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POEMA UM LANCE DE DADOS JAMAIS ABOLIRA O ACASO por STEPHANE MALLARME PREFACIO C= de que esta Nota no fosse lida ou caso fosse percorrida que logo a es- ‘quecessem; pois ensina, ao Leitor habil, pouca coisa para além de sua penetragio: mas, pode perturbar o ingénuo que tem de dar uma olhada nas primeiras palavras do Poema, a fim de que as seguintes, dispostas como estio, 0 conduzam 4s iiltimas, 0 todo sem novidade além do espagamento da leitura. Os “brancos”, com efeito, assu- mem importincia, chocam de inicio; a versificagio os exigiu, como siléncio ao redor, ordinariamente, até 0 ponto em que um fragmento, lirico ou de poucos pés, ocupe, no meio, por volta de um terco da folha: nio transgrido essa medida, apenas a disper- so. O papel intervém cada vez que uma imagem, por si mesma, cessa ou se recolhe, aceitando a sucessio de outras e, como nao se trata, assim como sempre, de tragos so- noros regulares ou versos — antes, de subdivisdes prismaticas da Ideia, o instante de aparecerem e que dura seu concurso, em alguma encenagio espiritual exata, é em lugares variéveis, perto ou longe do fio condutor latente, em razio da verossimi- Ihanga, que se impée o texto. A vantagem, se tenho 0 direito de dizer, literdria, dessa distancia copiada que mentalmente separa grupos de palavras ou as palavras entre si, parece acelerar por vezes retardar 0 movimento, escandindo-o, intimando-o mesmo segundo uma visio simultinea da Pagina: esta tomada por unidade assim como em outra parte o Verso ou linha perfeita.A fic¢io aflorard e se dissipar4, rapido, conforme a mobilidade do escrito, em torno das interrupgGes fragmentirias de uma frase capi- tal desde o titulo introduzida e continuada. Tudo se passa, por atalhos, em hipétese; evita-se a narrativa. Soma-se que este emprego a nu do pensamento com retragdes, prolongamento, fugas, ou seu desenho mesmo, resulta, para quem queira ler em voz alta, uma partitura.A diferenga dos caracteres tipograficos entre o motivo preponde- rante, um secundério e adjacentes, dita sua importincia na emissio oral e a disposi¢o na pauta, média, no alto, embaixo da pagina, notar o subir ou o descer da entonagio. ~ ares Apenas certas diregdes muito ousadas, usurpagdes etc., que formam o contraponto desta pros6dia, permanecem em uma obra, a qual faltam precedentes, em estado ele- mentar: ndo que eu tenha estima pela oportunidade de ensaios timidos; mas nao cabe a mim, além de uma paginagio especial ou de volume que é meu, em um Periédico, por mais valoroso, gracioso e convidativo que se mostre as belas liberdades, agir por demais contrariamente aos usos. Terei, contudo, indicado do Poema anexo, mais do que 0 esbogo, um “estado” que nao rompe em todos os pontos com a tradigao; im- pulsionado sua apresentago em muitos sentidos tio adiante que nJo ofusque nin- guém: o suficiente, para abrir olhos. Hoje ou sem presumir o futuro que sairi daqui, nada ou quase uma arte, reconhecamos facilmente que a tentativa faz parte, com im- previstos, de investigacdes particulares ¢ caras a nosso tempo, o verso livre e © poema em prosa, Sua reunio se cumpre sob uma influéncia, eu sei, estrangeira, a da Mésica ouvida em concerto; na qual encontram-se varios meios que me parecem pertencer as Letras, eu os retomo. O género, que se torne um como a sinfonia, pouco a pouco, a0 lado do canto pessoal, deixa intacto o antigo verso, 0 qual mantenho um culto e atribuo 0 império da paixdo e dos devaneios; enquanto seria o caso de tratar, de pre- feréncia (assim como segue), tais assuntos de imaginagio pura e complexa ou intelec~ to: que nao existe nenhuma razio para exclui-los da Poesia ~ dinica fonte. 