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A Economia do Subdesenvolvimento Coletinea de artigos ¢ estudos, selecionados e organizados A. N. AGARWALA. S. P. SINGH > ne FORENSE Rio be Janrino - Si0 Paco Primeira edigso: 1969 ‘Traduzido de: ‘THE ECONOMICS OF UNDERDEVELOPMENT ‘Oxford University Press — New York Copyright © 1958, by OXFORD UNIVERSITY PRESS Mi ‘oaann7e47 ‘tradugio t ‘Manta Cruixa WaartLy de: Revisdo téeniea 2 de: AxrOv10 Barnos pe Castro Reservados os direitos de propriedsde desta traducio pela COMPANHIA EDITORA FORENSE Av. Erasmo Braga, 299 - 1.9 ¢ 2° and. - Rio de Janeiro Largo de S, Franeisco, 20 - loja ~ Sio Paulo Impresso no Brasil Printed in Brazil Plano da Obra IxrRovugko 1. ABORDAGENS DO PROBLEMA DO SUBDESENVOLVIMENTO. A Economia do Desenvolvimento — Jacob Viner ... ‘A Expansio Demogrifica e os Padres de Vida — Colin Clark © Problema do Desenvolvimento Econémico Limitado — Gerald M. Meier Economia Politica do Subdesenvolvimento — Paul A. Baran Uma Interpretagio do Atraso Econémico — H. Myint . 2. © CONTEXTO HISTORICO Os Paises Subdesenvolvidos © a Fase Pré-Industrial nos Paises Avan- gados — Simon Kuznets A Decolagem para 0 Desenvoivimento Auto-Sustentada — W. W. Rostow 7 40 «2 83 99 141 159 0 DESENVOLVIMENTO ECONOMICO COM OFERTA ILIMITADA DE MAO-DE-OBRA * W. Aeriue Lewis Este aRtiGo For escrito segundo a tradigao ciéssica, aceitando suas suposigdes ¢ formulando suas questies. Os cléssicos, le Smith a Marx, supuseram ou accitaram que sc verificava uma oferta ilimitada de mio-de-obra a saldrios de Subsisténcia, A seguir, perguntavam de que modo aumenta a produgio com o decorrer do tempo, e encontraram a resposta na acumulagao de capital, explicada pela anélise da distri- buigao da renda. Assim, os sistemas classicos determinavam. simul- taneamente a distribuigao da renda © 0 crescimento da mesma, jun- famente com 8 precas relativos das bens coma subproduto de menor portancia. © interésse pelos pregos ¢ pela distribuigio da renda permane- cou ma era neockissica, mas a oferta de mio-de-obra deixou de ser ilimitada e ja entio no se esperava que um medéto formal de ancilise econémica explicasse a expansio do sistema através do tempo. A mucanca de hipéteses ¢ de interésses era bastante adequada a Eur ropa onde, efetivamente, havia Timitagio m1 oferta de mio-de- * Publicado em The Manchester School, maio de 1954. Reproduzido ‘com a permissio da Manchester School e Go autor. OFERTA ILIMITADA DE MAO-DE-OBRA 407 obra e onde durante o meio século seguinte tinha-se a impressfio de que @ expansio econdmica poderia ser vista como algo automatico. Por outro lado, na maior parte da Asia a oferta de trabalho é tada e a expansio econdmica nio pode ser tida como garantida. No entanto, os problemas da Asia attairam muito poucos economistas na cera necclissica (0s proprios economistas asiiticos absorveram. as su- posigdes ¢ preocupagées da economia curopéia) ¢ durante quase séeulo nao se {&z nenhum progresso no tipo de economia que serviria para ilustrar os problemas dos paises com excedentes populacionais Quando foi publicado 0 livro de Keynes, General Theory, pen- sou-se que éste esclareceria os problemas dos pafses com excedente de mio-de-obra, visto que supunha uma oferta de trabalho ilimitada, 1 precos correnies, ¢ também porque fazia, nas paginas finais, certas observagdes sobre’a expanso econdmica secular. No entanto, as re- flexdes posteriores revelaram que o livro de Keynes nao s6 supunha oferta ilimitada de trabalho, mas também, e principalmente, ofer- ta ilimitada de capital ¢ de terra; isto era mais importante tanto a curto prazo, no sentido de que, superada a Restricdo monet © limite real & expansio nao estd nos recursos fisicos, mas na oferta Jimitada de trabalho, quanto no longo prazo, no sentido de que a ‘expansio secular vé-se interrompida nio pela 