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PIERRE VIDALNAQUET rxapuc OS ASSASSINOS DA MEMORIA “Um Eichmann de papel” & outros ensalos revisionismo Cael yp set [208 musi ea mate Sia te fou tanto, eats ee ress Dados te Cataeesto ne Pueatd (CIP) Inner ‘tne Brac go Lio, SP Bast) ote ron mem hag ee ¢ “thugs MosneAppentog Campins SP Paps 1 Amisenivano 2 Cure Mundt, 1991948 — — Caan de onenagio ~ Alaranta 3. Gur Ni (bee eee A Helena jae C98 yt sts Tio: im Pletrinen earl © Dro emai see © veers Lepoguo.ssuss26 woz a) 72 A meméria de minha mde, Marquerite Valabrigue. ‘Marselha, 20 de maio de 1807. Auschwitz, 2 de junho (?) de 1944 indore alba» Shenae Antsesinn « Sedelorn 309.128. (Clip te encentocio | Guat Moral, 129-1945: Minin 40.5472 SGuers Mula 39 945 Jaden 0. S8102626 Eternamente jovem. Moscrate : Chra Manet 9351845 Hain 940, 31303928, ‘lat Extrno nen ARH, 198953" Mba 9409120924 DIREITOS RESERVADOS PARA A LINGUA PORTUGUESA Foe (0198) 227368 Cs. Peal 736 {A913 Coeines SP = Br «rpg to pro orale! et de imprest, en fmm > [iio eterna oust eave Kan ote oo ena loms (ag INDICE Precio o Um Blclonann de pape (1980) ....0000050 ns Anatomia de une mentia 1. Do canibaimo, de sas exsténtae des expenses que foram dds ere ele 1. De La Vole Taupe ¢ dos canibais I. Da historia © dé sm revista LY. Do méede revisions V. Mescou, Nurembert, Terusalé Vi. As cons fantasies de Paul Resinier VIL. A were dos Judes VIII. De ate deni ler os textes IX. De Patio, da meta e da ieolgie X. Viver com Faurinon? Anexo: Zyklon B, por Pich Bloch 2. De Faurisson « Chomsky (1981) 5. Do lado dor perepues (1981) - A. Tne sere 0 esisionome (1985) 1 De um revidonisme « outro 11, Dos mites de guerra e do pereuro da verdade 10), oe hoje nts moras. 101 113 7 IV, De uma mistira explosive PREFACIO Y. Das nogiee © de erst VE A hist epée Auschoite 5. Os auasinos da momia (1987) 55 1A devtragso des ous de Rspane HA Hhtiela a6 Wistrios HI. Dicurs-memestaverdice Iv A eles Sv Rigupaler nee “Esse livrinho naseen de uma constataglo: hé cerca de dois anos, a corrente “revisionista”, ot seja, a que VL. Auschwite € 0 treiro mundo nega as cfmaras de gas de Hitler ¢ 0 exterminio de VI, A confesio de sentncntcs oentes mentais, judeus e cigancs e, ainda, o de membros VII. A gion de conelusto {de povos considerades radicalmente inferiores, princl- ppalmente eslayos, ver aumentando pertubadoramente, ‘Uma seita, minfiscula mas obstinada, dedica todos os seus esforgos © emprega todos os meios, panfietos, tabu- Jas, historias em quadrinhos, estudos pretensamente ' Cientifioes © criticas, revistas espectalizadas, para des truir, nfo a verdade, que é incestrutivel, mas @ tomada | de conseiéneia da verdace. Na realidade, nao se int essa pelos doentes mentais, nem pelos ciganos e menos ‘ainda peles prisioneiros de guerra soviéticos, mas somen- te pelos Judeus. Por que essa opcéo? Tentaremos res- Ponder a essa questéo com os ensaios que s® seguem. (Os cinen textos aqui reunidos foram escritos entre junho de 1980 ¢ junho de 1987. Os quatro primeiros ja foram publicados, alguns deles, varias vezes’. O quinto, ‘nus Eats Super 4 Cesk ec A alemanha neve ce iene nen Sot “tes Baler Girt Sl 68, nE. rove ess rebar are gues cls mal €a8 © ° a 40s assaasinos da meméria”, que dé eeu titulo ao Livro, é inédito. Por que esse titulo para o capftulo e para 0 livro? Como historiador, sei, da mesma forma que todos os especialistas de minha étes, que a meméria nfo a Historia, no porque a segunda suceda a primeira por ‘gum eutomatismo, mas porque o modo de selecdo da Historia funelona de manelza diferente do mode ce 89- Jeeao de meméria ¢ do esquecimento. Entre meméria.¢ ilstéria, pode haver tensAo e até oposi¢ lo". Mas uma Historia do crime nozisia que niio ebarcasse o, 0% me- thor, a8 memérlas, que nio revelasse as transformagies da meméria seria uma Historia bom pobro. Os aseassinos da meméria escolheram bem seu objetivo: querem atingir uma comunicade nas mil fibras ainda delorosas que a ligam a seu proprio passado. Lancam sobre ela Juma acusagéo global de mentira e traude. Fago parte desa comunidade, o que absolutamente nao implies que esteja solidério com tudo © que seus representantes ou seus pzeiensos representantes proclamam ou fazer. B nfo pretendo responder a essa acusacZo global eolocan- do-me no terreno ¢a afetividada. Nao se trata de sonti- mentos, mas de verdade. Bsse termo, outros sério, nde ‘iualmente 99 diseolvor. Uma das imposturas do nosso lo to rico nesse rea. Falel em responder 2 uma usago. Quero deixar claro de uma. vex por todas quo fo estou respondendo ans acusadores e que néo man- cexei qualquer didlogo com eles em qualquer plano ‘. Um mnt" pce un ean cern a3 ee de emo fe {Siku ate enter ounce ps Pied Salt stn Noyce It's pee mens “Us Em de fp seen ra Sere caro won Repo Fas en Pe cr ‘ldlogo entre dois homens, mesmo adversérics, supoe lum terreno comurn, um respeito comum, no caso, pela verdace. Com os “revistonistas”, esse eampo nio existe, Seria posaivel um astrofisico dislogar com um ‘“pesqui- sador” que afirma ser a Lua feita de quello Roquefort? ‘sees personagens situam-co nesse nivel, H é claro, da mesma forma que nfo existe yerdade absoluia, nao ‘existe montira absoluta, embora os “revisionistas” se esforcem corajosamente para alcancar esse ideal. Quero CGizoe quia, quanco se eonstata que os passagelros ce um foguete ou de uma nave espacial deixaram slgumes igramas de Roquefort na Lus, nfo possivel negar essa presence, Até hoje, a contribuicéo dos “revisionistas” a nostas conheelmentos situa-se no plano da carreso de algumas eflabas de um texto longo, 0 que néo fustitica um diélogo, principalmente porque ampliaram desme- suradamente o registro da mentirs. Estabelecl uma regra para mim: podemos deve- ‘mos diseutir sobre os “revisionistas”;, podemos analisar seus textos como fazemos a anatomia de uma mentira: ppodemo e devemos anslisar seu lugar especitica na con- figuragio das ideologias, questionar-nos sobre o porqué © camo apareceram, mas nfo discutir corm. os “revisio- nistas”. Pouco me importa os “revisionistas” serem ca variedade neonazista ou de exirema-esquerda, perten- ccerem, no plano psicolégico, & variedade