82 UM LANCE DE DADOS | | JAMAIS AINDA QUE LANCADO EM CIRCUNSTANCIAS ETERNAS DO FUNDO DE UM NAUFRAGIO ~ 5 SEJA. que o Abismo branco estanque furioso sob uma inclinagio plane desesperadamente de asa asua ja ~ 86 antes caida de um mal de algar voo e cobrindo os jorros . cortando rente os saltos no mais interior resuma asombra afundada na profundeza por esta vela alternativa até adaptar 4 envergadura sua escancatada profundeza enquanto casco de um barco pendido de um ou de outro lado ~ 875 O MESTRE surgido inferindo dessa conflagracio que se como se ameaca 0 tinico Numero que nao pode hesita cadaver pelo brago melhor do que jogar manjaco envelhecido a partida em nome das ondas uma naufragio isto ~~ Bes fora de antigos calculos onde a manobra com a idade esquecida outrora ele empunhava o leme a seus pés do horizonte unanime prepara se agita e mescla no punho que o apertava um destino e os ventos ser um outro Espirito pata atiré-lo na tempestade repregar-lhe a divisao e passar altivo separado do segredo que encerra invade a cabeca escorre em barba submissa direto do homem sem nau nao importa onde va ~ 895 ancestralmente a no abrir a mao ada para além da inutil cabeca legado na desaparicio para alguém ambiguo o ulterior deménio imemorial tendo de paragens nulas induzido o velho a versar para esta conjun¢do suprema com a probabilidade aquele sua sombra pueril acariciada e polida e aparada e lavada amaciada pela vaga e subtraida - dos ossos duros perdidos entre as pranchas nascido de um folguedo o mar pelo ancido tentando ou 0 ancido contra o mar uma sorte ociosa Nupcias cujo véu de ilusao reflete sua obsessio como o fantasma de um gesto vacilard abordaré loucura ~ 9005 JAMAIS ABOLIRA mw COMO SE 92 Uma insinuagado ao siléncio em algum préximo volteia simples enrolada com ironia ou 0 mistério precipitado ui turbilhao de hilaridade e de horror em torno a voragem sem o juncar nem fugir e embala seu.virgem indicio ~ 3-5 COMO SE pluma solitdria perdida salvo 4 que a encontre ou a evoque uma touca de meia-noite e imobilize no veludo amarrotado por um riso sombrio esta brancura rigida derrisbria em oposigéo ao céu démais para néo marcar exiguamente quem quer que principe amargo do escolho dela se penteie como do heroico irresistivel mas contido por sua irrisbria razdo viril 95 em firia inquieto expiratério e pubere mudo A hicida e senhorial crista na face invisivel cintila depois sombreia uma estatura delicada tenebrosa em sua torso de sereia com impacientes escamas tltimas ~ 95 riso que SE de vertigem de pé o tempo de esbofetear bifurcadas uma rocha fala manséo stibito evaporada em brumas que impos uma borda ao infinito woe SERIA pior mais nem menos ~ 85 FOSSE salda eselar indiferentemente mas tanto. quanto O NUMERO EXISTIRIA dlistinto da alucinagio esparsa da agonia COMECARIA E CESSARIA surdindo de negado ¢ ocluso quando surgido enfim por alguma profuséo ampliada em raridade CIFRAR-SE-IA evidéneia da soma por pouco apenas uma ILUMINARIA O ACASO Cai a pluma ritmico suspense do sinistro sepultar-se nas espumas originais de onde hd pouco sobressaltou seu delirio até um cimo Senecido pela neutralidade idéntica da voragem ~99 NADA 100 da memordvel crise ou se tivesse © acontecimento cumprido em vista de todo resultado nulo humano . TERA TIDO O LUGAR uma elevacéo ordindria verte a auséncia SENAO O LUGAR inferior marulho qualquer como que para dispersar 0 ato vazio abruptamente que senéo por sua mentira teria fundado a perdicéo nessas_paragens do vago em que toda realidade se dissolve wore EXCETO na altitude TALVEZ 1025 tao longe quanto um lugar fusiona com o além fora o interesse quanto a ele assinalado