'escassez mas por uma poupanea tornada cada vez mais supérflua. Aplicadas as solugoes defendidas por Keynes, restabelecer-se-ia o sistema neocléssico. Dai no set 0 Keynesianismo, do ponto de vista dos paises que contam ‘com excedenies de trabalho, mais que uma nota de rodapé para neoclassicismo, embora se trate de uma longa nota, importante © ‘mesmo fascinante, Assim, o estudo dessas economias tem que retro- ceder até os economistas cléssicos para encontrar um marco analitico em que possa encaixar de modo relevante seus prdprios problemas. (© propisito déste artigo é, portanio, descobrir o que se pode aproveitar do marco ckissico para resolver os problemas d& distribu 20, acumula¢do € crescimento, cm primeira lugar numa economia fechada e, depois, numa economia aberta, Nao & éste um ensaio sbre a historia’ das doutrinas econdmicas e, assim, nao nos deteremos em cada autor, individualmente, assim como no procuraremos invest gato que queriam dizer ou verificar a validade ou certeza de suas idgias. Nossa finalidade € prineipalmente atualizar seus esquemas & uz dos conhecimentos modernos, verificando em que medida podem (0s mesmos auxiliar-nos na_compreenstio dos problemas coniempo- Hineos de grandes zonas da Terra. 408 A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO A EcoNoMIA FECHADA ‘Temos que iniciar suponco uma oferta d2 trabalho ilimitada & tomando-a como hipdtese util. Nao pretendemos, repetimos uma ‘vez mais, que isso seja vilido para tOdas as reg des do mundo, Certa- mente nao 0 € pata © Reino Unido e para a Europa Norte-Ocidental. ‘Tampouco € valid para alguns dos paises considerados como subde senvolvidos; por exemplo, verifica-se aguda escassez de trabalha- dores em aigumas partes da Africa e da América Latina. Por outro lado, € dbvio que esta hipstese se aplica para as economias do Egito, India ou Jamaica. Nossa finalidade no é superar a economia neo- clissiea mas, simplesmente, elaborar esquema diferente para aq Jes paises que no podem ser encaixados dentro das hipdteses neo sicas (nem keynesianas). Pode-se dizer, primeiramente, que ha ilinitada oferia de tra- balho nos paises onde a populagdo € tio munerosa em relacio ‘capital e recursos naturais, que existem amplos setores da economia em que @ produtividadle marginal do trabalho ¢ infima, nula ow mes- mo negativa. Diversos escritores chamaram a a‘engio para a existen- ‘cia de um desrmprézo “disfarado” déste tipo, cemonstrando em cada eso que a propriedade familiar € tio pequcna que, se alguns mem- bros da familia obtivessem outras ocupagées, os demais poderiam continuar a cultivar a terra do mesmo modo ‘(teriam, naturalmente, ‘que trabalhar mais; 0 argumento inclui a proposicio de que em tais circunstincias desejariam trabalhar mais). No entanto, o fenémeno nao € de modo algum limitado ao campo. Outro amplo sector onde se ve fica é 0 das ocupacies eventuais: os carregadores do porto, carre~ gadores de malas, os biscateiros, e outros. Estas ocupagoes apresen- tam em geral um némero de pessoas muito maior do que 0 necessario ¢ cada trabalhador ganha importéncias muito pequenas com éste tipo de trabalho eventual; {reqitentemente, 0 mimero désses trabalhadores poderia reduzir-se a metade sem que o produto do setor d Os vendedores ambulantes também sc incluem neste tipo & encontrados nas economias superpovoadas; eada pegueno eomerciante 86 efetua algumas vendas; os mercados véem-se repletos de tendas € ainda que fosscm as mesmas reduzidas, em grande ntimero, 0s con- sumidores nao se ressentiriam disso de forma alguma, podendo, inelu- sive, fica os consumidores em melhor situagtio, pois poderia diminuir @ margem absorvida pelos retalhistas. Ha vine anos mio. se po- deria escrever isso sem ter que parar para explicar por que molivo nestas circunstincias os trabalhadores eventuais niio viam seus rendi OFERTA