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—$5 $a A SSS Separata |_ex Familiae ortuguesa de Direito da Familia Rrra Lozo Xavier Coimbra itor fam iia Doutrina BEM ADQUIRIDO POR CONJUGE CASADO NO REGIME DA COMUNHAO DE ADQUIRIDOS EM CUMPRIMENTO DE CONTRATO-PROMESSA DE COMPRA E VENDA CELEBRADO ANTES DO CASAMENTO Rita Lobo Xavier Professora da Faculdade de Diteito da Universidade Catélica Portuguesa ~ Porto 1. O problema que nos propomos afrontar no presente estudo € 0 de saber se poderio conside- rar-se exceptuados da comunhio, por terem sido adquiridos “em virtude de direito préprio anterior”, nos termos do n.° 2 do artigo 1722.” do Cédigo Civil, aqueles bens que advierem a um dos conjuges por efeito de contrato de compra e venda por cle celebrado em cumprimento de contrato-promessa concluido antes do casamento. A resposta afirmativa ‘esta questio implicard que tais bens ingressario no patriménio proprio do cénjuge contraente, sem neces- sidade de observincia das formalidades exigidas para © funcionamento do mecanismo da sub-rogagio real indirecta dos bens préprios nos regimes de comu- nhio (artigo 1723.%, alinea ¢), do Cédigo Civil) (1) (0 Ale esige » meno da proveincs do dnkso ou ralres emp ic com ain de ambos or ape (ag 1723 ale ©) Se no fren ‘Smid eta, be gues com dni ou los propos, ‘dum do ngs scour, em pun da compensa deri o pa imino pip dimimida. Cf PEREIRA COELHO « GUILHERME DE OU YVEIRA, Cure de Di de Fumi Ide Dito Marinoni 3+ Edi, 2103, Coimbra Cotes Edens p 522 (ot ute ae, pod, ut "ao ‘tandem cus iter de eiog, mse snp dos np ‘ade parce imped que a cone ene o valores popion «© bem auido ‘ep proada por qualquer mea bt 51). Cle RITA LOBO XAVIER, “Lytton de ane me disp de ie primo ee {ngs Coin, Nii, 2000, p39 e351 ond ee epnto de ga. Figuremos a seguinte situagio: A celebrou um contrato-promessa de compra ¢ venda de um bem imével, vindo a concluir © respective contrato pro- metido depois de contrair casamento com B, no regime da comunhao de adquiridos. Suscita-se 0 problema de saber se o referido bem imével faré parte do patriménio comum ou se teri ingressado no patriménio proprio do cénjuge A, outorgante no contrato de compra ¢ venda. Alguns Tribunais superiores depararam-se com esta questio, embora, por vezes, sem se pronuncia- rem directamente sobre a mesma. Exemplos recen- tes sio os casos decididos pelos Acérdsos de 25-2-1992 € 21-1-2003, do Tribunal da Relagio de Coimbra; de 8-2-2001 e de 8-5-2003, do Tribunal da Relagio de Lisboa; de 15-5-2001 do Supremo Tribunal de Jus- tiga @). Na Doutrina parece haver alguma hesitasio. CASTRO MENDES refere muito brevemente que se Juem na categoria de “bens adquiridos na cons- lo tendo sid ober s formalde xg alles dd ago 17239, ‘pws por qulqer out moda weap de bens prpsos de um dn co jes apenas fed surgi um dino de compensa a fir dese cnjup. (ome seeds © Aco de 2521992 do Tbunal da Rl Coimbra et pul (Cetines de Jriprudénca, bpp. 108 8). DOUTRINA do matriménio em virtude de direito préprio anterior” “os bens adquiridos em execugéo de con- trato-promessa celebrado antes do casamento” (3) PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLI- VEIRA dedicam um pardgrafo a esta questo para considerar nio abrangido na previsio da norma do artigo 1722.°, n.° 1, alinea ¢), 0 bem adquirido por forga de um contrato-promessa celebrado antes do casamento, “pelo menos se este contrato no tinha efi cécia real” (4). No regime da comunbao de adquiridos, segundo dispoe o artigo 1724.° do Cédigo Civil, fazem parte da comunhao “o produto do trabalho dos cénjuges” (alinea @)) “todos os bens adquiridos pelos cBnjuges na constincia do casamento que nio sejam exceptuados pela lei” (alinea 4)). Por conseguinte, em obediéncia 0 teor destas normas, o patriménio comum no regime da comunhao de adquiridos é constituido por todos 15 bens adquiridos na constincia do mattiménio, “que nfo sejam exceptuados pela lei”, de acordo com um princfpio de favorecimento da comunhio (9). (0) Dini de Femi, Lisbon, AAFDL, 199091, p 170. (9, Gane de Dir de ami cit, $88. 0 contat-promen no Via sido india por PEREIRA COELHO como exemplo de una suo seman fides a adds dps, nam na + Epo do Ca (1963), ‘em nas ete poliopindar de 1981 «de 1986, ANTUNES VARELA tmem ‘fo menconou © contrat promes (oem nar ceive eigher de Dini de Fania. nem oa anotagso ao ago 1722 do Cig Cl Anode de que € corny E sigs ee stn retivmente au ona do porate foie e que ¢ unl sproximarse ao paca de refrtnce Che PEREIRA COELHO, Core ae Din de Fame, Dia matin I 1 Exo, 196, 313, onde se menions como exemplo dor numero cs que» fala Frigid eps do cammena, mar em wre J io pit seta” pode ‘Beane 2s pts dr ben indivi, dos icon rete de coro de ‘in edo diets suber condo supensa que vem 2 wesc Aepeis do casmenta. Cie ANTUNES VARELA, Dino de Fm, 5° Ea {20 Lisboa, Livia Peon. pp. 346 « 347 (©) Sedo asin bens comuns todos oben adguiridr pelos cjg ma consnin do asamente que ao seam expr pla le orate 172° (17335 or rencimentr ou “ut” do bee pe faig> 17282 mo Bem adquiride por cinjuge caxado no regime da comunhio, Assim sendo, & primeira vista, dit-se-ia que a resposta a0 nosso problema resultaria, sem qualquer dificuldade, da norma do artigo 1724.°, alinea 6): © bem imével adquirido por A, a titulo oneroso, na constincia do casamento, fara parte do patriménio comum do casal. Mesmo que tenha sido adquirido por meio de bens préprios de A, néo tendo sido observadas as formalidades exigidas para a sub-roga- fo real indirecta dos bens préprios nos regimes de comunhio, apenas haverd lugar a um direito de com- pensagio a favor do patriménio proprio. Sé nao serd assim se se verificar alguma das situagdes em que a lei exceptua os bens da comu- nhio. Ora poderd reclamar-se a aplicasio a0 caso da alinea c) do n.