em geral segundo tal obliquidade por tal inclinagdo de fogos versar para deve ser o Setentriéo também Norte UMA CONSTELAGAO fria de esquecimento e de desuso nao tanto que ela nao enumere sobre alguma superficie vacante e superior © choque sucessivo sideralmente de um contar total em formacdo vigiando duvidando rolando brilhando e¢ meditando antes de se deter em algum ponto derradeiro que o sagre Todo Pensamento emite um Lance de Dados ~ 103-5 ow um homem de certa idade. A natureza de minha ocupagao nos tiltimos trinta anos fez com que eu tivesse um contato pouco comum com certo grupo de homens aparentemente in- teressantes e um tanto diferentes, a respeito dos quais nada, que eu saiba, jamais foi escrito... Refiro-me aos copistas ou escrivaes. Conheci varios deles, nos negécios e em particular, e se qui- sesse poderia contar muitas histérias que fariam sorrir os homens de boa fndole e chorar as pessoas sentimentais. Mas abri mao das biogra- fias de todos os outros escrivdes para contar algumas passagens da vida de Bartleby, que foi o mais estranho de todos os escrivaes que jamais encontrei ou ouvi falar. Talvez eu pudesse escrever a vida completa de outros copistas, mas néo é posstvel fazer isso com Bartleby. Creio que ndo existe material suficiente para uma biografia integral e satis- fat6ria desse homem. E uma perda irrepardvel para a literatura. Mas Bartleby era uma dessas criaturas a respeito das quais nada se pode averiguar, exceto nas fontes diretas, e estas, no seu caso, eram muito poucas. Aquilo que vi, espantado, com os meus prdprios olhos, é tudo o que sei a respeito de Bartleby, cujo relato farei a seguir. Antes de apresentar o escrivao tal como ele me apareceu, seria bom fazer referéncias a mim, aos meus employés, a minha ocupacao, as minhas audiéncias e adjacéncias; isto porque tal exposigdo é indis- pensdvel para uma compreensdo adequada do personagem principal prestes a ser apresentado. Imprimis: sou um homem que desde a juventude sempre teve a ‘mais firme convicgao de que a forma de vida mais facil é a melhor. Por isso, embora a minha profissdio seja tradicionalmente agitada e nervo- sa, ou até mesmo tumultuada, nunca deixei que os problemas pertur- bassem a minha paz. Sou um daqueles advogados pouco ambiciosos, que nunca se dirigem a um jiiri e nunca conseguem arrancar aplausos do piiblico; mas que, na trangiiilidade de um retiro confortdvel, fazem negécios trangitilos com agées, hipotecas e as propriedades dos homens ricos. Todos os que me conhecem me consideram um homem extrema- mente meticuloso. O finado John Jacob Astor’, um personagem pou- co afeigoado ao entusiasmo poético, nao hesitou em dizer que a minha 1 John Jacob Astor (1756-1848), imigrante alemdo, comerciante de md repu- taco e, quando de sua morte, o homem mai rico de Nova York, (n-e.) | primeira virtude era a prudéncia, e que a segunda era o método. Nao falo por vaidade, mas apenas registro o fato de os meus servigos pro- fissionais nunca terem sido dispensados pelo finado John Jacob Astor, um nome que me agrada repetir, pois tem um som esférico e orbicular, que ressoa como barras de ouro. Digo com franqueza que a opiniaio do falecido John Jacob Astor era importante para mim. Pouco antes de quando comecou essa historieta, os meus afa- zeres haviam aumentado bastante. Tinha-me sido conferido o antigo cargo, hoje extinto no estado de Nova York, de Oficial do Registro Piiblico. Nao era um trabalho muito dificil, mas era muito bem remu- nerado. Raras vezes perco a paciéncia, e mais raramente ainda entrego- ‘me a uma raiva perigosa por afrontas ou ofensas. Mas que me seja permitido ser imprudente e afirmar que considero um