Professional Documents
Culture Documents
E-Book - Estratégia 5
E-Book - Estratégia 5
Conteudista
Rodrigo Eloy dos Santos - Ten Cel Av
Evandro Carlos Baranzelli - Ten Cel Av
Design Educacional
Renata Lopes Machado Romanholi - 2º Ten PED
APRESENTAÇÃO
Este E-book, denominado Estratégia, faz parte da disciplina Poder Militar, foi
desenvolvido com o seguinte objetivo:
• Compreender a evolução do coneceito de estratégia
Desejamos, portanto, que realize um estudo produtivo, rico em experiências e
reflexões.
Pronto(a) para começar? Então, vamos em frente!
1. ESTRATÉGIA: A ETIMOLOGIA E O CONCEITO
Um tema qualquer, ao ser analisado e discutido, é de comum consenso que se
verifique as origens do termo. Desta forma, inicialmente serão apresentadas explicações
etimológicas, histórico sequencial e, por fim, alguns de seus principais teóricos, o que veio a
construir o que se sabe hoje definindo como o termo que ora está em estudo.
Na era dos romanos, no séc. I a.C., voltasse a usar tais palavras sendo que eles
a definiam como “ciência militar” ou “o estudo da organização militar” e “strategus” define o
“chefe dos exércitos”.
Para os chineses, Sun Tzu descreve o vocábulo como sendo aquele que
"comanda os exércitos e conduz as campanhas”. Em sua obra, o general chinês descreve
inúmeras ações, intenções e conceitos que permeiam dentre os níveis político, estratégico e
tático, conforme os conhecemos na atualidade. Contudo, seus escritos nunca foram muito
divulgados ou explorados pelos povos ocidentais sendo muito pouco usados.
A palavra estratégia volta a ser usada em várias ocasiões de forma isolada, mas
retorna com seu significado centrado nas funções dos militares na Itália nos períodos de 1320
e 1594 e na Inglaterra em 1810. Na verdade, foram os franceses que trouxeram
definitivamente a palavra “estratégia” para a linguagem moderna. Até 1780 a maioria dos
oficiais acreditava que a tática era a ciência da guerra. O retorno definitivo ocorre em 1799
quando Dietrich von Bülow resgata e estabelece o conceito de estratégia em seu livro,
traduzido e estudado por todos os Exércitos da Europa à época.
Fato é que, com a Revolução Industrial do Século XVlll, ocorreram grandes
expansões populacionais e, consequentemente, os exércitos destas nações triplicaram
passando de centenas para milhares de soldados. O resultado foi a necessidade de mais
divisões hierárquicas e a ampliação da malha logística, onde novas funções foram abertas para
o controle e distribuição de armas e víveres às tropas. Este crescimento levou à articulação
dos exércitos em divisões e ao aperfeiçoamento das táticas e técnicas que passaram a ser
exploradas pelos autores e teóricos contemporâneos sobre as relações entre a dimensão
política (superior) e o nível tático (inferior) na condução dos conflitos.
]
Segundo Clausewitz, existem duas atividades absolutamente distintas: a táctica
e a estratégia. A primeira organiza e dirige as ações nos combates, enquanto a segunda liga os
combates uns aos outros, para chegar aos fins da guerra... A estratégia é o emprego da batalha
na guerra; a táctica é o emprego das tropas no combate”. À época, o entendimento da guerra
ainda não dispunha de outras fases como atualmente, mas estava sendo construído, através de
um processo lento e penoso para a própria humanidade.
Isso tudo deixou bem claro que as estratégias militares são sim muito
importantes e que o planejamento desde o mais alto nível é obrigatório. Contudo, o
comandante de uma grande operação deve ser flexível o suficiente para reescrever as suas
estratégias conforme a dinâmica da campanha.
2. TEÓRICOS DA ESTRATÉGIA
É imperativo salientar a importância de que as ações de preparo estratégico não
devem ser executadas em tempos de guerra, mas prioritariamente em tempos de paz.
Exercendo um esforço futurologista, é dever dos estrategistas preparar-se para as dificuldades
que as guerras do futuro irão lhes impor. Neste diapasão, passamos a observar os pensadores
mais estudados e que muito contribuíram para o conceito de estratégia que se tem nos dias de
hoje.
Frente ao provérbio romano: “se queres a paz, prepara-te para a guerra”,
percebe-se que estas são as palavras mais corretas para as intenções de uma boa estratégia,
pois tudo se inicia ainda em tempos de plena paz, segundo nossos pensadores.
2.1 Sun Tzu
Como já comentado, muitos estudiosos da guerra, partiram de suas
experiências definindo assim o que chamamos de “princípios de guerra” segundo seus
entendimentos ou visões particulares do fenômeno em estudo. Dentre estes, cabe certo
destaque para Sun Tzu, que a 2500 anos definiu alguns princípios básicos pelos quais o
comandante deveria se regrar. O guerreiro erudito e de vida longa descrito por Sun Tzu em
seu livro “A Arte da Guerra”, vivia para o planejamento e preparo de suas estratégias, pois
sábio é o regente que nunca deseja a guerra, mas está sempre preparado para ela.