° 1 do artigo 1722.%, para efeitos de considerar o bem assim adquirido como excluido da comunbio, apesar de ter advindo ao casal a titulo ‘oneroso na constincia do casamento. Esta norma exceptua da comunhio os bens que cada um dos cOnjuges tiver a0 tempo da celebragio do casamento (alinea a), os que the advierem por sucessio e doa- fo (alinea 6)) e os que forem adquiridos “em virtude de direito préprio anterior” (alinea ¢). De seguida, (0-n 2 desta mesma disposicio enumera, de forma exemplificativa, alguns casos de bens que se devem considerar “adquiridos em virtude de direito préprio anterior”: “os bens adquiridos em consequéncia de ri) 0 bens comune quifades como tem rude do furcionamento da premio de comuniaaldade dow bene mvc aia 17252, bent avis ‘ne coma pees do aig 1726+ bens sulfate como comma frp davon do dando ou do tatadar are 17292 Sto ers pop, ‘+ “exceprados pla ei os artigos 1722° « 1738® lala no conte do tegme de comunhio de adguton po denisdade ow muna der) on bers Ii como prprioe pl plan do disoro no artigos 1723. 1726 I7z7e e 1728+ Cit, por todon PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA, oh ct pp 55S. © $89 ee Rita Lobo Xavier direitos anteriores a0 casamento sobre patriménios ilfquidos partilhados depois dele” (alinea a)); “os bens adquiridos por usucapiao fundada em posse que tenha o seu inicio antes do casamento” (alinea 4)}; “os bens comprados antes do casamento com reserva de propriedade” (alinea ¢); “os bens adquiridos no exer- cicio de diteito de preferéncia fundado em situagio jd existente & data do casamento” (alinea d)). Estas disposigées contemplam hipteses em que determinado bem sé advém a um dos cénjuges na constancia do casamento, mas em que, de alguma forma, se poderd afirmar uma ligacéo especial de um dos cénjuges a esse bem, em virtude de uma situa- sao existente antes do casamento. A alinea d) refere-se a “bens adquiridos no exercicio de dircito de preferéncia fundado em situagio jé existente & data do casamento", nomeadamente, no exercicio de um dircito de preferéncia emergente de um pacto de preferéncia. Pareceria assim que idéntica solucio deveria ter a hipétese de um bem imével adquirido em cumprimento de um contrato-promessa celebrado antes do casamento: deveria ingressar no patrimé- nio préprio do cénjuge que outorgou no contrato de compra e venda, uma ver que poderia ser considerado como adquirido “em virtude de um diteito préprio anterior” a0 casamento ¢, nessa medida, estaria excep- tuado da comunhio (°), (9 As wemelhanas ete 0 contrat-proma © o pacts de prt o ‘onheidas, aproximan-se os ropecivor regimes em in sspeton Ait fem pueda vata categoria don nec plan € ras © pct de ‘efencia€incido cargos ds comnts pomes A rece da loa aprocimase, nomendamente no que di verpeio 3 forms anges 410° 415°) ear eon igo 413° e421). No ental thcn its ot ‘spect em que ets dow contest atm, ome veemos mas Fee no ‘eo. Cl ANTUNES VARELA Dobro oa Vib, 10 Ei Ale ina, Coimbra, 2000, p, 310, ALMEIDA COSTA, Dini det Oboe, Be ES DOUTRINA Pela nossa parte, nfo temos a menor divida em rejeitar esta iltima solugio. ‘Temos tomado posigio no sentido de que o imével adquirido nas circuns- tancias descritas s6 ingressard no patriménio préprio do cénjuge adquirente se forem observadas as for- malidades exigidas para a sub-rogagao real indirecta de bens préprios nos regimes de comunhio. Se tais formalidades ndo forem observadas, o bem serd comum, uma vez que nao existe qualquer norma que exceptue do patriménio comum esta aquisigio. Fica salvaguardada a compensagéo eventualmente devida a0 patriménio préprio de um dos cénju- ges (). ratio subjacente ao artigo 1722., n.° 1, alinea c), e as situagdes enunciadas a titulo de exemplo nas varias alineas do n.° 2 desta disposigio, com a prépria natureza juridica do contrato-promessa ¢ com 0 Esta solugio serd a mais cocrente com a is tema € 0 espitito do regime da comunhio de adqui- Fidos. E 0 que passamos a demonstrar. 2. Comesaremos por descrever os antecedentes do artigo 1722.9 no Cédigo Civil de 1867. so, Almeding, Coimbra, pp 338 et. € 396 eat, RIBEIRO DE FARIA, Dice ‘ds Obtains, I Aled, Coimbra, 1990, pp. 250 ¢ 280 ea, MENE- {ZES LETTAO, Dio dus origi. No, nro, De Cnc dar. {ie Ameiva, Coimbra, 2000, pp. 191 ee, © 221 (0) Recahecendo ee eventual cia de compen afro do pat ini prpio de um ds cbnjge PEREIRA COELHO « GUILHERME DE OLIVERA, 0 it, p. S68. Com eft, 4 rfereveeapreamente «vis impcam dens de compenayso non ig 1926" ne 2, 1697, rave, 17280, I, que representa nanos opie flr ‘ments de um principio geal que bigs compen dar deocses pu ‘moni cords ene or pattimsnion prin dow slug «ene ees € © furiméio camuim Ar compeninger ens ox pasimenice permite, El ‘an promoven «sinkice de vid ational dos cbivgs, poland, en ‘aie de divéro, ums pondeaso lbs dar deci panei cos tlre canna (fe RITA LODO XAVIER, Lime. cpp 174 417% 595 2398, 420, DOUTRINA O artigo 1130.