ato prematuro a supressio abrupta e violenta do cargo de Oficial do Registro Priblico pela nova constituigdo; ainda mais que eu contava com os ganhos vita- Iicios, recebidos apenas durante uns poucos anos. Mas nao importa. O meu escritério ficava no andar de cima da Wall Street”, n® se, De um lado via-se a parede branca do interior de um enorme sagudo, coberto por uma clarabéia, estendendo-se de alto a baixo no prédio. Este cendrio teria sido considerado instpido, pois the faltava o que os pintores chamam de “vida”. A vista do outro lado do meu escri- t6rio oferecia pelo menos um contraste, embora também fosse sé isso. Naquela diregdo, minhas janelas comandavam uma visto desobstrut- da de uma parede alta de tijolos escurecida pelos anos e pela sombra permanente. A beleza oculta da parede ndo precisava de lentes de au- ‘mento para ser vista, pois, para o beneficio das pessoas mfopes, ficava uns trés metros da janela. Porque os prédios vizinhos eram tao altos, € 0 meu escritério ficava no segundo andar, o espago entre esta parede ea minha lembrava uma enorme cisterna quadrada. Na época que antecedeu a chegada de Bartleby, eu tinha no meu trabalho duas pessoas como copistas e um jovem promissor como continuo. O primeiro Turkey, o segundo Nippers e o terceiro Ginger Nut.’ Estes podem parecer nomes proprios, mas ndo sao encontrados 2 ‘Ou Rua da Parede, nome que, no decorrer da hist6ria, ganha conotagdes bem ‘menos literais. (N-.) 3 Peru, Alicate e Pao-de-mel. (x.1:) nas listas telefénicas. Na verdade, eram apelidos concedidos uns aos outros pelos meus trés funciondrios, que expressavam respectivamente 1s seus tipos ou personalidades. Turkey era um inglés baixinho e obe- 0, mais ou menos da minha idade, ou seja, perto dos sessenta anos Pode-se dizer que, pela manha, seu rosto tinha um matiz florido, mas, depois das doze, da manhd — sua hora do almogo —, ardia como uma grelha cheia de brasas no Natal; e continuava a arder, diminuindo aos poucos, até as seis horas mais ou menos, quando eu nao mais via o dono do rosto, que alcangara o seu auge com o sol e parecia se por com ele, e que no dia seguinte se levantava, atingia o seu auge e baixava com a mesma regularidade e gloria. Assisti a muitas coinci- déncias extraordindvias durante a minha vida e uma delas era o fato de que, quando Turkey exibia os melhores raios vermelhos na sua fi- sionomia radiante, nesse exato momento comecava também o perfodo do dia em que eu sentia a sua capacidade profissional afetada pelo ‘resto das vinte e quatro horas seguintes. Nao que fosse preguicoso ou avesso ao trabalho, longe disso. A dificuldade era que ficava propenso ‘a ser ativo em excesso. Havia nele uma inquietagao estranha, intensa, agitada, irrequieta. Descuidava-se ao molhar a pena da caneta no tin- teiro. Todos os borrdes nos meus documentos eram feitos depois das doze, da manha. De fato, nao apenas ficava propenso a inquietagao e, lamentavelmente, a fazer borrées a tarde, como também, as vezes, ia mais além, tornando-se barulhento. Nessas ocasiées, seu rosto ardia ainda mais intensamente, como se carvao de pedra tivesse sido amon- toado sobre antracito. Mexia-se desagradavelmente na cadeira; entor- nava a caixa de areia; ao consertar suas canetas quebrava-as em pe- dagos, sem paciéncia, jogando-as no chao num stibito acesso de raiva; ‘vantava-se, inclinava-se sobre sua mesa e jogava seus papéis de um modo muito inconveniente, um triste espetdculo para uma pessoa ido- sa como ele. Ainda assim, em muitos aspectos era alguém importante para mim e, sempre antes das doze, da manhé, era uma pessoa rdpi- dace equilibrada, que conseguia realizar bastante trabalho num estilo