pérfida, per- ‘ersa, parandica, ou simplesmente & variedade imbecil nndo tenho o que thes responder @ no responderel, Esse € 0 preco da coeréncia intelectual precast de Zee cab de 1987) de "Bunda: Fae son Adige, compos dense tasty por Noe Fae. 5B plo mac motivo que nin rapond, ji gue fe Ua peveninete de em ar meres ae ener “oerear” anemia igvasetrere 8 ‘uate (er step 0 ere de P CULAUME & Rego TP TeM de RCEAURISSON on ot dn de he reise fy ime 1 UM EICHMANN DE PAPEL (1980) Anatomia de uma mentira Hesitei por muito tempo antes de responder ao padido amigdvel de Paul Thibaud, diretor de Rsprit. (e ‘que também foi, de 1960 @ 1962, 0 diretor de Verité-Li berté, Cadernos de informavdes sobre a guerra da. Argé- lin) ¢ de escrever eseas paginas sobre o protenso revisio- fnismo, sobre tima obra a respeito da qual as editores dizem ser rir: “Devemos levar a sério ¢ responder aos argumentos de Faurisson.” As re20es para nao falar eram. muiitiplas, mas de valor desigual. Historiador da Antigiiidade, ror que trataria de um periodo que nao era “men”? Tudeu, néo teria demasiado interesse dire- to, néo seria incapaz de uma objetividade total? Nao deveria deizar que historiadores menos envotvidas res- pondessem? Finalmente, responder ndo seria dar crédito 4 idbia de que oristia ofetivamente um debate e fazer publicidade para um homnem cue adora ver seu nome ‘nas manchetes? 0 primeiro argumento néo me tmpressiona muito. Como sempre lutei contra @ hiperespeciatizueao das corporapdes de historiadores, como sempre lutei por summa Historia aberta, tinka a oportunidade, nada nova, de passar @ prévica. Além disso, 0 assunto 2do apre- sentaya maiores dificuldades, 0 que tornava posstvel nie eu me informasse com rapidea. & claro que recuse @ idéia de que um historiador judeu deva sz abster de tratar de certos assuntos. Mas é fato que @ co- ‘munidade historiadora francesa sempre se interessou, infeliemente, pouco por essas auestoes que, na verdade, tim algo de repugnante que é preciso enfrentar. Basta examinar 0 estaio de uosses grandes bibliotecas. Wits ‘se encontra a documentacao bdsica sobre Ausctusite nem na Sorbonne, nem ne Biblicteoa Nacional; para obté-le ¢ preciso consultar essencialmente o Centro de Documentagdo Judaica Contempordnea que também ndo tem tudo. Do grande nitmero de historiadores que assinarare a declaracéo publicada no Le Monde de 21 de fevereira de 1979", poucos publicaram trabathos a esse respeito, seudo uma das rarus excecies F. Delpectt. Ma realidade, a itltima objegdo ¢ a mais grave. 8 nerdade que & absolutamente impossivel debater com Faurisson. O debate que ele nao cessa de exigir esté exoluido, porque sua forma de argumentacdo — a que chamei de emprego da provn néo-onioligica — torna disoussao intitil. 8 também verdade que tentar debater seria admitir 0 arqumento inadmissfoel das das “esco- las histéricas”, a “revionista” e a “externinacionista” Haveria, como ousa anunciar wm panfleto de outubro de 1980, assinado por varios grupos de “extrema-esquer- da”, os “partiddrios da existéncia das ‘ctmaras de gds' homicidas” ¢ os outros, assim como hd adeptos da cro- nnologia alta ou da crowplogia baiza dos tiranos de Corin to, assim como hd, ema Princeton ¢ Berkeley, duas escolas que brigare para saber o que fot realmente o calenddrio da Atica. Quantio sabernos eomo os senhores revisionis- tas trabathain, a idéia tem algo de obsceno. Mas serd que sabemos mesmo? K podemos agir, na Franca, na nossa sociedade centralizada, como se faz ‘nos Estados Unidos, onde o revisionista principal « mate abit, Arthur Bute, leciona tranaitilamente informatica ‘na. pequena universidade de Kranstem (Illinois), admi- rado por uma seita mintiscula, completamente ignorada ‘or aqueles que praticam, de Nova Torewe a Sio Fran isco, a profissao de historiador? Felismente, on injetismente, @ situacio francesa ‘ndo é a mesma, No dia em que Robert Faurisson, uni- nersitério deridemente habliitado, que lecionaxa, numa grende universidade, pode exprimir-se no Le Mondo, expondo-se « ser imediatamente refutedo, a questo deizou de ser marginal para tornar-se ceniral, ¢ o8 que ‘do conhectars diretamente os acontecimentos em gates. 40, principalmente os jovens, acreditaram ter o direito de perguntar se estavam querendo eseonder-thes go Donde a decisio de Les Temps Moxiernes ¢ dz Esprit * de ‘responder. Responder como, se 0 diteusséo é impossivel? Como ‘¢ procede com um. sofisia, ou seia, com um homem que ‘pareeo com aquelo que diz a verdade e cujos argumentes even ser eompletamente desmontados para desinasco- rar as mentiras. Tentando também eleoar o debate, ‘mestrar que o tmpestura revisionssta nao & a tinica a ornar a cultura conterpordnea e ave é preciso com- ppreender nao somente o como dla mentira, maz também porque, Outubro, 1989, csc am pipamene ena ce Ttwe se » 1, DO CANIBALISMO, DE SUA EXISTENCIA E DAS. EXPLICAGOES QUE FORAM DADAS SOBRE ELE, Maree! Gauchet consagrou sua primeira erbnica de Débat (n.? 1, maio de 3980) ao que chamou de “inexis- tenciallsmo”” De fato, uma das caraeteristicas da “‘culbu- ra” contemporinea ¢ taxar do ropente de inexistentes as realidades socials, politicas, ideais, culturais. biclo- gicas que se gcreditava serem as mais bem estabeleci- das. Desia forma, sio taxados de inexistentes as rela ‘goes Sexusis, a mulher, a dominac3o, a opressio, a ‘ubmisséo, a Bistéria, o real, o individuo, a natureza, 0 Estado, o proletariado, a Ideologia, a politica, « loucura, as arvores, Bsses joguinhos entristecem e podem também distrair, mas néo so forgosament perigosos. O fato de fa soxualidade ¢ as relagoes sociais nao existirem nao perturba os amantes, ea Inexisténcia das drvores nunca, tirou © péo do lenhador ou do fabricante de papel. Por veres, porém, o jogo deixa de set inocente. Isso acontece quando se questiona, nao abstrag6es como a mulher, a naturesa ou a histérie, mas ess2 ou aquela expressio ‘espeoitiea ca humanidide, um determinado momento oloroso de sua histéria. Na longa tarefa de dotinir o homem diante dos. deuses, diante dos animais, a fragao da humanidade a. Qque pertencemas opton principalmente, 20 menos desde Homero e Hesfodo no sSculo VIII antes de nossa era, por feoloear 0 