° do Cédigo de Seabra dispunha que “Se os esposos declararem que pretendem casar-se com simples comunhio de adquiridos, os bens que cada um tiver ao tempo do casamento, ou depois houver por sucessio ou por outro qualquer titulo gra- tuito, ou por diveto priprio anterior, serio considera- dos e regidos como o sio os bens préprios, quando 0 casamento é feito segundo 0 costume do reino”. O artigo 1131.9 impunha a inventariagio dos bens que cada um levasse para o casal, sob pena de serem con- siderados comuns. A obrigag3o de inventariagio aban- gia, de acordo com o § tinico, “os bens supervenien- tes mencionados no artigo precedente”; estes bens seriam considerados comuns se nio fosscm inventa- riados nos seis meses subsequentes & data em que “vieram ao poder do cénjuge a que pertencem”, A doutrina interrogava-se sobre as circunstncias tem que se deviam considerar certos bens como prd- prios de um dos cdnjuges “por direito préprio ante- rior” (8). A resposta resultava da conjugacao das duas disposigées acima referidas: deveria tratar-se de bens a que um dos cénjuges jé teria direito, mas ainda nfo estavam em seu poder. Tais bens nao podiam assim considerar-se como “levados para 0 casamento”, ou por nfo ainda nao estarem especi cados, ou por derivarem de um direito em estado potencial, ou por serem condicionais. Neste sen- tido, seriam “supervenientes”, por nao terem sido levados para o casal, pois advinham a um dos cén- juges apés o casamento e, por isso, no tinham podido ser inventariados na convengio antenupcia Apesar de “supervenientes”, também néo podiam (9) CUNHA GONGALVES, Tate de Dito Cini m Camentris ao Chg Cit Prog, Coimbra, Coma Eds, 1932, pp S15 € Bem auluirido por cinjuge casado no regime da comunho considerar-se comuns, pois, apesar de “virem ao poder” de um dos cénjuges depois do casamento, a sua aquisigio derivava de um direito anterior a essa data. Por is dos como préprios do respectivo cénjuge, desde que inventariados dentro do prazo indicado.. CUNHA GONGALVES dava alguns exemplos da aplicagao desta douttina a situagbes concretas, referindo sobre- tudo 0 caso da heranga aberta antes do casamento, mas apenas partilhada depois do mesmo. Estariam abrangidos pelo ambito destas disposigdes, em geral, todos os casos de bens cuja aquisicio tivesse fonte no a lei admitia que fossem considera- excrcicio de um direito originirio ou em estado potencial, de bens cuja aquisigio estivesse depen- dente de uma condigio que s6 se realizou depois do casamento, a8 reverses, ou consolidagées de direitos. Talar-se-ia em consolidagio de direitos, por exem- plo, quando se tratasse de bens adquitidos em virtude da extingo de um usufruto por morte do respec- tivo usufrutudrio, ou em virtude da revogagio de uma doagio (°). Os bens,adquiridos por acto one- ros € em sub-rogacio de bens préprios de um dos cénjuges também deveriam ser considerados como adquiridos “por diteito préprio anterior”, embora neste caso fosse preciso provar a origem dos fun- dos (1°). A teferéncia a “bens supervenientes” incluidos no patriménio préprio de um dos cénjuges com- preende-se no contexto de um regime de simples comunhio de adquirides que se baseava fundamen- () CUNHA GONGALVES, ok ci, p 519. (7) CUNHA GONGALVES, wh eit, pp 519 €529. Sobre» queso da sbcopo ral indueca dr bere peprios see regime, wsjaae RITA LOBO XAVIER, ob i, pp 94695, Rita Lobo Xavier talmente numa inventariagio dos bens que cada um dos cénjuges levava para 0 casamento e que se man- tinham proprios de cada um ("!), O cumprimento do chamado “énus da inventariagio” dos bens pré- prios era 0 tinico meio de que os cOnjuges dispu- rnham para evitar que certos bens levados para 0 casal fossem havidos como comuns (!2). Os bens que no momento do casamento nfo estavam especificados, ou ceuja aquisicio estava condicionada, no podiam obvia- mente ser inventariados. E, por isso, era preciso prever uma solugio para aqueles que, nio tendo podido ser incluidos no inventétio, podiam ser con- siderados como “levados para o casamento”, se rela- cionados dentro do prazo de seis meses. 3. E bom de ver que o artigo 1130. transitou para o n° 1 do artigo 1722.° do Cédigo Civil de 1996, embora o seu corpo tivesse sido repartido por trés alineas; ¢ que 0 n.° 2 do artigo 1722.9 representa a consagragio de alguns dos resultados alcangados pela doutrina na vigéncia do Cédigo de 1867 a res- peito da concretizacio do conceito de “bens adqui- tidos por direito proprio anterior” (3). (0) ivenesago er fata ne convene anenupil 2 em our ato celebado por meio de escitur publi (0) Pa uma deserigo sicins dene regime ef RITA LOBO XAVIER, he 99.85 0 (0), No Anteprojecto de Brags de Ce conta, adn desis hip 1 dow dined apo cent cn comeca de conto et ‘or clan ater dager diet efctadr ps © camento ey com Sequins de un cons sienna que fee um agi ane indo {eas prey eds lis stress cre ob pon ‘ohendoe 2 rer minel conan aed sue, ceded poe 1 dowcina que o artigo 17222 anes ose deve spa, meso ain, 308 con tea alate aon contr condone, PIRES DE LIMA « ANTUNES YVARELA, Che Cin dnd, IV'2* Ed, 1992 Contre, Corea Etors, 424, PEREIRA COELHO © GUILHERME DE OLIVEIRA, Cano... ce, P58 DOUTRINA ‘As duas primeiras alineas do n.° 2 do artigo 1722.° limitam-se a apontar solugGes que ja decorreriam da aplicagio das regras gerais. Como exemplo de bens adquiridos em vireude de direitos sobre pattiménios iliquidos partilhados depois do casamento, costuma indicar-se o caso da heranga indivisa que s6 é parti- Ihada apés 0 casamenco (4). Na verdade, o direito sobre os bens da heranga adquire-se com a aceitagio dda mesma, retrotraindo-se os respectivos efeitos & data da abertura da sucessio (artigo 2050.°, n.% 1 e 2); também a partilha tem efeitos retroactivos a essa data (artigo 2119.°). Sendo assim, mesmo que 0 n° 2 do artigo 1722.