e Prín-
cipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau, de base portuguesa .
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EM BUSCA DO PASSADO
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MEMÓRIA E ESCRITA
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Sobre o autór
ANTONIO HOUAISS foi professor, diplomata e desde sempre
. lexicógrafo (com vários dicionários publicados, além de redator-chefe
das duas mais modernas enciclopédias brasileiras, a Delta-Larousse
e a Mirador Internacional) . Autor de estudos críticos e lingüísticos, tem
também incursões em outras áreas (política, gastronomia, ensaística
social) . É membro da Academia Brasileira de Filologia e da Academia
Brasileira de Letras. Desde 1986 elabora, com um grupo de trabalho,
um grande dicionário da língua portuguesa para a Academia Brasileira
de Letras. Nascido em 1915, em Copacabana, espera não ultrapassar
este século, mas sempre trabalhando .. .
Ca ro leitor:
As opiniões expressas neste livro são as do autor,
podem não ser as suas. Caso você ache que vale a
pena escrever um outro livro sobre o mesmo tema,
nós estamos dispostos a estudar sua publicação
com o mesmo título como " segunda visão " .
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1980/1990- chegando aos 250 títulos