inigualdvel; por essas raz6es, eu tendia a fazer vista grossa as suas excentricidades, embora ds vezes eu me queixasse com ele. No entan- to, fazia isso com muita delicadeza, pois um homem tao civilizado, afavel e reverente quanto Turkey, pela manhd, se provocado a tarde poderia se tornar rfspido com a linguagem, ou melhor, insolente. Ora, valorizando os seus servigos matutinos como eu faxia e decidido a ndo perdé-los, mas ao mesmo tempo incomodado por seus modos irasctveis _ BARTLEBY ESCREVENTE pelts ESCREVENTE ERMAN ELVILLE TRADUGAO DE BRUNO GAMBAROTTO =e GRUA LIVROS COPYRIGHT THE ART OF THE NOVELLA © 2014 MELVILLE HOUSE PUBLISHING COPYRIGHT SERIE AARTE DA NOVELA.@ 2014 GRUA LIVROS Essa traduga0 foi publicada apds acordo firmado com a Melville House Publishing, EUA.A série The Art of Te Novella esua identi cago visual s3e propriedades da Melville House Publishing, USA. PRIMERA APARIGAO NA PUTIANSS MAGAZINE EW NOVEMBRO DE 1853, DESIGN DA SERIE DAVID KONOPKA PREPARACRO JANE PESSOA \WW™WGRUALIVROS.COM.8R GRUA@GRUALIVROS.COM.BR RUA CLAUDIO SOARES, 72 C1605 PINHEIROS ‘sh0 PAULO -SP 05422.030 TEL: (Ott) 4314-1500 CP-BRASH. CATALOGAGAO NA PUBLICAGO SINDICAT NACIONAL DOS EDTORES DE LIVROS, RS Maa Movie, Herman, 1819-1891 Bartleby, oescrevent / Herman Melville; tradugo Bruno Gambaroto 1.¢¢,-Sao Paulo: Gua 2014, Tradugdo de: Bartleby the scrivener ISBN 976.85.61578-38-1 4. Novela americana, Gambarotto, Bruno. Titulo 3441152 c00:813 cou: 821.111(73]3 BARTLEBY, 0 ESCREVENTE UMA HISTORIA DE WALL STREET Sou um homem, digamos, velho. A natureza de meus negécios no decorrer dos tiltimos trinta anos levou-me a um contato relativamente proximo e constante com © que se pode considerar um grupo interessante ¢ nio pouco pitoresco de homens, sobre os quais até hoje (tanto quanto sei) nada se escreveu — refiro-me aos copistas, ou escreventes. Conheci um sem-ntimero de- les, em situagdes profissionais e privadas e, caso fosse de meu agrado, poderia contar um mar de histérias, as quais os mais bem-humorados cavalheiros responde- riam com sorrisos, e as almas mais dadas ao sentimento, com lagrimas. Dispenso, contudo, as biografias de todos 0s copistas e passo a uns poucos episddios da vida de Bartleby, o mais estranho dos escreventes de que tenho 371a730 NYHEIH noticia. Eu poderia escrever com detalhe sobre a vida de quaisquer copistas; de Bartleby, no entanto, é impossivel produzir algo do género. Creio que nao exista material a disposigdo para uma biografia completa e satisfatéria desse homem — 0 que, para a literatura, é uma per- da inestimavel. Bartleby era um desses seres acerca dos quais nenhuma informagio é precisa, excegio feita 20 que dispomos de fontes documentais — estas, no en- tanto, rarissimas. © que meus olhos perplexos viram de Bartleby — eis éudo que sei a seu respeito, descontado, ¢ preciso dizer, um estranho rumor, do qual me ocuparei a seu tempo. Antes de trazer a lume o escrevente tal como este se me apresentou, julgo apropriado falar um pouco sobre mim, meus employées,' minha atividade, meu escritério © que Ihe diga respeito, visto que essas informagoes so indispensdveis para um bom entendimento da persona- gem principal a ser introduzida. Mas, que se diga em primeiro lugar: sou um ho- mem que, ja na juventude, imbuiu-se da profunda con- viego de que, no tocante a vida, o caminho mais facil € também o melhor. Daf que, muito embora se creditem a minha profissfio um nervosismo € agitagio proverbiais, passionais e, por vezes, intimos do caos, jamais tive mi- nha paz invadida por quaisquer aborrecidos rumores do 1 Em francés no original: “empregados”. (N.T.)

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