° nao referisse expressamente essa hipétese, sempre os bens inclufdos em heranga aberta antes do casamento se deveriam considerar adquiridos antes do casamento, apesar de virem a ser adjudicados a um dos cénjuges depois dessa data ('5). Também o disposto na alinea 4) jé resul- taria da aplicagio das normas relativas & aquisigao de direitos por usucapiéo, Com efeito, a alinea b) do artigo 1317.° prescreve que © momento da aquisi¢io do dircito de propriedade por usucapito é 0 do ini- cio da respectiva posse nio hd diivida de que o direito adquirido por efeito de usucapiio em que a respectiva posse se iniciou Ora, também neste caso, (09 PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Cig Cin Anade,1V, p43. (0) 70 que loa éo dio adguii sobre 6 pando ui € 0 momen duane dee din eG cu cone « pra oo pat “scone do roo anes” PEREIRA COELHO e GUILHERME DE COLIVEIRA. Gasp 386. Sobre + maces arin de par, cf. OL YVEIRA ASCENSAG, Dine Gl Sante, 5* Ei, 2001 547, CAPELO DE SOUSA, Lise de Dim dar Sur, Vl I, 3 Els, 202, Coimbra CCoimira Ector, p. 239. CARVALHO FERNANDES, Lip de Dito dar ‘Swede 2+ Edn ios, Quid ari 2001, p 339, esinchenes plo menos, fem nga career de to aqubive Apa, que €0 que mete momento DOUTRINA antes do casamento, deve encarar-se como um direito “levado para o casamento” (6), A hipotese prevista na alinea c) parece ser jd um pouco diferente. £ af mencionada a situagio de bens comprados por um dos cénjuges com reserva de propriedade. E certo que, neste caso, 0 direito de propriedade apenas é transmitido quando se verifique © evento a que as partes sujeitaram a produgao dos efeitos do negécio juridico. No entanto, embora a aquisigéo do direito de propriedade possa vir a ocor- rer jé na constancia do casamento, por forga da supensio do efeito translativo normal do contrato de compra e venda, 0 momento da cclebragio do contrato é 0 momento relevante constituinte de um direito & aquisigio do bem (17). A lei terd tido em (09, Na verde, quando se complet © prez da upto. o cnjage quires tonese proprio dele una dan anion dats da ecto fo ‘samen (PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLVEIRA, Cane. 587. Ct, po woos, CARVALHO FERNANDES, Lie de Dit eas 44 Eso, Llbn, Quid ris. 238 Repaese ptm gu edo a aio pr sawp daa, em pcp, oa dipniilidate do iersado, que posed invocr no,o drow adqie & ater do cant, meme hip (0) O aig 409, mI, do CSige Gl permit or empl, ep se a trafic de propria ve pee apenas com o cmprimente fol 08 fil dat obripes do autem, com » entga la da cota a Fag de qualquer outo evento. A douinaenaer conto de compen €| vena com rer de prota como um nein quant ferinc d p [rindade. sob condo mupeniva (ALMEIDA COSTA, Din dar Obrigae, A Ei p. 262). Rececement, teeta tee precede ce ee 6 ‘eps Ht ono copendoruna pect jr deo o ber ra “expectiva real de njnyio™ (MENEZES LEITAO, ob se p. 178, mpuindo LIMA PINHEIRO, A cldwale de marae de proprndade Cabra, Aeon, 1988, p. 113, par quem o “ee de xpos do compar se teres, +o 16 um dito real de agus de propredde ar tem um dite de {10 mr temo do ito de proprieade?), Att b vericyfo do fare» cj ‘eifcaro a pater condiionaram or esos do epi “no ene sins wa At peso na pesson do adguente ma hd um dob subi ple ‘ue psdemosdesgar por expecta jie” (HEINRICH HORSTER. re Ger de igo Cail Porat. Tia Gera do Dit Cin p 493). aa pa 9 pa d presi que rea dow aga 272, 2730, 275% > 2. pl ue © repo jurle, pou dee logo “or eos proctor ds expecta 44d) Ch. PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA. Care op 887 Bem adguirido por cénjuge casado no regime da comunhio, considerasio o facto de, apesar de 0 bem ter advindo 20 cbnjuge depois do casamento, se reportar, quanto a respectiva causa, a uma data anterior ao mesmo ('4) Encaremos finalmente a situagio indicada na alf- nea d). Agora trata-se de uma situagéo totalmente diversa das anteriores, pois aqui jé néo estamos perante direitos verdadeiramente adquiridos antes do casamento, ou perante direitos cuja causa de aquisi- lo seja anterior ao mesmo. Sem queretmos tomar Posigio quanto A natureza jurfdica do direito de pre- feréncia ("), importa todavia concretizar algumas idcias sobre 0 momento do nascimento desta cate- goria de direitos, para tentar compreender a dispo- sigéo de que nos ocupamos (°°). Com efeito, poder aceitar-se que o legislador tenha quei juge do adquirente nao participe no valor de um bhem que Ihe adveio pelo exercicio de um direito de preferéncia com origem numa vantagem que lhe foi conferida antes de casar, “sem que 0 outro tenha colaborado porque o dircito nasceu no patriménio do adquirente antes do casamento” (2!). Mas, entio, quando é que se pode considerar que 0 diteito de preferéncia nasceu antes do casamento? lo que 0 cén- (09 doin fancen chido paiméniocomuen, 0 regime gal “communi rede aor acqu’, or bene adqution nm consacia do case mnt er ide de “ua cum sera” ANDRE COLOMER, Dt Ca me Marinoni 10 Ei, Pars Lie, 200, p. 279) a0 gun oc gr der da eae de propria anor ao caamene FRANCOIS TERRE, {PHILIPPE SIMLER, Droit Col Le Regn mevimune 2* Ei, Pa alos. 1994, 310 p. 229, (Quine 3 ea gusts, jase AGOSTINHO GUEDES, A narat ia dedi depron, Pat, Ee a Uriveiade Carina Pouce (Port), 1999. pam as pp. 17 sy vee enuncado do probleme ¢ ¢ resumo das principals epnider formulas na douina quanto nares do Siro de pecttnea. (©) 'AGOSTINHO GUEDES aint qu subjacent «et atm ear «© ewendimeso de que o dito de peertncia¢ um dco nee» condise ne ‘em, iden que no the parce eave ts Te ora 419) (9) PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA, ob, p 597 Rita Lobo Xavier DOUTRINA Em rigor, parece que o direito de preferéncia apenas nasce com a verificagio concreta dos pressu- postos