ILIMITADA DE MAO-DE-OBRA. 409 mentos reduzir-se a zero ou por que a produsio dos camponeses era totalmente absorvida pelas rendas sob forma de renda da terra. Atualmente, porém, estas proposigoes jd ndo aterrorizam os econ nomistas. E preciso dar maiores explicughes nos casos em que as trabax Thadores nao esto auto-empregados, mas que traballiam por salitio, visto que & mais dificil de acreditar que os patroes pagucm salitios que excedam a produtividade marginal. O mais importante dentre étes setores € 0 de servigos domésticos que esti, geralmente, ainda mais inchado nos paises superpovoados que o comércio a varejo (em Barbados, 16% da populagao encontraram-se no servigo doméstico). A razao disso & que, nos paises superpovoados, 0 cédigo de compor- tamento ético é de tal modo elaborado que se tora conveniente que cada pessoa oferega a maior quantidade possivel de trabalho. A linha de separagio entre empregados e individuos econdmicamente depen- dentes do patrio é quase que imperceptivel. O prestigio social que se tenham criados © um grande senhor pode ver-se obrigado a possuir todo um exército de empregados que nfo constituem, na realidade, sendo uma pesada carga financeira. Isto nao ocorre sdmente no servico doméstico mas em todos os setores ocupacionais. A maiotia das casas comerciais dos paises subdesenvolvidos possui grande niimero de “mensagziros”, cuja contribuicio & desprezivel; pode-se vé-los sentados na porta dos escritérios ou passeando pelas ‘calgadas, Inclusive, nas -mais severas depresses 0 patria agricola ou comer cial deve, ¢ assim se espera déle, manter sua férea de trabalho seja de que modo for, dado que seria imoral despedi-los, pois como come- iam num pais onde a tinica forma de subsidio ao desemprégo & a idade dos parentes? Resulta dat, inclusive nos setores onde se tra- bbalha por sukirio , sobretudo no setor de servigo doméstico, que a produtividade marginal pode ser infima ou nula. No entanto, o fato de a produtividade marginal ser nula ou infin nfo € de importincia fundamental para nossa anilise. O prego do trae balho, nestas economias, corresponde ao nivel de subsisténcia (que setd definido mais adiante). A oferta de uabalho é, portanto, “limi= tada” porquanto a oferta, a éste prego, excede a demanda, Pode-se nessa situagio criar novas empréss ou ampliar-se as antigas. sem nenhum limite ws niveis de sakirios existentes; ou, para sermos mais exatos, a escassez de trabalho ndo impde limite algum a criagio de novas fontes de emprégo, Se ndo permanecermos na indagagio de Se a produtividade marginal do irabalho é infima e, pelo contrario, 410 A ECONOMIA DO SUBDESENVOLVIMENTO ‘nos perguntarmos sdmente quais seriam os sctores em que haveria trabalho adicional disponivel no caso da criagio de novas indistrias que oferecessem emprégo a salitios de subsisiéncia, a resposta tor- nar-se-f ainda mais abrangente. Nao contamos, entio, somente com (08. camponeses, com os biscateitos, os pequenos comerciantes © 0$ criados (domésticos e comerciais) mas temos também que referit-nos a outras trés classes. Em primeito lugar, terfamos que mencionar as esposas e filhas. © emprégo das mulheres fora de casa depende de grande mimero de fatéres, religiosos © convencionais, nao podendo ser certamente Visto sdmente como questao de oportunidades de emprégo. Hi, ho entanto, certo mimero de paises onde o limite atual para fina~ lidades praticas 6 nicamente 0 das oportunidades de emprégo. Isto verifica-se, por exemplo, mesmo no Reino Unido. A proporcio de mulheres com emprégo remunerado no Reino Unido varia cnorme- mente de uma regido a outra, de acdrdo com as oportunidades de em= prégo existentes. Por exemplo, em 1939, enquento havia cingienta © duas mulheres com emprégo remunerado para cada cem homens, no condado de Lancashire, havia somente quinze mulheres ocupadas nas ‘mesmas