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A COMMEDIN DGbW ARTE ORICENE: As origens do teatro italiano de improvisugdu peidem-se uu disidu- cia dos séculos, Precisamos voltar ao mimo, & atellana, & satura lanx © as outras formas do teatro romano popular e autocténe, 'to é, o teatro latino antes da conquisia da Grecia, Pelas escassos fontes de documentagao sabemos que o mime. representagGo de puros gestes, adquiriu progressivamente um feitio novo, com a introdugGo de trechos falados pela necessidade que cs atores sentiram de comentar e explicar a pantomima, e de introduzir nela ulgumus piadus bem uo géslo do pablice. Quanlo G atellana, cura pecc no género farsa, sabemos que, embora escrito, deixava Iara margem & atuc- lidade politica, que era alids sua especialidade. £ provavel, entao, que a parte escrita ndo {ésse maior do que os cenérios, cu canovacci, da Commedia deli'Arte, rocultande sepetéculo principalmonte da improvisagéo dos atores, No mimo foi que se formou a tradigéo dos méscaras, isto do tipo fixo, in- cumbido de resumir determinada caracteristica humara, ¢ wpresentado sempre com’ a mesma aparéncia fisica: fenémeno que resiste até hoje, em Carlitos, Harold Loyd, etc. — As méscaras mais entigas do teatro romano foram Pappus (o velho ridiculo, namorador de mocinhas), Maccue (o avarento), Baccus (0 bébado), Baldus (o fonfarrdo). Todos levavam mdscaras no rosto: ndo md: ceras genéricus como gs do teatro gieyy, deslinudas 1 indicur 0 yénero da peca (tragédia, comédia) ou a categoria social do ‘personagem (rei, ama,’ escrovo), e sim mdscaras individuais, destinadas a indicar o tipo e até torna. reconhecivel o ator. Por sua vez a atellana porece ter tido a estrutura técnica do moderne «skech: do revieta: hiotéria linear, répide, de {Gcil compreenséic e servindo como pretexto para a sdtira da atualidade. A satura lanx, como o préprio nome declcra, era, nada mais nada menos, um cio yariade, com piadas, misica, dangu, elc. Uma pequena revista. Em tédas estas formas de teatro, ¢ improvisagaa deve ter tida um valor determinante. DE PLAUTO AOS ARLEQUINS: Depois da conquista da Grécia, 0 teatro ro- mano adquire um feitio sempre mais literdrio. Depois da queda da Republica, formase cadz ver mais aristocrélico, um teatio de iinusiu, louye do povo. Durante o Império, a imitacdo dos modelos gragos & ragrs garal, # a eapetdeula Predileto das grandes mossas ndo é mais o teatro, mys sim o esporte; que género de esporte, todo o mundo sabe... — Contudo, o maior autor de Roma nao foi nemo tragico Séneca, nem o cémico Teréncio, imitadores dos gregos, em- ‘ora talentosos e as vézes originais. O maior poeta dramdtico da antiquidade romana foi © que soube dar forma literéria co antigo teatro populor e és suas méscarzs, imertalizando-se pela férga da sua intuigGo psicolégica e da sua prodiaiosa técnica de intrigas e surprésas que vai além do préprin Aristfenes. Estamos folando de Plouio, autor em cuja obra a linguagem coloquial de cada dia e 0 proprio espinto do homem da rua assumiram pela primeira vez torma estética definida. As contribuigées do mime, da atellana e da satura lanx foram sem diivida, enormes na formacdo da obra de Plauto. homem de teatro. ator empresdrio e ‘diretor, como Shakespeare e como Moliére. E é observande esta obra que pode:nos ler uma iluminagdo decisiva sébre os valores psicolégicos técnicos do teatro popular de improvisagéio. As caracteristicas principais pa- recem ser a3 seguintes: Presenga das mdscaras; tradigdo des enredos (con- tinua repetigac e readaptagao de determinadas histérics, como a dos dois gémeos, a do velho avarento burlado e roubado por uma moga); pomograli mistura entre linquagem literéria e gfria popular: valores ritmicas de repre. sentagdo, com abundancia de