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Pricologia: Teoria e Peceuiza aver 2010, Tol. 28181. pp 25.83 Revisitando alguns Conceitos da Teoria do Apego: Comportamento versus Representagao?* ‘Vera Regina Rolnelt Ramizes* ‘Michele Scheffe! Sclneider Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) RESUMO - Este artigo propde uma releitra de alauns conceits da teria do apego, especialmente os d2 apego, comportamento de apego e modelo representacional intemo, Visa disoutir tais conceitos & Iuz das concepgdes de Bowlby e de autores ‘contemporineos. A dicotomia entre comportamento e representasao do apego ¢ questionade, bem como aestabilidadeeunicidade {do modelo representacional item, com base na anise das contribuigdes dos principaistecrisos desse eampo, especialmente na vertente psicanalitica, Diseute-sea imporcincia da dimensao epreseataciona e seu papel reguladar das emogdes e organizador do self, as implicagses desses papéis para a Psicologia Clinica e do Desenvolvimento e para futur estudos. Pi wvras-chaver apego e psicandlise; comportamento de apego; representasao do pogo, Revisiting some Attachment Theory Concepts: Behavior versus Representation? ABSTRACT - This paper proposes a revision of some attachment theory concepts, especially those about attachment, attachment behavior, end internal representational mode. It discusses such eoneepts according tothe ideas of Bowlby and some contemporary authors. The dichotomy between behavior and attachment representation is questioned, as well as the stability and specificity of the internal representational model, based on the main theoreticians of this eld, especially the psyehoanalytical ones, It is evaluated the relevance ofthe representational dimension and is role as emotions’ regulator and self organizer, andthe implications of such roles for Clinical and Development Psychology and fr future studies Keywords: attachment and psychoanalysis; attachment behavior; attachment representation 0 objetivo deste artigo € diseutir alguns conceitos da teoria do apezo. partindo das concepgoes de Bowlby ¢ retomtando-os a luz das coucepgdes de autores contempor’ nneos, especialiente na vertente psicanalitica da tear. Ha uma vasta literatura dedicada ao tema do apego. podendo-se idemtficarcontribuigoes ancoradas numa perspectiva mais, cognitiva, e outras numa perspectiva mais psicanalitica Encontra-se uma diversidade de termas coma “modelo funcional do eu”, “modelo funcional interna”, “modelo de trabalho inter”. “modeto operante intemo”. “modelo re- presenfacional interno", “representagdes ments”, “scripts”, “estilo de apego”, “padrio de apego”, “eomportamento de apexo”. “sistemas comportamentais”e, mais recentemente, “estados mentais”,“apezo compartithado” e “modelo Fucio- nal compartilhado”, muitas vezes sem uma definicdo clara Sem pretender esgotar essa discussao, busca-se focalizar, especialmente, o conceito de modelo funcional ou modelo representacional intemo ¢ sua relagdo com © coneeito de comportamento de apego, tendo em vista o interesse no tema da especificidade, da estabilidade ou mudanga do padrio de apego de uma pessoa. Inicia-serevisando algunas contribuigdes de Bowlby a respeito dos conceitos de apego, comportamento de apezo, 1 Este artipo deriva da Dissrtago de Mestado da segunda autora, re \izade no Programa de Pos-Graduaséo om Psicologia da UNISINOS, seb enentapao da peameira tora 2 Endereo para comspondéncia: Av Carlos Gomes 11, 9.201. Porto Alege, BS. CEP 90480.004 Fone: (1) 3331-6819, Fax: (S1) 3596. 8122, Email veraramies tera comb, vaitesunisinos br sistemas comportamentais ¢ modelo funcional ou modelo representacional interno. Aborda-se. a seguit, o crescente reconhecimento da importincia da dimenséo representacio- nal do apego, do conceito de modelo fimcional ou modelo representacional interno, sua complexidade e a inter-relagao entre conceitos da teoria do apego e de outras vertentes da teoria psicanalitica, Finalmente, algumas consideragdes a respeito das implicagses da teoria para a Psicologia Clinica ¢ para a Psicologia do Desenvolvimento sio feitas. Bowlby ea Teoria do Apego Como Bowlby (1979/1997) assinala, até mneados