condigdes no Sul de Gales. De forma semelhante, na Costa do Ouro, embora haja aguda escassez de trabalhadores mas- culinos, qualquer industria que oferecesse bens empregos. jis mu- Theres seria assediada pelas mesmas. A transeréncia das mulheres de suas casas para os trabalhos comerciais € um dos tragos mais. no- Léveis do desenvolvimento econdmico. Essa utilizagao da mioxde-obra feminina nao deixa de ter o scu custo, mas o lucro é considerivel, visto que a maioria das coisas que as’ mulher:s produzem em casa podem ser produzidas de modo muito melhor 2 mais barato fora de casa, gragas as economias de grande eseala da especializacio © gracas, também & utilizacao de capital (trituragao de gros, coleta de gua no rio ou na fonte, confecsao de tecidos © vestidos, preparagio da comida, ensino as crianeas, ‘atendimento aos docntes, etc). Portanto, uma das maneiras mais seguras de aumentar a renda nacional consiste fem ctiar novas fontes de ocupagio fora de casa para as mulheres A segunda fonte de trabalho para a expansio da indistria é 0 aumento da populagio resultante do excedents de nascimentos em elacdo & mortalidade. Essa fonte é importante em qualquer anélise dindmica s6bre © modo como se pode verificar a acumulagao de capi- tal © 0 aumento do emprégo sem aumento dos a de mineragio ou a energia cletrica, Jado a lado com téenieas mas primitivas; algumas fgrandes lojas para a classe de alias rendas, rodeadas de comércio do ipo. antiquado; algumas culturas altamente especializadas, cercad: por um mar de camponeses. Mas encontramos também os mesmos Contrastes fora da vida econdmica. Verifiea-se a existéncia de uma ou uss cidades modernas, com a melhor arquitetuta, abastecimento de gua, boas comunicagdes ¢ outras coisas semelhantes, para as qui onvergem individuos de outras cidades © povos que poderiam per- tencer @ outro planéta. Verifica-se, inclusive, o mesmo contraste em relagio as pessoas, contrastande os individuos altamente ocidensali- zados, bem vestides, educados nas universidadss ocidentais, falando idiomas ocidentais ¢ discutindo Beethoven, Mill, Marx ow Eiustcin, com a grande massa de seus compatriotas gue vivem em mundos bem diferentes, O capital ¢ as novas idéis no se acham regularmente difundidos por t6da a economia; encontram-se altamente concentra- dos em certo nimero de pontos, de onde se estendem para fora Embora o setor eapitalizado possa ser subsividido em ilhas, eon- tinua sendo um s6 setor devido a0 efeito da corcorréncia que tende a qualar os Iueros do capital. O principio competitive no exige que se cmpregue @ mesma quantidade de capital por pessoa em cada “iiha", ou que © lucro médio por unidade de capital seja 0 mesmo, ) OFERTA ILIMITADA DE MAO-DE-OBRA, as mas sOmente que 0 Iucro marginal seja 0 mesmo. Assim, embora os Jucros marginais fOssem os mesmos em t6das as partes, as ilhas que produzissem com rendimento deerescente poderiam ser mais rentiveis {que as outras, visto que os primeiros capitalistas teriam ocupado os pontos mais vantajosos. Mas, de qualquer maneira, os lucros margi- hais no so os mesmos em tOdas as partes. Nas economias atrasadas, © conhecimento € um dos bens mais escassos, Os capitalistas tém experiéncia de certo tipo de investimento, suponhamos 0 comércio ou a agricultura de plantagao, ¢ na pritica nao se deslocam, por exem- plo, para as manufaturas ¢ dedicam-se Aquilo que conhecem, Assim, a economia encontra-se freqiientemente desequilibrada no sentido de que existe excesso de investimento em algumas. partes ¢ subinvesti- mento em outras, As instituigées financeiras também se encontram mais altamente desenvolvidas para alguns fins que para outros: pode-se obter capital mais barato para 0 coméreio que para a construcdo ou a agricultura camponesa, por exemplo. Numa cconomia altamente

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