gestos tipicos, movimentos dangados, tendéncias 90 «ballets. No watamento das mdscaras, hd uma pe:petua’ oscilagao. entre a tendéncia a fixar tipos universais e o gésto da atualidade histérica e social. Serdo estes, exatamente, as mesmas caracterlsticas que voltaremos a encontrar na «Commedia dell’Arte, no teatro dos fabulosos Ariequine dos séculos XVI XVII e XVII. LITERARIO E POPULAR — Durante ‘o Império Romano formou-se uma dis- tingdo, um paralelismo entre tectro literdrio ¢ teatro popular, que devia se tepetir mais tarde, como reflexo da realidade social, © que ‘dcabaria sendo @ primitiva reréo de ser'da Commedia dell’Arte. Mas para: chegarmos a isso devemés atravessar_o periodo da grande crise do teatro, devido & revolucco crista, © observer clguns tendmenos. secundérios .que. se produziram no teatro sagrado ia Idade Média. O teatro religioso, como lids quase léda arte medieval, 6 crte essencialmente popular. ingénuc, primordial; @ 4 mesma ata és dessas caracteristicas que chega a ter um valor literdrio, isto é a ser digo novo e original no esiera da poesia. A espontaneidade lirice, bem maior do que a iérca dramdtica das RepresentagSes Dramdticas, nao vem de tradi- ges de cultura e sim do sentimento universal, A técnica precisa ser tédet inventada de novo, como se o mundo antigo nunca tivesse existido e nada tivesse criado, Mas isso tefere-se, apenas & literatura dramética; quanto ao teatro, isto 6, a literatura em espetdculo, ou co espelécule sem literatura (os dois pélos constontes da arte dramdtica) houve, sem diivida, certa inevitével permanéncia de moldes antigos e conhecidos da’ arte de representar; radicados na propria natureza fieica do homem, herdados © alterados pelas diversas. geracdes; houve uma di- ferenga inevitdvel de estilo entre o teatro religioso de padres, e 0 leatro teligioso de leigos; houve tepresentagses rigidamente misticas e outras mais. profanas; houve, em suma, esta variedade, esta fisicidade msupnmivel, esta vida que «6 © teatro. Verificouse uma espécie de sedimentagéio do clementos teatrais, de motives de arte cénica, destinados a se desenvolver em épocas mais livres; e, como a Idade Média néo tem teatro sendo popular, ésses elementos foram tpicamente populares, antiliterdrios, alheios a qualquer classicismo, ro- dicades naquela terra de ninguém da cultura que é a imaginagdo coletiva, onde de um lado, motives de cultura aparecem, deformados, reduzides a caricatura ou elevados “a mito; e, do outro lado, a vida didria réclama seu lugar dentro da arte. Os fenémenos mais interessanies, mais auspiciosos para o deservol- vimento futuro, deram-se certamente quando o espirito religioso comegou a se tor nar menos rigido, mais tolerante, mais respeitoso da cutonomia da arte, menos diddtico © propagandistico; no eutono da Idade Média, @ que o elemento leigo comeca a se sobrepor ao sagrado. Na decadéncia do drama sagrado, poralela & decadéncia do espirito reli gicso.e aos primeiros antincios da Renascenca classicista, surge um. esque- eto timido de comédia, do fundo da meméria e do instinto do povo, A .GOMMEDIA DELL'ARTE — No século-XV o Humoniomo; © reaparecimento de cultura cldssica, « formagto de uma aristocracia da inteligéncia. o desenvol-” vimento das ciéncias naturais, o renovado triunfo dos modelos gregos e latinos, 0 disiarce cristéo das filosofias ontigas © dos antigos idecis de beleza, a tenta- g80 maravilhesa de uma civilizacdo baseada totalmente no Homem. i séo fates consumados. E 0 teatro reage com fidelidade a esta atmosiera. O dualismo entre 0 teatro literdrio e teatro popular ressurge na forma mais rigidc. Os dois tociros deeenvolvem-co independentemente um do outro, no maiz geométrico paralelismo: éles se desconhecem. E a diferenca bésica j6 comece a ser esto: © teatro das Céries € escrito, forma-se imedistamente sébte 03 modelos grego: @ latins, ¢ néo conseyue cleangor resultados, propiomente teatiais; 0 tectro do pove 4: impravieada, lave quaze doix séculos antes de se formar definitive. mente, néo tem quase modelos e alconga resultados exclusivamente teatre's. Existia um curioso intercémbio entre os dois leatros; © 0 mais curioso foi do lado do teatro popular, isto 6 @ maneira como se processou o passogem de clemorios literériee para dentro do teatro de impravisagtin. Qe Amicns inicialmente amadores, depois prolissionais, pertenciam a categorics sociais humildes, entre as qucis a fungtio de ponte com as categorias mais elevadas ero desemponhuda pelus criudus, pelos copeiros, pelos pagens, escudciros, etc. Houve, assim, um intercémhin secrato da enredos. {érmulas. palavras. recursos cénicos; 0 teatro popular os acolhia da moneira mais desemboracada e irre- yerente, sem aquéle lemor com que 0 teatto aristocrético recebia os moldes Uutigos. Por issy cncontramos, na COMMEDIA DELL'ARTE, enredoe quo e30 verdadeiros dislarces romanescos ou farsescos de tragédias_gregas, poemos épi cos, éclogas pastorais, etc: Mas a temética da COMMEDIA DELL'ARTE nos seus dois géneros exclusives, 0 dromalhdo e « farsa, recebeu contribuigées de téde parte: oc eoldades aspanhéis 2 francases, que invadiram a Iélie, Iron- xeram pera o patriménio da imaginagdo popular as histérias ¢ lenis Jo setis paises, az faganhas de Cid e a maldigao do Convidado de Pedra, Mas néo & « temdtice, ndo sGo os enredos que imporlam num teatro 86 oF uproveita como pretextos para a fortilidade eriadora do ater. A COMMEDIA DELL’ ARTE é isso: comédia da arte de representar: Nada mis. E dicnte do teatro das Cértes, onde 0 tinico progresso {oi o da cenogrofia, ergueu-se 0 teatro popular , em téda sua vitolidade, criande e uperfeicgude us mdscaras, Servelvende uma técnica. paradarnl e nerfaita, tormande-se profissional. for- mondo companhias estéveis, que representovam no dicleto da cidade, e com- panhias vicjantes que usavam a lingua nacional, Familias de ctores aper- Teigooram, filho upés pai, os tipes ¢ cus [renétices rocurses teatraic. No fim do século XVI a situacdo apresenta-se clara: fracasso do teatro literdrio € afirmagao delinitiva do teatro de improvisogao. No século XVI a censuta da Igrejc: cai sdbre 0 teatro das Cértes como o golpe de graya: a comédia desa- perece ¢ a tragédia continua na sua esterilidade. A aristarracia comega éonvider os comediantes improvisodores para representerem deniro dos pald- cics e das Cértes. A COMMEDIA DELL'ARTE vicja 0 mundo a convite dos teis, Os comedianies ilalianos triunfam em Franca, Alemanha ¢ Rissia. E’ o moniento do triunfo « ao mesma tempo. o coméco da decadéncia, © REINO DAS MASCARAS — Os cendrios — os canovacci — dc: COMMEDIA DELL'ARTE, nGo sdo textos, «A peca no cendrio, néio é representada sendo por um. catélogo mais ou menos drido, de acées, que ndo contén nenhuma expressiio de sentimento, mas sim, apenas, uma seqiiéncia de situagdes, que deverdo, ~2rcis, no paleo, inspirar ao ator os relatives expressées de alma Os canevacci ado chegam & ser nem a fachada do edificio, pois éles constituen agencs os ah- cercess... (Bragaglia: «Commedia dell’Arte, canevacci inediti, raccolti ¢ pre sentati da A. G. Bragaglia — Turim. 