definidos no pacto de preferéncia (direito de preferéncia convencional) ou na norma que prevé em abstracto a obrigagao de dar preferéncia (direito de preferéncia legal) (22). A referéncia aos “bens adquiridos no exercicio de direito de preferéncia fun- dado em situasio jé existente & data do casamento” como bens adquiridos “em virtude de direito pré- prio anterior” apenas se compreende nas hipéteses em que a situago geradora do direito de preferéncia ocorra antes do casamento, pois apenas nesses casos se pode entender que 0 “direito foi levado para 0 casamento”. Ora isto s6 serd assim quando a verifi- cagio dos pressupostos definidos no pacto ou na norma que atribui em abstracto o direito de prefe- réncia se verificaram antes do casamento, No caso do pacto de preferéncia, nio bastaré assim que um contrato deste tipo tenha sido celebrado, E necessério que a situagio que origina o direito de preferéncia tenha ocorrido antes do casamento, ot seja, é neces- sitio que 0 obrigado & preferéncia tenha decidido vender ¢ tenha notificado © titular do direito para preferir antes do casimento, ou que tenha violado esse direito vendendo 0 bem a terceiro sem Ihe ter dado preferéncia (3), S6 nessa hipétese é que se poder falar na verdade de que a aquisigio do bem se funda (©) Ch. MANUEL HENRIQUE MESQUITA, Obit rt ¢ de rei, Coimbra, Amedia, 1990, pp 191 et, weed p 136 AGOSTINHO GUEDES, of a, p. 159 (0) Antes dino, ¢ incor flr de um “ist etSnomo, ej de ue aurea for" (MANUEL HENRIQUE MESQUITA, abe pp. 203 ¢ 208 € 12 127). De um dio de pefertcia verdad « pps pode far se ‘tan se veguem em concrete preening bortinde, ome dhmene, que ea project um nepcio que origina + prefer ue © higdo Ames propo flo (bop 207 num direito anterior ao casamento (?4). Quanto as preferéncias legais, compreender-se-4 a previsio do legislador se se tiver em conta que o exercicio de um direito de preferéncia é encarado pela doutrina como o exercicio de um direito potestativo, pelo menos nas preferéncias legais e nos pactos de prefe- Ora os direitos potes- tativos constitutivos sio um prolongamento de direi tos pré-existentes, de “relagées juridicas pré-existentes” € so estas que possibilitam o exercicio subsequent de tal direito 8). Sendo assim, ¢ realmente possivel que a aquisigio de um bem se dé apenas apds 0 casa- ‘mento, mas resulte do simples exercicio de um direito potestativo que se encontre incindivelmente ligado a uma situagio pré-existente ao casamento. Esta liga- fo serd flagrante se estivermos perante um caso em que um dos cénjuges adquire um bem através do exercicio de um direito de preferéncia legal baseado numa situagio anterior ao casamento. Na verdade, as preferéncias legais poderio ter origem em situagdes ctiadas e consolidadas antes do casimento € que, por- tanto, apenas dizem respeito a um dos cnjuges 7), réncia com eficécia real @) (09 Em ig presage ques nconr viclad 0 sop sive no pact de preerncisconsste m apres 20 benef do dia de [peti uns roposta de consao (por todon ALMEIDA COSTA, oh i fp. 396 es) por toa, ACOSTINHO GUEDES ine em la rest, {Teco “enc” «em “vetaldne, no senda de uc a diet de pre ia pode ou mo ves conus, e nen mid, ne equ ei a ape fai jardin (ob et pp. 14. 159 e100. (0) Cle. por con, HEINRICH HORSTER, A Pare Gel do Cie Gt Porat step 251 (2) HEINRICH HORSTER, A Pre Genel do Cio Cin! Porgy dee opto, ee aor ifr anbn gur 0 raiment do dicho poe taro eo sea ec conc ua virwalkadefatene” dase ji ft precincts (ht 245. (2) Por compa «sap de sendar, noc do aig 47. do RAL (Regine do arendamente urbane aprvado pelo Desi me 321-890, de 15, se Outro), stuagio de propriciio de terteno coninanterfeida no tigg 1381, + situgto de comproprisio no cao do artigo 1409» DOUTRINA Contudo, a lei nao distingue entre 0 exercicio de um direito de preferéncia legal ou convencio- nal (8), Serd de perguntar se nao se justificard uma interpretagio da norma da alinea ¢) do artigo 1722.°, aque restrinja a sua aplicagZo aos casos em que a noti- ficagio para preferir ou a violagio da preferéncia seja anterior ao casamento, pelo menos quando esteja em causa um pacto de prefeténcia. Suponhamos que Ae C celebram um pacto de preferéncia, con- vencionando que A teria preferéncia na venda de determinado prédio pertencente a este; ou que ambos celebram um contrato de arrendamento sobre um prédio urbano destinado & habitagao do primeiro. ‘A contrai casamento com B, no regime da comu- hao de adquiridos. Passados 10 anos, C decide alie- nar 0 prédio € notifica A das respectivas condig6es. A decide comprar 0 prédio. Este prédio deverd ser considerado como bem proprio de A? Julgamos que no, uma vez que a conclusio do pacto de preferén- cia sobre determinado bem, ou a celebragio do con- trato de arrendamento, apenas definem as condigies fem que ter lugar 0 nascimento do direito de prefe- rir @). Apenas se justficaré a qualificagio do referido prédio como bem proprio de A quando o nascimento do direito de preferéncia ocorra antes do casamento, isto é, no caso figurado, quando a notificagéo da d sio de C de alienar o prédio (ou a violagio da prefe- réncia) ocorrer antes do casamento de A (°). (©), AGOSTINHO GUEDES shude “Tinh dvs? mae ou ment cca qu tinge ee peri lei preecinconvenionas come ‘eral por um td, «dior de peerencia convencona com mera ea ‘igo. por str (obits pp 17 a), embor setae de Bigs dis (ele MANUEL HENRIQUE MESQUITA, ch cit, pp. 193 © 198 =) (@) AGOSTINHO GUEDES, oh ee, pod (©) Lembrese org de rfericin 4 “bem adguirido em virwde de iste prio ane? no dominio do Cio de Sabra uvave de distor __Bem adguirido por cinjugeeasado no regime dt comunbso. 