fhomem em constraste com os animais como faquele que ado come seu semelaante. Hesiodo dizia 0 seguinte em Os Trabathos e ot Dias: “Bssa & a lei que Zeus, filho de Cronos, presereveu aos homens: que os peixes, as feras ¢ os pissares alados se devorem, j& que hdo existe justiga enire eles". Exlstem transgressdes & les, bastante raras na prética, mais froguentes nas histérias mfuioas Existem sobretudo transpressées clas- siticadas como tais: sio certas eategorias de barbaros, por isso mesino exeluides da humanidade. Um Clelope nao 6 um homem. Nao s40 todas as soctedacies que colocam a barreira nesse nivel. Existem sociedades, nem mais, nem mencs “humanas" do que @ socledade grepa ou a sociedace cidental modem, que admitem 0 consumo de came Tiumana. Mas acho que nao existe nenhuma que consi- dere esse consumo um ato com os outros: a came ‘humana ngo entra na mesma categoria que a carne de cage ow a came de animais do criagao, Naturalmenta, essas diferencas néo sto clares para os observadores de fora, apressados demals em classificar de nJo-homens (08 que sio apenas diferentes. Eis, por exemplo, come Bernal Disz del Castillo, um dos companheiros de Cortez no México no inicio do século XV so oxprimo em ‘sua Historica veridica da Nova-Bspanha (1575). “Tenbo Ge cizer que a maicria dos Indios era vergonhosamente epravada (...); quase todos prestavam-se & sodomia, Quanto a comer carne humans, pode-se dizer que 2 ‘eanpregevam como nés o fazemos com a carne de agou- gue. in todas as aldeias, tinham 0 hibito de construit ‘cubos de grandes pranchas em forma de jaula para 1a aprisionar homens, mulheres, crlancas, engordé-los envié-los ao sacrificio quando estayam no ponto, para Danquetear com sua carne. Além disso, passavai todo ‘o tempo em guerra, provincias contra provincias, aldeias ‘contra aldeias e comlam os pristoneircs que conseguiam ‘apés té-los sacrifieado. Constatamos a freqiiéncia da pritioa vergonhosa do incesto entre filho e mae, irmaoe inma, tio e sobrinhia, Havia bebados em grande niunero, nao conseguiria exprimir toda a sujeira da qual se tornavam culpados®.” © autor desse texto mistura dues oD Jonrtne, Maipr, 188, Lp 216207 ‘spices de dados: informagdes fatuais, combinadas com ‘outras fontes sobre os sierificios humanos e o canibalis= ‘mo, ¢ um disourso puramente ideolégico que visa 6 justi- fear a conguista erista. Nem é preciso dizer aue 0 Inces- to generalizado descrito aqui néo existe em nenhuina spoledade, (© trabalho do antropélogo ¢ do historiador ¢ levar em conta real ¢ o imeginacio e dar um sentido tanto a lum quanto a outro, quer se trate de antropotagia, de ritos do casamento ou de iniciacao de jovens. ‘A antropofagia, ou, como se diz, generalizando uma: Palavra que significa na lingua das Caraibes “ousado” 6 vantbalismo, cuseitou, nesses witimos anos, dots mode: los de reagao perfeitamente simétricos e opostes. A pti- ‘maira interpretago, de tipo “materialista” foi proposta principalmente por Marvin Harris num livro onde se ‘watava simplesmente de explicar go mesmo tempo, “as crigens da guerra, do capitalismo, do Estado e da supre. macia masculina’” Se os homens comem earne huma~ nna, € porque, em Altima andliso, tom novessidade de protefnas: exemplo tipico de uma explicaeao totalitaria, que, na verdade, nto 6 uma explieagao'. Como explicar nesses condigses o fato de a sociedade asteca contar com. abundantes recursos alimentares? Como expliear que os hhabitantes da cidade do México, sitindos pelos homens Ge Cortes em 1821 e famintos, tenham sacrificado seus pprisioneiros e apenas eles, e ainda 96 tenham consumico as partes rltualmente consumfvels (os membros), 0 que ‘a0 evitou gue morressem de forme? Como escrave Mar- A Marvin HARRIS, Comilas end Kings: The Origins of Culures, Randers one Nowa Tori, 178 a6 flare ete seat to ened exe ‘Inky ‘peat te Mantall SAHLINS ote ee Hn Cale etn ttt Rie Sk a of Bk 38 srmie ohe e 4 supremiciemasclina mas sinbénn 9 complexe Ue Baloo €. 3756), bs shell Sablins: “B evidente que o conteiido cultural em questdo — 0 prodigioso sistema de sacrificios — § rico demais na légica e na pratica para ser explicado apenas pela necessicade natural de proteinas de Harris. Para aceitar sua idéia, teriamos, de certa forma, de regatear f realidade etnogréfica (oi) renunclar ao que dela sa- Demos. B preciso, pelo menos de um ato herbico de 1€ ulilitarista para eoncluir que esse sistema de sacrificios era um meio de obter carne para os Astecas” Colocar 0 problema do sacrificio humane © da antropofegia em termos de racionalidade econémica € de rentabilidace ‘conduz a absurdos ineriveis: o sistema nao era, de forma alguma rentével, e até concern‘a a uma economia do esperdicio, ‘igs ent8o 0 que fazer com os eanibais se no ten- tam nem se alimentar, nem maximiear seus Iucros? & nesse ponto que intervém tuma outra explicaco: 0s ca nibais nifo existem, ou eeja, so um mito. Abramos um paréntese: como muitos historiado- eq, mous predoceszores ¢ conterapordineos, interessei-me pela historia do imaginario, estimando que o imaginario 6 um aspecto do real e que é preciso fazer sua historia ‘como se faz a dos cereais e da nupcialidade da, Franca do século XIX. Com certoza, mas esse “real” & nitida- mente menos “real’” do que aguilo que nos habituames ‘9 chamar por esse nome, Bnize os fantasmas do mar- {ques de Sade e o Terror do ano Il, hé uma diferenca de hhatureza e, no limite, uma oposicdo radical: Sade até que era um homem doce. Uma certa vulgarizacio da. Psicanlise tem sua importaneia nessa confusdo entre famtasmas e realidade Mas as coisas sio mais comple- as: ume coisa é levar em conta o imaginério na histo- ria, uma coisa 6 definir, como Castoriacis, a instituicgo imaginaria da sociedade, outra 6 decretar, A maneira de J. Baudillard, que o real social ¢ eomposto apenas de rolagoas imagindrias. Afinal, essa atirmacgo extremada acarreta uma outra que sou obrigado a mencionar: @ que deerete imagindria toda uma série de acontecimen- tos bem feais Como historiador, sinto ser em parte res- ‘ponsivel pelos delirios de que tratarei Devemos a W. Arens essa fascinante evidéncia: 0s canlbais nunca existiram ’. Como é regra nesse tipo de descoberta, Arons