Sabe-se muito pouco sobre o autor. Deste pouco, destaca-se que serviu ao rei
do leste da China por volta do ano 500 a. C. Sua obra teve abrangência sobre diversos
assuntos como estratégia, táticas, atraso e antecipação, a criação e manutenção de alianças e o
emprego de agentes duplos. É um livro de grande valia para a arte da guerra (FREEDMAN,
2013).
É evidente que sua conduta traria melhores resultados quando apenas um lado
executava seus conselhos. Contudo, seus textos se diversificaram e o inimigo também passou
a ler os mesmos livros. Desta forma, ambos os comandantes passaram a usar da leitura de Sun
Tzu e as manobras e trapaças poderiam levar a nenhuma conclusão ou então uma forte colisão
súbita que os pegaria desprevenidos. Contudo, sua obra nunca apontava um único caminho
para a vitória, mas conduzia seus estudiosos ao discernimento que, embora fosse melhor
evitar as batalhas, por vezes elas deveriam ser travadas. Conflitos foram descritos de forma
relativamente simples, nos quais movimentos ousados levavam o inimigo prepotente à
condição de indefeso ou dissolvendo-se em desordem. A perspectiva do livro oferece
relevantes possibilidades para aquelas lutas complexas, onde se espera que os embates sejam
indecisos e as alianças e inimizades troquem de lado a qualquer momento.
Falando sobre política externa, Maquiavel demonstrou sua visão estratégica das
coisas acentuando que esta deve ser uma das primeiras pautas de um novo governante.
Segundo Maquiavel (1532), o governante, ao assumir um principado novo, deve tornar-se um
defensor e chefe dos vizinhos mais fracos, direcionar esforços para enfraquecer os fortes e
estar sempre atento para que nenhum forasteiro tão poderoso quanto ele esteja por perto.
Contudo, seu trabalho não teve como foco um inimigo externo, mas sim foi
mais voltado a manter a lealdade e o comprometimento dos súditos em seu governante.
Dissuadir ou persuadir alguns súditos seria muito fácil. Pois usaria das palavras, da autoridade
ou ainda da força. A persuasão da multidão era mais difícil. Para este trabalho é preciso
dispor-se de “excelentes capitães oradores”. Maquiavel proporcionou aos governantes os
conselhos mais cínicos sobre como captar e manter o poder. Sobreviver seria o objetivo mais
alto, depois as variações de conduta em acordo com as circunstâncias viriam a possibilitar a
manutenção dos súditos sob seu jugo.
Uma das principais questões sobre seu livro, trata da escolha do governante
entre o “amor e o temor de seus súditos”, pois, temos claramente a descrição de Nicolau que é
muito melhor ser temido, caso não possa ser ambos. Observada a natureza humana, percebe-
se que os homens são ingratos, inconstantes, mentirosos e enganadores, evitam o perigo e são
ávidos pelo lucro. Enquanto você os tratar bem, eles serão seus, mas com o perigo à porta, se
voltarão contra você. Assim, aqueles que se portarem como miseráveis e que não cumprirem a
palavra com você, não podem pedir que cumpra sua palavra para com eles. No entanto, não
era bom ser visto demonstrando má-fé. Pois os governantes devem evitar ser odiados e
desprezados (Freedman - 2013). Caso contrário, será sempre obrigado a estar pronto a
defender-se de insurreições.
Apesar do termo maquiavélico ser sinônimo de estratégias baseadas em engodo
e manipulação, a intenção do escritor era a busca pela estabilidade do governo. As estratégias
descritas utilizavam de crueldade e desprezo para com os inimigos e maus súditos. Mas não
deixaram de ser eficazes em tempos difíceis como o período em que Nicolau viveu.
3. REPOSICIONAMENTO HISTÓRICO
Neste ponto, é importante que se faça uma distinção histórica entre as
estratégias de que os autores falaram observando seus diversos níveis. Reposicionando o
contexto histórico, pode-se dizer que, com as guerras napoleônicas subsequentes à Revolução
Francesa, ocorreram distinções entre as estratégias nos níveis da política, da diplomacia e no
campo militar. Quando o poder político apresenta uma necessidade como objetivo, a
diplomacia usaria de formas estratégicas para se negociar um acordo, por outro lado as
estratégias militares usariam de uma forma bem mais opressiva e absolutista para a concepção
dos mesmos.
Tal conceito foi absorvido pelos Estados Unidos da América (USA) como a
Estratégia Nacional (Grand Strategy) tendo como objetivo desta ampliação atender às
demandas de proporções extremas que as duas Guerras Mundiais tomaram com o
envolvimento da economia nacional e a mobilização de toda população nos esforços de
guerra.
