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carlos lampreia
Abstract
A ARQUITECTURA OBJECTIVA
carlos lampreia [ *Publicado in Revista Lusíada (2003)]
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1-INTRODUÇÃO
Na era da hiperprodução industrial, da hiperoferta
(comunicação) de coisas, objectos e pensamentos, e
portanto também de arquitecturas, e na impossibilidade da
originalidade e do retorno á natureza o importante é o
enquadramento e a lógica da escolha do que se produz.
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Este olhar, construído a partir de uma realidade nacional
especifica sempre condicionada por falta de dimensão a vários
níveis e assim sempre dividida entre o desejo da afirmação de
qualquer coisa própria e o deslumbramento pelo que vem de
fora pronto a usar, algo entre o local e o global, vai-nos
conduzindo ao impasse e ao descrédito na utilização de
modelos e reflexões de forma acrítica, o que tende a alargar e
a adiar o paradigma de uma(s), postura urbana e territorial
para o pais. Esta preocupação está na génese e é a origem
do interesse pelo presente tema.
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Arquitectura objectiva não é um género mas uma atitude .
Esta relação constrói-se entre dois pólos que são opostos, por
um lado, o interesse comum dos sujeitos habitantes pela
arquitectura, geralmente reduzido e comprometido pelo
interesse pessoal ou pelo entendimento do território como um
manancial de interesses exclusivamente económicos.
Por outro, os autores, os arquitectos que condicionados em
termos de participação, e muitas das vezes apoiados sobre o
mito de que a objectividade é inimiga da criatividade, se
afastam de posturas concretas e responsáveis, perseguindo
causas individuais e corporativas.
Numa postura objectiva a questão mais importante é a
consciência de uma estratégia de intervenção ou de uma
ideia, em que os arquitectos determinam e controlam a relação
entre essas ideias e a sua expressão, procurando sempre que
estas sejam pertinentes e comunicáveis, desta forma
aproximando ambos os pólos de interesse.
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os vai construindo de forma afectiva, já que a sua relação com
a arquitectura é essencialmente de utilização a partir de
critérios pragmáticos de identificação e acção, por isso lhe é
difícil reconhecer uma ideia arquitectónica em determinada
situação.
No entanto e como tudo o que fazemos e o modo como o
fazemos se transforma por via indirecta em acto de
comunicação com os outros e vice-versa, também os
diferentes modos de entendimento do espaço constituem um
processo de emissão e recepção de formas de estar.
O simples uso ou acto de habitar tem consequências que se
manifestam sempre como actos de comunicação, interferindo e
condicionando o território.
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Uma parede desenhada como um muro implica sempre a
questão do limite expresso, se lhe introduzirmos janelas
remete-nos de novo para a memória da rua, perdendo a
intensidade anterior.
Poderemos pois afirmar que desta forma o sistema linguistico
ou simbólico consegue operar de forma objectiva enquanto
veiculo de expressão de ideias.
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potencialmente poético. Este processo é como se sabe
subjectivo, no entanto, a sua intensidade é profundamente
objectiva, sendo coisa não decomponível, é aquele que
consegue transformar o objecto em memória (3); esta
sensação é posteriormente activada no consumo e na
produção das várias formas de expressão.
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A partir dos dois tipos de percepção apresentados, um mais
objectivo ou racionalista outro sensível ou poético, temos que
quer em relação ás metodologias objectivas relativas ao
arquitecto, quer aos aspectos de percepção comum ligados a
todos nós enquanto habitantes poderemos isolar os elementos
génese de um processo objectivo, aquilo que considerei o
grau zero da expressão.
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sem concessões e capaz de apelar aos outros e a si própria,
capaz de comunicar.