1942). Por isso, a leitura dos cendrios requec, mais do que qualquer outro, a coloboragde mental do leitor, estou ferftado a dizer, do espectador. Para esta colaboragéo é preciso uma base. um guia, Yuu e homem moderne pode encontrar na observagéo de certos atores da atualidade: atores de circo ou de revista, ou mesmo grandes comediantes, fiis a técnica de improvisacéo, como Alda Garrido ou Edoard» De Filipro. ‘Outra base — desta vez uma base histérica — pode ser encontiada nos re- Perléries, ou sibaldeni, elaborade: per famosas comedinnios da arte, @ que Serviram para diversas companhias em vdrias épocas. Muito interessante o que retine os lazzi do mais famoso Briguela, o ator Atanésio Zannoni, recenteme descoberto ¢ publicade pur A. G. Diuguglia (em «Il Drammar, sctembro de 1943) A existéncia dasces raperiérios de folas, delinigses. piadas. anedotas e cié mesma pequerios trechos de ‘didiogo (didlogo de citime, de despedido, de desalio, etc} fom deixade cescontiadas e alcrmadas muitos’ almas ingénuce. Estas pessoas desconhecem a verdade teatrcl, a prépric eatratur concreta da COMMEDIA DELI ARTE. A ropeticdo de uma piada j& escrita ndo prejudicava a espontenei dade de improvisegao, mais do que a prejudicava a existéncia do cenério ou enrédo A qualidade essencicl da representagdo daqueles cOmicov residic, pensames, a> valor fresco nove, da fale prenunciada no mamenta exato em que cle surge no cérebro e na sensibilidade: pensamento expressado ne mo- mento mesmo cm que esté sendo pensado. Qualquer alcr ou diretor de hoje sabe que trés quartos das deliciéncias que aparecem aa crte de zepresentar, e muito especialmente, nc de inflexionar, deriva justamente do fate de que o ator, enquanto diz, néo pensa no que esta dizendo: pensa no linha geral do popel; no efetto que vat surgir a determinadar alturcr, naguela cena; no perigo de sor monétone, otc. Proocupagées ostac tédas legitime: o cortes. mce que podem prejudicar, de outro lado, a naturalidade légica e fisica da inflexdo, aquela espécie de anélise perpétua do texto, que impde a representagdio”certos passor inevildveis, como seja frisar uma palavre ¢ néo oulra, marcar sinais de pontue 60 @ disttibuir o tempe dos frases néo na base da respiragéo e sim da sintaxe. © ator modero esié sempre obridado a um proceso dradative e complexo de conquista de personagem e da-peca; uma vez compreendida a pega, tem que encaixcr rela @ personagem; uma vez decotada a fala, tem que hatmonizé-la com as outras, déle © dos outros otores; tem que se convencer de que oquelas palavres so melhores do que as que éle usaria nas mesmas circunsténcias; tem que transformé-las em agdo, acumulando aos: pouces inflexdo, gesto, marcagses, efeilos de vos, necessidude de iespisagio, alé esquecer que tudo oquilo parte de um texto cscrita por outro e acraditar que. surgiu de. dentro déle mesmo. Essa dificuldude inicicl permanece ds vézes visivel até ao fim, mesmo num re- sultado perfettamente conseguido, pois foi conseguido & custa de inteligéncia, técnica © {6rca.de vontade, agindo sébre_a sensibilidade em momentos su- cessivos, @, a5 vézes, friamente distintos. Este excesso de andlise, a fim de chegar a uma sintese, que pode ficar imperfeita, ndo existe na representagido do improvisador, que é, ela mesma, uma sintese @ priori: c qual, se [Or imperfeita, sempre o seré globalmente, © nao por falta de um ou outro elemento, pois ela apresente camo um todo. Isto 6 0 que nos ajuda a entender o que erst ¢ Tazzi dos cémicos da arle, entre os quais um ou outro laxzo escrito, ou j& apro- veitado, erct um pingo de dguc dentro de um oceano e, mesmo assim sempre irona- formade e frroconhectvel. A nclavra lazze, vem do latim aetie, isto 6. acdo © abade Porrucci nos descreve com muita exatidéio a técnica do Taxxo, explican- de-nos que le ndo € openas uma fala e sim uma agdo, ou melhor ainda, um jégo de falas em agdo. O espectador moderno tem alguma oportunidade de fmvir legals mas. Alas astonda daniro de nma pega escrila, ao, coma _dizam os comediantes brasiléiros «cacoss, isto 6, enxertos, de palayras ou acdo, no texto, a fim de vivilicar 0 espetdculo: nao sao mais como na COMMEDIA DELL ARTE, 0 prépric texto, surginde j& em forma cénica, isto 