passou por vérias tapas. que nos. expliea longamente. Convencido de que @ antropofagia. era uma prética muito comum, ficou surpreso com 0 eardter impreciso da literaiura etnografica. Comecou entao a buscar uma prova decisiva e colocou um antin- fio numa revista procurando uma testemunbe ceuler. ‘As respostas foram vagas, mas um jovem pesquisador alemgo, Erwin Frank, precisou-lhe que esquedrinhara, toda a literatura sobre o canibslisma enire os tndios da. Bacia Amazénica, do século XIV ao séeulo XX, e que nao eonseguira encontrar um nico testemunho de primeira mo sobre a agdo que consistia em comer set préximo Gradualmente chegou a essa constatacao 90 mesmo tempo divertida e amarga: nunca houve cani- als, a antropofegia é uma invencao dos antropéloges a partir de testemunhos inconsistentes. A funedo dessa Invencio € justificar o dominio das sociedades conquis- tadoras sobre 2s soctedades conguistadas © lado grotesco dessa teoria pote ser demonstrado fom aiguimas nkas: com certeza, nunca teremos 0 Les temunko das vitimas, 0 tnico capaz de satisfazer as oa de 10g de fev, A ier we News Fore Reve of Bonis de 3 de marzo de 1979 exigénclss de W. Arens, mas existe um nimero bem suficiente de testemunhos o informesdes para que nao subsista qualquer divida, Fol o gue Marstall Sablins e wires nos lembraram, mas o antropélogo americano teve 0 mérito especial de unalisar a logica sub-replicia, esse tipo de operacio, que concerne mais ao espeticutlo luniversitario do que & pesquisa. Como conclusio, fez também a comparagéo que se impSe com o que sera, a partir de agora, o tema essencial desse artigo: “O livro de Arens segue o modelo tradicional dos empreendimen- tos jornalistico-cientificos nos Estados Unidos: 0 profes- sor X emite alguma teoria monstrucsa — por exemplo, § nazistas, na yerdade, nao mataram os Judeus, ou ainda, a clvilizarao humana vem de outro planeta, ou, finalmente, o cantbalismo néo existe, Como os fatos de. poem contra ele, o argumento principal de X consiste em exprimir, no tom moral mais elevado possivel, «eu ‘proprio desprezo por todas as provas que falam contra ele (..). Tudo isso proveea X ou Z a publiearem um esclarecimento como esse. X torna-se entao o tao dis- ‘eutido professor X e seu livro eonsegue resenhas respel- tosas de nso-especialistas no Time, Neusweek © New Yorker. A seguir, abrem-se os canais do rédio, da tele ‘io e as colunds dos jornais”.” Em outras palavras, nese caso, trata-se nao de Yerdade nem de ciéncia, mas simplesmente de publicidade ou espetéculo universi trio. Digamos as coisas de cutra forma: tomemos um. ppersonagem mal eonhecido da histéria antiga, cuje exls- teneia foi accita até hoje sem problemas: por exemplo, ‘6 legislacor Clistenes, fim do séoulo VI antes de Cristo Um belo dia, decido que ele nao exisiiu e trato de prova- Jo: Herédoto no tinha condigées de afirmar sua exis- New Fer Review of Boks, 22 4e mo Se 1979, 7 téncia; Aristételes repetia fontes elas proprias poco confidveis, © meu verdadeiro objetivo, porém, ¢ outro! trata de impor uma elsdo entre us historiadores de acor- ‘do com meus préprios tormos, Chamarel de “elistenla~ nos” tocos os histerlacores anteriores @ maim; eu e meus: seguidores eeremos anticlistentanos. Todos saberiio que ‘a minha teovia é absurda, mas, como respeitel a8 regras: do jogo, néo deixarao do me respeitar. Marshall Sahlins diz porn severidade 0 que 6 preciso dizer a respeito desse costume: “A publicaeio ou a néo publicagao pelas edi- tores universitarias e, afinal de contas, a propria naiu- teva da pesquisa erudita sfo atrafdas irressistivelmente para a éroita da opiniao média do piiblieo eonsumisar. # um eseandalo. I]. DE LA VIEILLE TAUPE” E DOS CANTBATS Se existem, como vimos, duas formas extremas © ‘opostas de delirio sobre os canibais — o delirio redutor ‘de Harris e 0 delinio negador de Arens, devemos esperar ‘9s mesmos tipos de delirio a reapeito de um aconteci- ‘mento ben mais traumatizanie para nosa histéria de hhoje do que as atividades do todos os eantbais passados, ppresentes e futurcs: o massacre de alguns milhoes de Tudeus europeus pela Alemanha de Hitler. Foderemos: Givertir-nos com ¢ fato de La Vieille Taupe ter publi ‘cado oom alguns anos de intervalo cuss explicagées igualmente simplificadoras sobre o genocidio de Hitler: f redugao materislista e, s 6 possfvel chamar isso de uma explicacdo, a negacao pura e simples, ‘Lembremos que La Vieille Taupe é uma lvraria que ‘se tornou uma editora a que chamaremos, por falta de 2 melhor termo, de anareo-marzista, Do marxismno roteve, niéo o filosofia critica dominante em Marx e alguns de seus diseipulos, nao ¢ pervorsio do Estado de Lénin ¢ Stalin, mas com certeza, a obsessio de uma expltoago total do mundo, enjo caréier puramente “ideoligico" & manifesto. A fhumanidade, um die reconolliada consigo mesma, que € a esperanca do futuro, opdem-se todos os regimes existentes. Todos os regimes, democrético-bur- ueses, stalino-brejnevianos, seiais-demooratas, maois- tas, terceiro-mundistas ou fascistas, so formas da do- ‘minacio capitalista, Principalmente, La Vieille Taupe acredita que no existe qualquer diferenga fundamental entre os dois campos que se enfrentaram na Segunda Guerra mundial e, portanto, nenhume perversidade particular no nacional-socialismo hitlerisia. A partir essa premissa, & possivel adivinhar que La Vieille "Taupo esté bastante mal preparada pera eompreender lugar am tanto particular que os Tudeus ceupam na historia de nossa sociedade desde o triunfo da dissidén- cia eristé. Em 1970, portante, Le Vieille Taupe publice uma brochure intitulada Ausohwits ou 0 Grande Alibi, xe- Droducéo de um artigo anénimo publicado em 1860 em. Programa comunista, érgao de uma cutra seita marxis- ta, aguela que foi fundada por Amadeo Bordiga, O “gran- de alibi” do anti faccisia 6 o extorminio dos Judous por Hitler. Bsse crime por si si marca a distancia que separa 0 democrata do fescista, Mas, segundo os bordiguistas, niio 6 nada disso. # preciso dar a explicagéo econémico- social que se impde ao anti-semitismo da énoca imperial, "Pela sua histéria anterior, os Judeus encontram-se hoje fessencialmente na pequena e média burguesia Ora, esta