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‘Miriam Keensinge A. Guinan MARTINELLI, Maria L. Servigo Social: do Assistencialismo a Profissio- ‘nalizagéo, 1990. ‘MOZART, Linhares S. Do Império da Lei as Grades da Cidade, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997, SOARES, Luis E. et ali. Violéncia ¢ Politica no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: ISER/Relume Dumara, 1996. SPOSATI, ‘alii. Os Direites (dos Desassistidos) Sociais, 38 ed. Séo Paulo: io Raul. “A Criminologia como Instrumento de Intervengao na Realidade”, in Revista da Escola do Servigo Penitencirio do RGS. Secretaria da Justiga, 1990. A Psicologia entre Nuvens e Granito: Problematizando as Pericias Criminais Julio César Diniz Hoenisch Trajetéria de Pesquisa Em 2002, realizei uma pesquisa de cunho documental junto ao Centro de Observagao Criminolégica do Rio Grande do Sul (COC), pertencente a Secretaria da Justiga e da Seguranga do mesmo Estado. Ocupei-me, na vistas a nortear minha investigagao, determinei como um de meus 3s investigar quais séo © como se evidenciam os critérios utilizados fissionais da Psicologia, em sua perspectiva juridica, para a produgéo minado tempo histérico. Diante da marcada inci ‘uma certa leitura psicanalltica em seu escopo argumentative ~ a saber, a : See Spee SARS RRMEES was idaronte lores soldaronin cvalncae colocados na articulagao epsistemolégica dos laudos também foram analisa- das a partir do “relativismo moderado”, de Thomas Khun, adotando a com- tes nos laudos periciais, A criminologia pode ser considerada, assim como a .prdpria Psicologia, um campo de conhecimento com perspectivas plurais do a ee ee te6ricos, a logica de sustentagéo argumentativa, orientam-se para o viés psica- nalitico, mais especificamente, a escola da Psicologia do Ego, de origem norte- 160 {A Pscoogls ence Nuvens @ Grant: Problematizando ae FerilsCrisinas americana e amplamente difundida entre a Psiquiatria ¢ a Psicologia no Bresil ‘A disciplina Psicandlise apresenta diversas (re-Jeituras do texto freudiano, ticas pés-freudianas: a escola francesa, @ escola inglesa e a americana. Na primeira, 0 estatuto epistemolégico, proposto por Jacques Lacan centra sua co do inconsciente para o Ego, desconsic bbando 0 conceito de realidade (Roudine analisados, entrotanto, a argumentacéo utiizada mostra-se com diversas © apenado apresenta um ego imaturo e infantil, sem ter conseguido aprender e amadurecer com a experiéncia prisional. & evidente sua falta ‘com a vardade, sando seu relato amplamente divergente das pegas pro- lo Chea Dini Howat ‘como roguladores da posigéo do técnico implica em desdobramentos signifi cativos @ problemas teéricos e metodolégices importantes, A “Verdade Fundamental” e a Construcéo de um Inquérito Policial ao Invés de uma Avaliagao Psicolégica. ‘preso esté em condigées de vida prisional 6timas, praticamente uma escola, de onde deve extrair aprendizados e ser capaz de conter suas angustias. Na ‘via inversa, contudo, inimeras dentincias de orgios ligados aoe direites ‘humanos indicavam condigSes Sub-humanas nas prisbes gaichas) como 0 proprig relatério das caravanas de Direitos Humanos :em referido quanto as ‘condigdes carcerarias brasileiras (Relatorio Azul, 2001). Resta interessante investigar em outro estudo junto aos técnicos quais os referencias argumen-_ 2 ent Outro ponto nevralgico na construgao dos laudos reside na exigéncia de “adaptagéo a realidade" por parte dos detentos. A dificuldade reside no fato de que, em todos os laudos avaliados, a discrepancia entre a fala do preso em relagao ao relatado no proceso & compreendida como negagao da realidade 1a marcada tendéncia de os técnicos psicélogos tomarem a verda- de posta nas pecas processuais como indicadora inconteste da realidade e apalavra do detento, desde sua génese, um discurso inveridico, como pode- ‘mos acompanhar neste fragmento empiric: # flagrante a tentativa do periciando de enganar a técnica na ava- 1iago, Consta no processo que sua relagéo com a vitima sempre foi con- turbada e violenta. Assim, 0 periciando mente tentando beneficiar-se, indiando fortes tragos anti-sociais de personalidad. ‘A adosto do técnico a esta perspectiva super interpretativa do material processual mazea um insolive diema para a percia criminal ome produsit ‘uma avaliagao psicologica sida sem a cooperacio do entrevistado e jé com ‘a palavra considerada natimorta? Os laros mmecessais no arwesentam indie de preocupagao com esta dimensio, em fu bistrica e abstrata de homem/aujeito. Se por oto reflex sobre o conceito de verdade na teoria psican coeréncia argumentativa se ampliam consideraveimente, Segun 9), em quaisquer outras condigbes de avaliagio ingndstica ‘una relagéo de confianga mitua entre o profissio- nal eo av oa vordade 6 verdade do discurso, 6 a realidade pat- ‘sua perspectiva a- lo, nos dedicarmos & ica, os problemas de 12 |. Peiologia ene Novonse Granite: Probematizando as PevcaeCrininale quica que esté em questo, Desta maneira, a tentativa de apoio dos laudos técnieos nas proposigées psicolégicas com ambigées cientificas acaba reve- lando contradigdes inconcilidveis. Soria a pericia criminal, entdo, uma espécie de inquérito re-editado no processo de execucdo da pena? Estaria 0 apenado sendo submetido a um novo julgamento pelo mesmo crime, a cada vez que se deparasse no proces- 80 de execugio com a pesquisa apontam quo a resposta mais provavel é sim. Se é desta maneia, 1hé um comprometimento significativo do procedimento das pericias em rela- cao & sua juncdo com o dieito. Ainda que hoje a pericia criminal ndo seja mais obrigatéria para a progressao de regime, o papel da avaliagao psicolé- gica e psiquiétrica continua apresentando peso significativo na decisdo jul cial ona prégrin constrain ndvduainegto da pane ecisionais na justiga, onde a pericia resulta em pega processual central. Longe do Encorrame: mnsideragées sobre as Implicagées de Certas Praticas Psicolégicas na Execugao Penal a anflise dos documentos selecionados, foi possivel observar quo os laudos técnicos operam com principios tautolégicos de investigagao: se 0 palavras, os fins passam a representar prineipios @ ‘maneira circular. O fato de o apenado mentir indica sonalidade pouco digna de crédito. Como se con: ele cometeu tum delito, Portanto, determinado fato aleatério 6 comproondido como indicador do principio do transtorno. O crime, histéria confirma o diagnéstico, De onde ele provém? Da histéria. Como saber se 6 a histéria de um criminoso? Pelo fato de o delito ter ocorrido e ser corro- Dorado pela histéria de criminal. Argumenta-so quo 0 apenado devo continuar preso para o sou préprio “bom”, Volta-se & mesma légica dos principios da Psiquiatria conven- cional: 0 individuo deve ficar recluso para que melhore para voltar a socieda- de, Mas, na medida om que 0 manic6mio era cronificante, acarretando a piora do paciente, mals rforgada estava aidéla de que o aber peiqudiico esta- va certo: 0 curso degenerativo da motbidade estava reafizmando a hipétese da gravidade do doonte. Em maneira analogs, os tcnicos adotam a mesma perspectiva. Quanto mais "evoltedo" e“insubordinado" 0 apenado se apre- Sente, mais correto esto parecer do profisional ‘A logica da intornagdo e enclausuramento do apensdo, assim como do portador de sofrimento psiquico grave ¢ tratada quase como uma resposta “natural, wibutéria dgiappa da gua aia pode anos malbaroa oor sonalidade do detento. Para esta construgdo, of laudos desconsideram Peropectiva hé mult apontada por Goffman (2001) sobre a mortiicagbo do Ei, 03 fenémends de despersonalizagao, ete., que ocorrem no proceso prisio- ‘nal Também os escritos foucaultianos, que exaustivamente apontam a frag lidade da produglo das pericias eximina 2002). A légica utilizada na produgéo da tem uma ligica menicomial, de construc do ponto de vista da ética do profissonal do vista do uma profisedo que deve zelar (Ou sea a presenga da pslcologia no ‘em sou inicio, na construgho do to reterido “peri” do preso ob em suas apa , vendo no palcblogo 0 referencial de saber ‘A presenca do psicélogo mostra-se fundamental como elemento problemati- zador da logica do carcere, do dispositive puntivo, da produgao de uma ges- 140 do sofrimento. nerabilidades socials da pear en papel politico de psieélogo wonto e importante, uma vez, contudo, logicos se aprosentem sblidos e éticos. ‘Tarefa dificil em tempos de banalizago da Psicologia e constante violagéo dos direitos humanos por parte do préprio Estado, que deveria zelar pela pro- ‘MOGEO'da"BESSOa Mas, cabe ao Psicblogo nAo recuar diante de desafios ‘buscar a compreenséo do fendmeno criminal, da violencia, fisica ou simbdli- 198 {A Plcclogia entre Navens e Granta Prblematizando os FekiasCeiminat ‘ca, Cabe a ele dar palavra onde esta falha; 86 assim produzindo uma socie- dade mais ética. Referéncias Bibliograficas CUNARRO, Miguel Lagon. Factores individuales de la criminalidad. Fundacion de cultura universitaria, Buenos Aires, 1992. FOUCAULT, (coord.) Eu, Pierre Riviere, que degolei minha mée, minha irmé e (Os Anormais, Rio de Janeiro, Ba. Martins Fontes, 2002 GOPPMAN, &. Manio6mios Pria6es o Conventos. S4o Paulo, Porspectiva, 2001. HOENISCH, Julio César D. Diva de Procust:Critrios para pericia criminal no Rio Grande do Sul. Dissertagio de mestrado, Pontificia Universidade Catolica do Rio Grande do Sul, 2003, RAUTER, Cristina. “Diagnéstico psicol6gico do eriminaso: tecnologia do re- conceit.” In Reviste do Departamento de Pricologia da Universidade Faderal Flaminense, Rio de Janeiro, 1968 RELATORIO AZUL, Eaigdo 200/2001, publicagao da Comisséo de Cidadania ‘ Dieitos Humanos da Assombléia Legisiativa do Rio Grande do Sul ROUDINESCO, F, & PLON, M. Dicionrio de Paicandlise, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998

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