Assim, verifica-se uma ruptura com o conceito original de estratégia, o qual era
voltado às batalhas em campo. Agora, ultrapassaria da esfera estatal (governo) para qualquer
atividade social fazendo uso de todos os elementos do Poder Nacional. Nesta expansão
conceitual, Coutau-Bégarie(2010) explica uma maior ampliação dos entes envolvidos. É
quando o conceito ultrapassa a própria questão de objetivos do estado para uma forma ainda
mais ampliada e então vira uma estratégia total para o estado de mobilização de todos os
recursos para alcançar esses objetivos, não necessariamente militares, mas objetivos
estratégicos do Estado.
Para mudar tudo isso, em suas explanações, Hart usava de analogia ao corpo
humano, cujo cérebro comandava o restante. A exemplo, ações para se fazerem efetivas
deveriam ser a pontos específicos, para que levem à perda das comunicações e/ou dos centros
de comando do inimigo. Seu apelo por uma “abordagem indireta” como a “forma mais
esperançosa e econômica de estratégia” tocou aqueles que acreditavam que a inteligência era
preferível à força bruta.
A estratégia indireta ideal criaria condições nas quais se busca evitar as perdas
evitando as grandes batalhas, embora os princípios básicos se aplicassem mesmo se a batalha
tivesse de ser travada. O inimigo era forçado a concluir que a derrota se tornara inevitável
antes que a batalha fosse iniciada. Um planejamento deveria ser tal qual uma árvore, cuja
estrutura precisa de galhos para dar frutos. Um plano com um único acesso pode provar ser
um ramo improdutivo, sem resultados, mas a diversidade de opções tornaria o
empreendimento viável por outras formas.
Por fim, é justo afirmar que Liddell Hart e Clausewitz discordam, pois que,
para o prussiano, vencer a guerra é obter a vitória através de uma batalha decisiva com todo o
atrito possível entre as forças combatentes, com elevado custo humano e material. No entanto,
para Liddell Hart, a batalha é apenas um seguimento de manobra, e, de forma similar a Sun
Tzu, acreditava que o melhor general é aquele que vence sem ir para a batalha.
3.2 Arthur Friedenreich Lykke Junior
O coronel do USARM, Arthur F. Lykke Jr. estruturou seu pensamento de uma
forma muito simples de ser entendida por iniciantes do assunto, para depois trabalhar seu
ponto de vista um pouco mais abrangente, explicando a estratégia de segurança nacional.
Inicia-se com a ideia de um banco de três pernas e explora o conceito de uma estratégia de
segurança.
O fato propiciou maior contato para seus alunos ao assunto, criando discussões
e ampliando os conhecimentos de todos. Seus estudos foram muito difundidos na U.S. Army
War College, onde um banco de três pernas ou pilares simplificou as explicações. Nele está a
estrutura básica de sustentação de uma Estratégia de Segurança Nacional amparada por uma
Estratégia Militar.
Suas pernas:
1 – ends - objetivos, é onde você quer
chegar “o que você quer obter” com a
estratégia;
2 – ways - meios ou “o curso das ações”,
que você precisará tomar para atingir
aqueles objetivos;
3 – means - recursos que correspondem
a “tudo aquilo que você precisa” para
alcançar o sucesso. (LYKKE, 1989).
O período vivido pelo oficial francês André Beaufre, foi de pós Segunda
Guerra Mundial, um período com destaque para a Guerra Fria entre as grandes potências. Foi
um período onde considerou-se que o pensamento estratégico ocidental se encontrava em
crise de fundamentação e epistemologia, devido aos fenômenos de grande vulto que abalaram
o saber tradicional da Segunda Guerra Mundial: “o fator nuclear”. Segundo Beaufre, “já não
se acreditava na genialidade dos estrategos”. Muito devido aos excessivos planejamentos e
negociações que de nada resolveram para se evitar as guerras que envolveram o mundo todo
(BORGES, 2006).
Para Borges (2006), mesmo depois de uma Guerra que mobilizou todas as
capacidades dos Estados, a maioria dos pensadores militares continuavam a encarar a
estratégia como apenas um dos ramos da Arte ou Ciência Militar.
Neste período, o advento da arma nuclear foi muito explorado, o que deu
origem a diversos conceitos dissidentes da estratégia de intimidação ao adversário. Os
modelos do Gen. Beaufre, baseados na sua “dialética das vontades”, foram destaques deste
período.
BEAUFRE, A., Couto, A. C., Hart, B. L., Pires, A., & Abreu, F. Introdução à estratégia.
Lisboa: Edições Sílabo. 2004.
FREEDMAN, Lawrence. Strategy: a history. Oxford University Press, New York City,
2013.
MARTINS, R.F. Acerca do conceito de estratégia. Nação e Defesa, 1984. Disponível em:
<https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/2815/1/NeD29_RaulFrancoisMartins.pdf>.
Acesso em: 08 ago. 2022
PARET, P. Understanding War: Essays on Clausewitz and the History of War. New
Jersey: Princeton University Press, 1992.