4, Podemos assim resumir 0 entendimento sub- jacente as hipéteses expressamente referidas na lei ‘como situagdes em que os bens sio adquiridos “em virtude de direito proprio anterior". A lei quis que mantivessem a qualidade de bens préprios determi- nados bens a que um dos cOnjuges jé tinha direito antes do casamento (alineas a) e 4)) (1). O facto de se referirem situagdes que, em rigor, nfo configu- ram verdadeitos direitos anteriores a0 casamento ¢ compreensivel se encaratmos a situagio da compra sob reserva de propriedade (alinea ¢)) como uma “expectativa real de aquisigao”; € se encararmos 0 direito de preferéncia com origem numa situagio anterior ao casamento na perspectiva da especial liga- do a um dos cénjuges, muito embora se justifique tuma interpretacio restrtiva da hipétese prevista na all- nea d), de modo a afastar situagbes que configuram direitos apenas eventuais. ipétese do contrato de com- pra e venda celebrado por um dos cbnjuges em cu primento de contrato-promessa concluido antes do casamento. Concretamente, esta hipétese nfo se poderd considerar andloga & dos “bens adquiridos no exercicio de direito de preferéncia fundado em situa- fo jd existente & data do casamento” (artigo 1722.°, no 2, alinea d))? Na verdade, podem sublinhar-se as semelhangas conhecidas entre 0 contrato-promessa e ‘Vejamos agora a {ut ands nko tnham advndo a um dor cSiges, mas nto erm puramente Tipoutioe ava un run de cs mos par or vertaat Por extol, © juge ioe uz daponign um mean de sebagai rea indeta tomo s previo no acta sige 17232 sine (3) raie sbjccte eta norma io tem apna «vet com a idea de ques bers do eam do sng cn do ate portato deve urd mana comun? (EREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA. 9. Ep 512) uma vet qu fe ealadsexrenament a compentfio eventual nets devia av pana coum Rita Lobo Xavier © pacto de preferéncia, aproximando-se os respecti- vos regimes em varios aspectos (32), Se a lei incluiu © pacto de preferéncia, entio, por identidade de razbes, se deverd considerar abrangido 0 contrato-pro- mesa. Contudo, também sio muitos os aspectos em que o contrato-promessa e o pacto de preferén- cia se afastam. E muito diferente 0 conteido da obrigagio que emerge de um e de outro: do con- trato-promessa resulta a obrigagio de celebrar um determinado contrato, emergindo do pacto de pre- feréncia a obrigagio de dar preferéncia em certas condigies. Neste sentido, no pacto de preferéncia “hi algo menos’ (33). Se um dos cénjuges celebrou um contrato-promessa antes do casamento, nasceu para © promitente vendedor uma verdadeira obrigagio de realizar 0 negécio prometido; se um dos cdnjuges concluiu um pacto de preferéncia sobre um deter- minado bem, nao nasceu para 0 sujeito passivo qual- quer obrigagio de contratar, ele apenas se obrigou a apresentar uma proposta de contrato no caso de vir a querer vender aquele bem (°4), Decisiva é porém, a natureza obrigacional do contrato-promessa: 0 promitente-comprador apenas “leva para o casamento” o direito de exigit a cele- bragio do contrato prometido. O contrato-promessa de compra e venda apenas faz surgir dois direitos de crédito — direitos subjectivos propriamente ditos — a favor do promitente comprador ¢ do promitente 0) canoe 6. (0), ALMEIDA COSTA. ole Cont ns ennmeno ead porventus, MENEZES CORDEIRO, que ena ocontate definitive come Fl merecangsinen do cnn rmeas nbc opaganena do co tet defo” gue" mda te de novo no wc glanenne do Sb onveta oh ot, pp. 480 481) (09, or today ALMEIDA COSTA, ob «a i DOUTRINA vendedor (5). © promitente comprador apenas tem © direico de exigir um comportamento do outro: a emissio da declaragio negocial de venda (artigo 410.»). E certo que, se 0 promitente vendedor nio cumpre, ele poderd ter 0 direito de recorrer & execucio espe- cifica (artigo 830.9, n.° 1). Esta visa apenas a rea- lizagio coerciva de uma prestagio obrigacional, néo transmuda o tipo de obrigagio em causa. E, tanto assim é, que se © promitente vendedor vender o bem a terceiro, o Tribunal j& nio pode emitir a declara- 40 negocial em ver do faltoso (3%), Sendo assim, o promicente comprador quando adquite o bem objecto do contrato-promessa depois do casamento, nio 0 adquire “em virtude” do contrato-promessa, mas em virtude da realizagio do conteato prometido (adquire pela declaragio negocial do promiente vendedor ou sua substituigéo por uma sentenca). facto de um contrato-promessa gozar de efi- {cia real também no altera 0 que acabamos de afi mar (37). As partes podem outorgar eficdcia real a contratos-promessa de alienagio ou oneracio de bens iméveis ou méveis sujeitos a registo, se observados os requisitos previstos no artigo 413.