elasse estd antecipadamente condenada pelo avanco ir- 2% rosttivel da concentrapao do capital.” A pequena bur fiuesia reage a essa condenacao “sacrificando uma do para assim salvar e garantir a existéncia ‘A pequena burguesia alema “jogow os J ‘deus aoe lobes para aliviar o peso do trend e salvar-se! (© grande capital ficou “encantado com a sorte: podia iguidar wma parte da pequena burguesia com a anus ‘ia da pequena burguesia™. A brochura ndo se propée ‘a demonstrar como a “pequena burguesia” est& mais ameagada om 1043 do que em 1932. Ao menos, esforca- se por revelar 0 carater metédico do empreendimento: ‘Bim tempos normals, € quando se trata de um pequeno nnGimero, © capitalismo pode deixar morrer sozinhos 08 hhomens qite rejeita do processo de producgo. Mas era-the ‘inmpossivel fazé-lo em plena guerra @ com milhoes de homens: tal desordem terla paralisado tudo, Era pre- ico aue 0 capitalismo organizasse sla morte.” Mas nd ‘nteresse de quem? “O capitalismo s6 pode executar um. hhomem que condenou se tirar provetto da prépria. con- denaedo @ morte." Tentarao, portanto, encontrar pro- veite no eegotamento dos trabalhadores, enquanto os {que nao pecem trabalhar serio massacrados diretamen- te. Mas € rentével? “O capitaliamo alemao (...) no 0 Tesignou muito bem ao sssassinato puro e simples (..) porque nfo dave dinkeiro”.” Os autores da bro- chute tembom estendem-se sobre a famosa missio de ‘Joél Brand, que deixou a Hungria com a béneao de J fucks e Grind A406 shat 9 Grae AU 9.5. AS x ies en ee Tosa Aldon pelos tere He dorama tether sow ates aie de 10, apn 0 ces provecate ‘Stun eer 1s" Wete Taspe ave camo tt exrine. em 197K 9 posgio da La Viele 4 el ramler para tocar os Judeus ingore detinadoe ao "enoinho” de Auschwita, como isin es nagacantes entre eles, por 10G0C eaminnées "Nem por umn momen: {0 05 autores observam que estamos entio em 1644, ¢ no em Ios2, que Himmler tern bons mtivor para sac ber que a guerra esté perdida e que é preciso tentar jogar Comma iendiria “in tienes jadsion” em aie doe 80 Cesta, A despite deseee ‘entatives, on Judexs foram desizuids, “no poruue Judes, ras porque rejeliados 4p proceso de produgio, inte para a. produgso”. Terla sido o carder decildamente absirdo dessa cxpieago que lev La Vile Taupo a uma lag in. versa, & negagio do genocidio? Nao sei, mas, se houve ‘utapfo, fol uma mutesto brusea pois iz Pir Cul Tnume desde 1970, “LaVelle Taupe comparihara tssencialmente as tess do Fat Resists", Votarel fm breve a Patl Ressinier, aos seus dia lvres que La Viele Tape restos ® es alguns outron. Retenhamos apenas que, da explcagao “materialist pascamos & fegagia para e steples (Rassinier, Paulsson)", tt Alvida mis mance metéciea (Serge Teion) Uma férmula de Serge Thien testa bem eomo o sotto nao- Feallaade da expengdo "materasta” enconrate por ‘tras de suas insatisiacées atuais. Escreve (p. 37-38) 1 Sor a Rbtua dso de ot Bias, vero event, eidenmnente ato pelo Amie DIS, Un milion de Ju tse : ne lee te Y'RAGER htt rd ork 11, dual 12 Se ee hie oP iat Ve Tap, tm, 13, Le Mononse Efe slg, 197%, Ue at par le sens Com De a econ bw. tm si ote sa, BENDIT (Lbwratan de mar d6 19) ¢ Verh ps D))¢ “Oar 2s “Provavelmente houve homicidios por gases artesanais, ‘mas a quostio dos métodos industriais de exterminio no ¢ tratada de modo a responder a todas as questoes que s2 dever coloear sobre 0 funcionamento de qual- quer outra empresa industrial num outre contexto,” De que se trata? Teenologia? Mas exterminar por gas em ‘grande eccala nao coloca problemas esseneiaimente i- ferentes do que exterminar por gés de modo “artesa- nal’? Ou trata-se de uma interpretaeio economicisia de Auschwitz? Se for isso, Thion mostraria que nao com- preence mais o empreendimento nazista do que Marvin Harris compreende o canibalismo. Afinal, exterminar homens, mesmne com métodos industriais, nao é, nese séoulo XX, exatamento o mesmo que enlatar ervilhas. Assim como comer carne humana e comer carne de agougue nao 6 a mesma coisa, ndo tem a mesma carga de sagrado. Qual € a necessidade dos “materialistas’, com o que sonham? Com enormes registro em. que 0s ‘que entravam eram classificados de vivos e os que saiam ‘te mortos? Na realiciade, nao estamos tao longe assim, como veremos, de possut-los; basta fazer 0 esforgo ele- ‘mentar de decodificagio necessirio, Quereriam um qua- dro estatistieo do rendimento das chmaras de gis? ‘A quorela sobre a racionalidade industrial esconde, ce fato, uma ignordncia profunda sobre o que é un sis- tema totalitario, Nao é um organismo funcionando re- gularmente sob @ conduta de um chefe. Na Alemanha ‘anista, por exemplo, a Gestapo, o ministério das Rela- Ges Exteriores, o ministro dos Territérios ccupados for- mavam cls que nao tinham nem os mesmos interesses, nem a mesma politica. 0 aparelho judielério © 0 apa- relho policial (e de deportacio) nao funcionavam no ‘mesmo ritmo", Por exemplo, por multo tempo, cs Ju- 1 Sore ot poets fngumenal de stm tui, done, eatin counts ts doe copal de Fo NEUMANN, Behimot Ste deus condenados pelo direito comum escapayam da de- pportarao, Em Auschwitz, podem ter convivido, multe ‘normalmente, hospitais e instalagdes de exterminio onde desapareciam pessoas vélldas. As oposicGes de intaresse entre os que se preocupavam, antes de mais nada, com matar e as que queriam, antes de mais nada, utilizar @ mAo-de-obra, mesmo judia, esto atestados tanto por ‘documentos da época quanto por testemunhos posterio- res. Além das oposig6es de els © camadas scelais, en- contraremos, no entanto, entre os que falam, um mesmo ‘edo diante doeal, uma mesma Iinguagem distarcada, Na verdade, o assassinato em massa esbarra, entre seus proprios autores, em resistincias tao tenazes que vemos, por exemplo, Himmler usar uma linguagem ai- eta ou quase totalmente direta: “Pizerarm-nos se- ‘inte pergunta: o que fazemos com as mulheres e 28 crisncas? Tomei uina deciséo © encontcei a solucdo ‘6byia. No mo sentia no direito do exterminar (mais ‘exatamente, extimpar, auszurotten) os homens — digam, 0 quiserem, mati-los ou mandar mati-los — ¢ deixar as criangas crescerem, pols se vingariam em nosis eriancas ¢ nostos descendentes, Tive de tomar a séria Gecisfio