6, um texto que, logo de saida, ninquém pode dizer se é texto ou espetdculo, pois ¢ ambas as coisas, inex trincdvelmente juntas. A maneira de se ensaiar uma peca improvisada nos parec nas descrigSes dos historicdores, coisa t&o complexa, que &s vézes nos pergun- tamo> so Ado ora mais simples preporar a represeniagso duma pega ezerite: Mos, assim: fazendc, perdemos de vista a propria razGo de ser da improvisacao, que é o dominio da espontaneidcde absoluta, e nos esquecemos da milagrosa capacidede daqueles comediantes, cada um déles intuindo mégicamente os recursos do outro, fixando num instante a «deixa» certa para a constiugdo do idlogo medindo © ritmo dos cenas, a duracdo dos atos © a proporeao entre as partes da peca, e clinal, coisa maravilhosc, especialmente nos atores cémicos, © Intuito infelivel, que oa guiave, venconde a tontagéio de ropetir oa efcites ou insistir nas piadas. Este foi o milagre das nossas mdscaras, des nossos Acle- quins, Briguelas © Pantaleées, povo estranho e estupendo, imico na histéria do tectro, onde cada individuo era uma sintece de ator, autor, dirster, paflarino malabarisia ¢ coredgrcio. A DECADENCIA: No primeira metade do século XVIII, a COMMEDIA DELL’ARTE continua gozerido de todos 3 favores do piblico, porém os entendidos constatam que ela esté cvonizondo, A essa altura, j& se enriqueccu, teve contatos com a nobreza. e com os reis, deixou-se influenciar por trancitérios correntes de culluras:.perdeu, em. suma. o seu jeitio popular, As conseaiiéncios désse fend. mieno, 409 gravissimas, Primeira:.q COMMEDIA DELL’ARTE néo ousa mais en- “frentat assuntps dé ctuclidade, pois parte mais elegante do piiblicu poderia Go gastar de alusées ¢ sdtiras politicas. vindas. do esplrito anénimo das mas, '@ as companhics perderiam < oportunidade de penetrar nas Cértes. Segunda: 03 “grandes talenios dé alor dedicam-se, aos, papéis cémicos, deixando cs portes sérlas, pata os alores novatos ou mediocres, Bote doscquilibric cota prosonte nat propria construcgo dos enredos, onde ag..genas.de amor sdo_repetidas. com. férmulas fixas, sem fantasias, quase que para encher o tempo. Particularmente grave 6 a decadéncia do elemento feminine, que passa.a ser escolhide na base da holaza fisiect @ nao do talento, na eaperangs de atrair para a caixa do teatro os cdmiradores cristocratas. Terceira: a pornogralia torna-se cada vez mais ousada @ cheoa a invadir esieras do espetdculo onde ndo tem.a menor razdio de ser Quarta: o lui da sonconagde-, oc trugues do carpinteria, a abundancia do trechos cantqdos ¢ dangados tiram & COMMEDIA DELL'ARTE aquéle feitio in- génuo de esetdculo pobre e inteligente, confiado exclusivamente ao talento dos tdlento que agora, pelo. contrério, deixa-se sufocar pela parte visual = ‘atiernd do espetdculo, Mcs o fenémeno mais grave de todos foi o sequinte: o dxcessé de trodigses (hdbitos, cacoetes ‘técnicos, repertérios escritos, efeitos re- petides) acabora“praticomente com a’ improviscgdo. O autor tinha baies demats para a sua representagdo e ndo precisave se esforcar A COMMEDIA DELL'ARTE acabara sendo uma comédia escritc, se ndo no papel, na meméria dos atores, e uma comédia ruim, de entédo convencional, de linguagei gongérica, como sao tadas as obras dos snouveaux riches» da’ cultura. Perdido qualquer conteto com a espontareidade dé povo,"ela procurava'ém vio uma saida estética intelectual que sémente 0 génio de um escritor podia asiegurcr-lhe. Deixara de ser um bom espetéculo e ndo chegava a ser nem uma mediocte literatura. Pior ainda, esiava fara da prapria atalidade das gasins 2 dos ansains do: | Piiblico. E a essa altura que aparece, em veste de reformador, Carlos Goldoni. RUGGERO IACOBBI Trecho extraigo de:

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