da déca- dade 50 do século passado predominava uma concepeao de que a formagto e manutencao dos vinetlos sustentavam-se namnecessidade de satisfazer certos impulsos, como a alime tacdo na inf’incia ¢ o sexo na vida adulta. Em contrapartida, esse autor postulou que existe nos bebés uma propensao {nata para 0 contato com um ser hnmano, o que implica na “necessidade” de um objeto independemte do alimento, tao primréria quanto a “necessidade” de alimento © conforto, alicercando sua teoria no relato de farta pesquisa empirica Bowlby, 1969/1990), Para Bowlby (1988/1989) a teoria do apego foi desenvol- vida como uma variante da teoria das relagoes objetais. Como seu ponto de partida foi a observacao do comportamento, foi tomada por alguns clinicos como uma versdo do beliavioris- mo. equiveco que decorre, para o autor, da confusao entre apego e comportamento de apexo WRR Ramives & M.S. Scneider Apego ¢ un tipo de vineulo no qual o senso de seguran- «a de alguém est estreitamente lizado a figura de apego. No relacionamento com a figura de apego, a seguranga ¢ 0 conforto experimentados na sua presenca permitem que seja usado como uma “base segura”. a partir da qual pocera se exploraro resto do mmindo (Bowlby. 1979/1997), Em 1969/1990, Bowlby assinalou que apego-cuidado € um tipo de vinculo social baseado no relacionamento complementar entre pais efilhos, O apego tem sta propria motivagao intema, distinta da alimentagio e do sexo, coro postulado pela teoria freudiana, e de ial importancia para a sobrevivéncia (Bowlby, 1988/1989). Sendo 0 apego um estado intemo, sua existéncia pode ser observada através dos comportamentos de apego. Tais comportamentos possibilitam a0 individuo conseguir e manter a proximidade em relagio uma figura de apego, ou seja, um individuo claramente identificado, considerado mais apto para lidar com o mundo, Sort, fazer contato visual, chamar, tocar, azarar-se, chorar, ir atrs sao alguns desses comportamentos, ‘Uma diferenca importante entre “apezo” e “comporta- ‘mento de apego” € que seo “comportamento de apego pode, em circunstancias diferentes, ser mostrado a uma variedade de individuos, um apego duradouro on lago de apego érestrto ‘a muito poucos” (Bowlby, 1988/1989, p. 40). A teoria do apego ocupa-se de ambos. Um conceito-chave dessa teoria, para o autor, é 0 de sistema comportamental © sisteta comportamental seria um sistema basico de compostamento, enraizado biologicamente e caracteristico daespécie, O sistema subjacente ao comportamento de apezo 6 tao fundamental como parte do equipamento de muitas espécies quanto 0s sistemas subjacentes ao comportamento reprodutivo, 0 comportamento parental, 0 comportamento de alimentacio. 0 comportamento exploratério, e ele nio deriva de nenhum destes. Como outros sistemas basicos, 0 de apeuo & supostamente pertencente a um provesso de selegto natural, pois oferece uma vantagem em termos de sobrevivencia, pelas chances de protesdo obtidas pela proxi- rmidade das figuras de apego. Os sistemas comportamentais inchuem nao somente manifestagées externas, mas também ‘uma organizagao intema, a qual presume-se que tenha raizes nos processos neurofisiolégicos. Essa orgamizacdo interna € objeto de mudanga desenvolvimental nao apenas sob orien- tagto genética, mas também pelas influencias do ambiente (Ainsworth, 1989: Bowlby, 1969/1990). 6s sistemas comportamentaistranscendem o que € cha- ado de comportamento “instintivo”. seja qual fora acepeao do termo, Bowlby (1969/1990) levanta esse argumento a0 destacar o papel da linguagem, caracteristiea singular que traz como beneficio a possibilidade. para o ser hmmano, ‘a0 construir seus modelos representacionais, de apoiar-se nos modelos construidos pelos outros. Os sistemas com- portamentais sao organizados hierarquicamente por meio da lingvagem, apoiando-se ent modelos representacionais refinados do organismo e do ambiente Bowlby (1988/1989) postula, portanto, “a existencia de uma organizacao psicologica intema, com um certo mimero detragos altamente especificos, que incluem modelos repre- sentativos do self da(s)fizura(s) deapego” (p.41). Ao final

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