de fazer com que esse povo desaparecesse da terra (dieses Volk von der Erde verschwinden eu lassen ".” Aqui Himmler aparece no méximo de sua franqueza, embora uma descricio do processo real fosse til vezes mais traumatizante, Mas, por veves, mesmo diante de um publico “informado”, introduz de repente elementos atenuantes, Por exemplo, dante dus oficiais da SS, 24 de abril de 1943: “O anti-semitismo é 0 mesmo que exterminar as pulgas. Afastar (ertferuen) ‘as pullgas nao & uma questo de concepeio co mundo, ‘mas tia questo de limpeza".” Aqui, é a metifora das ppulgas que d4 0 verdadeiro sentido a esse “afastamen- to”. Afinal, é possivel “afastar” uma pulga? Himmler ‘acaba codificando e até abusando da codificagao; desse modo, cuando recebe, em abril de 1943, 0 relatério de R, Korherr, “Inspekteur fir Statistlk” da $8, manda- Ihe dizer rapidamente que no deseja que se fale em parte alguma a respeito do “tratamento especial” (Son- derbehandiung) dos Judeus™. Podemos lembrar que “tratamento especial” jé era um termo codificado para designar exterminio™... Tudo isso é banal, tristemente banal, mas podemos exigir que o “materialista” S, Thion temha aberto as Linguagens totalitdrias de Jean-Pierre Faye"? 1 Petes ona © ont do ehitnn Kame wa cxcene Woche ce CC WTLUERS Es solaon fee a Noblonuate née eB 8 Kinch Pa 7 98188 Cove we mbt dated denen Ge Rei lp 5 [enw ror Kine em pasa "6 6 ae ce 192 arabes faut as ence capt, neuen per Blcbrans kPa © en ray 2028 Kan mre oom SoS somatic. Dower { Matera tase lara Mnemet)© ole 1 boay (N BLUMENTAL od), Lous 84, yh Eile Gus Souder pode tet se pet 20 SPATE Ivan de rast Iter as “Leeces toe II. DA HISTORIA B DE SUA REVISAO ‘Mal a guerra terminou, comecaram os trabalhos ‘sobre 0 universo dos campos de concentrapao: trabalho modesto de detalhe, trabalho de conjunto, 20 qual esto 1igados nomes bem conhevidos, como Gérald Reitlinger, Martin Broszai, Raul Hilberg, Léon Poliakov, Olga Wormser-Migot ¢ outros. Trabalho dificil, pois implica ‘a0 mesmo tempo conhecimento e experiénese, Michel de Boiiard, historiador © ex-deportado, conclufa assim seu ‘admiral ecbogo ecbre Mauthausen *; “Quando os c0- Dreviventes da deportagéo tiverem desaparecido, talvez 0 pesquisadores do futuro tenhiam em maos papéis hoje eseondidos; mas nao mals disporao da fonte principal, ou seja, da meméria viva das testermunhas” Os depor- tadlos esereveram grandes livres sobre a deportaao: David Rousset, Eugen Kougon, Germain Tillion. Um livro comp 4 Mentira de Ulisses de Paul Rassinier nio ode ser deixado ce ser mencionado aqui: excelente como testemunho do autor sobre o que viven, interes inte quando critica as outras testemunhas de Buchen- wuld e Dora e mostra 0s responsdveis pelo apareiho polf- tico dirigido principalmente pelos deportados comunis- tas, toma-se francamente absurdo © odioso quando trata do que absolutamente no conheceu, 0 campos de ‘exterminio e prineipalmente Auschwitz. Da forma como fol escrita, essa histéria tem, senfio um sentido, ac me- nos sentido, Apresenta suas zonas opaces e também sua légica progressiva: “eutandsia” (om parte por gas) By Rae it dee Drain Gare Mode 16 dos doentes mentais om 1939-1041, exterminio, pelos Einsatzgruppen dos Judeas (homens, mulheres ¢ erian- (988) @ dos “comissarios” comunistas em 1941-1942, na URSS ccupada, organizacao e depois racionalizagao do exterminio por gis (Bxido de carbone, a principio, de- pois Zyklon B) de Judeus, Ciganos 0 alguns grupos de ‘pristoneltos sovistiens nos ven trus especlalizads da Po- Jénia e depois, eseencialmente, em Auschwitz, decreto da politiea de exterminio de Judeus de Himmler no fim de outubro de 1044, mas emprego de certas téenicas de ex- terminio nos campos da Austria, Alemanha e Alsécia (pequenas camaras de gis em Mauthausen, Ravens- briik © Struthof) *, Come toelos os relatos histérleos, este, € claro, tam- ‘bém deve ser eriticado, A critica pode © deve eer feita om ‘vice nivels, Em primeiro lugar, toda subliteratura que representa uma forma propriamente imunda de apslo ‘ap consumo © ao sacismo deve ser impledosamente de- hnuneiada”", Também deve ser eliminado tudo 0 que se ~DELPECH hd § cera 4.179 Heres Canes, 27 2, Por mai ue lems ivesenars dopo aire, seas cas creas tntoraant fa sao Ge Dutae, Mio wp tale tno NNewhoe, eb 1978 cfs de mane onrbete se povsn Pius cee romain per 0. WORMGERMGOT (Le ime coreh Rinbencle tosh Pua” 68 Sek sat) € eevanete ene fora ‘io ® Renews Jc, Dense (Ese sal fol at mansions eel Made Ts ESTE SS Mitton « aur opinion One roe 2 de ‘ole dons sind ue Squte'e oe # forme ma Senor Sra Ravanck nr emt se ye 3 Saker ee dene Prangos Stier ven nde b merce sefere & fantasmagoria © A propaganda, A tareta nem. sempre 6 fel, pols a fantasmagoria €a propaganda ba- seiam-se bastante, no realidade. Mas existe exemplis laras, comp este, que esenpan do arcor dos revisionistas, de um teélogo protestante, Charles Hauer, deportadoemn Buchenwald, que nurice viu cimaras de gas e que dell rou a cose respeite: “Quando so tratava de extorminio, a aulomatizagéo abundeva literalmente. 0 exterminio xigia uma industrializacco especial, pois era neces to execaté-to com rapide. As eAmaras de gs satsta- iam, essa necessidade de varies formas. Algumas, de gosto retmado, eram sustentadas por pilares de matéria porose, dentro dos quais o gas se formava para, em se- fguida, atravesar suas poredes. A estrutura das outras, ‘era mals simples. Mas todas apeesentavarn ura aspeeto ‘suntuoso, Era fill perceber que os arquitetes a heviam ‘caneebido cam prazer, com toda a atengéo, com todes 0s recurscs de seu senso estético, Bram as inicas partes do ‘campo consiruidas realmente com amor." Do ponto de visia da propaganda, mencionaremos reportagem do jornalista soviétice V. Grosamarn sobre ‘Treblinka, So i My nt nt TA, “Le cepurtation vemme Ketoeler, Esprit, decantro de. 135%, Peete lene ecclnys esol Obrersteee de 8 de detente Je 196?) © cevtibak com Rosse fe one eteaea ra een eee pareve eorr eeee ore aoe en aan ee See cece sereee nae tuunetaner 1 Spire! deuischer Strefprocese. DTV. Merique, 1979 0 Seah esac, aarti 2 i ‘onde tude ¢ deformado ¢ monstruosamente exagerado, ‘desc o némero de vitimas, mais do