° Segundo a dou- (0) Sobre o contrat promess, ANTUNES VARELA, Der Obrigete ‘em Gera Nol, 10 Eaigo, Almedina, Coimbra, 2000; pp. 306 ¢ ALMEIDA COSTA. okt pp. 338 eae, MENEZES LEITAO, oh sit Sabre 1 dating ene dicossubjecsivospropriamente dose dis potenti, ‘jase MOTA PINTO, Teoria Ger do Dien Cid cic, pp. 73. ty CARE VALHO FERNANDES, Tere gel do Dito Cir dade Cais Ede, beat (0), MANUEL HENRIQUE MESQUITA, oh cit, pp 225,233 « 234 Para MENEZES CORDEIRO, nee coo pomitemte compeadr tem sme taneamente um direc real de agunigio um dite de xi (be, Pa), (0) Ea hip & fia no Acti da RL 8-220, como uma ds ipl em gue sei de cones o bem como aida em vine de dco pips sneae 4 DOUTRINA. Bem adguiride por cbnjuge carado no regime da comunhio, trina ainda maiortéria, esta circunstincia néo altera a natureza obrigacional do contrato-promessa (8). fancionamento desta cléusula dependerd sempre da prévia celebragio do contrato prometido ou da execugio expecifica do contrato-promessa. Em caso de venda do bem bem imével objecto do contrato-pro- messa a terceiro, sera a execugio especifica do mesmo que o promitente comprador poder opér ao terceiro. O seu direito sobre © bem néo Ihe advém do con- trato-promessa, mas do contrato prometido que, s6 depois de celebrado, prevalecers sobre o do rerceiro ‘embora ulterior (39). Repare-se que as coisas jé nao se passa assim no caso do pacto de preferéncia: se 0 obrigado a dar preferéncia alienar o bem a terceiro, 0 tinular do direito de preferéncia que goze de eficdcia real poderd, em accio de preferéncia, obter 0 direito a substituir-se nesse negécio. A sua prevaléncia dé-se em face do préprio pacto de preferéncia (*), 5. Vejamos finalmente se estas nossas observagées conduzem a resultados justos. socorrer-nos de dois casos decididos pelos nossos tri bunais. — Em Junho de 1978, Maria outorgou como promitente compradora em contrato-promessa de Para tanto, vamos (0) ANTUNES VARELA, ob ct, p 374, ALMEIDA COSTA, ot pp 365 « 3, MANUEL HENRIQUE MESQUITA. oo, pp. 225 0237, 253, fs, BRANDAO PROENGA, Coat ramen Ted i al de Diise ‘ks Ober, 2001/2002, plc, p. 7.” MENEZES LEITAO alae msl, dna pela durin pare eumpinento da promens com eck ln a Ae vende dite eco eo de ec pete cont pd, wo fe eeusto epectica con 0 eet, aco de rend), open po po or uma apo declare cort, evenuanene cmon uot ped fe resiigo (oh ci. 220, O fc de entender que» epi adequda de eco neste coneto # uma seo conrttutin vam corobre oreo Aefendemon vo tee (0), MANUEL HENRIQUE MESQUITA, ob sit, pp 252 (4) Por wos, MENEZES LEITAO, ob cit p. 220 « 228 compra e venda de um terreno, tendo entregue uma quantia correspondente totalidade do prego esti- pulado, Maria casou com Manuel em Fevereiro de 1979, sem convengio antenupcial. Em 4 de Novembro de 1979, foi celebrado 0 contrato de compra ¢ venda do referido terreno, A questo surge na sequéncia da morte de Manuel, tendo o Tribunal entendido que o terreno era bem era préprio de Maria (Tribunal da Relagio de Coimbra, Acérdéo de 25 de Fevereiro de 1992). — Em Novembro de 1978, José outorgou como. promitente comprador em contrato-promessa de com- pra e venda de uma fracgio auténoma de um prédio, tendo entregue uma quantia correspondente a mais de tum tergo do prego estipulado. José casou com Maria em Novembro de 1979, sem convengio antenupcial. Em 7 de Novembro de 1979, foi celebrado 0 con- trato de compra e venda da referida fracgio. A ques- tio surge em 1996, em processo de inventério na sequéncia de divércio, O Tribunal decidiu que a frac- «fo autdnoma era um bem comum (Tribunal da Rela- fo de Lisboa, Acérdo de 8 de Fevereiro de 2001) (*) (0) 0 Sapreme Teibunal de Jui em Ai de 15-05-2001, paces incinaese pa a algo que defenders ei, emote apenas tea po. unio sobre wu deci do Tbna ds Relat de Cambra gue feet Fares poi comune Asso ee spun: em Novembre de 197, B outargeu como promitentecomprador em conto prmesa de compre ¢ ‘end de ua fs atéooms de um pido eno entice guano repent amas de um erg co pe explo, B cs corn A sm Nove lo de 1987, tem conengo amenupea Em 11 de Maio de 1950 fo le Seadoo coma de compra e vena da ree fy.” A gusto are em rows de inven a eqns de divirsoem gut» fico fl vaca ome bem comum. Brena, petendendo que ta bem er pedpan, Em reco de avo, ant © Tibunl da Relaio de Camb come Supreme endetam qu seta near» prota da rons dos bent wade elo {que emer a pare paso coma Outas dates Hem ut ‘ma ft oad do pon de vita spre da moma desea ral ret dos bes pire nos eps de comunhlo sno dealers qe Ae eid lead ar cans rome ante do arena, evar Rita Lobo Xavier DOUTRINA Em ambas as decisées parece dar-se particular importincia ao facto de 0 prego ter sido, ou nio, integealmente pago no momento da celebrasio do contrato-promessa (#2), Com efeito, pode ler-se no Acérdio do Tribunal da Relagio de Coimbra: “(...) cremos (...) que se considere proprio o bem que um dos cénjuges comprou em execugio de um con- trato-promessa anterior, maxime quando, como no caso presente, pagou todo o preso ainda em solteiro”. ‘Também a Relagio de Lisboa, depois de entender que © bem ingressou no patriménio comum, acrescenta: "Entendimento diferente resultaria da circunstincia do adquirente, a0 celebrar © contrato-promessa, ter pago, a titulo de sinal, a totalidade do prego. Nesse caso, justificar-se-ia a equiparagio, para estes efeitos, do contrato-promessa 20 contrato de compra e venda, pois © pagamento da totalidade do prego realiza, por parte do comprador, a plenitude da prestagio devida pela aquisigio do bem que, considerando-se transmi- tida para o patriménio do adquirente antes do casa- mento, seria sempre bem préprio do marido.” ‘A nosso ver, hé aqui duas questdes distintas facto de ter sido paga a totalidade do preso no afecta a natureza do contrato-promessa, pelo que 0 poder conideasesigitiva Co Actin do Supe Tun de ain "1-12-1995 e de 21-2003, do Tbunal da Ro de Cama porn ano specimen, an Reina de Dini « Ee Soia, 1957, 0 12-3, se, em Carr de Dire Pad m0 5, 2008, pp. 2c No ‘ein do Sipe Tul etapa ra“ blue nin ‘cnacia deal pgamen tr sid ed no enquadrament de cotta po- ‘esa gute ou nao er, rand pres Se reshum cont dace tipo (Gree had, em made are o vent da io (7 ($90 Thr de Reo de Liston tm eb reed 20 fa de contatpromen ou ao tet fica ra Sete sd confide ck ‘el, eure dem diet rel de ous, “andlogo ie sunSer do ta hse eft ot opin. Repose que, mao im cca rel a um contrao-promes at pes podem opt Doral claro coms promt, nyjundove enor sung previa cénjuge promitente comprador nao adquiriu um direito sobre o imével objecto do contrato-promessa antes do casamento (#3). O facto de apenas um dos cAnjuges ter pago efectivamente a totalidade do prego do imével antes do casamento importa para averigurar da possibilidade de quaificagio desse bem como pro prio desse conjuge através do funcionamento da sub-rogagio real indirecta dos bens préprios. Dir-se-ia que, quando 0 preco de um bem foi totalmente pago antes do casamento, a solugio mais, justa seria qualifici-lo como bem préprio. Mas, nesta situagio, 0 cOnjuge promitente comprador pode sempre usar a faculdade que the € conferida pelo artigo 1723.