que triplicado (de corea de 900 000 a $000.000), até as téenicas utilizacas para matar Nao 6 preciso dizer que os testermunhos, todos 0s testemunhos e documentos — apesar do que diz Fau- risson (Vérité.., p. 210, n. 45), 08 arqulvos do TL" Reich sio agpssivels ace pesquisadores, © que ji nao Acontece com 0s arqiuivos franceses ou soviéticos — de- vam ser eniticados (j4 0 foram, e @ verdade que muitos io passami de fébulas) por métodos comprovadas hi séeuios, O que significa, é claro, que nao ha nada de intocavel no género. O nimero de sets milhoes de Judeus fassassinadtos que provém de Nuremberg nada tem de ‘sazrado ou definitivo, 9 muitos historiadores chegam a tum nilmero ur poucd inferior *, Também, 8. Klarsfeld, ppelo trabalho minucloso que earacteriza seu Memorial, reduziu em mais de 40 000 o nfimero normalmente men- cionado de Judeus franceses deportados (de 120000 a ‘um pouco mais que 76 000) *. Quem nao sprovaria essas pesquisas, quem nao desejaria que teses ¢ trabalhos 22 ‘multiphieassem, 0 que nfo 6 0 caso”? cosy ABAD Bt aa, ae ate nb ey lpn de kien er ai de France, Bg ened Pu 978. Depa pablede un solemn. Fe ‘Tino woeseexenaeineat oy fertes ale sepa ee abs ‘hn ura ctype mus sotte one ton toe pr. ar images 8 WRULERE To Mon tne cs amen tree peat cide ‘exer ne ‘Finalmente, fica claro que esse assassinato de massa dove ser recolocado nos conjuntos aos quais pertence: ‘em prmeiro lugar, no conjunto da politica hitlerista, (Anda, sé se deve comparar o que é comparavel. o geno cidio dos Judeus 26 € comparével ao dos eiganos e, de forma relativa, ao de uma tracao das populacdes sovié- tieas ¢ polonesas). Em seguida, no eonjunto Ga Segun- da Guerra Mundial: € claro que uma histéria nao pode ser escrita unieamente pelos yencedores. O massacre de Katyn, o bombardeio do Dresden, a destruicao de Hiro- shims e Nagasaki, a “volta”, em condicées terriveis, dos ‘lemées expulsos do leste europeu, os campos instalades perto de Perpignan pelos goverons da III Repiblica ¢ ‘do Estado francés, a entrega acs soviétieus dos prisio- nneizos russos refugiados no Oeste também iazem parte dla tanto quanto Auschwitz, ou Treblinks. Nesse caso, também é preciso empregar comparagées honestas. Se. la mentir descaradamente comparar os campos erisdos por tma desisdo perfeltamente escandalosa da adminise tragio Roosevelt para alojar os Americanos de origem Japonesn ans eampos hitleristas (Faurisson, in Verite . 189), © segundo conjunto 8 o planetério de nosso mundo contemporineo, fértil em massacces (os Armé rnios em 1915, as vitimas das guerras colonials) ¢ em ropulacées exploradas até o limite da sobrevivencia Ainda aqul é preciso usar uma medida elementar: por exemplo, a expuleio dos Palestinos nao pode ser com- _parada com a deportacao navisia, © 0 massacre de Deir- ‘Yassin pelos homens de Irgoun e pelo grupo Stern (9-10 de abril de 1948) pode ser eomparado com Oradour e nao ‘pelos, ente ov gunk A009 rstentenVottndo cen se osama ‘dip a unas eae de Cut pornos Yee. ou i 2096 fen 208 camer 1973, 2m Monge 179), 8 ovate utente Ha Gomme 97) peste 38 com Auschwitz. Pinalmente, last but not leest, cabe aos historiadores arranearem os fats historicos das m20s {405 idodlogos quo 08 exploram. No caso do gonocictio dos udeus, é evidente que uma das ideologies judias, 0 sio- nismo, explora o grande massacre de forma por vezes cescandalosa®. Mas 0 fato de a ideologia se apropriar de uum fato nao 0 suprime, eomo todo 0 livro de Thion gos- aria de demonstrar, de uma forma que corresponde hem exatamente A sug atitude pessoal e nfo 2 dos que atacam. Desde quando, para der um exemplo extrema. do, 0 fate de a propaganda hitlerista ter revelailo 2o mundo © massacre de Katyn suprime a sua realidade? Por que a LICRA niio poderla, siimultaneamente, diver fa verdade sobre Auschwitz ¢ utilizar os servicos escamoteador racista como Paul Giniewski (Vérité..., p. 152-153) Km compensagao, 6 incrivel consicerar esse novo liao de Rausisson, chamado Vincent Montell, fadepto obetinade ¢ praticamente parandico das teses arabes mais extremistas sobre Israel o 08 Tudeus sim- plesmente come “um homem que sempre fslou com franqueza" (Veérité..... p. 120-191), © programe que acabo de esbocar procede da pos- quisa histériea. Ainda nfo esté completo e, como toda pesquisa histérica, nunca poderd ser concluio. ‘A literatura dita revisionista”" nos traz tal visdo mesmo sob uma forma exeessiva? De forma al- rece 0 Sow A erent rca € pot vee sede {ome ab urs pte ages Spar sem C1 PSK, ar rose oe CX rm 1m Ste 76 Boe erent do Pani ‘neg’ gone sol «Tit Bek on te “Thine we revione Continue tancendo bo. wtgo sovundeie ae SARIS She Hod nr i ep di a guma. A contribuigao dessa literatura diz respeito es- sencialmente, nfo a historia da guerra de 1999-1945, mas 20 estudo Gas mentalidaies eontempordness, pr cipalmente desce ca anos seszonta, Uma das rariésimas nnformagées que podemos extrait do livra de Thion, por oxomplo, além ca sua bibliografia, 6 a demonstracao de Faurlsson de que o Diério de Anne Frank 6, senao wna “traude bterania”, go menos um documento falsificado (Perlé...., p. 219-288). Licide por win momento, Thion observa (D. 56): “E claro que 1ss0 nfo reduz a tragédia de seu (de Anne Frank| destino,” Na escala da historia, do genocidio hitlerista, essa modificaglo ¢ uma ni- nberia Na vertdade, a idéla de que seria nevessirio opor uma escola “exterminacionista” 0 uma escola “revisio- nista” é uma idéia absurda, naturalmente uma eriaedo dos pretensos “revisioniatas”, idéia retomada num apa- rente equllforio por S. Thion, Existem esoolas historleas que enfrontam outras quando novas problematicas, n0- vos tipos de documentos e novos “t6picos’ (Paul Veyne) ‘parecer. Cada uma tem exemplos presentes no pensa- mento. Mas seria possivel existir uma escola para sus: tentar que a Eestilha foi tomada a 14 de julho de 1789 fe outra gue afirmasse que foi tomada no dia 16? Aqui pisamos no tererno da historia positiva, wie es eigent- lich gewesen, como as coisas realmente aconteceram, segundo @ formula do eéculo pasado de Ranke, um ter- reno em que o verdadeiro simplesmente apbe-se a0 fals0, independente de qualquer interpretacao. B verdade que ha escolas que se dizem “revisionis- tas”. Considerar 0 avesso do que ¢ ensinado é um habito ‘um pouco perverso, mesmo quie parta de um reflexo por 32S» ee Die dare Pt or eves saudivel. Por exemplo, & possivel explicar que Stalin s6 dispunta de uma fantasia de yoder no final dos anos trinta™, ou que somente 0 governe americano dew inicio & “guerra fia” (trabalhos de Joyce e Gabriel Kolbo) ", o quo 6 muito féeil de provar, pols os arquivos americanos sio avessiveis, enquanto os soviéticos nao 0 sso, Nosses cases, trata-co de trabathos bastante dieuti- veis, mas que, de qualquer modo, se referem a uma ética una pratica historicas, Nada disso acontece com os revisionistas do genoeido hitlerista, onde se trata sim- plesmente de sustituir a verdade insuportével pela men- tra tranqilzadors, IV, DO MBTODO REVISIONISTA Aparentemente, existe mais de um aspecto na teoria revisionista. Serge Thion apresenta sua forma modera- oa, até antifaseista, de fazer Jean Gabriel Cohn-Bendit chorar. Em suma, trata-se apenas de uma operacao li- mitada, que visa @ elimmar do repertério de crimes hitleristas, 0 que € menifestamente, ap final de uma crfilea saudavel, impossivel. “Reduzamos 2 questi & fous articulacao central: retirar um crime principal das ignominias nazistas seria reabllitar o TT. Relch, ‘es {querdizs-1o' ou torn lo compardvel a outros regimes po- Iiticos, Isso provém de um amélgama: supée-se que os autores que colocam em ditvida a existencia das cma ras de gis tenham a intencao de colocar em divida todas os outros horrores muito mais conheeidos ¢ ates- son bn ert Sv evo ph ‘tades. Néo passa de um procedimento polémieo” (Vé- rité,.._ p. $9). Na verdade, ai nao ha amélgama nem procedimento polbmico, & Faurisson quem est na ver~ dade revisionista quando profere a famcsa férmula’ “Nunca Hitler ordenon nem admitiy que alguém fosse ‘morto em virtude de sua raca ou de sua religiao” (Véri- #8... p. 91)". De fato, os “revislonistas” compartiInam todos, mais ou menos, alguns principios extremamente simples 1, Nao houve genoeidio, o 0 instrumento aue o sim- ollza, a chmara de gas, nunca existiu™ 2. A “eolugio final” foi epenas o simplosmento a ‘expulséo dos Judeus em direcao ao Leste europeu, 0 *reouo”, eomo diz também Paurisson (Verité. .., p. 90) (Como “a maioria (dos Judeus da Franca) provinha do “Leste”, pode-se deduzir que 86 so tratava de um repa- ‘triamento, mais ou menos como as autoridades france ‘sag Tepatriaram os Argelinos em outubro de 1961, para ‘seus “duars de origem”. 3. © niimero de vitimas judias do narismo é bem menor do que se diz: “Nao existe qualouer documento igno desse nome que confirme que 2 perda total da populaedo judaica durante a iltima guerra tenhe sido {de mais de 200.000 pessoas... Aerescentemas também que esto inclufdos no nimero total de vitimas judias 0s ea50s de morte natural”, escreve com trangiilidade 0 Fy ee faa € anit” (72) OFF Geuse toned ee cl Phin nen row) mane ein ea (aD. 36, Rese adn, 99 ent, Le Manorge Une 9 ITED) ssc preerel se itee lee fe gy ner deci wae a | acvogado alemao Manfred Roeder ", 0 aue, cemograti- camnente, signifies que a taxa de mortalidade das com hridades judaicas foi extremamente baixa, Outros, mais ondosos. ehegam até um milhao (Rassinier, Butz)”, atribuindo grande parte dessas mortes @ avisego ahiada, Por siva vea, Faurisson divide mals ou menos esse milan ‘em dois) algumas eentonae ce milhares de mortes como Soldados (uum belo testemunbo de valentia) ein nGme= ro igual de mortos “devido @ guerra” (Vérité...., . 18%). Quanto ao niimero de mortos em Auschwitz, Judeus € ‘nao-Judeus, “chegou a cerea de 90 000" |:bid.). 4 A Alemanha hitlerista no é a principal respon: sével pela Segunda Guerra Mundial. Compartitna essa responsabilidade, por exemplo, corn os Judeus (Fauris- son, in Vertis... p. 187), cu nem teve qualquer respon. Subllidade. (© maior inimigo do género humano durante os ‘anos [rinta € quarenta nao foi a Alemenha nazista, mes URSS de Stalin, 5. Oxenocidio é uma invenedo da propaganda alie- da, prmeipalmenta Judia ¢ principalmente sionisia, 0 ‘que pode ser facilmente explicado, digamos, por uma ropensao dos Judeus 2 eitar nianeros inaginries sob a influéneia do Talmud Reeorvendo 8s fontes, todas poderdo constatar que de esto inventando. Além disso, 0s senhores “revisio histes” reunitam-se num congresso em Los Angeles em selemibro de 1979, permitindo-se oferecer um promio de 8 50000 delares « quem the desse uma prova das eimaras. de gas para matar Judeus, Pocemes imaginer que 0 jjuel era composto por eles mesmas. Possuem deste entaa tum orgio, Phe Journal of Historical Review; estou com fo nimero 1 (primavera de 1980) diante dos olhos, ear alguns dos mestres desse movimento iceologico, prinei- palmente Arthur Butz € Robert Faurisson. Nele se en- contram os autos do coléquio de Los Angeles Bis, por exemplo, alguns dos prineipios destacados pelo Dr. Austin J. App, um Germano-Americano que Jecionou em varios col6gics catolizos e lelgos: “O TIT” FReich queria a imigracao dos Judeus e nao sua liqida pio, Se quisesso ligiiida-tos, nso haveria em. Israel 500.000 sobreviventes dos eampys de coucentracdo |i ‘mero imaginavio] recobendo indenizagdes alemas por perseguigées immaginarias. Nein um wnieo Judeu foi ‘gaseifieado’ num eampo de concentracdo. Havia nesses campos fornos crematérios para queimar os cadéveres Hos que morriar por um motivo qualquer, e prinetpal- mente depois dos rdides assassinos dos bombardeiros anglo-cmerieanos, A maioria dos Judeus que mnorrew nos. pogroms e dos que desapareceram sem deixar rastros, ‘morgout em ternitérios controlados pela URSS e nao pela, ‘Alemanha, A maiorla dos Judeus que se supée ter sido ‘morta pelos Alernaes eram elementos subversive, p= ‘sans, espides, eriminoses ¢ também, muitas yezes, vie timas de represdlias infelizes, mas ce acordo cam o direl- to internacional “...” E ticil discernir os virios componentes desse dis curso ideol6gieo: nacionallsmo alemvio, necnazismo, 2B Yaa, i mid 7 we nan, a a de erties €& pone! Ir aan de cade un des ns nmwron env 5 Youre oar Rete, star ne, p18 4 Tord of Worl Recess n® hp 5, sexo tne abroad

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