°, alinea ¢), de manter a qualificagio do bem como préprio, uma ver que foram empregues valores préprios na respectiva aquisigio (#4). Se figu- rarmos agora a hipétese inversa, em que 0 prego foi pago integralmente na constancia do casamento por meio de bens comuns, a aplicacao do artigo 1722.9, alinea ¢), a todas as situagées, independentemente da proveniéncia dos valores empregues, levard a que ‘© bem seja sempre préprio, sem que haja a facul- dade de © qualificar como comum, mesmo indi- cando a proveniéncia dos bens empregues. Seri esta ‘a hipétese mais provavel quando se tiver recorrido a (©, Mame qo © promitentecompridr pag oaldade do preg do els do Soneatsrromena por Parte Go prowinae vendor ns 40 do hem a tertivo speargeaia uns bigs de indemanat (09 Ou de obec uma compenngso os emo as expt Per care, dete condrd sofia do lr no aig 1723 line 20 igi intervengso do outro cing Ald, ete, resando-e alters pode invhbior fecimmrents dove meres de onbroged eal owe he 1 hips do pment judicial de inervento do cee, «bres hips ‘de cumprient tai dot requis du vab-ogagto el indie don bee po (alr meine decom ness de oar de iia? de rar {e compra vend (em que um dos coger vem india a prvenitc dot ‘alors empregus om intervengio do out cup) RITA LOBO XAVIER, Limiter spp. 353 4,365 «sy 3086 482 DOUTRINA empréstimo bancério, vindo as respectivas prestages a set pagas por meio de bens comuns, normalmente, com o produto do trabalho dos cénjuges (*). Fica assim demonstrado que a aplicagio do artigo 1722.9, alinea c), & situagio de que nos ocupa- mos s6 conduzird a resultados justos quando 0 prego for pago na totalidade antes do casamento. 6. Concluindo: mais razodvel que a solugio da aplicagio do artigo 1722., alinea ¢),& situagio em que um bem é adquirido em cumprimento de um con- trato-promessa anterior 20 casamento é a que decorre da aplicagio do artigo 1723.°, alinea c), relativo & sub-roga- ‘go de bens préprios nos regimes de comunhao: para que 0 bem em causa seja qualificado como préprio de tum dos cBnjuges bastard que indique no documento de aquisigio que foi adquirido por meio de valores préprios, © que 0 outro cénjuge intervenha no acto, E esta a solugio que melhor corresponde ao facto de o bem que € objecto do contrato-promessa no ser adquirido em virtude do contrato-promessa, mas em virtude da realizagio do contrato de compra ¢ venda. jnalmente, esta &a solugio mais adequada ao sis- tema de repartigao do patriménio no regime da comu- nhio de adquiridos em que o artigo 1722.° se integra. (©) O age 17222, ne 2 amb dpe gue 0 paiménio comm no ser alec, Tl no silica, pom, que agua nora eee a ree 2 ‘ns qu stim comun sno fe ea dipne. Prevnese€ plese de fs agbieo doe bene ape a caanenta stem wiador Bea comans (COO Pruner de tvna sa pattha, papamento de algma presact em divi). Repueesinds que a ompensagi ni tr clean « qlifinto do bem Como proprio ou emu, nomeadamene pas eos de pores de aise (Gov dopey, quando hj dae qu esponabilzem amore bohpes ta aria por morte de um dx cbouges Bem adguirido por cnjugecasado no regime da comunhio.. De acordo com este sistema, ingressam no patriménio ‘comum todos os “ganhos” “alcancados” pelos cBnjuges, todos os bens que “advierem” aos cbnjuges durante © casamento que nio sejam exceptuados pela lei. Ou, nas palavras de ANTUNES VARELA, fazem parte da comunhio os bens que os cOnjuges “Fizeram seus” na ‘onstincia do casamento a titulo oneroso (86), A comu- ho dos bens adquiridos ¢ justificada pela convicgio de que cles sio 0 resultado de uma cooperagio, de uma comunhio de esforgos ¢ sactficios (#7), Exprime a ideia de que deve ser comum aquilo que representa 2 “colaboragio de ambos os cénjuges no esforgo patri- monial do casamento” (48). © artigo 1722.° pretende excluir aqueles que, embora tenham vindo ao casal na constincia do casamento, néo sio resultado do esforgo comum dos cénjuges, ou porque foram adquiridos antes do casamento, ou porque foram adquiridos a titulo gratuito, ou porque tém como causa um acto anterior ao casamento. Fora dos casos exceptuados pela lei, existe um favor juris relativamente 20 patriménio ‘comum que significa que a entrada dos bens para a ‘massa comum esté dispensada de prova: todos os bens adquiridos na constincia do matriménio si0 conside- rados comuns (!%). Se durante 0 casamento forem adquiridos bens a tftulo oneroso por meio de bens pré- pics, s6 deixario de ser comuns por efeito da aplica- Gio do disposto no artigo 1723, alinea ¢). (0) init dF, p45. (5) RITA LOBO XAVIER, Limi. pp S12 {4} PEREIRA COELHO 'e GUILHERME DE OLIVEIRA, i, pp 505 ¢ (0) Rebivamente 3 oom congénere do antigo 1724 lines 4), do (Ciigo amen ce PRES DE LIMA, RJ 898, 3088, p 296; ce RITA, TORO XAVIER, Lin... pp 348 «309.

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